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Jaubert Knust Cardinot
Jaubert Knust Cardinot
Progressividade
em Biodanza
INTERNATIONAL BIOCENTRIC FOUNDATION
ASSOCIAÇÃO ESCOLA DE BIODANZA ROLANDO TORO DO RIO DE JANEIRO
CURSO DE FORMAÇÃO DE DOCENTES
Progressividade em Biodanza
JAUBERT KNUST CARDINOT
RIO DE JANEIRO – RJ
MARÇO DE 2002
Progressividade em Biodanza
Por Jaubert Knust Cardinot
Orientadora: Hedilane Alves Coelho
Monografia apresentada à Associação
Escola de Biodanza Rolando Toro do
Rio de Janeiro, para obtenção do grau de
professor titular de Biodanza.
Rio de Janeiro
2002
Progressividade em Biodanza
Jaubert Knust Cardinot
Aprovada em março de 2002
BANCA EXAMINADORA
______________________________________________________
Professora Didata Hedilane Alves Coelho – Orientadora
______________________________________________________
Professor Didata Antônio José Sarpe
______________________________________________________
Professora Ditada Eliana Aparecida Vieira de Almeida
Agradecimentos
Este trabalho é o fruto de um caminhar, um longo percurso de vida, que começou quando
conheci a Biodanza em 1987. Com ele eu celebro algumas conquistas. Muitos contribuíram, direta ou
indiretamente, para que esse caminhar fosse bem sucedido. Para estas pessoas o meu reconhecimento e
agradecimentos:
Aos meus pais, pela vida e por cada palavra ou gesto de carinho.
Aos meus filhos e irmãos, pela alegria de tê-los.
A minha namorada e companheira, Dina, pelo apoio e alegria de cada encontro.
A João Aylmer, pelo acolhimento e orientação num momento decisivo de vida.
A Rolando Toro, por toda sua doação criativa e pela direção que a Biodanza deu
ao meu caminhar.
Aos Diretores da Escola de Biodanza do Rio de Janeiro, pelo seu empenho em
dar o melhor de si na condução do Curso de Formação.
A todos os Professores da Escola de Biodanza do Rio de Janeiro, pelo exemplo
de integridade que me passaram.
Aos meus Facilitadores, Rosa, Dalma, Regina Labarte, Maria Dulce, Maria
Lúcia e Hedilane, pelo carinho e tolerância na facilitação do meu caminhar.
A Hedilane, pela orientação competente e carinhosa na elaboração deste
trabalho.
A Isis, pela amizade e importante apoio aos meus primeiros passos de
Facilitador.
Aos meus alunos dos Grupo de Biodanza, pela confiança, lealdade, carinho,
amizade e estímulo, sem os quais este caminhar não se realizaria.
Aos meus companheiros do Curso de Formação, pelo ideal compartilhado, pela
persistência e determinação, pelo apoio e cumplicidade.
Aos meus companheiros dos Grupos Regulares, pelas muitas vivências
compartilhadas, pelas lágrimas derramadas, pela sensibilidade despertada.
Minha gratidão, também, à Vida, por tantas oportunidades de renovação.
S U M Á R I O
1. INTRODUÇÃO............................................................................ 07
2. PROGRESSIVIDADE E BIODANZA .................................... 09
3. O QUE QUER A BIODANZA? ................................................... 11
3.1 Onde Estamos? ..................................................................... 11
3.2 Onde Queremos Chegar? .................................................... 18
4. DEFESAS OU RESISTÊNCIAS .................................................. 21
4.1 Defesa.................................................................................... 21
4.2 Defesa ou Resistência? ......................................................... 23
4.3 Contato e Resistência ............................................................ 24
4.4 Tipos de Resistência ..............................................................26
4.5 Resistência em Biodanza ...................................................... 31
5. COMO ATUA A BIODANZA? ................................................... 37
5.1 Princípios Fundamentais ....................................................... 37
5.2 A Ação da Biodanza .............................................................. 39
6. A AÇÃO PROGRESSIVA DA BIODANZA ................................ 45
6.1 Princípios que Determinam a Natureza Progressiva
do Sistema .............................................................................. 46
6.2 Critérios Gerais que Facilitam a Progressividade .................. 49
6.3 Progressividade em Cada Sessão ........................................... 52
6.4 Planejamento das Aulas de um Grupo de Iniciantes............... 53
6.5 A Música como Instrumento de Progressividade ....................57
6.6 Progressividade nas Consignas .............................................. 58
6.7 O Facilitador Centrado no Grupo ........................................... 60
7. LIMITAÇÕES À PRÁTICA DO PRINCÍPIO DE
PROGRESSIVIDADE ................................................................... 61
8. CONCLUSÕES ...............................................................................64
9. ANEXO “A” ................................................................................... 67
10. BIBLIOGRAFIA * ....................................................................... 68
* Notas bibliográficas são fornecidas ao final de cada capítulo.
7
1 INTRODUÇÃO
A Biodanza, como um Sistema de Desenvolvimento Humano, se apóia em
paradigmas e princípios, os quais nos dão a fundamentação teórica, filosófica e o
caminho metodológico a ser seguido pela prática. O nosso trabalho tem por objetivo
discutir um desses princípios: o Princípio da Progressividade.
Ao falar em progressividade, Rolando Toro se refere à necessidade de graduar a
intensidade e duração dos exercícios de forma a produzir um processo de mudança
evolutiva sustentável e sem agressão, desnecessária ao organismo biopsicológico dos
participantes.
Esse cuidado de Toro é bastante justificável uma vez que a Biodanza, ao
contrário de outros sistemas de desenvolvimento humano, direciona os trabalhos
terapêuticos através dos exercícios que são propostos em cada sessão. Com esta ação a
Biodanza correria o risco de ir além das possibilidades dos participantes que se iniciam
no processo de desenvolvimento que ela propõe.
Esse desenvolvimento envolve o relaxamento de defesas neuróticas que o
indivíduo elaborou ao longo de muitos anos de sua vida. Portanto, é necessário dar
tempo para que essas defesas se transformem e sejam substituídas por uma nova
estrutura de saúde. E é esse tempo, tão necessário ao participante que se inicia, que o
Princípio de Progressividade procura garantir, mas não é fácil.
Não é fácil assegurar a progressividade das vivências ao longo de um Curso de
Iniciação pela própria dinâmica do grupo, que para sobreviver precisa estar aberto, ou
pelo menos semi-aberto, e, com isso, alunos novos estarão sendo introduzidos num
grupo que já não é mais de iniciantes.
Para tratar dessa questão, procuraremos entender primeiro o que a Biodanza
propõe, quais as mudanças desejadas. Sabendo o que a Biodanza quer, surgirá
naturalmente a questão: o que nos impede de realizar essas transformações, se elas são
8
tão desejadas? E a resposta nos levará a examinar as defesas ou resistências que limitam
nosso desenvolvimento. A partir desse ponto, entraremos no exame detalhado da ação
da Biodanza, os instrumentos de que dispomos para atuar junto ao grupo, como essa
ação pode ser progressiva e quais são suas limitações práticas. Após percorrer todo esse
percurso, poderemos, então, tirar nossas conclusões quanto à maneira mais facilitadora
de se assegurar a progressividade num grupo de Biodanza.
9
2 PROGRESSIVIDADE E BIODANZA
Para desenvolver o tema “Progressividade em Biodanza” é necessário que se
entenda primeiro o que queremos dizer com progressividade e o que queremos dizer com
Biodanza, ou seja, é necessário conceituar, responder às perguntas: “o que é
progressividade?” e “o que é Biodanza?”.
O que é progressividade?
Segundo o Dicionário Aurélio, “progressividade é a qualidade daquilo que é
progressivo, ou seja, que progride, que vai se realizando gradualmente, que aumenta
pouco a pouco, evolui ou se desenvolve. Progressividade está relacionada à sucessão
ininterrupta e constante dos diversos estágios de um processo”.
A semente se desenvolve gradualmente até se tornar árvore adulta, rica em galhos,
folhas, flores e frutos. E é preciso muito tempo para que uma árvore dê frutos. Com o
homem também é assim, existe todo um processo evolutivo desde o útero da mãe até a
velhice, passando progressivamente pelas várias fases da vida humana, em seus aspectos
físico, emocional e espiritual. Uma pessoa doente, mesmo que a causa da doença seja
eliminada ( bactéria, vírus, germe, etc.) não fica boa da noite para o dia, é necessário tempo
para que o organismo reaja e restabeleça o estado de saúde do corpo.
Então, podemos entender que a progressividade se refere a uma qualidade que está
associada à própria natureza, à própria vida, ao próprio universo. A vida é assim, ela não
pula, não queima etapas, ela se desenvolve continuamente, progressivamente, e, quando
não o faz, quando a estagnação se instala, então já podemos pensar em desvio, doença ou
morte.
10
O que é Biodanza?
Aqui, por enquanto, queremos apenas entender o conceito, ou seja, do que se trata;
uma definição de Biodanza.
Rolando Toro , criador da Biodanza, declarou em 1978 : “A Biodanza é um sistema
integrado de desenvolvimento humano, baseado em vivências corporais, induzidas pela
música, movimento e comunicação em grupo, segundo um modelo teórico operatório”.
Atualmente, a definição oficial tem o seguinte teor: “Biodanza é um sistema de
integração afetiva, renovação orgânica e reaprendizagem das funções originárias de vida,
através da música, movimento e comunicação em grupo”.
Biodanza é, portanto, um sistema que trata da vida humana, do desenvolvimento de
potenciais de vida humana. Mas, como vimos acima, a vida é sempre progressiva.
Portanto, se Biodanza é um sistema de desenvolvimento de vida, então progressividade e
Biodanza estarão sempre unidas, ou seja, falar em Biodanza já é falar em progressividade,
em desenvolvimento progressivo de potenciais humanos.
Não que a Biodanza possa ser progressiva, ela tem que ser progressiva, ela é vida e
um dos seus paradigmas, na verdade o principal, é o Princípio Biocêntrico que coloca a
vida como centro de todo o Universo. Acreditamos que foi a percepção dessa conexão
entre vida e progressividade que levou Rolando Toro a colocar a progressividade como um
dos princípios básicos que iriam orientar todo o desenvolvimento metodológico do Sistema
Biodanza.
11
3 O QUE QUER A BIODANZA?
Já vimos no capitulo anterior, por sua definição, que a Biodanza se trata de um
sistema de desenvolvimento progressivo de potenciais humanos, o que implica evolução,
mudança, transformação evolutiva - progredir é realizar-se gradualmente. Então, surge a
pergunta: “Qual a transformação proposta, buscada ou sugerida pela Biodanza para o
homem de nosso tempo?”.
Para respondermos a esta indagação, nos formulamos duas outras questões às quais
procuraremos responder: “Onde estamos?” e “Onde queremos chegar?”.
A Biodanza, segundo seu criador, Rolando Toro, não é uma concepção isolada do
contexto da psicologia atual. Ela é, sim, uma extensão das Ciências Humanas:
“A imagem do homem atual, não é obra de um só pensador, senão
de uma verdadeira constelação de cientistas, filósofos, antropólogos e
artistas geniais que têm fecundado reciprocamente suas idéias.
Biodanza, a partir do “Princípio Biocêntrico”, encontra inspiração e
confirmação teórica em uma infinidade de pensadores”.1
Toro nos dá, assim, abertura para responder às perguntas que formulamos a partir
de outros pensadores, outras correntes de pensamento psicológico contemporâneo.
3.1. Onde Estamos?
Ou
Quem é o Sujeito da Biodanza?
FREUD
Para Freud, a história do homem é a história de sua repressão. Para ele, a repressão
da estrutura instintiva humana é indispensável ao processo civilizatório, que começa
quando o objetivo primário do homem, ou seja, a satisfação integral de suas necessidades
12
instintivas é abandonada em prol da perpetuação da raça humana em civilização, o que
requer o desenvolvimento da função da razão, que transformará o homem em sujeito
consciente, pensante, capaz de examinar a realidade e distinguir entre o bem e o mal. Freud
entende que o princípio de realidade se opõe ao princípio de prazer:
de: para:
satisfação imediata satisfação adiada
prazer restrição do prazer
júbilo(atividade lúdica) trabalho esforçado
receptividade produtividade
ímpeto instintivo repressão e segurança
O princípio de prazer é incompatível com o princípio de realidade já que a
satisfação das necessidades implica trabalho, restrição, renúncia e sofrimento. A
substituição do princípio de prazer por princípio de realidade implica a repressão dos
instintos sexuais e agressivos, surgindo com isso as instâncias psíquicas denominadas por
Freud de ID e EGO, este o mediador entre os impulsos instintivos e o mundo exterior. Da
influência desse mundo externo, da qual a criança depende, irá surgir uma nova instância
psíquica denominada por Freud de SUPEREGO, formada a partir das introjeções de valores
sociais e culturais e constituindo-se em força interna repressora, representante das
repressões ambientais.
ID, EGO e SUPEREGO, três instâncias psíquicas em constante conflito, do qual
surge o Sujeito Neurótico e seus Mecanismos de Defesa, um produto da civilização.
MARCUSE
Marcuse, ao falar sobre a origem do indivíduo reprimido, discorda de Freud quanto à
necessidade de se opor prazer e civilização, pelo menos em termos absolutos. Para ele, a
civilização tem sido uma dominação organizada e o que é desenvolvimento histórico adquire
a dignidade e necessidade de desenvolvimento biológico universal.
Marcuse vê a necessidade de criação de dois outros conceitos:
1. Mais-Repressão :
Refere-se às “restrições impostas pela dominação social de um
determinado grupo ou indivíduo, a fim de se manter e consolidar uma
posição privilegiada”.2
Marcuse não nega a necessidade de controle
repressivo sobre os instintos para a vida em sociedade; o que ele denuncia
13
são os interesses específicos de dominação que introduzem controles
adicionais acima e além dos indispensáveis à associação humana, com
prejuízo para o desenvolvimento natural e saudável do indivíduo.
2. Princípio de Desempenho:
Refere-se à “forma histórica predominante do princípio de realidade.
Com os controles adicionais da Mais-Repressão e a racionalização dessa
dominação, os homens deixam de viver suas vidas para desempenhar
funções pré-estabelecidas, que não satisfazem suas necessidades e
faculdades”.² Trata-se de um trabalho alienado, penoso, sem gratificação
pessoal. É a própria negação do princípio do prazer. A atividade que
realiza, em geral, não atende às suas aptidões e desejos. Com a energia
instintiva domada, sublimada, o indivíduo se ajusta e vive sua repressão
“livremente”, desejando o que se supõe que deveria desejar e, às vezes,
até se sentindo feliz. Mas, para isso, tem que renunciar à sua liberdade e
ao seu desejo primário autêntico e se tornar obediente e cumpridor de
suas obrigações.
Com isso, como o homem passa a maior parte do tempo de vigília no
trabalho, então ele se torna um instrumento de desempenho alienado e sem
prazer. Sobraria o tempo livre, só que neste ponto o organismo já está
treinado para a alienação e, então, também esse tempo livre será marcado
pela alienação. Esse tempo livre reservado para o prazer se
transformará apenas num relaxamento passivo, visando à recuperação de
energia para o trabalho.
REICH
Com Reich o inconsciente estudado por Freud assume dimensão corporal. São as
couraças musculares que se formam a partir das tensões musculares decorrentes da repressão
dos instintos e das emoções. Essa repressão é realizada pelo próprio Superego, fiel
representante psíquico da repressão familiar, social e política.
Reich criou a expressão caráter neurótico, em oposição a caráter genital, com base na
blindagem muscular do caráter. Para ele, o caráter neurótico é aquele em que o organismo é
14
regido por uma blindagem tão rígida que não pode, voluntariamente, alterá-la ou eliminá-la.
Constrangimento é a expressão total do organismo blindado.3
A pessoa blindada não tem
consciência disto, sente apenas a distorção de suas percepções internas da vida. Segundo
Reich, ela se descreve como apática, rígida, limitada, vazia, ou queixa-se de palpitações,
prisão de ventre, insônia, insatisfação nervosa, etc., etc.
O homem blindado ou encouraçado de Reich é um homem imobilizado, que busca se
instalar ou se acomodar devido à sua incapacidade de viver uma vida plena. A couraça física
e emocional suscita no homem o desejo de não sair do lugar existencial que criou para si,
tornando-o rígido, mecânico, rotineiro, sem permitir-se nenhuma transformação, o que se
deve ao enfraquecimento do metabolismo energético que impede toda excitação viva.
Em seu livro “O Assassinato de Cristo” Reich declara: “...se queremos descobrir o
homem, é preciso tomar consciência da tendência de todo homem encouraçado: o ódio ao
vivo”.4
Para Reich, Cristo representa o princípio da vida em si e, por isso mesmo, teria sido
assassinado. O homem blindado, encouraçado, prisioneiro de si mesmo, se adapta
rapidamente à vida na prisão e se acostuma com a agitação, com a pressa, com o nervosismo
e com a ansiedade. Esse homem estagnado, ainda segundo Reich, só não suporta uma coisa:
que se mostre a ele sua verdadeira situação. E sua triste situação é a prisão à qual não só se
submete, mas faz questão de permanecer nela e luta desesperadamente para não sair, pois
não suporta a vida viva que desconhece mas teme como a própria morte.
CREMA
Crema fala em patologia da normalidade para se referir ao que ele considera a grande
praga de nossa época: o “normótico”, ou seja, aquela pessoa que só aspira à normalidade
medíocre, buscando se adaptar sempre, sem confiança em si nem fé na vida.
É, como diz Crema, “o sujeito que lê o jornal pela manhã e sai para sua vidinha
medíocre: se estiver tudo bem no seu canteirinho...”.5
O normótico é aquela pessoa que não
tem escuta, ela é fruto da educação massificante e não se dá conta de que vivemos uma crise
de extinção da espécie humana. Ele não liga quando se fala em poluição atmosférica, buraco
de ozônio, extinção da floresta amazônica, etc. Para Crema, a falta de escuta do normótico o
leva a acreditar que a crise que estamos vivendo é azar, não tem sentido, ele não se dá conta
de que tudo depende de tudo, de que tudo está ligado com tudo. Com isso se perde o
15
indivíduo, se perde o Homem com sua enorme fonte de potenciais inatos de criatividade e
liderança.
TORO
Numa reflexão sobre os valores de nossa cultura, Rolando Toro escreve: “A cultura
está estruturada sobre um esquema de poder e se caracteriza, aproximadamente, com o que
“Chame” denominou de “sociedade agonística”: um modo de agrupamento zoológico,
baseado na tensão e no medo provocado pela emergência do macho mais forte,
sedimentando-se o grupo em torno de papéis e hierarquias de poder, mantendo uma
permanente vigilância frente a situações de perigo, nas quais as únicas repostas possíveis
são a luta, a fuga ou a evitação”.6
Sob o título “Análise da Patologia de nossa Civilização” Toro escreve: “Pela
primeira vez na história, os homens têm consciência de viver dentro de uma cultura
enferma”.(6) Essa cultura , diz Toro, é o resultado da influência de quatro grandes vertentes,
de onde vieram seus valores, glórias e equívocos. De cada uma dessas culturas Toro destaca
seus principais equívocos, os quais ainda hoje de algum modo são vivenciados por nós:
Cultura Oriental:
Valores anti-vida, buscando suprimir desejos, sensações e sentimentos
em função de uma vida futura desencarnada. Desvalorização da vida
terrena , considerada uma ilusão.
Cultura Judaico-Cristã:
Castração dos instintos, intolerância frente à possibilidade de prazer e
uma enorme carga de culpa transmitida através dos séculos: a
repressão sexual, o sexo é visto como pecado.
Cultura Grega:
O dualismo platônico, com a dissociação entre o corpo e a alma, e o
“penso logo existo” de Descartes.
Cultura Romana:
Onipotência e discriminação humana. O poder absoluto e a separação
entre senhores e escravos: o imperialismo.
16
Para Toro, assim como para Reich e Marcuse, o problema básico é cultural. A
cultura, segundo Toro, estaria infiltrada por uma profunda dissociação que abrange todos
os ramos do saber: Educação, Psicologia, Medicina, Sociologia, etc. Ele compara a situação
a uma traição à vida, da qual participam, consciente ou inconscientemente, milhares de
intelectuais em todo o mundo.
Toro chamou a esse processo destrutivo de Conspiração Neoplatônica, cuja
característica básica é a separatividade: corpo-alma, homem-natureza, matéria-energia,
indivíduo-sociedade, etc.
Toro afirma: “A cultura dissociativa desqualifica a vida presente, dessacraliza-a e
sabota seu valor e significado intrínseco para pô-la a serviço de valores anti-vida”.(6) Para
ele , nossa civilização está à deriva, onde prevalece a visão exterior, tecnológica, sem
nenhuma orientação interna para a essência do homem. Vivemos, diz ele, uma existência
alienada, sem naturalidade e sem alegria, resultando numa desorganização energética social,
com grande contraste com a eficácia alcançada na área tecnológica. A educação, com raras
exceções, não tem cumprido com sua tarefa de dar às pessoas orientação para o
desenvolvimento de seus potenciais internos.
Toro dá à repressão um sentido muito mais amplo do que Freud, Berne ou Reich. A
repressão, diz ele, não é somente um sistema de normas introjetadas, no sentido do Superego
de Freud. Não são, tampouco, os mandatos parentais descritos por Berne, nem também as
forças ideológicas e sociopolíticas de Reich. A repressão dos impulsos vitais, para Toro, é
uma “ESTRUTURA” que infiltra a existência em todos os seus detalhes, em todas as
circunstâncias e nas mais variadas formas:
- na forma das cidades
- na arquitetura das casas
- no vestiário
- nos livros e discos
- nos programas de estudo universitário
- nos alimentos
- nos gestos e movimentos
O sujeito resultante dessa estrutura “coisificante” é, segundo Toro, o “SUJEITO
DISSOCIADO”. Dissociação para ele é sinônimo de enfermidade, é um transtorno grave,
uma enfermidade dentro de um sistema que, como tal, para funcionar precisa estar
integrado.
17
Dissociação, segundo a Gestalt, é falta de relação entre a parte e o todo. Num
organismo, significa falta de relação em feed-back entre os diferentes órgãos e sistemas
intra-orgânicos. Dissociação, portanto, é a perda da auto-regulação espontânea do
organismo, é a homeostase enlouquecida.
O indivíduo dissociado, é um indivíduo ausente, seu movimento é mecânico,
automático. Mantêm-se sempre distante psiquicamente, num alheamento defensivo que o
impede de se envolver e de se comprometer com aquilo que está realizando. Sente-se isolado
de tudo e de todos, sua atitude perante a vida é de impotência e indiferença.
Sofremos as conseqüências de uma sociedade em cujo desenvolvimento tem
predominado valores como poder, autoridade, força, competição, lógica e intelectualidade.
Por outro lado, aspectos importantes da experiência humana como os sentimentos, a
intuição, a receptividade e a sensibilidade foram e continuam sendo negligenciados por
homens e mulheres em busca de sucesso e poder. Com essa polarização de valores e
atitudes, o homem moderno é um sujeito desesperado consigo mesmo e com a própria
humanidade, sente-se solitário e vazio apesar das conquistas e avanços tecnológicos que o
levaram a se distanciar de sua própria natureza. Esse homem ainda busca sua felicidade e
bem estar, mas percebe-se isolado e receoso diante de seus semelhantes. Sua capacidade de
amar não evoluiu tanto quanto seu intelecto, o que o leva a buscar meios e formas para
sentir-se amado, aceito e valorizado.
DISSOCIADO: este é o Sujeito da Biodanza, uns mais outros menos, varia o grau da
enfermidade, mas a natureza é sempre a mesma. As pessoas que procuram um grupo de
Biodanza , em algum grau foram reprimidas , sufocadas em seus impulsos por expressão
autêntica de si mesmos, resultando em medo, insegurança, busca exagerada de aceitação,
temor ao desconhecido, submissão, rigidez ou apego ao passado e, como resultado de tudo
isso, dissociação, que pode atingir o nível corporal, orgânico e existencial , um estado de
alienação da própria vida.
18
3.2. Onde queremos chegar?
Ou
O Sujeito Biodançado
“As raízes da dança então no trabalho e na oração. E um
trabalho está mais próximo da oração quando não tem por objetivo somente manter e
reproduzir a vida, mas também engrandecê-la e abrir-lhe horizontes novos. O trabalho
torna-se então, como a dança, criação e poesia”7
Roger Garaudy
Se o sujeito da Biodanza é o Sujeito Dissociado , como vimos acima, então o
“Sujeito Biodançado” que buscamos deve ser um sujeito inteiro, integrado. Para a
Biodanza, um ser humano integrado é aquele que sente, age e pensa de forma coerente; seu
movimento é pleno de sentido, autenticidade, harmonia e fluidez. Trata-se de uma atitude
sensível perante a vida, não só consigo mesmo, mas também com o outro e com o
Universo.
Na busca de uma base filosófica para dar sustentação ao seu sistema de
desenvolvimento humano, Toro propõe um princípio anterior a qualquer outro e base para
toda a sua obra: o Princípio Biocêntrico. A partir deste princípio, Toro enfatiza a
necessidade de reformulação dos nossos valores culturais, tomando como referencial básico
o respeito à vida, todas as formas de vida. A vida passa a ser o centro e o ponto de partida
de todas as disciplinas e comportamentos humanos. Com isso, Toro restabelece a noção de
sacralidade da vida.
O Princípio Biocêntrico é uma declaração de amor à vida, que propõe a potenciação
da vida de forma a conduzi-la a seus valores mais altos. Ele surge de uma proposta anterior
à cultura e se nutre dos impulsos primitivos que geram vida. Segundo a abordagem da
Biodanza, a nossa cultura obstrui, desorganiza e perverte nossos impulsos instintivos,
enfraquecendo nossa auto-estima e dando origem a todo tipo de patologia social.
Já não sabemos mais como viver, precisamos recorrer aos livros de auto-ajuda, aos
terapeutas e aos “gurus” em busca de orientação para a nossa vida diária, para nos dizer
aquilo que saberíamos se estivéssemos em conexão com nossos impulsos de vida. Para a
Biodanza não é necessário obstruir, reprimir nem desviar a manifestação dos instintos e
negar o corpo para alcançar o estado supremo de conexão com o divino. Ao contrário, os
instintos é que têm a função de conservar a vida e permitir seu desenvolvimento. Seu
19
resgate, segundo Toro, será, no futuro, a tarefa mais essencial para criar uma Civilização
para a vida.
Toro resume a proposta da Biodanza em seis itens:
1. Resgatar os instintos cuja função é a conservação da vida.
2. Dar às pessoas a oportunidade de comunhão e empatia.
3. Lutar contra as ideologias e os preconceitos.
4. Reforçar e expressar a identidade e a segurança de si mesmo,
eliminando os fatores paranóicos.
5. Desenvolver na consciência da humanidade o sentido de Sacralidade da
Vida.
6. Aumentar a consciência ética cuja fonte é a inteligência do coração.8
A partir desta proposta e em ressonância com outros pensadores orientados por uma
visão integradora do homem e pelo respeito à vida, Toro propõe uma nova civilização que
se desenvolverá a partir da cultura biocêntrica, com as seguintes características:
1. A vida aqui e agora possui um valor intrínseco. Ela é a expressão
máxima do sentido do Universo.
2. Corpo e alma, matéria e energia, são aspectos de uma mesma realidade.
O ser humano é uma unidade integrada ao Cosmos.
3. A sexualidade é um impulso natural e saudável. Seu objetivo imediato é
o prazer, o encanto e a voluptuosidade...
4. O amor comunitário é o fundamento da consciência comunitária. Justiça
e liberdade para todos, com governos democráticos e ausência de
exploração do homem.9
Dessa nova cultura surgirá um novo homem que terá como característica marcante
de sua personalidade o desenvolvimento pleno e integrado das polaridades feminina e
masculina, condição necessária, segundo Cardella, para o desenvolvimento da capacidade
de amar a si mesmo e ao próximo.
É essa polarização, que na cultura chinesa corresponde aos princípios Yin e Yang,
que deve ser integrada por homens e mulheres.
Ao homem, com seus aspectos Yang já desenvolvidos, cabe integrar a polaridade
Yin, feminina, a saber: aceitação e expressão dos sentimentos e das necessidades,
receptividade, sensibilidade, afetividade, vulnerabilidade, suavidade, intuição, compreensão
e interiorização.
20
À mulher, com seus aspectos Yin já desenvolvidos, cabe integrar a polaridade Yang,
masculina , a saber: independência, atividade, aspirações, segurança, racionalidade,
concentração e determinação de valores próprios.
Com essa integração de polaridades complementárias se dá o desenvolvimento e
amadurecimento da pessoa e concretiza-se o processo de diferenciação da personalidade
através do qual ela se torna um indivíduo inteiro, integrado, pleno, aberto ao
relacionamento amoroso com tudo que é vivo, e esse relacionamento transcorre
harmoniosamente pois a fluidez é uma de suas principais características.
O que buscamos na Biodanza, na verdade, como resultado do desenvolvimento e
integração de potenciais, e da fluidez entre aspectos opostos da personalidade, é o indivíduo
confiante, com auto-estima elevada, que tem amor por si e pela vida. Criativo, ele reage ao
novo com independência, coragem e ousadia. Amoroso, ele busca oportunidades de
contato real com as pessoas e novas fronteiras e desafios para a sua vida, tornando-se assim
um ser verdadeiramente humano.
N O T A S:
1
Toro, Rolando. Aspectos Psicológicos de Biodanza, P.67
2
Marcuse, Herbert. Eros e Civilização, p.51
3
Reich, Wilhelm. Análise do Caráter, p. 433
4
Reich, W. O Assassinato de Cristo, p. 24
5
Crema, Roberto. Palestra sobre Liderança no 3º Milênio, Fita.
6
Toro, Rolando. El Inc. Vital y Principio Biocentrico, p.42, 43 e 51
7
Garaudy, Roger. Dançar a Vida, p. 117
8
Toro, Rolando. Aspectos Psicologicos em Biodanza, p. 79
9
Toro, Rolando. El inc. Vital y Principio Biocentrico, p. 50
21
4 DEFESAS OU RESISTÊNCIAS
“O Homem é capaz de tudo, contanto que não se transforme”
Pietro Ubaldi
Como vimos anteriormente, a Biodanza busca uma transformação existencial, de
sujeito reprimido, dissociado para sujeito integrado, pleno, aberto ao relacionamento
amoroso com tudo o que é vivo. E isso parece desejável a todo ser humano. Então, surge a
pergunta que procuraremos responder nesse item: o que nos impede?
Rolando Toro, ao falar sobre o Princípio de Progressividade em Biodanza , afirma:
“No podemos quebrar las defensas que un individuo há elaborado
a traves de anos porque corremos el riesgo de dejarlo sin continente para
su identidade y poner gravemente en peligro su homeostasis. Las
defensas neuróticas tienen que ser reemplazadas por la nueva estrutura
de salud”.1
Parece-nos, então, que Toro atribui às defesas neuróticas do indivíduo o papel de
impedi-lo de realizar a tão desejada transformação existencial. Se é assim, torna-se
importante compreender o que significa exatamente uma defesa.
4.1. Defesa
Examinando o significado do termo “defesa” no Dicionário Aurélio encontramos:
resguardo, proteção, ato ou forma de repelir um ataque, impedimento, interdição,
proibição...etc.
Como Toro fala em defesas neuróticas, entendemos que ele está tomando
emprestado este termo da Psicanálise, na qual a defesa é definida como:
“Conjunto de operações cuja finalidade é reduzir, suprimir qualquer
modificação suscetível de pôr em perigo a integridade e a constância do
indivíduo biopsicológico. O ego, na medida em que se constitui como
22
instância que encarna esta constância e que procura mantê-la, pode ser
descrito como o que está em jogo nessas operações e o agente delas. De
um modo geral, a defesa incide sobre a excitação interna (pulsão) e,
preferencialmente, sobre uma das representações (recordações, fantasias) a
que está ligada, sobre uma situação capaz de desencadear essa excitação na
medida em que é incompatível com este equilíbrio e, por isso, desagradável
para o ego” 2
4.1.1. Quando as Defesas se Tornam Neuróticas
Karen Horney, também psicanalista, fala em personalidade neurótica de nosso
tempo. Para ela, neuróticas são as pessoas que têm reações diferentes dos indivíduos
comuns, dentro de uma determinada cultura e num determinado tempo, ou seja, uma
neurose implica um afastamento do normal daquela cultura. Esse afastamento, segundo
Horney, tem duas características básicas:
 “uma certa rigidez nas reações, ou seja, falta de flexibilidade que nos
permite reagir diferentemente ante situações diversas”,
 “uma certa discrepância entre potencialidades e realizações, ou seja, a
despeito dos dons e de possibilidades externas favoráveis a seu
desenvolvimento, a pessoa permanece improdutiva ou, apesar das
possibilidades, a pessoa não consegue desfrutar do que tem”. 3
Horney não nega a origem das neuroses nas experiências vividas na primeira
infância, mas destaca a influência das condições culturais específicas em que vivemos. Diz
ela: “Na verdade, as condições culturais não só dão peso e cor às experiências individuais,
mas, no final das contas, determinam sua forma particular”. 4
É Horney ainda quem escreve:
“nossa cultura produz pessoas normais e pessoas neuróticas. As normais,
apesar dos seus medos e defesas, são capazes de corresponder às sua
potencialidades e de desfrutar daquilo que a vida lhes oferece. As neuróticas, ao
contrário, sofrem mais que as comuns, pagam um alto preço por suas defesas,
traduzido sob a forma de uma diminuição da vitalidade e do desenvolvimento, ou,
mais explicitamente, de uma diminuição de suas capacidades de realização e
contentamento.5
Por normalidade ela se refere à aprovação de certos padrões de conduta e
sentimentos dentro de um certo grupo, que impõe esses padrões a seus membros. Tais
padrões são variáveis segundo a cultura, a época, a classe social e o sexo.
23
A neurose para Horney é um afastamento do normal e seu motivador básico é
sempre a ansiedade. E é essa ansiedade que leva ao afastamento do normal cultural e à
inibição, tornando as pessoas incapazes de fazer, sentir ou pensar certas coisas. Essas
inibições podem atingir funções motoras, afetivo-motoras ou mentais, tais como:
dificuldade de se movimentar com liberdade, de estabelecer contato afetivo com outras
pessoas, de concentração e de formar ou expressar opinião.
Rolando Toro tem uma concepção diferente, mais ampla, do que é uma pessoa
neurótica. Como já vimos no capítulo três, quando tratamos do sujeito da Biodanza, ele não
reconhece, como, aparentemente, o faz Horney, que as pessoas normais produzidas pela
cultura sejam saudáveis. Para Toro, nossa cultura é dissociativa, ela desqualifica a vida
presente, produzindo pessoas às quais chamamos de “normais”. Mas essas pessoas normais
estariam, na verdade, enfermas, neuróticas, ou “normóticas”, segundo Roberto Crema.
Na visão de Toro, uma sociedade como a nossa, cujos valores são o poder, a
autoridade, a força, a competição, a lógica e a intelectualidade, só pode gerar indivíduos
neuróticos, com dificuldade de entrar em contato com a vida e realizar sua humanidade
plena. Portanto, para a Biodanza, as defesas se tornam neuróticas não somente quando
afastam o indivíduo da normalidade cultural, mas sempre que essas defesas impedem o
indivíduo de realizar todo o seu potencial genético, com expressão plena de sua
identidade.
4.2. Defesa ou Resistência?
Como vimos acima, a defesa neurótica é um conceito que surgiu com a
Psicanálise, assim como o conceito de resistência que se refere à oposição pelo analisando,
durante a sessão psicanalítica, de entrar em contato com o seus conteúdos inconscientes.
Neste trabalho, entretanto, usaremos os dois termos como semelhantes, já que
estamos tomando o termo resistência da Gestalt-Terapia e, neste Sistema, o conceito de
resistência é equivalente ao conceito de defesa da Psicanálise. Preferimos trabalhar com o
conceito de resistência por considerá-lo mais apropriado para o nosso trabalho, pois ele se
refere explicitamente à dificuldade de entrar em contato, e contato é a proposta básica da
Biodanza.
24
A importância de compreender a resistência, ou seja, nossa preocupação em incluir
esse tema nesse trabalho é, acredito, da mesma natureza que levou Roberto Crema a falar
sobre resistência em três capítulos do seu livro Análise Transacional Centrada na Pessoa e
Mais Além. É Crema quem escreve:
“Considero que representa uma lacuna na Análise Transacional (AT) a
ausência de uma teoria consistente sobre a resistência. Conforme entendo, não
pode haver uma abordagem centrada na pessoa sem uma definição e compreensão
deste tema essencial, que alicerce e dirija uma adequação de atitude do facilitador
frente ao processo de resistência à mudança, de modo especial quando se trata de
uma tecnologia potente, como a AT. Como já afirmei, um analista transacional
“tecnicista” fácil e freqüentemente pode desrespeitar, invadir e mesmo agredir o
cliente com intervenções “ativas”, caso não possua um enfoque sobre o que é a
resistência, e o porquê e como as pessoas resistem.” 6
Ora, se na Análise Transacional isto é verdadeiro, então, para a Biodanza é ainda
muito mais relevante. Primeiro, por se tratar de um processo exclusivamente grupal, o que
dificulta estar centrado numa pessoa, individualmente, e segundo, por ser um sistema tão
ou mais potente do que a AT.
4.3. Contato e Resistência
“Somos seres em relação, existir é, em si, um modo de relacionar-se. E
relação é reciprocidade. Nós vivemos no fluxo torrencial da reciprocidade
universal, irremediavelmente encerrados nela”
Martin Buber
Roberto Crema, citando Fritz Perls, fundador da Gestalt-Terapia, escreve: “o
contato com o meio e a fuga dele, esta aceitação e rejeição do meio, são as funções mais
importantes da personalidade global”.7
Para Perls, ainda segundo Crema, a neurose surge
quando o indivíduo se mostra incapaz de alterar suas formas de interação com o seu
ambiente, e fixa-se num modo de atuar obsoleto, afastando-se de suas necessidades inatas
de contato com outros seres humanos.
O conceito de resistência utilizado por Crema na Análise Transacional é, segundo
ele, o mesmo da Gestalt-Terapia, isto é, relaciona-se intrinsecamente com o de contato.
Entrar em contato é o movimento natural do mundo e das pessoas, e toda mudança se dá
através do ou no contato. O contato emocionado mobiliza todo o organismo.
25
A energia da pessoa, como diz Crema, está sempre dirigida ou para entrar em
contato ou para resistir. No primeiro caso, há envolvimento que conduz ao
desenvolvimento; no segundo, o sistema fecha-se em si mesmo, na conduta de evitação da
interação potencialmente transformadora.
Roberto Crema, enquanto Analista Transacional, e apoiando-se no conceito de
resistência da Gestalt-Terapia, escreve:
“Resistência , neste enfoque, é qualquer coisa que fazemos que interrompe
ou diminui o ritmo deste movimento, que interfere no contatuar. Resistir é
fazer qualquer coisa que impeça ou minimize o contato; é sempre resistir ao
contato com algum aspecto de si mesmo, do outro ou da Natureza.” 8
É importante lembrar que a resistência é um “mecanismo” psíquico cuja função
capital é manter a integridade do organismo. É, em última instância, como diz Crema, a
energia usada para a auto-preservação da individualidade tal como se apresenta. Dizemos
“Não” ao contato pelo medo de dissolução do modo de ser com o qual nos identificamos e
queremos manter, com consciência ou não.
A resistência só se torna prejudicial quando o quadro referencial de resistência da
pessoa já não satisfaz, tornando-se uma limitação na sua vida, aprisionando-a numa
pequena cela que a impede de contatar, existir e expandir-se no mundo. Enfim, bloqueando
seu processo evolutivo.
É importante, repito, que o Facilitador de Biodanza entenda a resistência como uma
auto-proteção do indivíduo, ainda necessária para ele naquele momento, segundo seu nível
de consciência, de forma que no planejamento de suas aulas o Princípio de Progressividade
esteja sempre presente.
Vendo a resistência como uma busca de proteção ou resguardo contra alguma coisa
real ou imaginária, acredito que o Facilitador ficará mais sensibilizado para não tentar
quebrá-las. Pois, conforme diz Toro:
“Transgredir el princípio de progressividade puede desencadenar en
la persona un “stress”emocional doloroso, elevar sus niveles de
culpabilidad y provocar sentimentos de angustia incontrolables”. 9
26
4.4. Tipos de Resistência
Cardella, citando Freud, escreve: “o amor e o trabalho são as duas áreas mais
importantes da vida humana”.10
Mas, diz ela, o amor se torna impossível quando o
indivíduo não é capaz de estabelecer limite entre si mesmo e o outro. A auto-proteção
neurótica, ainda segundo Cardella, caracteriza-se por um modo de funcionar que “garanta”
proteção e segurança ao indivíduo e, paralelamente, dificulta a auto-realização, inclusive
de suas potencialidades amorosas.
A Gestalt-terapia, segundo Cardella, descreve seis modos, ou estilos de contato,
dependendo da funcionalidade ou da rigidez com que são utilizados pelo indivíduo em seu
meio. Apesar de este trabalho não ter a pretensão de se aprofundar no exame desses
diversos tipos de resistência estudados pela Gestalt-terapia , apresentaremos a seguir as
principais características de cada um deles, conforme descrições e observações de Crema e
Cardella.
1.
Trata-se de uma resistência primária, que está na base de todas as demais,
sendo a transação genérica entre o indivíduo e o seu ambiente nos primeiros anos de
vida. Introjetar é trazer as coisas para dentro, sem crítica: é engolir sem mastigar; é
o mecanismo psicológico de internalização do outro pelo qual o indivíduo incorpora
padrões de pensar, sentir e atuar exteriores que não são digeridos, permanecendo
como “corpos estranhos” no seu organismo. É introjetando que o indivíduo
internaliza valores anti-vida e suprime desejos, sensações e sentimentos legítimos,
transformando-se em sujeito dissociado.
A dificuldade em se desfazer da introjeção deve-se ao seu caráter primordial
e indispensável na primeira infância, em que o meio precisa ser absorvido para o
organismo sobreviver.
Quando mais tarde, diz Crema, a pessoa deixa de introjetar mandatos e
figuras parentais, começa a introjetar crenças, ou seja, informações sem experiência,
através do que engole ouvindo ou do que engole lendo. Tais crenças se depositam
27
na mente da pessoa, interferindo no seu contato direto com a realidade, e ela passa a
ver o mundo de segunda mão. Passa a ter uma coleção de conhecimentos, em vez de
estar consciente.
Na introjeção, não há contato, posto que o objeto é engolido, tornando-se
“eu”, por um processo de generalização que subtrai o “não-eu” da consciência e
que, portanto, não pode ser contatado como um outro.
Cardella pode constatar o mecanismo de introjeção de crenças dos seus
clientes, através de suas verbalizações, revelando concepções negativas do amor
transmitidas culturalmente, tais como:
 “Não sou digno de amor”,
 “Não devo confiar totalmente em ninguém , posso ser
traído ou abandonado e vou sofrer muito com isso”,
 “Só serei amado se for bom, inteligente, doente, frágil,
alegre, seguro, etc.”, entre muitas outras.
Através das introjeções, os indivíduos permanecem retraídos na fronteira de
contato, já que este é experimentado com muita ansiedade. Neste caso, o amor é
concebido como verdadeira ameaça.
Para Crema, trabalhar com a introjeção é facilitar para que a pessoa
desenvolva a discriminação, sem a qual torna-se impossível a escolha. Também há
que se exercitar a assertividade e a capacidade de dizer “NÃO”. Não é possível,
segundo Crema, a coragem de viver e se diferenciar do meio sem o acesso à
agressividade.
2. Projeção: quando eu me derramo no mundo
Para a Psicanálise, a projeção é um mecanismo de defesa pelo qual o ego se
protege da ansiedade, repelindo os seus maus objetos internos, anteriormente
introjetados, e projetando-os em objetos externos.
Projetar um sentimento significa não suportar conviver nem atuar de acordo
com ele. A pessoa que tem um mandato introjetado de não sentir raiva, por
28
exemplo, terá que projetar sua raiva nos outros, vivenciando-se como um santo no
meio de furiosos.
Não só os sentimentos chamados “negativos”, como a raiva, são projetados
no outro. Cardella fala do mecanismo de projeção também nas manifestações
amorosas, quando se observa a projeção de expectativas. A utilização freqüente de
projeções, diz ela, impede o indivíduo do contato amoroso, pois o indivíduo que
projeta constantemente exige que o parceiro esteja disponível, feliz e satisfeito em
sua companhia, o tempo todo.
Trabalhar com a projeção, segundo Crema, é facilitar para que o projetor,
primeiro, tome consciência da alienação que está fazendo de alguma parte sua,
segundo, assuma a responsabilidade por seus pedaços de identidade lançados fora.
Tudo isso deve ser feito com muito cuidado, lentamente, diz Crema, uma vez que é
muito assustador o confronto com o que não se tolera conviver.
Crema enfatiza a importância do sentir na recuperação de uma parte de si
mesmo, antes rejeitada. Como a resistência não é só crença, mas também sentir e
agir, é necessário uma vivência emocional para que ocorra a mudança real de
atitude.
3. Retroflexão: quando eu sou o meu mundo
Retrofletir significa voltar a energia de contato com o mundo para si mesmo.
Quando a pessoa retroflete, ela altera a função originalmente dirigida do indivíduo
para o meio ambiente, voltando-a para si mesmo.
Segundo Crema, “a função primária da retroflexão é impedir que a pessoa
faça o que quer fazer: a ação que se quer completar com o mundo volta-se para si
mesma, o contato com passa a ser autocontato”.11
Crema menciona dois tipos de retroflexão muito importantes; um pelo dano
que causa e outro pela freqüência com que ocorre. O primeiro é a retroflexão de
ódio e destruição na qual a pessoa bloqueia a energia de contato resultando em
ansiedade crônica e conseqüentes enfermidades psicossomáticas, como a úlcera e a
29
impotência sexual. O segundo, é a retroflexão de controle na qual a pessoa volta
contra si mesmo sua tendência a dominar os outros e passa a se expressar através de
uma disciplina muito rígida, suprimindo necessidades, sentimentos, emoções e toda
forma de expressão.
Para Crema, o trabalho terapêutico deve facilitar que a pessoa se dê conta do
seu movimento em relação ao mundo. A partir daí, a pessoa poderá se apoderar de
sua energia de contato e exploração do meio ambiente, num equilíbrio sadio entre
contatar a si mesmo e contatar com o mundo.
4. Deflexão: quando eu me disperso no mundo
Crema, referindo-se à Psicanálise, escreve: “deflexão é uma reação de
defesa em que a atenção se desvia do objeto de desagrado”. E completa:
“a deflexão é uma manobra que o indivíduo realiza para impedir um
contato direto com o outro. A evitação do contato real e intenso, percebido
como perturbador por introjeções anteriores, realiza-se pela desfocalização,
nunca se parando num ponto, como se a pessoa estivesse jogando,
permanentemente, água fria que apaga o calor do verdadeiro contatuar”. 12
Crema cita as formas mais freqüentes de deflexão, todas com o objetivo de
tirar a vitalidade e a importância do contato, tais como: não olhar para o outro
enquanto fala; não prestar a atenção; saltar de um assunto para o outro,
constantemente; falar sobre em vez de falar para; generalizar em vez de especificar;
tagarelar sem objetividade; usar de cortesia em vez de franqueza, etc.
Podemos ver a deflexão como uma desqualificação; seja de si mesmo, do
outro ou da situação. A deflexão, tal como a desqualificação, é um tipo de
comunicação que nega a própria comunicação, no sentido de que ela busca evitar o
acontecimento ou aprofundamento do contato.
Para trabalhar com a deflexão, segundo Crema, é necessário deter o defletor
em algum ponto de sua “fuga ao contato” e sugerir-lhe contatar com o que está
sentindo naquele exato momento. Com isso a pessoa tem chance de tomar
consciência do seu movimento dispersivo e superficial.
30
5. Confluência: quando eu me confundo no mundo
Crema define a confluência como a falta de limite entre si mesmo e o outro
ou o ambiente, ou seja, é a fusão de duas pessoas, ou grupo de pessoas, em que elas
negam suas individualidades e diferenças, caracterizando-se assim como um
mecanismo de evitação de contato.
O ser humano vivencia duas tendências opostas, uma de fusão, outra de
individuação, enquanto que a saúde mental está no equilíbrio entre estas duas
tendências. Na confluência prevalece a tendência de fusão, resultando em simbiose
e confusão, cuja origem pode ser atribuída a uma introjeção anterior que impede o
indivíduo de expressar suas diferenças. Na verdade, a pessoa nem sequer percebe
essas diferenças, o nós prevalece em detrimento do eu e do você. As diferenças que
poderiam ser manifestadas no pensamento, nas atitudes, nos comportamentos e
sentimentos são “boicotadas” ou camufladas na relação.
A confluência é vista como uma resistência ao contato uma vez que o
relacionamento amoroso só se dá entre pessoas maduras e diferenciadas, conscientes
de suas próprias individualidades.
Para Crema, o trabalho do facilitador na Análise Transacional consiste em:
“ressaltar as diferenças e a capacidade de se opor e criticar.
Especialmente o grupo é facilitador, neste caso, já que oferece uma enorme
diversidade de diferenças individuais, impossibilitando, ou, pelo menos,
dificultando a transação de confluência. A pessoa confluente necessita da
permissão para ser diferente; para expressar pensamentos, emoções e
atitudes dissonantes, que a diferenciem dos demais.”
E Crema complementa, citando os Polsters:
“Os antídotos para a confluência são o contato, a diferenciação e a
articulação. O indivíduo deve começar a experienciar escolhas,
necessidades e sentimentos que são seus e que não têm que coincidir com os
de outras pessoas. Ele deve aprender que pode encarar o terror da
separação dessas pessoas e ainda permanecer vivo.” 13
31
6. Proflexão: quando eu manipulo o mundo
Para Cardella a principal característica deste mecanismo é que a pessoa só
faz aos outros o que ela espera que lhe façam. Há uma ação em direção ao outro,
mas esta ação tem a intenção de manipular esse outro para que ele satisfaça suas
necessidades. Não há entrega, disponibilidade nem “preocupação” com o bem estar
do outro, condições necessárias a uma legítima troca amorosa.
O indivíduo que proflexiona não tem coragem de explicitar suas expectativas
nem de expressar seus desejos. Ele relaciona-se somente através de jogos de
controle e manipulação, não permitindo que se conheçam suas expectativas e
necessidades reais. O uso dessa manipulação se fundamenta em sua baixa auto-
estima e sentimento de não ser digno de ser amado.
A partir do momento que ele não respeita a si mesmo, também não respeita
as necessidades do outro, transformando toda a possibilidade de contato autêntico
em troca de interesses e resistência ao contato.
Crema não tratou desse tipo de resistência, contudo entendemos que a forma
de trabalhar a proflexão seja através da valorização e qualificação do indivíduo,
demonstrando interesse e respeito por seus sentimentos de forma a restituir-lhe a
auto-estima e conseqüente confiança de se expressar com honestidade.
4.5. Resistência em Biodanza
Antes de entrarmos especificamente no aspecto da resistência em Biodanza
gostaríamos de fazer uma recapitulação de alguns aspectos já tratados em capítulos
anteriores.
Para Ana Freud, filha e discípula de Freud, o Ego do neurótico adulto teme os
instintos porque teme o seu Superego, representante psíquico das repressões culturais. As
defesas do Ego seriam motivadas pela ansiedade do Superego frente a possibilidade de uma
manifestação instintiva do Id, ou seja, a ansiedade estaria sempre na origem do processo
defensivo e esse processo buscaria barrar uma possível manifestação instintiva
considerada hostil à luz do Superego.
32
Toro, considerando que a cultura obstrui, desorganiza e perverte os instintos, propõe
como tarefa mais urgente para a recuperação da saúde a restauração da base instintiva da
vida e a busca de orientação nesses impulsos primordiais.
Vemos, assim, que no grupo de Biodanza estaremos nos defrontando abertamente
com o processo defensivo dos alunos, pois será nosso propósito que a pessoa entre em
contato com aquilo que ela mais teme; ela mesma: seus impulsos, sensações, desejos,
necessidades, sentimentos, emoções... e que faça isso na presença de um outro ou outros.
Em Biodanza, convidamos a pessoa para um contato sincero consigo mesmo e com
o outro, para se expressar com criatividade e autenticidade. Então nos deparamos com toda
a força da resistência ao contato, nos diversos tipos estudados pela Gestalt-terapia.
A título de ilustração, apresentamos abaixo alguns comportamentos que,
acreditamos, podem ser tomados como exemplos de resistência neurótica em um grupo de
Biodanza:
1. Introjeção
Alguns participantes têm uma grande “fome” por novidades, estão sempre na
expectativa de algo novo. Os exercícios propostos são realizados apressadamente.
Mal o Facilitador começa a fazer a consigna, esses participantes já estão se
movimentando, sem nenhum cuidado em entender a proposta e perceber sua
finalidade. Engolem inteiro os exercícios sem se dar conta das mensagens vivenciais
que eles buscam transmitir. Resultado: fazem mecanicamente, não vivenciam.
Outros tentam introjetar a Biodanza inteira: num primeiro momento, ficam
deslumbrados com o grupo, mas logo se afastam, enfastiados, em busca de uma
nova teoria ou sistema que dê conta de suas angústias. Essas pessoas não sabem ou
não podem refletir sobre suas vivências nem dão tempo a si mesmas para
compreender e absorver a proposta da Biodanza. Buscam algo que as salvem sem
se dar conta de que tudo começa pela sua própria atitude frente ao mundo.
33
2. Projeção
Fenômenos de intensa proyección se facilitan a través de los grupos,
hasta tal punto que podríamos decir que los demás pasan a representar
las cualidades reprimidas inconscientes.”
Rolando Toro
Toro, ao falar sobre os primeiros momentos de vida de um grupo, chama a
atenção para as reações ambivalentes de cada participante em relação ao próprio
grupo: amor e ódio se sucedem como resultado das projeções de medo ao amor, de
desejo de contato, de impulsos agressivos, de temor à rejeição, etc.
Toro explica ainda que, ao entrar num grupo de Biodanza, o indivíduo expõe
sua identidade a uma série de riscos pelo simples fato de enfrentar identidades
diferentes. Com isso torna-se inevitável que os mecanismos de resistência
utilizados por ele e, em especial, a projeção se manifeste e crie uma série de
dificuldades ao contato tão desejado.
O participante que introjetou a crença de que não é digno de ser amado, e
não aceita a si mesmo, através do mecanismo de projeção pode perceber essa
rejeição num outro participante, ou mesmo no grupo, passando a evitar iniciativas
de contato com medo de ser rejeitado. Esse participante terá dificuldade em escolher
um outro participante para uma dança em pares, por exemplo. Ele teme a rejeição e,
por isso, prefere se deixar escolher. É mais “seguro” na sua maneira de perceber o
mundo.
O participante raivoso através da projeção pode se sentir ameaçado. E o
participante muito reprimido sexualmente pode ver seu desejo no outro e se sentir
constrangido ou estimulado!
3. Retroflexão
Na retroflexão a pessoa controla as emoções através de disciplina rígida e
autocontrole, resultando em falta de expressão, o que é muito comum num grupo de
Biodanza. O ambiente no grupo convida à expressão, ora de alegria, ora de
entusiasmo, ora de prazer, ora de ternura, etc., mas o participante que retroflete suas
34
emoções continua seu movimento mecânico, sem expressão, fugindo a um contato
mais profundo consigo mesmo e com o outro. Essa falta de espontaneidade limita
toda a expressão da identidade, nas suas mais variadas formas, desde o caminhar,
que é “robotizado”, até a carícia, que é mecânica. O grito não sai, fica preso na
garganta. O canto não tem potência nem melodia, é tímido, sufocado ou estridente.
4. Deflexão
Nessa forma de resistência o participante evita o contato pela dispersão ou
desfocalização de sua atenção. Podemos ver claramente esse tipo de resistência no
grupo de Biodanza pela dificuldade dos participantes em olhar o outro, não só numa
Roda de Olhar, onde o contato é certamente mais intenso, mas até mesmo nos
exercícios iniciais de Sincronização Rítmica ou Melódica.
Também nos exercícios de acariciamento o participante evita um contato
mais íntimo pelo mecanismo da desfocalização: em alguns casos a evitação se dá
pelo desvio do olhar do corpo da pessoa que está sendo acariciada, noutros o
participante simplesmente fecha os olhos e “viaja”.
O Relato de Vivências é outra situação na qual a resistência dos
participantes, por deflexão, se mostra com toda sua força: o participante evita
entrar em contato consigo mesmo e falar de suas vivências. E faz isso falando do
outro, generalizando ou puxando um assunto que não tem nada a ver com a sua
vivência. Com isso ele se sente mais “protegido”, pois conseguiu desviar o foco de
atenção de si mesmo.
5. Confluência
Podemos observar a falta de limite entre si mesmo e o outro ou a negação da
individualidade de cada um, que caracterizam a confluência, em inúmeras situações
no grupo de Biodanza:
35
 Dificuldade em iniciar um movimento próprio, diferente dos
demais. O participante busca no grupo a orientação para seu
movimento e repete o que vê.
 Dificuldade de entrar na Roda e se expressar livremente, através
do movimento ou da voz. O participante teme se destacar e
mostrar sua diferença.
 No Relato de Vivências o participante teme expressar opinião
própria sobre algum tema em discussão. A ansiedade o deixa
mudo. Às vezes arrisca uma pergunta...
6. Proflexão
A manipulação do outro, como forma de resistir ao contato, pode se
apresentar na forma negligente, sem presença, de fazer uma carícia, quando o
Facilitador propõe um Acariciamento em Pares, com troca. O participante faz por
interesse, não tem coragem de assumir que não deseja se doar, que só deseja
receber, ser acariciado. Então, ele “dá” sua carícia como um elemento de troca de
interesses, sem nenhuma intenção de se comunicar amorosamente com o outro. A
ternura é um sentimento que ele desconhece.
O que existe de comum em todos essas formas de resistência é uma grande inibição
da expressão, da capacidade de entrar em intimidade e de vivenciar um autêntico contato.
Acima de tudo, o que se percebe é a falta de presença, ou seja, falta de vinculação consigo
mesmo, numa atitude de alheamento defensivo, evitando ir além de suas fronteiras bem
guardadas. Sem vínculo consigo mesmo, torna-se impossível o vínculo com o outro.
O aluno está na sessão; é convidado a se movimentar, a se expressar e entrar em
contato. Então, a saída defensiva que ele encontra é a falta de presença, o fazer
mecanicamente o que lhe foi sugerido, mantendo-se distante. Ele não está presente e, com
isso, também não concede presença: desvia o olhar, fala, “brinca”, abraça apressadamente...
36
É como se ele não pudesse reconhecer a presença do outro, que parece assumir a categoria
de uma grande ameaça à sua integridade.
Quando na aula seguinte, durante o tempo reservado para a intimidade verbal, se
pergunta: então como foi a aula passada?, ele não sabe, não tem nada íntimo a dizer, pois
não vivenciou a si mesmo, estava noutro lugar, ocupado em se defender.
N O T A S:
1
Toro, Rolando. Tomo: Teoria da Biodanza, p. 12
2
Laplanche. Vocabulário da Psicanálise, p. 107
3
Horney, Karen. A Personalidade Neurótica..., p. 18
4
Idem, idem, p. 8
5
Idem, idem, p. 20
6
Crema, Roberto. Análise Transacional ..., p. 51
7
Idem, idem, p. 55
8
Idem, idem, p. 56
9
Toro, Rolando. Tomo: Teoria da Biodanza, p. 12
10
Cardella, Beatriz. O Amor na Relação Terapêutica, p. 41
11
Crema, Roberto. Análise Transacional..., p. 86
12
Idem, idem, p. 92
13
Idem, idem, p. 97
37
5 COMO ATUA A BIODANZA?
Podemos entender a Biodanza como uma fonte de estímulos vivenciais para uma
vida com mais intensidade, ou seja, mais vitalidade, mais vínculo afetivo, mais
comunicação, mais expressão autêntica, mais prazer... e mais presença.
Para isso a Biodanza dispõe do que se convencionou chamar “Mecanismos de
Ação”, cuja função é estimular a integração do organismo e desenvolver os pontenciais
humanos inatos, de forma que o participante vá aos poucos liberando-se da rigidez dos
comportamentos defensivos e, com isso, harmonizando-se com a fluidez da vida.
Esses “Mecanismos de Ação” estão relacionados a exercícios e, às vezes, se
confundem com eles, que são propostos pelo Facilitador segundo sua percepção das
necessidades do grupo. A Biodanza é, portanto, um Sistema de Desenvolvimento Humano
que utiliza uma abordagem indutora de vivências na busca dos seus objetivos.
Neste capítulo procuraremos entender a natureza da ação desses exercícios.
Contudo, antes de tratarmos especificamente dessa questão, consideramos ser necessário
apresentar dois princípios fundamentais no estabelecimento da base sobre a qual se dá a
ação da Biodanza.
5.1. Princípios Fundamentais
Os princípios estabelecidos por Toro se destinam a dar uma estrutura operatória ao
Sistema; eles são a base para todo o desenvolvimento teórico e metodológico que se segue.
Entendemos que o processo vivencial e a estrutura grupal são os dois princípios mais
fundamentais do Sistema, sem os quais não se pode falar em Biodanza. É conveniente
ressaltar que não estamos nos esquecendo do Princípio Biocêntrico, espinha dorsal do
Sistema criado por Rolando Toro, ao qual já nos referimos no Capítulo três, item 3.2.
38
5.1.1. Processo Vivencial
Em Biodanza a vivência é prioritária. É a partir dela que se busca estimular o acesso
à identidade e à sua expressão. Na verdade, a eficácia de um exercício de Biodanza
depende da profunda integração entre a música, o movimento e a vivência. Entende-se que
é a partir dela que se dá a transformação desejada, é ela a fonte propulsora do projeto
existencial. A vivência emocionada tem o poder de regular e integrar as funções
neurovegetativas, ativando-as ou moderando-as.
A integração do vivenciado à consciência e à regulação visceral, que caracteriza a
integração necessária dos três níveis de aprendizagem humana, dar-se-á posteriormente,
complementando o processo de transformação existencial.
5.1.2. Estrutura Grupal
“A finalidade da relação é o seu próprio ser, ou seja,
o contato com o Tu. Pois, no contato com cada Tu, toca-nos
um sopro da vida eterna.”
Martin Buber
A vivência em Biodanza se dá em grupo semanal, sob a orientação de um
Facilitador, onde as pessoas se encontram com o propósito de “dançar a vida”. Dançar em
grupo, descobrindo, progressivamente, os rituais de aproximação e encontro, buscando um
nível mais elevado de comunicação afetiva, resultado da maior liberdade na expressão da
própria Identidade.
A vivência de si, observa Toro, surge durante a “convivência”,1
ou seja, é na
presença do outro que nossa identidade se revela. O grupo é, portanto, fundamental nesse
processo de encontrar-se a si mesmo e, com isso, poder vincular-se ao outro.
É no grupo que cada participante vai encontrar reforço para seus aspectos saudáveis
e desenvolver seus potenciais através de cinco linhas de vivência. No grupo de Biodanza
cada um de seus participantes deve encontrar proteção, estímulo e desafio, com propósito
de ajudá-lo nas transformações que busca realizar.
Segundo Toro, uma das funções que o grupo assume é de dar permissão aos seus
membros para reduzir a força dos mecanismos de defesa e deixar que a energia afetiva
reprimida comece a circular com mais espontaneidade, dando lugar à vivência. Assim, o
39
grupo de Biodanza deixa de ter características repressoras, como outros grupos sociais, e
passa a ter uma função permissiva, o que facilita o processo de reparentalização, ou seja, a
modificação dos padrões de resposta adquiridos durante a infância.
. Quando o grupo atinge esse nível de integração ele se torna, como diz Toro (3), um
biogerador, um centro gerador de vida no qual cada um projeta seus sentimentos, desejos e
necessidades e passa a perceber melhor a essência do outro. Com isso, o participante deixa
de ver esse outro como um limite real para a sua expressão e se torna permeável à presença
e potência do outro, o que se manifesta como emoções integradoras de grande intensidade.
5.2. A Ação da Biodanza
Preferimos usar a expressão “Ação da Biodanza” no lugar de “Mecanismos de
Ação” por entendermos que o conceito de “mecanismo” está fortemente relacionado com
o conceito de equipamento ou máquina e a ação da Biodanza visa exatamente ao
contrário, ou seja, sair do movimento mecanizado, automático, próprio das máquinas.
Antes de entrarmos nos aspectos mais específicos de atuação da Biodanza,
gostaríamos de acrescentar algumas idéias sobre a importância de um corpo bem
“organizado” para uma expressão mais autêntica da identidade, reforçando, assim, a
abordagem corporal seguida por Toro. Essa importância pode ser observada nas palavras
de Oliveira, ao tratar sobre o desenvolvimento da psicomotricidade: .
“Todo ser tem seu mundo construído a partir de suas própias experiências
corporais. O corpo deve ser entendido não somente como algo biológico e orgânico
que possibilita a visão, a audição, o movimento, mas é também um lugar que
permite expressar emoções e estados interiores. O corpo é uma forma de expressão
da individualidade”.2
O corpo é, portanto, como diz Oliveira, a maneira de ser da pessoa. É através dele
que ela estabelece contato com as entidades do mundo, que se engaja no mundo, que
compreende os outros. Conhecendo-o, ela tem mais habilidade para se diferenciar ou se
identificar com as entidades do mundo, fortalecendo assim sua própria identidade.
Voltando ao tema deste item, que é a Ação da Biodanza, entendemos que ela pode
ser analisada por dois enfoques: primeiro, pela natureza das vivências que são propostas ao
grupo e, segundo, pelo resultado dessas vivências sobre cada participante ou, mais
40
especificamente, pela alteração provocada por essas vivências no funcionamento fisiológico
e comportamental dos participantes.
Pessoa, ao escrever sobre esse tema, tratou dos dois aspectos: sob o título
“Mecanismos de Ação” ela colocou a natureza das vivências e sob o título “Efeitos” ela
descreveu as mudanças fisiológicas ou comportamentais correspondentes.
Neste trabalho apresentaremos os dois aspectos num bloco só, como fez Toro na
apostila do Curso de Didatas,3
apesar de não estarmos reproduzindo integralmente aquele
trabalho. Resumimos a Ação da Biodanza em oitos itens que passamos a descrever.
5.2.1. Ação sobre a Identidade
Generalizando, podemos dizer que a Biodanza atua através de vivências que
funcionam como uma grande fonte de estímulos aos potenciais genéticos intrínsecos de
vitalidade, sexualidade, criatividade, afetividade e transcendência, os quais têm um efeito
terapêutico sobre todo o organismo, integrando-o, harmonizando-o e estimulando sua
expressão mais autêntica. Em outras palavras, a Biodanza atua sobre as bases instintivas da
identidade, compreendida como o conjunto de qualidades essenciais da pessoa e que lhe
conferem sua singularidade, procurando “abrir caminho” à sua livre expressão.
5.2.2. Ação Integrativa
Buscando superar as dissociações motoras e afetivo-motoras induzidas pela
estrutura cultural e pelos conflitos pessoais, a Biodanza atua sobre a psicomotricidade,
reorganizando o esquema corporal através de exercícios de integração que envolvem o
movimento, as emoções subjacentes a esse movimento, o tônus muscular, a sensibilidade e
os sentidos. A evolução da motricidade é facilitada trabalhando as diversas categorias de
movimento, desde o ritmo até o movimento sensível e expressivo.
5.2.3. Ação Vitalizadora
Buscando despertar e desenvolver a alegria e o ímpeto vital, assim como a harmonia
e a capacidade de repouso e sono, a Biodanza atua sobre a função homeostática do
organismo: ora com exercícios rítmicos, rápidos, que produzem calor, suor, riso e liberação
da respiração; ora com exercícios lentos, suaves, promovendo a integração afetivo-motora.
41
A estimulação alternada dos sistemas simpático-adrenérgico e parassimpático-colinérgico
reforça o equilíbrio neurovegetativo necessário à função de autorregulação do organismo.
5.2.4. Ação Desrepressora
Buscando o desenvolvimento da sexualidade e a revalorização corporal, a Biodanza
atua sobre as couraças defensivas do ego através de exercícios de contato e carícia, de
danças de sedução e de danças eróticas de expressão da feminilidade e da masculinidade. A
dissolução das couraças, resultantes da desrepressão sexual, restaura a função de contato e
desperta o desejo, permitindo ao participante vivenciar seu corpo como fonte de prazer,
assumir suas preferências e realizar sua própria identidade sexual.
5.2.5. Ação Reintegradora
A Ação Integrativa da Biodanza (item 5.2.2) cria condições para uma reintegração
afetiva de cada participante com seu semelhante, através do desenvolvimento do processo
de identificação e da aprendizagem de formas de comunicação e encontro em “feed-back”.
Com essa abertura amorosa para o contato com o outro, a Biodanza busca a reintegração
de cada participante ao seu grupo social (retribalização), à espécie (humanização) e ao meio
ambiente (ecologia).
Para essa reaprendizagem afetiva são criadas situações de encontro e comunicação,
e rituais de vínculo, que atuam sobre o grupo despertando seus potenciais afetivos de amor,
amizade, altruísmo e solidariedade.
Uma abordagem básica para essa reaprendizagem é enfatizar o que Toro chamou de
“Princípios do Encontro Corporal”, buscando desenvolver as atitudes e habilidades
necessárias à reeducação do “estilo de encontro”.
5.2.6. Ação de Diferenciação
Nesta ação a Biodanza busca o desenvolvimento dos potenciais individuais dos
participantes para inovação e mudança, mediante exercícios de expressão. Os exercícios
são concebidos para devolver ao participante sua capacidade de expressão mais profunda e
desenvolver sua criatividade existencial, capaz de renovar e enriquecer seu estilo de vida.
42
Como exemplos podemos citar os exercícios de: expressão primal, integração yin-yang,
comunicação expressiva e elaboração criativa.
O participante é convidado a conectar-se consigo mesmo, sair do seu padrão
habitual, automático e experimentar novas formas de expressão, através do movimento e da
voz, diferenciando-se do grupo e experimentando-se a si mesmo, num ato de ousadia e
independência.
5.2.7. Ação Terapêutica
Este título foi dado por Toro à ação da Biodanza através do transe. Transe e
regressão são fenômenos que, freqüentemente, se produzem de forma simultânea. Santos,
citando Toro, define regressão nos seguintes termos:
“A regressão é, basicamente, um estado emocional que induz a aparição de
potenciais arcaicos. Este estado se caracteriza por um relaxamento de todos os
músculos e harmonização das funções viscerais. A atividade cortical e os sistemas
de alerta diminuem seus umbrais de resposta. No estado de regressão ocorre
ativação parassimpática, renovação orgânica e inibição simpático-adrenérgica. O
pulso, acelerado no começo, vai-se tornando mais lento e a respiração se
regulariza. Há também uma ativação dos mecanismos de termorregulação e
tendência ao sono. Durante o estado de regressão produz-se uma reativação de
padrões primitivos de desenvolvimento e uma reorganização dos impulsos vitais
obstruídos ou reprimidos pela aprendizagem. Este estado tem o caráter de
associação básica com o âmnio e requer condições especiais de proteção e
continente afetivo.” 4
As vivências de transe e regressão ativam as funções trofotrópicas de reparação
biológica, otimizam a homeostase e levam a um processo de renovação biológica em todo o
organismo, que é experimentado como um verdadeiro renascimento. Além disso, essas
vivências modificam os padrões de resposta adquiridos durante a infância, levando a um
processo de reparentalização com reflexo nas atitudes e crenças individuais dos
participantes.
Esta é a ação terapêutica da Biodanza. O transe integrativo e renovador através de
vivências (música-movimento-emoção), onde o grupo funciona como matriz de
renascimento.
43
5.2.8. Ação Transcendente
É também através do transe e regressão que a Biodanza atua sobre a percepção,
buscando a expansão da consciência para além das limitações do ego e, com isso, alcançar
as experiências de Êxtase e Íntase que nos abrem o caminho para uma relação com a
Totalidade. Para esta ação a Biodanza inclui também as chamadas Posições Geratrizes que,
segundo Pessoa, constituem verdadeiros arquétipos gestuais e geram danças espontâneas de
grande riqueza e profundidade existencial.
5.2.9. Ação de Reculturação
A Biodanza atua sobre o sistema de crenças dos participantes, buscando uma
transvalorização cultural, ou seja, uma nova cultura com valores pró-vida em substituição à
cultura atual com seus valores e costumes produtores de patologia . Isto é feito na primeira
parte da sessão, quando o Facilitador apresenta novas idéias que refletem uma visão de
mundo coerente com os objetivos e princípios da Biodanza, levando os participantes a
ampliarem seus horizontes e libertarem-se dos seus preconceitos.
Também nessa primeira parte da sessão cada participante pode compartilhar com o
grupo aquilo que vivenciou na sessão anterior, o que contribui para aumentar a consciência
da experiência vivida. Com isso, cada participante assume as vivências fortalecedoras de
sua identidade sadia, o que possibilita a revisão de antigas crenças e contribui para o
desenvolvimento de uma nova maneira de pensar e ver e atuar no mundo.
Essa é a natureza da ação da Biodanza, as várias formas que ela assume, sempre no
sentido de maior conexão com a vida, intrapessoal e interpessoal. Cada ação complementa
e é complementada pelas demais, parte de um todo integrado que busca desenvolver a
totalidade do ser humano, naquilo que ele tem de melhor: sua autenticidade amorosa.
Trata-se, como vimos, de uma ação diretiva, forte, potente, planejada no tempo para atingir
seus objetivos. Por tudo isso, essa ação deve ser progressiva, como veremos no capítulo
seguinte.
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N O T A S:
1
Toro, Rolando. Identidad e Integracion, p. 9
2
Oliveira, Gislene. Psicomotricidade, p. 47
3
Toro, Rolando. Mecanismos de Acción de Biodanza, Cap. 7
4
Santos, Mª Lucia. Metodologia em Biodanza, p. 25
45
6 A AÇÃO PROGRESSIVA
DA BIODANZA
No capítulo quatro examinamos o que impede o indivíduo de realizar a
transformação tão desejada e concluímos que a maior barreira é ele mesmo ou uma
parte dele que se manifesta defensivamente, resistindo ao contato com seus próprios
sentimentos, emoções, necessidades e desejos.
No capítulo cinco examinamos a atuação da Biodanza como um Sistema que
busca o desenvolvimento do indivíduo, no sentido de uma maior e melhor expressão de
sua identidade, e descobrimos que ela atua em sentido oposto às resistências, buscando
integrar movimentos, sentimentos e pensamentos, que se apresentam dissociados em
função do processo repressivo existente na própria cultura.
Na verdade a Biodanza procura agir sobre a essência e não romper as couraças
defensivas. As defesas se tornam desnecessárias à medida que a essência se fortalece.
Contudo, para esse trabalho de fortalecimento da essência e integração do indivíduo
em sua singularidade, faz-se necessária uma transformação lenta e progressiva dos
diversos sistemas intra-humanos, em direção a um novo continente, estruturado num
nível mais elevado de integração.
A partir das vivências integradoras da Biodanza, torna-se possível a
reestruturação do sistema de crenças do participante, de suas couraças musculares e de
seu sistema de vínculos afetivos primários. Uma vivência integradora pode alterar uma
crença e influenciar todo o sistema. Mas a mudança deve ser gradual para não
prejudicar o funcionamento geral do sistema. Mudanças excessivas não dão tempo ao
organismo de reestruturar suas leis gerais de funcionamento. O participante pode
desenvolver um estado doloroso de angústia, resultando no enrijecimento das defesas e
conseqüente abandono do grupo.
46
A questão que surge, então, é como atuar de forma a não ir além das
possibilidades reais de cada participante. A resposta que encontramos foi
“progressividade”, ou seja, agir gradualmente, com suavidade, passo a passo, sem
ansiedade para atingir os resultados esperados.
Além dos princípios já tratados no capítulo anterior, Rolando Toro, na sua
função de criador da Biodanza, estabeleceu e definiu vários outros que, adicionados aos
paradigmas, criaram uma base sólida e consistente para o desenvolvimento teórico e
metodológico do Sistema. Dentre os vários princípios criados, queremos destacar, aqui,
aqueles que estão mais diretamente relacionados ao método progressivo de ação da
Biodanza.
6.1. Princípios que Determinam a Natureza Progressiva do Sistema
No que se refere à ação progressiva da Biodanza, Toro estabeleceu não só o
princípio de progressividade, propriamente dito, mas também o princípio de
autorregulação e o princípio de reciprocidade, todos buscando assegurar o
desenvolvimento progressivo dos participantes, como veremos a seguir.
6.1.1. Princípio de Progressividade
No capítulo dois, procurando responder à pergunta “o que é progressividade?”,
chegamos à conclusão de que progressividade se refere a uma qualidade que está
associada à própria natureza. A vida, dizíamos, se desenvolve continuamente,
progressivamente...
Toro, reconhecendo a natureza progressiva de todo processo de desenvolvimento
humano, escreve:
“El entrenamiento en Biodanza debe estar sujeto rigurosamente al
principio de progressividad. En el planeamiento de un Curso de Iniciación y en
la estructuración de cada sesión, han de graduarse la intensidad y duración de
los ejercicios, de modo que se produza un proceso de cambio evolutivo.
Es necesario que un profesor modere su ansiedad por producir
modificaciones rápidas y espectaculares. Una evolución progresiva hacia la
salud, configura un estilo y un “sentido”de trabajo que da tiempo al alumno
para asumir sus propios cambios. La idea de “quebrar corazas
caracterológicas” tiene que ser resachada como procedimiento. No podemos
quebrar las defensas que un individuo há elaborado a través de anos, porque
corremos el riesgo de dejarlo sin continente para su identidad y poner
gravemente en peligro su homeostasis. Las defensas neuróticas tienen que irse
47
transformando, vale decir, tienen que ser reemplazadas por la nueva estructura
de salud.
Por outra parte, trasgredir el principio de progressividad puede
desencadenar en la persona un “stress” emocional doloroso, elevar sus niveles
de culpabilidad y provocar sentimentos de angustia incontrolables.
Cada alumno evoluciona hacia la salud en relación a sus propios
patrones. La técnica no fomenta actitudes competitivas ni ansiedad de
rendimiento artificial. El principio de progressividad es coherente com los
conceptos de integración y desarrollo. Todo proceso de maduración está sujeto
a un ritmo interior y puede potenciarse solamente a través de un reciclaje
progressivo de los procesos vitales.” 1
Fizemos questão de transcrever integralmente o texto de Toro, em sua própria
língua, por ser este o ponto fundamental de nosso trabalho. É essa necessidade de se
respeitar as defesas ou resistências dos participantes que queremos enfatizar. Que as
aulas sejam planejadas de modo a garantir um processo suave e progressivo de
transformação evolutiva dos participantes, sem criar ameaças adicionais ao seu
equilíbrio emocional responsável pela integridade do organismo.
6.1.2. Princípio de Autorregulação
Coerente com a proposta fundamental da Biodanza de agir sempre a favor da
vida, o princípio de autorregulação reconhece a necessidade de se respeitar os
mecanismos naturais de regulação intraorgânica. Nas palavras de Toro, “...a Biodanza
se baseia no conhecimento fisiológico das funções de autorregulação e só reforça essas
funções, facilitando e permitindo seu fluir já programado através de milhões de anos de
evolução”. 2
Isto quer dizer que a Biodanza não interfere nas funções orgânicas de circulação,
calor, atividade-fadiga, sono-vigília, alimentação, etc. Seu objetivo é reforçar e
harmonizar essas funções, cuja autorregulação é natural no ser humano saudável e fazer
isso de forma progressiva.
6.1.3. Princípio de Reciprocidade
Já vimos anteriormente que a Biodanza é por princípio uma atividade grupal e
vivencial. Também vimos, quando tratamos da ação da Biodanza, que o contato, a
carícia e o encontro em “feed-back” são utilizados como ferramentas facilitadoras no
processo de desrepressão e abertura ao contato com o outro.
48
Sendo esses alguns dos instrumentos de que se vale a Biodanza, fica evidente a
necessidade de se estabelecer critérios para o relacionamento dentro do grupo de forma
a garantir o desenvolvimento progressivo e evitar conflitos. O Princípio de
Reciprocidade tem essa finalidade, ou seja, ele é uma regra de funcionamento do grupo
que deve ser passada aos alunos, verbal e vivencialmente.
O Princípio de Reciprocidade estabelece que o relacionamento deve se dar em
“feed-back”. Segundo Toro, isto significa que:
“...o Facilitador não pode exercer autoridade alguma para provocar
contatos forçados. Cada participante deverá ter liberdade suficiente para
aceitar ou rechaçar um determinado contato. Deste modo, as situações de
encontro propostas devem permitir a cada indivíduo graduar a forma e a
quantidade de contato que nesse momento pode oferecer. Nenhum participante
deve ser forçado a dar ou receber um contato que não deseja, seja por pressão
do grupo ou por indicação direta do Facilitador. A aproximação progressiva em
“feed-back” permite que cada um seja informado sobre a quantidade de
aproximação que é permitida.” 3
Toro cita textualmente a necessidade do Facilitador dar proteção à pessoa inibida
para que ela possa ensaiar progressivamente seus contatos. Também a pessoa muito
desinibida deve ser informada de que não pode exercer a liberdade de contato sem estar
autorizada pela outra pessoa. Se assim não for, observa Toro, ambos entram em
patologia: o inibido, por suportar um contato que não deseja, faz o jogo de vítima; o
desinibido, por invadir seu companheiro, faz o jogo de perseguidor.
Havendo encontro em “feed-back”, evita-se o reforço da patologia e desenvolve-
se uma nova forma de se relacionar, com responsabilidade e reciprocidade.
Não é necessário o uso da palavra para informar ao outro o limite de contato
desejado. Como diria Pierre Weil, “ o corpo fala!...”. O corpo, observa Toro, emite
sinais claros de aceitação ou evitação, o que ocorre alternadamente durante o encontro.
A reciprocidade se dá pela aproximação progressiva, o que permite que cada
pessoa perceba o limite do outro de forma dinâmica e regule o quanto de contato é
possível naquele momento. Se um dos participantes percebe que o outro não está em
condições de aceitar mais intimidade, então ele, atento ao princípio de reciprocidade,
deve esperar que o outro estabeleça o nível de contato possível. Com isso, cresce o nível
de confiança dentro do grupo, a permissão para o contato aumenta gradativamente e o
relacionamento se torna cada vez mais encantador.
Apesar de não ser necessário o uso da palavra, como dissemos acima, já que o
corpo fala, é minha opinião de que poderá haver invasão mesmo com a colocação de
49
limites corporais, quando algum dos participantes tem dificuldade de perceber as
limitações dos demais. Neste caso, os participantes devem ser orientados para trazer o
problema para o grupo, na aula seguinte, durante o relato de vivências, de forma a evitar
perpetuar uma situação patológica que poderá levar a pessoa vitimada a abandonar o
grupo.
Evidentemente, o grupo deve ser orientado para que a colocação de um
problema dessa natureza seja feita de forma delicada , não com acusações, mas
sinalizando para o outro sobre o sentimento de constrangimento que sua ação possa ter
causado. Sabemos que esta é uma atitude dificílima para uma pessoa tímida, contudo
cabe ao Facilitador, percebendo a situação, facilitar para que ela venha à luz e possa ser
verbalizada.
Caso venha a entrar um novo membro para o grupo após o início do curso, mais
do que nunca a reciprocidade deve ser enfatizada. Primeiro, porque essa pessoa
provavelmente necessitará de tempo para chegar ao nível de contato já existente no
grupo e, segundo, porque ela, na sua busca de aceitação, poderá ultrapassar seus
próprios limites, correndo o risco de desencadear sentimentos conflitantes, resultando
no abandono do grupo e retardamento do seu desenvolvimento existencial.
6.2. Critérios Gerais que Facilitam a Progressividade
O Grupo, como vimos no capítulo cinco, é essencial para a metodologia da
Biodanza. É ele que cria as condições necessárias para o reflorescimento da Identidade.
Ele é fonte de estímulo de proteção e de desafio, tudo isso extremamente necessário no
processo de abertura ao contato com o mundo. Contudo, se o grupo for muito
heterogêneo, se os participantes estiverem em níveis muito diferentes de
desenvolvimento, ele será também fonte de dificuldades para a progressividade de cada
participante. Ele poderá se tornar uma ameaça para os mais inibidos.
Foi, acredito, procurando dar uma solução metodológica para o problema e criar
condições de manter o Princípio de Progressividade, que Toro criou dois níveis para os
cursos semanais de Biodanza, determinados pelo grau de intensidade e profundidade
vivencial: o Curso de Iniciação, para iniciar o processo de integração, e o Curso de
Aprofundamento, para aprofundar a intensidade das vivências.
50
6.2.1. O Curso de Iniciação
Este curso, como o próprio nome indica, é uma introdução, os primeiros passos
no desenvolvimento vivencial proposto pelo Sistema. Sua duração, prevista por Toro,4
é de um ano, podendo haver repetência para aqueles que sentirem necessidade. Ele se
destina às pessoas com pouca ou nenhuma experiência em Biodanza e, por isso mesmo,
pressupõe um nível menor de aprofundamento, suas vivências são menos intensas do
que as do curso avançado. No item 6.4 trataremos detalhadamente do planejamento das
aulas de um Curso de Iniciação.
6.2.2. O Curso de Aprofundamento e Radicalização de Vivências
Trata-se do curso semanal de nível avançado, por definição do próprio Toro,4
que pressupõe um grau maior de aprofundamento vivencial. Destina-se às pessoas que
hajam superado o nível inicial e estejam avançadas em seu próprio processo de
integração através do Sistema Biodanza. Sua duração, segundo Toro, é de um a dois
anos, podendo haver repetência para aqueles que sentirem necessidade.
Toro deixa bem claro a diferença entre aprofundamento e radicalização de
vivências. No Aprofundamento de Vivências eleva-se o grau de intensidade vivencial
nas cinco linhas de vivências. Trata-se, portanto, de uma continuação do Curso de
Iniciação, só que com mais intensidade. A Radicalização de Vivências é diferente, trata-
se do resultado final esperado, de todo o processo vivencial, na vida de cada
participante. Ela consiste em desenvolver uma compreensão essencial da Biodanza
como sistema de otimização da existência humana, incorporando ao próprio estilo de
vida as mudanças já vivenciadas através da Biodanza. Pode-se dizer que com a
Radicalização de Vivências os três níveis de aprendizagem (Vivencial, Cognitivo e
Visceral) se integram, dando lugar a um novo jeito de ser no Mundo, ou seja, um
renascer.
6.2.3. Classificação dos Exercícios
Além de criar dois níveis para os cursos semanais, Toro5
ainda classificou os
exercícios de Biodanza em quatro categorias, do ponto de vista funcional. As três
primeiras categorias se referem aos exercícios básicos, de mais fácil realização, próprios
do Curso de Iniciação. A 4ª categoria se refere aos exercícios específicos de
aprofundamento. Podemos ver, também nessa classificação, o cuidado de Toro em dar
51
aos Facilitadores de Biodanza uma orientação para a introdução dos exercícios com
progressividade ao longo dos cursos de Iniciação e de Aprofundamento.
1ª categoria: Integração Motora
Esses exercícios fazem parte da Ação Integrativa e Vitalizadora
da Biodanza. Eles se caracterizam por sua ação integradora
particularmente eficaz ao nível motor. São os vários exercícios de
caminhar, as danças rítmicas, os jogos de vitalidade, os exercícios de
fluidez, os movimentos segmentares, os exercícios de extensão e
elasticidade integrativa, entre outros.
2ª categoria: Integração Afetivo-Motora e Expressão
Esses exercícios complementam a Ação Integrativa e são parte da
Ação de Diferenciação da Biodanza. Eles têm o objetivo de integrar os
gestos com as emoções, no sentido de reduzir progressivamente a
dissociação afetivo-motora. Incluem-se nesta categoria os exercícios em
pares, tais como: coordenação rítmica, sincronização rítmica,
sincronização melódica, danças de eutonia, dar e receber a flor, etc.
Exemplos de exercícios de expressividade são: as posições geratrizes do
código I e suas respectivas danças, a dança yin, a dança yang, a dança
yin-yang e a dança de expressão melódica, etc.
3ª categoria: Comunicação Afetiva e Comunhão
Esses exercícios fazem parte da Ação Reintegradora da Biodanza.
Eles evocam vivências de comunhão entre os participantes do grupo a
partir da comunicação dos próprios sentimentos e emoções, através dos
gestos, do olhar e do contato sensível em feed-back. Essas vivências são
importantes para a integração do grupo e incluem todas as formas de
encontro previstas no Catálogo Oficial, as rodas em suas diversas
modalidades, os exercícios de contato e acariciamento sensível, a fluidez
em grupo com contato sensível e o grupo compacto de embalo, entre
outras.
52
4ª categoria: Exercícios Específicos de Expressão dos Potenciais Genéticos
Aqui vamos encontrar todas as formas vivenciais de ação da
Biodanza: Ação Integrativa, Vitalizadora, Desrepressora, Reintegradora,
de Diferenciação, Terapêutica e Transcendente. São exercícios do Curso
de Aprofundamento nas cinco linhas de vivência e sua realização requer
maior maturidade vivencial do grupo e de cada um de seus participantes.
Os detalhes da natureza desses exercícios não serão objeto desse
trabalho, a não ser aqueles exercícios específicos que devem ser
introduzidos já no Curso de Iniciação.
6.3. Progressividade em Cada Sessão
Uma das principais características do Modelo Teórico da Biodanza é a continua
pulsação vivencial entre os dois pólos da consciência humana: “Consciência
Intensificada de Si Mesmo” e “Regressão”. Esta pulsação, ou trânsito, deve estar
presente em cada sessão, pois é através dela que a Biodanza realiza sua ação
vitalizadora, integrando as funções ergotróficas e trofotróficas.
O ponto que queremos tratar aqui se refere à necessidade de que esse trânsito
seja feito com progressividade, de forma a não causar mal-estar aos participantes, o que
poderia anular os benefícios planejados para a sessão.
Ao tratar desse tema, Toro chama a atenção para a “necessidade de que a
estrutura da sessão permita aos participantes fluir organicamente para novos níveis de
intensidade e qualidade vivencial, sem interrupção do estado orgânico emocional.” 6
Sua orientação é para colocar exercícios que estimulam uma pulsação suave entre os
dois pólos extremos da consciência, com efeitos harmonizadores e facilitadores do
equilíbrio neurovegetativo. A título de exemplo, ele sugere as Seqüências de Fluidez, a
Dança de Extensão Harmônica, a Sincronização Melódica em Pares, a Dança em Pares
com Samba Cadenciado, O Movimento Segmentar de Peito-Braços e a Dança Sensível
de Braços.
Também a volta da Regressão ao estado de Consciência de Si precisa ser lenta e
progressiva. Sair bruscamente da Regressão é como ser acordado por um despertador
estridente, causa mal-estar e irritação. A indicação clássica da Metodologia, para essa
ativação progressiva, é a Roda de Ativação Progressiva na qual a música deve começar
com muita suavidade e ir crescendo ritmicamente, aos poucos. Uma alternativa é
colocar duas músicas bem encadeadas e com ativação crescente.
53
Para esse encerramento é necessário ouvir Toro, segundo o qual “a ativação
final da sessão não deve ser intensa em nenhum caso”. É que muita intensidade no final
da sessão pode destruir o estado interno de harmonia cuidadosamente conquistado ao
longo da sessão. A necessidade que alguns participantes, e até mesmo Facilitadores, têm
de terminar as sessões sempre com euforia, pode ser uma indicação de que ainda não
entenderam completamente a proposta da Biodanza que busca a harmonização e não a
euforia festiva.
6.4. Planejamento das Aulas de um Curso de Iniciação
Planejar implica em definir objetivos e estabelecer estratégias de ação para
alcançar esses objetivos. Toro definiu objetivos globais e específicos para o Curso de
Iniciação e, no nosso entendimento, estabeleceu o Princípio de Progressividade como
estratégia básica.
6.4.1. Objetivos do Curso de Iniciação
Os objetivos globais do Curso de Iniciação se referem às cinco linhas de
vivências, ou seja, a estimulação dos potenciais genéticos nas linhas de Vitalidade,
Afetividade, Criatividade, Sexualidade e Transcendência, e a estabilização das
mudanças evolutivas já realizadas nessas linhas.
Os objetivos específicos do Curso de Iniciação é começar o processo de
integração corporal, em seus vários aspectos (integração motora, afetivo-motora,
sensório motora, etc.), e introduzir com progressividade alguns dos exercícios das cinco
Linhas de Vivências.
6.4.2. Estratégia de Ação para o Curso de Iniciação
A estratégia básica da Biodanza para o sucesso de um Curso de Iniciação é a
progressividade, que se refere ao aumento gradual de intensidade vivencial, desde o
início até a conclusão do curso. Portanto, cada sessão é uma etapa, com intensidade
vivencial crescente, no percurso de realização dos objetivos.
Uma Abordagem Progressiva para os Objetivos Globais
É na obra de Maria Lúcia Pessoa Santos que vamos encontrar uma sugestão para
a abordagem progressiva das linhas de vivências. Santos, considerando a Vitalidade
54
como a linha menos reprimida e a Afetividade como a base para a reorganização do
projeto existencial, sugere como caminho facilitador a introdução progressiva dos
exercícios na seguinte seqüência de linhas de vivências:
1ª. Vitalidade-Afetividade
2ª. Vitalidade-Afetividade-Criatividade
3ª. Vitalidade-Afetividade-Sexualidade-Criatividade
4ª. Vitalidade-Afetividade-Criatividade-Sexualidade-Transcendência
A primeira seqüência, segundo Pessoa,7
favorece a integração do esquema
corporal e a alegria de viver, enquanto que a segunda seqüência favorece o caminho
apolíneo, simbolizador e diferenciado.
Progressividade em Direção aos Objetivos Específicos
Já sabemos que o objetivo específico do Curso de Iniciação é começar o
processo de integração e introduzir com progressividade alguns dos exercícios das
cinco linhas de vivências.
Sabemos também que esse processo de integração compreende os exercícios de
integração motora, integração afetivo-motora, expressividade, comunicação afetiva e
comunhão, assim como uma introdução aos exercícios de regressão e à carícia
Vimos no capítulo quatro, que o que impede a pessoa de ser ela mesma e se
expressar com autenticidade é a resistência e que resistir é resistir ao contato. Contato
consigo mesmo, com seus sentimentos e, conseqüentemente, contato com o outro.
Portanto, um caminho facilitador, que leve em consideração o caráter protetor da
resistência, é aquele em que o contato é estimulado, suave e lentamente, dando ao
participante condições dele mesmo regular a intensidade de contato possível para ele.
A questão então é como essa suavidade pode ser mantida ao longo do curso , de
forma a criar condições favoráveis à expressão saudável de cada participante. Uma
condição básica é que cada sessão seja uma etapa no percurso de realização desses
objetivos específicos
Com os exercícios do Curso de Iniciação buscamos essa suavidade, estimulando
progressivamente a vitalidade e a afetividade. A criatividade também é suavemente
estimulada com as danças simples de expressão. E com as Posições Geratrizes do
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Progressividade em Biodanza | Jaubert Knust Cardinot

  • 3. INTERNATIONAL BIOCENTRIC FOUNDATION ASSOCIAÇÃO ESCOLA DE BIODANZA ROLANDO TORO DO RIO DE JANEIRO CURSO DE FORMAÇÃO DE DOCENTES Progressividade em Biodanza JAUBERT KNUST CARDINOT RIO DE JANEIRO – RJ MARÇO DE 2002
  • 4. Progressividade em Biodanza Por Jaubert Knust Cardinot Orientadora: Hedilane Alves Coelho Monografia apresentada à Associação Escola de Biodanza Rolando Toro do Rio de Janeiro, para obtenção do grau de professor titular de Biodanza. Rio de Janeiro 2002
  • 5. Progressividade em Biodanza Jaubert Knust Cardinot Aprovada em março de 2002 BANCA EXAMINADORA ______________________________________________________ Professora Didata Hedilane Alves Coelho – Orientadora ______________________________________________________ Professor Didata Antônio José Sarpe ______________________________________________________ Professora Ditada Eliana Aparecida Vieira de Almeida
  • 6. Agradecimentos Este trabalho é o fruto de um caminhar, um longo percurso de vida, que começou quando conheci a Biodanza em 1987. Com ele eu celebro algumas conquistas. Muitos contribuíram, direta ou indiretamente, para que esse caminhar fosse bem sucedido. Para estas pessoas o meu reconhecimento e agradecimentos: Aos meus pais, pela vida e por cada palavra ou gesto de carinho. Aos meus filhos e irmãos, pela alegria de tê-los. A minha namorada e companheira, Dina, pelo apoio e alegria de cada encontro. A João Aylmer, pelo acolhimento e orientação num momento decisivo de vida. A Rolando Toro, por toda sua doação criativa e pela direção que a Biodanza deu ao meu caminhar. Aos Diretores da Escola de Biodanza do Rio de Janeiro, pelo seu empenho em dar o melhor de si na condução do Curso de Formação. A todos os Professores da Escola de Biodanza do Rio de Janeiro, pelo exemplo de integridade que me passaram. Aos meus Facilitadores, Rosa, Dalma, Regina Labarte, Maria Dulce, Maria Lúcia e Hedilane, pelo carinho e tolerância na facilitação do meu caminhar. A Hedilane, pela orientação competente e carinhosa na elaboração deste trabalho. A Isis, pela amizade e importante apoio aos meus primeiros passos de Facilitador. Aos meus alunos dos Grupo de Biodanza, pela confiança, lealdade, carinho, amizade e estímulo, sem os quais este caminhar não se realizaria. Aos meus companheiros do Curso de Formação, pelo ideal compartilhado, pela persistência e determinação, pelo apoio e cumplicidade. Aos meus companheiros dos Grupos Regulares, pelas muitas vivências compartilhadas, pelas lágrimas derramadas, pela sensibilidade despertada. Minha gratidão, também, à Vida, por tantas oportunidades de renovação.
  • 7. S U M Á R I O 1. INTRODUÇÃO............................................................................ 07 2. PROGRESSIVIDADE E BIODANZA .................................... 09 3. O QUE QUER A BIODANZA? ................................................... 11 3.1 Onde Estamos? ..................................................................... 11 3.2 Onde Queremos Chegar? .................................................... 18 4. DEFESAS OU RESISTÊNCIAS .................................................. 21 4.1 Defesa.................................................................................... 21 4.2 Defesa ou Resistência? ......................................................... 23 4.3 Contato e Resistência ............................................................ 24 4.4 Tipos de Resistência ..............................................................26 4.5 Resistência em Biodanza ...................................................... 31 5. COMO ATUA A BIODANZA? ................................................... 37 5.1 Princípios Fundamentais ....................................................... 37 5.2 A Ação da Biodanza .............................................................. 39 6. A AÇÃO PROGRESSIVA DA BIODANZA ................................ 45 6.1 Princípios que Determinam a Natureza Progressiva do Sistema .............................................................................. 46 6.2 Critérios Gerais que Facilitam a Progressividade .................. 49 6.3 Progressividade em Cada Sessão ........................................... 52 6.4 Planejamento das Aulas de um Grupo de Iniciantes............... 53 6.5 A Música como Instrumento de Progressividade ....................57 6.6 Progressividade nas Consignas .............................................. 58 6.7 O Facilitador Centrado no Grupo ........................................... 60 7. LIMITAÇÕES À PRÁTICA DO PRINCÍPIO DE PROGRESSIVIDADE ................................................................... 61 8. CONCLUSÕES ...............................................................................64 9. ANEXO “A” ................................................................................... 67 10. BIBLIOGRAFIA * ....................................................................... 68 * Notas bibliográficas são fornecidas ao final de cada capítulo.
  • 8. 7 1 INTRODUÇÃO A Biodanza, como um Sistema de Desenvolvimento Humano, se apóia em paradigmas e princípios, os quais nos dão a fundamentação teórica, filosófica e o caminho metodológico a ser seguido pela prática. O nosso trabalho tem por objetivo discutir um desses princípios: o Princípio da Progressividade. Ao falar em progressividade, Rolando Toro se refere à necessidade de graduar a intensidade e duração dos exercícios de forma a produzir um processo de mudança evolutiva sustentável e sem agressão, desnecessária ao organismo biopsicológico dos participantes. Esse cuidado de Toro é bastante justificável uma vez que a Biodanza, ao contrário de outros sistemas de desenvolvimento humano, direciona os trabalhos terapêuticos através dos exercícios que são propostos em cada sessão. Com esta ação a Biodanza correria o risco de ir além das possibilidades dos participantes que se iniciam no processo de desenvolvimento que ela propõe. Esse desenvolvimento envolve o relaxamento de defesas neuróticas que o indivíduo elaborou ao longo de muitos anos de sua vida. Portanto, é necessário dar tempo para que essas defesas se transformem e sejam substituídas por uma nova estrutura de saúde. E é esse tempo, tão necessário ao participante que se inicia, que o Princípio de Progressividade procura garantir, mas não é fácil. Não é fácil assegurar a progressividade das vivências ao longo de um Curso de Iniciação pela própria dinâmica do grupo, que para sobreviver precisa estar aberto, ou pelo menos semi-aberto, e, com isso, alunos novos estarão sendo introduzidos num grupo que já não é mais de iniciantes. Para tratar dessa questão, procuraremos entender primeiro o que a Biodanza propõe, quais as mudanças desejadas. Sabendo o que a Biodanza quer, surgirá naturalmente a questão: o que nos impede de realizar essas transformações, se elas são
  • 9. 8 tão desejadas? E a resposta nos levará a examinar as defesas ou resistências que limitam nosso desenvolvimento. A partir desse ponto, entraremos no exame detalhado da ação da Biodanza, os instrumentos de que dispomos para atuar junto ao grupo, como essa ação pode ser progressiva e quais são suas limitações práticas. Após percorrer todo esse percurso, poderemos, então, tirar nossas conclusões quanto à maneira mais facilitadora de se assegurar a progressividade num grupo de Biodanza.
  • 10. 9 2 PROGRESSIVIDADE E BIODANZA Para desenvolver o tema “Progressividade em Biodanza” é necessário que se entenda primeiro o que queremos dizer com progressividade e o que queremos dizer com Biodanza, ou seja, é necessário conceituar, responder às perguntas: “o que é progressividade?” e “o que é Biodanza?”. O que é progressividade? Segundo o Dicionário Aurélio, “progressividade é a qualidade daquilo que é progressivo, ou seja, que progride, que vai se realizando gradualmente, que aumenta pouco a pouco, evolui ou se desenvolve. Progressividade está relacionada à sucessão ininterrupta e constante dos diversos estágios de um processo”. A semente se desenvolve gradualmente até se tornar árvore adulta, rica em galhos, folhas, flores e frutos. E é preciso muito tempo para que uma árvore dê frutos. Com o homem também é assim, existe todo um processo evolutivo desde o útero da mãe até a velhice, passando progressivamente pelas várias fases da vida humana, em seus aspectos físico, emocional e espiritual. Uma pessoa doente, mesmo que a causa da doença seja eliminada ( bactéria, vírus, germe, etc.) não fica boa da noite para o dia, é necessário tempo para que o organismo reaja e restabeleça o estado de saúde do corpo. Então, podemos entender que a progressividade se refere a uma qualidade que está associada à própria natureza, à própria vida, ao próprio universo. A vida é assim, ela não pula, não queima etapas, ela se desenvolve continuamente, progressivamente, e, quando não o faz, quando a estagnação se instala, então já podemos pensar em desvio, doença ou morte.
  • 11. 10 O que é Biodanza? Aqui, por enquanto, queremos apenas entender o conceito, ou seja, do que se trata; uma definição de Biodanza. Rolando Toro , criador da Biodanza, declarou em 1978 : “A Biodanza é um sistema integrado de desenvolvimento humano, baseado em vivências corporais, induzidas pela música, movimento e comunicação em grupo, segundo um modelo teórico operatório”. Atualmente, a definição oficial tem o seguinte teor: “Biodanza é um sistema de integração afetiva, renovação orgânica e reaprendizagem das funções originárias de vida, através da música, movimento e comunicação em grupo”. Biodanza é, portanto, um sistema que trata da vida humana, do desenvolvimento de potenciais de vida humana. Mas, como vimos acima, a vida é sempre progressiva. Portanto, se Biodanza é um sistema de desenvolvimento de vida, então progressividade e Biodanza estarão sempre unidas, ou seja, falar em Biodanza já é falar em progressividade, em desenvolvimento progressivo de potenciais humanos. Não que a Biodanza possa ser progressiva, ela tem que ser progressiva, ela é vida e um dos seus paradigmas, na verdade o principal, é o Princípio Biocêntrico que coloca a vida como centro de todo o Universo. Acreditamos que foi a percepção dessa conexão entre vida e progressividade que levou Rolando Toro a colocar a progressividade como um dos princípios básicos que iriam orientar todo o desenvolvimento metodológico do Sistema Biodanza.
  • 12. 11 3 O QUE QUER A BIODANZA? Já vimos no capitulo anterior, por sua definição, que a Biodanza se trata de um sistema de desenvolvimento progressivo de potenciais humanos, o que implica evolução, mudança, transformação evolutiva - progredir é realizar-se gradualmente. Então, surge a pergunta: “Qual a transformação proposta, buscada ou sugerida pela Biodanza para o homem de nosso tempo?”. Para respondermos a esta indagação, nos formulamos duas outras questões às quais procuraremos responder: “Onde estamos?” e “Onde queremos chegar?”. A Biodanza, segundo seu criador, Rolando Toro, não é uma concepção isolada do contexto da psicologia atual. Ela é, sim, uma extensão das Ciências Humanas: “A imagem do homem atual, não é obra de um só pensador, senão de uma verdadeira constelação de cientistas, filósofos, antropólogos e artistas geniais que têm fecundado reciprocamente suas idéias. Biodanza, a partir do “Princípio Biocêntrico”, encontra inspiração e confirmação teórica em uma infinidade de pensadores”.1 Toro nos dá, assim, abertura para responder às perguntas que formulamos a partir de outros pensadores, outras correntes de pensamento psicológico contemporâneo. 3.1. Onde Estamos? Ou Quem é o Sujeito da Biodanza? FREUD Para Freud, a história do homem é a história de sua repressão. Para ele, a repressão da estrutura instintiva humana é indispensável ao processo civilizatório, que começa quando o objetivo primário do homem, ou seja, a satisfação integral de suas necessidades
  • 13. 12 instintivas é abandonada em prol da perpetuação da raça humana em civilização, o que requer o desenvolvimento da função da razão, que transformará o homem em sujeito consciente, pensante, capaz de examinar a realidade e distinguir entre o bem e o mal. Freud entende que o princípio de realidade se opõe ao princípio de prazer: de: para: satisfação imediata satisfação adiada prazer restrição do prazer júbilo(atividade lúdica) trabalho esforçado receptividade produtividade ímpeto instintivo repressão e segurança O princípio de prazer é incompatível com o princípio de realidade já que a satisfação das necessidades implica trabalho, restrição, renúncia e sofrimento. A substituição do princípio de prazer por princípio de realidade implica a repressão dos instintos sexuais e agressivos, surgindo com isso as instâncias psíquicas denominadas por Freud de ID e EGO, este o mediador entre os impulsos instintivos e o mundo exterior. Da influência desse mundo externo, da qual a criança depende, irá surgir uma nova instância psíquica denominada por Freud de SUPEREGO, formada a partir das introjeções de valores sociais e culturais e constituindo-se em força interna repressora, representante das repressões ambientais. ID, EGO e SUPEREGO, três instâncias psíquicas em constante conflito, do qual surge o Sujeito Neurótico e seus Mecanismos de Defesa, um produto da civilização. MARCUSE Marcuse, ao falar sobre a origem do indivíduo reprimido, discorda de Freud quanto à necessidade de se opor prazer e civilização, pelo menos em termos absolutos. Para ele, a civilização tem sido uma dominação organizada e o que é desenvolvimento histórico adquire a dignidade e necessidade de desenvolvimento biológico universal. Marcuse vê a necessidade de criação de dois outros conceitos: 1. Mais-Repressão : Refere-se às “restrições impostas pela dominação social de um determinado grupo ou indivíduo, a fim de se manter e consolidar uma posição privilegiada”.2 Marcuse não nega a necessidade de controle repressivo sobre os instintos para a vida em sociedade; o que ele denuncia
  • 14. 13 são os interesses específicos de dominação que introduzem controles adicionais acima e além dos indispensáveis à associação humana, com prejuízo para o desenvolvimento natural e saudável do indivíduo. 2. Princípio de Desempenho: Refere-se à “forma histórica predominante do princípio de realidade. Com os controles adicionais da Mais-Repressão e a racionalização dessa dominação, os homens deixam de viver suas vidas para desempenhar funções pré-estabelecidas, que não satisfazem suas necessidades e faculdades”.² Trata-se de um trabalho alienado, penoso, sem gratificação pessoal. É a própria negação do princípio do prazer. A atividade que realiza, em geral, não atende às suas aptidões e desejos. Com a energia instintiva domada, sublimada, o indivíduo se ajusta e vive sua repressão “livremente”, desejando o que se supõe que deveria desejar e, às vezes, até se sentindo feliz. Mas, para isso, tem que renunciar à sua liberdade e ao seu desejo primário autêntico e se tornar obediente e cumpridor de suas obrigações. Com isso, como o homem passa a maior parte do tempo de vigília no trabalho, então ele se torna um instrumento de desempenho alienado e sem prazer. Sobraria o tempo livre, só que neste ponto o organismo já está treinado para a alienação e, então, também esse tempo livre será marcado pela alienação. Esse tempo livre reservado para o prazer se transformará apenas num relaxamento passivo, visando à recuperação de energia para o trabalho. REICH Com Reich o inconsciente estudado por Freud assume dimensão corporal. São as couraças musculares que se formam a partir das tensões musculares decorrentes da repressão dos instintos e das emoções. Essa repressão é realizada pelo próprio Superego, fiel representante psíquico da repressão familiar, social e política. Reich criou a expressão caráter neurótico, em oposição a caráter genital, com base na blindagem muscular do caráter. Para ele, o caráter neurótico é aquele em que o organismo é
  • 15. 14 regido por uma blindagem tão rígida que não pode, voluntariamente, alterá-la ou eliminá-la. Constrangimento é a expressão total do organismo blindado.3 A pessoa blindada não tem consciência disto, sente apenas a distorção de suas percepções internas da vida. Segundo Reich, ela se descreve como apática, rígida, limitada, vazia, ou queixa-se de palpitações, prisão de ventre, insônia, insatisfação nervosa, etc., etc. O homem blindado ou encouraçado de Reich é um homem imobilizado, que busca se instalar ou se acomodar devido à sua incapacidade de viver uma vida plena. A couraça física e emocional suscita no homem o desejo de não sair do lugar existencial que criou para si, tornando-o rígido, mecânico, rotineiro, sem permitir-se nenhuma transformação, o que se deve ao enfraquecimento do metabolismo energético que impede toda excitação viva. Em seu livro “O Assassinato de Cristo” Reich declara: “...se queremos descobrir o homem, é preciso tomar consciência da tendência de todo homem encouraçado: o ódio ao vivo”.4 Para Reich, Cristo representa o princípio da vida em si e, por isso mesmo, teria sido assassinado. O homem blindado, encouraçado, prisioneiro de si mesmo, se adapta rapidamente à vida na prisão e se acostuma com a agitação, com a pressa, com o nervosismo e com a ansiedade. Esse homem estagnado, ainda segundo Reich, só não suporta uma coisa: que se mostre a ele sua verdadeira situação. E sua triste situação é a prisão à qual não só se submete, mas faz questão de permanecer nela e luta desesperadamente para não sair, pois não suporta a vida viva que desconhece mas teme como a própria morte. CREMA Crema fala em patologia da normalidade para se referir ao que ele considera a grande praga de nossa época: o “normótico”, ou seja, aquela pessoa que só aspira à normalidade medíocre, buscando se adaptar sempre, sem confiança em si nem fé na vida. É, como diz Crema, “o sujeito que lê o jornal pela manhã e sai para sua vidinha medíocre: se estiver tudo bem no seu canteirinho...”.5 O normótico é aquela pessoa que não tem escuta, ela é fruto da educação massificante e não se dá conta de que vivemos uma crise de extinção da espécie humana. Ele não liga quando se fala em poluição atmosférica, buraco de ozônio, extinção da floresta amazônica, etc. Para Crema, a falta de escuta do normótico o leva a acreditar que a crise que estamos vivendo é azar, não tem sentido, ele não se dá conta de que tudo depende de tudo, de que tudo está ligado com tudo. Com isso se perde o
  • 16. 15 indivíduo, se perde o Homem com sua enorme fonte de potenciais inatos de criatividade e liderança. TORO Numa reflexão sobre os valores de nossa cultura, Rolando Toro escreve: “A cultura está estruturada sobre um esquema de poder e se caracteriza, aproximadamente, com o que “Chame” denominou de “sociedade agonística”: um modo de agrupamento zoológico, baseado na tensão e no medo provocado pela emergência do macho mais forte, sedimentando-se o grupo em torno de papéis e hierarquias de poder, mantendo uma permanente vigilância frente a situações de perigo, nas quais as únicas repostas possíveis são a luta, a fuga ou a evitação”.6 Sob o título “Análise da Patologia de nossa Civilização” Toro escreve: “Pela primeira vez na história, os homens têm consciência de viver dentro de uma cultura enferma”.(6) Essa cultura , diz Toro, é o resultado da influência de quatro grandes vertentes, de onde vieram seus valores, glórias e equívocos. De cada uma dessas culturas Toro destaca seus principais equívocos, os quais ainda hoje de algum modo são vivenciados por nós: Cultura Oriental: Valores anti-vida, buscando suprimir desejos, sensações e sentimentos em função de uma vida futura desencarnada. Desvalorização da vida terrena , considerada uma ilusão. Cultura Judaico-Cristã: Castração dos instintos, intolerância frente à possibilidade de prazer e uma enorme carga de culpa transmitida através dos séculos: a repressão sexual, o sexo é visto como pecado. Cultura Grega: O dualismo platônico, com a dissociação entre o corpo e a alma, e o “penso logo existo” de Descartes. Cultura Romana: Onipotência e discriminação humana. O poder absoluto e a separação entre senhores e escravos: o imperialismo.
  • 17. 16 Para Toro, assim como para Reich e Marcuse, o problema básico é cultural. A cultura, segundo Toro, estaria infiltrada por uma profunda dissociação que abrange todos os ramos do saber: Educação, Psicologia, Medicina, Sociologia, etc. Ele compara a situação a uma traição à vida, da qual participam, consciente ou inconscientemente, milhares de intelectuais em todo o mundo. Toro chamou a esse processo destrutivo de Conspiração Neoplatônica, cuja característica básica é a separatividade: corpo-alma, homem-natureza, matéria-energia, indivíduo-sociedade, etc. Toro afirma: “A cultura dissociativa desqualifica a vida presente, dessacraliza-a e sabota seu valor e significado intrínseco para pô-la a serviço de valores anti-vida”.(6) Para ele , nossa civilização está à deriva, onde prevalece a visão exterior, tecnológica, sem nenhuma orientação interna para a essência do homem. Vivemos, diz ele, uma existência alienada, sem naturalidade e sem alegria, resultando numa desorganização energética social, com grande contraste com a eficácia alcançada na área tecnológica. A educação, com raras exceções, não tem cumprido com sua tarefa de dar às pessoas orientação para o desenvolvimento de seus potenciais internos. Toro dá à repressão um sentido muito mais amplo do que Freud, Berne ou Reich. A repressão, diz ele, não é somente um sistema de normas introjetadas, no sentido do Superego de Freud. Não são, tampouco, os mandatos parentais descritos por Berne, nem também as forças ideológicas e sociopolíticas de Reich. A repressão dos impulsos vitais, para Toro, é uma “ESTRUTURA” que infiltra a existência em todos os seus detalhes, em todas as circunstâncias e nas mais variadas formas: - na forma das cidades - na arquitetura das casas - no vestiário - nos livros e discos - nos programas de estudo universitário - nos alimentos - nos gestos e movimentos O sujeito resultante dessa estrutura “coisificante” é, segundo Toro, o “SUJEITO DISSOCIADO”. Dissociação para ele é sinônimo de enfermidade, é um transtorno grave, uma enfermidade dentro de um sistema que, como tal, para funcionar precisa estar integrado.
  • 18. 17 Dissociação, segundo a Gestalt, é falta de relação entre a parte e o todo. Num organismo, significa falta de relação em feed-back entre os diferentes órgãos e sistemas intra-orgânicos. Dissociação, portanto, é a perda da auto-regulação espontânea do organismo, é a homeostase enlouquecida. O indivíduo dissociado, é um indivíduo ausente, seu movimento é mecânico, automático. Mantêm-se sempre distante psiquicamente, num alheamento defensivo que o impede de se envolver e de se comprometer com aquilo que está realizando. Sente-se isolado de tudo e de todos, sua atitude perante a vida é de impotência e indiferença. Sofremos as conseqüências de uma sociedade em cujo desenvolvimento tem predominado valores como poder, autoridade, força, competição, lógica e intelectualidade. Por outro lado, aspectos importantes da experiência humana como os sentimentos, a intuição, a receptividade e a sensibilidade foram e continuam sendo negligenciados por homens e mulheres em busca de sucesso e poder. Com essa polarização de valores e atitudes, o homem moderno é um sujeito desesperado consigo mesmo e com a própria humanidade, sente-se solitário e vazio apesar das conquistas e avanços tecnológicos que o levaram a se distanciar de sua própria natureza. Esse homem ainda busca sua felicidade e bem estar, mas percebe-se isolado e receoso diante de seus semelhantes. Sua capacidade de amar não evoluiu tanto quanto seu intelecto, o que o leva a buscar meios e formas para sentir-se amado, aceito e valorizado. DISSOCIADO: este é o Sujeito da Biodanza, uns mais outros menos, varia o grau da enfermidade, mas a natureza é sempre a mesma. As pessoas que procuram um grupo de Biodanza , em algum grau foram reprimidas , sufocadas em seus impulsos por expressão autêntica de si mesmos, resultando em medo, insegurança, busca exagerada de aceitação, temor ao desconhecido, submissão, rigidez ou apego ao passado e, como resultado de tudo isso, dissociação, que pode atingir o nível corporal, orgânico e existencial , um estado de alienação da própria vida.
  • 19. 18 3.2. Onde queremos chegar? Ou O Sujeito Biodançado “As raízes da dança então no trabalho e na oração. E um trabalho está mais próximo da oração quando não tem por objetivo somente manter e reproduzir a vida, mas também engrandecê-la e abrir-lhe horizontes novos. O trabalho torna-se então, como a dança, criação e poesia”7 Roger Garaudy Se o sujeito da Biodanza é o Sujeito Dissociado , como vimos acima, então o “Sujeito Biodançado” que buscamos deve ser um sujeito inteiro, integrado. Para a Biodanza, um ser humano integrado é aquele que sente, age e pensa de forma coerente; seu movimento é pleno de sentido, autenticidade, harmonia e fluidez. Trata-se de uma atitude sensível perante a vida, não só consigo mesmo, mas também com o outro e com o Universo. Na busca de uma base filosófica para dar sustentação ao seu sistema de desenvolvimento humano, Toro propõe um princípio anterior a qualquer outro e base para toda a sua obra: o Princípio Biocêntrico. A partir deste princípio, Toro enfatiza a necessidade de reformulação dos nossos valores culturais, tomando como referencial básico o respeito à vida, todas as formas de vida. A vida passa a ser o centro e o ponto de partida de todas as disciplinas e comportamentos humanos. Com isso, Toro restabelece a noção de sacralidade da vida. O Princípio Biocêntrico é uma declaração de amor à vida, que propõe a potenciação da vida de forma a conduzi-la a seus valores mais altos. Ele surge de uma proposta anterior à cultura e se nutre dos impulsos primitivos que geram vida. Segundo a abordagem da Biodanza, a nossa cultura obstrui, desorganiza e perverte nossos impulsos instintivos, enfraquecendo nossa auto-estima e dando origem a todo tipo de patologia social. Já não sabemos mais como viver, precisamos recorrer aos livros de auto-ajuda, aos terapeutas e aos “gurus” em busca de orientação para a nossa vida diária, para nos dizer aquilo que saberíamos se estivéssemos em conexão com nossos impulsos de vida. Para a Biodanza não é necessário obstruir, reprimir nem desviar a manifestação dos instintos e negar o corpo para alcançar o estado supremo de conexão com o divino. Ao contrário, os instintos é que têm a função de conservar a vida e permitir seu desenvolvimento. Seu
  • 20. 19 resgate, segundo Toro, será, no futuro, a tarefa mais essencial para criar uma Civilização para a vida. Toro resume a proposta da Biodanza em seis itens: 1. Resgatar os instintos cuja função é a conservação da vida. 2. Dar às pessoas a oportunidade de comunhão e empatia. 3. Lutar contra as ideologias e os preconceitos. 4. Reforçar e expressar a identidade e a segurança de si mesmo, eliminando os fatores paranóicos. 5. Desenvolver na consciência da humanidade o sentido de Sacralidade da Vida. 6. Aumentar a consciência ética cuja fonte é a inteligência do coração.8 A partir desta proposta e em ressonância com outros pensadores orientados por uma visão integradora do homem e pelo respeito à vida, Toro propõe uma nova civilização que se desenvolverá a partir da cultura biocêntrica, com as seguintes características: 1. A vida aqui e agora possui um valor intrínseco. Ela é a expressão máxima do sentido do Universo. 2. Corpo e alma, matéria e energia, são aspectos de uma mesma realidade. O ser humano é uma unidade integrada ao Cosmos. 3. A sexualidade é um impulso natural e saudável. Seu objetivo imediato é o prazer, o encanto e a voluptuosidade... 4. O amor comunitário é o fundamento da consciência comunitária. Justiça e liberdade para todos, com governos democráticos e ausência de exploração do homem.9 Dessa nova cultura surgirá um novo homem que terá como característica marcante de sua personalidade o desenvolvimento pleno e integrado das polaridades feminina e masculina, condição necessária, segundo Cardella, para o desenvolvimento da capacidade de amar a si mesmo e ao próximo. É essa polarização, que na cultura chinesa corresponde aos princípios Yin e Yang, que deve ser integrada por homens e mulheres. Ao homem, com seus aspectos Yang já desenvolvidos, cabe integrar a polaridade Yin, feminina, a saber: aceitação e expressão dos sentimentos e das necessidades, receptividade, sensibilidade, afetividade, vulnerabilidade, suavidade, intuição, compreensão e interiorização.
  • 21. 20 À mulher, com seus aspectos Yin já desenvolvidos, cabe integrar a polaridade Yang, masculina , a saber: independência, atividade, aspirações, segurança, racionalidade, concentração e determinação de valores próprios. Com essa integração de polaridades complementárias se dá o desenvolvimento e amadurecimento da pessoa e concretiza-se o processo de diferenciação da personalidade através do qual ela se torna um indivíduo inteiro, integrado, pleno, aberto ao relacionamento amoroso com tudo que é vivo, e esse relacionamento transcorre harmoniosamente pois a fluidez é uma de suas principais características. O que buscamos na Biodanza, na verdade, como resultado do desenvolvimento e integração de potenciais, e da fluidez entre aspectos opostos da personalidade, é o indivíduo confiante, com auto-estima elevada, que tem amor por si e pela vida. Criativo, ele reage ao novo com independência, coragem e ousadia. Amoroso, ele busca oportunidades de contato real com as pessoas e novas fronteiras e desafios para a sua vida, tornando-se assim um ser verdadeiramente humano. N O T A S: 1 Toro, Rolando. Aspectos Psicológicos de Biodanza, P.67 2 Marcuse, Herbert. Eros e Civilização, p.51 3 Reich, Wilhelm. Análise do Caráter, p. 433 4 Reich, W. O Assassinato de Cristo, p. 24 5 Crema, Roberto. Palestra sobre Liderança no 3º Milênio, Fita. 6 Toro, Rolando. El Inc. Vital y Principio Biocentrico, p.42, 43 e 51 7 Garaudy, Roger. Dançar a Vida, p. 117 8 Toro, Rolando. Aspectos Psicologicos em Biodanza, p. 79 9 Toro, Rolando. El inc. Vital y Principio Biocentrico, p. 50
  • 22. 21 4 DEFESAS OU RESISTÊNCIAS “O Homem é capaz de tudo, contanto que não se transforme” Pietro Ubaldi Como vimos anteriormente, a Biodanza busca uma transformação existencial, de sujeito reprimido, dissociado para sujeito integrado, pleno, aberto ao relacionamento amoroso com tudo o que é vivo. E isso parece desejável a todo ser humano. Então, surge a pergunta que procuraremos responder nesse item: o que nos impede? Rolando Toro, ao falar sobre o Princípio de Progressividade em Biodanza , afirma: “No podemos quebrar las defensas que un individuo há elaborado a traves de anos porque corremos el riesgo de dejarlo sin continente para su identidade y poner gravemente en peligro su homeostasis. Las defensas neuróticas tienen que ser reemplazadas por la nueva estrutura de salud”.1 Parece-nos, então, que Toro atribui às defesas neuróticas do indivíduo o papel de impedi-lo de realizar a tão desejada transformação existencial. Se é assim, torna-se importante compreender o que significa exatamente uma defesa. 4.1. Defesa Examinando o significado do termo “defesa” no Dicionário Aurélio encontramos: resguardo, proteção, ato ou forma de repelir um ataque, impedimento, interdição, proibição...etc. Como Toro fala em defesas neuróticas, entendemos que ele está tomando emprestado este termo da Psicanálise, na qual a defesa é definida como: “Conjunto de operações cuja finalidade é reduzir, suprimir qualquer modificação suscetível de pôr em perigo a integridade e a constância do indivíduo biopsicológico. O ego, na medida em que se constitui como
  • 23. 22 instância que encarna esta constância e que procura mantê-la, pode ser descrito como o que está em jogo nessas operações e o agente delas. De um modo geral, a defesa incide sobre a excitação interna (pulsão) e, preferencialmente, sobre uma das representações (recordações, fantasias) a que está ligada, sobre uma situação capaz de desencadear essa excitação na medida em que é incompatível com este equilíbrio e, por isso, desagradável para o ego” 2 4.1.1. Quando as Defesas se Tornam Neuróticas Karen Horney, também psicanalista, fala em personalidade neurótica de nosso tempo. Para ela, neuróticas são as pessoas que têm reações diferentes dos indivíduos comuns, dentro de uma determinada cultura e num determinado tempo, ou seja, uma neurose implica um afastamento do normal daquela cultura. Esse afastamento, segundo Horney, tem duas características básicas:  “uma certa rigidez nas reações, ou seja, falta de flexibilidade que nos permite reagir diferentemente ante situações diversas”,  “uma certa discrepância entre potencialidades e realizações, ou seja, a despeito dos dons e de possibilidades externas favoráveis a seu desenvolvimento, a pessoa permanece improdutiva ou, apesar das possibilidades, a pessoa não consegue desfrutar do que tem”. 3 Horney não nega a origem das neuroses nas experiências vividas na primeira infância, mas destaca a influência das condições culturais específicas em que vivemos. Diz ela: “Na verdade, as condições culturais não só dão peso e cor às experiências individuais, mas, no final das contas, determinam sua forma particular”. 4 É Horney ainda quem escreve: “nossa cultura produz pessoas normais e pessoas neuróticas. As normais, apesar dos seus medos e defesas, são capazes de corresponder às sua potencialidades e de desfrutar daquilo que a vida lhes oferece. As neuróticas, ao contrário, sofrem mais que as comuns, pagam um alto preço por suas defesas, traduzido sob a forma de uma diminuição da vitalidade e do desenvolvimento, ou, mais explicitamente, de uma diminuição de suas capacidades de realização e contentamento.5 Por normalidade ela se refere à aprovação de certos padrões de conduta e sentimentos dentro de um certo grupo, que impõe esses padrões a seus membros. Tais padrões são variáveis segundo a cultura, a época, a classe social e o sexo.
  • 24. 23 A neurose para Horney é um afastamento do normal e seu motivador básico é sempre a ansiedade. E é essa ansiedade que leva ao afastamento do normal cultural e à inibição, tornando as pessoas incapazes de fazer, sentir ou pensar certas coisas. Essas inibições podem atingir funções motoras, afetivo-motoras ou mentais, tais como: dificuldade de se movimentar com liberdade, de estabelecer contato afetivo com outras pessoas, de concentração e de formar ou expressar opinião. Rolando Toro tem uma concepção diferente, mais ampla, do que é uma pessoa neurótica. Como já vimos no capítulo três, quando tratamos do sujeito da Biodanza, ele não reconhece, como, aparentemente, o faz Horney, que as pessoas normais produzidas pela cultura sejam saudáveis. Para Toro, nossa cultura é dissociativa, ela desqualifica a vida presente, produzindo pessoas às quais chamamos de “normais”. Mas essas pessoas normais estariam, na verdade, enfermas, neuróticas, ou “normóticas”, segundo Roberto Crema. Na visão de Toro, uma sociedade como a nossa, cujos valores são o poder, a autoridade, a força, a competição, a lógica e a intelectualidade, só pode gerar indivíduos neuróticos, com dificuldade de entrar em contato com a vida e realizar sua humanidade plena. Portanto, para a Biodanza, as defesas se tornam neuróticas não somente quando afastam o indivíduo da normalidade cultural, mas sempre que essas defesas impedem o indivíduo de realizar todo o seu potencial genético, com expressão plena de sua identidade. 4.2. Defesa ou Resistência? Como vimos acima, a defesa neurótica é um conceito que surgiu com a Psicanálise, assim como o conceito de resistência que se refere à oposição pelo analisando, durante a sessão psicanalítica, de entrar em contato com o seus conteúdos inconscientes. Neste trabalho, entretanto, usaremos os dois termos como semelhantes, já que estamos tomando o termo resistência da Gestalt-Terapia e, neste Sistema, o conceito de resistência é equivalente ao conceito de defesa da Psicanálise. Preferimos trabalhar com o conceito de resistência por considerá-lo mais apropriado para o nosso trabalho, pois ele se refere explicitamente à dificuldade de entrar em contato, e contato é a proposta básica da Biodanza.
  • 25. 24 A importância de compreender a resistência, ou seja, nossa preocupação em incluir esse tema nesse trabalho é, acredito, da mesma natureza que levou Roberto Crema a falar sobre resistência em três capítulos do seu livro Análise Transacional Centrada na Pessoa e Mais Além. É Crema quem escreve: “Considero que representa uma lacuna na Análise Transacional (AT) a ausência de uma teoria consistente sobre a resistência. Conforme entendo, não pode haver uma abordagem centrada na pessoa sem uma definição e compreensão deste tema essencial, que alicerce e dirija uma adequação de atitude do facilitador frente ao processo de resistência à mudança, de modo especial quando se trata de uma tecnologia potente, como a AT. Como já afirmei, um analista transacional “tecnicista” fácil e freqüentemente pode desrespeitar, invadir e mesmo agredir o cliente com intervenções “ativas”, caso não possua um enfoque sobre o que é a resistência, e o porquê e como as pessoas resistem.” 6 Ora, se na Análise Transacional isto é verdadeiro, então, para a Biodanza é ainda muito mais relevante. Primeiro, por se tratar de um processo exclusivamente grupal, o que dificulta estar centrado numa pessoa, individualmente, e segundo, por ser um sistema tão ou mais potente do que a AT. 4.3. Contato e Resistência “Somos seres em relação, existir é, em si, um modo de relacionar-se. E relação é reciprocidade. Nós vivemos no fluxo torrencial da reciprocidade universal, irremediavelmente encerrados nela” Martin Buber Roberto Crema, citando Fritz Perls, fundador da Gestalt-Terapia, escreve: “o contato com o meio e a fuga dele, esta aceitação e rejeição do meio, são as funções mais importantes da personalidade global”.7 Para Perls, ainda segundo Crema, a neurose surge quando o indivíduo se mostra incapaz de alterar suas formas de interação com o seu ambiente, e fixa-se num modo de atuar obsoleto, afastando-se de suas necessidades inatas de contato com outros seres humanos. O conceito de resistência utilizado por Crema na Análise Transacional é, segundo ele, o mesmo da Gestalt-Terapia, isto é, relaciona-se intrinsecamente com o de contato. Entrar em contato é o movimento natural do mundo e das pessoas, e toda mudança se dá através do ou no contato. O contato emocionado mobiliza todo o organismo.
  • 26. 25 A energia da pessoa, como diz Crema, está sempre dirigida ou para entrar em contato ou para resistir. No primeiro caso, há envolvimento que conduz ao desenvolvimento; no segundo, o sistema fecha-se em si mesmo, na conduta de evitação da interação potencialmente transformadora. Roberto Crema, enquanto Analista Transacional, e apoiando-se no conceito de resistência da Gestalt-Terapia, escreve: “Resistência , neste enfoque, é qualquer coisa que fazemos que interrompe ou diminui o ritmo deste movimento, que interfere no contatuar. Resistir é fazer qualquer coisa que impeça ou minimize o contato; é sempre resistir ao contato com algum aspecto de si mesmo, do outro ou da Natureza.” 8 É importante lembrar que a resistência é um “mecanismo” psíquico cuja função capital é manter a integridade do organismo. É, em última instância, como diz Crema, a energia usada para a auto-preservação da individualidade tal como se apresenta. Dizemos “Não” ao contato pelo medo de dissolução do modo de ser com o qual nos identificamos e queremos manter, com consciência ou não. A resistência só se torna prejudicial quando o quadro referencial de resistência da pessoa já não satisfaz, tornando-se uma limitação na sua vida, aprisionando-a numa pequena cela que a impede de contatar, existir e expandir-se no mundo. Enfim, bloqueando seu processo evolutivo. É importante, repito, que o Facilitador de Biodanza entenda a resistência como uma auto-proteção do indivíduo, ainda necessária para ele naquele momento, segundo seu nível de consciência, de forma que no planejamento de suas aulas o Princípio de Progressividade esteja sempre presente. Vendo a resistência como uma busca de proteção ou resguardo contra alguma coisa real ou imaginária, acredito que o Facilitador ficará mais sensibilizado para não tentar quebrá-las. Pois, conforme diz Toro: “Transgredir el princípio de progressividade puede desencadenar en la persona un “stress”emocional doloroso, elevar sus niveles de culpabilidad y provocar sentimentos de angustia incontrolables”. 9
  • 27. 26 4.4. Tipos de Resistência Cardella, citando Freud, escreve: “o amor e o trabalho são as duas áreas mais importantes da vida humana”.10 Mas, diz ela, o amor se torna impossível quando o indivíduo não é capaz de estabelecer limite entre si mesmo e o outro. A auto-proteção neurótica, ainda segundo Cardella, caracteriza-se por um modo de funcionar que “garanta” proteção e segurança ao indivíduo e, paralelamente, dificulta a auto-realização, inclusive de suas potencialidades amorosas. A Gestalt-terapia, segundo Cardella, descreve seis modos, ou estilos de contato, dependendo da funcionalidade ou da rigidez com que são utilizados pelo indivíduo em seu meio. Apesar de este trabalho não ter a pretensão de se aprofundar no exame desses diversos tipos de resistência estudados pela Gestalt-terapia , apresentaremos a seguir as principais características de cada um deles, conforme descrições e observações de Crema e Cardella. 1. Trata-se de uma resistência primária, que está na base de todas as demais, sendo a transação genérica entre o indivíduo e o seu ambiente nos primeiros anos de vida. Introjetar é trazer as coisas para dentro, sem crítica: é engolir sem mastigar; é o mecanismo psicológico de internalização do outro pelo qual o indivíduo incorpora padrões de pensar, sentir e atuar exteriores que não são digeridos, permanecendo como “corpos estranhos” no seu organismo. É introjetando que o indivíduo internaliza valores anti-vida e suprime desejos, sensações e sentimentos legítimos, transformando-se em sujeito dissociado. A dificuldade em se desfazer da introjeção deve-se ao seu caráter primordial e indispensável na primeira infância, em que o meio precisa ser absorvido para o organismo sobreviver. Quando mais tarde, diz Crema, a pessoa deixa de introjetar mandatos e figuras parentais, começa a introjetar crenças, ou seja, informações sem experiência, através do que engole ouvindo ou do que engole lendo. Tais crenças se depositam
  • 28. 27 na mente da pessoa, interferindo no seu contato direto com a realidade, e ela passa a ver o mundo de segunda mão. Passa a ter uma coleção de conhecimentos, em vez de estar consciente. Na introjeção, não há contato, posto que o objeto é engolido, tornando-se “eu”, por um processo de generalização que subtrai o “não-eu” da consciência e que, portanto, não pode ser contatado como um outro. Cardella pode constatar o mecanismo de introjeção de crenças dos seus clientes, através de suas verbalizações, revelando concepções negativas do amor transmitidas culturalmente, tais como:  “Não sou digno de amor”,  “Não devo confiar totalmente em ninguém , posso ser traído ou abandonado e vou sofrer muito com isso”,  “Só serei amado se for bom, inteligente, doente, frágil, alegre, seguro, etc.”, entre muitas outras. Através das introjeções, os indivíduos permanecem retraídos na fronteira de contato, já que este é experimentado com muita ansiedade. Neste caso, o amor é concebido como verdadeira ameaça. Para Crema, trabalhar com a introjeção é facilitar para que a pessoa desenvolva a discriminação, sem a qual torna-se impossível a escolha. Também há que se exercitar a assertividade e a capacidade de dizer “NÃO”. Não é possível, segundo Crema, a coragem de viver e se diferenciar do meio sem o acesso à agressividade. 2. Projeção: quando eu me derramo no mundo Para a Psicanálise, a projeção é um mecanismo de defesa pelo qual o ego se protege da ansiedade, repelindo os seus maus objetos internos, anteriormente introjetados, e projetando-os em objetos externos. Projetar um sentimento significa não suportar conviver nem atuar de acordo com ele. A pessoa que tem um mandato introjetado de não sentir raiva, por
  • 29. 28 exemplo, terá que projetar sua raiva nos outros, vivenciando-se como um santo no meio de furiosos. Não só os sentimentos chamados “negativos”, como a raiva, são projetados no outro. Cardella fala do mecanismo de projeção também nas manifestações amorosas, quando se observa a projeção de expectativas. A utilização freqüente de projeções, diz ela, impede o indivíduo do contato amoroso, pois o indivíduo que projeta constantemente exige que o parceiro esteja disponível, feliz e satisfeito em sua companhia, o tempo todo. Trabalhar com a projeção, segundo Crema, é facilitar para que o projetor, primeiro, tome consciência da alienação que está fazendo de alguma parte sua, segundo, assuma a responsabilidade por seus pedaços de identidade lançados fora. Tudo isso deve ser feito com muito cuidado, lentamente, diz Crema, uma vez que é muito assustador o confronto com o que não se tolera conviver. Crema enfatiza a importância do sentir na recuperação de uma parte de si mesmo, antes rejeitada. Como a resistência não é só crença, mas também sentir e agir, é necessário uma vivência emocional para que ocorra a mudança real de atitude. 3. Retroflexão: quando eu sou o meu mundo Retrofletir significa voltar a energia de contato com o mundo para si mesmo. Quando a pessoa retroflete, ela altera a função originalmente dirigida do indivíduo para o meio ambiente, voltando-a para si mesmo. Segundo Crema, “a função primária da retroflexão é impedir que a pessoa faça o que quer fazer: a ação que se quer completar com o mundo volta-se para si mesma, o contato com passa a ser autocontato”.11 Crema menciona dois tipos de retroflexão muito importantes; um pelo dano que causa e outro pela freqüência com que ocorre. O primeiro é a retroflexão de ódio e destruição na qual a pessoa bloqueia a energia de contato resultando em ansiedade crônica e conseqüentes enfermidades psicossomáticas, como a úlcera e a
  • 30. 29 impotência sexual. O segundo, é a retroflexão de controle na qual a pessoa volta contra si mesmo sua tendência a dominar os outros e passa a se expressar através de uma disciplina muito rígida, suprimindo necessidades, sentimentos, emoções e toda forma de expressão. Para Crema, o trabalho terapêutico deve facilitar que a pessoa se dê conta do seu movimento em relação ao mundo. A partir daí, a pessoa poderá se apoderar de sua energia de contato e exploração do meio ambiente, num equilíbrio sadio entre contatar a si mesmo e contatar com o mundo. 4. Deflexão: quando eu me disperso no mundo Crema, referindo-se à Psicanálise, escreve: “deflexão é uma reação de defesa em que a atenção se desvia do objeto de desagrado”. E completa: “a deflexão é uma manobra que o indivíduo realiza para impedir um contato direto com o outro. A evitação do contato real e intenso, percebido como perturbador por introjeções anteriores, realiza-se pela desfocalização, nunca se parando num ponto, como se a pessoa estivesse jogando, permanentemente, água fria que apaga o calor do verdadeiro contatuar”. 12 Crema cita as formas mais freqüentes de deflexão, todas com o objetivo de tirar a vitalidade e a importância do contato, tais como: não olhar para o outro enquanto fala; não prestar a atenção; saltar de um assunto para o outro, constantemente; falar sobre em vez de falar para; generalizar em vez de especificar; tagarelar sem objetividade; usar de cortesia em vez de franqueza, etc. Podemos ver a deflexão como uma desqualificação; seja de si mesmo, do outro ou da situação. A deflexão, tal como a desqualificação, é um tipo de comunicação que nega a própria comunicação, no sentido de que ela busca evitar o acontecimento ou aprofundamento do contato. Para trabalhar com a deflexão, segundo Crema, é necessário deter o defletor em algum ponto de sua “fuga ao contato” e sugerir-lhe contatar com o que está sentindo naquele exato momento. Com isso a pessoa tem chance de tomar consciência do seu movimento dispersivo e superficial.
  • 31. 30 5. Confluência: quando eu me confundo no mundo Crema define a confluência como a falta de limite entre si mesmo e o outro ou o ambiente, ou seja, é a fusão de duas pessoas, ou grupo de pessoas, em que elas negam suas individualidades e diferenças, caracterizando-se assim como um mecanismo de evitação de contato. O ser humano vivencia duas tendências opostas, uma de fusão, outra de individuação, enquanto que a saúde mental está no equilíbrio entre estas duas tendências. Na confluência prevalece a tendência de fusão, resultando em simbiose e confusão, cuja origem pode ser atribuída a uma introjeção anterior que impede o indivíduo de expressar suas diferenças. Na verdade, a pessoa nem sequer percebe essas diferenças, o nós prevalece em detrimento do eu e do você. As diferenças que poderiam ser manifestadas no pensamento, nas atitudes, nos comportamentos e sentimentos são “boicotadas” ou camufladas na relação. A confluência é vista como uma resistência ao contato uma vez que o relacionamento amoroso só se dá entre pessoas maduras e diferenciadas, conscientes de suas próprias individualidades. Para Crema, o trabalho do facilitador na Análise Transacional consiste em: “ressaltar as diferenças e a capacidade de se opor e criticar. Especialmente o grupo é facilitador, neste caso, já que oferece uma enorme diversidade de diferenças individuais, impossibilitando, ou, pelo menos, dificultando a transação de confluência. A pessoa confluente necessita da permissão para ser diferente; para expressar pensamentos, emoções e atitudes dissonantes, que a diferenciem dos demais.” E Crema complementa, citando os Polsters: “Os antídotos para a confluência são o contato, a diferenciação e a articulação. O indivíduo deve começar a experienciar escolhas, necessidades e sentimentos que são seus e que não têm que coincidir com os de outras pessoas. Ele deve aprender que pode encarar o terror da separação dessas pessoas e ainda permanecer vivo.” 13
  • 32. 31 6. Proflexão: quando eu manipulo o mundo Para Cardella a principal característica deste mecanismo é que a pessoa só faz aos outros o que ela espera que lhe façam. Há uma ação em direção ao outro, mas esta ação tem a intenção de manipular esse outro para que ele satisfaça suas necessidades. Não há entrega, disponibilidade nem “preocupação” com o bem estar do outro, condições necessárias a uma legítima troca amorosa. O indivíduo que proflexiona não tem coragem de explicitar suas expectativas nem de expressar seus desejos. Ele relaciona-se somente através de jogos de controle e manipulação, não permitindo que se conheçam suas expectativas e necessidades reais. O uso dessa manipulação se fundamenta em sua baixa auto- estima e sentimento de não ser digno de ser amado. A partir do momento que ele não respeita a si mesmo, também não respeita as necessidades do outro, transformando toda a possibilidade de contato autêntico em troca de interesses e resistência ao contato. Crema não tratou desse tipo de resistência, contudo entendemos que a forma de trabalhar a proflexão seja através da valorização e qualificação do indivíduo, demonstrando interesse e respeito por seus sentimentos de forma a restituir-lhe a auto-estima e conseqüente confiança de se expressar com honestidade. 4.5. Resistência em Biodanza Antes de entrarmos especificamente no aspecto da resistência em Biodanza gostaríamos de fazer uma recapitulação de alguns aspectos já tratados em capítulos anteriores. Para Ana Freud, filha e discípula de Freud, o Ego do neurótico adulto teme os instintos porque teme o seu Superego, representante psíquico das repressões culturais. As defesas do Ego seriam motivadas pela ansiedade do Superego frente a possibilidade de uma manifestação instintiva do Id, ou seja, a ansiedade estaria sempre na origem do processo defensivo e esse processo buscaria barrar uma possível manifestação instintiva considerada hostil à luz do Superego.
  • 33. 32 Toro, considerando que a cultura obstrui, desorganiza e perverte os instintos, propõe como tarefa mais urgente para a recuperação da saúde a restauração da base instintiva da vida e a busca de orientação nesses impulsos primordiais. Vemos, assim, que no grupo de Biodanza estaremos nos defrontando abertamente com o processo defensivo dos alunos, pois será nosso propósito que a pessoa entre em contato com aquilo que ela mais teme; ela mesma: seus impulsos, sensações, desejos, necessidades, sentimentos, emoções... e que faça isso na presença de um outro ou outros. Em Biodanza, convidamos a pessoa para um contato sincero consigo mesmo e com o outro, para se expressar com criatividade e autenticidade. Então nos deparamos com toda a força da resistência ao contato, nos diversos tipos estudados pela Gestalt-terapia. A título de ilustração, apresentamos abaixo alguns comportamentos que, acreditamos, podem ser tomados como exemplos de resistência neurótica em um grupo de Biodanza: 1. Introjeção Alguns participantes têm uma grande “fome” por novidades, estão sempre na expectativa de algo novo. Os exercícios propostos são realizados apressadamente. Mal o Facilitador começa a fazer a consigna, esses participantes já estão se movimentando, sem nenhum cuidado em entender a proposta e perceber sua finalidade. Engolem inteiro os exercícios sem se dar conta das mensagens vivenciais que eles buscam transmitir. Resultado: fazem mecanicamente, não vivenciam. Outros tentam introjetar a Biodanza inteira: num primeiro momento, ficam deslumbrados com o grupo, mas logo se afastam, enfastiados, em busca de uma nova teoria ou sistema que dê conta de suas angústias. Essas pessoas não sabem ou não podem refletir sobre suas vivências nem dão tempo a si mesmas para compreender e absorver a proposta da Biodanza. Buscam algo que as salvem sem se dar conta de que tudo começa pela sua própria atitude frente ao mundo.
  • 34. 33 2. Projeção Fenômenos de intensa proyección se facilitan a través de los grupos, hasta tal punto que podríamos decir que los demás pasan a representar las cualidades reprimidas inconscientes.” Rolando Toro Toro, ao falar sobre os primeiros momentos de vida de um grupo, chama a atenção para as reações ambivalentes de cada participante em relação ao próprio grupo: amor e ódio se sucedem como resultado das projeções de medo ao amor, de desejo de contato, de impulsos agressivos, de temor à rejeição, etc. Toro explica ainda que, ao entrar num grupo de Biodanza, o indivíduo expõe sua identidade a uma série de riscos pelo simples fato de enfrentar identidades diferentes. Com isso torna-se inevitável que os mecanismos de resistência utilizados por ele e, em especial, a projeção se manifeste e crie uma série de dificuldades ao contato tão desejado. O participante que introjetou a crença de que não é digno de ser amado, e não aceita a si mesmo, através do mecanismo de projeção pode perceber essa rejeição num outro participante, ou mesmo no grupo, passando a evitar iniciativas de contato com medo de ser rejeitado. Esse participante terá dificuldade em escolher um outro participante para uma dança em pares, por exemplo. Ele teme a rejeição e, por isso, prefere se deixar escolher. É mais “seguro” na sua maneira de perceber o mundo. O participante raivoso através da projeção pode se sentir ameaçado. E o participante muito reprimido sexualmente pode ver seu desejo no outro e se sentir constrangido ou estimulado! 3. Retroflexão Na retroflexão a pessoa controla as emoções através de disciplina rígida e autocontrole, resultando em falta de expressão, o que é muito comum num grupo de Biodanza. O ambiente no grupo convida à expressão, ora de alegria, ora de entusiasmo, ora de prazer, ora de ternura, etc., mas o participante que retroflete suas
  • 35. 34 emoções continua seu movimento mecânico, sem expressão, fugindo a um contato mais profundo consigo mesmo e com o outro. Essa falta de espontaneidade limita toda a expressão da identidade, nas suas mais variadas formas, desde o caminhar, que é “robotizado”, até a carícia, que é mecânica. O grito não sai, fica preso na garganta. O canto não tem potência nem melodia, é tímido, sufocado ou estridente. 4. Deflexão Nessa forma de resistência o participante evita o contato pela dispersão ou desfocalização de sua atenção. Podemos ver claramente esse tipo de resistência no grupo de Biodanza pela dificuldade dos participantes em olhar o outro, não só numa Roda de Olhar, onde o contato é certamente mais intenso, mas até mesmo nos exercícios iniciais de Sincronização Rítmica ou Melódica. Também nos exercícios de acariciamento o participante evita um contato mais íntimo pelo mecanismo da desfocalização: em alguns casos a evitação se dá pelo desvio do olhar do corpo da pessoa que está sendo acariciada, noutros o participante simplesmente fecha os olhos e “viaja”. O Relato de Vivências é outra situação na qual a resistência dos participantes, por deflexão, se mostra com toda sua força: o participante evita entrar em contato consigo mesmo e falar de suas vivências. E faz isso falando do outro, generalizando ou puxando um assunto que não tem nada a ver com a sua vivência. Com isso ele se sente mais “protegido”, pois conseguiu desviar o foco de atenção de si mesmo. 5. Confluência Podemos observar a falta de limite entre si mesmo e o outro ou a negação da individualidade de cada um, que caracterizam a confluência, em inúmeras situações no grupo de Biodanza:
  • 36. 35  Dificuldade em iniciar um movimento próprio, diferente dos demais. O participante busca no grupo a orientação para seu movimento e repete o que vê.  Dificuldade de entrar na Roda e se expressar livremente, através do movimento ou da voz. O participante teme se destacar e mostrar sua diferença.  No Relato de Vivências o participante teme expressar opinião própria sobre algum tema em discussão. A ansiedade o deixa mudo. Às vezes arrisca uma pergunta... 6. Proflexão A manipulação do outro, como forma de resistir ao contato, pode se apresentar na forma negligente, sem presença, de fazer uma carícia, quando o Facilitador propõe um Acariciamento em Pares, com troca. O participante faz por interesse, não tem coragem de assumir que não deseja se doar, que só deseja receber, ser acariciado. Então, ele “dá” sua carícia como um elemento de troca de interesses, sem nenhuma intenção de se comunicar amorosamente com o outro. A ternura é um sentimento que ele desconhece. O que existe de comum em todos essas formas de resistência é uma grande inibição da expressão, da capacidade de entrar em intimidade e de vivenciar um autêntico contato. Acima de tudo, o que se percebe é a falta de presença, ou seja, falta de vinculação consigo mesmo, numa atitude de alheamento defensivo, evitando ir além de suas fronteiras bem guardadas. Sem vínculo consigo mesmo, torna-se impossível o vínculo com o outro. O aluno está na sessão; é convidado a se movimentar, a se expressar e entrar em contato. Então, a saída defensiva que ele encontra é a falta de presença, o fazer mecanicamente o que lhe foi sugerido, mantendo-se distante. Ele não está presente e, com isso, também não concede presença: desvia o olhar, fala, “brinca”, abraça apressadamente...
  • 37. 36 É como se ele não pudesse reconhecer a presença do outro, que parece assumir a categoria de uma grande ameaça à sua integridade. Quando na aula seguinte, durante o tempo reservado para a intimidade verbal, se pergunta: então como foi a aula passada?, ele não sabe, não tem nada íntimo a dizer, pois não vivenciou a si mesmo, estava noutro lugar, ocupado em se defender. N O T A S: 1 Toro, Rolando. Tomo: Teoria da Biodanza, p. 12 2 Laplanche. Vocabulário da Psicanálise, p. 107 3 Horney, Karen. A Personalidade Neurótica..., p. 18 4 Idem, idem, p. 8 5 Idem, idem, p. 20 6 Crema, Roberto. Análise Transacional ..., p. 51 7 Idem, idem, p. 55 8 Idem, idem, p. 56 9 Toro, Rolando. Tomo: Teoria da Biodanza, p. 12 10 Cardella, Beatriz. O Amor na Relação Terapêutica, p. 41 11 Crema, Roberto. Análise Transacional..., p. 86 12 Idem, idem, p. 92 13 Idem, idem, p. 97
  • 38. 37 5 COMO ATUA A BIODANZA? Podemos entender a Biodanza como uma fonte de estímulos vivenciais para uma vida com mais intensidade, ou seja, mais vitalidade, mais vínculo afetivo, mais comunicação, mais expressão autêntica, mais prazer... e mais presença. Para isso a Biodanza dispõe do que se convencionou chamar “Mecanismos de Ação”, cuja função é estimular a integração do organismo e desenvolver os pontenciais humanos inatos, de forma que o participante vá aos poucos liberando-se da rigidez dos comportamentos defensivos e, com isso, harmonizando-se com a fluidez da vida. Esses “Mecanismos de Ação” estão relacionados a exercícios e, às vezes, se confundem com eles, que são propostos pelo Facilitador segundo sua percepção das necessidades do grupo. A Biodanza é, portanto, um Sistema de Desenvolvimento Humano que utiliza uma abordagem indutora de vivências na busca dos seus objetivos. Neste capítulo procuraremos entender a natureza da ação desses exercícios. Contudo, antes de tratarmos especificamente dessa questão, consideramos ser necessário apresentar dois princípios fundamentais no estabelecimento da base sobre a qual se dá a ação da Biodanza. 5.1. Princípios Fundamentais Os princípios estabelecidos por Toro se destinam a dar uma estrutura operatória ao Sistema; eles são a base para todo o desenvolvimento teórico e metodológico que se segue. Entendemos que o processo vivencial e a estrutura grupal são os dois princípios mais fundamentais do Sistema, sem os quais não se pode falar em Biodanza. É conveniente ressaltar que não estamos nos esquecendo do Princípio Biocêntrico, espinha dorsal do Sistema criado por Rolando Toro, ao qual já nos referimos no Capítulo três, item 3.2.
  • 39. 38 5.1.1. Processo Vivencial Em Biodanza a vivência é prioritária. É a partir dela que se busca estimular o acesso à identidade e à sua expressão. Na verdade, a eficácia de um exercício de Biodanza depende da profunda integração entre a música, o movimento e a vivência. Entende-se que é a partir dela que se dá a transformação desejada, é ela a fonte propulsora do projeto existencial. A vivência emocionada tem o poder de regular e integrar as funções neurovegetativas, ativando-as ou moderando-as. A integração do vivenciado à consciência e à regulação visceral, que caracteriza a integração necessária dos três níveis de aprendizagem humana, dar-se-á posteriormente, complementando o processo de transformação existencial. 5.1.2. Estrutura Grupal “A finalidade da relação é o seu próprio ser, ou seja, o contato com o Tu. Pois, no contato com cada Tu, toca-nos um sopro da vida eterna.” Martin Buber A vivência em Biodanza se dá em grupo semanal, sob a orientação de um Facilitador, onde as pessoas se encontram com o propósito de “dançar a vida”. Dançar em grupo, descobrindo, progressivamente, os rituais de aproximação e encontro, buscando um nível mais elevado de comunicação afetiva, resultado da maior liberdade na expressão da própria Identidade. A vivência de si, observa Toro, surge durante a “convivência”,1 ou seja, é na presença do outro que nossa identidade se revela. O grupo é, portanto, fundamental nesse processo de encontrar-se a si mesmo e, com isso, poder vincular-se ao outro. É no grupo que cada participante vai encontrar reforço para seus aspectos saudáveis e desenvolver seus potenciais através de cinco linhas de vivência. No grupo de Biodanza cada um de seus participantes deve encontrar proteção, estímulo e desafio, com propósito de ajudá-lo nas transformações que busca realizar. Segundo Toro, uma das funções que o grupo assume é de dar permissão aos seus membros para reduzir a força dos mecanismos de defesa e deixar que a energia afetiva reprimida comece a circular com mais espontaneidade, dando lugar à vivência. Assim, o
  • 40. 39 grupo de Biodanza deixa de ter características repressoras, como outros grupos sociais, e passa a ter uma função permissiva, o que facilita o processo de reparentalização, ou seja, a modificação dos padrões de resposta adquiridos durante a infância. . Quando o grupo atinge esse nível de integração ele se torna, como diz Toro (3), um biogerador, um centro gerador de vida no qual cada um projeta seus sentimentos, desejos e necessidades e passa a perceber melhor a essência do outro. Com isso, o participante deixa de ver esse outro como um limite real para a sua expressão e se torna permeável à presença e potência do outro, o que se manifesta como emoções integradoras de grande intensidade. 5.2. A Ação da Biodanza Preferimos usar a expressão “Ação da Biodanza” no lugar de “Mecanismos de Ação” por entendermos que o conceito de “mecanismo” está fortemente relacionado com o conceito de equipamento ou máquina e a ação da Biodanza visa exatamente ao contrário, ou seja, sair do movimento mecanizado, automático, próprio das máquinas. Antes de entrarmos nos aspectos mais específicos de atuação da Biodanza, gostaríamos de acrescentar algumas idéias sobre a importância de um corpo bem “organizado” para uma expressão mais autêntica da identidade, reforçando, assim, a abordagem corporal seguida por Toro. Essa importância pode ser observada nas palavras de Oliveira, ao tratar sobre o desenvolvimento da psicomotricidade: . “Todo ser tem seu mundo construído a partir de suas própias experiências corporais. O corpo deve ser entendido não somente como algo biológico e orgânico que possibilita a visão, a audição, o movimento, mas é também um lugar que permite expressar emoções e estados interiores. O corpo é uma forma de expressão da individualidade”.2 O corpo é, portanto, como diz Oliveira, a maneira de ser da pessoa. É através dele que ela estabelece contato com as entidades do mundo, que se engaja no mundo, que compreende os outros. Conhecendo-o, ela tem mais habilidade para se diferenciar ou se identificar com as entidades do mundo, fortalecendo assim sua própria identidade. Voltando ao tema deste item, que é a Ação da Biodanza, entendemos que ela pode ser analisada por dois enfoques: primeiro, pela natureza das vivências que são propostas ao grupo e, segundo, pelo resultado dessas vivências sobre cada participante ou, mais
  • 41. 40 especificamente, pela alteração provocada por essas vivências no funcionamento fisiológico e comportamental dos participantes. Pessoa, ao escrever sobre esse tema, tratou dos dois aspectos: sob o título “Mecanismos de Ação” ela colocou a natureza das vivências e sob o título “Efeitos” ela descreveu as mudanças fisiológicas ou comportamentais correspondentes. Neste trabalho apresentaremos os dois aspectos num bloco só, como fez Toro na apostila do Curso de Didatas,3 apesar de não estarmos reproduzindo integralmente aquele trabalho. Resumimos a Ação da Biodanza em oitos itens que passamos a descrever. 5.2.1. Ação sobre a Identidade Generalizando, podemos dizer que a Biodanza atua através de vivências que funcionam como uma grande fonte de estímulos aos potenciais genéticos intrínsecos de vitalidade, sexualidade, criatividade, afetividade e transcendência, os quais têm um efeito terapêutico sobre todo o organismo, integrando-o, harmonizando-o e estimulando sua expressão mais autêntica. Em outras palavras, a Biodanza atua sobre as bases instintivas da identidade, compreendida como o conjunto de qualidades essenciais da pessoa e que lhe conferem sua singularidade, procurando “abrir caminho” à sua livre expressão. 5.2.2. Ação Integrativa Buscando superar as dissociações motoras e afetivo-motoras induzidas pela estrutura cultural e pelos conflitos pessoais, a Biodanza atua sobre a psicomotricidade, reorganizando o esquema corporal através de exercícios de integração que envolvem o movimento, as emoções subjacentes a esse movimento, o tônus muscular, a sensibilidade e os sentidos. A evolução da motricidade é facilitada trabalhando as diversas categorias de movimento, desde o ritmo até o movimento sensível e expressivo. 5.2.3. Ação Vitalizadora Buscando despertar e desenvolver a alegria e o ímpeto vital, assim como a harmonia e a capacidade de repouso e sono, a Biodanza atua sobre a função homeostática do organismo: ora com exercícios rítmicos, rápidos, que produzem calor, suor, riso e liberação da respiração; ora com exercícios lentos, suaves, promovendo a integração afetivo-motora.
  • 42. 41 A estimulação alternada dos sistemas simpático-adrenérgico e parassimpático-colinérgico reforça o equilíbrio neurovegetativo necessário à função de autorregulação do organismo. 5.2.4. Ação Desrepressora Buscando o desenvolvimento da sexualidade e a revalorização corporal, a Biodanza atua sobre as couraças defensivas do ego através de exercícios de contato e carícia, de danças de sedução e de danças eróticas de expressão da feminilidade e da masculinidade. A dissolução das couraças, resultantes da desrepressão sexual, restaura a função de contato e desperta o desejo, permitindo ao participante vivenciar seu corpo como fonte de prazer, assumir suas preferências e realizar sua própria identidade sexual. 5.2.5. Ação Reintegradora A Ação Integrativa da Biodanza (item 5.2.2) cria condições para uma reintegração afetiva de cada participante com seu semelhante, através do desenvolvimento do processo de identificação e da aprendizagem de formas de comunicação e encontro em “feed-back”. Com essa abertura amorosa para o contato com o outro, a Biodanza busca a reintegração de cada participante ao seu grupo social (retribalização), à espécie (humanização) e ao meio ambiente (ecologia). Para essa reaprendizagem afetiva são criadas situações de encontro e comunicação, e rituais de vínculo, que atuam sobre o grupo despertando seus potenciais afetivos de amor, amizade, altruísmo e solidariedade. Uma abordagem básica para essa reaprendizagem é enfatizar o que Toro chamou de “Princípios do Encontro Corporal”, buscando desenvolver as atitudes e habilidades necessárias à reeducação do “estilo de encontro”. 5.2.6. Ação de Diferenciação Nesta ação a Biodanza busca o desenvolvimento dos potenciais individuais dos participantes para inovação e mudança, mediante exercícios de expressão. Os exercícios são concebidos para devolver ao participante sua capacidade de expressão mais profunda e desenvolver sua criatividade existencial, capaz de renovar e enriquecer seu estilo de vida.
  • 43. 42 Como exemplos podemos citar os exercícios de: expressão primal, integração yin-yang, comunicação expressiva e elaboração criativa. O participante é convidado a conectar-se consigo mesmo, sair do seu padrão habitual, automático e experimentar novas formas de expressão, através do movimento e da voz, diferenciando-se do grupo e experimentando-se a si mesmo, num ato de ousadia e independência. 5.2.7. Ação Terapêutica Este título foi dado por Toro à ação da Biodanza através do transe. Transe e regressão são fenômenos que, freqüentemente, se produzem de forma simultânea. Santos, citando Toro, define regressão nos seguintes termos: “A regressão é, basicamente, um estado emocional que induz a aparição de potenciais arcaicos. Este estado se caracteriza por um relaxamento de todos os músculos e harmonização das funções viscerais. A atividade cortical e os sistemas de alerta diminuem seus umbrais de resposta. No estado de regressão ocorre ativação parassimpática, renovação orgânica e inibição simpático-adrenérgica. O pulso, acelerado no começo, vai-se tornando mais lento e a respiração se regulariza. Há também uma ativação dos mecanismos de termorregulação e tendência ao sono. Durante o estado de regressão produz-se uma reativação de padrões primitivos de desenvolvimento e uma reorganização dos impulsos vitais obstruídos ou reprimidos pela aprendizagem. Este estado tem o caráter de associação básica com o âmnio e requer condições especiais de proteção e continente afetivo.” 4 As vivências de transe e regressão ativam as funções trofotrópicas de reparação biológica, otimizam a homeostase e levam a um processo de renovação biológica em todo o organismo, que é experimentado como um verdadeiro renascimento. Além disso, essas vivências modificam os padrões de resposta adquiridos durante a infância, levando a um processo de reparentalização com reflexo nas atitudes e crenças individuais dos participantes. Esta é a ação terapêutica da Biodanza. O transe integrativo e renovador através de vivências (música-movimento-emoção), onde o grupo funciona como matriz de renascimento.
  • 44. 43 5.2.8. Ação Transcendente É também através do transe e regressão que a Biodanza atua sobre a percepção, buscando a expansão da consciência para além das limitações do ego e, com isso, alcançar as experiências de Êxtase e Íntase que nos abrem o caminho para uma relação com a Totalidade. Para esta ação a Biodanza inclui também as chamadas Posições Geratrizes que, segundo Pessoa, constituem verdadeiros arquétipos gestuais e geram danças espontâneas de grande riqueza e profundidade existencial. 5.2.9. Ação de Reculturação A Biodanza atua sobre o sistema de crenças dos participantes, buscando uma transvalorização cultural, ou seja, uma nova cultura com valores pró-vida em substituição à cultura atual com seus valores e costumes produtores de patologia . Isto é feito na primeira parte da sessão, quando o Facilitador apresenta novas idéias que refletem uma visão de mundo coerente com os objetivos e princípios da Biodanza, levando os participantes a ampliarem seus horizontes e libertarem-se dos seus preconceitos. Também nessa primeira parte da sessão cada participante pode compartilhar com o grupo aquilo que vivenciou na sessão anterior, o que contribui para aumentar a consciência da experiência vivida. Com isso, cada participante assume as vivências fortalecedoras de sua identidade sadia, o que possibilita a revisão de antigas crenças e contribui para o desenvolvimento de uma nova maneira de pensar e ver e atuar no mundo. Essa é a natureza da ação da Biodanza, as várias formas que ela assume, sempre no sentido de maior conexão com a vida, intrapessoal e interpessoal. Cada ação complementa e é complementada pelas demais, parte de um todo integrado que busca desenvolver a totalidade do ser humano, naquilo que ele tem de melhor: sua autenticidade amorosa. Trata-se, como vimos, de uma ação diretiva, forte, potente, planejada no tempo para atingir seus objetivos. Por tudo isso, essa ação deve ser progressiva, como veremos no capítulo seguinte.
  • 45. 44 N O T A S: 1 Toro, Rolando. Identidad e Integracion, p. 9 2 Oliveira, Gislene. Psicomotricidade, p. 47 3 Toro, Rolando. Mecanismos de Acción de Biodanza, Cap. 7 4 Santos, Mª Lucia. Metodologia em Biodanza, p. 25
  • 46. 45 6 A AÇÃO PROGRESSIVA DA BIODANZA No capítulo quatro examinamos o que impede o indivíduo de realizar a transformação tão desejada e concluímos que a maior barreira é ele mesmo ou uma parte dele que se manifesta defensivamente, resistindo ao contato com seus próprios sentimentos, emoções, necessidades e desejos. No capítulo cinco examinamos a atuação da Biodanza como um Sistema que busca o desenvolvimento do indivíduo, no sentido de uma maior e melhor expressão de sua identidade, e descobrimos que ela atua em sentido oposto às resistências, buscando integrar movimentos, sentimentos e pensamentos, que se apresentam dissociados em função do processo repressivo existente na própria cultura. Na verdade a Biodanza procura agir sobre a essência e não romper as couraças defensivas. As defesas se tornam desnecessárias à medida que a essência se fortalece. Contudo, para esse trabalho de fortalecimento da essência e integração do indivíduo em sua singularidade, faz-se necessária uma transformação lenta e progressiva dos diversos sistemas intra-humanos, em direção a um novo continente, estruturado num nível mais elevado de integração. A partir das vivências integradoras da Biodanza, torna-se possível a reestruturação do sistema de crenças do participante, de suas couraças musculares e de seu sistema de vínculos afetivos primários. Uma vivência integradora pode alterar uma crença e influenciar todo o sistema. Mas a mudança deve ser gradual para não prejudicar o funcionamento geral do sistema. Mudanças excessivas não dão tempo ao organismo de reestruturar suas leis gerais de funcionamento. O participante pode desenvolver um estado doloroso de angústia, resultando no enrijecimento das defesas e conseqüente abandono do grupo.
  • 47. 46 A questão que surge, então, é como atuar de forma a não ir além das possibilidades reais de cada participante. A resposta que encontramos foi “progressividade”, ou seja, agir gradualmente, com suavidade, passo a passo, sem ansiedade para atingir os resultados esperados. Além dos princípios já tratados no capítulo anterior, Rolando Toro, na sua função de criador da Biodanza, estabeleceu e definiu vários outros que, adicionados aos paradigmas, criaram uma base sólida e consistente para o desenvolvimento teórico e metodológico do Sistema. Dentre os vários princípios criados, queremos destacar, aqui, aqueles que estão mais diretamente relacionados ao método progressivo de ação da Biodanza. 6.1. Princípios que Determinam a Natureza Progressiva do Sistema No que se refere à ação progressiva da Biodanza, Toro estabeleceu não só o princípio de progressividade, propriamente dito, mas também o princípio de autorregulação e o princípio de reciprocidade, todos buscando assegurar o desenvolvimento progressivo dos participantes, como veremos a seguir. 6.1.1. Princípio de Progressividade No capítulo dois, procurando responder à pergunta “o que é progressividade?”, chegamos à conclusão de que progressividade se refere a uma qualidade que está associada à própria natureza. A vida, dizíamos, se desenvolve continuamente, progressivamente... Toro, reconhecendo a natureza progressiva de todo processo de desenvolvimento humano, escreve: “El entrenamiento en Biodanza debe estar sujeto rigurosamente al principio de progressividad. En el planeamiento de un Curso de Iniciación y en la estructuración de cada sesión, han de graduarse la intensidad y duración de los ejercicios, de modo que se produza un proceso de cambio evolutivo. Es necesario que un profesor modere su ansiedad por producir modificaciones rápidas y espectaculares. Una evolución progresiva hacia la salud, configura un estilo y un “sentido”de trabajo que da tiempo al alumno para asumir sus propios cambios. La idea de “quebrar corazas caracterológicas” tiene que ser resachada como procedimiento. No podemos quebrar las defensas que un individuo há elaborado a través de anos, porque corremos el riesgo de dejarlo sin continente para su identidad y poner gravemente en peligro su homeostasis. Las defensas neuróticas tienen que irse
  • 48. 47 transformando, vale decir, tienen que ser reemplazadas por la nueva estructura de salud. Por outra parte, trasgredir el principio de progressividad puede desencadenar en la persona un “stress” emocional doloroso, elevar sus niveles de culpabilidad y provocar sentimentos de angustia incontrolables. Cada alumno evoluciona hacia la salud en relación a sus propios patrones. La técnica no fomenta actitudes competitivas ni ansiedad de rendimiento artificial. El principio de progressividad es coherente com los conceptos de integración y desarrollo. Todo proceso de maduración está sujeto a un ritmo interior y puede potenciarse solamente a través de un reciclaje progressivo de los procesos vitales.” 1 Fizemos questão de transcrever integralmente o texto de Toro, em sua própria língua, por ser este o ponto fundamental de nosso trabalho. É essa necessidade de se respeitar as defesas ou resistências dos participantes que queremos enfatizar. Que as aulas sejam planejadas de modo a garantir um processo suave e progressivo de transformação evolutiva dos participantes, sem criar ameaças adicionais ao seu equilíbrio emocional responsável pela integridade do organismo. 6.1.2. Princípio de Autorregulação Coerente com a proposta fundamental da Biodanza de agir sempre a favor da vida, o princípio de autorregulação reconhece a necessidade de se respeitar os mecanismos naturais de regulação intraorgânica. Nas palavras de Toro, “...a Biodanza se baseia no conhecimento fisiológico das funções de autorregulação e só reforça essas funções, facilitando e permitindo seu fluir já programado através de milhões de anos de evolução”. 2 Isto quer dizer que a Biodanza não interfere nas funções orgânicas de circulação, calor, atividade-fadiga, sono-vigília, alimentação, etc. Seu objetivo é reforçar e harmonizar essas funções, cuja autorregulação é natural no ser humano saudável e fazer isso de forma progressiva. 6.1.3. Princípio de Reciprocidade Já vimos anteriormente que a Biodanza é por princípio uma atividade grupal e vivencial. Também vimos, quando tratamos da ação da Biodanza, que o contato, a carícia e o encontro em “feed-back” são utilizados como ferramentas facilitadoras no processo de desrepressão e abertura ao contato com o outro.
  • 49. 48 Sendo esses alguns dos instrumentos de que se vale a Biodanza, fica evidente a necessidade de se estabelecer critérios para o relacionamento dentro do grupo de forma a garantir o desenvolvimento progressivo e evitar conflitos. O Princípio de Reciprocidade tem essa finalidade, ou seja, ele é uma regra de funcionamento do grupo que deve ser passada aos alunos, verbal e vivencialmente. O Princípio de Reciprocidade estabelece que o relacionamento deve se dar em “feed-back”. Segundo Toro, isto significa que: “...o Facilitador não pode exercer autoridade alguma para provocar contatos forçados. Cada participante deverá ter liberdade suficiente para aceitar ou rechaçar um determinado contato. Deste modo, as situações de encontro propostas devem permitir a cada indivíduo graduar a forma e a quantidade de contato que nesse momento pode oferecer. Nenhum participante deve ser forçado a dar ou receber um contato que não deseja, seja por pressão do grupo ou por indicação direta do Facilitador. A aproximação progressiva em “feed-back” permite que cada um seja informado sobre a quantidade de aproximação que é permitida.” 3 Toro cita textualmente a necessidade do Facilitador dar proteção à pessoa inibida para que ela possa ensaiar progressivamente seus contatos. Também a pessoa muito desinibida deve ser informada de que não pode exercer a liberdade de contato sem estar autorizada pela outra pessoa. Se assim não for, observa Toro, ambos entram em patologia: o inibido, por suportar um contato que não deseja, faz o jogo de vítima; o desinibido, por invadir seu companheiro, faz o jogo de perseguidor. Havendo encontro em “feed-back”, evita-se o reforço da patologia e desenvolve- se uma nova forma de se relacionar, com responsabilidade e reciprocidade. Não é necessário o uso da palavra para informar ao outro o limite de contato desejado. Como diria Pierre Weil, “ o corpo fala!...”. O corpo, observa Toro, emite sinais claros de aceitação ou evitação, o que ocorre alternadamente durante o encontro. A reciprocidade se dá pela aproximação progressiva, o que permite que cada pessoa perceba o limite do outro de forma dinâmica e regule o quanto de contato é possível naquele momento. Se um dos participantes percebe que o outro não está em condições de aceitar mais intimidade, então ele, atento ao princípio de reciprocidade, deve esperar que o outro estabeleça o nível de contato possível. Com isso, cresce o nível de confiança dentro do grupo, a permissão para o contato aumenta gradativamente e o relacionamento se torna cada vez mais encantador. Apesar de não ser necessário o uso da palavra, como dissemos acima, já que o corpo fala, é minha opinião de que poderá haver invasão mesmo com a colocação de
  • 50. 49 limites corporais, quando algum dos participantes tem dificuldade de perceber as limitações dos demais. Neste caso, os participantes devem ser orientados para trazer o problema para o grupo, na aula seguinte, durante o relato de vivências, de forma a evitar perpetuar uma situação patológica que poderá levar a pessoa vitimada a abandonar o grupo. Evidentemente, o grupo deve ser orientado para que a colocação de um problema dessa natureza seja feita de forma delicada , não com acusações, mas sinalizando para o outro sobre o sentimento de constrangimento que sua ação possa ter causado. Sabemos que esta é uma atitude dificílima para uma pessoa tímida, contudo cabe ao Facilitador, percebendo a situação, facilitar para que ela venha à luz e possa ser verbalizada. Caso venha a entrar um novo membro para o grupo após o início do curso, mais do que nunca a reciprocidade deve ser enfatizada. Primeiro, porque essa pessoa provavelmente necessitará de tempo para chegar ao nível de contato já existente no grupo e, segundo, porque ela, na sua busca de aceitação, poderá ultrapassar seus próprios limites, correndo o risco de desencadear sentimentos conflitantes, resultando no abandono do grupo e retardamento do seu desenvolvimento existencial. 6.2. Critérios Gerais que Facilitam a Progressividade O Grupo, como vimos no capítulo cinco, é essencial para a metodologia da Biodanza. É ele que cria as condições necessárias para o reflorescimento da Identidade. Ele é fonte de estímulo de proteção e de desafio, tudo isso extremamente necessário no processo de abertura ao contato com o mundo. Contudo, se o grupo for muito heterogêneo, se os participantes estiverem em níveis muito diferentes de desenvolvimento, ele será também fonte de dificuldades para a progressividade de cada participante. Ele poderá se tornar uma ameaça para os mais inibidos. Foi, acredito, procurando dar uma solução metodológica para o problema e criar condições de manter o Princípio de Progressividade, que Toro criou dois níveis para os cursos semanais de Biodanza, determinados pelo grau de intensidade e profundidade vivencial: o Curso de Iniciação, para iniciar o processo de integração, e o Curso de Aprofundamento, para aprofundar a intensidade das vivências.
  • 51. 50 6.2.1. O Curso de Iniciação Este curso, como o próprio nome indica, é uma introdução, os primeiros passos no desenvolvimento vivencial proposto pelo Sistema. Sua duração, prevista por Toro,4 é de um ano, podendo haver repetência para aqueles que sentirem necessidade. Ele se destina às pessoas com pouca ou nenhuma experiência em Biodanza e, por isso mesmo, pressupõe um nível menor de aprofundamento, suas vivências são menos intensas do que as do curso avançado. No item 6.4 trataremos detalhadamente do planejamento das aulas de um Curso de Iniciação. 6.2.2. O Curso de Aprofundamento e Radicalização de Vivências Trata-se do curso semanal de nível avançado, por definição do próprio Toro,4 que pressupõe um grau maior de aprofundamento vivencial. Destina-se às pessoas que hajam superado o nível inicial e estejam avançadas em seu próprio processo de integração através do Sistema Biodanza. Sua duração, segundo Toro, é de um a dois anos, podendo haver repetência para aqueles que sentirem necessidade. Toro deixa bem claro a diferença entre aprofundamento e radicalização de vivências. No Aprofundamento de Vivências eleva-se o grau de intensidade vivencial nas cinco linhas de vivências. Trata-se, portanto, de uma continuação do Curso de Iniciação, só que com mais intensidade. A Radicalização de Vivências é diferente, trata- se do resultado final esperado, de todo o processo vivencial, na vida de cada participante. Ela consiste em desenvolver uma compreensão essencial da Biodanza como sistema de otimização da existência humana, incorporando ao próprio estilo de vida as mudanças já vivenciadas através da Biodanza. Pode-se dizer que com a Radicalização de Vivências os três níveis de aprendizagem (Vivencial, Cognitivo e Visceral) se integram, dando lugar a um novo jeito de ser no Mundo, ou seja, um renascer. 6.2.3. Classificação dos Exercícios Além de criar dois níveis para os cursos semanais, Toro5 ainda classificou os exercícios de Biodanza em quatro categorias, do ponto de vista funcional. As três primeiras categorias se referem aos exercícios básicos, de mais fácil realização, próprios do Curso de Iniciação. A 4ª categoria se refere aos exercícios específicos de aprofundamento. Podemos ver, também nessa classificação, o cuidado de Toro em dar
  • 52. 51 aos Facilitadores de Biodanza uma orientação para a introdução dos exercícios com progressividade ao longo dos cursos de Iniciação e de Aprofundamento. 1ª categoria: Integração Motora Esses exercícios fazem parte da Ação Integrativa e Vitalizadora da Biodanza. Eles se caracterizam por sua ação integradora particularmente eficaz ao nível motor. São os vários exercícios de caminhar, as danças rítmicas, os jogos de vitalidade, os exercícios de fluidez, os movimentos segmentares, os exercícios de extensão e elasticidade integrativa, entre outros. 2ª categoria: Integração Afetivo-Motora e Expressão Esses exercícios complementam a Ação Integrativa e são parte da Ação de Diferenciação da Biodanza. Eles têm o objetivo de integrar os gestos com as emoções, no sentido de reduzir progressivamente a dissociação afetivo-motora. Incluem-se nesta categoria os exercícios em pares, tais como: coordenação rítmica, sincronização rítmica, sincronização melódica, danças de eutonia, dar e receber a flor, etc. Exemplos de exercícios de expressividade são: as posições geratrizes do código I e suas respectivas danças, a dança yin, a dança yang, a dança yin-yang e a dança de expressão melódica, etc. 3ª categoria: Comunicação Afetiva e Comunhão Esses exercícios fazem parte da Ação Reintegradora da Biodanza. Eles evocam vivências de comunhão entre os participantes do grupo a partir da comunicação dos próprios sentimentos e emoções, através dos gestos, do olhar e do contato sensível em feed-back. Essas vivências são importantes para a integração do grupo e incluem todas as formas de encontro previstas no Catálogo Oficial, as rodas em suas diversas modalidades, os exercícios de contato e acariciamento sensível, a fluidez em grupo com contato sensível e o grupo compacto de embalo, entre outras.
  • 53. 52 4ª categoria: Exercícios Específicos de Expressão dos Potenciais Genéticos Aqui vamos encontrar todas as formas vivenciais de ação da Biodanza: Ação Integrativa, Vitalizadora, Desrepressora, Reintegradora, de Diferenciação, Terapêutica e Transcendente. São exercícios do Curso de Aprofundamento nas cinco linhas de vivência e sua realização requer maior maturidade vivencial do grupo e de cada um de seus participantes. Os detalhes da natureza desses exercícios não serão objeto desse trabalho, a não ser aqueles exercícios específicos que devem ser introduzidos já no Curso de Iniciação. 6.3. Progressividade em Cada Sessão Uma das principais características do Modelo Teórico da Biodanza é a continua pulsação vivencial entre os dois pólos da consciência humana: “Consciência Intensificada de Si Mesmo” e “Regressão”. Esta pulsação, ou trânsito, deve estar presente em cada sessão, pois é através dela que a Biodanza realiza sua ação vitalizadora, integrando as funções ergotróficas e trofotróficas. O ponto que queremos tratar aqui se refere à necessidade de que esse trânsito seja feito com progressividade, de forma a não causar mal-estar aos participantes, o que poderia anular os benefícios planejados para a sessão. Ao tratar desse tema, Toro chama a atenção para a “necessidade de que a estrutura da sessão permita aos participantes fluir organicamente para novos níveis de intensidade e qualidade vivencial, sem interrupção do estado orgânico emocional.” 6 Sua orientação é para colocar exercícios que estimulam uma pulsação suave entre os dois pólos extremos da consciência, com efeitos harmonizadores e facilitadores do equilíbrio neurovegetativo. A título de exemplo, ele sugere as Seqüências de Fluidez, a Dança de Extensão Harmônica, a Sincronização Melódica em Pares, a Dança em Pares com Samba Cadenciado, O Movimento Segmentar de Peito-Braços e a Dança Sensível de Braços. Também a volta da Regressão ao estado de Consciência de Si precisa ser lenta e progressiva. Sair bruscamente da Regressão é como ser acordado por um despertador estridente, causa mal-estar e irritação. A indicação clássica da Metodologia, para essa ativação progressiva, é a Roda de Ativação Progressiva na qual a música deve começar com muita suavidade e ir crescendo ritmicamente, aos poucos. Uma alternativa é colocar duas músicas bem encadeadas e com ativação crescente.
  • 54. 53 Para esse encerramento é necessário ouvir Toro, segundo o qual “a ativação final da sessão não deve ser intensa em nenhum caso”. É que muita intensidade no final da sessão pode destruir o estado interno de harmonia cuidadosamente conquistado ao longo da sessão. A necessidade que alguns participantes, e até mesmo Facilitadores, têm de terminar as sessões sempre com euforia, pode ser uma indicação de que ainda não entenderam completamente a proposta da Biodanza que busca a harmonização e não a euforia festiva. 6.4. Planejamento das Aulas de um Curso de Iniciação Planejar implica em definir objetivos e estabelecer estratégias de ação para alcançar esses objetivos. Toro definiu objetivos globais e específicos para o Curso de Iniciação e, no nosso entendimento, estabeleceu o Princípio de Progressividade como estratégia básica. 6.4.1. Objetivos do Curso de Iniciação Os objetivos globais do Curso de Iniciação se referem às cinco linhas de vivências, ou seja, a estimulação dos potenciais genéticos nas linhas de Vitalidade, Afetividade, Criatividade, Sexualidade e Transcendência, e a estabilização das mudanças evolutivas já realizadas nessas linhas. Os objetivos específicos do Curso de Iniciação é começar o processo de integração corporal, em seus vários aspectos (integração motora, afetivo-motora, sensório motora, etc.), e introduzir com progressividade alguns dos exercícios das cinco Linhas de Vivências. 6.4.2. Estratégia de Ação para o Curso de Iniciação A estratégia básica da Biodanza para o sucesso de um Curso de Iniciação é a progressividade, que se refere ao aumento gradual de intensidade vivencial, desde o início até a conclusão do curso. Portanto, cada sessão é uma etapa, com intensidade vivencial crescente, no percurso de realização dos objetivos. Uma Abordagem Progressiva para os Objetivos Globais É na obra de Maria Lúcia Pessoa Santos que vamos encontrar uma sugestão para a abordagem progressiva das linhas de vivências. Santos, considerando a Vitalidade
  • 55. 54 como a linha menos reprimida e a Afetividade como a base para a reorganização do projeto existencial, sugere como caminho facilitador a introdução progressiva dos exercícios na seguinte seqüência de linhas de vivências: 1ª. Vitalidade-Afetividade 2ª. Vitalidade-Afetividade-Criatividade 3ª. Vitalidade-Afetividade-Sexualidade-Criatividade 4ª. Vitalidade-Afetividade-Criatividade-Sexualidade-Transcendência A primeira seqüência, segundo Pessoa,7 favorece a integração do esquema corporal e a alegria de viver, enquanto que a segunda seqüência favorece o caminho apolíneo, simbolizador e diferenciado. Progressividade em Direção aos Objetivos Específicos Já sabemos que o objetivo específico do Curso de Iniciação é começar o processo de integração e introduzir com progressividade alguns dos exercícios das cinco linhas de vivências. Sabemos também que esse processo de integração compreende os exercícios de integração motora, integração afetivo-motora, expressividade, comunicação afetiva e comunhão, assim como uma introdução aos exercícios de regressão e à carícia Vimos no capítulo quatro, que o que impede a pessoa de ser ela mesma e se expressar com autenticidade é a resistência e que resistir é resistir ao contato. Contato consigo mesmo, com seus sentimentos e, conseqüentemente, contato com o outro. Portanto, um caminho facilitador, que leve em consideração o caráter protetor da resistência, é aquele em que o contato é estimulado, suave e lentamente, dando ao participante condições dele mesmo regular a intensidade de contato possível para ele. A questão então é como essa suavidade pode ser mantida ao longo do curso , de forma a criar condições favoráveis à expressão saudável de cada participante. Uma condição básica é que cada sessão seja uma etapa no percurso de realização desses objetivos específicos Com os exercícios do Curso de Iniciação buscamos essa suavidade, estimulando progressivamente a vitalidade e a afetividade. A criatividade também é suavemente estimulada com as danças simples de expressão. E com as Posições Geratrizes do