Os irmãos Villas-Boas dedicaram suas vidas a proteger os índios Xinguanos do contato com a sociedade, reconhecendo a necessidade de isolamento para sua sobrevivência cultural. Eles desenvolveram uma política indigenista baseada na preservação da cultura indígena e na proteção das comunidades contra a invasão e desagregação.
2. [...] os Villas Bôas dedicaram todas as suas vidas a
conduzir os índios xinguanos do isolamento original em
que os encontraram até o choque com as fronteiras da
civilização. Aprenderam a respeitá-los e perceberam a
necessidade imperiosa de lhes assegurar algum
isolamento para que sobrevivessem. Tinham uma
consciência aguda de que, se os fazendeiros
penetrassem naquele imenso território, isolando os
grupos indígenas uns dos outros, acabariam com eles
em pouco tempo. Não só matando, mas liquidando as
suas condições ecológicas de sobrevivência.” (RIBEIRO,
Darcy. Confissões. São Paulo: Companhia das Letras,
1997, p. 194)
3. O antropólogo americano Shelton Davis, ao analisar os dois
principais modelos de política indigenista que se confrontaram no
Brasil durante a segunda metade do século XX, ressalta que
"Quando a Fundação Nacional do Índio (FUNAI) foi criada em 1967,
dois modelos opostos de uma política indigenista existia no Brasil.
Um desses modelos, que era radicalmente protecionistas na
natureza, foi desenvolvido por Orlando, Cláudio e Leonardo Villas
Boas no Parque Nacional do Xingu. Segundo este modelo, as tribos
indígenas devem ser protegidos pelo governo federal a partir de
invasões na fronteira fechada parques indígenas e reservas, e estar
preparado gradualmente, como independente, grupos étnicos, para
se integrarem na sociedade em geral ea economia do Brasil. Em
oposição à filosofia dos irmãos Villas Boas era um segundo modelo
de política indigenista que foi desenvolvido pelo Serviço de
Proteção ao índio brasileiro nos últimos anos de sua existência e,
posteriormente, assumido pela FUNAI. Este modelo foi
desenvolvimentista na natureza e foi baseada na premissa de que
os grupos indígenas devem ser rapidamente integrados, como força
de trabalho de reserva ou como produtores de bens
transaccionáveis, nas economias em expansão regional e rural
estruturas de classe do Brasil. "(DAVIS, Shelton. Vítimas do milagre
de Nova York:. Cambridge University Press, 1977
4. Os irmãos Villas Bôas sustentavam uma
política indigenista fundada em dois princípios
básicos:
a) os índios só sobrevivem em sua própria
cultura;
b) os processos integrativos ocorridos
historicamente no Brasil teriam, via de regra,
conduzido à desagregação das comunidades
indígenas e não à sua efetiva participação em
nossa sociedade.
5. O aspecto dos índios, os irmãos Villas-Bôas implantaram uma nova política
indigenista, que, basicamente, consiste na defesa dos
Artigo de jornal da década de 1970
valores culturais dos índios, como único meio de evitar a marginalização
e o desaparecimento dos grupos tribais. A partir da máxima segundo a qual
“O índio só sobrevive na sua própria cultura”, os irmãos Villas-Bôas
conseguiram implantar uma nova forma de relacionamento entre nossa
sociedade e as comunidades indígenas brasileiras. Essa política vem sendo
esposada por etnólogos e entidades científicas não só nacionais, como
estrangeiras.
Os Villas-Bôas mostraram que a antiga visão que a sociedade nacional
tinha acerca do índio era absolutamente equivocada. Não se tratava,
portanto, de sociedades selvagens, sem regras e sem estrutura social como
se narrava na época do Descobrimento do Brasil. A nova imagem do índio,
trazida pelos Villas-Bôas à nossa sociedade, era a de uma sociedade
equilibrada, estável, erguida sobre sólidos princípios morais e donos de um
comportamento ético que sustentava uma organização tribal harmônica. A
esse respeito Cláudio Villas-Bôas teria dito certa feita:
“Se achamos que nosso objetivo aqui, na nossa rápida passagem pela Terra,
é acumular riquezas, então não temos nada a aprender com os índios. Mas
se acreditamos que o ideal é o equilíbrio do homem dentro de sua família e
dentro de sua comunidade, então os índios têm lições extraordinárias para
nos dar.” Cláudio Villas-Bôas