1. Leitura – 8/fevereiro
1º ano Ensino Médio – Colégio Alvorada
Prof. Danilo – Biologia
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PLANETA VERDE
DNA por 5 reais
Como uma técnica rápida e barata de análise genética está ajudando a identificar milhões de
espécies de seres vivos
Renata Leal
Revista Info Exame – 02/2011
Os biólogos calculam que existam entre 10 milhões e 100 milhões de espécies de seres vivos na Terra. Mas só 2
milhões delas já foram identificadas. As outras permanecem desconhecidas para a ciência. Um inventário mais
completo é necessário para gerenciar tanto sua preservação quanto o uso sustentável das espécies pelo ser humano —
em produtos que vão de cremes de beleza a medicamentos. Mas identificar milhões de animais, vegetais e micro-
organismos apenas observando sua morfologia é uma tarefa hercúlea. Por isso, cientistas de vários países, incluindo o
Brasil, desenvolvem tecnologias para diferenciar e catalogar as espécies com mais rapidez. A mais bem-sucedida delas
é conhecida como DNA barcoding — a leitura do “código de barras” presente no DNA dos seres vivos. Ela permite
identificar um ser vivo a um custo de apenas 5 reais por amostra analisada.
A ideia por trás do DNA barcoding é decifrar apenas uma pequena parte da cadeia de DNA. Um laboratório bem
equipado pode fazer isso em poucas horas. Basta que receba uma amostra de tecido daquele ser vivo — como uma
folha de planta. A sequência obtida é, então, comparada com outras armazenadas em bancos de dados. Assim, é
possível saber se a amostra analisada pertence a um ser vivo já conhecido ou não. Para que isso funcione, é preciso
escolher sempre o mesmo trecho de DNA, em todas as amostras. Para a identificação de animais, por exemplo, usa-se
uma sequência de DNA de uma mitocôndria, um dos corpúsculos existentes nas células. Há também trechos de DNA
padronizados para identificar plantas e outros seres vivos.
BIBLIOTECA DE CÓDIGOS
A técnica do DNA barcoding foi apresentada em 2003 pelo grupo do cientista Paul Herbert, da Universidade de Guelph,
no Canadá. Somente nos últimos anos, porém, ela ganhou a adesão de pesquisadores ao redor do mundo. Hoje, 25
países, incluindo o Brasil, participam de um consórcio que tem a meta de cadastrar 500000 espécies até 2015. No
Brasil, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) investiu 5 milhões de reais em
estudos na área nos últimos dois anos. Por aqui, o problema é que os cientistas ainda levam muito tempo na bancada
do laboratório realizando o processo. Em outros países, usam-se métodos mais automatizados. “Uma vantagem dessa
técnica é o preço de cerca de 5 reais por indivíduo apenas”, diz o biólogo australiano William Ernest Magnusson,
coordenador do Programa de Pesquisa em Biodiversidade (PPBio) na Amazônia Ocidental. No futuro, o uso da técnica
poderá ajudar a combater a biopirataria e o tráfico de animais silvestres. Mas essa não é a prioridade.
“Nosso maior problema é a falta de conhecimento sobre a biodiversidade”, afirma Magnusson, que vive há 30 anos na
Amazônia. O problema não é só brasileiro. “Se você não pode medir, não consegue gerenciar”, diz John Chenery,
diretor de comunicações do International Barcode of Life (iBOL), no Canadá. O iBOL funciona como uma biblioteca dos
códigos de barra de DNA. São códigos como o que aparece nesta página, da piranha Pygocentrus piraya, que habita
rios como o São Francisco e o Amazonas. Armazenar os dados de cada espécie também é importante para os estudos
futuros. “Estamos no meio de um grande período de extinção. Talvez 50000 espécies estejam desaparecendo todos os
anos”, diz Chenery.
ROBÔ SUBMARINO
O DNA BARCODING não elimina o uso de técnicas mais tradicionais de taxonomia. Em muitas situações, a melhor
maneira de identificar espécies ainda é observar suas características morfológicas. Mas mesmo essa tarefa pode
ganhar a ajuda da tecnologia. Um bom exemplo disso está no trabalho de uma equipe do Laboratório de Controle da
Coppe, na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Esse grupo de cientistas projetou um robô para exploração
submarina, o Luma, que ajuda a identificar animais subaquáticos. Desde 2007, o Luma vem sendo usado no projeto
brasileiro na Antártica, para estudar a biodiversidade e monitorar o ambiente.
Na Antártica, o Luma explorou a baía do Almirantado, onde está a base brasileira, mergulhando a até 60 metros de
profundidade. Analisando as imagens captadas pelo robô, os biólogos observaram e descreveram seres vivos como
corais, esponjas e lírios-do-mar. No computador, eles cruzaram os dados sobre essas espécies com outros obtidos nas
águas do Atlântico. “Descobrimos que 16% das espécies da América do Sul ocorrem também na Antártica”, diz Lúcia de
Siqueira Campos, professora do departamento de Zoologia do Instituto de Biologia da UFRJ e coordenadora do
Consórcio Sul-Americano para o Censo de Vida Marinha Antártica. Somando as observações feitas por cientistas de
vários países, os registros de ocorrências de seres vivos na Antártica já chegam a 1 milhão de espécies. “Agora
2. estamos desenvolvendo um robô que poderá descer a 3000 metros de profundidade.
Assim, vamos poder estudar regiões mais profundas”, diz Liu Hsu, professor de engenharia elétrica na UFRJ. Segundo
ele, um robô como esse, com braços robóticos para a coleta de amostras, custa por volta de 4 milhões de dólares. À
medida que o conhecimento sobre as espécies biológicas aumenta no Brasil, os cientistas recorrem cada vez mais a
modelos computacionais para estudar como esses seres vivos se distribuem geograficamente. “Já foram descritas
200000 espécies, entre plantas, animais e micro-organismos. Mas nós estimamos que o número seja dez vezes maior”,
diz Bráulio Dias, coordenador de conservação da biodiversidade do Ministério do Meio Ambiente. Outra frente de
pesquisa está no monitoramento com sensores remotos. Ele permite obter desde dados sobre aves migratórias até
informações sobre o clima em locais distantes, enviadas automaticamente por estações meteorológicas.
Além disso, na Amazônia e em outras áreas, pesquisadores usam câmeras, disparadas por sensores de proximidade
para fotografar animais, e gravadores, para captar sons. A análise dessas imagens e sons permite identificar espécies
que vivem naquela área. A estimativa corrente é de que o Brasil tem cerca de 20% da biodiversidade mundial,
sobretudo nas áreas florestais. A Amazônia responde por 26% das florestas na Terra.
UM ACORDO PARA VIDA
A partir de fevereiro de 2011, a Organização das Nações Unidas (ONU) começará a receber a assinatura dos países no
Acordo de Nagoya, que deve dar um novo impulso à preservação da biodiversidade. O documento foi elaborado no fim
do ano passado no Japão. O acordo está centrado em três áreas. A primeira diz respeito ao acesso e à divisão do
retorno econômico obtido com recursos genéticos.
A segunda traça uma estratégia para conter a perda de espécies entre 2011 e 2020. A manutenção mínima, que era de
10% para as áreas terrestres, sobe para 17%. Nas áreas marinhas, salta de 1% para 10%. A terceira área envolve o
financiamento que os países desenvolvidos bancarão para preservar o meio ambiente