3. • Platão refletiu muito sobre o que seria uma cidade ideal, quais leis ela deveria adotar e o
que deveria ser permitido ou proibido. E a arte era uma das coisas que ele julgava
prejudicial e que deveria ser proibida.
• Ele entendia que a arte era IMITAÇÃO. Uma pintura, por exemplo, é a imitação, usando
cores, de objetos que observamos. O mesmo vale para esculturas, que imitam a forma do
que vemos, ou filmes, que imitam determinadas ações.
• O problema disso é que, para Platão, conhecer, significa conhecer as ideias das coisas, por
exemplo, a ideia de cachorro, não um cachorro em particular. Cachorros não passam de
imitações da ideia de cachorro.
• Portanto, a arte, nas palavras de Platão, é “imitação da imitação” e está “três vezes
distante da verdade”, pois ela imita coisas particulares, não as ideias das coisas.
• Como, para ele, a verdade é o valor fundamental, a arte, na medida em que não se
preocupa com a verdade, não tem valor.
4. O que é a arte? O que ela pode fazer
conosco? Que efeitos pode provocar?
Esses efeitos são bons ou ruins?
Um dos primeiros registros que temos de
pensamento sobre esses problemas é um
livro chamado Poética, escrito pelo
filósofo grego Aristóteles, que viveu entre
384 e 322 a. C.
5. •Aristóteles foi um
aluno de Platão e em
grande medida a
Poética é uma
resposta ao
pensamento de seu
professor.
6.
7. Arte é mímesis do universal
• Aristóteles parte do mesmo ponto de Platão. Ele aceita que a arte é
imitação, o que em grego se chama MÍMESIS. Mas não é uma imitação
qualquer.
• Por isso Aristóteles também afirma que “a poesia tende a representar o
universal”. Ao vermos o filme, não estamos aprendendo sobre o
comportamento do personagem específico, mas do ser humano em geral.
Pode até ocorrer de nos identificarmos com o personagem e pensar que, na
mesma situação, acabaríamos agindo da mesma forma.
• Assim, ao vermos um filme não estamos apenas nos divertindo com
imitações de imitações como pensava Platão, mas aprendendo sobre a
natureza das ações humanas.
8. • Ele escreveu o seguinte:
•“O ofício do poeta não é descrever coisas
realmente acontecidas, mas as que podem,
em dadas circunstâncias, acontecer, isto é,
coisas que são possíveis segundo as leis da
verossimilhança e da necessidade.”
• Ou seja, o poeta não imita acontecimentos reais, mas o que
poderia acontecer, de acordo com as leis da verossimilhança e da
necessidade.
9. • Por exemplo, num filme, ao
representar um
personagem com
temperamento explosivo
em uma situação de
conflito, é verossímil ou até
necessário que a cena se
encerre com uma briga.
11. O que é uma tragédia grega?
• Na Poética, Aristóteles analisa duas formas de arte muito importantes na
Grécia Antiga: a tragédia e a comédia. Infelizmente seu texto sobre a
comédia se perdeu, de modo que só nos restou o que escreveu sobre a
tragédia.
• Ao explicar o que é uma tragédia, Aristóteles escreve:
“A tragédia é a imitação de uma ação elevada e completa, dotada de
extensão, numa linguagem embelezada por formas diferentes em cada uma
das suas partes, que se serve da ação e não da narração e que, por meio da
compaixão e do temor, provoca a catarse de tais paixões.”
Tragédia: Melhor meio de se fazer arte!!
12. • A tragédia “se serve da ação para, por meio da compaixão e do temor,
provocar a catarse de tais paixões.”
• Vamos ver um exemplo de tragédia e como ela provoca temor e
compaixão.
• Édipo Rei é uma tragédia grega escrita em 427 a. C. por Sófocles.
Aristóteles a considerou em sua Poética o exemplo mais perfeito de
uma tragédia.
13. • A história começa com Édipo, rei de Tebas, enviando seu cunhado ao
oráculo de Delfos para pedir conselhos sobre uma praga que assola a
cidade. E assim descobre que a praga é uma punição divina porque o
assassino do antigo rei da cidade, Laio, nunca foi pego.
• Para tentar descobrir quem é o assassino, Édipo pede ajuda para o poeta
cego Tirésias, mas ele se recusa a dizer quem é o responsável pela morte
de Laio. Ao invés disso, sugere que Édipo abandone a busca pelo assassino.
• Mas Édipo reage mal ao pedido e acusa Tirésias de ter provocado a morte
de Laio. E assim o poeta se vê obrigado a revelar que o assassino na
verdade é o próprio Édipo.
• Ao fim de uma acalorada discussão, Tirésias vai embora, murmurando
sombriamente que quando o assassino for descoberto, saberá que é um
cidadão nativo de Tebas, irmão e pai de seus próprios filhos, filho e marido
de sua própria mãe.
14. • Para reconfortar Édipo, Jocasta, sua esposa e ex-mulher do rei
assassinado, diz para não se preocupar com oráculos. Como prova,
conta de uma profecia segundo a qual Laio seria morto pelo seu
próprio filho. Mas o que aconteceu foi que ele foi morto por bandidos
em uma encruzilhada a caminho de Delfos.
• A menção desta encruzilhada faz com que Édipo peça mais detalhes.
Ele pergunta a Jocasta como Laio era, e de repente fica preocupado
que as acusações de Tirésias sejam verdadeiras.
• Édipo então manda que a única testemunha sobrevivente do ataque,
um pastor de ovelhas, seja trazida para o palácio
15. • Intrigada, Jocasta quis saber porque a preocupação. E aí ele explica que
muitos anos atrás, em um banquete em Corinto, um homem embriagado o
acusou de não ser filho de seu pai. Édipo foi a Delfos e perguntou ao
oráculo sobre sua paternidade. Em vez de respostas, ele recebeu uma
profecia de que um dia mataria seu pai e dormiria com sua mãe. Ao ouvir
isso, ele resolveu deixar Corinto e nunca mais voltar. Enquanto viajava, ele
veio para a mesma encruzilhada onde Laios foi morto, e encontrou uma
carruagem que tentou expulsá-lo da estrada. Uma discussão se seguiu e
Édipo matou os viajantes, incluindo um homem que bate com a descrição
de Jocasta de Laio.
• Édipo tem esperança, no entanto, porque a história é que Laios foi
assassinado por vários ladrões. Se o pastor confirmar que Laios foi atacado
por muitos homens, então Édipo está livre.
• Com o desenrolar da história, descobrimos que as profecias estavam
corretas. Laio foi morto por Édipo, seu filho, que em seguida se casou com
sua *mãe, Jocasta.
16. Catarse do temor e da compaixão
• Voltando agora à definição de tragédia de Aristóteles, podemos
entender melhor o que é o temor e a compaixão que essas obras
despertam.
• Quanto ao temor, ele afirma: “é uma aflição ou perturbação
resultante de se imaginar que suceda uma desgraça destrutiva ou
dolorosa e que esses acontecimentos não pareçam distantes, mas
próximos e imediatos”
• É essa aflição que sentimos desde o início da história de Édipo. Logo
que a trama começa a se desenrolar, suspeitamos que Édipo matou
Laio e casou com a própria mãe. Conforme novos fatos surgem, essa
suspeita vai se confirmando, mas permanece a possibilidade de que
haja outra explicação.
17. • Quando finalmente toda a verdade se revela, já não sentimos temor, mas
compaixão de Édipo.
• Aristóteles escreve:
“daqueles que são atingidos pela desgraça sem o merecer devemos
compartilhar a pena e ter compaixão.”
• É o que sentimos da desgraça de Édipo. Ao descobrirmos que seu destino
se realizou, que matou o próprio pai e se casou com a mãe, sofremos com
seu sofrimento, sentimos, com menor intensidade, o que sentiríamos se
vivêssemos essa experiência.
• O resultado de tudo isso é a catarse dessas emoções.
• “Catarse” é uma palavra grega traduzida por “purificação” ou “purgação”.
Ela era usada em diferentes contextos.