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MATERIAL DIDÁCTICO – FOLHA DE ROSTO


| ANO: 1º                                                       | DATA: 24-09-2008
| CURSO: Sistemas Infor.
| MÓDULO(S): 1.2                                                | DISCIPLINA: Área de Integração
| DESIGNAÇÃO(S): Pessoa e Cultura                               | PROFESSOR: Aires Barros



                                       Pessoa e Cultura
1. Noção de pessoa – personalidade

O termo personalidade é uma referência frequente não só no discurso científico – na psicologia e na
sociologia, por exemplo – mas também no discurso quotidiano. Na linguagem corrente abundam os
exemplos do uso da palavra personalidade. Por vezes ouvimos e lemos:
- “Estiveram presentes altas personalidades da cena política do país.”
- “ Não nos demos bem. Entrámos em choque porque ambos tínhamos personalidades muito fortes.”
- “ É um indivíduo sem personalidade. Hoje diz uma coisa e amanhã outra.”
Nos três casos, a palavra personalidade aparece com significados diferentes. No primeiro caso é
sinónimo de estatuto social elevado, no segundo significa a existência de convicções muito desenvolvidas
e no terceiro, falta de carácter.

    Qual o ponto comum entre os três exemplos?
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                                            A palavra personalidade tem origem no termo latino persona
                                            que significa máscara. Os actores do teatro antigo,
                                            concretamente da tragédia grega, usavam uma máscara
                                            durante toda a representação, permitindo aos espectadores
                                            reconhecer a personalidade das diferentes personagens. A
                                            máscara, pela sua constância possibilitava prever o
                                            comportamento dos intervenientes ao longo da acção. A
                                            personalidade é o elemento relativamente estável da conduta
                                            de uma pessoa, a estrutura que subjaz à constelação das
                                            características de cada um de nós. É o que nos torna unos e
                                            únicos, distinguindo-nos de todos os outros. A personalidade
                                            permite que nos reconheçamos e sejamos reconhecidos
                                            mesmo quando, ao desempenhar os vários papéis sociais,
                                            usamos diferentes máscaras que representam as
                                            personagens. A personalidade representa uma fidelidade, uma
continuidade de formas de estar e de ser.

Ora tal como o actor necessita de saber o papel que vai representar, também cada um de nós encarna
muitas vezes personagens diversificadas, em função dos contextos sociais que nos envolvem. Ao longo
do dia, cada indivíduo é chamado a dar voz às várias personagens que assume. O vendedor de um
produto, por exemplo, pode ser completamente honesto com a família e com os amigos, mas na sua
missão de vendedor é muitas vezes levado a ocultar aspectos menos favoráveis do seu artigo. Do mesmo
modo, pode ser pacato e pacífico nas suas relações e violento e agressivo enquanto espectador de um
jogo de futebol.
As múltiplas exigências da nossa vida social obriga-nos a saber responder pelo que fazemos, isto é, a
sermos responsáveis. Dizemos de alguém que tem personalidade, na medida em que é responsável, ou
seja, que sabe assumir o papel que desempenha.

O conceito de personalidade remete assim para dois elementos só aparentemente contraditórios: por um
lado, a noção de máscara remete para a noção de indivíduo, isto é o que permanece indivisível, que é
sempre o mesmo por detrás da máscara que usou momentaneamente. Nesse sentido, o termo
personalidade aponta para um eu concreto, singular e único, para a noção de uma constância no seu
comportamento. Supõe portanto, uma identidade que subjaz, que não deixa de ser o que é. É isto que
permite dizer de alguém que é reservado e tímido e de outrem que é extrovertido e expansivo.

Mas por noutro lado, esta constância não é absoluta, mas relativa. É-se diferente no emprego e junto da
família, entre amigos ou entre desconhecidos, com farda ou em trajo civil. As pessoas não são pois,
perfeitamente constantes e o seu comportamento apresenta-se irregular, consoante os papéis que as
várias situações nos obrigam a desenvolver.
Podemos perguntar até que ponto a coexistência destas duas acepções do termo personalidade não se
interpenetram.

O facto de sermos obrigados a representar várias personagens ao longo do nosso quotidiano não
influencia decisivamente a nossa personalidade?
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Em suma, a personalidade resulta de uma construção viva e
dramática, de uma arquitectura constante, que se vai fazendo e
refazendo por uma integração dinâmica de vários factores: orgânicos e
biológicos mas também afectivos, intelectuais e culturais.

    Comenta a frase seguinte:

 “A personalidade é para o homem o que o perfume é para a flor”.
                                                                         Charles M. Schwob, novelista francês
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Personalidade e papéis sociais

  • 1. MATERIAL DIDÁCTICO – FOLHA DE ROSTO | ANO: 1º | DATA: 24-09-2008 | CURSO: Sistemas Infor. | MÓDULO(S): 1.2 | DISCIPLINA: Área de Integração | DESIGNAÇÃO(S): Pessoa e Cultura | PROFESSOR: Aires Barros Pessoa e Cultura 1. Noção de pessoa – personalidade O termo personalidade é uma referência frequente não só no discurso científico – na psicologia e na sociologia, por exemplo – mas também no discurso quotidiano. Na linguagem corrente abundam os exemplos do uso da palavra personalidade. Por vezes ouvimos e lemos: - “Estiveram presentes altas personalidades da cena política do país.” - “ Não nos demos bem. Entrámos em choque porque ambos tínhamos personalidades muito fortes.” - “ É um indivíduo sem personalidade. Hoje diz uma coisa e amanhã outra.” Nos três casos, a palavra personalidade aparece com significados diferentes. No primeiro caso é sinónimo de estatuto social elevado, no segundo significa a existência de convicções muito desenvolvidas e no terceiro, falta de carácter. Qual o ponto comum entre os três exemplos? ____________________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________________ A palavra personalidade tem origem no termo latino persona que significa máscara. Os actores do teatro antigo, concretamente da tragédia grega, usavam uma máscara durante toda a representação, permitindo aos espectadores reconhecer a personalidade das diferentes personagens. A máscara, pela sua constância possibilitava prever o comportamento dos intervenientes ao longo da acção. A personalidade é o elemento relativamente estável da conduta de uma pessoa, a estrutura que subjaz à constelação das características de cada um de nós. É o que nos torna unos e únicos, distinguindo-nos de todos os outros. A personalidade permite que nos reconheçamos e sejamos reconhecidos mesmo quando, ao desempenhar os vários papéis sociais, usamos diferentes máscaras que representam as personagens. A personalidade representa uma fidelidade, uma continuidade de formas de estar e de ser. Ora tal como o actor necessita de saber o papel que vai representar, também cada um de nós encarna muitas vezes personagens diversificadas, em função dos contextos sociais que nos envolvem. Ao longo do dia, cada indivíduo é chamado a dar voz às várias personagens que assume. O vendedor de um produto, por exemplo, pode ser completamente honesto com a família e com os amigos, mas na sua
  • 2. missão de vendedor é muitas vezes levado a ocultar aspectos menos favoráveis do seu artigo. Do mesmo modo, pode ser pacato e pacífico nas suas relações e violento e agressivo enquanto espectador de um jogo de futebol. As múltiplas exigências da nossa vida social obriga-nos a saber responder pelo que fazemos, isto é, a sermos responsáveis. Dizemos de alguém que tem personalidade, na medida em que é responsável, ou seja, que sabe assumir o papel que desempenha. O conceito de personalidade remete assim para dois elementos só aparentemente contraditórios: por um lado, a noção de máscara remete para a noção de indivíduo, isto é o que permanece indivisível, que é sempre o mesmo por detrás da máscara que usou momentaneamente. Nesse sentido, o termo personalidade aponta para um eu concreto, singular e único, para a noção de uma constância no seu comportamento. Supõe portanto, uma identidade que subjaz, que não deixa de ser o que é. É isto que permite dizer de alguém que é reservado e tímido e de outrem que é extrovertido e expansivo. Mas por noutro lado, esta constância não é absoluta, mas relativa. É-se diferente no emprego e junto da família, entre amigos ou entre desconhecidos, com farda ou em trajo civil. As pessoas não são pois, perfeitamente constantes e o seu comportamento apresenta-se irregular, consoante os papéis que as várias situações nos obrigam a desenvolver. Podemos perguntar até que ponto a coexistência destas duas acepções do termo personalidade não se interpenetram. O facto de sermos obrigados a representar várias personagens ao longo do nosso quotidiano não influencia decisivamente a nossa personalidade? ____________________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________ ___________________________________________________________ Em suma, a personalidade resulta de uma construção viva e dramática, de uma arquitectura constante, que se vai fazendo e refazendo por uma integração dinâmica de vários factores: orgânicos e biológicos mas também afectivos, intelectuais e culturais. Comenta a frase seguinte: “A personalidade é para o homem o que o perfume é para a flor”. Charles M. Schwob, novelista francês ____________________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________________