O documento discute o significado da frase de Jesus "Meu reino não é deste mundo". Ele explica que o reino de Jesus não era um reino terreno, mas sim espiritual e eterno. A certeza da vida após a morte traz paz e mudança de perspectiva, vendo a vida na Terra como passageira. Isso leva o homem a se concentrar menos nos prazeres materiais e mais em seu progresso espiritual.
2. CAP. II – MEU REINO NÃO É DESTE MUNDO
1. “Voltando Pilatos ao pretório e tendo
chamado Jesus, lhe disse: Tu és o rei dos
judeus? – Jesus respondeu-lhe: Meu
reino não é deste mundo. Se meu reino
fosse deste mundo, os meus ministros
haveriam de combater para impedir-me
de cair nas mãos dos judeus; mas, por
ora, o meu reino não é daqui’.
Pilatos lhe disse: Tu és, então, rei? Jesus
respondeu: Tu o dizes, que sou rei. Eu
não nasci nem vim a este mundo senão
para testemunhar a verdade; todo
aquele que é da verdade ouve a minha
voz.” (João, XVIII, 33-37).
A VIDA FUTURA – A REALEZA DE JESUS – O PONTO DE VISTA –
INSTRUÇÕES DOS ESPÍRITOS: UMA REALEZA TERRENA.
3. CAP. II – MEU REINO NÃO É DESTE MUNDO
O PONTO DE VISTA
5. A ideia clara e precisa que se faz da vida futura propicia
uma fé inabalável no futuro, e essa fé tem consequências
imensas sobre a moralização dos homens, pois muda
completamente o ponto de vista sobre o qual eles veem a
vida terrena. Para aquele que se coloca, pelo pensamento,
na vida espiritual, que é infinita, a vida material é apenas
uma rápida passagem, uma curta estação num país ingrato.
As vicissitudes e as tribulações da vida não passam de
incidentes que ele enfrenta com paciência, pois sabe que
são de curta duração e devem ser seguidos de uma
situação mais feliz. A morte nada tem de assustadora, não é
mais a porta do nada, mas a da libertação, que abre ao
exilado a morada da felicidade e da paz. Sabendo que se
está numa condição temporária e não definitiva, ele vê as
preocupações da vida com mais indiferença do que resulta
uma calma de espírito que lhe ameniza as amarguras.
4. CAP. II – MEU REINO NÃO É DESTE MUNDO
Pela simples dúvida quanto á vida futura, o homem concentra
todos os seus pensamentos para a vida terrena. Incerto quanto ao
futuro, dedica-se inteiramente ao presente, deixando de ver os
bens mais preciosos do que os que existem na Terra. É como a
criança que nada vê além de seus brinquedos e tudo faz para os
obter. A perda do menor de seus bens é motivo de grande tristeza.
Uma desilusão, uma esperança perdida, uma ambição insatisfeita,
uma injustiça da qual ele é vítima, o orgulho ou a vaidade feridos
são também tormentos que fazem de sua vida uma angústia
perpétua, pois se entrega voluntariamente a uma verdadeira
tortura de todos os instantes.
Sob o ponto de vista da vida terrena, ao centro do qual ele é
colocado, tudo á sua volta toma enormes proporções. O mal que o
atinge, assim como o bem que toca aos outros, tudo adquire aos
seus olhos uma grande importância. O mesmo ocorre com alguém
que está dentro de uma cidade, e a quem tudo parece grande: os
homens mais importantes, como os monumentos; mas que, subindo
ao alto de uma montanha, tudo lhe parece pequeno. (…)
5. 6. Se todos pensarem assim, dir-se-á, se ninguém se ocupar das
coisas da Terra, tudo correrá perigo. Mas não é assim. O homem
busca instintivamente o seu bem-estar, e mesmo com a certeza de
ficar pouco tempo em algum lugar, ainda quererá estar o melhor
ou o menos mal possível. Não há ninguém que, encontrando um
espinho sob a mão, não o queira retirar para não se ferir. Ora, a
busca pelo bem-estar força o homem a melhorar todas as coisas,
impulsionado que é pelo instinto do progresso e da conservação,
que decorre das leis da Natureza. Ele trabalha, portanto, por
necessidade, por gosto e por dever. E assim, cumpre os desígnios
da Providência, que o colocou na Terra para esse fim. Só aquele
que considera o futuro pode dar ao presente uma importância
relativa, consolando-se facilmente de seus reveses, ao pensar no
destino que o aguarda.
Deus não condena, portanto, os prazeres terrenos, mas o
abuso desses prazeres, em detrimento dos interesses da alma.
É contra este abuso que se previnem aqueles aos quais se
aplicam as palavras de Jesus: “Meu reino não é deste mundo”.