A APTA mantém uma horta com plantas comestíveis não convencionais como taioba, araruta e ora-pro-nóbis para divulgar seu cultivo e consumo. Os pesquisadores recebem visitantes interessados em conhecer as propriedades e sabores dessas plantas. Muitas delas são ricas em ferro e têm valor nutricional, mas são desconhecidas da população devido à falta de informação e ao "chamado progresso".
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Horta APTA cultiva plantas comestíveis não convencionais
1. Diário Oficial Poder Executivo - Seção III – São Paulo, 125 (224) quinta-feira, 3 de dezembro de 2015IV – São Paulo, 125 (224)
APTA mantém horta com plantas
comestíveis não convencionais
Polo de Pindamonhangaba
da entidade cultiva
beldroega, capuchinha,
serralha, ora-pro-nóbis,
vinagreira, taioba, araruta,
espécies ainda desconhecidas
da maioria da população
ara difundir plantas comestíveis não
convencionais, mas consumidas há
muito tempo, como taioba, araruta,
ora-pro-nóbis, capuchinha, caruru,
chuchu-de-vento, cúrcuma e outras,
a Agência Paulista de Tecnologia dos
Agronegócios (APTA), em seu Polo
de Pindamonhangaba, no Vale do
Paraíba, mantém uma horta com
essas espécies, no intuito de divulgar
seu consumo, plantio e preservação.
O local é mantido pelos agrôno-
mos e pesquisadores Cristina Maria
de Castro e Antonio Devide. Para
mostrar propriedades alimentícias
e terapêuticas dessas plantas, culti-
vadas de forma orgânica, sem agro-
químicos, eles recebem produtores,
consumidores, estudantes, pesqui-
sadores e até chefs de cozinha à
procura de sabores diferentes para
incrementar seus pratos. “Também
visitamos escolas, ONGs, feiras de
orgânicos, eventos dos mais diver-
sos, para apresentar e degustar essas
plantas incríveis, mas esquecidas
por causa do chamado progresso”,
diz Cristina. Em dezembro, estão
previstas duas visitas de assentados
do Vale do Paraíba ao local, para
conhecer as raridades e levar para
casa mudas, sementes ou raízes.
Cristina e Devide falam sobre
o tema de forma apaixonada e
também preocupada com o que as pes-
soas comem hoje em dia. “Há muito pro-
duto químico no combate a pragas e isso
prejudica o alimento e quem o consome”,
assegura Devide. O que inibe o conheci-
mento das não convencionais, no enten-
der de Cristina, é a falta de informação.
Ela ouviu muitas vezes a expressão “não
vou comer mato”, em relação a algumas
delas tidas como ervas daninhas, casos
do caruru e serralha, presentes em cal-
çadas e terrenos baldios. “Mas se forem
plantadas com cuidado crescem viçosas e
saborosas”, garante a agrônoma.
Terra boa – O caruru é da famí-
lia da quinoa e indicador de terra boa.
Cristina diz que a espécie alcança 37 mili-
gramas (mg) de ferro por amostra de 100
gramas (g), número muito superior ao do
espinafre e brócolis. O caruru é consumido
refogado ou misturado a omeletes, suflês,
farofas. A araruta é uma raiz aparentada
do gengibre. Seu amido (farinha) é usado
para fazer biscoitos, mingaus e outras delí-
cias da cozinha do tempo da vovó e fazia
parte do cardápio indígena. O chuchu-
de-vento é uma frutinha verde e oca, com
pequenas sementes dentro. É servida refo-
gada ou cortada ao meio, recheada. Há
regiões de Minas Gerais que denominam
esta trepadeira de maxixuá, talvez uma
abreviação de maxixe-do-ar.
Refri do Senegal – Prima do inha-
me, a taioba cozida tem um sabor especial
e suave, que lembra levemente o gosto do
espinafre. Pode ser usada até como planta
ornamental no meio do jardim pela beleza
de suas enormes folhas e talos e pela exube-
rância de sua cor verde. Tem 8 mg de ferro
a cada 100 gramas.
Até mesmo a taboa é comestível, embo-
ra muita gente evite ingerir essa planta por
causa dos locais onde ela nasce, em áreas
pantanosas. Existe ainda o mamão verde
refogado, feito como chuchu.
A vinagreira é um arbusto da família
do quiabo, mas o que se come são suas
folhas verdes, refogadas. Os pequenos
cálices da sua flor servem para fazer suco,
parecido com groselha. Cristina lembra
que é usada como refrigerante no Senegal.
Tem efeito antioxidante.
Com folhas e flores bonitas, a capu-
chinha é também ornamental. Suas folhas
azedinhas cortadas são apreciadas em
saladas e também têm efeito antioxidante
e são ricas em vitamina C. A beldroega –
fonte de ferro, fósforo e ômega 3 – é uma
planta com flores pequenas e miúdas e
parente da onze-horas. A maria-gorda, ou
joão-gomes, é um tipo de beldroega com
folhas maiores e suculentas, com ferro e
potássio, que pode ser feita refogada ou
misturada a outros legumes.
As folhas da ora-pro-nóbis têm enor-
mes espinhos, o que torna essa planta ideal
para ser usada como cerca viva. Cristina
conta que ela é conhecida no interior como
carne de pobre, por ter 25% de proteí-
nas em sua composição. O mais comum é
comer suas folhas macias cortadas e refoga-
das. É muito consumida em Minas Gerais,
onde é homenageada no Festival de Ora-
Pro-Nóbis de Sabará, cidade próxima de
Belo Horizonte, ocasião em que o visitante
a experimenta de várias formas, prova da
criatividade mineira na cozinha.
Ricas em ferro, as bertalhas basella
alba e a anredera são cozidas com cebola
e alho. A segunda tem propriedades bacte-
ricidas e, consta, cura gastrite. A cúrcuma
é uma raiz da família do gengibre, usada
como corante natural. Ralada, deixa o
arroz amarelo e ainda faz parte do tempero
curry. O peixinho é uma folha verde-clara
aveludada, consumida frita e empanada. “O
sabor lembra peixe frito e faz o maior suces-
so com a meninada que vem nos visitar”,
informa Cristina.
Otávio Nunes
Imprensa Oficial – Conteúdo Editorial
P
FOTOS:FERNANDESDIASPEREIRA
Cristina e os pés de capuchinha: “Falta informação” Vinagreira verde e roxa, arbusto da mesma família do quiabo Reserva de variedades de plantas mantidas pelos especialistas
Ora-pro-nóbis é conhecida como carne de pobre Devide (com araruta orgânica) – Muito produto químico prejudica o alimento
Taioba Peixinho
Bertalha basella alba
Maria-gorda, ou joão-gomes Caruru
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quinta-feira, 3 de dezembro de 2015 às 02:05:48.