1) O documento discute um estudo sobre cuidadores de idosos com Doença de Alzheimer atendidos em um centro de saúde no Rio Grande do Norte, Brasil.
2) Foram entrevistados 15 cuidadores usando questionários sobre sobrecarga, depressão, ansiedade e qualidade de vida.
3) Os resultados preliminares mostraram altos níveis de dependência dos idosos e preocupação com o futuro entre os cuidadores.
1. Trabalho apresentado no III Congresso Ibero-americano de Psicogerontologia, sendo de total
responsabilidade de seu(s) autor(es).
CUIDADORES DE IDOSOS COM DOENÇA DE ALZHEIMER:
CAPACIDADE FUNCIONAL DO IDOSO "VERSUS" AVALIAÇÃO DA
SOBRECARGA DO CUIDADO
Caroline Araújo Lemos*, Eudes Araújo Rocha*, Sara Salsa Papaleo*, Eulália Maria
Chaves Maia*, Izabel Augusta Hazin Pires*
*Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal/RN, Brasil.
RESUMO
Atualmente, percebe-se o crescimento do número de idosos acometidos por doenças
crônico-degenerativas causadoras de demência, entre as quais se destaca a Doença de
Alzheimer (DA) que representa uma fonte de sofrimento ao paciente e de morbidade
aos familiares e cuidadores. Os prejuízos no desenvolvimento e na capacidade
funcional do idoso com DA que passa a necessitar de constantes e complexos
cuidados, impõe sobrecarga, ansiedade, depressão e estresse aos seus cuidadores.
Assim, objetiva-se conhecer o cuidador do idoso com DA, a demanda de cuidados e a
sobrecarga de 90 cuidadores de idosos com DA atendidos no Centro Especializado na
Atenção à Saúde do Idoso (CEASI), no município de Natal/RN, além de avaliar seus
níveis de depressão e ansiedade, e qualidade de vida. Depois da realização de uma
extensiva revisão de literatura, foi realizado um estudo preliminar para observar a
aplicabilidade dos instrumentos selecionados na investigação tendo em vista o seu
objetivo. Dessa forma, foram utilizados: um questionário semi-estruturado, Escala de
Katz, Escala de Lawton, Escala de Qualidade de Vida na DA para Cuidadores,
Questionário de Avaliação da Sobrecarga dos Cuidadores, Inventário de Depressão de
Beck e Inventário de Ansiedade de Beck. O projeto encontra-se na etapa de coleta de
dados, totalizando até, agora, a participação de 15 cuidadores, sendo 13 do sexo
feminino e 2 do sexo masculino. Os dados estão sendo organizados e as escala
corrigidas segundo sugere seus autores.
Palavras-chave: Cuidador; Sobrecarga; Demência de Alzheimer; Capacidade
funcional do idoso.
INTRODUÇÃO
2. Trabalho apresentado no III Congresso Ibero-americano de Psicogerontologia, sendo de total
responsabilidade de seu(s) autor(es).
O objetivo do presente estudo é caracterizar os cuidadores de idosos com
Doença de Alzheimer (DA) atendidos no Centro Especializado na Atenção à Saúde do
Idoso (CEASI), no município de Natal/RN.
Na literatura gerontológica, não há um consenso a respeito do significado do
termo cuidador, podendo ser definido como aquele que dá suporte físico e
psicológico, fornecendo ajuda prática, quando necessário ou como o principal
responsável por prover ou coordenar os recursos requeridos pelo paciente (Cruz &
Hamdan, 2008). Além disso, tal definição pode basear-se em vários parâmetros,
podendo ser classificado de acordo com o vínculo entre cuidador e paciente, tipos de
cuidados prestados e freqüência de cuidados. O cuidador ainda pode ser denominado
de diversas maneiras, porém, essas denominações não são excludentes, mas sim
complementares, a saber, remunerado, voluntário, profissional, familiar, primário,
secundário (Lemos, Gazzola & Ramos; 2006).
A Política Nacional da Saúde do Idoso (Brasília, 1999), através da portaria n.º
1.395/GM, de 10 de dezembro de 1999, define o termo cuidador como a pessoa,
podendo ser membro ou não da família, que, com ou sem remuneração, cuida do
idoso doente ou dependente no exercício das suas atividades diárias, tais como
alimentação, higiene pessoal, medicação de rotina, acompanhamento aos serviços de
saúde ou outros serviços requeridos no cotidiano (Brasília, 1999) .
Ocorre que o cuidado domiciliário ao idoso implica em inúmeras repercussões
e significados para a família e, quando a função do cuidar não é adequadamente
realizada, a família sofre sanções sociais, sendo considerada negligente e/ou
irresponsável (Fonseca & Soares, 2006). Além disso, a precarização de serviços
públicos de saúde para o atendimento de idosos com certas incapacidades funcionais,
como a DA, fazem com que, muitas vezes, a família se responsabilize, quase que
exclusivamente, pelo cuidado desse paciente, assumindo também o ônus financeiro
(Caldas, 2003).
Uma vez que as pesquisas voltadas para o tema do cuidador ultimamente
foram adquirindo maior importância no quadro nacional de pesquisas na área das
Ciências Humanas, Sociais e da Saúde, e o entendimento de que as conseqüências do
aumento do número de casos de demências em todo o mundo produzirão elevados
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custos socioeconômicos, torna-se evidente a relevância de estudos que clarifiquem e
subsidiem políticas e ações na saúde e assistência. Desta forma, conhecer o idoso com
Alzheimer, a demanda de cuidados produzidos pela doença e a sobrecarga do
cuidador proporciona a apreciação dos problemas enfrentados no cotidiano e o
aprimoramento de conhecimentos para o planejamento de ações integrais em saúde.
Dados fornecidos pelo Centro Especializado na Atenção à Saúde do Idoso
(CEASI), instituição vinculada à Secretaria Municipal de Saúde do município de
Natal/RN, demonstram uma população de aproximadamente 1500 idosos com DA
atendidos nesse centro, todos eles acompanhados por algum cuidador. Nesse sentido,
foram incluídos no estudo os cuidadores de idosos com DA, voluntários, que
possuírem capacidade de verbalização oral e que consintam, livre e esclarecidamente,
em responder aos protocolos da pesquisa. Antes de iniciar a coleta de dados desse
estudo transversal, o projeto foi submetido à análise e avaliação do Comitê de Ética
em Pesquisas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Na coleta de
dados, foi utilizada a técnica da entrevista estruturada em situação individual.
Antecedendo a aplicação dos instrumentos, foi informado adequadamente ao
indivíduo sobre os objetivos da pesquisa, aplicação do instrumento, privacidade, e
destino dos dados obtidos; também foi obtido o consentimento livre e esclarecido dos
participantes da pesquisa.
Utilizou-se questionário semi-estruturado, contendo questões sócio-
demográficas que investigam, junto ao idoso e ao seu cuidador, dados como nome,
idade, sexo, naturalidade, escolaridade, estado civil, religião, endereço, número de
pessoas que moram em sua casa, parentesco das mesmas com o entrevistado, renda
familiar, trabalho e indicadores de saúde.
Para a avaliação funcional dos idosos com DA, as atividades de vida diária
foram mensuradas pelo cuidador através de duas escalas: uma para as atividades
básicas e outra para as instrumentais. As atividades básicas da vida diária foram
avaliadas através da Escala de Katz, que é planejada para medir a habilidade da
pessoa em desempenhar suas atividades cotidianas em seis funções (banhar-se, vestir-
se, ir ao banheiro, transferência, continência e alimentação), classificando as pessoas
idosas como independentes ou dependentes. Já as atividades instrumentais da vida
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diária serão mensuradas através da Escala de Lawton, que objetiva avaliar o
desempenho funcional da pessoa idosa em termos de atividades instrumentais,
possibilitando que a mesma mantenha uma vida independente (Ministério da Saúde,
2006).
A sobrecarga dos cuidadores foi avaliada através do questionário de Avaliação
da Sobrecarga dos Cuidadores, traduzido e validado por Scazufca (2002), que tem
como objetivo avaliar o estresse dos cuidadores e se eles estão sobrecarregados, por
meio de uma lista de atividades que avaliam como os cuidadores se sentem ao cuidar
de outra pessoa (Ministério da Saúde, 2006).
No período de maio a agosto de 2009 foi realizada a coleta de dados com o
total de 15 cuidadores de idosos atendidos no CEASI. A aplicação foi realizada no
próprio CEASI em uma única sessão com cada cuidador, que consentiu livre e
esclarecidamente a participar do estudo.
Os dados obtidos não foram analisados estatisticamente, no entanto, será
observado o quanto eles fornecem subsídios para avaliar a capacidade funcional dos
idosos com DA, e os possíveis níveis de sobrecarga dos cuidadores desses idosos,
atendidos no Centro Especializado na Atenção à Saúde do Idoso (CEASI), no
município de Natal/RN.
O estudo foi realizado com 15 cuidadores, sendo 13 mulheres e 2 homem.
Quanto ao grau de parentesco, 12 eram filhas(os), 1 esposa, 1 irmã e 1 neta. A idade
média de 47,25±8,4. Dentre os 15 cuidadores, 3 eram solteiros, 2 casados, 2
divorciados e 2 viúvos. Com relação a religião, 12 disseram ser católicos, 2 espíritas e
1 evangélico. Com exceção de apenas dois cuidadores, todos os demais residem com
o idoso com DA. Com relação à renda, 3 cuidadores relataram ter entre 1 e 3 salários
mínimos. Quanto ao cuidado, 11 dividem o cuidado com outras pessoas, sendo um
deles com uma clínica.
Quanto ao desempenho nas Atividades Instrumentais de vida diária, medida
através da Escala de Lawton, foi verificado que a pontuação média foi de 11,7, sendo
que 3 dos idosos cuidados não realizava nenhuma delas. Já com relação ao
desempenho nas Atividades Básicas de vida diária, investigado através da Escala de
Katz, o escore médio foi de 10, havendo um idoso que não com dificuldades de
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realizar todas as tarefas sem a ajuda de outra pessoa, e outro com a capacidade de
realizar todos eles com a ajuda.
No que diz respeito aos dados obtidos através do questionário de Avaliação da
Sobrecarga dos Cuidadores, o escore médio dos 15 cuidadores entrevistados foi de
2,5, no entanto, destacam-se a alta pontuação nos itens que se referem ao “receio pelo
futuro do idoso” (4,1) e o “sentimento de que o idoso depende inteiramente do
cuidador” (4,9). Além disso, todos os cuidadores indicaram, através desse
instrumento, que os idosos não afetam negativamente seu relacionamentos
interpessoais.
Tendo em vista ao número de participantes no estudo até o momento, não é
possível inferir algum tipo de relação entre as variáveis. No entanto, foi possível
perceber a aplicabilidade dos instrumentos na avaliação das variáveis investigadas,
tendo em vista que os dados já direcionam para informações contidas na literatura
estudada a respeito das características dos cuidadores e do cuidado.
De acordo com Cruz e Handam (2008), a grande maioria dos cuidadores
residem junto com os idosos, não exercendo trabalho remunerado fora de casa devido
aos cuidados que devem ser dispensados integralmente e diariamente ao paciente com
DA. Além disso, assim como os cuidadores entrevistado nessa etapa da pesquisa,
estudos indicam a prevalência das mulheres no exercício do papel de cuidador, de
modo que muitas delas acabam por somar às atividades domésticas que já vinham
realizando a tarefa de cuidar, podendo, muitas vezes, terem outras pessoas
dependentes dos seus cuidados (Santos, Pelzer & Rodrigues, 2007).
Com relação ao desempenho dos idosos nas atividades de vida diária, percebe-
se que estas apresentam implicações para o cuidado, no caso dos dados do piloto, os
idosos são capazes de realizar poucas atividades, sendo observado um elevado nível
de dependência do paciente com relação ao cuidador. Estudos afirmam que o nível de
dependência do paciente, ou seja, as dificuldades em realizar as AVDs, quando, por
exemplo, o paciente não é capaz de realizar as atividades de autocuidado como
banhar-se ou caminhar, e o declínio cognitivo são importantes na avaliação do
impacto no cuidador, uma vez que tornam o cuidar mais desgastante.
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responsabilidade de seu(s) autor(es).
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MINI-CURRÍCULO DOS AUTORES
Caroline Araújo Lemos:
Aluna do Programa de Pós-graduação em Psicologia da UFRN. Pesquisadora
voluntária do Grupo de Estudo: Psicologia e Saúde e do Laboratório de Pesquisa e
Extensão em Neuropsicologia (LAPEN) da UFRN.
Eudes Araújo Rocha
Bacharel em Psicologia pela UFRN. Graduando em Psicologia da UFRN. Pesquisador
voluntário do Grupo de Estudo: Psicologia e Saúde.
8. Trabalho apresentado no III Congresso Ibero-americano de Psicogerontologia, sendo de total
responsabilidade de seu(s) autor(es).
Sara Salsa Papaleo
Graduanda em Psicologia pela UFRN. Bolsista voluntária pela Pró-reitoria de
Pesquisa. Pesquisadora voluntária do Grupo de Estudo: Psicologia e Saúde.
Eulália Maria Chaves Maia
Professora associado da UFRN, vinculada ao Departamento de Psicologia e aos
Programas de Pós-Graduação em Psicologia e Ciências da Saúde. Coordenadora do
Grupo de Estudo: Psicologia e Saúde.
Izabel Augusta Hazin Pires
Professora adjunta do Departamento e Pós-graduação em Psicologia da UFRN.
Coordenadora do Laboratório de Pesquisa e Extensão em Neuropsicologia da UFRN.
Pesquisadora do Grupo de Estudo: Psicologia e Saúde.