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•  18  ABR  2011
70 marketing
Todasasgrandesempresasseparecem.
Masasempresasgrandiosas,essassão
grandes cada uma à sua maneira. Diante
do bom momento econômico vivido pelo
País, as atenções do mundo recaem so-
BRANDING
ConviteàexcelênciaInclusão de ativos intangíveis de marcas em balanços de empresas, medida determinada
por lei, é porta de entrada para o Brasil no rol das grandes economias internacionais
Por JOSÉ GABRIEL NAVARRO jnavarro@grupomm.com.br
GLOWIMAGENS
bre companhias atuantes por aqui. E es-
pecialmente sobre os motivos que as le-
varam a ocupar posições de destaque no
mercado brasileiro. Esse cenário levou à
aprovação, em 2007, da Lei no
11.638, ins-
pirada nos Padrões Internacionais de De-
clarações Financeiras (IFRS, na sigla em
inglês). Como esse sistema contábil é vá-
lido para a União Europeia e ganha novos
adeptos a cada ano (veja a tabela na pág.
71), a adoção dessas normas globais ali-
nha o Brasil a boa parte das economias
tradicionais. E permite uma análise mais
amigávelparaosinvestidoresestrangeiros
das companhias instaladas aqui.
18  ABR  2011 •
71
O aspecto mais inovador da lei, contu-
do, é também o mais polêmico: empresas
de capital aberto devem incluir em seus
balanços contábeis o ativo intangível re-
presentadopelasmarcasadquiridasapar-
tir de 2010. “É supercontraditório, porque
não parte do pressuposto de um método
único de avaliação nem do princípio da
separabilidade, ou seja, de que a marca
tem vida própria”, dispara Luís­Eduardo
Carvalho, sócio da Brands­& Values, con-
sultoria pertencente ao Grupo Troiano
de Branding.
Para Eduardo Tomyia, diretor geral da
BrandAnalytics, que opera no Brasil em
parceria com a Millward Brown, no en-
tanto, a nova lei está levando empresas
a olhar com mais cuidado para as mar-
cas sob diversos prismas, inclusive o da
comunicação. “A grande demanda para
a qual estamos sendo acionados é pa-
ra quantificar o impacto de retorno em
investimento de comunicação em lon-
go prazo”, diz.
Dentre afeiçoados e descontentes, fi-
ca o consenso quanto ao movimento de
adequação às necessidades do investi-
dor cosmopolita. “A lei é a parte buro-
crática de um processo maior. Ela ofi-
cializa os ativos intangíveis como par-
te das decisões estratégicas das com-
panhias”, afirma Gilson Nunes, sócio e
diretor da Brand Finance (responsável
Prósecontrasda
novaleidosbalanços
Uma das críticas feitas por
especialistas se refere ao fato de a
Lei no
11.638 abranger apenas marcas
adquiridas, ignorando aquelas
“construídas na própria casa” — estas
já seriam contempladas nos balanços
quando se esmiúça os investimentos
em publicidade. No entendimento de
Roberto Zuanella, diretor comercial
da Brands & Values, desprezar os
nomes criados e consolidados por uma
organização é especialmente ruim
quando a marca é o ativo mais valioso
da empresa.
Esteéocaso,sobretudo,dasgrifes
(queagregamvaloroferecendodesign
ematérias-primassuperlativos,aponto
defrequentementenãousaremsequer
slogans)edasfarmacêuticas(que,além
daspatentes,tambémcontabilizadas
comoativosintangíveis,lidamcom
fórmulasdecomumacessoparafabricar
remédios,escolhidospelosconsumidores
apenascombasenaconfiançaem
determinadolaboratório).
Já André Matias, gerente de
estratégia e avaliação da Interbrand
no Brasil, minimiza as reclamações.
“A lei muda nosso trabalho em parte
porque requer um brand valuation
mais técnico. Mas não muda o projeto
específico que construímos quando
contratados por uma empresa”,
afirma. Para o executivo, a procura
das companhias por orientação diante
da nova lei é uma forma de levá-las a
aprimorar tanto marcas próprias como
as eventualmente contraídas.
As nações e a adoção das normais globais (IFRS) para declarações financeiras
País Status para empresas
Brasil
Obrigatórios nas demonstrações financeiras de bancos e companhias
de capital aberto datadas de 31 de dezembro de 2010 em diante
África do Sul Obrigatórios desde 2005 para organizações listadas em bolsa
Arábia Saudita Não permitidos para empresas de capital aberto
Argentina Obrigatórios para anos fiscais iniciados em 1º de janeiro de 2011
Austrália
Desde 2005 obrigatórios para todas as companhias do setor
privado que emitem balanços, e servem de base para declarações do setor público
Canadá
Obrigatórios desde 1º de janeiro de 2011 para organizações listadas em bolsa,
e opcionais para outras entidades privadas, inclusive as sem fins lucrativos
China Os IFRS são considerados “substancialmente” em consonância com as normas nacionais
Coreia do Sul Obrigatórios a partir de 2011
EUA
Permitidos para empresas estrangeiras instaladas em território americano desde 2007.
Espera-se que os EUA decidam este ano a adesão total aos IFRS
Índia Está se adequando aos IFRS, mas ainda sem data definida para adoção oficial
Indonésia Espera-se adesão total aos IFRS para o ano que vem
Japão
Permitidos desde 2010 para várias multinacionais. A decisão sobre a adesão
oficial deve ocorrer ano que vem, para os IFRS entrarem em vigor a partir de 2016
México Obrigatórios a partir de 2012
Rússia
Obrigatórios para as instituições financeiras e outros
emissores de valores mobiliários; permitidos para outras companhias
Turquia Obrigatórios para organizações de capital aberto desde 2008
União Europeia* Desde 2005 obrigatórios para todas as empresas listadas em bolsas nos países-membros
por avaliações) e da Superbrands (res-
ponsável por pesquisas).
Bolha
Com multa de 25% do valor da tran-
sação para o caso de uma marca recém-­
adquirida não ser divulgada em balanço,
a lei faz do ágio um pedaço da negocia-
ção mais detalhado, o que contribui para
evitar bolhas especulativas. Ou, nas pala-
vras de Reginaldo Alexandre, presidente
da Associação dos Analistas e Profissio-
nais de Investimento do Mercado de Ca-
pitais em São Paulo (Apimec-SP), “é mais
transparente, mais abrangente, é um pas-
so adiante. Isso tudo contribui para man-
ter os parâmetros de mercado realistas.
Evita disfunções de uma forma geral”.
Alexandre até pensa que se deveria
incluir o valor da própria marca em Ü
FOTOLIA.COM
Gilson Nunes, da Brand Finance e Superbrands, vê os ativos intangíveis como estratégicos
GUSTAVOSCATENA
* Alemanha, Áustria, Bélgica, Bulgária, Chipre, República Tcheca, Dinamarca, Eslováquia, Eslovênia, Espanha, Estônia, Finlândia, Fran-
ça, Grécia, Hungria, Irlanda, Itália, Letônia, Lituânia, Luxemburgo, Malta, Países Baixos, Polônia, Portugal, Reino Unido, Romênia, Suécia
Fonte: International Accounting Standards Board/ Abril de 2010
•  18  ABR  2011
72 marketing
Brandingalémdostempos
O branding, como conhecido
hoje, surgiu em um contexto de
aumento vertiginoso da competição
empresarial e de aceleração da
globalização. No fim da década de
80, com os avanços na tecnologia de
transferência de dados, o colapso das
nações socialistas e a necessidade
de enxugamento dos gastos públicos
se tornando o novo norte político, as
empresas se transnacionalizaram
em busca de novos mercados e de
menores custos de produção. Não por
acaso, em 1988 foi feita a primeira
avaliação de marca conhecida: a
Interbrand calculou o valor do nome
de um conglomerado britânico para
que sua venda fosse realizada com
base num preço (mais) justo.
A filosofia de expansão econômica
sustentada pela iniciativa privada
ganhou força ao longo dos anos
90, quando obras como O Fim do
Estado-Nação, lançada em 1996 pelo
estrategista japonês Kenichi Ohmae,
pregavam o livre mercado como fonte
de riqueza num contexto globalizado. O
livro previa inclusive a forte ascensão
da China, graças a sua organização
em polos de alta produtividade (como
Xangai e Hong Kong, que lhe seria
devolvida pelo Reino Unido em 1997).
Enquanto isso, no Brasil, o reflexo
balanço.“Oproblemaé:comoavaliar?Ava-
liaçãodemarca,claro,temvariantesobjeti-
vas,maslevaemcontacritériospróprios,o
contexto, e acredito, pessoalmente, que se
estabelecer um critério objetivo para uma
marcainternaécomplicado,porqueasim-
pressõesvariammuito.Nocasodasmarcas
adquiridas,háumareferênciabásicaqueé
oprópriovalordonegóciofechado.Éuma
referência clara, um valor que o mercado
atribui. Não deve haver um descompasso
entre a opinião do mercado e a opinião de
umaúnicaorganização”,ponderaoanalista.
O debate ganha amplitude quando se
voltaparaasdiferentesmaneirasdeseava-
liar uma marca. As determinações da lei
em relação a isso são vagas. O ISO 10668,
que surgiu no ano passado, estabelece di-
retrizesdequalidadeparaolevantamento
deinformaçõesnahoraderealizarobrand
valuation,masnãoimpõenenhumameto-
dologia específica. Ainda está tão distan-
te de um padrão quanto de atribuir total
confiabilidade ao processo de avaliação.
Metodologias
Hoje,destacam-setrêsabordagensprin-
cipais.Umadecusto,queprocuraconstatar
a quantidade de verba necessária para se
consolidar uma marca. Outra baseada em
comparaçõesdomercado,naqualseavalia
umamarcacombasenovalordeoutrasdo
mesmosegmentoparachegaraumamédia.
E, por último, a de geração de receita, a
mais utilizada. Essa metodologia busca es-
timarcomamaiorprecisãopossívelquanto
da geração de valor de toda a empresa ad-
vémdesuasmarcas.Porisso,acabacontri-
buindo com a gestão da companhia como
umtodo.ComodizAndréMatias,gerentede
estratégia e avaliação da Interbrand: “Para
calcularovalordamarcaeincluí-loemum
balanço, há vários modos. Para fazer uma
análiseetomardecisõesestratégicas,não”.
Outra discrepância que chama a aten-
ção é a existente entre os valores e os po-
sicionamentos das marcas nos rankin-
gs emitidos anualmente pelas principais
consultorias. A falta de congruência é fá-
cil de explicar: os rankings são feitos com
base em informações públicas, além de
dados de pesquisas realizadas pelas pró-
prias consultorias ou por seus parceiros.
Segundo os executivos da área ouvi-
dos por Meio & Mensagem, o valor mais
confiável de uma marca só pode ser al-
cançado quando a empresa, ao contratar
uma agência especializada, compartilha
informações de caráter sigiloso.
“No fundo, quem determina o valor é
o mercado, pelo mecanismo de oferta e
procura”, resume Ivan Pinto, professor de
GestãodeMarcasnapós-graduaçãodaEs-
cola Superior de Propaganda e Marketing
em São Paulo (ESPM-SP). “O que conta é
o poder de negociação das empresas en-
volvidas, baseado na concorrência e no
macroambiente (qual a tendência em re-
lação aos hábitos de consumo do produ-
to ou serviço em questão, por exemplo)
para projetar quanto aquilo deve dar de
retorno em curto, médio e longo prazos”.
Um padrão é possível?
Ainda assim, na hora de por tudo no
papel, é impossível sentir-se 100% seguro
quanto ao valor apontado por uma con-
sultoria. José Luiz Trinta, coordenador de
MBAs e CBAs do Instituto Brasileiro de
MercadodeCapitaisnoRiodeJaneiro(Ib-
mec-RJ), em seu doutorado naUSP, volta-
do para a avaliação de marcas, chegou a
uma daquelas bifurcações teóricas típicas
dasciênciashumanas.Epercebeu:nãohá
consenso. “A discussão relevante é como
precificar,inclusiveporqueacontabilidade
temregrasdedepreciaçãoparabensmate-
riais, mas não para processos intangíveis.”
Trinta acrescenta: “A marca é um ativo
muito poderoso, mas que ninguém con-
trola. Acredito que haverá um consenso.
É necessário. Um padrão poderia anular
os diferenciais entre uma consultoria e
outra, a princípio, mas é preciso haver um
padrão”, defende.
Tomiya, da BrandAnalytics, pensa da
mesma forma: “Tentar padronizar, in-
clusive por meio das normas da ISO, é
saudável, porque a falta de padrão pode
comprometer todo um projeto”.
Rankings
Distante dos burburinhos gerados pela
divulgaçãoderankings,aBrands&Values
acreditaquenãopublicarlistasdemarcas
mais valiosas é um passo importante para
garantir sua reputação no meio. “Enten-
demos que isso (publicar rankings) po-
de aumentar o descrédito dos empresá-
rios em nossos métodos de pesquisa. Só
lidamos com as empresas que nos con-
tratam e obedecemos rigorosamente os
contratos de sigilo. Nossa metodologia é
detalhada o bastante para se ter confian-
ça nos resultados obtidos”, diz Zuanella.
De fato, ainda que figurar entre as mar-
castopspossaenvaidecerempresáriossen-
síveisaisso,ascompanhiasqueocupamo
topodessaslistastêmemcomumofatode
jásepreocuparemcomsuasmarcasmuito
tempo antes da entrada em vigor da nova
legislação.Atentas,asempresasmaisexpe-
rientes radiografam a clientela, ao mesmo
tempo que monitoram os investidores.
da nova ordem mundial na área de
marketing se traduzia, por exemplo, no
artigo “Na esquina da Madison Avenue e
Wall Street”, assinado por Jaime Troiano
e pelo professor Ivan Pinto, da ESPM –
São Paulo, em 1993.
Ao aludir aos dois endereços da
ilha nova-iorquina de Manhattan — o
primeiro, logradouro das principais
agências de publicidade norte-
americanas, na verdade não faz esquina
com o segundo, abrigo da bolsa de
valores mais importante do planeta —,
o título alertava: mais que dar clareza
aos negócios das companhias, o brand
valuation era essencial para uma relação
sólida e sustentável com investidores.
“A queda das extremas direitas
e das extremas esquerdas abriu
espaço maior para a democracia,
deixou o mercado mais acirrado,
fazendo com que a diferenciação
fosse mais exigida. A importância do
valor do nome do produto ou serviço,
com todas as implicações racionais
e emocionais vindas dele, teve um
crescimento brutal nas estratégias das
empresas”, recorda Ivan Pinto. Vale
lembrar também que, nessa época,
o País apenas começava reabertura
econômica (1990-1992).
O modelo do livre mercado, porém,
entrou em desajuste com a crise
desencadeada em setembro de 2008.
Bancos centenários pediam que o
governo comprasse seus papéis podres,
montadoras seculares imploravam
para que Barack Obama as ajudasse
a saldar dívidas monumentais e, ao
mesmo tempo que o crash reverberava
de seu epicentro nos Estados Unidos em
direção ao resto do mundo, se esboçava
a ideia generalizada de que é preciso
“reconstruir o capitalismo”.
Mas nem de longe esse pensamento
ou a própria crise foi capaz de diminuir a
importância do branding. Ao contrário,
foram as marcas que apresentaram mais
fortes diferenciais perante o público
(além, claro, de boa saúde financeira)
que conseguiram se sobressair em meio
ao cenário de tensão global.
“No momento de crise, o consumidor
tende a optar pelo que é mais seguro.
E quem pode oferecer a ele mais
dessa segurança tem a vantagem”, diz
Herlander Zola, gerente de marketing
de automóveis da Volkswagen do
Brasil, para quem a confiança do
brasileiro na marca de automóveis
vinda da Alemanha foi essencial para a
performance positiva no período pós-
crash. Como resultado, atualmente
o Brasil é o segundo país para a
montadora em termos de volume de
venda, perdendo somente para a China.
O Santander, cujo investimento em
branding fez o banco sair da lanterna
dentre os concorrentes espanhóis
para o primeiro lugar na Zona do Euro,
é outro que surfa nas aquecidas águas
da economia brasileira. “O Brasil é
nosso principal mercado hoje”, afirma
Fernando Martins, vice-presidente
executivo de marca do banco.
A crise de 2008 levou Obama a socorrer os grandes bancos com dinheiro público
Ivan Pinto, da ESPM: “No fundo,
é o mercado que define o valor”
Eduardo Tomyia, da BrandAnalytics:
“Tentar padronizar é saudável”
DIVULGAÇÃO/VALTERCAMPANATO/ABR
DIVULGAÇÃO
DIVULGAÇÃO/BRANDANALYTICS
18  ABR  2011 •
73
Além de equipa-
rar a contabilida-
de nacional à dos
países ricos, a Lei no
11.638/07veioaoen-
contro de uma reali-
dade já consolidada
no meio corporativo. As companhias de
capital aberto têm tradição em avaliar e
usar o valor de suas­marcas para fins de
administração estratégica. Um dos exem-
plos mais significativos é a Petrobras, pre-
senteemtodososrankingscomoumadas
quatro marcas mais valiosas do País (ver
tabela com outros ranqueados pelas três
principais consultorias do Brasil).
Comoatualplanodenegóciospreven-
do ações até o ano de 2014, a companhia
petrolífera aplica táticas de transmissão
de valores tanto no varejo, por meio da
BRANDING
Consumidor
nocomando
Para as companhias de capital aberto, avaliar
e usar o valor das marcas é estratégico
Por JOSÉ GABRIEL NAVARRO jnavarro@grupomm.com.br
rede de postos de abastecimento, como
em sua atuação institucional, que inclui
investimentos em alta tecnologia e pros-
pecção de novas fontes de combustível.
Para completar, patrocina projetos cultu-
rais e iniciativas associadas a um modo
de vida sustentável, como ONGs dedica-
das à preservação da natureza e campeo­
natos de surfe.
“Investir na marca é buscar sempre o
respeito da sociedade”, resume Eduar-
do Felberg, gerente de imagem corpo-
rativa e marcas da Petrobras. Nesse ra-
mo, apresentar-se como ligado ao am-
biente natural é um recurso de comu-
nicação decisivo diante da possibilida-
de de acidentes catastróficos, como o
ocorrido no Golfo do México em 22 de
abril do ano passado, quando uma man-
cha de milhões de barris de óleo man-
multidisciplinar de 300 “embaixadores”
da marca. “A legislação só veio reforçar
uma visão que já tínhamos de longa da-
ta”, confirma Fernando Chacon, diretor-
executivo de marketing do ItaúUnibanco.
O Banco do Brasil, que nos últimos
anos passou a aumentar sua presença in-
ternacional, em especial na América La-
tina e nos EUA, tem procurado se ajustar
integralmente aos padrões globais.
Dentro do prazo estipulado pelo Ban-
co Central até este mês para que institui-
ções financeiras publicassem balanços
conforme as diretrizes dos IFRS, o BB es-
tá desenvolvendo não só uma metodolo-
gia própria de brand valuation, com su-
porte de uma consultoria especializada,
como um mecanismo de análise de ris-
co de imagem, segundo comunicado ofi-
cial. Paralelamente, a empresa também
está se alinhando ao Basileia II, acordo
internacional de contabilidade bancária
firmado em 2004.
Guardião
No caso da Vivo, player de outra sea­
ra na qual a concorrência acirrada requer
constante supervisão e revisão de posi-
cionamentos, a manutenção do nome da
empresa está no cotidiano de todos que
fazem parte dela. A operadora de telefo-
niamóvelconsideracadaumdeseusfun-
cionários um guardião da marca, em que
o processo de agregar atributos passa pe-
los recursos humanos bem treinados que
uma companhia deve dispor.
“Dessa forma, constrói-se um jeito de
ser e de fazer que uniformiza o conjunto
dasaçõesdebrandingemtornodasuaes-
sência,construindoamarca,aumentando
oseuvaloregerandobenefíciosatodosos
públicos”, afirma Hugo Janeba, vice-presi-
dente de marketing e inovação da Vivo.
Todas essas organizações se ÜPara Volkswagen, a tecnologia é um valor que a empresa procura associar a si. E a publicidade reforça isso, como na campanha do Tiguan
chou a reputação da British Petroleum.
As instituições financeiras também fa-
zem investimentos expressivos na manu-
tenção de suas marcas — patrimônios
valiosíssimos em um mercado compe-
titivo por natureza. O Itaú, também fre-
quentador assíduo da elite dos rankings
de brand valuation, aposta há mais de 30
anos em uma marca monolítica capaz de
abarcar todos os diferentes produtos e
serviços que oferece. E sustenta essa es-
colha a partir da atuação de três grandes
equipes de marketing: institucional, de
negócios e estratégico, além de um timeDIVULGAÇÃO
Petrobras e o Projeto Tamar: em busca do respeito da sociedade
DIVULGAÇÃO
•  18  ABR  2011
74 marketing
As marcas brasileiras mais valiosas
BrandAnalytics/Millward Brown Interbrand Brand Finance/Superbrands
Marca R$ bilhões Marca R$ bilhões Marca R$ bilhões
1ª Petrobras 19,27 Itaú 20,65 Bradesco 23,14
2ª Bradesco 14,85 Bradesco 12,38 Itaú 12,03
3ª Itaú 13,29 Petrobras 10,80 Banco do Brasil 11,6
4ª Banco do Brasil 11,02 Banco do Brasil 10,49 Petrobras 9,73
5ª Natura 6,1 Skol 6,59 Vivo 7,63
6ª Skol 5,42 Natura 4,65 Oi/Telemar 7,56
7ª Brahma 2,5 Brahma 3,6 Casas Bahia 7,2
8ª Perdigão 2,06 Antarctica 1,75 Caixa Econômica Federal 7,05
9ª Casas Bahia 1,89 Vivo 1,46 Carrefour 6,46
10ª Sadia 1,62 Renner 0,78 Fiat* 6,44
11ª Vivo 1,61 Embratel 0, 73 Walmart 6,23
12ª Unibanco 1,58 Banrisul 0,64 Volkswagen* 5,889
13ª Oi 1,53 Lojas Americanas 0,6 General Motors/Chevrolet* 5,886
14ª Vale 1,39 Cyrela 0,54 Nestlé* 5,63
15ª Antarctica 1,07 Oi 0,47 Ambev* 5,48
16ª Net 0,88 Braskem 0, 44 Ultrapar* 5,46
17ª Lojas Americanas 0,85 Tam 0,34 Santander 5,1
18ª Embratel 0,8 Net 0,29 Pão de Açúcar* 4,83
19ª Redecard 0,74 Marisa 0, 19 Ford* 4,03
20ª Cielo 0,73 Hering 0,14 Unilever* 4,02
FOTOLIA.COM
*House of Brands: empresas que possuem uma ou mais marcas de produtos/
serviços, além da marca corporativa. São consideradas todas as marcas,
desde produto/serviço até a própria marca corporativa. Em alguns casos,
como Ambev, a marca corporativa tem um valor pequeno; em outros,
como Nestlé, tem um valor elevado.
Fontes: BrandAnalytics/Millward Brown, Interbrand e
Brand Finance/Superbrands; edições 2010, relativas a 2009
18  ABR  2011 •
77
ANÁLISE
Qualseráamarcamais
valiosaem2020?
nharritmoeaconcentrarinvestimentos,
com base no maior poder de consumo
do mercado doméstico. Como não são
bobos, os bancos e fundos foram atrás
desse movimento, ampliando os inves-
timentos produtivos — o caso de Jorge
PauloLemanneAmbevéexemplardes-
sa tendência.
Assim, também é significativo des-
se movimento que o pelotão das dez
marcas de maior valor tenha passado
a incluir, cada vez com maior destaque,
companhias como Natura, Perdigão,
Casas Bahia, Skol e Renner.
Essas “empresonas” vendem produ-
tos que cabem no bolso de um amplo
espectro de consumidores, incluindo
as parcelas com menor poder aquisi-
tivo, as que mais ganharam em renda
real desde setembro de 2008.
Tambémérepresentativoqueasem-
presas privadas de maior destaque nos
rankings tenham suas histórias ligadas
à região Sudeste do País, o que também
tem mudado com rapidez. Por sinal,
um ranking de marcas de 2015, certa-
mente, terá de incluir representantes
do Nordeste e Centro-Oeste.
Luiz Antonio Cintra
Ésintomático que as quatro primeiras
colocações dos rankings das mar-
cas estejam preenchidas por alguns dos
maioresgruposempresariaisbrasileiros,
líderes em vários segmentos dos negó-
cios em que atuam.
Bradesco, Itaú, Banco do Brasil e Pe-
trobras têm outra coisa em comum: to-
das estão no mercado, em posição de
destaque, há pelo menos meio século,
ou mais de dois, no caso do BB, cuja his-
tória se confunde com a do País.
A quadra de companhias também é
representativa do processo de forma-
ção do capitalismo brasileiro, apoiado
no tripé formado pelo capital privado
nacional, Estado e capital estrangeiro,
com peso grande para os dois primei-
ros, especialmente em setores estraté-
gicos como o financeiro e o petrolífero.
A ala privada da “tropa de elite” —
BradescoeItaú—tambémindicaopeso
considerável — alguns diriam exagera-
do — do sistema financeiro no conjun-
to da economia brasileira, herança em
boa medida do período de inflação alta
e persistente dos anos 80 e 90.
Com a estabilização e a retomada do
crescimento,aeconomiarealpassouaga-
voltam para as expectativas de seus con-
sumidores, reinventando o modelo de ad-
ministração em que as decisões partiam
exclusivamentedacúpuladaorganização.
NocasodaFiat,issosetornouumimpera-
tivo.“Todanossaestratégiadecomunicação
ébaseadaemformasdeinteraçãoparaescu-
taroqueopúblicoesperae,comisso,nortear
osprocessosinternos.Acreditamosqueessa
aproximaçãocriaumvínculocomamarca,
fazcomquecadaumsesintapartedonegó-
cioecriaumarelaçãodeconfiabilidadenos
produtoseserviços,oqueinfluenciadireta-
menteomomentodadecisãodecompra”,diz
JoãoBatistaCiaco,diretordepublicidadee
mar­ketingderelacionamentodamontadora.
Inovação
Mais do que ganhar market share —
atributo intimamente ligado à boa posi-
ção nos rankings de brand valuation —,
ganhar espaço no coração dos clientes é
umdesafio-chavequandosepensanaso-
brevivência de um negócio no longo pra-
zo. O posicionamento da empresa, então,
tende a se atrelar a valores tradicionais,
mais familiares aos consumidores e iden-
tificáveis em seu fundo emocional. Ou a
valores inovadores, que representam os
anseiosdeumadeterminadageraçãoque
ainda não foram supridos pelas marcas
pré-existentes.
O Santander é um exemplo dessa se-
gunda opção. Desde sua discreta chega-
da ao varejo brasileiro, em 1982, aos dias
de hoje, a empresa foi além dos predi-
cados de solidez e eficiência (esperados
de qualquer instituição financeira) para
constatar que “o mundo não precisa de
mais um banco”.
A postura progressista, evidentemente
intensificada após a compra da operação
do holandês ABN Amro Bank na América
Latina, então controlador do Banco Real,
deuresultado:ovalordamarcaSantander
deuumsaltode140%de2008para2009,de
acordo com o levantamento da Brand Fi-
nance/Superbrandspublicadoanopassa-
do.EchegouaexpressivosR$5,108bilhões.
“No segmento universitário, houve
uma complementação, com o Real vol-
tado para o público e o Santander, pa-
ra instituições de ensino e professores,
programas de bolsa para o exterior e in-
serção no mercado de trabalho”, diz Fer-
nando Martins, vice-presidente executi-
vo de marca, marketing e interatividade
do Santander desde 2008. Martins esta-
va no Real desde 1987 e acompanhou de
dentro o processo que levou os dois ban-
cos a caminharem “juntos”, outro mote da
campanha institucional.
Com a fusão concluída (em fevereiro
passado, houve a migração tecnológica
de mais de nove milhões de clientes para
a bandeira Santander), o banco tem entre
suas missões a de conquistar mais espaço
entre os brasileiros, já cotejados por em-
presas de renome e tradição. É quando
o branding e o brand valuation deverão
continuar a fazer toda a diferença, espe-
ra Martins. “Se a gente quiser gerenciar
para ter clientes satisfeitos e acionistas
com resultados acima da média, é pre-
ciso medir o valor da marca.”
Emoção
Por outro lado, o êxito de certas com-
panhias reside justamente na intimidade
histórica que mantêm com o público. Ü
Hugo Janeba, da Vivo: cada funcionário da empresa é um guardião da marca
PAULOMUMIA
Fernando Chacon, do Itaú: 300 “embaixadores”
PAULOMÚMIA
•  18  ABR  2011
80 marketing
Santander: o valor da marca deu um salto de 140% para chegar a R$ 5,1 bilhões
Campanha do Novo Uno, da Fiat: comunicação a partir da escuta dos consumidores
OPINIÃO
Porqueaestratégiadebranding
vaimuitoalémdapropaganda
Branding cria marcas fortes e vínculos emocionais e culturais.
E, principalmente, agrega valor e percepção de valor à marca
No ano passado, o Google foi considerado a
marca mais valiosa do mundo pelo BrandZ, o
índice desenvolvido pela “Millward Brown Opti-
mor” em conjunto com o jornal The Financial Ti-
mes, Bloomberg e Data Monitor. A marca Google
vale $114.260 por este índice, um dos dois mais
confiáveis do planeta.
O Google construiu sua marca por anos sem
investir um centavo em publicidade. Fez isso en-
tendendo exatamente o que ela representa na
mente das pessoas — o melhor e mais simples
buscador — e fazendo uma promessa consisten-
te: irá ajudá-las a encontrar tudo na internet, da
forma mais simples possível.
De fato, a missão do Google é “organizar a in-
formação do mundo e torná-la universalmente
acessível e útil”. Uma missão um tanto grandio-
sa, não? Para que isso seja posto em prática, sua
identidade­de marca precisa estar tão fortemente
disseminada e enraizada em sua cultura corpo-
rativa, que qualquer colaborador aja conforme o
“jeito Google de ser”. Até a arquitetura de seus es-
critórioseadinâmicadetrabalhoprecisamreme-
ter a esse tal jeito. Não apenas isso, mas é neces-
sário que a organização transpire estas atitudes,
em cada detalhe ou ponto de contato que qual-
quer pessoa tenha com a marca Google.
É claro que uma marca precisa comunicar o
que é e o que promete. E quanto mais criativa e
pertinente for sua campanha de comunicação,
mais chances terá de conseguir um espaçozi-
nho na mente e no coração de seu público. Mas
antes disso, uma marca precisa saber quem é, o
que representa e o que não quer representar na
mente das pessoas. Precisa saber com que tribo
quer conversar e como irá se diferenciar e posi-
cionar em um mercado cada vez mais concor-
rido e caótico do mundo em que vivemos hoje.
Um mundo de proliferação de produtos, on-
de copiar é prática usual e rápida.
Ummundoemquesomosbombardeadospor
mais de três mil mensagens comerciais por dia.
Um mundo cada vez mais veloz, onde o
McDonald’s, por exemplo, vangloria-se ao co-
municar que reduziu recentemente seu tempo
médio de entrega do pedido para 121 segundos
e que seu objetivo­é chegar a 90 segundos, as-
sim que instalar as etiquetas com códigos de ra-
diofrequencia.
Uma boa estratégia de branding inspira-se
na essência de marca e cuida de relacionamen-
tos. Do relacionamento da marca com seus pú-
blicos, em todos os pontos de contato. Afinal, a
mesma percepção deve ser transmitida a todos
que dela se aproximem.
Coerência e consistência são imperativas no
processo de branding. Uma boa estratégia de
branding gere os relacionamentos e atitudes
das pessoas que lidam com a marca, dentro
ou fora da empresa. Ela tem de disseminar a
essência e os valores da marca pela cultura da
organização e pelos colaboradores externos a
ela. Pelo resultado dos esforços dessa gestão
de intangíveis é que o branding cria confiança,
o maior atalho para a compra. Branding cria
marcas fortes e vínculos emocionais e cultu-
rais. E, principalmente, agrega valor e percep-
ção de valor à marca.
Se você estiver abrindo sua empresa hoje, te-
nha certeza de que o melhor investimento que
pode fazer é em estratégia de branding. Apenas
quando sua identidade de marca estiver muito
clara para todos os envolvidos e disseminada pa-
ra seus públicos é que seria recomendável partir
para sua expressão de marca por meio de uma
campanha de comunicação integrada.
BERENICE
RING
Sócia-diretora da
Fox Branding, é
coordenadora do
curso Branding:
Construção e Gestão
de Marcas, PEC-FGV.
É professora também
de cursos de MBA
da FGV nos temas
Branding, Inovação,
Planejamento
Estratégico da
Comunicação e
Megatendências
FOTOS:DIVULGAÇÃO
CasonotóriodaVolkswagen,noBrasildes-
de 1953. Àquela época, ainda totalmente
dependente de peças importadas da ma-
triz, vindas da Alemanha, era fabricado
o Fusca, primeiro de uma série de veícu-
los que ganhariam status emocional para
seus clientes fiéis, como ocorreu com os
modelos Gol e Kombi.
Herlander Zola, gerente de marketing
de automóveis da Volkswagen do Brasil,
reconhece a importância desse fator. “A
história de confiança é tão grande que,
até pelo próprio comportamento do bra-
sileiro, pesa a favor da marca. É comum
ver as pessoas tratando nossos produtos
como um xodó”, afirma.
MasnemporissoaVolksvivedopassa-
do.Atecnologiaéoutrovalorqueaempre-
sa procura associar a si mesma, como re-
flexo de seu pioneirismo ao fabricar e co-
mercializaroprimeiroveículototalflexdo
País (Gol 1.6), o primeiro motor 1.0 turbo
(Parati)e,maisrecentemente,oparkassist
comoTiguan,primeirocarroqueestaciona
sozinho,semqueomotoristauseasmãos.
O investimento em publicidade tam-
bém segue firme. “Talvez uma avaliação
técnicanãodetectariaumadiferençamui-
to grande entre os produtos no mercado
de montadoras, embora os da Volks te-
nham boa qualidade. No entanto, quan-
do se consegue ressaltar isso na comuni-
cação de forma clara e crível, cria-se um
diferencial”, diz Zola. Não por acaso, o se-
gundorankingmaiscongruentecomalis-
ta de marcas mais preciosas é o de maio-
res anunciantes, segundo consultores.
Ranking dos maiores anunciantes
2009 (em R$ mil)
Anunciante 2009
1 CASAS BAHIA 1.186.166
2 UNILEVER BRASIL 793.076
3 AMBEV 373.165
4 CAIXA (GFC) 350.279
5 BRADESCO 288.150
6 HYPERMARCAS 287.227
7 FIAT 256.052
8 HYUNDAI CAOA 228.269
9 PETROBRAS (GFC) 225.336
10 TIM BRASIL 220.421
Fonte: Agências & Anunciantes 2010

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Como a Lei dos Balanços Impacta o Valor das Marcas Brasileiras

  • 1. •  18  ABR  2011 70 marketing Todasasgrandesempresasseparecem. Masasempresasgrandiosas,essassão grandes cada uma à sua maneira. Diante do bom momento econômico vivido pelo País, as atenções do mundo recaem so- BRANDING ConviteàexcelênciaInclusão de ativos intangíveis de marcas em balanços de empresas, medida determinada por lei, é porta de entrada para o Brasil no rol das grandes economias internacionais Por JOSÉ GABRIEL NAVARRO jnavarro@grupomm.com.br GLOWIMAGENS bre companhias atuantes por aqui. E es- pecialmente sobre os motivos que as le- varam a ocupar posições de destaque no mercado brasileiro. Esse cenário levou à aprovação, em 2007, da Lei no 11.638, ins- pirada nos Padrões Internacionais de De- clarações Financeiras (IFRS, na sigla em inglês). Como esse sistema contábil é vá- lido para a União Europeia e ganha novos adeptos a cada ano (veja a tabela na pág. 71), a adoção dessas normas globais ali- nha o Brasil a boa parte das economias tradicionais. E permite uma análise mais amigávelparaosinvestidoresestrangeiros das companhias instaladas aqui.
  • 2. 18  ABR  2011 • 71 O aspecto mais inovador da lei, contu- do, é também o mais polêmico: empresas de capital aberto devem incluir em seus balanços contábeis o ativo intangível re- presentadopelasmarcasadquiridasapar- tir de 2010. “É supercontraditório, porque não parte do pressuposto de um método único de avaliação nem do princípio da separabilidade, ou seja, de que a marca tem vida própria”, dispara Luís­Eduardo Carvalho, sócio da Brands­& Values, con- sultoria pertencente ao Grupo Troiano de Branding. Para Eduardo Tomyia, diretor geral da BrandAnalytics, que opera no Brasil em parceria com a Millward Brown, no en- tanto, a nova lei está levando empresas a olhar com mais cuidado para as mar- cas sob diversos prismas, inclusive o da comunicação. “A grande demanda para a qual estamos sendo acionados é pa- ra quantificar o impacto de retorno em investimento de comunicação em lon- go prazo”, diz. Dentre afeiçoados e descontentes, fi- ca o consenso quanto ao movimento de adequação às necessidades do investi- dor cosmopolita. “A lei é a parte buro- crática de um processo maior. Ela ofi- cializa os ativos intangíveis como par- te das decisões estratégicas das com- panhias”, afirma Gilson Nunes, sócio e diretor da Brand Finance (responsável Prósecontrasda novaleidosbalanços Uma das críticas feitas por especialistas se refere ao fato de a Lei no 11.638 abranger apenas marcas adquiridas, ignorando aquelas “construídas na própria casa” — estas já seriam contempladas nos balanços quando se esmiúça os investimentos em publicidade. No entendimento de Roberto Zuanella, diretor comercial da Brands & Values, desprezar os nomes criados e consolidados por uma organização é especialmente ruim quando a marca é o ativo mais valioso da empresa. Esteéocaso,sobretudo,dasgrifes (queagregamvaloroferecendodesign ematérias-primassuperlativos,aponto defrequentementenãousaremsequer slogans)edasfarmacêuticas(que,além daspatentes,tambémcontabilizadas comoativosintangíveis,lidamcom fórmulasdecomumacessoparafabricar remédios,escolhidospelosconsumidores apenascombasenaconfiançaem determinadolaboratório). Já André Matias, gerente de estratégia e avaliação da Interbrand no Brasil, minimiza as reclamações. “A lei muda nosso trabalho em parte porque requer um brand valuation mais técnico. Mas não muda o projeto específico que construímos quando contratados por uma empresa”, afirma. Para o executivo, a procura das companhias por orientação diante da nova lei é uma forma de levá-las a aprimorar tanto marcas próprias como as eventualmente contraídas. As nações e a adoção das normais globais (IFRS) para declarações financeiras País Status para empresas Brasil Obrigatórios nas demonstrações financeiras de bancos e companhias de capital aberto datadas de 31 de dezembro de 2010 em diante África do Sul Obrigatórios desde 2005 para organizações listadas em bolsa Arábia Saudita Não permitidos para empresas de capital aberto Argentina Obrigatórios para anos fiscais iniciados em 1º de janeiro de 2011 Austrália Desde 2005 obrigatórios para todas as companhias do setor privado que emitem balanços, e servem de base para declarações do setor público Canadá Obrigatórios desde 1º de janeiro de 2011 para organizações listadas em bolsa, e opcionais para outras entidades privadas, inclusive as sem fins lucrativos China Os IFRS são considerados “substancialmente” em consonância com as normas nacionais Coreia do Sul Obrigatórios a partir de 2011 EUA Permitidos para empresas estrangeiras instaladas em território americano desde 2007. Espera-se que os EUA decidam este ano a adesão total aos IFRS Índia Está se adequando aos IFRS, mas ainda sem data definida para adoção oficial Indonésia Espera-se adesão total aos IFRS para o ano que vem Japão Permitidos desde 2010 para várias multinacionais. A decisão sobre a adesão oficial deve ocorrer ano que vem, para os IFRS entrarem em vigor a partir de 2016 México Obrigatórios a partir de 2012 Rússia Obrigatórios para as instituições financeiras e outros emissores de valores mobiliários; permitidos para outras companhias Turquia Obrigatórios para organizações de capital aberto desde 2008 União Europeia* Desde 2005 obrigatórios para todas as empresas listadas em bolsas nos países-membros por avaliações) e da Superbrands (res- ponsável por pesquisas). Bolha Com multa de 25% do valor da tran- sação para o caso de uma marca recém-­ adquirida não ser divulgada em balanço, a lei faz do ágio um pedaço da negocia- ção mais detalhado, o que contribui para evitar bolhas especulativas. Ou, nas pala- vras de Reginaldo Alexandre, presidente da Associação dos Analistas e Profissio- nais de Investimento do Mercado de Ca- pitais em São Paulo (Apimec-SP), “é mais transparente, mais abrangente, é um pas- so adiante. Isso tudo contribui para man- ter os parâmetros de mercado realistas. Evita disfunções de uma forma geral”. Alexandre até pensa que se deveria incluir o valor da própria marca em Ü FOTOLIA.COM Gilson Nunes, da Brand Finance e Superbrands, vê os ativos intangíveis como estratégicos GUSTAVOSCATENA * Alemanha, Áustria, Bélgica, Bulgária, Chipre, República Tcheca, Dinamarca, Eslováquia, Eslovênia, Espanha, Estônia, Finlândia, Fran- ça, Grécia, Hungria, Irlanda, Itália, Letônia, Lituânia, Luxemburgo, Malta, Países Baixos, Polônia, Portugal, Reino Unido, Romênia, Suécia Fonte: International Accounting Standards Board/ Abril de 2010
  • 3. •  18  ABR  2011 72 marketing Brandingalémdostempos O branding, como conhecido hoje, surgiu em um contexto de aumento vertiginoso da competição empresarial e de aceleração da globalização. No fim da década de 80, com os avanços na tecnologia de transferência de dados, o colapso das nações socialistas e a necessidade de enxugamento dos gastos públicos se tornando o novo norte político, as empresas se transnacionalizaram em busca de novos mercados e de menores custos de produção. Não por acaso, em 1988 foi feita a primeira avaliação de marca conhecida: a Interbrand calculou o valor do nome de um conglomerado britânico para que sua venda fosse realizada com base num preço (mais) justo. A filosofia de expansão econômica sustentada pela iniciativa privada ganhou força ao longo dos anos 90, quando obras como O Fim do Estado-Nação, lançada em 1996 pelo estrategista japonês Kenichi Ohmae, pregavam o livre mercado como fonte de riqueza num contexto globalizado. O livro previa inclusive a forte ascensão da China, graças a sua organização em polos de alta produtividade (como Xangai e Hong Kong, que lhe seria devolvida pelo Reino Unido em 1997). Enquanto isso, no Brasil, o reflexo balanço.“Oproblemaé:comoavaliar?Ava- liaçãodemarca,claro,temvariantesobjeti- vas,maslevaemcontacritériospróprios,o contexto, e acredito, pessoalmente, que se estabelecer um critério objetivo para uma marcainternaécomplicado,porqueasim- pressõesvariammuito.Nocasodasmarcas adquiridas,háumareferênciabásicaqueé oprópriovalordonegóciofechado.Éuma referência clara, um valor que o mercado atribui. Não deve haver um descompasso entre a opinião do mercado e a opinião de umaúnicaorganização”,ponderaoanalista. O debate ganha amplitude quando se voltaparaasdiferentesmaneirasdeseava- liar uma marca. As determinações da lei em relação a isso são vagas. O ISO 10668, que surgiu no ano passado, estabelece di- retrizesdequalidadeparaolevantamento deinformaçõesnahoraderealizarobrand valuation,masnãoimpõenenhumameto- dologia específica. Ainda está tão distan- te de um padrão quanto de atribuir total confiabilidade ao processo de avaliação. Metodologias Hoje,destacam-setrêsabordagensprin- cipais.Umadecusto,queprocuraconstatar a quantidade de verba necessária para se consolidar uma marca. Outra baseada em comparaçõesdomercado,naqualseavalia umamarcacombasenovalordeoutrasdo mesmosegmentoparachegaraumamédia. E, por último, a de geração de receita, a mais utilizada. Essa metodologia busca es- timarcomamaiorprecisãopossívelquanto da geração de valor de toda a empresa ad- vémdesuasmarcas.Porisso,acabacontri- buindo com a gestão da companhia como umtodo.ComodizAndréMatias,gerentede estratégia e avaliação da Interbrand: “Para calcularovalordamarcaeincluí-loemum balanço, há vários modos. Para fazer uma análiseetomardecisõesestratégicas,não”. Outra discrepância que chama a aten- ção é a existente entre os valores e os po- sicionamentos das marcas nos rankin- gs emitidos anualmente pelas principais consultorias. A falta de congruência é fá- cil de explicar: os rankings são feitos com base em informações públicas, além de dados de pesquisas realizadas pelas pró- prias consultorias ou por seus parceiros. Segundo os executivos da área ouvi- dos por Meio & Mensagem, o valor mais confiável de uma marca só pode ser al- cançado quando a empresa, ao contratar uma agência especializada, compartilha informações de caráter sigiloso. “No fundo, quem determina o valor é o mercado, pelo mecanismo de oferta e procura”, resume Ivan Pinto, professor de GestãodeMarcasnapós-graduaçãodaEs- cola Superior de Propaganda e Marketing em São Paulo (ESPM-SP). “O que conta é o poder de negociação das empresas en- volvidas, baseado na concorrência e no macroambiente (qual a tendência em re- lação aos hábitos de consumo do produ- to ou serviço em questão, por exemplo) para projetar quanto aquilo deve dar de retorno em curto, médio e longo prazos”. Um padrão é possível? Ainda assim, na hora de por tudo no papel, é impossível sentir-se 100% seguro quanto ao valor apontado por uma con- sultoria. José Luiz Trinta, coordenador de MBAs e CBAs do Instituto Brasileiro de MercadodeCapitaisnoRiodeJaneiro(Ib- mec-RJ), em seu doutorado naUSP, volta- do para a avaliação de marcas, chegou a uma daquelas bifurcações teóricas típicas dasciênciashumanas.Epercebeu:nãohá consenso. “A discussão relevante é como precificar,inclusiveporqueacontabilidade temregrasdedepreciaçãoparabensmate- riais, mas não para processos intangíveis.” Trinta acrescenta: “A marca é um ativo muito poderoso, mas que ninguém con- trola. Acredito que haverá um consenso. É necessário. Um padrão poderia anular os diferenciais entre uma consultoria e outra, a princípio, mas é preciso haver um padrão”, defende. Tomiya, da BrandAnalytics, pensa da mesma forma: “Tentar padronizar, in- clusive por meio das normas da ISO, é saudável, porque a falta de padrão pode comprometer todo um projeto”. Rankings Distante dos burburinhos gerados pela divulgaçãoderankings,aBrands&Values acreditaquenãopublicarlistasdemarcas mais valiosas é um passo importante para garantir sua reputação no meio. “Enten- demos que isso (publicar rankings) po- de aumentar o descrédito dos empresá- rios em nossos métodos de pesquisa. Só lidamos com as empresas que nos con- tratam e obedecemos rigorosamente os contratos de sigilo. Nossa metodologia é detalhada o bastante para se ter confian- ça nos resultados obtidos”, diz Zuanella. De fato, ainda que figurar entre as mar- castopspossaenvaidecerempresáriossen- síveisaisso,ascompanhiasqueocupamo topodessaslistastêmemcomumofatode jásepreocuparemcomsuasmarcasmuito tempo antes da entrada em vigor da nova legislação.Atentas,asempresasmaisexpe- rientes radiografam a clientela, ao mesmo tempo que monitoram os investidores. da nova ordem mundial na área de marketing se traduzia, por exemplo, no artigo “Na esquina da Madison Avenue e Wall Street”, assinado por Jaime Troiano e pelo professor Ivan Pinto, da ESPM – São Paulo, em 1993. Ao aludir aos dois endereços da ilha nova-iorquina de Manhattan — o primeiro, logradouro das principais agências de publicidade norte- americanas, na verdade não faz esquina com o segundo, abrigo da bolsa de valores mais importante do planeta —, o título alertava: mais que dar clareza aos negócios das companhias, o brand valuation era essencial para uma relação sólida e sustentável com investidores. “A queda das extremas direitas e das extremas esquerdas abriu espaço maior para a democracia, deixou o mercado mais acirrado, fazendo com que a diferenciação fosse mais exigida. A importância do valor do nome do produto ou serviço, com todas as implicações racionais e emocionais vindas dele, teve um crescimento brutal nas estratégias das empresas”, recorda Ivan Pinto. Vale lembrar também que, nessa época, o País apenas começava reabertura econômica (1990-1992). O modelo do livre mercado, porém, entrou em desajuste com a crise desencadeada em setembro de 2008. Bancos centenários pediam que o governo comprasse seus papéis podres, montadoras seculares imploravam para que Barack Obama as ajudasse a saldar dívidas monumentais e, ao mesmo tempo que o crash reverberava de seu epicentro nos Estados Unidos em direção ao resto do mundo, se esboçava a ideia generalizada de que é preciso “reconstruir o capitalismo”. Mas nem de longe esse pensamento ou a própria crise foi capaz de diminuir a importância do branding. Ao contrário, foram as marcas que apresentaram mais fortes diferenciais perante o público (além, claro, de boa saúde financeira) que conseguiram se sobressair em meio ao cenário de tensão global. “No momento de crise, o consumidor tende a optar pelo que é mais seguro. E quem pode oferecer a ele mais dessa segurança tem a vantagem”, diz Herlander Zola, gerente de marketing de automóveis da Volkswagen do Brasil, para quem a confiança do brasileiro na marca de automóveis vinda da Alemanha foi essencial para a performance positiva no período pós- crash. Como resultado, atualmente o Brasil é o segundo país para a montadora em termos de volume de venda, perdendo somente para a China. O Santander, cujo investimento em branding fez o banco sair da lanterna dentre os concorrentes espanhóis para o primeiro lugar na Zona do Euro, é outro que surfa nas aquecidas águas da economia brasileira. “O Brasil é nosso principal mercado hoje”, afirma Fernando Martins, vice-presidente executivo de marca do banco. A crise de 2008 levou Obama a socorrer os grandes bancos com dinheiro público Ivan Pinto, da ESPM: “No fundo, é o mercado que define o valor” Eduardo Tomyia, da BrandAnalytics: “Tentar padronizar é saudável” DIVULGAÇÃO/VALTERCAMPANATO/ABR DIVULGAÇÃO DIVULGAÇÃO/BRANDANALYTICS
  • 4. 18  ABR  2011 • 73 Além de equipa- rar a contabilida- de nacional à dos países ricos, a Lei no 11.638/07veioaoen- contro de uma reali- dade já consolidada no meio corporativo. As companhias de capital aberto têm tradição em avaliar e usar o valor de suas­marcas para fins de administração estratégica. Um dos exem- plos mais significativos é a Petrobras, pre- senteemtodososrankingscomoumadas quatro marcas mais valiosas do País (ver tabela com outros ranqueados pelas três principais consultorias do Brasil). Comoatualplanodenegóciospreven- do ações até o ano de 2014, a companhia petrolífera aplica táticas de transmissão de valores tanto no varejo, por meio da BRANDING Consumidor nocomando Para as companhias de capital aberto, avaliar e usar o valor das marcas é estratégico Por JOSÉ GABRIEL NAVARRO jnavarro@grupomm.com.br rede de postos de abastecimento, como em sua atuação institucional, que inclui investimentos em alta tecnologia e pros- pecção de novas fontes de combustível. Para completar, patrocina projetos cultu- rais e iniciativas associadas a um modo de vida sustentável, como ONGs dedica- das à preservação da natureza e campeo­ natos de surfe. “Investir na marca é buscar sempre o respeito da sociedade”, resume Eduar- do Felberg, gerente de imagem corpo- rativa e marcas da Petrobras. Nesse ra- mo, apresentar-se como ligado ao am- biente natural é um recurso de comu- nicação decisivo diante da possibilida- de de acidentes catastróficos, como o ocorrido no Golfo do México em 22 de abril do ano passado, quando uma man- cha de milhões de barris de óleo man- multidisciplinar de 300 “embaixadores” da marca. “A legislação só veio reforçar uma visão que já tínhamos de longa da- ta”, confirma Fernando Chacon, diretor- executivo de marketing do ItaúUnibanco. O Banco do Brasil, que nos últimos anos passou a aumentar sua presença in- ternacional, em especial na América La- tina e nos EUA, tem procurado se ajustar integralmente aos padrões globais. Dentro do prazo estipulado pelo Ban- co Central até este mês para que institui- ções financeiras publicassem balanços conforme as diretrizes dos IFRS, o BB es- tá desenvolvendo não só uma metodolo- gia própria de brand valuation, com su- porte de uma consultoria especializada, como um mecanismo de análise de ris- co de imagem, segundo comunicado ofi- cial. Paralelamente, a empresa também está se alinhando ao Basileia II, acordo internacional de contabilidade bancária firmado em 2004. Guardião No caso da Vivo, player de outra sea­ ra na qual a concorrência acirrada requer constante supervisão e revisão de posi- cionamentos, a manutenção do nome da empresa está no cotidiano de todos que fazem parte dela. A operadora de telefo- niamóvelconsideracadaumdeseusfun- cionários um guardião da marca, em que o processo de agregar atributos passa pe- los recursos humanos bem treinados que uma companhia deve dispor. “Dessa forma, constrói-se um jeito de ser e de fazer que uniformiza o conjunto dasaçõesdebrandingemtornodasuaes- sência,construindoamarca,aumentando oseuvaloregerandobenefíciosatodosos públicos”, afirma Hugo Janeba, vice-presi- dente de marketing e inovação da Vivo. Todas essas organizações se ÜPara Volkswagen, a tecnologia é um valor que a empresa procura associar a si. E a publicidade reforça isso, como na campanha do Tiguan chou a reputação da British Petroleum. As instituições financeiras também fa- zem investimentos expressivos na manu- tenção de suas marcas — patrimônios valiosíssimos em um mercado compe- titivo por natureza. O Itaú, também fre- quentador assíduo da elite dos rankings de brand valuation, aposta há mais de 30 anos em uma marca monolítica capaz de abarcar todos os diferentes produtos e serviços que oferece. E sustenta essa es- colha a partir da atuação de três grandes equipes de marketing: institucional, de negócios e estratégico, além de um timeDIVULGAÇÃO Petrobras e o Projeto Tamar: em busca do respeito da sociedade DIVULGAÇÃO
  • 5. •  18  ABR  2011 74 marketing As marcas brasileiras mais valiosas BrandAnalytics/Millward Brown Interbrand Brand Finance/Superbrands Marca R$ bilhões Marca R$ bilhões Marca R$ bilhões 1ª Petrobras 19,27 Itaú 20,65 Bradesco 23,14 2ª Bradesco 14,85 Bradesco 12,38 Itaú 12,03 3ª Itaú 13,29 Petrobras 10,80 Banco do Brasil 11,6 4ª Banco do Brasil 11,02 Banco do Brasil 10,49 Petrobras 9,73 5ª Natura 6,1 Skol 6,59 Vivo 7,63 6ª Skol 5,42 Natura 4,65 Oi/Telemar 7,56 7ª Brahma 2,5 Brahma 3,6 Casas Bahia 7,2 8ª Perdigão 2,06 Antarctica 1,75 Caixa Econômica Federal 7,05 9ª Casas Bahia 1,89 Vivo 1,46 Carrefour 6,46 10ª Sadia 1,62 Renner 0,78 Fiat* 6,44 11ª Vivo 1,61 Embratel 0, 73 Walmart 6,23 12ª Unibanco 1,58 Banrisul 0,64 Volkswagen* 5,889 13ª Oi 1,53 Lojas Americanas 0,6 General Motors/Chevrolet* 5,886 14ª Vale 1,39 Cyrela 0,54 Nestlé* 5,63 15ª Antarctica 1,07 Oi 0,47 Ambev* 5,48 16ª Net 0,88 Braskem 0, 44 Ultrapar* 5,46 17ª Lojas Americanas 0,85 Tam 0,34 Santander 5,1 18ª Embratel 0,8 Net 0,29 Pão de Açúcar* 4,83 19ª Redecard 0,74 Marisa 0, 19 Ford* 4,03 20ª Cielo 0,73 Hering 0,14 Unilever* 4,02 FOTOLIA.COM *House of Brands: empresas que possuem uma ou mais marcas de produtos/ serviços, além da marca corporativa. São consideradas todas as marcas, desde produto/serviço até a própria marca corporativa. Em alguns casos, como Ambev, a marca corporativa tem um valor pequeno; em outros, como Nestlé, tem um valor elevado. Fontes: BrandAnalytics/Millward Brown, Interbrand e Brand Finance/Superbrands; edições 2010, relativas a 2009
  • 6. 18  ABR  2011 • 77 ANÁLISE Qualseráamarcamais valiosaem2020? nharritmoeaconcentrarinvestimentos, com base no maior poder de consumo do mercado doméstico. Como não são bobos, os bancos e fundos foram atrás desse movimento, ampliando os inves- timentos produtivos — o caso de Jorge PauloLemanneAmbevéexemplardes- sa tendência. Assim, também é significativo des- se movimento que o pelotão das dez marcas de maior valor tenha passado a incluir, cada vez com maior destaque, companhias como Natura, Perdigão, Casas Bahia, Skol e Renner. Essas “empresonas” vendem produ- tos que cabem no bolso de um amplo espectro de consumidores, incluindo as parcelas com menor poder aquisi- tivo, as que mais ganharam em renda real desde setembro de 2008. Tambémérepresentativoqueasem- presas privadas de maior destaque nos rankings tenham suas histórias ligadas à região Sudeste do País, o que também tem mudado com rapidez. Por sinal, um ranking de marcas de 2015, certa- mente, terá de incluir representantes do Nordeste e Centro-Oeste. Luiz Antonio Cintra Ésintomático que as quatro primeiras colocações dos rankings das mar- cas estejam preenchidas por alguns dos maioresgruposempresariaisbrasileiros, líderes em vários segmentos dos negó- cios em que atuam. Bradesco, Itaú, Banco do Brasil e Pe- trobras têm outra coisa em comum: to- das estão no mercado, em posição de destaque, há pelo menos meio século, ou mais de dois, no caso do BB, cuja his- tória se confunde com a do País. A quadra de companhias também é representativa do processo de forma- ção do capitalismo brasileiro, apoiado no tripé formado pelo capital privado nacional, Estado e capital estrangeiro, com peso grande para os dois primei- ros, especialmente em setores estraté- gicos como o financeiro e o petrolífero. A ala privada da “tropa de elite” — BradescoeItaú—tambémindicaopeso considerável — alguns diriam exagera- do — do sistema financeiro no conjun- to da economia brasileira, herança em boa medida do período de inflação alta e persistente dos anos 80 e 90. Com a estabilização e a retomada do crescimento,aeconomiarealpassouaga- voltam para as expectativas de seus con- sumidores, reinventando o modelo de ad- ministração em que as decisões partiam exclusivamentedacúpuladaorganização. NocasodaFiat,issosetornouumimpera- tivo.“Todanossaestratégiadecomunicação ébaseadaemformasdeinteraçãoparaescu- taroqueopúblicoesperae,comisso,nortear osprocessosinternos.Acreditamosqueessa aproximaçãocriaumvínculocomamarca, fazcomquecadaumsesintapartedonegó- cioecriaumarelaçãodeconfiabilidadenos produtoseserviços,oqueinfluenciadireta- menteomomentodadecisãodecompra”,diz JoãoBatistaCiaco,diretordepublicidadee mar­ketingderelacionamentodamontadora. Inovação Mais do que ganhar market share — atributo intimamente ligado à boa posi- ção nos rankings de brand valuation —, ganhar espaço no coração dos clientes é umdesafio-chavequandosepensanaso- brevivência de um negócio no longo pra- zo. O posicionamento da empresa, então, tende a se atrelar a valores tradicionais, mais familiares aos consumidores e iden- tificáveis em seu fundo emocional. Ou a valores inovadores, que representam os anseiosdeumadeterminadageraçãoque ainda não foram supridos pelas marcas pré-existentes. O Santander é um exemplo dessa se- gunda opção. Desde sua discreta chega- da ao varejo brasileiro, em 1982, aos dias de hoje, a empresa foi além dos predi- cados de solidez e eficiência (esperados de qualquer instituição financeira) para constatar que “o mundo não precisa de mais um banco”. A postura progressista, evidentemente intensificada após a compra da operação do holandês ABN Amro Bank na América Latina, então controlador do Banco Real, deuresultado:ovalordamarcaSantander deuumsaltode140%de2008para2009,de acordo com o levantamento da Brand Fi- nance/Superbrandspublicadoanopassa- do.EchegouaexpressivosR$5,108bilhões. “No segmento universitário, houve uma complementação, com o Real vol- tado para o público e o Santander, pa- ra instituições de ensino e professores, programas de bolsa para o exterior e in- serção no mercado de trabalho”, diz Fer- nando Martins, vice-presidente executi- vo de marca, marketing e interatividade do Santander desde 2008. Martins esta- va no Real desde 1987 e acompanhou de dentro o processo que levou os dois ban- cos a caminharem “juntos”, outro mote da campanha institucional. Com a fusão concluída (em fevereiro passado, houve a migração tecnológica de mais de nove milhões de clientes para a bandeira Santander), o banco tem entre suas missões a de conquistar mais espaço entre os brasileiros, já cotejados por em- presas de renome e tradição. É quando o branding e o brand valuation deverão continuar a fazer toda a diferença, espe- ra Martins. “Se a gente quiser gerenciar para ter clientes satisfeitos e acionistas com resultados acima da média, é pre- ciso medir o valor da marca.” Emoção Por outro lado, o êxito de certas com- panhias reside justamente na intimidade histórica que mantêm com o público. Ü Hugo Janeba, da Vivo: cada funcionário da empresa é um guardião da marca PAULOMUMIA Fernando Chacon, do Itaú: 300 “embaixadores” PAULOMÚMIA
  • 7. •  18  ABR  2011 80 marketing Santander: o valor da marca deu um salto de 140% para chegar a R$ 5,1 bilhões Campanha do Novo Uno, da Fiat: comunicação a partir da escuta dos consumidores OPINIÃO Porqueaestratégiadebranding vaimuitoalémdapropaganda Branding cria marcas fortes e vínculos emocionais e culturais. E, principalmente, agrega valor e percepção de valor à marca No ano passado, o Google foi considerado a marca mais valiosa do mundo pelo BrandZ, o índice desenvolvido pela “Millward Brown Opti- mor” em conjunto com o jornal The Financial Ti- mes, Bloomberg e Data Monitor. A marca Google vale $114.260 por este índice, um dos dois mais confiáveis do planeta. O Google construiu sua marca por anos sem investir um centavo em publicidade. Fez isso en- tendendo exatamente o que ela representa na mente das pessoas — o melhor e mais simples buscador — e fazendo uma promessa consisten- te: irá ajudá-las a encontrar tudo na internet, da forma mais simples possível. De fato, a missão do Google é “organizar a in- formação do mundo e torná-la universalmente acessível e útil”. Uma missão um tanto grandio- sa, não? Para que isso seja posto em prática, sua identidade­de marca precisa estar tão fortemente disseminada e enraizada em sua cultura corpo- rativa, que qualquer colaborador aja conforme o “jeito Google de ser”. Até a arquitetura de seus es- critórioseadinâmicadetrabalhoprecisamreme- ter a esse tal jeito. Não apenas isso, mas é neces- sário que a organização transpire estas atitudes, em cada detalhe ou ponto de contato que qual- quer pessoa tenha com a marca Google. É claro que uma marca precisa comunicar o que é e o que promete. E quanto mais criativa e pertinente for sua campanha de comunicação, mais chances terá de conseguir um espaçozi- nho na mente e no coração de seu público. Mas antes disso, uma marca precisa saber quem é, o que representa e o que não quer representar na mente das pessoas. Precisa saber com que tribo quer conversar e como irá se diferenciar e posi- cionar em um mercado cada vez mais concor- rido e caótico do mundo em que vivemos hoje. Um mundo de proliferação de produtos, on- de copiar é prática usual e rápida. Ummundoemquesomosbombardeadospor mais de três mil mensagens comerciais por dia. Um mundo cada vez mais veloz, onde o McDonald’s, por exemplo, vangloria-se ao co- municar que reduziu recentemente seu tempo médio de entrega do pedido para 121 segundos e que seu objetivo­é chegar a 90 segundos, as- sim que instalar as etiquetas com códigos de ra- diofrequencia. Uma boa estratégia de branding inspira-se na essência de marca e cuida de relacionamen- tos. Do relacionamento da marca com seus pú- blicos, em todos os pontos de contato. Afinal, a mesma percepção deve ser transmitida a todos que dela se aproximem. Coerência e consistência são imperativas no processo de branding. Uma boa estratégia de branding gere os relacionamentos e atitudes das pessoas que lidam com a marca, dentro ou fora da empresa. Ela tem de disseminar a essência e os valores da marca pela cultura da organização e pelos colaboradores externos a ela. Pelo resultado dos esforços dessa gestão de intangíveis é que o branding cria confiança, o maior atalho para a compra. Branding cria marcas fortes e vínculos emocionais e cultu- rais. E, principalmente, agrega valor e percep- ção de valor à marca. Se você estiver abrindo sua empresa hoje, te- nha certeza de que o melhor investimento que pode fazer é em estratégia de branding. Apenas quando sua identidade de marca estiver muito clara para todos os envolvidos e disseminada pa- ra seus públicos é que seria recomendável partir para sua expressão de marca por meio de uma campanha de comunicação integrada. BERENICE RING Sócia-diretora da Fox Branding, é coordenadora do curso Branding: Construção e Gestão de Marcas, PEC-FGV. É professora também de cursos de MBA da FGV nos temas Branding, Inovação, Planejamento Estratégico da Comunicação e Megatendências FOTOS:DIVULGAÇÃO CasonotóriodaVolkswagen,noBrasildes- de 1953. Àquela época, ainda totalmente dependente de peças importadas da ma- triz, vindas da Alemanha, era fabricado o Fusca, primeiro de uma série de veícu- los que ganhariam status emocional para seus clientes fiéis, como ocorreu com os modelos Gol e Kombi. Herlander Zola, gerente de marketing de automóveis da Volkswagen do Brasil, reconhece a importância desse fator. “A história de confiança é tão grande que, até pelo próprio comportamento do bra- sileiro, pesa a favor da marca. É comum ver as pessoas tratando nossos produtos como um xodó”, afirma. MasnemporissoaVolksvivedopassa- do.Atecnologiaéoutrovalorqueaempre- sa procura associar a si mesma, como re- flexo de seu pioneirismo ao fabricar e co- mercializaroprimeiroveículototalflexdo País (Gol 1.6), o primeiro motor 1.0 turbo (Parati)e,maisrecentemente,oparkassist comoTiguan,primeirocarroqueestaciona sozinho,semqueomotoristauseasmãos. O investimento em publicidade tam- bém segue firme. “Talvez uma avaliação técnicanãodetectariaumadiferençamui- to grande entre os produtos no mercado de montadoras, embora os da Volks te- nham boa qualidade. No entanto, quan- do se consegue ressaltar isso na comuni- cação de forma clara e crível, cria-se um diferencial”, diz Zola. Não por acaso, o se- gundorankingmaiscongruentecomalis- ta de marcas mais preciosas é o de maio- res anunciantes, segundo consultores. Ranking dos maiores anunciantes 2009 (em R$ mil) Anunciante 2009 1 CASAS BAHIA 1.186.166 2 UNILEVER BRASIL 793.076 3 AMBEV 373.165 4 CAIXA (GFC) 350.279 5 BRADESCO 288.150 6 HYPERMARCAS 287.227 7 FIAT 256.052 8 HYUNDAI CAOA 228.269 9 PETROBRAS (GFC) 225.336 10 TIM BRASIL 220.421 Fonte: Agências & Anunciantes 2010