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ENSINO OSTENSIVO EM AMBIENTES DE APRENDIZAGEM
        GERADOS PELO PROCESSO DE MODELAGEM

                                                                  Marcelo de Sousa Oliveira
                                                        Universidade Federal do Pará - UFPA
                                                                         moliveira@ufpa.br


Resumo
O interesse pela psicologia discursiva na Educação Matemática está consolidado desde os anos
noventa, vindo, recentemente a despertar também interesse entre os pesquisadores em
Modelagem Matemática. Este trabalho focaliza este tema emergente na agenda de pesquisa em
Modelagem Matemática, a saber, as práticas discursivas dos alunos e do professor. O tema
focalizado busca novas compreensões teóricas para as práticas dos alunos nos ambientes de
aprendizagem gerados pelo processo de modelagem. Objetiva-se aqui estudar os fenômenos da
linguagem em termos primitivos, que segundo Wittgenstein, trata-se de um treinamento, pois as
crianças são educadas para executar certas atividades e para reagir às palavras dos outros,
ressaltando uma parte importante desse treinamento, que consiste no fato de que quem ensina,
mostra os objetos, chama a atenção da criança para eles, pronunciando uma palavra. A esse
processo ele dá o nome de ensino ostensivo, pois estabelece uma ligação associativa entre a
palavra (a representação) e a coisa (o objeto). Esse conceito da filosofia de Wittgenstein
constitui o referencial teórico deste estudo. A pesquisa foi realizada em uma Escola de
Aplicação da Rede Federal de Ensino – NPI, numa turma de 5ª série composta de 25 alunos
com idade entre 10 e 16 anos e se caracterizou como qualitativa. A discussão empreendida nos
aponta que o ensino ostensivo é um recurso utilizado no decorrer do processo de modelagem,
como forma de favorecer a comunicação entre o professor e seus alunos, auxiliando na
produção de sentido da linguagem matemática.

Palavras-chave: Ensino ostensivo; Modelagem Matemática; Comunicação.

1 Introdução

       Em 2006, Kaiser e Sriramam identificaram a configuração das perspectivas
psicológicas no campo da Modelagem. Desde os anos noventa pode-se observar o
interesse dos pesquisadores em Educação Matemática pela Psicologia Discursiva, vindo
recentemente a ter suas repercussões entre os pesquisadores em Modelagem. Este
trabalho enquadra-se nesse movimento.

       O interesse por essa temática é decorrente, primordialmente, da inquietação
provocada pela dificuldade de comunicação que eu sentia quando trabalhava na
Educação Básica, sobretudo nos anos que antecederam o meu ingresso no Curso de
Mestrado em 2008. A partir do meu trabalho de Dissertação (OLIVEIRA, 2010a) tenho
me empenhado em dar continuidade ao estudo realizado naquela pesquisa.

       Em minha prática docente, outra questão me incomodava além do problema de
comunicação: a questão metodológica. A modelagem matemática foi a tendência que
mais me chamou a atenção, por isso, passei a utilizá-la de forma bem tímida, em função
da inexperiência1, o que me motivou a buscar compreensões teóricas e práticas a
respeito. Daí, o interesse pela perspectiva discursiva.

       A finalidade desta investigação é buscar compreensões a respeito do uso de um
recurso bastante utilizado pelo professor de matemática para facilitar a comunicação
com seus alunos, a saber, a prática de ensinar mostrando os objetos e, ao mesmo tempo,
pronunciando as palavras ou fazendo gestos com as mãos, com o objetivo de fazer com
que a criança ao ouvir a palavra, venha à sua mente a imagem do objeto. Esse processo
é denominado por Wittgenstein (1999) de ensino ostensivo, que segundo o filósofo
efetiva a compreensão da palavra, evitando obstáculos para a comunicação.

       Segundo o autor, em oposição ao caráter referencial da linguagem e a um
processo mental/intuitivo, os jogos de linguagem pressupõem manifestações externas à
referência, tais como: expressões corporais, entonação da voz, olhares,..., ou seja,
elementos ligados aos modos do contexto de que participam. Esse recurso pretende
favorecer a máxima de Wittgenstein (1999, p.29), “um parceiro enuncia as palavras, o
outro age de acordo com elas”, ou seja, quando o professor pronunciar as palavras
(apontando os objetos), o aluno poderá ter acesso ao sentido que já está previamente
fixado pela lógica da matemática, e agir de acordo com a regra.

       Diante do exposto, apresento a questão a ser respondida pela presente pesquisa:
Como o ensino ostensivo pode contribuir com o processo de comunicação em
ambientes de aprendizagem gerados pelo processo de modelagem matemática?



2 A filosofia de Wittgenstein

2.1 Jogos de linguagem

       Para exemplificar o que são os jogos de linguagem, Wittgenstein (1999) recorre
a um exemplo em que a significação não se esgota na referência. Quando um construtor


       1
           O que não me impediu de perceber o potencial pedagógico da modelagem.
grita ao seu ajudante, “lajota”, este entende “traga-me uma lajota”, a linguagem
enquanto recurso que os indivíduos utilizam para viabilizar a comunicação vai além da
mera referência do objeto e de seu referente lingüístico.

       O ajudante, ao interpretar as palavras emitidas pelo construtor, produz o sentido
que coincide com o sentido implícito na frase. Pode-se afirmar que eles participam de
um mesmo universo discursivo ou, que a linguagem não se desvincula das atividades
que fazem parte da forma de vida dos sujeitos que estão inseridos no jogo de linguagem.

       Em situações de ensino-aprendizagem de matemática, constantemente perde-se
o sentido das proposições, pois, apesar de algumas expressões fazerem parte desse
universo, nem sempre as proposições fazem sentido, ou pelo menos não podemos
reconhecê-lo imediatamente. Daí, a ruptura na comunicação entre o professor e seus
alunos ao dialogarem a respeito da matemática, com sua linguagem específica.

       A comparação da linguagem a um jogo é bastante pertinente. Participa de um
jogo, quem conhece suas regras e as pratica jogando. Na práxis do uso da linguagem,
um sujeito pronuncia as palavras e o seu interlocutor age de acordo com elas
(WITTGENSTEIN, 1999). A comunicação acontece de acordo com o uso que se faz da
linguagem no contexto social em que ela se encontra.

       Por exemplo, os numerais podem assumir variadas significações conforme os
jogos de linguagem de que participam: podem representar quantidades, um
código/número de telefone, uma data, a idade de uma pessoa, etc., aqui o número não
deve assumir um significado unívoco, em que se tenta fazer um uso relacional dele, mas
seus usos de diferentes e variadas maneiras (OLIVEIRA, 2010a).

       No entanto, ao participar de um jogo de linguagem, o aluno usa palavras de
domínio público, porém carregadas de sentidos seus, que estão de acordo com seus
sentimentos, percepções, sensações e experiências vivenciadas. Esses sentidos só
podem ser conhecidos se o aluno externá-los através da fala.



2.2 Ruptura comunicacional

       Não raramente podemos observar em situações de ensino-aprendizagem,
exemplos de quebra na comunicação. Possivelmente a linguagem utilizada tem
dificultado uma comunicação mais efetiva causando momentos de ruptura no processo
comunicativo. Por outro lado, os interlocutores da interação buscam sentido no discurso
uns dos outros, no caso educacional, os alunos buscam esse entendimento da fala do
professor e o professor por sua vez busca interpretar os sentidos externados pelos
alunos.

          É nesse ponto de discussão que queremos focalizar as idéias de Wittgenstein.
Porto (2002) apresenta um exemplo de intercâmbio lingüístico envolvendo os sujeitos
João e Maria em torno da situação em que João perde seus óculos. Ao ser indagada por
João sobre o paradeiro de seus óculos, Maria poderia dar respostas que João poderia
classificar como afirmações falsas (mas com sentido) ou afirmações absurdas (que
poderiam ser descartadas imediatamente).

          Se Maria respondesse “os óculos estão dentro do armário”, João poderia
interpretar que ainda que os óculos não estivessem naquele momento dentro do armário,
eles poderiam ter estado lá. A afirmação poderia ser falsa, no entanto, por ter sentido,
poderia ser considerada.

          No caso de afirmações absurdas, João poderia ouvir de Maria que: “seus óculos
estão dentro da caixa de fósforos”. E nesse caso estaria muito inclinado em descartar a
situação proposta por Maria como sendo impossível.

          Numa terceira situação, Maria responde a João que: “seus óculos estão no
prego”. João estranha a resposta, mas num esforço em compreender o sentido da
afirmação pergunta a Maria se ela quis dizer “na loja de penhores”, rejeitando a
interpretação de “prego” como sendo “um utensílio pontiagudo usado para a fixação de
madeira e, tomando a afirmação de Maria como absurda, teve outro desfecho. Neste
caso, a situação de ruptura comunicacional foi evitada por que João tentou adentrar no
campo intersubjetivo do intercâmbio lingüístico, tendo acesso ao sentido da afirmação
de Maria.

          Segundo Porto (2002), apoiado em Quine (1969), muitas vezes, no interesse de
restaurar a comunicação com os parceiros de linguagem, o sujeito aplica um “princípio
de caridade interpretativa” e altera a estrutura dos enunciados de seus interlocutores,
com o interesse de não romper a comunicação. No caso de João, no interesse de salvar o
sentido do enunciado de Maria, bem como a comunicação entre os dois, se permitiu
reestruturar sua resposta. Para ele, tudo acabou como se realmente Maria tivesse dito:
“seus óculos foram levados à loja de penhores”.

          Wittgenstein (1999) afirma que, no sentido de manter a comunicação, deve
sempre perguntar: esta palavra é realmente sempre usada assim na linguagem na qual
tem o seu torrão natal? A indagação nos induz a reconduzir as palavras do seu emprego
metafísico de volta ao seu emprego cotidiano. Para Wittgenstein, quando:



                        Alguém me diz: “Você compreende esta expressão? Ora, eu também a
                        uso na significação que você conhece”. Como se a significação fosse
                        uma espécie de halo que a palavra leva consigo e que fica com ela em
                        qualquer emprego.
                        Quando, por exemplo, alguém diz que a frase “isto está aqui (e,
                        pronunciando-a, aponta para um objeto) tem sentido para ele, então se
                        deveria perguntar em que circunstâncias particulares emprega-se de
                        fato essa frase. Nestas ela tem sentido. (p. 66, § 117).



       A busca desses sentidos (intersubjetivos) é condição essencial para se evitar a
ruptura comunicacional entre os sujeitos da interação.



2.3 Ensino ostensivo

        Nas Investigações Filosóficas, Wittgenstein faz uma crítica ao sistema
referencial da linguagem, afirmando que esse sistema não é tudo o que chamamos de
linguagem. Argumenta:



                         Quem descreve o aprendizado da linguagem desse modo, pensa, pelo
                         menos acredito, primeiramente em substantivos tais como ‘mesa’,
                         ‘cadeira’, ‘pão’, em nomes de pessoas, e apenas em segundo lugar em
                         nomes de certas atividades e qualidades, e nas restantes espécies de
                         palavras como algo que se terminará por encontrar.
                         (WITTGENSTEIN, 1999, §1, p.28-29).


       Para o filósofo, a concepção referencial é um modelo no qual as palavras tem
significação porque se colam como etiquetas às suas referências, ou por outras palavras, a
significação seria o objeto que a palavra substitui. Evidentemente, esse processo de etiquetagem
dos objetos não basta para que se possa dar conta de tudo o que pode ser feito através da
linguagem. Wittgenstein assevera que se trata de uma forma primitiva de linguagem.

       Wittgenstein, então, discute o processo que ele denomina de ensino ostensivo, que
conforme suas descrições trata-se do ato de pronunciar uma palavra e apontar para um objeto.
Nesse processo, são ensinadas as regras em geral, e em particular, quais são as regras que
permitem introduzir os modelos para as aplicações das palavras.
Em sala de aula, é muito utilizada pelo professor, uma ação acompanhada pela fala. Ele
mostra por meio de gestos o que é difícil mostrar somente por meio de palavras. Por ser
desprovida de oralidade, a linguagem formal da matemática pode criar obstáculos para a
compreensão, por exemplo, quando o professor fala “x mais y ao quadrado”, os alunos podem
pensar nas expressões                 ou         , pois a expressão na oralidade é ambígua, logo
necessita do ato de mostrar por meio da escrita.

        Segundo o autor, por ser recorrente esse processo entre os homens, o ensino ostensivo
se configura como uma parte importante do treinamento, pois estabelece uma ligação
associativa entre a palavra e a coisa, ou seja, “quando a criança ouve a palavra, a imagem da
coisa surge perante seu espírito” (WITTGENSTEIN, 1999), no entanto, essa associação é
apenas uma preparação para formas mais complexas de uso das palavras.

        Conforme Moreno (2000, p.69), quando partimos para além de apenas ensinar
ostensivamente, passando a definir ostensivamente uma palavra, se faz necessário um
conhecimento suplementar: “é preciso que se conheça o suporte, o aspecto da referência sobre a
qual é colocada a etiqueta”. E exemplifica:



                           Quando quero definir um nome para o número dois, mostrando duas
                           nozes e dizendo “isto se chama dois” se aplica apenas a esse conjunto
                           de nozes, ou à sua forma. É preciso que o aprendiz possa perguntar: “O
                           que é dois? Esse conjunto de objetos, sua forma ou sua cor?” É preciso
                           que o aprendiz já saiba que se trata de definir uma palavra, e uma
                           palavra para tal aspecto do objeto e não para outro; ou seja, ele já deve
                           dominar um jogo de linguagem mais primitivo, que é o jogo puramente
                           referencial, dado pelo processo de ensino ostensivo. (ibid. id).


        Ou seja, o ensino ostensivo é fundamental para que o aluno aprenda um jogo de
linguagem mais elementar, necessário para que o processo de aprendizagem caminhe na direção
desejada. No entanto, apesar de se tratar de um jogo puramente referencial, dentro do processo
de ensino ostensivo, deve se fazer presente o diálogo, como forma de que os sujeitos participem
do mesmo universo discursivo.



3 A prática da Modelagem Matemática à luz da filosofia de Wittgenstein
        Em função do grande número de experiências e de pesquisas que procuram
adequar a prática da modelagem ao contexto escolar, muitas concepções1 a respeito
desse recurso pedagógico podem ser encontradas na literatura.



        1
            Outras concepções de Modelagem podem ser vistas em Ripardo, Oliveira e Silva (2009).
Uma das formas de conceituar Modelagem na Educação Matemática é como
recurso pedagógico gerador de ambientes de aprendizagem. Por outras palavras, a
modelagem refere-se à prática que possibilite que os alunos possam circular por
diferentes ambientes de aprendizagem, e que, ao trilhar o caminho entre os ambientes,
possam aprender matemática por meio da investigação de temas não-matemáticos oriundos da
realidade ou de outras ciências (OLIVEIRA, 2010a; 2010b).
         Segundo Bean (2001) a variedade de concepções decorre da dificuldade de
adaptar o método científico da modelagem matemática praticada no campo da
Matemática Aplicada (onde atua o matemático profissional) ao campo das práticas
pedagógicas onde atua o professor de matemática (BEAN, 2001).
         Em Oliveira (2010b) argumento que as concepções podem também estar
relacionadas aos aspectos que vem sendo enfatizado nas pesquisas em modelagem, por
exemplo, em Bassanezi (2006), enfatiza-se a obtenção dos modelos matemáticos, daí a
concepção de que se trata de uma metodologia, com etapas pré-estabelecidas
semelhante ao processo da matemática aplicada.
         Ao contrário da visão do fazer modelagem como um caminho idealizado
previamente, Borromeo Ferri (2006) propõe a noção de rotas de modelagem para
denotar os passos dos alunos durante as atividades de modelagem, por identificar
dificuldade de antever as ações dos alunos quando são convidados a participar de
atividades de modelagem. A concepção aqui discutida está em consonância com essa
noção.
         Outros pesquisadores focalizam outros aspectos, tais como a participação do
aluno no processo de          aprendizagem conduzido por modelagem (BORBA,
MENEGHETTI e HEMINI, (1997), a compreensão crítica pelo aluno do papel dos
modelos matemáticos na sociedade (BARBOSA, 2006a; 2006b), o desenvolvimento do
conteúdo programático mediante o uso de modelos matemáticos conhecidos, trazidos
pelo professor à sala de aula para estimular os alunos a criarem seus próprios modelos
(BIEMBENGUT, 2004; BIEMBENGUT e HEIN, 2007), dentre outros.
         Compartilho de algumas das preocupações enfatizadas, levando em consideração
que para o ensino-aprendizagem de matemática, o processo de modelagem se diferencia
significativamente do processo utilizado pelo matemático aplicado, uma vez que muitos
dos argumentos para a inclusão da modelagem nos currículos escolares referem-se mais
as competências e habilidades que podem ser desenvolvidas pelos alunos durante o
processo do que ao resultado final obtido – o modelo.
Dois aspectos foram importantes para a construção desta concepção. Em
decorrência da minha experiência docente na educação básica, compartilho
parcialmente com a preocupação de Biembengut e Hein em relação ao desenvolvimento
do conteúdo programático, mas procuro levar em consideração a preocupação de
Barbosa (2006a; 2006b) com relação à compreensão crítica pelo aluno do papel dos
modelos matemáticos na sociedade. Considero que a atenção a esses dois aspectos (feita
uma ressalva em relação aos conteúdos), aproxima a prática da modelagem das
propostas dos Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1998).
        Em relação ao conteúdo programático, acho importante ressaltar que os PCNs
não apresentam relação de conteúdos a serem trabalhados em cada ciclo ou segmento
escolar. Os conteúdos são instrumentos para o desenvolvimento de competências e
habilidades, portanto, o desenvolvimento do conteúdo programático não deve ser a
principal preocupação do professor. A orientação é que os conteúdos sejam trabalhados
em blocos (Números e Operações; Espaço e Forma; Grandezas e Medidas; Tratamento
da Informação) através de temas unificadores, preferencialmente de forma
interdisciplinar1 (BRASIL, 1998).
        Procurando situar as fronteiras desse conceito, acrescento que considero como
modelo matemático qualquer representação matemática capaz de descrever com algum
grau de eficiência a situação em estudo: um croqui, uma tabela, um gráfico, uma
equação, dentre outras representações podem ser aceitas como modelo matemático.
        A aceitação desse conceito de modelo matemático decorre da influência da
filosofia de Wittgenstein no que se refere aos jogos de linguagem que, em suma, se
traduz como a conjunção da linguagem e das atividades com as quais ela está
interligada, constituindo múltiplas linguagens que não podem ser hierarquizadas, pois
possuem apenas relação de parentesco/semelhança (WITTGENSTEIN, 1999).
        Segundo Wittgenstein (1999) várias ações podem se caracterizar como jogos de
linguagem tais como: comandar, e agir segundo comandos; descrever um objeto
conforme a aparência ou conforme medidas; produzir um objeto segundo uma descrição
(desenho); relatar um acontecimento; conjecturar sobre o acontecimento; expor uma
hipótese e prová-la; apresentar os resultados de um experimento por meio de tabelas e
diagramas; resolver enigmas; traduzir de uma língua para outra, dentre outros.
        Os modelos matemáticos interpretados à luz dessa filosofia seriam
representações que tem o poder de descrever um fenômeno mediante a sua forma de
        1
          Os PCNEM (BRASIL, 199) apresentam parâmetros para Ciências da Natureza, Matemática e
suas Tecnologias (não somente para Matemática), com orientações para trabalhos que integrem o estudo
da Matemática com temas da Física e da Biologia.
vida ou às atividades com as quais se relaciona. O poder de descrição do modelo está
relacionado à experiência dos alunos, ao nível acadêmico em que se encontram e ao
nível de compreensão do papel da representação construída para o contexto social em
que estão inseridos, ou seja, o modelo funciona em seus usos, em suas funções práticas,
que são múltiplas e variadas, constituindo múltiplas linguagens que são na verdade
formas de vida.


4 Metodologia
        Responder questões de caráter descritivo, requer a escolha de método e
procedimentos capazes de coletar e descrever de forma clara e sucinta as interações
entre os sujeitos envolvidos na investigação. Borba e Araújo (2006) afirmam que
pesquisas que requerem informações mais descritivas e que primam pelo significado
dado às ações, se identificam com a abordagem qualitativa. Esta pesquisa se enquadra
nesta abordagem.
        A técnica utilizada foi a observação participante que se baseia no contato direto do
pesquisador com o fenômeno a ser investigado, a fim de se recolherem informações/dados dos
sujeitos que se inserem no ambiente de pesquisa, mediante uma série de ações planejadas e
executadas pelos participantes no cenário de investigação. A opção pela pesquisa qualitativa
está em consonância com o que vem sendo desenvolvido em termos de pesquisa no campo da
Educação Matemática (BORBA e ARAÚJO, 2006; FIORENTINI e LORENZATO, 2009).

        A investigação foi realizada em uma Escola de Aplicação da rede Federal de ensino, em
Belém do Pará – Núcleo Pedagógico Integrado – NPI. A escola apresenta características
próprias no desenvolvimento da educação básica, especificamente como campo de estágio
voltado para a experimentação pedagógica, visando à produção, sistematização e socialização
do conhecimento por meio do ensino, da pesquisa e extensão, configurando-se como espaço de
formação profissional, inovação pedagógica, principalmente no atendimento de alunos da
Universidade Federal do Pará (Resolução nº 661/CONSUN, § 1º).

        Os dados foram coletados em uma turma de 5ª série do Ensino Fundamental – turma
505 – onde estivemos presentes durante quatro meses, de março a junho de 2009. A turma é
composta por 25 alunos, sendo 14 sujeitos do sexo masculino e 11 do sexo feminino, com
idades entre 10 e 16 anos.

        As aulas foram filmadas com intuito de captar os momentos de comunicação entre os
sujeitos. Além das filmagens, utilizei um diário de campo, onde foram registradas as descrições
do cenário, as características da turma e de alguns alunos que se destacaram por suas ações, para
descrever episódios e alguns diálogos que eventualmente ocorreram antes que a câmera de
vídeo estivesse ligada ou em momentos de término das aulas.
5 As práticas discursivas durante o processo de modelagem

         O processo de coleta de dados aconteceu no mês de abril de 2009, em decorrência de
minha pesquisa de Mestrado. Na ocasião, pensei em coletar material para estudos posteriores,
uma vez que a observação me permitiu vislumbrar várias possibilidades de investigação que não
poderiam ser empreendidas naquele momento em virtude do foco daquela pesquisa. Apesar de
no referido trabalho (OLIVEIRA, 2010a), o ensino ostensivo tenha sido tratado no capítulo do
referencial teórico, o foco da análise foi a produção de sentidos.

         No presente texto, procuro analisar o processo de ensino ostensivo nas interações da
professora da turma com os alunos quando estavam dialogando a respeito dos conteúdos
matemáticos que foram surgindo como recurso para dar solução ao problema “qual embalagem
é mais econômica?”.

         O tema da atividade de modelagem que desenvolvemos foi “Alimentação”. Esse tema
foi sugerido pela professora da turma, que promoveu uma interação dos alunos com o tema
através de um diálogo com a turma a respeito de alimentação saudável. A primeira atividade
que os alunos desenvolveram foi a elaboração de uma tabela em que eles deveriam anotar todos
os alimentos industrializados que foram consumidos por eles, individualmente, em casa durante
uma semana (biscoitos, macarrão instantâneo, refrigerantes, etc..).

         O episódio aqui analisado ocorreu na terceira semana após o início do estudo do tema
alimentação e começou com a solicitação da professora na aula anterior, para que os alunos
trouxessem embalagens de produtos alimentícios de suas residências. Nesta aula, a professora
entregou um texto que falava sobre embalagens e um roteiro de atividades que culminava com a
proposta do problema “Qual é a embalagem mais econômica?”, em que os alunos deveriam
analisar produtos, da mesma marca, mas de quantidades de massa ou capacidade diferentes.

         A discussão transcrita refere-se à comparação de duas embalagens de refrigerante
(latinha de 350 ml e garrafa de 600 ml) da mesma marca que a professora estendeu para toda a
turma:



                         Professora: Gente vamos relembrar o que nós deveríamos discutir na
                                      aula de hoje?
                         Vitor:        Sobre a economia tia!
                         Max:              O que era mais econômico. A garrafa ou a latinha de
                                         refrigerante... [Vitor complementa]
Através desta interação inicial, a professora convida os alunos a participarem de
uma discussão em torno do tema, com o objetivo de desenvolver discussões a respeito
da matemática curricular.



                      Professora: Que números apareceram nessa atividade e o que eles
                                  significam? Por exemplo? Apareceu o número 600 não
                                  foi isso? o que significa o 600?
                      Max:        Significa os ml da garrafa.
                      Professora: O que mais? Apareceram também outros valores?

                      Turma:      Dois reais, um real e setenta e cinco centavos [a professora
                                   anota as informações no quadro].



       Após fazer as anotações, a professora conduz as discussões para a questão da
diferença de preço entre os dois produtos:



                      Professora: Vocês me disseram que a diferença de preço era quanto?
                      Vitor:      De 600 _____ 600 ml
                      Patrick:     ____ A diferença ... era ____ Vinte e cinco centavos
                      Max:       É isso, vinte e cinco centavos!
                      Professora: Primeiro o que significa essa diferença de preço... O que
                                    significa 25 centavos em relação a 1 real?
                      Vanessa:    A quarta parte? ____.
                      Paola:      _____Metade da metade...?
                      Professora: E como é que eu vou representar isso de outra forma... Sem
                                    ser 25 centavos [escreve por extenso],... Sem ser nessa
                                    forma 0,25?
                      Vitor:      Em ml?
                      Professora: Não, o valor 0,25 [aponta o valor escrito no quadro
                                   enquanto fala] ZERO VÍRGULA VINTE E CINCO...
                                   como é que eu represento isso?

                      Patrick:    Um quarto!

                      Elaine:     Ou a quarta parte.

                      Professora: Como é que eu represento isso?

                      Natália:    Um quarto! [gesticula com a mão indicando um traço de
                                    fração]
Professora: Um quarto Natália? [escreve no quadro a representação
                                          fracionária] Como é chamada essa representação
                                          numérica aqui pra matemática? [aponta]

                          Natália:     FRAÇÃO.

                          Professora: Fração. Concordam com ela?

                          Álvaro: É um pedaço de uma coisa inteira.

                          Professora: É uma parte ____

                          Max: ____ E tia!... é 1 dividido...

                          Patrick: É uma representação... [faz gestos com a mão enquanto

                          fala] uma representação de fração é... uma pizza [indica

                          a forma circular e a fatiação com as mãos]



6 Análise e Discussão
       Em relação à atividade de modelagem desenvolvida, da qual extraí o episódio
aqui analisado, observei que a modelagem estabeleceu um clima de liberdade discursiva
em que o aluno, ao negociar, defender seu ponto vista, problematizar, e expor suas
idéias, apresenta ao professor os sentidos que foram projetados por ele na compreensão
da fala da professora e do texto matemático. Isso nos indica que os sentidos produzidos
pelo professor e pelos alunos devem fazer parte de um mesmo universo discursivo, e
essa aproximação pode ocorrer mediante a negociação constante, na busca dos sentidos
um do outro.
       A professora pergunta: O que significa essa diferença de preço... O que significa 25
centavos em relação a 1 real? Os alunos respondem: a quarta parte? Metade da metade?
As respostas em tom de pergunta (procurando aprovação da professora) evidenciam que
os alunos tentam ter acesso ao sentido da pergunta da professora. Na seqüência, nota-se
também um momento de ruptura na comunicação, quando a professora pergunta: E
como é que eu vou representar isso de outra forma... Sem ser 25 centavos [escreve por
extenso],... Sem ser nessa forma 0,25? A resposta do aluno Vítor evidencia o momento
de ruptura comunicacional: em ml? Com a insistência da professora, os alunos Patrick e
Elaine também evidenciam que não produziram o sentido da palavra representação: Um
quarto! A quarta parte?

       A comunicação é retomada quando a aluna Natália gesticula com a mão
indicando um traço de fração e pronuncia um quarto. Nesse trecho, o gesto da aluna
mostrou à professora que ela havia produzido o sentido que já estava previsto. A
professora aproveita a fala de Natália para retomar a comunicação com a turma
evidenciando o sentido da pergunta que estava fazendo para a turma: Um quarto
Natália? [escreve no quadro a representação fracionária] Como é chamada essa
representação numérica aqui pra matemática? [aponta].
       Observemos que a professora utiliza concomitantemente a fala, a escrita e o
gesto de apontar, ou seja, recorre ao que Wittgenstein denomina de ensino ostensivo. A
aluna Natália também faz uso de gesto com a mão para indicar o traço de fração, então
podemos inferir que a ostensividade perpassa o processo de ensino-aprendizagem. Aqui,
o ensino ostensivo foi usado para restabelecer a comunicação. Nesse processo, são
ensinadas as regras em geral, e em particular, quais são as regras que permitem
introduzir os modelos para as aplicações das palavras.
       Esta pesquisa verificou que quando o aluno aprende a aplicar a regra, por meio
do ensino ostensivo, desenvolvido pelo professor, através de exemplos modelo, que lhe
mostram como se aplica a regra, isso lhe conduz a produzir o sentido que favorece a
significação, uma vez que a regra matemática tem um sentido único e, para os alunos, a
regra pode assumir outros sentidos, por isso os problemas de aprendizagem.
       Em vários momentos verifica-se que tanto a professora quanto os alunos se
utilizam de gestos, da escrita e da fala concomitantemente, do ato mostrar a
representação e procurar outra correspondente, dentre outros recursos externos à
linguagem formal da matemática para expressar os seus sentidos em relação ao discurso
de seus interlocutores, evidenciando que a linguagem vai muito além da simples
denominação do objeto pela sua representação, ou como diria Wittgenstein, que ela (a
linguagem) está sempre associada a formas de vida.
       A prática da professora está de acordo com a filosofia de Wittgenstein (apud
SILVEIRA, 2005), pois busca fazer com que os alunos desenvolvam a capacidade de
aplicar corretamente as regras do jogo matemático, por meio do ensino ostensivo,
tentando fazer com que os sentidos produzidos por eles não criem problemas de
aprendizagem, mas, ao invés contribuam para que produzam o sentido (único) da regra
matemática.


Considerações finais
       Neste texto, conceituei a modelagem como um recurso gerador de ambientes de
aprendizagem. Esse conceito foi esboçado a partir da coleta de dados de minha pesquisa
de Mestrado, quando comecei a observar a preocupação da professora da turma
pesquisada com o desenvolvimento do currículo oficial, o que em minha opinião, tem
grande relevância uma vez que temos parâmetros curriculares a considerar.
       Me subsidiei teoricamente no conceito de ambientes de aprendizagem de
(SKOVSMOSE, 2008) e na filosofia de Wittgenstein (1999), especificamente no que se
refere aos jogos de linguagem, a partir da concepção de Chaves e Espírito Santo (2008).
Essa sugestão não pretende esgotar a discussão em torno desse tema, nem fazer frente
aos conceitos de modelagem correntes na literatura, uma vez que os utilizo como
subsídio nos textos citados em que comecei a conceituar a modelagem como a apresento
neste texto.
       Em vários momentos nas interações, verifiquei indícios de ensino ostensivo,
como o ato de apontar enquanto fala, de escrever no quadro e falar ao mesmo tempo, o
uso de gestos indicando aprovação, reprovação, expectativa, encorajamento, etc., que
essencialmente contribuíram para o aprendizado da regra e para a produção do sentido
da regra.
       Como recomendação para a prática docente, o estudo sugere que o professor
deve se fazer presente em todas as etapas do processo de modelagem, como orientador
das tarefas e, caso sinta a necessidade de interferir mais ativamente, pode recorrer ao
ensino ostensivo, como recurso necessário e essencial ao processo de treinamento (que
pode ser feito por meio de exemplos e de exercícios) da regra matemática, como forma
de dotar o aluno dos instrumentos necessários para construção do sentido da regra e
construção de conceitos.


Referências

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perspective. ZDM. Zentralblatt für Didahtik der Mathematik, Karlruhe, v. 38, n. 3,
p.293-301, 2006a.

BARBOSA, J. C. A Dinâmica das Discussões dos Alunos no Ambiente de Modelagem
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BASSANEZI, R. C. Ensino-aprendizagem com Modelagem Matemática. São Paulo:
Contexto, 2006.

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São Paulo, SBEM. Ano 8, n. 9/10, abril, 2001.

BORBA, M. de C; ARAÚJO, J. de L. (Orgs.). Pesquisa qualitativa em educação
matemática. 2ª Ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2006.
BORBA, M. de C.; MENEGHETTI, R. C. G.; HERMINI, H. A. Modelagem,
Calculadora Gráfica e Interdisciplinaridade na sala de aula de um curso de Ciências
Biológicas. In: Educação Matemática em Revista. São José do Rio Preto, SBEM, nº 3,
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BORROMEO FERRI, R. Theoretical and empirical differentiations of phases in the
modelling process. Zentralblatt für Didaktik der Mathematik, v. 38, n. 2, p. 8695, 2006.

BIEMBENGUT, M. S.; HEIN, N. Modelagem matemática no ensino. 4ª edição. São
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BIEMBENGUT, M. S. Modelagem Matemática & Implicações no Ensino e na
Aprendizagem. 2ª Ed. Blumenau: Edfurb, 2004.


BRASIL. Parâmetros Curriculares nacionais: terceiro e quarto ciclos. Secretaria de
Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1998.


BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais Ensino Médio. Secretaria de Educação
Média e Tecnológica. Brasília: MEC/SEF, 199.


CHAVES, M. I. A.; ESPÍRITO SANTO, A. O. Modelagem Matemática: uma
concepção e várias possibilidades. In: Revista Bolema, Rio Claro, ano 21, número 30,
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FIORENTINI, D.; LORENZATO, S. Investigação em educação matemática: percursos
teóricos e metodológicos. 3ª Ed. rev. Campinas, SP: Autores Associados, 2009.


MORENO, A. R. Wittgenstein: os labirintos da linguagem: ensaio introdutório. São
Paulo: Moderna; Campinas, SP: Editora da Universidade de Campinas, 2000.

OLIVEIRA, M. S. Interpretação e Comunicação em Ambientes de Aprendizagem
Gerados pelo Processo de Modelagem Matemática. Dissertação (Mestrado em
Educação em Ciências e Matemáticas) Universidade Federal do Pará, Belém, 2010a.


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PORTO, A. S. As bases filosóficas do construtivismo matemático de Wittgenstein. 2002.
211 f. Tese (Doutorado em Filosofia) – Centro de Teologia e Ciências Humanas,
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2002.

RIPARDO, R. B.; OLIVEIRA, M. S.; SILVA, F. H. Modelagem Matemática e
Pedagogia de Projetos: aspectos comuns. Alexandria Revista de Educação em Ciência
e      Tecnologia,     v.2,     n.2,      p.87-116,     2009.     Disponível   em
http://www.ppgect.ufsc.br/alexandriarevista Acesso em: 10 nov. 2009.

SILVEIRA, M. R. A. da. Produção de sentidos e construção de conceitos na relação
ensino/aprendizagem da matemática. Tese (Doutorado em Educação) – Faculdade de
Educação, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2005.

SKOVSMOSE, O. Desafios da Reflexão em Educação Matemática crítica. Trad.
Orlando de Andrade Fegueiredo, Jonei Cerqueira Barbosa. Campinas, SP: Papirus,
2008.

WITTGENSTEIN, L. Investigações Filosóficas. Trad. José Carlos Bruni. São Paulo:
Nova Cultural, 1999.

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  • 1. ENSINO OSTENSIVO EM AMBIENTES DE APRENDIZAGEM GERADOS PELO PROCESSO DE MODELAGEM Marcelo de Sousa Oliveira Universidade Federal do Pará - UFPA moliveira@ufpa.br Resumo O interesse pela psicologia discursiva na Educação Matemática está consolidado desde os anos noventa, vindo, recentemente a despertar também interesse entre os pesquisadores em Modelagem Matemática. Este trabalho focaliza este tema emergente na agenda de pesquisa em Modelagem Matemática, a saber, as práticas discursivas dos alunos e do professor. O tema focalizado busca novas compreensões teóricas para as práticas dos alunos nos ambientes de aprendizagem gerados pelo processo de modelagem. Objetiva-se aqui estudar os fenômenos da linguagem em termos primitivos, que segundo Wittgenstein, trata-se de um treinamento, pois as crianças são educadas para executar certas atividades e para reagir às palavras dos outros, ressaltando uma parte importante desse treinamento, que consiste no fato de que quem ensina, mostra os objetos, chama a atenção da criança para eles, pronunciando uma palavra. A esse processo ele dá o nome de ensino ostensivo, pois estabelece uma ligação associativa entre a palavra (a representação) e a coisa (o objeto). Esse conceito da filosofia de Wittgenstein constitui o referencial teórico deste estudo. A pesquisa foi realizada em uma Escola de Aplicação da Rede Federal de Ensino – NPI, numa turma de 5ª série composta de 25 alunos com idade entre 10 e 16 anos e se caracterizou como qualitativa. A discussão empreendida nos aponta que o ensino ostensivo é um recurso utilizado no decorrer do processo de modelagem, como forma de favorecer a comunicação entre o professor e seus alunos, auxiliando na produção de sentido da linguagem matemática. Palavras-chave: Ensino ostensivo; Modelagem Matemática; Comunicação. 1 Introdução Em 2006, Kaiser e Sriramam identificaram a configuração das perspectivas psicológicas no campo da Modelagem. Desde os anos noventa pode-se observar o interesse dos pesquisadores em Educação Matemática pela Psicologia Discursiva, vindo recentemente a ter suas repercussões entre os pesquisadores em Modelagem. Este trabalho enquadra-se nesse movimento. O interesse por essa temática é decorrente, primordialmente, da inquietação provocada pela dificuldade de comunicação que eu sentia quando trabalhava na
  • 2. Educação Básica, sobretudo nos anos que antecederam o meu ingresso no Curso de Mestrado em 2008. A partir do meu trabalho de Dissertação (OLIVEIRA, 2010a) tenho me empenhado em dar continuidade ao estudo realizado naquela pesquisa. Em minha prática docente, outra questão me incomodava além do problema de comunicação: a questão metodológica. A modelagem matemática foi a tendência que mais me chamou a atenção, por isso, passei a utilizá-la de forma bem tímida, em função da inexperiência1, o que me motivou a buscar compreensões teóricas e práticas a respeito. Daí, o interesse pela perspectiva discursiva. A finalidade desta investigação é buscar compreensões a respeito do uso de um recurso bastante utilizado pelo professor de matemática para facilitar a comunicação com seus alunos, a saber, a prática de ensinar mostrando os objetos e, ao mesmo tempo, pronunciando as palavras ou fazendo gestos com as mãos, com o objetivo de fazer com que a criança ao ouvir a palavra, venha à sua mente a imagem do objeto. Esse processo é denominado por Wittgenstein (1999) de ensino ostensivo, que segundo o filósofo efetiva a compreensão da palavra, evitando obstáculos para a comunicação. Segundo o autor, em oposição ao caráter referencial da linguagem e a um processo mental/intuitivo, os jogos de linguagem pressupõem manifestações externas à referência, tais como: expressões corporais, entonação da voz, olhares,..., ou seja, elementos ligados aos modos do contexto de que participam. Esse recurso pretende favorecer a máxima de Wittgenstein (1999, p.29), “um parceiro enuncia as palavras, o outro age de acordo com elas”, ou seja, quando o professor pronunciar as palavras (apontando os objetos), o aluno poderá ter acesso ao sentido que já está previamente fixado pela lógica da matemática, e agir de acordo com a regra. Diante do exposto, apresento a questão a ser respondida pela presente pesquisa: Como o ensino ostensivo pode contribuir com o processo de comunicação em ambientes de aprendizagem gerados pelo processo de modelagem matemática? 2 A filosofia de Wittgenstein 2.1 Jogos de linguagem Para exemplificar o que são os jogos de linguagem, Wittgenstein (1999) recorre a um exemplo em que a significação não se esgota na referência. Quando um construtor 1 O que não me impediu de perceber o potencial pedagógico da modelagem.
  • 3. grita ao seu ajudante, “lajota”, este entende “traga-me uma lajota”, a linguagem enquanto recurso que os indivíduos utilizam para viabilizar a comunicação vai além da mera referência do objeto e de seu referente lingüístico. O ajudante, ao interpretar as palavras emitidas pelo construtor, produz o sentido que coincide com o sentido implícito na frase. Pode-se afirmar que eles participam de um mesmo universo discursivo ou, que a linguagem não se desvincula das atividades que fazem parte da forma de vida dos sujeitos que estão inseridos no jogo de linguagem. Em situações de ensino-aprendizagem de matemática, constantemente perde-se o sentido das proposições, pois, apesar de algumas expressões fazerem parte desse universo, nem sempre as proposições fazem sentido, ou pelo menos não podemos reconhecê-lo imediatamente. Daí, a ruptura na comunicação entre o professor e seus alunos ao dialogarem a respeito da matemática, com sua linguagem específica. A comparação da linguagem a um jogo é bastante pertinente. Participa de um jogo, quem conhece suas regras e as pratica jogando. Na práxis do uso da linguagem, um sujeito pronuncia as palavras e o seu interlocutor age de acordo com elas (WITTGENSTEIN, 1999). A comunicação acontece de acordo com o uso que se faz da linguagem no contexto social em que ela se encontra. Por exemplo, os numerais podem assumir variadas significações conforme os jogos de linguagem de que participam: podem representar quantidades, um código/número de telefone, uma data, a idade de uma pessoa, etc., aqui o número não deve assumir um significado unívoco, em que se tenta fazer um uso relacional dele, mas seus usos de diferentes e variadas maneiras (OLIVEIRA, 2010a). No entanto, ao participar de um jogo de linguagem, o aluno usa palavras de domínio público, porém carregadas de sentidos seus, que estão de acordo com seus sentimentos, percepções, sensações e experiências vivenciadas. Esses sentidos só podem ser conhecidos se o aluno externá-los através da fala. 2.2 Ruptura comunicacional Não raramente podemos observar em situações de ensino-aprendizagem, exemplos de quebra na comunicação. Possivelmente a linguagem utilizada tem dificultado uma comunicação mais efetiva causando momentos de ruptura no processo comunicativo. Por outro lado, os interlocutores da interação buscam sentido no discurso uns dos outros, no caso educacional, os alunos buscam esse entendimento da fala do
  • 4. professor e o professor por sua vez busca interpretar os sentidos externados pelos alunos. É nesse ponto de discussão que queremos focalizar as idéias de Wittgenstein. Porto (2002) apresenta um exemplo de intercâmbio lingüístico envolvendo os sujeitos João e Maria em torno da situação em que João perde seus óculos. Ao ser indagada por João sobre o paradeiro de seus óculos, Maria poderia dar respostas que João poderia classificar como afirmações falsas (mas com sentido) ou afirmações absurdas (que poderiam ser descartadas imediatamente). Se Maria respondesse “os óculos estão dentro do armário”, João poderia interpretar que ainda que os óculos não estivessem naquele momento dentro do armário, eles poderiam ter estado lá. A afirmação poderia ser falsa, no entanto, por ter sentido, poderia ser considerada. No caso de afirmações absurdas, João poderia ouvir de Maria que: “seus óculos estão dentro da caixa de fósforos”. E nesse caso estaria muito inclinado em descartar a situação proposta por Maria como sendo impossível. Numa terceira situação, Maria responde a João que: “seus óculos estão no prego”. João estranha a resposta, mas num esforço em compreender o sentido da afirmação pergunta a Maria se ela quis dizer “na loja de penhores”, rejeitando a interpretação de “prego” como sendo “um utensílio pontiagudo usado para a fixação de madeira e, tomando a afirmação de Maria como absurda, teve outro desfecho. Neste caso, a situação de ruptura comunicacional foi evitada por que João tentou adentrar no campo intersubjetivo do intercâmbio lingüístico, tendo acesso ao sentido da afirmação de Maria. Segundo Porto (2002), apoiado em Quine (1969), muitas vezes, no interesse de restaurar a comunicação com os parceiros de linguagem, o sujeito aplica um “princípio de caridade interpretativa” e altera a estrutura dos enunciados de seus interlocutores, com o interesse de não romper a comunicação. No caso de João, no interesse de salvar o sentido do enunciado de Maria, bem como a comunicação entre os dois, se permitiu reestruturar sua resposta. Para ele, tudo acabou como se realmente Maria tivesse dito: “seus óculos foram levados à loja de penhores”. Wittgenstein (1999) afirma que, no sentido de manter a comunicação, deve sempre perguntar: esta palavra é realmente sempre usada assim na linguagem na qual
  • 5. tem o seu torrão natal? A indagação nos induz a reconduzir as palavras do seu emprego metafísico de volta ao seu emprego cotidiano. Para Wittgenstein, quando: Alguém me diz: “Você compreende esta expressão? Ora, eu também a uso na significação que você conhece”. Como se a significação fosse uma espécie de halo que a palavra leva consigo e que fica com ela em qualquer emprego. Quando, por exemplo, alguém diz que a frase “isto está aqui (e, pronunciando-a, aponta para um objeto) tem sentido para ele, então se deveria perguntar em que circunstâncias particulares emprega-se de fato essa frase. Nestas ela tem sentido. (p. 66, § 117). A busca desses sentidos (intersubjetivos) é condição essencial para se evitar a ruptura comunicacional entre os sujeitos da interação. 2.3 Ensino ostensivo Nas Investigações Filosóficas, Wittgenstein faz uma crítica ao sistema referencial da linguagem, afirmando que esse sistema não é tudo o que chamamos de linguagem. Argumenta: Quem descreve o aprendizado da linguagem desse modo, pensa, pelo menos acredito, primeiramente em substantivos tais como ‘mesa’, ‘cadeira’, ‘pão’, em nomes de pessoas, e apenas em segundo lugar em nomes de certas atividades e qualidades, e nas restantes espécies de palavras como algo que se terminará por encontrar. (WITTGENSTEIN, 1999, §1, p.28-29). Para o filósofo, a concepção referencial é um modelo no qual as palavras tem significação porque se colam como etiquetas às suas referências, ou por outras palavras, a significação seria o objeto que a palavra substitui. Evidentemente, esse processo de etiquetagem dos objetos não basta para que se possa dar conta de tudo o que pode ser feito através da linguagem. Wittgenstein assevera que se trata de uma forma primitiva de linguagem. Wittgenstein, então, discute o processo que ele denomina de ensino ostensivo, que conforme suas descrições trata-se do ato de pronunciar uma palavra e apontar para um objeto. Nesse processo, são ensinadas as regras em geral, e em particular, quais são as regras que permitem introduzir os modelos para as aplicações das palavras.
  • 6. Em sala de aula, é muito utilizada pelo professor, uma ação acompanhada pela fala. Ele mostra por meio de gestos o que é difícil mostrar somente por meio de palavras. Por ser desprovida de oralidade, a linguagem formal da matemática pode criar obstáculos para a compreensão, por exemplo, quando o professor fala “x mais y ao quadrado”, os alunos podem pensar nas expressões ou , pois a expressão na oralidade é ambígua, logo necessita do ato de mostrar por meio da escrita. Segundo o autor, por ser recorrente esse processo entre os homens, o ensino ostensivo se configura como uma parte importante do treinamento, pois estabelece uma ligação associativa entre a palavra e a coisa, ou seja, “quando a criança ouve a palavra, a imagem da coisa surge perante seu espírito” (WITTGENSTEIN, 1999), no entanto, essa associação é apenas uma preparação para formas mais complexas de uso das palavras. Conforme Moreno (2000, p.69), quando partimos para além de apenas ensinar ostensivamente, passando a definir ostensivamente uma palavra, se faz necessário um conhecimento suplementar: “é preciso que se conheça o suporte, o aspecto da referência sobre a qual é colocada a etiqueta”. E exemplifica: Quando quero definir um nome para o número dois, mostrando duas nozes e dizendo “isto se chama dois” se aplica apenas a esse conjunto de nozes, ou à sua forma. É preciso que o aprendiz possa perguntar: “O que é dois? Esse conjunto de objetos, sua forma ou sua cor?” É preciso que o aprendiz já saiba que se trata de definir uma palavra, e uma palavra para tal aspecto do objeto e não para outro; ou seja, ele já deve dominar um jogo de linguagem mais primitivo, que é o jogo puramente referencial, dado pelo processo de ensino ostensivo. (ibid. id). Ou seja, o ensino ostensivo é fundamental para que o aluno aprenda um jogo de linguagem mais elementar, necessário para que o processo de aprendizagem caminhe na direção desejada. No entanto, apesar de se tratar de um jogo puramente referencial, dentro do processo de ensino ostensivo, deve se fazer presente o diálogo, como forma de que os sujeitos participem do mesmo universo discursivo. 3 A prática da Modelagem Matemática à luz da filosofia de Wittgenstein Em função do grande número de experiências e de pesquisas que procuram adequar a prática da modelagem ao contexto escolar, muitas concepções1 a respeito desse recurso pedagógico podem ser encontradas na literatura. 1 Outras concepções de Modelagem podem ser vistas em Ripardo, Oliveira e Silva (2009).
  • 7. Uma das formas de conceituar Modelagem na Educação Matemática é como recurso pedagógico gerador de ambientes de aprendizagem. Por outras palavras, a modelagem refere-se à prática que possibilite que os alunos possam circular por diferentes ambientes de aprendizagem, e que, ao trilhar o caminho entre os ambientes, possam aprender matemática por meio da investigação de temas não-matemáticos oriundos da realidade ou de outras ciências (OLIVEIRA, 2010a; 2010b). Segundo Bean (2001) a variedade de concepções decorre da dificuldade de adaptar o método científico da modelagem matemática praticada no campo da Matemática Aplicada (onde atua o matemático profissional) ao campo das práticas pedagógicas onde atua o professor de matemática (BEAN, 2001). Em Oliveira (2010b) argumento que as concepções podem também estar relacionadas aos aspectos que vem sendo enfatizado nas pesquisas em modelagem, por exemplo, em Bassanezi (2006), enfatiza-se a obtenção dos modelos matemáticos, daí a concepção de que se trata de uma metodologia, com etapas pré-estabelecidas semelhante ao processo da matemática aplicada. Ao contrário da visão do fazer modelagem como um caminho idealizado previamente, Borromeo Ferri (2006) propõe a noção de rotas de modelagem para denotar os passos dos alunos durante as atividades de modelagem, por identificar dificuldade de antever as ações dos alunos quando são convidados a participar de atividades de modelagem. A concepção aqui discutida está em consonância com essa noção. Outros pesquisadores focalizam outros aspectos, tais como a participação do aluno no processo de aprendizagem conduzido por modelagem (BORBA, MENEGHETTI e HEMINI, (1997), a compreensão crítica pelo aluno do papel dos modelos matemáticos na sociedade (BARBOSA, 2006a; 2006b), o desenvolvimento do conteúdo programático mediante o uso de modelos matemáticos conhecidos, trazidos pelo professor à sala de aula para estimular os alunos a criarem seus próprios modelos (BIEMBENGUT, 2004; BIEMBENGUT e HEIN, 2007), dentre outros. Compartilho de algumas das preocupações enfatizadas, levando em consideração que para o ensino-aprendizagem de matemática, o processo de modelagem se diferencia significativamente do processo utilizado pelo matemático aplicado, uma vez que muitos dos argumentos para a inclusão da modelagem nos currículos escolares referem-se mais as competências e habilidades que podem ser desenvolvidas pelos alunos durante o processo do que ao resultado final obtido – o modelo.
  • 8. Dois aspectos foram importantes para a construção desta concepção. Em decorrência da minha experiência docente na educação básica, compartilho parcialmente com a preocupação de Biembengut e Hein em relação ao desenvolvimento do conteúdo programático, mas procuro levar em consideração a preocupação de Barbosa (2006a; 2006b) com relação à compreensão crítica pelo aluno do papel dos modelos matemáticos na sociedade. Considero que a atenção a esses dois aspectos (feita uma ressalva em relação aos conteúdos), aproxima a prática da modelagem das propostas dos Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1998). Em relação ao conteúdo programático, acho importante ressaltar que os PCNs não apresentam relação de conteúdos a serem trabalhados em cada ciclo ou segmento escolar. Os conteúdos são instrumentos para o desenvolvimento de competências e habilidades, portanto, o desenvolvimento do conteúdo programático não deve ser a principal preocupação do professor. A orientação é que os conteúdos sejam trabalhados em blocos (Números e Operações; Espaço e Forma; Grandezas e Medidas; Tratamento da Informação) através de temas unificadores, preferencialmente de forma interdisciplinar1 (BRASIL, 1998). Procurando situar as fronteiras desse conceito, acrescento que considero como modelo matemático qualquer representação matemática capaz de descrever com algum grau de eficiência a situação em estudo: um croqui, uma tabela, um gráfico, uma equação, dentre outras representações podem ser aceitas como modelo matemático. A aceitação desse conceito de modelo matemático decorre da influência da filosofia de Wittgenstein no que se refere aos jogos de linguagem que, em suma, se traduz como a conjunção da linguagem e das atividades com as quais ela está interligada, constituindo múltiplas linguagens que não podem ser hierarquizadas, pois possuem apenas relação de parentesco/semelhança (WITTGENSTEIN, 1999). Segundo Wittgenstein (1999) várias ações podem se caracterizar como jogos de linguagem tais como: comandar, e agir segundo comandos; descrever um objeto conforme a aparência ou conforme medidas; produzir um objeto segundo uma descrição (desenho); relatar um acontecimento; conjecturar sobre o acontecimento; expor uma hipótese e prová-la; apresentar os resultados de um experimento por meio de tabelas e diagramas; resolver enigmas; traduzir de uma língua para outra, dentre outros. Os modelos matemáticos interpretados à luz dessa filosofia seriam representações que tem o poder de descrever um fenômeno mediante a sua forma de 1 Os PCNEM (BRASIL, 199) apresentam parâmetros para Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias (não somente para Matemática), com orientações para trabalhos que integrem o estudo da Matemática com temas da Física e da Biologia.
  • 9. vida ou às atividades com as quais se relaciona. O poder de descrição do modelo está relacionado à experiência dos alunos, ao nível acadêmico em que se encontram e ao nível de compreensão do papel da representação construída para o contexto social em que estão inseridos, ou seja, o modelo funciona em seus usos, em suas funções práticas, que são múltiplas e variadas, constituindo múltiplas linguagens que são na verdade formas de vida. 4 Metodologia Responder questões de caráter descritivo, requer a escolha de método e procedimentos capazes de coletar e descrever de forma clara e sucinta as interações entre os sujeitos envolvidos na investigação. Borba e Araújo (2006) afirmam que pesquisas que requerem informações mais descritivas e que primam pelo significado dado às ações, se identificam com a abordagem qualitativa. Esta pesquisa se enquadra nesta abordagem. A técnica utilizada foi a observação participante que se baseia no contato direto do pesquisador com o fenômeno a ser investigado, a fim de se recolherem informações/dados dos sujeitos que se inserem no ambiente de pesquisa, mediante uma série de ações planejadas e executadas pelos participantes no cenário de investigação. A opção pela pesquisa qualitativa está em consonância com o que vem sendo desenvolvido em termos de pesquisa no campo da Educação Matemática (BORBA e ARAÚJO, 2006; FIORENTINI e LORENZATO, 2009). A investigação foi realizada em uma Escola de Aplicação da rede Federal de ensino, em Belém do Pará – Núcleo Pedagógico Integrado – NPI. A escola apresenta características próprias no desenvolvimento da educação básica, especificamente como campo de estágio voltado para a experimentação pedagógica, visando à produção, sistematização e socialização do conhecimento por meio do ensino, da pesquisa e extensão, configurando-se como espaço de formação profissional, inovação pedagógica, principalmente no atendimento de alunos da Universidade Federal do Pará (Resolução nº 661/CONSUN, § 1º). Os dados foram coletados em uma turma de 5ª série do Ensino Fundamental – turma 505 – onde estivemos presentes durante quatro meses, de março a junho de 2009. A turma é composta por 25 alunos, sendo 14 sujeitos do sexo masculino e 11 do sexo feminino, com idades entre 10 e 16 anos. As aulas foram filmadas com intuito de captar os momentos de comunicação entre os sujeitos. Além das filmagens, utilizei um diário de campo, onde foram registradas as descrições do cenário, as características da turma e de alguns alunos que se destacaram por suas ações, para descrever episódios e alguns diálogos que eventualmente ocorreram antes que a câmera de vídeo estivesse ligada ou em momentos de término das aulas.
  • 10. 5 As práticas discursivas durante o processo de modelagem O processo de coleta de dados aconteceu no mês de abril de 2009, em decorrência de minha pesquisa de Mestrado. Na ocasião, pensei em coletar material para estudos posteriores, uma vez que a observação me permitiu vislumbrar várias possibilidades de investigação que não poderiam ser empreendidas naquele momento em virtude do foco daquela pesquisa. Apesar de no referido trabalho (OLIVEIRA, 2010a), o ensino ostensivo tenha sido tratado no capítulo do referencial teórico, o foco da análise foi a produção de sentidos. No presente texto, procuro analisar o processo de ensino ostensivo nas interações da professora da turma com os alunos quando estavam dialogando a respeito dos conteúdos matemáticos que foram surgindo como recurso para dar solução ao problema “qual embalagem é mais econômica?”. O tema da atividade de modelagem que desenvolvemos foi “Alimentação”. Esse tema foi sugerido pela professora da turma, que promoveu uma interação dos alunos com o tema através de um diálogo com a turma a respeito de alimentação saudável. A primeira atividade que os alunos desenvolveram foi a elaboração de uma tabela em que eles deveriam anotar todos os alimentos industrializados que foram consumidos por eles, individualmente, em casa durante uma semana (biscoitos, macarrão instantâneo, refrigerantes, etc..). O episódio aqui analisado ocorreu na terceira semana após o início do estudo do tema alimentação e começou com a solicitação da professora na aula anterior, para que os alunos trouxessem embalagens de produtos alimentícios de suas residências. Nesta aula, a professora entregou um texto que falava sobre embalagens e um roteiro de atividades que culminava com a proposta do problema “Qual é a embalagem mais econômica?”, em que os alunos deveriam analisar produtos, da mesma marca, mas de quantidades de massa ou capacidade diferentes. A discussão transcrita refere-se à comparação de duas embalagens de refrigerante (latinha de 350 ml e garrafa de 600 ml) da mesma marca que a professora estendeu para toda a turma: Professora: Gente vamos relembrar o que nós deveríamos discutir na aula de hoje? Vitor: Sobre a economia tia! Max: O que era mais econômico. A garrafa ou a latinha de refrigerante... [Vitor complementa]
  • 11. Através desta interação inicial, a professora convida os alunos a participarem de uma discussão em torno do tema, com o objetivo de desenvolver discussões a respeito da matemática curricular. Professora: Que números apareceram nessa atividade e o que eles significam? Por exemplo? Apareceu o número 600 não foi isso? o que significa o 600? Max: Significa os ml da garrafa. Professora: O que mais? Apareceram também outros valores? Turma: Dois reais, um real e setenta e cinco centavos [a professora anota as informações no quadro]. Após fazer as anotações, a professora conduz as discussões para a questão da diferença de preço entre os dois produtos: Professora: Vocês me disseram que a diferença de preço era quanto? Vitor: De 600 _____ 600 ml Patrick: ____ A diferença ... era ____ Vinte e cinco centavos Max: É isso, vinte e cinco centavos! Professora: Primeiro o que significa essa diferença de preço... O que significa 25 centavos em relação a 1 real? Vanessa: A quarta parte? ____. Paola: _____Metade da metade...? Professora: E como é que eu vou representar isso de outra forma... Sem ser 25 centavos [escreve por extenso],... Sem ser nessa forma 0,25? Vitor: Em ml? Professora: Não, o valor 0,25 [aponta o valor escrito no quadro enquanto fala] ZERO VÍRGULA VINTE E CINCO... como é que eu represento isso? Patrick: Um quarto! Elaine: Ou a quarta parte. Professora: Como é que eu represento isso? Natália: Um quarto! [gesticula com a mão indicando um traço de fração]
  • 12. Professora: Um quarto Natália? [escreve no quadro a representação fracionária] Como é chamada essa representação numérica aqui pra matemática? [aponta] Natália: FRAÇÃO. Professora: Fração. Concordam com ela? Álvaro: É um pedaço de uma coisa inteira. Professora: É uma parte ____ Max: ____ E tia!... é 1 dividido... Patrick: É uma representação... [faz gestos com a mão enquanto fala] uma representação de fração é... uma pizza [indica a forma circular e a fatiação com as mãos] 6 Análise e Discussão Em relação à atividade de modelagem desenvolvida, da qual extraí o episódio aqui analisado, observei que a modelagem estabeleceu um clima de liberdade discursiva em que o aluno, ao negociar, defender seu ponto vista, problematizar, e expor suas idéias, apresenta ao professor os sentidos que foram projetados por ele na compreensão da fala da professora e do texto matemático. Isso nos indica que os sentidos produzidos pelo professor e pelos alunos devem fazer parte de um mesmo universo discursivo, e essa aproximação pode ocorrer mediante a negociação constante, na busca dos sentidos um do outro. A professora pergunta: O que significa essa diferença de preço... O que significa 25 centavos em relação a 1 real? Os alunos respondem: a quarta parte? Metade da metade? As respostas em tom de pergunta (procurando aprovação da professora) evidenciam que os alunos tentam ter acesso ao sentido da pergunta da professora. Na seqüência, nota-se também um momento de ruptura na comunicação, quando a professora pergunta: E como é que eu vou representar isso de outra forma... Sem ser 25 centavos [escreve por extenso],... Sem ser nessa forma 0,25? A resposta do aluno Vítor evidencia o momento de ruptura comunicacional: em ml? Com a insistência da professora, os alunos Patrick e Elaine também evidenciam que não produziram o sentido da palavra representação: Um quarto! A quarta parte? A comunicação é retomada quando a aluna Natália gesticula com a mão indicando um traço de fração e pronuncia um quarto. Nesse trecho, o gesto da aluna
  • 13. mostrou à professora que ela havia produzido o sentido que já estava previsto. A professora aproveita a fala de Natália para retomar a comunicação com a turma evidenciando o sentido da pergunta que estava fazendo para a turma: Um quarto Natália? [escreve no quadro a representação fracionária] Como é chamada essa representação numérica aqui pra matemática? [aponta]. Observemos que a professora utiliza concomitantemente a fala, a escrita e o gesto de apontar, ou seja, recorre ao que Wittgenstein denomina de ensino ostensivo. A aluna Natália também faz uso de gesto com a mão para indicar o traço de fração, então podemos inferir que a ostensividade perpassa o processo de ensino-aprendizagem. Aqui, o ensino ostensivo foi usado para restabelecer a comunicação. Nesse processo, são ensinadas as regras em geral, e em particular, quais são as regras que permitem introduzir os modelos para as aplicações das palavras. Esta pesquisa verificou que quando o aluno aprende a aplicar a regra, por meio do ensino ostensivo, desenvolvido pelo professor, através de exemplos modelo, que lhe mostram como se aplica a regra, isso lhe conduz a produzir o sentido que favorece a significação, uma vez que a regra matemática tem um sentido único e, para os alunos, a regra pode assumir outros sentidos, por isso os problemas de aprendizagem. Em vários momentos verifica-se que tanto a professora quanto os alunos se utilizam de gestos, da escrita e da fala concomitantemente, do ato mostrar a representação e procurar outra correspondente, dentre outros recursos externos à linguagem formal da matemática para expressar os seus sentidos em relação ao discurso de seus interlocutores, evidenciando que a linguagem vai muito além da simples denominação do objeto pela sua representação, ou como diria Wittgenstein, que ela (a linguagem) está sempre associada a formas de vida. A prática da professora está de acordo com a filosofia de Wittgenstein (apud SILVEIRA, 2005), pois busca fazer com que os alunos desenvolvam a capacidade de aplicar corretamente as regras do jogo matemático, por meio do ensino ostensivo, tentando fazer com que os sentidos produzidos por eles não criem problemas de aprendizagem, mas, ao invés contribuam para que produzam o sentido (único) da regra matemática. Considerações finais Neste texto, conceituei a modelagem como um recurso gerador de ambientes de aprendizagem. Esse conceito foi esboçado a partir da coleta de dados de minha pesquisa de Mestrado, quando comecei a observar a preocupação da professora da turma
  • 14. pesquisada com o desenvolvimento do currículo oficial, o que em minha opinião, tem grande relevância uma vez que temos parâmetros curriculares a considerar. Me subsidiei teoricamente no conceito de ambientes de aprendizagem de (SKOVSMOSE, 2008) e na filosofia de Wittgenstein (1999), especificamente no que se refere aos jogos de linguagem, a partir da concepção de Chaves e Espírito Santo (2008). Essa sugestão não pretende esgotar a discussão em torno desse tema, nem fazer frente aos conceitos de modelagem correntes na literatura, uma vez que os utilizo como subsídio nos textos citados em que comecei a conceituar a modelagem como a apresento neste texto. Em vários momentos nas interações, verifiquei indícios de ensino ostensivo, como o ato de apontar enquanto fala, de escrever no quadro e falar ao mesmo tempo, o uso de gestos indicando aprovação, reprovação, expectativa, encorajamento, etc., que essencialmente contribuíram para o aprendizado da regra e para a produção do sentido da regra. Como recomendação para a prática docente, o estudo sugere que o professor deve se fazer presente em todas as etapas do processo de modelagem, como orientador das tarefas e, caso sinta a necessidade de interferir mais ativamente, pode recorrer ao ensino ostensivo, como recurso necessário e essencial ao processo de treinamento (que pode ser feito por meio de exemplos e de exercícios) da regra matemática, como forma de dotar o aluno dos instrumentos necessários para construção do sentido da regra e construção de conceitos. Referências BARBOSA, J. C. Mathematical modelling in classroom: a critical and discurse perspective. ZDM. Zentralblatt für Didahtik der Mathematik, Karlruhe, v. 38, n. 3, p.293-301, 2006a. BARBOSA, J. C. A Dinâmica das Discussões dos Alunos no Ambiente de Modelagem Matemática. In: Anais III SIPEM, Águas de Lindóia-SP, 2006b. BASSANEZI, R. C. Ensino-aprendizagem com Modelagem Matemática. São Paulo: Contexto, 2006. BEAN, D. W. O que é Modelagem Matemática? In: Educação Matemática em Revista. São Paulo, SBEM. Ano 8, n. 9/10, abril, 2001. BORBA, M. de C; ARAÚJO, J. de L. (Orgs.). Pesquisa qualitativa em educação matemática. 2ª Ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2006.
  • 15. BORBA, M. de C.; MENEGHETTI, R. C. G.; HERMINI, H. A. Modelagem, Calculadora Gráfica e Interdisciplinaridade na sala de aula de um curso de Ciências Biológicas. In: Educação Matemática em Revista. São José do Rio Preto, SBEM, nº 3, p. 63-70, 1997. BORROMEO FERRI, R. Theoretical and empirical differentiations of phases in the modelling process. Zentralblatt für Didaktik der Mathematik, v. 38, n. 2, p. 8695, 2006. BIEMBENGUT, M. S.; HEIN, N. Modelagem matemática no ensino. 4ª edição. São Paulo: Contexto, 2007. BIEMBENGUT, M. S. Modelagem Matemática & Implicações no Ensino e na Aprendizagem. 2ª Ed. Blumenau: Edfurb, 2004. BRASIL. Parâmetros Curriculares nacionais: terceiro e quarto ciclos. Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1998. BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais Ensino Médio. Secretaria de Educação Média e Tecnológica. Brasília: MEC/SEF, 199. CHAVES, M. I. A.; ESPÍRITO SANTO, A. O. Modelagem Matemática: uma concepção e várias possibilidades. In: Revista Bolema, Rio Claro, ano 21, número 30, p. 149-161, 2008. FIORENTINI, D.; LORENZATO, S. Investigação em educação matemática: percursos teóricos e metodológicos. 3ª Ed. rev. Campinas, SP: Autores Associados, 2009. MORENO, A. R. Wittgenstein: os labirintos da linguagem: ensaio introdutório. São Paulo: Moderna; Campinas, SP: Editora da Universidade de Campinas, 2000. OLIVEIRA, M. S. Interpretação e Comunicação em Ambientes de Aprendizagem Gerados pelo Processo de Modelagem Matemática. Dissertação (Mestrado em Educação em Ciências e Matemáticas) Universidade Federal do Pará, Belém, 2010a. OLIVEIRA, M. S. Modelagem Matemática: uma concepção baseada na noção de ambientes de aprendizagem. Anais do 10º ENEM – Encontro Nacional de Educação Matemática, 2010b. PORTO, A. S. As bases filosóficas do construtivismo matemático de Wittgenstein. 2002. 211 f. Tese (Doutorado em Filosofia) – Centro de Teologia e Ciências Humanas, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2002. RIPARDO, R. B.; OLIVEIRA, M. S.; SILVA, F. H. Modelagem Matemática e Pedagogia de Projetos: aspectos comuns. Alexandria Revista de Educação em Ciência
  • 16. e Tecnologia, v.2, n.2, p.87-116, 2009. Disponível em http://www.ppgect.ufsc.br/alexandriarevista Acesso em: 10 nov. 2009. SILVEIRA, M. R. A. da. Produção de sentidos e construção de conceitos na relação ensino/aprendizagem da matemática. Tese (Doutorado em Educação) – Faculdade de Educação, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2005. SKOVSMOSE, O. Desafios da Reflexão em Educação Matemática crítica. Trad. Orlando de Andrade Fegueiredo, Jonei Cerqueira Barbosa. Campinas, SP: Papirus, 2008. WITTGENSTEIN, L. Investigações Filosóficas. Trad. José Carlos Bruni. São Paulo: Nova Cultural, 1999.