1. UM OLHAR DECOLONIAL
NA ARTE NACIONAL
Uma reflexão necessária sobre pinturas
que tratam de preconceito racial e formas
de enfrentamento no país
2. Esta tela explora a questão do
branqueamento da população
brasileira de forma muito perversa:
a cena é composta pela avó negra,
a filha mulata e a neta quase
branca, pois o pai é um homem
branco. A avó agradece pelo
branqueamento da família
elevando os braços aos céus.
O título faz referência à passagem
bíblica em que Cam, filho de Noé, é
castigado por ter olhado o pai nu e
bêbado. O fato de Cam ser
apontado na Bíblia como suposto
ascendente das raças africanas fez
com que tal passagem fosse usada
na época como justificativa pelos
defensores da escravidão negra.
OBRA: A Redenção de Cam (1852), de
Modesto Brocos.
3. Obra: A Negra (1923), de Tarsila do
Amaral.
Embora o quadro revele um
momento importante na carreira de
Tarsila do Amaral, apresentando
novas técnicas e também a
preocupação do modernismo em
valorizar a identidade nacional (é
aqui, aliás, que mora o perigo), há
uma contradição nesta pintura cuja
protagonista foi inspirada por uma
das escravas da fazenda da família
da artista. A imagem nos instiga a
questionar alguns pontos do
imaginário escravocrata da época:
a mítica da democracia racial pós-
abolição, a sexualização do corpo
da mulher negra, o papel social da
ama de leite, entre tantos outros.
4. OBRA: Sem Título, de Benedito José
Tobias (1894-1963).
Benedito José Tobias nasceu no fim
do século 19 e trabalhou pouco tempo
depois da abolição da escravidão, que
na verdade nunca acabou. É muito
difícil encontrar retratos de pessoas
negras na história da arte brasileira.
E ele conseguiu, naquele período,
pintar negros e negras como
protagonistas de suas histórias. São
rostos que passam a ter o direito de
serem lembrados e memorizados. E o
Tobias faz isso com uma delicadeza
emocionante. E isso é uma luta
antirracista forte e poética. Não era
fácil ser artista naquele período,
especialmente sendo negro. E ele não
só conseguiu ser como levantou uma
bandeira de luta dentro do circuito.
5. OBRA: Okê Oxóssi (1970), de Abdias
Nascimento.
Nesta pintura, Abdias Nascimento usa
a bandeira nacional para dialogar
diretamente como povo brasileiro,
revendo os símbolos que fundam o
violento regime democrático no País. O
artista substitui a frase eurocêntrica e
positivista ‘ordem e progresso’ pela
saudação ‘okê’ dada a Oxóssi, Orixá da
caça, das florestas, da fartura. Dentro
da geometria impositiva, Abdias sugere
olharmos para nossa abundância
territorial e ancestral, que conectam
nosso futuro eticamente ao nosso
passado.
6. OBRA: What Is the Color of My Skin? /
Qual É a Cor da Minha Pele? (2013), de
Paulo Nazareth e Moisés Patrício.
Ao invés de uma resposta que
explique o racismo, este trabalho
propõe uma pergunta para nos fazer
pensar. Pois é de ironia que é feita a
obra de Paulo Nazareth, artista
afro-indígena que, ao questionar na
foto ‘Qual é a cor da minha pele?’,
aborda os limites da cor e da
racialidade, nos levando a refletir
sobre questões como o mito da
democracia racial no Brasil ao
mesmo tempo em que, nas suas
performances e deslocamentos
geográficos, problematiza por onde
passa o borrar das fronteiras, as
migrações forçadas e as noções
coloniais de origem e pertencimento.
11. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
LIVROS:
CARTILHA DOS POVOS E COMUNIDADES TRADICIONAIS DE MATRIZ AFRICANA. Ministério da Justiça e Cidadania, Secretaria Especial de Polıticas de Promoção da Igualdade
Racial, Secretaria de Polıticas para Comunidades Tradicionais. Brasília, 2016.
BAUER, Florence. Deixa que eu conto. Fundo das Nações Unidas para a Infância – UNICEF. Disponível em: file:///E:/FORMA%C3%87%C3%83O%20-
%20RELA%C3%87%C3%95ES%20%C3%89TNICO%20RACIAIS/Deixa%20que%20eu%20Conto_%20Guia%20de%20Possibilidades%20Pedag%C3%B3gicas%20.pdf.
MUNANGA, Kabengele (organizador). Superando o Racismo na Escola. Brasília: Ministério da Educação/Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade. 2ª edição
revista, 2005. Disponível em: http://portal.mec.gov-br/secad/arquivos/pdf/racismo_escola.pdf.
SITES:
GERMANO, Beta. 6 curadores negros propõem um olhar decolonial na arte nacional. 2020. Vougue. Disponível em: https://vogue.globo.com/lifestyle/cultura/Arte/noticia/2020/11/6-
curadores-negros-propoem-um-olhar-decolonial-na-arte-nacional.html.
GERMANO, Beta. 10 artistas afrobrasileiros que discutem o racismo. Arte que acontece. 2020. Disponível em: https://www.artequeacontece.com.br/10-artistas-afrobrasileiros-que-
discutem-o-racismo/.
FELINTO, Renata. Memória e resistência na arte contemporânea Afrobrasileira. 2011. Disponível em: http://www.omenelick2ato.com/artes-plasticas/memoria-e-resistencia-na-arte-
contemporanea-afrobrasileira.
LOBATO, Alice. Consciência Negra: jovens artistas usam as artes para combater o racismo no Amazonas. 2019. Amazônia real. Disponível em:
https://amazoniareal.com.br/consciencia-negra-jovens-artistas-usam-as-artes-para-combater-o-racismo-no-amazonas/.
VÍDEOS:
Curta Metragem "Dúdú e o Lápis Cor da Pele". Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=-VGpB_8b77U.
Ler Imagens | A Redenção de Cam, de Modesto Brocos. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=v3mtwEoBZJM.
FILMOGRAFIA:
Documentário: Vista a minha pele (2011)
Documentário: A negação do Brasil (2000)