1. O NAVIO NEGREIRO
Castro Alves
VERSOS CONTRA A INJUSTIÇA: OFICINA
POÉTICA SOBRE O NAVIO NEGREIRO E A
LUTA CONTRA O RACISMO
2. "O Navio Negreiro”: Um Poema Histórico
Hoje falaremos sobre "O Navio
Negreiro" de Castro Alves, musicada
inclusive por Caetano Veloso e
Carlinhos Brown.
Castro Alves, poeta abolicionista da
Terceira Geração do Romantismo,
escreveu esse clássico brasileiro,
refletindo a luta pela libertação dos
escravos.
O Brasil foi o último nas Américas a
abolir a escravidão, deixando marcas
que perduram em nossa cultura e
história.
O Navio Negreiro
3. "O Navio Negreiro”: Um Poema Histórico
O poema "O Navio Negreiro", escrito por
Castro Alves em 1870 durante sua estadia
em São Paulo, faz parte do livro "Os
Escravos" e simboliza a Terceira Geração
do Romantismo, destacada em "Espumas
Flutuantes".
Musicado por Caetano Veloso, com
arranjos de Carlinhos Brown, o poema
foi gravado por Caetano Veloso e Maria
Bethânia.
Extraído do álbum "Livro" (1997), o
poema, dividido em seis partes, é
analisado com foco nos três últimos
trechos. Influenciado pela poesia social
de Vitor Hugo, esse épico denuncia o
impacto da escravidão.
O Navio Negreiro
5. "O Navio Negreiro”: Um Poema Histórico
Em 1870, durante uma época em que o
Brasil ainda mantinha a escravidão,
Castro Alves escreveu o poema. A
abolição ocorreu apenas em 1888, 18 anos
depois.
O contexto do "O Navio Negreiro" aborda
o fim do tráfico internacional de escravos
após a Lei Eusébio de Queiroz em 1850.
No entanto, surgiram desafios com um
tráfico interno de escravos, notavelmente
para atender à demanda na cafeicultura do
Sul do Brasil.
O poema reflete esse cenário complexo.
O Navio Negreiro
6. terceira geração do romantismo
A terceira geração do Romantismo no
Brasil, conhecida como Geração
Condoreira, foi marcada por uma
intensificação do engajamento social e
político.
Essa fase teve como principal
característica a preocupação com temas
sociais, em especial a abolição da
escravatura, e uma visão crítica da
sociedade da época.
Os escritores dessa geração foram
influenciados por ideais republicanos e
abolicionistas, buscando uma arte
comprometida com a transformação da
sociedade.
Terceira Geração do Romantismo
7. 1. Engajamento Social: Envolvimento ativo com
questões sociais e políticas, especialmente a luta
pela abolição da escravatura.
2. Idealização do Herói: Construção de heróis
ligados aos ideais de liberdade e justiça social.
3. Poesia Social e Épica: Uso de uma linguagem
grandiosa e épica para expressar as preocupações
sociais e políticas.
4. Condoreirismo: Inspirados por poetas franceses
como Alphonse de Lamartine, os autores dessa
geração tinham uma visão romântica, idealista e
épica.
5. Abolição da Escravatura: Forte abordagem e
crítica à escravidão, buscando sensibilizar a
sociedade para a causa abolicionista.
Características da terceira geração do Romantismo
Terceira Geração do Romantismo
8. Castro Alves, um dos principais representantes dessa
geração, foi um poeta profundamente envolvido nas
causas sociais de sua época.
Seu poema "O Navio Negreiro" é uma obra marcante
que reflete as características do Condoreirismo.
Na narrativa, Alves denuncia de maneira impactante
e emocional a tragédia da escravidão, utilizando
simbolismos épicos e grandiloquentes para despertar
a consciência social.
O poema é uma eloquente manifestação artística em
prol da liberdade e contra a injustiça, alinhando-se
perfeitamente com os ideais e características da
Terceira Geração do Romantismo no Brasil.
Castro alves
Castro Alves
9. O autor
Castro Alves
Castro Alves iniciou seus
estudos na Bahia e, em
1864, encontrou sua musa,
a atriz Eugênia Câmara,
que se tornou sua amante e
incentivadora na carreira
literária.
10. O autor
Castro Alves
Em 1868, mudou-se para São
Paulo, interagindo com figuras
como José de Alencar e
Machado de Assis. Ingressou
na Faculdade de Direito do
Largo São Francisco,
engajando-se no movimento
abolicionista ao lado de
colegas.
11. O autor
Castro Alves
Em 1870, um trágico acidente
durante uma caçada resultou
na amputação de seu pé
esquerdo. Fragilizado pela
tuberculose, retornou à Bahia,
onde faleceu aos vinte e quatro
anos.
14. Síntese do poema
Concluído pelo poeta em São Paulo, em 1868, "O Navio
Negreiro - Tragédia no Mar" é um dos poemas mais
conhecidos da literatura brasileira. Cerca de vinte anos após
a promulgação da Lei Eusébio de Queirós, em 1850, que
proibiu o tráfico de escravos, Castro Alves destacou-se na
denúncia da miséria imposta aos africanos durante a cruel
travessia oceânica. É relevante lembrar que, em média,
menos da metade dos escravos embarcados nos navios
negreiros sobreviviam à viagem.
16. O que foi o
Iluminismo?
O Navio Negreiro
O Iluminismo foi um movimento
intelectual que se tornou popular
no século XVIII, conhecido
como "Século das Luzes".
Surgido na França, a principal
característica desta corrente de
pensamento foi defender o uso
da razão sobre o da fé para
entender e solucionar os
problemas da sociedade.
17. "O Navio Negreiro”: Um Poema Histórico
O poema faz uma análise histórica e literária.
Inicia destacando o oceano Atlântico e a
natureza, especialmente na primeira parte.
Castro Alves utiliza metáforas, como o
albatroz, para se aproximar do navio em alto
mar. Caetano Veloso escolhe o trecho:
"’Stamos em pleno mar"
É crucial para entender a narrativa. O poeta observa o
navio longe das costas da África e do Brasil. A beleza
inicial da natureza se transforma em tragédia quando o
poeta se depara com a realidade a bordo.
O Navio Negreiro
18. "O Navio Negreiro”: Um Poema Histórico
“Era um sonho dantesco... o tombadilho
Que das luzernas avermelha o brilho.
Em sangue a se banhar.
Tinir de ferros... estalar de açoite...
Legiões de homens negros como a noite,
Horrendos a dançar...”
O Navio Negreiro
Na primeira parte do poema presente na música de
Caetano Veloso, o poeta descreve o tombadilho do navio
como um "sonho dantesco".
Ele evoca Dante Alighieri e sua visão infernal em: "A
Divina Comédia".
O tombadilho, a parte superior do navio, é comparado ao
inferno de Dante. A luz que avermelha o brilho das
lanternas simboliza o sangue, dando à cena uma atmosfera
infernal.
A palavra "dantesco" sugere uma experiência aterradora,
conectando a realidade do navio à visão assustadora do
inferno descrita por Dante.
19. "O Navio Negreiro”: Um Poema Histórico
“Negras mulheres, suspendendo às tetas
Magras crianças, cujas bocas pretas
Rega o sangue das mães:
Outras moças, mas nuas e espantadas,
No turbilhão de espectros arrastadas,
Em ânsia e mágoa vãs!”
O Navio Negreiro
Neste trecho do poema, Castro Alves descreve a cena
macabra no Navio Negreiro.
Ele compara a situação a uma festa infernal, onde homens
negros, acorrentados, dançam.
As imagens são chocantes, com mulheres negras segurando
crianças magras, cujas bocas são regadas pelo sangue das
mães.
O poeta aborda o sofrimento das mulheres, especialmente
das mães, que não têm leite para alimentar seus filhos
devido à escassez de comida durante a longa travessia da
África para a América.
A descrição enfatiza a desumanização e crueldade
enfrentadas pelos escravizados, que eram tratados como
mercadorias e submetidos a condições terríveis.
20. pausa para reflexão: bonecas abayomi
Boneca Abayomi
Muito se fala que as bonecas Abayomi eram feitas por mães em
navios negreiros, como forma de gerar segurança e transmitir
afeto para os filhos que as acompanhavam no trajeto.
Frequentemente, é vendida como “símbolo de resistência” da
cultura negra em diáspora.
A narrativa que sustenta as Abayomis, apesar de fortemente
presente no ideário popular, é uma história romantizada que
deve ser repensada e colocada em debate. Afinal, não existe
registro histórico que associe a origem das bonecas ao período
colonial.
Esta versão recente da Abayomi foi criada pela brasileira
Waldilena “Lena” Serra Martins, artesã maranhense nascida
em 1950.
Em um contexto no qual os Centros Integrados de Educação
Pública (Ciep) estavam em plena expansão, na década de 1980,
e o cargo de animador cultural era o principal mediador entre a
cultura local e o contexto pedagógico. Foi no Rio de Janeiro,
cidade onde Lena cresceu, que a produção de Abayomis tomou
forma.
Embora existam outras bonecas similares, a artesã desenvolveu
a técnica para criação das bonecas em 1987. Enquanto era
coordenadora de animação cultural no Ciep Luiz Carlos
Prestes, localizado na Cidade de Deus, bairro da zona oeste do
Rio de Janeiro.
21. Carlos Machado, historiador e autor de "Gênios da
humanidade – ciência, tecnologia e inovação
africana e afrodescendente", destaca que a
disseminação da narrativa das bonecas Abayomi
originárias de navios negreiros reflete uma
sociedade que prefere contos de fadas e mitos.
No Brasil, marcado por desigualdades e crueldades,
especialmente em relação à população
afrodescendente e indígena, esse mito surge como
uma forma de aliviar a culpa e a responsabilidade
pelas injustiças históricas.
Essa narrativa romantizada, portanto, é cruel ao
invisibilizar o trabalho de Lena Martins, negando a
autoria do símbolo cultural a uma autora ainda
viva.
Luciane Adriano, historiadora e pesquisadora de
religiões afrodiaspóricas, enfatiza a importância de
contar a história de forma verdadeira, seja trágica
ou horrível, para evitar repetições equivocadas no
futuro.
pausa para reflexão: bonecas abayomi
Boneca Abayomi
22. A versão distorcida da história da Abayomi deve ser
contestada, pois idealiza uma visão romântica da diáspora
africana, buscando amenizar eventos bárbaros.
A historiadora destaca a falta de registros documentados que
comprovem mães levando seus filhos nos navios negreiros, pois
os traficantes de escravos geralmente não traziam crianças
pequenas devido à ausência de "valor" atribuído a elas.
A separação das mulheres de suas famílias e o trágico destino
de algumas crianças menores, jogadas no mar, acentuam a
tragédia da diáspora africana.
Lena Martins, criadora das Abayomis, rejeita a ideia de que as
bonecas tenham origem nos navios negreiros, enfatizando a
tendência de associar a vida do povo negro a ambientes
adversos.
O processo de criação das Abayomis foi orgânico para Lena,
que inicialmente confeccionava bonecas de pano e palha de
milho, sem um projeto definido. O nome "Abayomi" surgiu
durante a gestação da professora e militante Ana Gomes,
integrante do grupo pioneiro de produção das bonecas,
tornando-se um nome cheio de identidade e força ancestral com
o nascimento do menino Abebe, batizando o trabalho de
diversas mulheres negras.
pausa para reflexão: bonecas abayomi
Boneca Abayomi
23. Por meio da arte, Lena Martins, além de coordenadora de animação
cultural, integrava o Movimento de Mulheres Negras. As Abayomis foram
criadas em 1987, um ano antes do centenário da abolição da escravidão,
durante discussões sobre a redemocratização do país. O intenso
envolvimento resultou na criação da Coop Abayomi, uma cooperativa de
artesãs negras, que se tornou referência na época.
Feitas de retalhos, sem o uso de cola ou linha, as Abayomis recebem
destaque de Lena Martins como produtos que surgem de uma busca
constante por identidade. Essa expressão artística mistura seu
envolvimento com o movimento de mulheres negras e a ampliação de sua
consciência por meio de palestras do movimento negro.
Quanto à resistência e autoestima, Luciane Adriano destaca que a
Abayomi possui valor como objeto resistente, retratando um ciclo de vida
e gerando possibilidades para a criação de autoestima. A boneca se tornou
um instrumento para fomentar elementos de matriz africana na educação,
fortalecendo a autoestima do povo negro por meio da afetividade e
reconstruindo histórias de pessoas marginalizadas na periferia do Rio de
Janeiro.
Luciane ressalta que a história não é uma ciência neutra e alerta sobre a
facilidade de contar uma narrativa já pronta, especialmente quando
romantizada.
pausa para reflexão: bonecas abayomi
Boneca Abayomi
24. "O Navio Negreiro”: Um Poema Histórico
“E ri-se a orquestra irônica, estridente...
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais ...
Se o velho arqueja, se no chão resvala,
Ouvem-se gritos... o chicote estala.
E voam mais e mais...”
O Navio Negreiro
Castro Alves descreve uma cena macabra e irônica,
comparando-a a um Inferno de Dante.
A orquestra citada, em vez de harmoniosa, é estridente e
composta pelos sons cruéis dos açoites, correntes e gritos
de sofrimento.
A serpente na ronda fantástica simboliza o chicote,
movendo-se em espirais e dando botes, associando-se à
crueldade da cena.
O poeta destaca o sofrimento dos escravizados,
representados pelo velho que arqueja e resvala no chão,
enquanto os gritos e estalos do chicote ecoam.
25. "O Navio Negreiro”: Um Poema Histórico
“Presa nos elos de uma só cadeia,
A multidão faminta cambaleia,
E chora e dança ali!
Um de raiva delira, outro enlouquece,
Outro, que martírios embrutece,
Cantando, geme e ri!”
O Navio Negreiro
Neste trecho, Castro Alves descreve de maneira
impactante a situação dos escravizados.
Amarrados em uma única corrente, a multidão faminta
oscila entre o choro e a dança.
Alguns são tomados pela raiva e delírio, outros
enlouquecem, e há aqueles que, apesar dos martírios
brutais, superam a adversidade cantando, gemendo e
rindo.
O poema destaca a resiliência e a capacidade de
superação desses indivíduos diante das condições
desumanas da escravidão.
26. "O Navio Negreiro”: Um Poema Histórico
“No entanto o capitão manda a manobra,
E após fitando o céu que se desdobra,
Tão puro sobre o mar,
Diz do fumo entre os densos nevoeiros:
"Vibrai rijo o chicote, marinheiros!
Fazei-os mais dançar!..."
O Navio Negreiro
É descrita a cena em que o capitão do navio,
observando o céu claro sobre o mar, ordena uma
manobra.
Ele destaca a densa névoa que envolve o navio e, no
meio dela, o capitão comanda os marinheiros a
vibrarem com força os chicotes para fazer os
escravizados "dançarem" ainda mais.
A ordem do capitão visa acelerar o navio em direção ao
destino, aproveitando a força dos escravizados remando
enquanto acorrentados, uma metáfora da cruel dança
imposta pela escravidão para alcançar a velocidade
desejada na travessia marítima.
27. "O Navio Negreiro”: Um Poema Histórico
"Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus!
Se é loucura... se é verdade
Tanto horror perante os céus?!
Ó mar, por que não apagas
Co'a esponja de tuas vagas
De teu manto este borrão?...
Astros! noites! tempestades!
Rolai das imensidades!
Varrei os mares, tufão!"
O Navio Negreiro
Neste trecho, o autor clama a Deus, referindo-se aos
desgraçados como os escravizados, pedindo uma
explicação para o horror que presencia diante dos céus.
Ele questiona se é loucura ou verdade testemunhar
tamanha atrocidade.
Implora ao mar que apague essa mancha com suas vagas
e solicita aos astros, noites e tempestades que varram os
mares como um tufão.
O poeta busca respostas divinas e apela à natureza para
remediar o sofrimento dos escravizados e apagar a
mancha desse terrível cenário.
28. "O Navio Negreiro”: Um Poema Histórico
“Se a estrela se cala,
Se a vaga à pressa resvala
Como um cúmplice fugaz,
Perante a noite confusa...”
O Navio Negreiro
Nesse trecho, o autor observa a inação da
natureza diante do sofrimento dos
escravizados.
A estrela se cala, a onda atinge o navio, mas
não o afunda.
O poeta expressa sua frustração com a
aparente indiferença da natureza, enquanto
persiste na busca por identificar quem são os
desgraçados que sofrem em silêncio.
29. "O Navio Negreiro”: Um Poema Histórico
“Quem são? (...)
Dize-o tu, severa Musa,
Musa libérrima, audaz!...”
O Navio Negreiro
Neste trecho, o poeta pede à Musa, uma figura
inspiradora, que revele a identidade dos sofredores
mencionados anteriormente.
O poeta destaca a natureza audaciosa e livre da
Musa, solicitando que ela forneça a resposta para a
pergunta crucial sobre quem são essas pessoas.
A resposta é cheia de características da terceira
geração do Romantismo.
30. "O Navio Negreiro”: Um Poema Histórico
“São os filhos do deserto,
Onde a terra esposa a luz.
Onde vive em campo aberto
A tribo dos homens nus...
São os guerreiros ousados
Que com os tigres mosqueados
Combatem na solidão.
Ontem simples, fortes, bravos.
Hoje míseros escravos,
Sem luz, sem ar, sem razão.”
O Navio Negreiro
A Musa revela que esses sofredores são
os filhos do deserto, a tribo dos homens
nus, guerreiros ousados que, outrora
fortes e bravos, agora são míseros
escravos, privados de luz, ar e razão.
31. "O Navio Negreiro”: Um Poema Histórico
“São mulheres desgraçadas,
Como Agar o foi também.
Que sedentas, alquebradas,
De longe... bem longe vêm...
Trazendo com tíbios passos,
Filhos e algemas nos braços,
N'alma — lágrimas e fel...
Como Agar sofrendo tanto,
Que nem o leite de pranto
Têm que dar para Ismael.”
O Navio Negreiro
As mulheres sofredoras são equiparadas a
Agar, personagem biblíca, mulheres
desgraçadas que, sedentas e alquebradas,
vêm de longe carregando filhos e algemas
nos braços, com almas repletas de lágrimas
e amargura.
Assim como Agar, que não tinha nem o leite
do pranto para oferecer a Ismael.
32. "O Navio Negreiro”: Um Poema Histórico
“Lá nas areias infindas,
Das palmeiras no país,
Nasceram crianças lindas,
Viveram moças gentis...
Passa um dia a caravana,
Quando a virgem na cabana
Cisma da noite nos véus ...
... Adeus, ó choça do monte,
... Adeus, palmeiras da fonte!...
... Adeus, amores... adeus!....”
O Navio Negreiro
Na continuação, a Musa destaca a beleza das
crianças e moças que nasceram e viveram nas
areias e palmeiras da África.
No entanto, o tom muda quando a caravana
parte, e a virgem na cabana lamenta a chegada da
noite.
O poema expressa um doloroso adeus à choça, às
palmeiras e aos amores africanos antes da partida
para o horror do navio negreiro.
33. "O Navio Negreiro”: Um Poema Histórico
O Navio Negreiro
Na análise do poema de Castro Alves, observamos
que a obra é rica em metáforas e aberta a
interpretações.
O ápice ocorre na sexta parte, refletindo a
revelação trágica.
Na música de Caetano Veloso, esse momento se
destaca com a transição do atabaque para o
pandeiro.
A narrativa aborda a proximidade do navio com o
mar, a associação ao inferno de Dante, os apelos
a Deus e à natureza, além da pergunta sobre a
identidade dos escravos, respondida pela Musa.
O desfecho revela a tragédia que se desenha.
34. “Auriverde pendão de minha terra,
Que a brisa do Brasil beija e balança,
Estandarte que a luz do sol encerra
E as promessas divinas da esperança...
Tu que, da liberdade após a guerra,
Foste hasteado dos heróis na lança
Antes te houvessem roto na batalha,
Que servires a um povo de mortalha!...”
"O Navio Negreiro”: Um Poema Histórico
O Navio Negreiro
Na parte final do poema, a grande descoberta revela a
presença de uma bandeira, símbolo da nação.
A Musa fica arrasada e chora, lavando o pavilhão com
seu pranto. Essa descoberta choca, pois indica que a
atrocidade é apoiada por toda uma nação, destacando
a extensão da escravidão e do tráfico de escravos que
sustentava a economia brasileira.
A auriverde pendão, que representa a esperança e
liberdade, agora é associada a um povo envolto em
mortalha, gerando uma constatação triste sobre a
escala do sofrimento humano.
35. “Fatalidade atroz que a mente esmaga!
Extingue nesta hora o brigue imundo
O trilho que Colombo abriu nas vagas,
Como um íris no pélago profundo!
Mas é infâmia demais! ... Da etérea plaga
Levantai-vos, heróis do Novo Mundo!
Andrada! arranca esse pendão dos ares!
Colombo! fecha a porta dos teus mares!”
"O Navio Negreiro”: Um Poema Histórico
O Navio Negreiro
Na conclusão, o poema expressa a fatalidade atroz que
esmaga a mente, mencionando a extinção do brigue
imundo, simbolizando os horrores associados à
chegada dos europeus ao Novo Mundo.
O pedido para que heróis do Novo Mundo, como
Andrada, se levantem e retirem o pendão dos ares
sugere uma rejeição aos males causados pela
colonização.
A referência a Colombo fechando a porta de seus
mares sugere uma reflexão sobre as consequências e
responsabilidades dos feitos do passado.