O documento discute a renovação do serviço social no Brasil sob a ditadura militar (1964-1985), marcada pela erosão das bases tradicionais da profissão e emergência de novas modalidades de intervenção. Isso ocorreu devido à modernização conservadora e industrialização, que exigiram um profissional e formação mais modernos. Surgiram então três perspectivas na renovação: modernizadora, de reatualização conservadora e de ruptura, esta última com enfoque marxista.
2. Até o final da década de 1960, e entrando pelos anos 1970, no
discurso e na ação governamentais há um claro componente
de validação e reforço ao serviço social tradicional;
Um dos componentes das relações entre a autocracia
burguesa e o serviço social operou para a manutenção das
modalidades de intervenção e (auto) representações que
matrizavam a profissão desde o início dos anos 1950;
Se, realmente, a autocracia burguesa investiu na reiteração de
formas tradicionais da profissão, seu movimento imanente
apontou para uma ponderável reformulação do cenário do
serviço social, justamente pela instauração de algumas
condições;
3. Tais condições vinculam-se sobretudo à reorganização do
Estado e às modificações profundas na sociedade que se
efetivaram, durante o ciclo autocrático burguês, sob o
comando do grande capital;
Essa condições ferem o serviço social, especialmente, em
dois níveis: o da sua prática e o da sua formação
profissional;
No que diz respeito à pratica, o processo da “modernização
conservadora” engendrou um mercado nacional. A
expansão desse mercado tem conexão direta com o
andamento da industrialização pesada;
4. O Estado, tradicional grande empregador dos assistente
sociais, reformula substantivamente, a partir de 1966-1967,
as estruturas onde se inseriam aqueles profissionais- na
abertura de uma série de reformas que, atingindo
primeiramente o sistema previdenciário, haveria de alterar
de cima a baixo o conjunto de instituições e aparatos
governamentais através dos quais se interfere na “questão
social”;
Acarretando uma diferenciação e uma especialização das
próprias atividades dos assistentes sociais, decorrentes
quer do elenco mais amplo das políticas sociais, quer das
próprias sequelas do “modelo econômico” (ver nota de
rodapé 15- pg. 121);
5. Além disso, o mercado nacional no final do anos 1970 é
dinamizado por outro polo, que não diretamente o Estado:
trata-se das médias e grandes empresas. O crescimento
industrial que se opera torna este segmento do mercado de
trabalho algo extremamente expressivo- é a partir de então
que podemos falar de um serviço social de empresa;
Necessidades peculiares de vigilância e controle da força de
trabalho no território da produção;
6. Sinteticamente, o fato central é que, no curso deste
processo, mudou o perfil do profissional demandado pelo
mercado de trabalho que as condições novas postas pelo
quadro macroscópico da autocracia burguesa faziam
emergir: exige-se um assistente social ele mesmo
“moderno”- com um desempenho onde traços
“tradicionais” são deslocados e substituídos por
procedimentos “racionais”.
Produzir este profissional “moderno” implicava uma
profunda rotação nos mecanismos vigentes da formação
dos assistentes sociais (pg. 124-125)/
Inserção do ensino do Serviço Social no âmbito
universitário no lapso de vigência da autocracia burguesa;
7. No plano específico do perfil da formação profissional, o
impacto operado pelo ingresso na universidade foi
multifacetado e contraditório. De um lado, propiciou
institucionalmente a interação das preocupações técnico-
profissionais com as disciplinas vinculadas às ciências
sociais; é então que a formação recebe de fato o influxo da
sociologia, da psicologia social e da antropologia.
Simultaneamente, a formação recebe a influência dos viés
tecnocrático e asséptico das disciplinas sociais possíveis na
universidade da ditadura.
Os docentes puderam acumular reservas de forças e
engendrar no âmbito do Serviço Social uma massa crítica
(pg.126);
8. A “modernização conservadora "redefine a base da
legitimidade profissional ao se redefinirem as exigências do
mercado de trabalho e o quadro da formação para ele
É neste contexto que se desenvolve a renovação do Serviço
Social.
9. Emergência da renovação do serviço social- romper com o
confessionalismo
Modernizar a formação profissional e a sua prática
Erosão das bases do serviço social tradicional
Novas modalidades de intervenção sobre a questão social a
partir da industrialização pesada;
Inserção dos assistentes sociais em equipes
multiprofissionais;
Condição de “agente de mudança”
O movimento estudantil faz seu ingresso nas escolas de
Serviço Social.
10. O processo e os traços gerais da renovação do Serviço Social
A renovação implica no conjunto de características novas
que vão permear a profissão;
Natureza profissional dotada de legitimação prática,
através de respostas a demandas sociais e da sua
sistematização, e de validação teórica, mediante a
remissão às teorias e disciplinas sociais;
A laicização é um dos elementos caracterizadores de
renovação do Serviço Social sob a autocracia burguesa;
11. Instaurando condições para uma renovação do Serviço
Social de acordo com as suas necessidades e interesses, a
autocracia burguesa criou simultaneamente um espaço
onde de inscrevia a possibilidade de se gestarem
alternativas às praticas e às concepções profissionais que
ela demandava;
Ênfase na analise crítica do próprio Serviço Social: a
profissão mesma se põe como objeto de pesquisa, num
andamento antes desconhecido. O Serviço Social se
questiona e se investiga como tal.
12. Quatro aspectos sinalizam os nós mais decisivos do
processo de renovação do Serviço Social:
A instauração do pluralismo teórico, ideológico, e político
no marco profissional;
A diferenciação das concepções profissionais (natureza,
objeto, objetivos e práticas), derivada do recurso
diversificado a matrizes teórico-metodológicas
alternativas, rompendo com a homogeneidade e
inaugurando um momento de discussões e polemicas de
relevo no interior da profissão.
13. A sintonia da polêmica teórico-metodológica profissional
com as discussões em curso no conjunto das ciências
sociais, inserindo o Serviço Social na interlocução
acadêmica e cultural contemporânea como protagonista
que tentar cortar com a subalternidade (intelectual) posta
por funções meramente executivas;
A constituição de segmentos de vanguarda inseridos na
vida acadêmica, voltados para a pesquisa e investigação.
14. As direções da Renovação do Serviço Social no Brasil
Três momentos importantes:
1) 2° metade dos anos 1960;
Impulso organizador do CBCISS- “Seminários de teorização”
2) Dez anos depois (1975);
Objetivação das inquietudes sistematizadas no âmbito dos
cursos de pós-graduação
3) Abertura dos nos 1980;
Intervenção dos organismos ligados às agências de formação
(ABESS) ou diretamente à categoria profissional (associações
profissionais, sindicatos).
15. Dados significativos desse movimento:
O alargamento do elenco de interlocutores, em função da
pluralidade dos organismos envolvidos e da ampliação da
categoria profissional (gradualmente o grupo restrito das
“estrelas” consagradas da profissão vai sendo deslocado
por um segmento cada vez maior de profissionais;
Nova modalidade de difusão dos conteúdos da renovação
(emergência de condutos mais capilarizados e eficazes
para divulgar os eixos da renovação.
Erodida a base do Serviço Social tradicional, a reflexão
profissional se desenvolveu em três direções principais.
16. Perspectiva modernizadora
Adequar o Serviço Social, enquanto instrumento de
intervenção inserido no arsenal de técnicas sociais a ser
operacionalizado no marco de estratégias de
desenvolvimento capitalista, às exigências próprias pelos
processos sócio-políticos emergentes no pós-64;
Seminários de Araxá e Teresópolis;
Tematização do Serviço Social como dinamizador e
integrador do processo de desenvolvimento;
Instrumento profissional de suporte a políticas de
desenvolvimento;
17. Aceita como dado inquestionável a ordem sociopolítica
derivada de abril e procura dotar a profissão de
referências e instrumentos capazes de responder às
demandas que se apresentam nos seus limites;
Abertura de espaços socioprofissionais nas instituições e
organizações estatais e paraestatais, submetidas à
racionalidade burocrática das reformas promovidas pelo
Estado ditatorial;
Hegemonia em meados dos anos 1970;
Conteúdo reformista;
Intelectual de referência- Lucena Dantas
18. Perspectiva de Reatualizarão do Conservadorismo
Vertente que recupera os componentes mais estratificados
da herança histórica e conservadora da profissão nos
domínios da (auto) representação e da prática, e os repõe
sobre uma base teórico-metodológica que se reclama
nova;
Repudia tanto os padrões mais nitidamente vinculados à
tradição positivista como as referências ao pensamento de
raiz marxiana;
Inspiração fenomenológica;
Visão de mundo derivada do pensamento católico
tradicional- traço microscópico da intervenção
profissional.
19. Perspectiva modernizadora Reatualização do Conservadorismo
Tem como base teórica o estrutural
Funcionalista
Tem como base teórica a Fenomenologia
Abordagem positivista Naturalista Abordagem humanista Culturalista
Produções teóricas Documento de Araxá (1967)
e Documento de Teresópolis (1970)
Produções teóricas Doc. de Súmare( 1978), Alto da
Boa Vista (1988) e as contribuições de ALMEIDA,
PAVÃO E CARVALHO
Serviço Social entendido como uma profissão
apta a atuar junto aos indivíduos desajustados
Serviço Social entendido como uma ajuda psicossocial
O assistente social é neutro e o objeto é tratado
como coisa
O assistente social busca compreender as experiências
vividas pelo cliente, levando-o a refletir sobre a
realidade em que se encontra
As funções do SSO são definidas em alinhamento
com a modernização e em combinação com o
tradicional. Ênfase na técnica, no planejamento e
na neutralidade profissional
As funções do SSO são norteadas pelo processo de ajuda
psicossocial. Ênfase na abordagem individual, no
diálogo e na interação entre profissional e cliente
Continuidade com o caldo tradicional da
profissão
Não rompe com o passado, mas lhe dá nova roupagem
Fenomenológica
20. Perspectiva de intenção de ruptura
Realiza uma crítica sistemática ao desempenho
tradicional do Serviço Social em seus suportes teóricos,
metodológicos e ideológicos;
Tem suas elaborações junto a comunidade acadêmica;
Aproximação a teoria social marxista:
1º momento: Forma enviesada
2º momento: Indo aos clássicos
3º momento: Espraiamento sobre a categoria
profissional
21. Déc. de 1980: Grandes produções IAMAMOTO;
NETTO.
Compreensão da profissão dentro do escopo das relações
capitalistas de produção, o aspecto funcional da profissão
é colocado para a categoria profissional;
Busca pela essência dos fenômenos sociais;
Crítica a ordem burguesa;
Um projeto profissional comprometido com o avanço da
democracia, ampliação e consolidação da cidadania, com
a qualificação das políticas públicas enquanto direitos e
justiça social.