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GESTALT TERAPIA
Rosana Zanella
“Aquele que se auto-realiza, espera o
possível.
Aquele que quer realizar um conceito
tenta o impossível.”
(Fritz Perls, 1966)
Gestalt: palavra alemã que aproximadamente significa
todo, estrutura, forma, organização, configuração.
É uma teoria de campo fenomenológica, que se baseia na
experiência imediata; a experiência acontece no aqui e agora.
Independente de o fato ser passado ou futuro, o sentimento
acontece no aqui e agora, ele é presente, e só posso senti-lo
no presente.
Basear-se na experiência imediata é sempre descrever o que
acontece e não somente explicar os fatos- “como” e do “o
que quê” ao invés do “por que”. De acordo com Yontef
(1998), “agora” refere-se a este momento, o presente é a
movimentação permanente entre o passado e o futuro.
GESTALT TERAPIA é uma teoria e prática
sobre
o desenvolvimento/crescimento do Ser
Humano,
que se dá em um processo de co-
construção com
o mundo em que está inserido.
GESTALT-TERAPIA
HISTÓRICO
GESTALT TERAPIA
Friedrich Salomom Perls (08/07/1893 //
14/03/1970), médico alemão interessado em
neurologia e depois em psiquiatria; se
aproximou da Psicanálise. Antes de se
decidir pela medicina, havia considerado a
possibilidade de se tornar ator. De
temperamento irrequieto,intempestivo e
muito criativo, foi desenvolvendo a sua visão
de psicanálise, tendo em curto espaço de
tempo conseguido muitas inimizades e, por
fim, sua expulsão da Soc. de Psicanálise.
Em 1920, aos 27 anos, graduou-se em Medicina,
passando a trabalhar como neuropsiquiatra.
Em 1926, em Frankfurt, trabalhou com o neuropsiquiatra
Kurt Goldstein e com sua assistente, Laura Posner, mais
tarde co-fundadora da Gestalt-terapia.
Por ser de religião judaica, imigrou em 1936 para a
Johanesburgo na África do Sul, onde fundou um Instituto
de Psicanálise
Foi analisando de Wilhelm Reich. Chegou a ter um
encontro com Freud, a partir do qual rompeu
definitivamente com a Psicanálise. Em 1946 imigrou para
os Estados Unidos, tendo se fixado em New York.
Pode-se considerar que a
Gestalt terapia germinou no
espírito de Frederick Perls
em 1940, na África do Sul.
Quando imigrou nesta
mesma época para a
América com sua esposa
Laura Perls, integraram-se
a um grupo de intelectuais
não conformistas com o
sistema vigente, entre eles,
o anarquista Paul
Goodman, Isadore From,
Paul Weisz e Ralf Hefferline.
10
11
Em 1962, Perls entra em contato com o zen-budismo ao
passar uns tempos em um mosteiro no Japão e aprende lá
alguns conceitos que se incorporam à filosofia da Gestalt-
terapia:
permitir o fluir da experiência;
a aceitação do que se é;
a possibilidade de se aprender a lidar com o vazio, o qual é
fértil de possibilidades, uma vez que, não raro, é o
momento que precede o ato criativo.
Em 1964 instala-se em
Esalen.
Perls retorna para EUA em Fevereiro de 1970, com a
saúde muito ruim. Entra no Hospital Weiss Memorial, em
Chicago. Laura vai visitá-lo. Após a cirurgia, morre de
ataque cardíaco em 14 de março aos 76 anos . A
autópsia revelou câncer de pâncreas.
Laura falece em 1990, nos EUA.
Deixaram como legado uma das mais importantes
abordagens da Psicologia e da psicoterapia atual, uma
abordagem em constante desenvolvimento e em constante
luta por um mundo mais humano e mais simples.
Frederick Perls, judeu alemão comumente chamado de
Fritz, é visto como o principal criador da Gestalt terapia,
no
entanto, muitos a consideram fruto, sobretudo, das
discussões e produções do chamado “grupo dos sete”, do
qual Fritz fazia parte, que era um grupo de intelectuais
não
conformistas que questionavam os códigos sociais
vigentes na sociedade americana do pós-guerra e
buscavam um estilo de vida e de expressão mais
autênticos.
FRITZ PERLS
Perls, Lore e Paul Goodman, constituíram a Gestalt
Terapia a partir de fontes como a Psicologia da Gestalt,
Fenomenologia, Existencialismo, Teoria Organísmica de
Goldstein, Teoria de Campo de Lewin, Psicodrama, Reich,
Bubber e, por fim, a filosofia oriental.
Transcorridos mais de 50 anos desde a proposição da
Gestalt Terapia, a abordagem gestáltica consolidou
sua presença no cenário das práticas psicológicas.
A Gestalt terapia defende a tese de que o homem só
pode ser compreendido, através da relação que ele
tem com o meio;
Parte do pressuposto que o processo de
conscientização é fundamental para que o indivíduo,
possa estabelecer contatos de boa qualidade com o
meio.
“Amigo, não seja um perfeccionista. Perfeccionismo
é uma maldição e uma prisão. Quanto mais você
treme, mais erra o alvo. Você é perfeito, se se
permitir ser.
Amigo, não tenha medo de erros. Erros
não são pecados. Erros são formas de fazer algo de
maneira diferente, talvez criativamente nova.
Amigo, não fique aborrecido por seus erros.
Alegre-se por eles. Você teve coragem de dar algo
de si.”
Fritz Perls
Gestalt-Terapia é uma linha psicoterapêutica.
O objetivo está na promoção da estimulação do
contato, da ação do aqui agora, e do aproveitamento
do sistema sensorial e motor a fim de permitir o
reconhecimento e o fechamento das gestalten abertas
(são coisas mal resolvidas, não acabadas, das quais as
pessoas tem muito pouco ou nenhuma consciência disso)
ao longo da vida da pessoa.
Psicologia da Gestalt é uma vertente em psicologia
que estuda em particular, as questões da percepção e
elabora teorias a partir disso.
Perls criou a Gestalt-terapia e se preocupou com:
uma concepção da relação corpo–mente que
fosse integradora ao invés de dualista.
uma noção de configuração ou estrutura que
abrangesse a complexidade das inter-relações de
fatores biológicos, psicológicos e socioculturais,
dos quais a experiência e o comportamento do
homem são resultantes.
um método de pensamento que, afastando-se
das explicações causais lineares se aproximasse
do método dialético de focalizar interação e
mudança enquanto processos contínuos de
diferenciação, integração e re-diferenciação de
opostos.
O ser humano é um ser de relação (relação consigo
mesmo, com o mundo, com os outros); totalidade e
integração (a pessoa como uma unidade psique-
corpo-espírito); o ser humano como unidade indivíduo-
meio (o ser humano está constantemente interagindo
com limites sociais e ambientais); unidade de
passado, presente e futuro (o aqui-e-agora é o tempo
e o lugar onde as modificações podem ocorrer); auto-
regulação (o ser humano é um todo unificado que se
autorregula).
Concepção de homem:
o homem, ser no mundo,
sujeito de sua existência
em busca de sua verdade
criativamente transformando seu mundo
e sendo transformado por ele,
debatendo-se em contradições, divisões e
confusões,
enroscando-se em estereótipos e
paralisando-se
em repetições
ao longo do caminho. (Tellegen)
Conceitos Básicos
• Campo;
•Autorregulação;
• Holismo;
• Figura e fundo;
• Ciclo de contato;
• Ajustamento criativo;
•Teoria paradoxal da mudança;
• Awareness;
• Aqui e agora
Campo – é o conjunto de tudo o que tem a
possibilidade de ser objeto da nossa atenção
num determinado momento. Inclui a figura e o
fundo. Quando dirijo, vou focalizando minha
atenção a cada momento. Vou mudando a minha
“figura” a cada instante: no sinal que fechou, no
carro que brecou na minha frente, na música que
toca no rádio, na placa de contra-mão, no
guarda, no pedestre atravessando a rua, na moto
que passou chispando ao meu lado, numa
lembrança, numa vítima, numa emoção. O fundo
inclui todos esses dados sensoriais ou
memoriais que podem cair do plano da
consciência ou atenção com maior ou menor
facilidade.
A dinâmica figura–fundo acontece na
maioria das vezes espontaneamente e
de acordo com nossas necessidades.
Ao entrar numa festa, o paquerador
visualizada as mulheres, uma pessoa
faminta os salgadinhos, outra, com
sede, as bebidas. Assim, ao decorrer da
festa, outras figuras poderão ficar mais
nítidas: a música, a decoração, etc.
As necessidades determinam a figura
de um determinado momento, sendo
que as necessidades fisiológicas
estão sempre em primeiro lugar,
seguidas das necessidades de
segurança, de pertencer, de amor, de
ser estimado, de auto-realização, de
conhecimento e estéticas.
Perls tomou emprestado o termo da biologia para descrever:
“O processo através do qual o organismo mantém seu equilíbrio e
conseqüentemente sua saúde sob condições diversas; é o processo,
portanto através do qual o organismo satisfaz suas necessidades. Uma
vez que suas necessidades são muitas e cada necessidade perturba o
equilíbrio o processo homeostático perdura o tempo todo...”
(Perls, 1973 p.20-21 apud Mezzarana,2001).
Processo pelo qual o organismo satisfaz suas necessidades.
Autorregulação ou Homeostase
 Homeostase
 É o processo através do qual o organismo satisfaz
suas necessidades. Cada necessidade perturba o
organismo, que tem que se reorganizar para
satisfazê-las. O processo homeostático perdura o
tempo todo. Quando o processo homeostático
falha em alguma escala, quando o organismo se
mantém num estado de desequilíbrio por muito
tempo e é incapaz de satisfazer suas
necessidades, está doente. Quando falha o
processo homeostático o organismo morre.
Conceitos principais:
“Quando um desejo se torna realidade, uma nova
energia nasce no indivíduo. Desejos e necessidades
são quase sempre estados deficitários a que as
pessoas aspiram satisfazer, são buracos na
personalidade que devem ser preenchidos (...).
Costumamos dizer que a Gestalt-terapia é uma
tentativa, uma proposta de lidar com essas
necessidades, estes desejos, estes buracos que
impedem a centragem, a harmonia do organismo.
(Ribeiro, 1985)
Processo : "Processo é: uma mudança ou
uma transformação em um objeto ou
organismo, na qual uma qualidade
consistente ou uma direção podem ser
discernidas. Um processo é sempre, em
algum sentido, ativo; algo está acontecendo.
Ele contrasta com a estrutura ou a forma de
organização daquilo que muda, cuja estrutura
é concebida para ser relativamente estática, a
despeito da mudança processual." .
Contato
Em todo momento estamos fazendo contato.
Contato é toda experiência humana: viver é
contato. Ver é contato, ouvir é contato, pensar
é contato, ter consciência é contato, mover-se
é contato, manipular, falar, lutar, qualquer tipo
de relação é contato. Contato é o processo
contínuo de reciprocidade em que o homem e
o mundo se transformam. O contato ocorre
na fronteira eu – não eu.
Suporte
É o que dá sustentação para o contato.
Suporte inclui fisiologia, postura,
coordenação, equilíbrio, sensibilidade,
mobilidade, linguagem, hábitos e
costumes, habilidades, e aprendizagem,
experiências vividas e defesas adquiridas
ao longo da vida.
Em terapia trata-se do desenvolvimento do
suporte próprio.
O universo se constitui por unidades que forma um todo
que é mais que a simples soma das partes.
Organismo como um todo: mente e corpo, interno e
externo;
Visão intra-orgânica: relação direta entre mente e corpo –
o que o indivíduo fala é igual ao modo como se comporta;
A relação entre indivíduo e meio é fluída, permitindo
contato e afastamento.
Contatar - formar gestalt.
Afastar - fechar gestalt.
No neurótico - contatar e afastar está perturbado. Não
sabe priorizar necessidades dominantes.
Holismo
Conceito holístico que representa a junção do espaço
e tempo, criando a possibilidade de plenitude.
O “aqui e agora” é a totalidade da experiência
humana. Inclui tudo e registra, no momento, as
emoções e a solução do seu cotidiano.
Não se trata de imediatismo irresponsável, e sim de
uma responsabilidade engajada na totalidade do
presente.
É um processo totalizador que colhe no imediato
todas as possibilidades do agir humano.
Aqui e Agora
Figura e Fundo
Figura é a necessidade que emerge a cada momento a fim de ser
satisfeita;
Fundo é toda gama infinita de possibilidades de outras vivências,
necessidades e percepções que naquele instante cedem lugar para o
surgimento e configuração de uma necessidade dominante.
Figura e fundo  Quando o organismo se depara com várias
necessidades simultâneas a serem satisfeitas, tenta estabelecer um
equilíbrio homeostático, daí se dá uma hierarquização.
“A figura não é parte isolada do fundo, ela existe no fundo. O fundo
revela a figura, permite à figura surgir (...).
(Ponciano, 1985)
A necessidade a ser satisfeita imediatamente é a
figura, e a que passa a segundo plano, o fundo.
Esse processo dinâmico por excelência, quando em
funcionamento harmonioso leva o indivíduo a “fechar
a Gestalt” de determinada situação ou necessidade.
A neurose surge a partir de interrupções no fluxo
natural de figuras, tornando-as inacabadas.
É da plasticidade da interação entre essa figura e
fundo que o indivíduo interage com o meio,
constituindo aquilo que em Gestalt terapia
denominamos de Ciclo do Contato.
“Para que o indivíduo satisfaça suas necessidades,
feche a gestalt, passe para outro assunto, deve ser
capaz de manipular a si próprio e ao seu meio, pois
mesmo as necessidades puramente fisiológicas só
podem ser satisfeitas mediante a interação do
organismo com o meio”.
(Perls,1973,p.24)
O saudável no fluxo figura e fundo é a satisfação da
necessidade. É um processo de percepção, o fluxo é
dinâmico. Quanto mais entramos em contato
conosco
e nos percebemos, mais clara fica a necessidade,
mais clara fica a alternância entre figura e fundo.
A visão holística de Perls da ênfase a importância da
autopercepção presente e imediata que o indivíduo tem do
seu meio.
A GT não investiga o passado, mas convida o cliente a se
concentrar para tornar-se consciente de sua experiência
presente.
Viver com atenção voltada para o presente, ao invés do
passado ou do futuro, é algo bom que leva ao crescimento
psicológico; pressupõe que a única experiência possível é
a experiência presente.
Ênfase no Aqui e Agora
“Sempre que não estamos seguros de alguns de
nossos papéis, desenvolvemos a ansiedade (...)
ligamos isso com o fato de toda a realidade estar
no agora, e sempre que abandonamos a posição
segura de estar em contato com o presente, e
saltamos para o futuro em fantasia perdemos o
apoio para nossa orientação (...) A palavra
ansiedade tem sua conotação derivada da palavra
latina ‘angústia’, passagem estreita. O excitamento
não pode fluir livremente.”
(Perls, 1969)
Ansiedade
A ênfase na importância da compreensão da
experiência de uma maneira descritiva e não causal é
uma característica da abordagem holística e da
orientação fenomenológica de Perls. Estrutura e
função são iguais; se um indivíduo compreende como
ele faz algo, esta pessoa esta na posição de
compreender a ação em si.
A ênfase da Gestalt está na tentativa de ampliar a
consciência da pessoa na maneira que ela se
comporta, e não analisar a razão pela qual se
comporta
A preponderância do COMO sobre o
PORQUE
A conscientização é o ponto central da abordagem
terapêutica de Perls. O processo de crescimento
se dá pela expansão das áreas de
autoconsciência, o fator mais importante que inibe
o crescimento psicológico é a fuga da
conscientização.
É um processo de contato na relação estabelecida
entre o campo, organismo e meio, com qualidade
acentuada de atenção e sentido.
Conscientização (Awareness)
Awareness : manter-se consciente de; estado de
consciência. "O objetivo ( da awareness) é o paciente
descobrir o mecanismo pelo qual ele aliena parte dos
processos do seu self e, assim, evita estar consciente
de si e de seu ambiente... Um experimento típico ( da
awareness) é pedir que os participantes formem uma
série de sentenças começando com as palavras "aqui-
agora eu estou consciente de...". "Este continuum de
tomada de consciência parece ser muito simples;
apenas tomar consciência do que se passa segundo
após segundo... Entretanto, assim que a tomada de
consciência se torna desagradável, ela é interrompida
pela maioria das pessoas. Então, estas,
repentinamente, começam a intelectualizar, usar
palavreado do tipo blablablá, voar em direção ao
passado...".
Forma de experenciar de estar em contato vigilante com o
evento mais importante do campo indivíduo/meio, com
total apoio sensório motor, emocional, cognitivo e
energético.
Enfatiza-se awareness no sentido de saber o que eu estou
fazendo agora, na situação que está sendo e não se
confunde esse estar sendo com o que foi, poderia ter sido,
poderia ser.
Awareness é sempre aqui e agora, mesmo que seu
conteúdo esteja distante. Saber que agora eu estou
rememorando é muito diferente do que cair no ato de
lembrar sem awareness.
Awareness é experienciar e saber como e o que eu
estou fazendo agora.
Sendo que o agora muda a cada momento,
awareness é um processo dinâmico e exclui um modo
imutável de ser e de ver o mundo.
Awareness é sensorial e não mágica. Ela existe.
Tudo que existe, existe aqui e agora. O passado
existe agora sob forma de memórias, remorsos,
rancores,tensão corporal (...) o futuro não existe,
exceto agora, como fantasias, esperanças,
expectativas.
Premido pela necessidade de sobreviver (por isso
se auto preserva antes de tudo), o ser humano
interage com os outros e com o mundo, nutrindo-
se/defendendo-se e defendendo-se/nutrindo-se.
Perls, defende a tese de que o homem só pode ser
compreendido, através da relação que ele tem com o
meio.
Parte do pressuposto que o processo de
conscientização é fundamental para que o indivíduo,
possa estabelecer contatos de boa
qualidade com o meio.
É com essa finalidade que o individuo está sempre
fazendo arranjos (ajustes, truques, manhas), por
vezes aparentemente estranhos ou bizarros,
arranjos aos quais costumamos chamar de
neuroses, distúrbios da personalidade, psicoses e
outros nomes, mas que nada mais são do que os
melhores ajustes que aquele ser conseguiu fazer
nas limitadas circunstâncias existenciais
circundantes em que ele esteve ou está
sobrevivendo.
Ajustamento criativo
A preocupação central da Gestalt Terapia é se
essa adaptação possível deu-se (dá-se) com
integração – o que desenvolve o seu poder de
condutor do seu processo – ou se, para consegui-
la, teve que alienar partes e desejos seus com o
objetivo de ser aceito, amado e incluído (que o
torna um ser dividido e
portador de inevitáveis
sequelas).
Nesse altamente complexo processo de co-
construção com o contexto, a despeito de sempre
fazermos o melhor dos possíveis existenciais –
nós (por falta de poder e de suporte para a
autonomia) mais nos adaptamos e somos
condicionados do que conseguimos desenvolver
aquela identidade própria que desenvolveríamos
em ambientes menos desfavoráveis, menos
“adestradores” no sentido de instalação dos
“deves” e dos “tens que” de nossas sociedades
conservadoras, prepotentes e coercitivas.
A Gestalt terapia compreende o homem
enquanto
uma totalidade, ou seja, um sistema integrado e
organizado, uma unidade indivisível
corpo/mente,
onde não há separação entre as partes que o
compõem, mas sim integração, correlação,
organização e interdependência.
Dessa forma, não há no homem separação entre
o seu sentir, o seu pensar e o seu agir. Sua
mente, seu corpo e suas manifestações são
partes de um todo, ou seja, são formas diferentes
de expressão daquele ser humano e estão,
portanto, integrados e contribuindo para a
configuração desse todo. Assim, se algo muda em
qualquer uma das suas partes, seja um aspecto
emocional, mental, físico ou espiritual, o todo é
reconfigurado, surge uma nova organização, uma
nova gestalt.
O conceito de Todo e Parte também vem da Psicologia da
Gestalt, onde “O Todo é diferente da soma das Partes”.
Só o todo pode trazer o significado, e o que revela o
significado deste todo é a inter-relação das partes. De
acordo com Ribeiro (1985), quando nos deparamos com
algo, a nossa percepção o capta como um todo e a seguir
percebemos suas partes. A forma como percebemos a
parte e o todo vai depender da estruturação da nossa
percepção. A experiência só chega até nós de modo
completo, quando ela é experimentada como um todo, por
mais que este todo seja apenas um esboço da realidade
do ser. Então, para se compreender este todo, é
necessário descobrir e conhecer a relação entre as partes.
Um exemplo de parte e todo é uma orquestra
sinfônica, quando escutamos cada instrumento
separado (parte) é diferente de quando escutamos a
orquestra inteira (todo), cada instrumento (parte) tem
a sua particularidade, sua beleza e sua função, mas
quando ouvimos a orquestra (todo) temos outra
percepção, não ouvimos mais o som de cada
instrumento, mas sim um conjunto,
um todo composto de partes.
O fluxo figura e fundo de um todo (fundo), emerge
uma parte (figura). O fundo dá sustentação à figura,
e a figura se destaca de um fundo. De acordo com
Ribeiro (1985), a figura não é uma parte isolada do
fundo, ela existe no fundo, o fundo revela a figura, e
permite que ela apareça. A figura está no todo, o que
o cliente traz como figura, faz é parte de seu todo, e
também do seu fundo.
Figura e Fundo
Examine esta imagem: O que você pode
achar?
Olhe de longe... Olhe de perto...
61
Pode achar 10
faces nesta
árvore?
Ocorre na relação do cliente com o terapeuta,
no decorrer do processo de conhecimento da
pessoa, à medida em que ela vai examinando e
ressignificando a sua história de vida e o seu
estar-no-mundo.
Como se realiza a terapia em Gestalt?
 Na terapia gestáltica damos ênfase ao como e
não ao porquê.
 O cliente experimenta-se, vive sensações, toma
contato com seu corpo, revive emoções e pode
tornar figura sensações e sentimentos que faziam
parte do fundo do seu campo.
 O insight é a percepção de um comportamento,
uma situação, uma emoção da qual não o cliente,
de repente se dá conta.
Terapia aqui – agora
 O gestalt-terapeuta vai ao encontro da realidade do
cliente investigando as suas experiências da forma
como elas acontecem e se processam. No entanto, o
sentido dessa relação do cliente com seu meio será
dado pelo próprio cliente; o terapeuta é apenas um
facilitador nesse processo de investigação, de
compreensão deste sentido.
Terapia aqui – agora
 O gestalt-terapeuta utiliza um método descritivo
e não explicativo, ou seja, procura investigar o
que está acontecendo com o cliente e como está
acontecendo, procurando, através de uma
postura interessada, presente e acolhedora, sem
“a prioris”, colocando de lado os julgamentos, os
conhecimentos anteriores, os pré-conceitos,
focalizar aquilo que o cliente manifesta no
momento presente, no aqui-agora da relação
terapêutica.
Terapia aqui – agora
 Com isso, o terapeuta procura facilitar o processo
de auto-conhecimento do cliente, o processo de
conscientização sobre si mesmo na relação com o
mundo, de forma que ele possa conhecer e
experimentar aquilo que ele está podendo ser
naquele momento, conhecendo tanto os seus
recursos, suas habilidades, como os seus
impedimentos, as suas dificuldades, ou seja, tanto
aquilo que é saudável quanto o que não é
saudável na busca pela satisfação das suas
necessidades na relação com o mundo.
Terapia aqui – agora
 O maior instrumento da Gestalt-terapia é o
próprio terapeuta. Assim como um artista, para
pintar uma paisagem numa tela deve estar
tocado pela paisagem, assim também o terapeuta
deve estar sintonizado com o cliente com o qual
ele está em contato. Todas as suas sensações
presentes devem ser examinadas pelo terapeuta,
para ver o sentido que elas possam ter numa
situação específica.
O terapeuta
 O terapeuta observa seu cliente em todos os seus
aspectos: seu tom de voz, a forma como ele se
apresenta, sua história, suas emoções. Pode propor
experimentos para ampliar a awareness de seu
cliente.
 Na Gestalt-terapia o terapeuta é livre para expressar
sua criatividade.
O terapeuta
O gestalt terapeuta vai ao encontro da realidade
do cliente investigando as suas experiências da
forma como elas acontecem e se processam. No
entanto, o sentido dessa relação do cliente com
seu meio será dado pelo próprio cliente; o
terapeuta é apenas um facilitador nesse
processo
de investigação, de compreensão deste sentido.
Gestalt terapeuta procura investigar o que está
acontecendo com o cliente e como está
acontecendo, procurando, através de uma postura
interessada, presente e acolhedora, sem “a
prioris”, colocando de lado os julgamentos, os
conhecimentos anteriores, os pré-conceitos,
focalizar aquilo que o cliente manifesta no
momento presente, no aqui-agora da relação
terapêutica.
O psicoterapeuta procura facilitar o processo de
auto-conhecimento do cliente, o processo de
conscientização sobre si mesmo na relação com o
mundo, de forma que ele possa conhecer e
experimentar aquilo que ele está podendo ser
naquele momento, conhecendo tanto os seus
recursos, suas habilidades, como os seus
impedimentos, as suas dificuldades, ou seja, tanto
aquilo que é saudável quanto o que não é
saudável na busca pela satisfação das suas
necessidades na relação com o mundo.
 Relação Terapêutica –“Encontro amoroso e criativo,
onde terapeuta e cliente se permitem explorar os
temas que emergem durante as sessões”. Em que o
terapeuta deve, “desejar o bem ao outro de forma
não manipulativa, possessiva e sem exigir nada em
troca”, a partir da crença de que sempre se pode
escolher “pela busca do bom e da belezan o outro”.
Dessa forma o terapeuta estabelece com seus
clientes um processo de co-criação (jamais
direcionamos o trabalho –podemos dar contorno -
sentido).
 A ênfase na importância da criatividade, atributo
essencial do homem para o processo de crescimento.
• A Gestalt-terapia proporciona uma ferramenta
extremamente adequada para essa postura
terapêutica –a arte do experimento. O uso dessa
ferramenta pressupõe uma visão de homem que
confia no seu impulso natural para o crescimento,
integração e satisfação de suas necessidades da
forma mais estética possível em dado contexto e
momento.
 Valores fundamentais para ser um curador:
 1 –Respeite a experiência da pessoa como ela é
(fenomenologia);
 2 –Demonstre consideração por todo “sintoma”,
como um esforço criativo de a pessoa tornar sua vida
melhor (hierarquia de necessidades/ajustamento
criativo);
 3 –Toda discordância ou falta de confluência com o
terapeuta é “boa” e representa uma afirmação da
força do paciente e de sua capacidade pra aprender
por si mesmo (existencialismo);
 4 –Dê suporte à resistência de um casal ou de uma
família;
 5 –Estabeleça limites claros entre seus sentimentos
pessoais e o mundo fenomenológico do paciente;
 6 –Dê suporte à competência;
 7 –Proporcione um ambiente e uma presença em que
o pior ofensor possa entrar em contato com sua dor e
com sua vulnerabilidade (postura respeitosa e
acolhedora);
 8 –Todos nós somos capazes de ações terríveis. O
terapeuta deve ter compaixão tanto pela vítima
quanto pelo vitimador (ambos formam a Gestalt que
se apresenta, ou seja ambos são responsáveis pela
contexto atual da relação –forma como ela se
apresenta e funciona nesse momento);
 9 –O terapeuta protege ou cria limites protetores
entre as pessoas nas famílias. A experiência de cada
pessoa é reale precisa ser levada em conta (trabalha
nas fronteira de contato–único lugar onde pode
ocorrer awareness e consequentemente mudança);
 • 10 –A presença do terapeuta e a afirmação de uma
família permitem que todos cresçam (se sentem
10 –A presença do terapeuta e a afirmação de uma
família permitem que todos cresçam (se sentem vistos,
ouvidos, confirmados, acolhidos e protegidos);
11 – Tomar uma posição clara quanto a não permitir
comportamentos abusivos entre os membros da
família. Estabeleça limites claros (todas as intervenções
do terapeuta devem ser claras);
12 – O terapeuta modela um líder e professor que é bom
e paciente (modelo);
13 – O terapeuta dá suporte sem ser sentimental, super
protetor ou autoindulgente (mantém a
responsabilidade de cada um por seus atos, porém
confirma seus posicionamentos como legítimos e ajuda
cada um a perceber consequências deles );
14 – Cada família tem suas próprias origens étnicas, sua
própria textura cultural. Não importa seus valores
sociais ou técnicos a uma família: eles podem não servir.
 Atendimento 1


 João: - Minha queixa é que toda vez que me aproximo
de uma mulher que me interessa sexualmente, eu fico
envergonhado, porque sempre fico com o rosto
vermelho, como se fosse uma criança tímida e
boboca!

 O cliente mostra uma expressão facial, visivelmente
emocionada.
RELATO DE SESSÃO
 Terapeuta: - O que você está sentindo neste
momento, falando desse assunto?
 João: - É como se voltassem os mesmos
sentimentos...
 Terapeuta: - Você está se sentindo uma criança tímida
e boboca neste momento?
 João: - Ao falar com você, eu me lembrei de uma
situação em que eu me senti assim...
 Terapeuta: - Perante uma mulher?
 João: - Sim... Mas não é fácil para mim falar disso... Eu
logo me perco, fico com vontade de mudar de
assunto...
 Terapeuta: - Bem, se consulte, veja se você quer
mudar de assunto ou prefere continuar neste
mesmo... Só me informe por qual escolha você se
responsabiliza.
 Após uma pausa, faz um sinal de concordância com a
cabeça.
 João: - Eu quero continuar neste tema, mas é difícil
explicar como acontece...
 Terapeuta: - Eu sugiro que você, ao invés de me
explicar, pudesse demonstrar como acontece... Você
poderia escolher neste momento uma imagem de
uma mulher com a qual ou perante a qual você sentiu
essa vergonha de modo mais intenso?
 João: - Sim, isso já aconteceu várias vezes, mas houve
uma em que isso me incomodou mais
profundamente... Era uma mulher que eu desejava
muito.
 T: - Qual o nome dela?
 J: - Maria.
 T: - Como aconteceu esse encontro com a Maria?
 J: - Ela estava em uma festa de um amigo. Quando
cheguei lá, eu agia normalmente, como sempre ajo
quando estou em situações sociais. Houve um
momento em que eu olhei para ela pela primeira vez
e fiquei maravilhado com aquela mulher, linda,
charmosa... Porém eu estava no meu canto, e ainda
me sentia como normalmente fico; estava encantado
por ela, mas nem imaginava a hipótese de chegar até
ela.
 T: - Então, distante da possibilidade de falar com ela,
você se sentia como “normalmente fica”?
 J: - Sim. Até que chegou uma hora da festa que ela
olhou para mim. Uau! Eu senti aquele olhar como um
“ataque cardíaco”!! Meu coração disparou e eu fiquei
completamente nervoso. Fiquei com vontade de me
aproximar dela, tentei dar uns passos na direção dela,
mas novamente senti aquela sensação de rubor no
meu rosto e tive a certeza de que, naquele momento,
eu estava completamente vermelho. Nem pensei
duas vezes: virei-me e fui embora da festa na mesma
hora!!
 T: - Vamos imaginar que você está no mesmo local
onde você a encontrou e onde você sentiu bem forte
essa atração por ela, ao mesmo tempo em que você
sentiu também bem forte esse rubor que o fez sentir
uma criança tímida e boboca, pode ser?
 J: - Sim.
 T: - Gostaria que você imaginasse o seguinte... (o
terapeuta anda até uma parte do consultório) -
...neste local aqui, está Maria (e coloca ali qualquer
objeto que possa representar a Maria: uma almofada,
uma cadeira etc.).
 - No lado oposto deste local, fica sua fuga da Maria
(o terapeuta anda até lá, e coloca um outro objeto
para representar a situação da fuga).
 - Agora eu gostaria que você imaginasse a meia
distância entre esses dois pontos e se encaminhasse
para lá, certo?
 J: - Sim, acho que ficaria mais ou menos por aqui.
 T: - É, acho que o meio seria por aí mesmo. Agora eu
peço que você se coloque sobre esse ponto médio,
porém dê alguns passos para trás.
 J: - Para quê?
 Na GT, há um apoio ao interesse genuíno do cliente
em compreender seu próprio processo.
 T: - Estou tentando concretizar aqui exatamente a
situação que você me descreveu.
 J: - Não estou entendendo...
 T: - Neste ponto onde você está agora, a alguns
passos atrás do ponto médio entre “Maria” e a
“situação da fuga”, há o que você classificou como
“se sentir normal”. Alguns passos à frente, surge algo
que se diferencia deste “normal” e que se bifurca em
duas estradas opostas, entre o desejo de ir até
Maria... (Aí o terapeuta aponta para o objeto que
representa Maria). - ...e a decisão que você acabou
tomando que foi se afastar dela. (Apontando agora
para o segundo objeto.)
 - Mas a questão é que antes dessa oposição
acontecer, você está em um ponto anterior que você
classifica como “se sentir normal”. Acho que seria
interessante você conhecer como esse ponto se
diferencia para se transformar em “desejo pela
Maria” ou “fugir da Maria”.
 J: - Entendi...
 T: - Como é estar aí neste ponto, “entrando em uma
festa”, se sentindo “norma”? Sugiro que você feche
um pouco os olhos e se imagine nesta situação.
 J: - Me sinto bem, gosto de festas, e sempre há uma
expectativa minha em encontrar uma mulher
interessante nestas festas...
 T: - Então você está me dizendo que “normal” para
você significa estar na expectativa de conhecer uma
mulher interessante?
 J: - É... É isso mesmo... Eu normalmente fico na
expectativa de conhecer uma mulher...
 T: - Como você se sente com esta expectativa
normalmente presente?
 J: - Na verdade, eu fico nervoso...
 T: - Então, neste caso, se sentir “normal” é ficar com
expectativas que te fazem se sentir nervoso?
 J: - Na verdade sim...
 T: - Ok, acho que conhecemos então o que acontece
quando você entra na festa: você entra nervoso, na
expectativa de conhecer uma mulher interessante. O
que significa para você “se sentir nervoso”?
 J: - Bem, não sei... Me sentir nervoso, como todo
mundo fica... não sou diferente...T: - Eu sei que “todo
mundo fica nervoso” mas, neste momento, eu quero
saber como “você” fica nervoso...
 J: - Não sei te responder...
 T: - Tudo bem. Vamos de novo para a situação da
festa. Você pode se imaginar lá novamente? (O cliente
consente.)
 - Você pode olhar para o seu corpo e descrever o
que você está sentindo?
 Após um tempo de concentração, o cliente volta a
fazer contato com as emoções da situação vivida...
 J: - Eu percebo que estou com palpitações no
coração, bem fortes... (o terapeuta sugere que ele
coloque a mão no coração) – Minha respiração está
mais forte também...

 O terapeuta observa neste momento que o cliente
levanta parcialmente as partes internas dos pés,
diminuindo a área de contato com o chão e,
consequentemente, sua base de apoio.

 T: - Você percebe como você está pisando?

 O cliente, ao olhar para os próprios pés, faz um gesto
de pisar com mais firmeza, respira mais fundo e
continua em contato com a situação sugerida.

 J: - Eu achei que meus pés estavam querendo fugir... É
que eu fico imaginando o que vou falar, o que vou
mostrar, se vou conseguir conquista-la ou não, se vou
falhar ou não...
 T: - Então você parece que já está no ponto onde
começa o conflito, não é?

 O cliente confirma, afirmando que já se sente em
conflito entre prosseguir ou fugir.

 T: - Parece a mim, então, que você já pode dar um
passo à frente, até o ponto do meio, até onde você
percebe Maria, e seu conflito se instaura. Por favor...
(O cliente dá um passo até o ponto solicitado) –
Agora, o que você percebe?
 J: - Percebo que, na verdade, aquilo que eu imaginava
antes que tinha acontecido somente quando eu vi
Maria, já estava acontecendo desde o momento em
que entrei na festa. Aliás, para ser franco, já estava
acontecendo desde o início da semana, pois já sabia
que no sábado eu iria para aquela festa...
 T: - Como foca a Maria nesta história?
 J: - Ela é somente alguém que apareceu e que se
encaixava naquilo que eu queria e que me deixava tão
nervoso...
 T: - Parece que poderia então acontecer de ser outra
mulher...
 J: - É, não dependia de ser Maria, não... Eu fico
nervoso somente pela possibilidade...
 T: - Possibilidade de que, exatamente?
 J: - Possibilidade de encontrar uma mulher de
verdade, e não uma da minha fantasia...
 T: - “Mulher de verdade” ou “mulher de fantasia”...
Vamos voltar ao momento da festa, e a linha que
representamos aqui pelo extremo onde está Maria, e
o outro extremo onde está sua fuga, podemos? (O
cliente concorda) – Enquanto você está aí, entre
Maria e a fuga, enquanto isso está acontecendo,
todas essas coisas na sua cabeça, você ainda não
fugiu, não é? (O cliente concorda de novo) – Então,
como é estar aí, neste ponto, sentindo tudo isso,
antes de fugir? O que está acontecendo com você
neste ponto?...
 J: - ...
 J: - ...
 Diante do silêncio do cliente, o terapeuta pode ou
não oferecer ajuda, dependendo de seu feeling sobre
a necessidade do cliente. Mas normalmente isso pode
ser simplesmente checado junto a ele:
 T: - Você precisa de ajuda?
 J: - Na verdade, acho que sim... Me sinto apavorado,
como se fosse enfrentar um monstro...
 T: - Vamos acrescentar isso que você está
percebendo, esse “monstro”, ok? Me responda
primeiro: que monstro é esse?
 J: - O monstro não é a Maria, mas é o que ela pode me
falar... ela pode me humilhar, me fazer sentir um
lixo...
 T: - Você pode imaginar o que seria a pior coisa que
esse monstro poderia lhe dizer?
 J: - O que seria pior... Isso é fácil, penso nisso toda
hora... Seria algo assim: Quem você pensa que é, seu
ser desprezível, para falar comigo?!
 T: - Você pode tentar responder essa pergunta?
 J: - Que pergunta?
 T: - A pior fala imaginada por você, a fala
“monstruosa”, é uma pergunta. Ela está perguntando
para você “quem você pensa que é”... Daí, proponho
que você responda. Quem você pensa que é?
 J: - Neste momento, sou um cara totalmente
inseguro, achando que se uma mulher falasse algo
ruim para mim, eu seria capaz de me matar, de me
sentir realmente um ser desprezível...
 T: - O que você quer dizer com “realmente
desprezível”?
 J: - Quero dizer que eu me sentiria realmente como
ela pensa que eu sou...
 T: - Mas você sabe o que ela pensa sobre você?
 João fica inicialmente surpreso, pois constata que o
que a outra pessoa pensa ou pensou era algo, até ali,
totalmente inacessível para ele. Descobre então que
o “ser desprezível” era um autoconceito, e não algo
atribuído a ele pela Maria.
 Após ter o insight que lhe permitiu um contato com
algo óbvio, mas, até o momento, inacessível a sua
consciência, a pessoa normalmente precisa de um
tempo para metabolizar aquela informação. Embora
óbvio, era algo que estava fora de seu campo de
percepção, e o contato com algo novo pode gerar
uma nova reorganização de seu próprio mundo, de
seu próprio sistema de autorreferência. A pessoa
então vê de forma diferente algo que via antes, tendo
a possibilidade de estabelecer uma nova
compreensão sobre tudo aquilo que está envolvido
no momento em foco. Com isso a pessoa amplia sua
capacidade de estar consciente de si e de sua relação
no contexto que a envolve. A GT utiliza o conceito de
awareness, para denominar tal capacidade de manter-
se consciente.
 João fala com uma voz emocionada:

 J: - Poxa, estou percebendo que essa coisa de me
sentir um ser desprezível é algo bem antigo na minha
vida... Que eu sinto desde o tempo da minha mãe... Eu
sempre achava que tinha que fazer o que ela queria
ou esperava de mim e, quando não conseguia, me
sentia realmente o último dos seres... Como na maior
parte das vezes eu não conseguia fazer tudo e-x-a-t-a-
m-e-n-t-e como ela queria, na verdade, na maior parte
das vezes, eu realmente me sentia um ser
desprezível...
 Com esta informação, o cliente começa a elaborar
sozinho seu próprio sistema de autorreferência,
compreendendo suas ações sob uma nova forma. Seu
olhar fica distante, pensativo...
 T: - Do que você precisa agora?
 J: - Acho que preciso de um tempo para pensar nisso
tudo...
 T: - Você concorda com o fechamento do trabalho
neste ponto?
 J: - Sim.
O contato é estabelecido para que o indivíduo possa
satisfazer uma necessidade ou fechar uma figura, e após
obter esse resultado existe uma retração para que surja
uma necessidade, novo contato, nova assimilação e
retração.
“O Ciclo é, portanto, concebido como um sistema self-eu-
mundo. Permite-nos ler a realidade por intermédio dele,
bem como entender o processo pelo qual este sistema foi
se estruturando ao longo do tempo”
( Ribeiro, 1997)
Ciclo de Contato
awareness
sensação
mobilização de energia
ação
contato
Retração
Retração
Ciclo Gestáltico de
Experiência
ou de Contato
(Zinker, J.)
Em busca da satisfação
das necessidades.
 Um ciclo que é interrompido ou é vivido em cada uma
de suas fases de forma incompleta, gera desconforto,
evidencia as resistências que não permitem o contato
pleno e interrompem uma possível resolução.
 A gestalt (figura) não se forma com clareza, portanto,
não concentra a energia necessária para que o
contato seja satisfatório e permanece inacabado (não
gerando significado).
 O sistema (ou indivíduo) permanece com uma
“gestalt inacabada” que continua demandando
energia para sua resolução.
 A possibilidade de contatos futuros segue sem
satisfação plena, portanto sem resolução –
disfuncional.
 O objetivo do processo terapêutico é identificar as
interrupções no fluxo do contato (resistências) e
ajudar em sua resolução, para que o processo possa
fluir de forma satisfatória.
 Projetar é o ato pelo qual “colocamos” no
entorno algo que originalmente nos pertence.
 Em seu aspecto relacional, como função de
contato com o mundo, é o recurso que nos
permite enriquecer a vida com nossa obra criativa
pessoal. A realização de uma tarefa artística, a
elaboração de uma teoria, o planejamento de
uma viagem de férias, ou a construção da casa de
nossos sonhos não seriam possíveis sem a
projeção.
Projeção
 Em seu aspecto limitador, projetar é o ato pelo qual
atribuímos uma parte de nosso ser ao entorno. A
intensidade e rigidez de tal manobra dependem de vários
fatores complexos entre si e do papel central que este
mecanismo em particular ocupa, na constelação de
mecanismos associados para a manutenção da equação
pessoal (gestalt fixa).
 É necessário, na descrição do mecanismo, estabelecer uma
diferenciação operativa entre a projeção como mecanismo
universal, o projetado como conteúdo da mesma e a
posição desse mecanismo como prevalente (primário) ou
secundário na estrutura de personalidade.
Projeção
 A projeção se refere ao mecanismo comum a toda a
espécie humana; o projetado nos fala de uma pessoa
em particular, e a posição do uso do mecanismo na
estrutura ou gestalt fixa nos fala, neste caso, de um
estilo projetivo.
Projeção
 Introjetar é o ato pelo qual algo, que originalmente
pertencia ao meio, e o introduzimos em nosso ser.
 Em seu aspecto relacional, facilitador da vida, é o recurso
que utilizamos para poder nos alimentar no plano físico,
emocional, psicológico e espiritual. Tanto quando
comemos, assim como quando lemos um livro, devemos,
antes de qualquer coisa, introduzir o material em nosso
organismo ou em nossa mente, para depois poder assimilá-
lo e crescer. O mesmo acontece com o afeto e o carinho
necessários para viver. Muitas vezes encontramos, no
consultório, pessoas que bloquearam a capacidade de
“deixar” entrar o amor que necessitam.
Introjeção
 Introjetar, em seu aspecto limitador, é também introduzir em
nosso ser algo que originalmente pertencia ao meio, porém sem
assimilá-lo ou digeri-lo. Como decorrência, o material permanece
“autônomo” em nosso interior, ocupando um espaço em nossa
identidade, que diminui nossa consciência e nossa liberdade.
 Os mandatos familiares e sociais e os preconceitos são bons
exemplos das conseqüências da introjeção. Muitas vezes, tais
mandatos entram em conflito como nossos impulsos e
necessidades, gerando um “conflito de interesses”
intrapsíquico.
 Ou seja, a pessoa discute com suas vozes internas sem saber a
quem obedecer. As descrições psicanalíticas do chamado “super
ego” persecutório são um bom exemplo do sofrimento que
podem gerar estas estruturas – ou complexos autônomos, como
Jung os chamava.
Introjeção
 Os dois mecanismos (projeção e introjeção) estão, na realidade,
associados, pois muitas vezes o conteúdo de uma introjeção é
projetado, como no caso dos preconceitos raciais, ou o das
fobias, como quando uma criança resolve o conflito dos
mandatos familiares – de ter que ser “bonzinho”, por exemplo –
que se confrontam com sua agressividade, causada pelos ciúmes
contra um irmãozinho, projetando sua raiva sobre um cachorro
ou sobre um brinquedo.
 Às vezes, presenciamos um verdadeiro “esvaziamento” da
personalidade do paciente, por causa da somatória de
introjeções e projeções, resultantes do conflito gerado pelos
“introjetos” com partes do ser. Por um lado, os introjetos
ocupam espaço e, por outro lado, as projeções “esvaziam” a
pessoa.
Introjeção e Projeção
 Tal como fizemos no caso da Projeção, também aqui é
necessário estabelecer uma diferença entre o
mecanismo universal da Introjeção, o introjetado ou
introjeto e o lugar que o mecanismo ocupa como
prevalente ou secundário na manutenção da
estrutura de personalidade, sendo este último o que
nos permitirá identificar um estilo introjetivo.
Introjeção e Projeção
 Retroflexão é o ato pelo qual retornamos a energia de uma
ação, que deveria direcionar-se no meio e para o meio, para nós
mesmos.
 Em seu aspecto relacional, é a capacidade de auto-observação,
de auto-análise que permite converter-nos em pessoas
responsáveis e maduras emocionalmente.
 Também representa a capacidade de sermos conscientes de nós
mesmos, tanto como a possibilidade de postergar nossas
necessidades e desejos em função dos outros, como ocorre na
paternidade e na maternidade. Seria impensável que alguém
pudesse ser uma boa mãe, um bom pai, ou um bom servidor da
comunidade, sem a capacidade de retroflexão.
Retroflexão
 Retrofletir, no seu aspecto limitador, impede-nos dirigir e expressar
nossos sentimentos para com o mundo, assim como também de
pedir aquilo que necessitamos e desejamos.
 Neste sentido, distinguimos dois tipos de retroflexão: fazer a nós
mesmos o que gostaríamos de fazer aos outros e fazer a nós
mesmos o que gostaríamos que os outros nos fizessem. Como se vê
em ambos os casos, a energia da ação criada pela necessidade ou
sentimento não alcança seu destino verdadeiro, voltando-se sobre
sua origem.
 No primeiro caso, um exemplo típico é o da raiva que, ao invés de
dirigir-se até o causador de nosso sentimento, volta-se sobre nós
mesmos em forma de culpa. No segundo caso, é nossa necessidade
de carinho, atenção, ajuda, etc, o que não chega ao destino,
voltando-se sobre nós mesmos em forma de auto-suficiência.
Retroflexão
 No primeiro caso, parece que a matriz emocional é a
central, que nos diz que não é seguro (possibilidade de
retaliação, abandono, rejeição, etc.) expressar nossas
emoções fortes com os demais. Parece claro que a pessoa
não se sente muito segura de seu valor em relação às
outras pessoas, que a rodeiam (baixa auto-estima); o que
acaba por situá-la numa constante espiral de auto-
postergação.
 No segundo caso, o fator central parece ser a desconfiança
de que os demais poderão prover-nos daquilo que
necessitarmos, o que for resolvido através do
desenvolvimento de um argumento de vida auto-
suficiente.
Retroflexão
 Defletir é o ato pelo qual impedimos o contato com experiências
(relações, sentimentos, demandas, necessidades, etc.), tanto
provenientes do meio externo como do interno.
 Em seu aspecto relacional, é a capacidade de descartar informação
para poder focalizar em algo que é de nosso interesse ou que, por
sua urgência, demanda nossa atenção.
 Sem a capacidade de defletir, jamais poderíamos prestar atenção a
alguma coisa em particular, pois nos veríamos invadidos pela
enorme quantidade de informação proveniente de nossos sentidos
e do meio. Também não poderíamos defender-nos do material que
não estamos disponíveis para assimilar, num determinado
momento.
 As crianças, em suas fases de obstinação e negação, são um bom
exemplo da utilidade da deflexão.
Deflexão
 Defletir, em seu pólo limitador, impede-nos de estar
presentes e em contato com o que está acontecendo
no aqui-e-agora. Neste sentido, converte-se no
mecanismo “evitativo” por excelência, levando-nos,
em casos extremos, a uma vida centrífuga e ansiosa.
 Neste caso também, devemos separar o uso da
deflexão de sua posição como mecanismo prevalente
de uma estrutura de personalidade, constituindo-se,
então, num estilo defletivo de estar no mundo.
Deflexão
 Confluir é o ato mediante o qual diluímos nossas fronteiras ou
limites para nos fundir com o outro, os outros, ou o meio que nos
rodeia.
 Em seu aspecto relacional, é a confluência que nos permite sentir
parte de um grupo, uma família ou da natureza em geral. A
capacidade de amar está indissoluvelmente unida à capacidade de
confluir.
 A palavra confluir pode ser decomposta como co-fluir, co-fundir-se
ou confundir-se e podemos utilizar tais diferenças para catalogar o
aspecto positivo ou o limitador do mecanismo, dependendo das
circunstâncias.
 A capacidade de fluir com uma situação é condição para a entrega.
O poder fundir-nos num abraço ou permitir estar confundidos ao
longo de uma experiência emocional também são exemplos
positivos do uso da confluência.
Confluência
 Confluir, em seu aspecto limitador, é a capacidade
de diluir nossa integridade a serviço de nos
perdermos no ambiente, seja uma situação, um
grupo, uma instituição, uma ideologia, uma
relação, etc.
 As evitações de conflitos, responsabilidades,
intensidade das relações, desacordos,
discriminação ou de manifestações de nossa
individualidade, parecem ser alguns dos temas
centrais na aplicação da confluência como
mecanismo .
Confluência
 O Egotismo representa a capacidade de sustentar as
fronteiras de nossa identidade perante as
circunstâncias de nossa vida.
 Em seu aspecto positivo, é a habilidade para a auto-
afirmação e a manutenção de nossa auto-estima.
Egotismo
 Em seu aspecto limitador, converte-se na incapacidade de
reconhecer nossas limitações e erros, deixando-nos na
posição de sustentar temerariamente “nossas razões”,
mesmo frente a todas as evidências em contrário.
Representa o individualismo ao extremo e a
impossibilidade de perceber os outros como “outros” e
não como meras extensões de nossas necessidades.
 Paul Goodman (anarquista, filósofo e escritor pioneiro da
Terapia Gestáltica) – que fez originalmente a descrição
deste mecanismo – identificou o egotismo como parte
fundamental da estrutura de personalidade de homens e
mulheres, em nossa cultura “selvagemente” individualista.
Egotismo
 Fluxo de energia dirigido ao meio para que o outro
reaja de maneira desejada e esperada. É fazer aos
outros o que gostaríamos que outro nos fizesse.
 O proflexor costuma assumir uma atitude servil em
relação ao outro, na tentativa de manipulá-lo.
Proflexão
 Proflexor ativo – realiza uma pesquisa das
necessidades e desejos de outra pessoa e procura
realizá-los, esperando que ela faça o mesmo.
 Proflexão passiva – é caracterizada por uma
submissão frequente, na tentativa de
corresponder às expectativas do outro, para que
sua dedicação seja apreciada e reconhecida.
Proflexão
 Envolve expectativas não explícitas e desejos não
expressos na relação. A pessoa assume o papel de
servidor incansável, mas busca sempre resultados,
sentindo-se injustiçado, explorado e ressentido se o
outro não corresponde às suas expectativas.
Proflexão
 Em seu aspecto relacional a proflexão nos ajuda a
descobrir os desejos do outro e nosso desejo de agradá-lo
porque o amamos. É o caso de comprarmos um presente
para alguém pensando o quanto gostaríamos de ganhar tal
presente. Se não cobrarmos o outro,é um aspecto
relacional.
 Em seu aspecto limitador, fazendo para o outro o que
queremos que nos façam, sentimo-nos insatisfeitos e
injustiçados: eu faço tudo para você e não recebo nada em
troca. Acaba tendo um aspecto manipulador por não
deixar claro o nosso desejo.
Proflexão
 Não pode haver empatia sem um certo grau de projeção.
 Não pode haver aprendizagem sem sem introjeção.
 Não é possível conceber uma relação humana sem um certo grau de
contenção ou postergação de necessidades próprias (retroflexão).
 Não pode haver uma tomada de decisão sem um certo grau de deflexão.
(selecionar ou descartar figuras.
 Não se pode pensar em pertencer a qualquer comunidade sem um certo
grau de confluência.
 Não pode haver sentido de si mesmo sem uma certa dose de egotismo.
Ajustamentos neuróticos?
Oração da Gestalt -Terapia
“Eu sou Eu, Você é Você
Eu faço minhas coisas,
você faz as suas.
Não estou neste mundo para viver de acordo
com as suas expectativas.
E você não está neste mundo para viver de
acordo com as minhas
Você é você e eu sou eu.
E se por acaso, algum dia nos encontramos,
será lindo
Se não, nada há a fazer.”
(Perls)
Oração da Gestalt -Terapia
 “Eu faço as minhas coisas e você faz as suas.
 Não estou neste mundo para viver de acordo com suas
 expectativas. E você não está neste mundo para viver
de
 acordo com as minhas. Você é você. Eu sou eu.
 E, se por acaso nos encontrarmos, será lindo.
 Se não, assim também o será.”
 (Perls, 1977, p. 17. Tradução japonesa da oração da
Gestalt).
ORAÇÃO DA INTROJEÇÃO
 ( Adaptada por Luciene Patrícia Yano,
 Do original Oração da Gestalt de Fritz Perls)
 Eu engulo as “minhas” coisas de acordo com as suas.
 Eu sou aquilo que você espera de mim!
 Eu estou neste mundo para atender às suas expectativas;
 Eu sou aquilo que você espera de mim!
 E, se por acaso nos encontrarmos,
 Será lindo! Para você.
 Se não, eu terei de mudar para te atender.
ORAÇÃO DA PROJEÇÃO
 (Adaptada por Luciane Patrícia Yano,
 Do original Oração da Gestalt de Fritz Perls)

 Eu Projeto as minhas coisas em você.
 Eu sou eu. Você é aquilo que eu penso de você!
 Eu estou neste mundo para viver
 de acordo com as minhas expectativas;
 Eu sou eu. Você é aquilo que eu penso de você!
 E, se por acaso, nos encontrarmos, será lindo! Para mim.
 Se não, você terá que mudar.
ORAÇÃO DA RETROFLEXÃO
 (Adaptada por Luciane Patrícia Yano,
 do original Oração da Gestalt de Fritz Perls)

 O que eu penso sobre você está investido em mim.
 Eu vivo aquilo que eu espero de você!
 Eu estou neste mundo para viver exclusivamente comigo;
 Eu vivo aquilo que eu espero de você!
 E, se por acaso nos encontrarmos, serei mais leve!
 Se não, continuarei em minha solidão.
ORAÇÃO DO EGOTISMO
 (Adaptada por Luciane Patrícia Yano,
 Do Original Oração da Gestalt de Fritz Perls)

 Eu faço as minhas coisas.
 Eu sou aquele que analisa e manipula você.
 Eu não estou neste mundo para ter surpresas;
 E você está nele para não atrapalhar meus planos.
 Eu sou aquele que analisa e manipula você.
 E, se por acaso nos encontrarmos.... Não, isso não acontecerá!
ORAÇÃO DA CONFLUÊNCIA
 (Adaptada por Luciene Patrícia Yano,
 do original Oração da Gestalt de Fritz Perls)
 Eu faço minhas coisas mescladas com as suas.
 Eu sou o nós e não tenho um eu.
 Eu estou neste mundo para viver de acordo com as nossas
expectativas;
 E você está nele para atender às nossas expectativas.
 Eu sou o nós e não tenho um eu.
 E, se por acaso separarmos nossas fronteiras ficarei perdido.
 Para que isso não ocorra lutarei por nós.
ORAÇÃO DA DEFLEXÃO
(Adaptada por Luciane Patrícia Yano,
 do original Oração da Gestalt de Fritz Perls)
 Eu fujo das minhas coisas e das suas.
 Eu evito o que eu sinto e evito o que você sente.
 Eu estou neste mundo para lidar
 Apenas com as expectativas que eu sustento;
 E você está nele para não me forçar a sentir.
 Eu evito o que eu sinto e evito o que você sente.
 Nos encontrarmos, será difícil!
 Continuemos com nossas fantasias e assim,
 Em meu conforto, não me desorganizo.

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  • 2. “Aquele que se auto-realiza, espera o possível. Aquele que quer realizar um conceito tenta o impossível.” (Fritz Perls, 1966)
  • 3.
  • 4. Gestalt: palavra alemã que aproximadamente significa todo, estrutura, forma, organização, configuração. É uma teoria de campo fenomenológica, que se baseia na experiência imediata; a experiência acontece no aqui e agora. Independente de o fato ser passado ou futuro, o sentimento acontece no aqui e agora, ele é presente, e só posso senti-lo no presente. Basear-se na experiência imediata é sempre descrever o que acontece e não somente explicar os fatos- “como” e do “o que quê” ao invés do “por que”. De acordo com Yontef (1998), “agora” refere-se a este momento, o presente é a movimentação permanente entre o passado e o futuro.
  • 5. GESTALT TERAPIA é uma teoria e prática sobre o desenvolvimento/crescimento do Ser Humano, que se dá em um processo de co- construção com o mundo em que está inserido. GESTALT-TERAPIA
  • 7. Friedrich Salomom Perls (08/07/1893 // 14/03/1970), médico alemão interessado em neurologia e depois em psiquiatria; se aproximou da Psicanálise. Antes de se decidir pela medicina, havia considerado a possibilidade de se tornar ator. De temperamento irrequieto,intempestivo e muito criativo, foi desenvolvendo a sua visão de psicanálise, tendo em curto espaço de tempo conseguido muitas inimizades e, por fim, sua expulsão da Soc. de Psicanálise.
  • 8. Em 1920, aos 27 anos, graduou-se em Medicina, passando a trabalhar como neuropsiquiatra. Em 1926, em Frankfurt, trabalhou com o neuropsiquiatra Kurt Goldstein e com sua assistente, Laura Posner, mais tarde co-fundadora da Gestalt-terapia. Por ser de religião judaica, imigrou em 1936 para a Johanesburgo na África do Sul, onde fundou um Instituto de Psicanálise Foi analisando de Wilhelm Reich. Chegou a ter um encontro com Freud, a partir do qual rompeu definitivamente com a Psicanálise. Em 1946 imigrou para os Estados Unidos, tendo se fixado em New York.
  • 9. Pode-se considerar que a Gestalt terapia germinou no espírito de Frederick Perls em 1940, na África do Sul. Quando imigrou nesta mesma época para a América com sua esposa Laura Perls, integraram-se a um grupo de intelectuais não conformistas com o sistema vigente, entre eles, o anarquista Paul Goodman, Isadore From, Paul Weisz e Ralf Hefferline.
  • 10. 10
  • 11. 11
  • 12.
  • 13. Em 1962, Perls entra em contato com o zen-budismo ao passar uns tempos em um mosteiro no Japão e aprende lá alguns conceitos que se incorporam à filosofia da Gestalt- terapia: permitir o fluir da experiência; a aceitação do que se é; a possibilidade de se aprender a lidar com o vazio, o qual é fértil de possibilidades, uma vez que, não raro, é o momento que precede o ato criativo.
  • 14. Em 1964 instala-se em Esalen.
  • 15.
  • 16. Perls retorna para EUA em Fevereiro de 1970, com a saúde muito ruim. Entra no Hospital Weiss Memorial, em Chicago. Laura vai visitá-lo. Após a cirurgia, morre de ataque cardíaco em 14 de março aos 76 anos . A autópsia revelou câncer de pâncreas. Laura falece em 1990, nos EUA. Deixaram como legado uma das mais importantes abordagens da Psicologia e da psicoterapia atual, uma abordagem em constante desenvolvimento e em constante luta por um mundo mais humano e mais simples.
  • 17. Frederick Perls, judeu alemão comumente chamado de Fritz, é visto como o principal criador da Gestalt terapia, no entanto, muitos a consideram fruto, sobretudo, das discussões e produções do chamado “grupo dos sete”, do qual Fritz fazia parte, que era um grupo de intelectuais não conformistas que questionavam os códigos sociais vigentes na sociedade americana do pós-guerra e buscavam um estilo de vida e de expressão mais autênticos. FRITZ PERLS
  • 18. Perls, Lore e Paul Goodman, constituíram a Gestalt Terapia a partir de fontes como a Psicologia da Gestalt, Fenomenologia, Existencialismo, Teoria Organísmica de Goldstein, Teoria de Campo de Lewin, Psicodrama, Reich, Bubber e, por fim, a filosofia oriental. Transcorridos mais de 50 anos desde a proposição da Gestalt Terapia, a abordagem gestáltica consolidou sua presença no cenário das práticas psicológicas.
  • 19. A Gestalt terapia defende a tese de que o homem só pode ser compreendido, através da relação que ele tem com o meio; Parte do pressuposto que o processo de conscientização é fundamental para que o indivíduo, possa estabelecer contatos de boa qualidade com o meio.
  • 20. “Amigo, não seja um perfeccionista. Perfeccionismo é uma maldição e uma prisão. Quanto mais você treme, mais erra o alvo. Você é perfeito, se se permitir ser. Amigo, não tenha medo de erros. Erros não são pecados. Erros são formas de fazer algo de maneira diferente, talvez criativamente nova. Amigo, não fique aborrecido por seus erros. Alegre-se por eles. Você teve coragem de dar algo de si.” Fritz Perls
  • 21.
  • 22. Gestalt-Terapia é uma linha psicoterapêutica. O objetivo está na promoção da estimulação do contato, da ação do aqui agora, e do aproveitamento do sistema sensorial e motor a fim de permitir o reconhecimento e o fechamento das gestalten abertas (são coisas mal resolvidas, não acabadas, das quais as pessoas tem muito pouco ou nenhuma consciência disso) ao longo da vida da pessoa. Psicologia da Gestalt é uma vertente em psicologia que estuda em particular, as questões da percepção e elabora teorias a partir disso.
  • 23. Perls criou a Gestalt-terapia e se preocupou com: uma concepção da relação corpo–mente que fosse integradora ao invés de dualista. uma noção de configuração ou estrutura que abrangesse a complexidade das inter-relações de fatores biológicos, psicológicos e socioculturais, dos quais a experiência e o comportamento do homem são resultantes. um método de pensamento que, afastando-se das explicações causais lineares se aproximasse do método dialético de focalizar interação e mudança enquanto processos contínuos de diferenciação, integração e re-diferenciação de opostos.
  • 24. O ser humano é um ser de relação (relação consigo mesmo, com o mundo, com os outros); totalidade e integração (a pessoa como uma unidade psique- corpo-espírito); o ser humano como unidade indivíduo- meio (o ser humano está constantemente interagindo com limites sociais e ambientais); unidade de passado, presente e futuro (o aqui-e-agora é o tempo e o lugar onde as modificações podem ocorrer); auto- regulação (o ser humano é um todo unificado que se autorregula).
  • 25. Concepção de homem: o homem, ser no mundo, sujeito de sua existência em busca de sua verdade criativamente transformando seu mundo e sendo transformado por ele, debatendo-se em contradições, divisões e confusões, enroscando-se em estereótipos e paralisando-se em repetições ao longo do caminho. (Tellegen)
  • 26. Conceitos Básicos • Campo; •Autorregulação; • Holismo; • Figura e fundo; • Ciclo de contato; • Ajustamento criativo; •Teoria paradoxal da mudança; • Awareness; • Aqui e agora
  • 27. Campo – é o conjunto de tudo o que tem a possibilidade de ser objeto da nossa atenção num determinado momento. Inclui a figura e o fundo. Quando dirijo, vou focalizando minha atenção a cada momento. Vou mudando a minha “figura” a cada instante: no sinal que fechou, no carro que brecou na minha frente, na música que toca no rádio, na placa de contra-mão, no guarda, no pedestre atravessando a rua, na moto que passou chispando ao meu lado, numa lembrança, numa vítima, numa emoção. O fundo inclui todos esses dados sensoriais ou memoriais que podem cair do plano da consciência ou atenção com maior ou menor facilidade.
  • 28. A dinâmica figura–fundo acontece na maioria das vezes espontaneamente e de acordo com nossas necessidades. Ao entrar numa festa, o paquerador visualizada as mulheres, uma pessoa faminta os salgadinhos, outra, com sede, as bebidas. Assim, ao decorrer da festa, outras figuras poderão ficar mais nítidas: a música, a decoração, etc.
  • 29. As necessidades determinam a figura de um determinado momento, sendo que as necessidades fisiológicas estão sempre em primeiro lugar, seguidas das necessidades de segurança, de pertencer, de amor, de ser estimado, de auto-realização, de conhecimento e estéticas.
  • 30. Perls tomou emprestado o termo da biologia para descrever: “O processo através do qual o organismo mantém seu equilíbrio e conseqüentemente sua saúde sob condições diversas; é o processo, portanto através do qual o organismo satisfaz suas necessidades. Uma vez que suas necessidades são muitas e cada necessidade perturba o equilíbrio o processo homeostático perdura o tempo todo...” (Perls, 1973 p.20-21 apud Mezzarana,2001). Processo pelo qual o organismo satisfaz suas necessidades. Autorregulação ou Homeostase
  • 31.  Homeostase  É o processo através do qual o organismo satisfaz suas necessidades. Cada necessidade perturba o organismo, que tem que se reorganizar para satisfazê-las. O processo homeostático perdura o tempo todo. Quando o processo homeostático falha em alguma escala, quando o organismo se mantém num estado de desequilíbrio por muito tempo e é incapaz de satisfazer suas necessidades, está doente. Quando falha o processo homeostático o organismo morre. Conceitos principais:
  • 32. “Quando um desejo se torna realidade, uma nova energia nasce no indivíduo. Desejos e necessidades são quase sempre estados deficitários a que as pessoas aspiram satisfazer, são buracos na personalidade que devem ser preenchidos (...). Costumamos dizer que a Gestalt-terapia é uma tentativa, uma proposta de lidar com essas necessidades, estes desejos, estes buracos que impedem a centragem, a harmonia do organismo. (Ribeiro, 1985)
  • 33. Processo : "Processo é: uma mudança ou uma transformação em um objeto ou organismo, na qual uma qualidade consistente ou uma direção podem ser discernidas. Um processo é sempre, em algum sentido, ativo; algo está acontecendo. Ele contrasta com a estrutura ou a forma de organização daquilo que muda, cuja estrutura é concebida para ser relativamente estática, a despeito da mudança processual." .
  • 34. Contato Em todo momento estamos fazendo contato. Contato é toda experiência humana: viver é contato. Ver é contato, ouvir é contato, pensar é contato, ter consciência é contato, mover-se é contato, manipular, falar, lutar, qualquer tipo de relação é contato. Contato é o processo contínuo de reciprocidade em que o homem e o mundo se transformam. O contato ocorre na fronteira eu – não eu.
  • 35. Suporte É o que dá sustentação para o contato. Suporte inclui fisiologia, postura, coordenação, equilíbrio, sensibilidade, mobilidade, linguagem, hábitos e costumes, habilidades, e aprendizagem, experiências vividas e defesas adquiridas ao longo da vida. Em terapia trata-se do desenvolvimento do suporte próprio.
  • 36. O universo se constitui por unidades que forma um todo que é mais que a simples soma das partes. Organismo como um todo: mente e corpo, interno e externo; Visão intra-orgânica: relação direta entre mente e corpo – o que o indivíduo fala é igual ao modo como se comporta; A relação entre indivíduo e meio é fluída, permitindo contato e afastamento. Contatar - formar gestalt. Afastar - fechar gestalt. No neurótico - contatar e afastar está perturbado. Não sabe priorizar necessidades dominantes. Holismo
  • 37. Conceito holístico que representa a junção do espaço e tempo, criando a possibilidade de plenitude. O “aqui e agora” é a totalidade da experiência humana. Inclui tudo e registra, no momento, as emoções e a solução do seu cotidiano. Não se trata de imediatismo irresponsável, e sim de uma responsabilidade engajada na totalidade do presente. É um processo totalizador que colhe no imediato todas as possibilidades do agir humano. Aqui e Agora
  • 38. Figura e Fundo Figura é a necessidade que emerge a cada momento a fim de ser satisfeita; Fundo é toda gama infinita de possibilidades de outras vivências, necessidades e percepções que naquele instante cedem lugar para o surgimento e configuração de uma necessidade dominante. Figura e fundo  Quando o organismo se depara com várias necessidades simultâneas a serem satisfeitas, tenta estabelecer um equilíbrio homeostático, daí se dá uma hierarquização. “A figura não é parte isolada do fundo, ela existe no fundo. O fundo revela a figura, permite à figura surgir (...). (Ponciano, 1985)
  • 39. A necessidade a ser satisfeita imediatamente é a figura, e a que passa a segundo plano, o fundo. Esse processo dinâmico por excelência, quando em funcionamento harmonioso leva o indivíduo a “fechar a Gestalt” de determinada situação ou necessidade. A neurose surge a partir de interrupções no fluxo natural de figuras, tornando-as inacabadas. É da plasticidade da interação entre essa figura e fundo que o indivíduo interage com o meio, constituindo aquilo que em Gestalt terapia denominamos de Ciclo do Contato.
  • 40. “Para que o indivíduo satisfaça suas necessidades, feche a gestalt, passe para outro assunto, deve ser capaz de manipular a si próprio e ao seu meio, pois mesmo as necessidades puramente fisiológicas só podem ser satisfeitas mediante a interação do organismo com o meio”. (Perls,1973,p.24)
  • 41. O saudável no fluxo figura e fundo é a satisfação da necessidade. É um processo de percepção, o fluxo é dinâmico. Quanto mais entramos em contato conosco e nos percebemos, mais clara fica a necessidade, mais clara fica a alternância entre figura e fundo.
  • 42. A visão holística de Perls da ênfase a importância da autopercepção presente e imediata que o indivíduo tem do seu meio. A GT não investiga o passado, mas convida o cliente a se concentrar para tornar-se consciente de sua experiência presente. Viver com atenção voltada para o presente, ao invés do passado ou do futuro, é algo bom que leva ao crescimento psicológico; pressupõe que a única experiência possível é a experiência presente. Ênfase no Aqui e Agora
  • 43. “Sempre que não estamos seguros de alguns de nossos papéis, desenvolvemos a ansiedade (...) ligamos isso com o fato de toda a realidade estar no agora, e sempre que abandonamos a posição segura de estar em contato com o presente, e saltamos para o futuro em fantasia perdemos o apoio para nossa orientação (...) A palavra ansiedade tem sua conotação derivada da palavra latina ‘angústia’, passagem estreita. O excitamento não pode fluir livremente.” (Perls, 1969) Ansiedade
  • 44. A ênfase na importância da compreensão da experiência de uma maneira descritiva e não causal é uma característica da abordagem holística e da orientação fenomenológica de Perls. Estrutura e função são iguais; se um indivíduo compreende como ele faz algo, esta pessoa esta na posição de compreender a ação em si. A ênfase da Gestalt está na tentativa de ampliar a consciência da pessoa na maneira que ela se comporta, e não analisar a razão pela qual se comporta A preponderância do COMO sobre o PORQUE
  • 45. A conscientização é o ponto central da abordagem terapêutica de Perls. O processo de crescimento se dá pela expansão das áreas de autoconsciência, o fator mais importante que inibe o crescimento psicológico é a fuga da conscientização. É um processo de contato na relação estabelecida entre o campo, organismo e meio, com qualidade acentuada de atenção e sentido. Conscientização (Awareness)
  • 46. Awareness : manter-se consciente de; estado de consciência. "O objetivo ( da awareness) é o paciente descobrir o mecanismo pelo qual ele aliena parte dos processos do seu self e, assim, evita estar consciente de si e de seu ambiente... Um experimento típico ( da awareness) é pedir que os participantes formem uma série de sentenças começando com as palavras "aqui- agora eu estou consciente de...". "Este continuum de tomada de consciência parece ser muito simples; apenas tomar consciência do que se passa segundo após segundo... Entretanto, assim que a tomada de consciência se torna desagradável, ela é interrompida pela maioria das pessoas. Então, estas, repentinamente, começam a intelectualizar, usar palavreado do tipo blablablá, voar em direção ao passado...".
  • 47. Forma de experenciar de estar em contato vigilante com o evento mais importante do campo indivíduo/meio, com total apoio sensório motor, emocional, cognitivo e energético. Enfatiza-se awareness no sentido de saber o que eu estou fazendo agora, na situação que está sendo e não se confunde esse estar sendo com o que foi, poderia ter sido, poderia ser. Awareness é sempre aqui e agora, mesmo que seu conteúdo esteja distante. Saber que agora eu estou rememorando é muito diferente do que cair no ato de lembrar sem awareness.
  • 48. Awareness é experienciar e saber como e o que eu estou fazendo agora. Sendo que o agora muda a cada momento, awareness é um processo dinâmico e exclui um modo imutável de ser e de ver o mundo. Awareness é sensorial e não mágica. Ela existe. Tudo que existe, existe aqui e agora. O passado existe agora sob forma de memórias, remorsos, rancores,tensão corporal (...) o futuro não existe, exceto agora, como fantasias, esperanças, expectativas.
  • 49.
  • 50. Premido pela necessidade de sobreviver (por isso se auto preserva antes de tudo), o ser humano interage com os outros e com o mundo, nutrindo- se/defendendo-se e defendendo-se/nutrindo-se.
  • 51. Perls, defende a tese de que o homem só pode ser compreendido, através da relação que ele tem com o meio. Parte do pressuposto que o processo de conscientização é fundamental para que o indivíduo, possa estabelecer contatos de boa qualidade com o meio.
  • 52. É com essa finalidade que o individuo está sempre fazendo arranjos (ajustes, truques, manhas), por vezes aparentemente estranhos ou bizarros, arranjos aos quais costumamos chamar de neuroses, distúrbios da personalidade, psicoses e outros nomes, mas que nada mais são do que os melhores ajustes que aquele ser conseguiu fazer nas limitadas circunstâncias existenciais circundantes em que ele esteve ou está sobrevivendo. Ajustamento criativo
  • 53. A preocupação central da Gestalt Terapia é se essa adaptação possível deu-se (dá-se) com integração – o que desenvolve o seu poder de condutor do seu processo – ou se, para consegui- la, teve que alienar partes e desejos seus com o objetivo de ser aceito, amado e incluído (que o torna um ser dividido e portador de inevitáveis sequelas).
  • 54. Nesse altamente complexo processo de co- construção com o contexto, a despeito de sempre fazermos o melhor dos possíveis existenciais – nós (por falta de poder e de suporte para a autonomia) mais nos adaptamos e somos condicionados do que conseguimos desenvolver aquela identidade própria que desenvolveríamos em ambientes menos desfavoráveis, menos “adestradores” no sentido de instalação dos “deves” e dos “tens que” de nossas sociedades conservadoras, prepotentes e coercitivas.
  • 55. A Gestalt terapia compreende o homem enquanto uma totalidade, ou seja, um sistema integrado e organizado, uma unidade indivisível corpo/mente, onde não há separação entre as partes que o compõem, mas sim integração, correlação, organização e interdependência.
  • 56. Dessa forma, não há no homem separação entre o seu sentir, o seu pensar e o seu agir. Sua mente, seu corpo e suas manifestações são partes de um todo, ou seja, são formas diferentes de expressão daquele ser humano e estão, portanto, integrados e contribuindo para a configuração desse todo. Assim, se algo muda em qualquer uma das suas partes, seja um aspecto emocional, mental, físico ou espiritual, o todo é reconfigurado, surge uma nova organização, uma nova gestalt.
  • 57. O conceito de Todo e Parte também vem da Psicologia da Gestalt, onde “O Todo é diferente da soma das Partes”. Só o todo pode trazer o significado, e o que revela o significado deste todo é a inter-relação das partes. De acordo com Ribeiro (1985), quando nos deparamos com algo, a nossa percepção o capta como um todo e a seguir percebemos suas partes. A forma como percebemos a parte e o todo vai depender da estruturação da nossa percepção. A experiência só chega até nós de modo completo, quando ela é experimentada como um todo, por mais que este todo seja apenas um esboço da realidade do ser. Então, para se compreender este todo, é necessário descobrir e conhecer a relação entre as partes.
  • 58. Um exemplo de parte e todo é uma orquestra sinfônica, quando escutamos cada instrumento separado (parte) é diferente de quando escutamos a orquestra inteira (todo), cada instrumento (parte) tem a sua particularidade, sua beleza e sua função, mas quando ouvimos a orquestra (todo) temos outra percepção, não ouvimos mais o som de cada instrumento, mas sim um conjunto, um todo composto de partes.
  • 59. O fluxo figura e fundo de um todo (fundo), emerge uma parte (figura). O fundo dá sustentação à figura, e a figura se destaca de um fundo. De acordo com Ribeiro (1985), a figura não é uma parte isolada do fundo, ela existe no fundo, o fundo revela a figura, e permite que ela apareça. A figura está no todo, o que o cliente traz como figura, faz é parte de seu todo, e também do seu fundo. Figura e Fundo
  • 60. Examine esta imagem: O que você pode achar? Olhe de longe... Olhe de perto...
  • 61. 61 Pode achar 10 faces nesta árvore?
  • 62. Ocorre na relação do cliente com o terapeuta, no decorrer do processo de conhecimento da pessoa, à medida em que ela vai examinando e ressignificando a sua história de vida e o seu estar-no-mundo. Como se realiza a terapia em Gestalt?
  • 63.  Na terapia gestáltica damos ênfase ao como e não ao porquê.  O cliente experimenta-se, vive sensações, toma contato com seu corpo, revive emoções e pode tornar figura sensações e sentimentos que faziam parte do fundo do seu campo.  O insight é a percepção de um comportamento, uma situação, uma emoção da qual não o cliente, de repente se dá conta. Terapia aqui – agora
  • 64.  O gestalt-terapeuta vai ao encontro da realidade do cliente investigando as suas experiências da forma como elas acontecem e se processam. No entanto, o sentido dessa relação do cliente com seu meio será dado pelo próprio cliente; o terapeuta é apenas um facilitador nesse processo de investigação, de compreensão deste sentido. Terapia aqui – agora
  • 65.  O gestalt-terapeuta utiliza um método descritivo e não explicativo, ou seja, procura investigar o que está acontecendo com o cliente e como está acontecendo, procurando, através de uma postura interessada, presente e acolhedora, sem “a prioris”, colocando de lado os julgamentos, os conhecimentos anteriores, os pré-conceitos, focalizar aquilo que o cliente manifesta no momento presente, no aqui-agora da relação terapêutica. Terapia aqui – agora
  • 66.  Com isso, o terapeuta procura facilitar o processo de auto-conhecimento do cliente, o processo de conscientização sobre si mesmo na relação com o mundo, de forma que ele possa conhecer e experimentar aquilo que ele está podendo ser naquele momento, conhecendo tanto os seus recursos, suas habilidades, como os seus impedimentos, as suas dificuldades, ou seja, tanto aquilo que é saudável quanto o que não é saudável na busca pela satisfação das suas necessidades na relação com o mundo. Terapia aqui – agora
  • 67.  O maior instrumento da Gestalt-terapia é o próprio terapeuta. Assim como um artista, para pintar uma paisagem numa tela deve estar tocado pela paisagem, assim também o terapeuta deve estar sintonizado com o cliente com o qual ele está em contato. Todas as suas sensações presentes devem ser examinadas pelo terapeuta, para ver o sentido que elas possam ter numa situação específica. O terapeuta
  • 68.  O terapeuta observa seu cliente em todos os seus aspectos: seu tom de voz, a forma como ele se apresenta, sua história, suas emoções. Pode propor experimentos para ampliar a awareness de seu cliente.  Na Gestalt-terapia o terapeuta é livre para expressar sua criatividade. O terapeuta
  • 69. O gestalt terapeuta vai ao encontro da realidade do cliente investigando as suas experiências da forma como elas acontecem e se processam. No entanto, o sentido dessa relação do cliente com seu meio será dado pelo próprio cliente; o terapeuta é apenas um facilitador nesse processo de investigação, de compreensão deste sentido.
  • 70. Gestalt terapeuta procura investigar o que está acontecendo com o cliente e como está acontecendo, procurando, através de uma postura interessada, presente e acolhedora, sem “a prioris”, colocando de lado os julgamentos, os conhecimentos anteriores, os pré-conceitos, focalizar aquilo que o cliente manifesta no momento presente, no aqui-agora da relação terapêutica.
  • 71. O psicoterapeuta procura facilitar o processo de auto-conhecimento do cliente, o processo de conscientização sobre si mesmo na relação com o mundo, de forma que ele possa conhecer e experimentar aquilo que ele está podendo ser naquele momento, conhecendo tanto os seus recursos, suas habilidades, como os seus impedimentos, as suas dificuldades, ou seja, tanto aquilo que é saudável quanto o que não é saudável na busca pela satisfação das suas necessidades na relação com o mundo.
  • 72.  Relação Terapêutica –“Encontro amoroso e criativo, onde terapeuta e cliente se permitem explorar os temas que emergem durante as sessões”. Em que o terapeuta deve, “desejar o bem ao outro de forma não manipulativa, possessiva e sem exigir nada em troca”, a partir da crença de que sempre se pode escolher “pela busca do bom e da belezan o outro”. Dessa forma o terapeuta estabelece com seus clientes um processo de co-criação (jamais direcionamos o trabalho –podemos dar contorno - sentido).
  • 73.  A ênfase na importância da criatividade, atributo essencial do homem para o processo de crescimento. • A Gestalt-terapia proporciona uma ferramenta extremamente adequada para essa postura terapêutica –a arte do experimento. O uso dessa ferramenta pressupõe uma visão de homem que confia no seu impulso natural para o crescimento, integração e satisfação de suas necessidades da forma mais estética possível em dado contexto e momento.
  • 74.  Valores fundamentais para ser um curador:  1 –Respeite a experiência da pessoa como ela é (fenomenologia);  2 –Demonstre consideração por todo “sintoma”, como um esforço criativo de a pessoa tornar sua vida melhor (hierarquia de necessidades/ajustamento criativo);  3 –Toda discordância ou falta de confluência com o terapeuta é “boa” e representa uma afirmação da força do paciente e de sua capacidade pra aprender por si mesmo (existencialismo);  4 –Dê suporte à resistência de um casal ou de uma família;  5 –Estabeleça limites claros entre seus sentimentos pessoais e o mundo fenomenológico do paciente;  6 –Dê suporte à competência;
  • 75.  7 –Proporcione um ambiente e uma presença em que o pior ofensor possa entrar em contato com sua dor e com sua vulnerabilidade (postura respeitosa e acolhedora);  8 –Todos nós somos capazes de ações terríveis. O terapeuta deve ter compaixão tanto pela vítima quanto pelo vitimador (ambos formam a Gestalt que se apresenta, ou seja ambos são responsáveis pela contexto atual da relação –forma como ela se apresenta e funciona nesse momento);  9 –O terapeuta protege ou cria limites protetores entre as pessoas nas famílias. A experiência de cada pessoa é reale precisa ser levada em conta (trabalha nas fronteira de contato–único lugar onde pode ocorrer awareness e consequentemente mudança);  • 10 –A presença do terapeuta e a afirmação de uma família permitem que todos cresçam (se sentem
  • 76. 10 –A presença do terapeuta e a afirmação de uma família permitem que todos cresçam (se sentem vistos, ouvidos, confirmados, acolhidos e protegidos); 11 – Tomar uma posição clara quanto a não permitir comportamentos abusivos entre os membros da família. Estabeleça limites claros (todas as intervenções do terapeuta devem ser claras); 12 – O terapeuta modela um líder e professor que é bom e paciente (modelo); 13 – O terapeuta dá suporte sem ser sentimental, super protetor ou autoindulgente (mantém a responsabilidade de cada um por seus atos, porém confirma seus posicionamentos como legítimos e ajuda cada um a perceber consequências deles ); 14 – Cada família tem suas próprias origens étnicas, sua própria textura cultural. Não importa seus valores sociais ou técnicos a uma família: eles podem não servir.
  • 77.  Atendimento 1    João: - Minha queixa é que toda vez que me aproximo de uma mulher que me interessa sexualmente, eu fico envergonhado, porque sempre fico com o rosto vermelho, como se fosse uma criança tímida e boboca!   O cliente mostra uma expressão facial, visivelmente emocionada. RELATO DE SESSÃO
  • 78.  Terapeuta: - O que você está sentindo neste momento, falando desse assunto?  João: - É como se voltassem os mesmos sentimentos...  Terapeuta: - Você está se sentindo uma criança tímida e boboca neste momento?  João: - Ao falar com você, eu me lembrei de uma situação em que eu me senti assim...  Terapeuta: - Perante uma mulher?  João: - Sim... Mas não é fácil para mim falar disso... Eu logo me perco, fico com vontade de mudar de assunto...  Terapeuta: - Bem, se consulte, veja se você quer mudar de assunto ou prefere continuar neste mesmo... Só me informe por qual escolha você se responsabiliza.
  • 79.  Após uma pausa, faz um sinal de concordância com a cabeça.  João: - Eu quero continuar neste tema, mas é difícil explicar como acontece...  Terapeuta: - Eu sugiro que você, ao invés de me explicar, pudesse demonstrar como acontece... Você poderia escolher neste momento uma imagem de uma mulher com a qual ou perante a qual você sentiu essa vergonha de modo mais intenso?  João: - Sim, isso já aconteceu várias vezes, mas houve uma em que isso me incomodou mais profundamente... Era uma mulher que eu desejava muito.  T: - Qual o nome dela?  J: - Maria.
  • 80.  T: - Como aconteceu esse encontro com a Maria?  J: - Ela estava em uma festa de um amigo. Quando cheguei lá, eu agia normalmente, como sempre ajo quando estou em situações sociais. Houve um momento em que eu olhei para ela pela primeira vez e fiquei maravilhado com aquela mulher, linda, charmosa... Porém eu estava no meu canto, e ainda me sentia como normalmente fico; estava encantado por ela, mas nem imaginava a hipótese de chegar até ela.  T: - Então, distante da possibilidade de falar com ela, você se sentia como “normalmente fica”?
  • 81.  J: - Sim. Até que chegou uma hora da festa que ela olhou para mim. Uau! Eu senti aquele olhar como um “ataque cardíaco”!! Meu coração disparou e eu fiquei completamente nervoso. Fiquei com vontade de me aproximar dela, tentei dar uns passos na direção dela, mas novamente senti aquela sensação de rubor no meu rosto e tive a certeza de que, naquele momento, eu estava completamente vermelho. Nem pensei duas vezes: virei-me e fui embora da festa na mesma hora!!  T: - Vamos imaginar que você está no mesmo local onde você a encontrou e onde você sentiu bem forte essa atração por ela, ao mesmo tempo em que você sentiu também bem forte esse rubor que o fez sentir uma criança tímida e boboca, pode ser?  J: - Sim.
  • 82.  T: - Gostaria que você imaginasse o seguinte... (o terapeuta anda até uma parte do consultório) - ...neste local aqui, está Maria (e coloca ali qualquer objeto que possa representar a Maria: uma almofada, uma cadeira etc.).  - No lado oposto deste local, fica sua fuga da Maria (o terapeuta anda até lá, e coloca um outro objeto para representar a situação da fuga).  - Agora eu gostaria que você imaginasse a meia distância entre esses dois pontos e se encaminhasse para lá, certo?  J: - Sim, acho que ficaria mais ou menos por aqui.  T: - É, acho que o meio seria por aí mesmo. Agora eu peço que você se coloque sobre esse ponto médio, porém dê alguns passos para trás.  J: - Para quê?
  • 83.  Na GT, há um apoio ao interesse genuíno do cliente em compreender seu próprio processo.  T: - Estou tentando concretizar aqui exatamente a situação que você me descreveu.  J: - Não estou entendendo...  T: - Neste ponto onde você está agora, a alguns passos atrás do ponto médio entre “Maria” e a “situação da fuga”, há o que você classificou como “se sentir normal”. Alguns passos à frente, surge algo que se diferencia deste “normal” e que se bifurca em duas estradas opostas, entre o desejo de ir até Maria... (Aí o terapeuta aponta para o objeto que representa Maria). - ...e a decisão que você acabou tomando que foi se afastar dela. (Apontando agora para o segundo objeto.)
  • 84.  - Mas a questão é que antes dessa oposição acontecer, você está em um ponto anterior que você classifica como “se sentir normal”. Acho que seria interessante você conhecer como esse ponto se diferencia para se transformar em “desejo pela Maria” ou “fugir da Maria”.  J: - Entendi...  T: - Como é estar aí neste ponto, “entrando em uma festa”, se sentindo “norma”? Sugiro que você feche um pouco os olhos e se imagine nesta situação.  J: - Me sinto bem, gosto de festas, e sempre há uma expectativa minha em encontrar uma mulher interessante nestas festas...  T: - Então você está me dizendo que “normal” para você significa estar na expectativa de conhecer uma mulher interessante?
  • 85.  J: - É... É isso mesmo... Eu normalmente fico na expectativa de conhecer uma mulher...  T: - Como você se sente com esta expectativa normalmente presente?  J: - Na verdade, eu fico nervoso...  T: - Então, neste caso, se sentir “normal” é ficar com expectativas que te fazem se sentir nervoso?  J: - Na verdade sim...  T: - Ok, acho que conhecemos então o que acontece quando você entra na festa: você entra nervoso, na expectativa de conhecer uma mulher interessante. O que significa para você “se sentir nervoso”?
  • 86.  J: - Bem, não sei... Me sentir nervoso, como todo mundo fica... não sou diferente...T: - Eu sei que “todo mundo fica nervoso” mas, neste momento, eu quero saber como “você” fica nervoso...  J: - Não sei te responder...  T: - Tudo bem. Vamos de novo para a situação da festa. Você pode se imaginar lá novamente? (O cliente consente.)  - Você pode olhar para o seu corpo e descrever o que você está sentindo?  Após um tempo de concentração, o cliente volta a fazer contato com as emoções da situação vivida...
  • 87.  J: - Eu percebo que estou com palpitações no coração, bem fortes... (o terapeuta sugere que ele coloque a mão no coração) – Minha respiração está mais forte também...   O terapeuta observa neste momento que o cliente levanta parcialmente as partes internas dos pés, diminuindo a área de contato com o chão e, consequentemente, sua base de apoio.   T: - Você percebe como você está pisando?   O cliente, ao olhar para os próprios pés, faz um gesto de pisar com mais firmeza, respira mais fundo e continua em contato com a situação sugerida. 
  • 88.  J: - Eu achei que meus pés estavam querendo fugir... É que eu fico imaginando o que vou falar, o que vou mostrar, se vou conseguir conquista-la ou não, se vou falhar ou não...  T: - Então você parece que já está no ponto onde começa o conflito, não é?   O cliente confirma, afirmando que já se sente em conflito entre prosseguir ou fugir.   T: - Parece a mim, então, que você já pode dar um passo à frente, até o ponto do meio, até onde você percebe Maria, e seu conflito se instaura. Por favor... (O cliente dá um passo até o ponto solicitado) – Agora, o que você percebe?
  • 89.  J: - Percebo que, na verdade, aquilo que eu imaginava antes que tinha acontecido somente quando eu vi Maria, já estava acontecendo desde o momento em que entrei na festa. Aliás, para ser franco, já estava acontecendo desde o início da semana, pois já sabia que no sábado eu iria para aquela festa...  T: - Como foca a Maria nesta história?  J: - Ela é somente alguém que apareceu e que se encaixava naquilo que eu queria e que me deixava tão nervoso...  T: - Parece que poderia então acontecer de ser outra mulher...
  • 90.  J: - É, não dependia de ser Maria, não... Eu fico nervoso somente pela possibilidade...  T: - Possibilidade de que, exatamente?  J: - Possibilidade de encontrar uma mulher de verdade, e não uma da minha fantasia...  T: - “Mulher de verdade” ou “mulher de fantasia”... Vamos voltar ao momento da festa, e a linha que representamos aqui pelo extremo onde está Maria, e o outro extremo onde está sua fuga, podemos? (O cliente concorda) – Enquanto você está aí, entre Maria e a fuga, enquanto isso está acontecendo, todas essas coisas na sua cabeça, você ainda não fugiu, não é? (O cliente concorda de novo) – Então, como é estar aí, neste ponto, sentindo tudo isso, antes de fugir? O que está acontecendo com você neste ponto?...  J: - ...
  • 91.  J: - ...  Diante do silêncio do cliente, o terapeuta pode ou não oferecer ajuda, dependendo de seu feeling sobre a necessidade do cliente. Mas normalmente isso pode ser simplesmente checado junto a ele:  T: - Você precisa de ajuda?  J: - Na verdade, acho que sim... Me sinto apavorado, como se fosse enfrentar um monstro...  T: - Vamos acrescentar isso que você está percebendo, esse “monstro”, ok? Me responda primeiro: que monstro é esse?  J: - O monstro não é a Maria, mas é o que ela pode me falar... ela pode me humilhar, me fazer sentir um lixo...
  • 92.  T: - Você pode imaginar o que seria a pior coisa que esse monstro poderia lhe dizer?  J: - O que seria pior... Isso é fácil, penso nisso toda hora... Seria algo assim: Quem você pensa que é, seu ser desprezível, para falar comigo?!  T: - Você pode tentar responder essa pergunta?  J: - Que pergunta?  T: - A pior fala imaginada por você, a fala “monstruosa”, é uma pergunta. Ela está perguntando para você “quem você pensa que é”... Daí, proponho que você responda. Quem você pensa que é?
  • 93.  J: - Neste momento, sou um cara totalmente inseguro, achando que se uma mulher falasse algo ruim para mim, eu seria capaz de me matar, de me sentir realmente um ser desprezível...  T: - O que você quer dizer com “realmente desprezível”?  J: - Quero dizer que eu me sentiria realmente como ela pensa que eu sou...  T: - Mas você sabe o que ela pensa sobre você?  João fica inicialmente surpreso, pois constata que o que a outra pessoa pensa ou pensou era algo, até ali, totalmente inacessível para ele. Descobre então que o “ser desprezível” era um autoconceito, e não algo atribuído a ele pela Maria.
  • 94.  Após ter o insight que lhe permitiu um contato com algo óbvio, mas, até o momento, inacessível a sua consciência, a pessoa normalmente precisa de um tempo para metabolizar aquela informação. Embora óbvio, era algo que estava fora de seu campo de percepção, e o contato com algo novo pode gerar uma nova reorganização de seu próprio mundo, de seu próprio sistema de autorreferência. A pessoa então vê de forma diferente algo que via antes, tendo a possibilidade de estabelecer uma nova compreensão sobre tudo aquilo que está envolvido no momento em foco. Com isso a pessoa amplia sua capacidade de estar consciente de si e de sua relação no contexto que a envolve. A GT utiliza o conceito de awareness, para denominar tal capacidade de manter- se consciente.
  • 95.  João fala com uma voz emocionada:   J: - Poxa, estou percebendo que essa coisa de me sentir um ser desprezível é algo bem antigo na minha vida... Que eu sinto desde o tempo da minha mãe... Eu sempre achava que tinha que fazer o que ela queria ou esperava de mim e, quando não conseguia, me sentia realmente o último dos seres... Como na maior parte das vezes eu não conseguia fazer tudo e-x-a-t-a- m-e-n-t-e como ela queria, na verdade, na maior parte das vezes, eu realmente me sentia um ser desprezível...
  • 96.  Com esta informação, o cliente começa a elaborar sozinho seu próprio sistema de autorreferência, compreendendo suas ações sob uma nova forma. Seu olhar fica distante, pensativo...  T: - Do que você precisa agora?  J: - Acho que preciso de um tempo para pensar nisso tudo...  T: - Você concorda com o fechamento do trabalho neste ponto?  J: - Sim.
  • 97. O contato é estabelecido para que o indivíduo possa satisfazer uma necessidade ou fechar uma figura, e após obter esse resultado existe uma retração para que surja uma necessidade, novo contato, nova assimilação e retração. “O Ciclo é, portanto, concebido como um sistema self-eu- mundo. Permite-nos ler a realidade por intermédio dele, bem como entender o processo pelo qual este sistema foi se estruturando ao longo do tempo” ( Ribeiro, 1997) Ciclo de Contato
  • 98. awareness sensação mobilização de energia ação contato Retração Retração Ciclo Gestáltico de Experiência ou de Contato (Zinker, J.) Em busca da satisfação das necessidades.
  • 99.
  • 100.  Um ciclo que é interrompido ou é vivido em cada uma de suas fases de forma incompleta, gera desconforto, evidencia as resistências que não permitem o contato pleno e interrompem uma possível resolução.  A gestalt (figura) não se forma com clareza, portanto, não concentra a energia necessária para que o contato seja satisfatório e permanece inacabado (não gerando significado).  O sistema (ou indivíduo) permanece com uma “gestalt inacabada” que continua demandando energia para sua resolução.  A possibilidade de contatos futuros segue sem satisfação plena, portanto sem resolução – disfuncional.
  • 101.  O objetivo do processo terapêutico é identificar as interrupções no fluxo do contato (resistências) e ajudar em sua resolução, para que o processo possa fluir de forma satisfatória.
  • 102.  Projetar é o ato pelo qual “colocamos” no entorno algo que originalmente nos pertence.  Em seu aspecto relacional, como função de contato com o mundo, é o recurso que nos permite enriquecer a vida com nossa obra criativa pessoal. A realização de uma tarefa artística, a elaboração de uma teoria, o planejamento de uma viagem de férias, ou a construção da casa de nossos sonhos não seriam possíveis sem a projeção. Projeção
  • 103.  Em seu aspecto limitador, projetar é o ato pelo qual atribuímos uma parte de nosso ser ao entorno. A intensidade e rigidez de tal manobra dependem de vários fatores complexos entre si e do papel central que este mecanismo em particular ocupa, na constelação de mecanismos associados para a manutenção da equação pessoal (gestalt fixa).  É necessário, na descrição do mecanismo, estabelecer uma diferenciação operativa entre a projeção como mecanismo universal, o projetado como conteúdo da mesma e a posição desse mecanismo como prevalente (primário) ou secundário na estrutura de personalidade. Projeção
  • 104.  A projeção se refere ao mecanismo comum a toda a espécie humana; o projetado nos fala de uma pessoa em particular, e a posição do uso do mecanismo na estrutura ou gestalt fixa nos fala, neste caso, de um estilo projetivo. Projeção
  • 105.  Introjetar é o ato pelo qual algo, que originalmente pertencia ao meio, e o introduzimos em nosso ser.  Em seu aspecto relacional, facilitador da vida, é o recurso que utilizamos para poder nos alimentar no plano físico, emocional, psicológico e espiritual. Tanto quando comemos, assim como quando lemos um livro, devemos, antes de qualquer coisa, introduzir o material em nosso organismo ou em nossa mente, para depois poder assimilá- lo e crescer. O mesmo acontece com o afeto e o carinho necessários para viver. Muitas vezes encontramos, no consultório, pessoas que bloquearam a capacidade de “deixar” entrar o amor que necessitam. Introjeção
  • 106.  Introjetar, em seu aspecto limitador, é também introduzir em nosso ser algo que originalmente pertencia ao meio, porém sem assimilá-lo ou digeri-lo. Como decorrência, o material permanece “autônomo” em nosso interior, ocupando um espaço em nossa identidade, que diminui nossa consciência e nossa liberdade.  Os mandatos familiares e sociais e os preconceitos são bons exemplos das conseqüências da introjeção. Muitas vezes, tais mandatos entram em conflito como nossos impulsos e necessidades, gerando um “conflito de interesses” intrapsíquico.  Ou seja, a pessoa discute com suas vozes internas sem saber a quem obedecer. As descrições psicanalíticas do chamado “super ego” persecutório são um bom exemplo do sofrimento que podem gerar estas estruturas – ou complexos autônomos, como Jung os chamava. Introjeção
  • 107.  Os dois mecanismos (projeção e introjeção) estão, na realidade, associados, pois muitas vezes o conteúdo de uma introjeção é projetado, como no caso dos preconceitos raciais, ou o das fobias, como quando uma criança resolve o conflito dos mandatos familiares – de ter que ser “bonzinho”, por exemplo – que se confrontam com sua agressividade, causada pelos ciúmes contra um irmãozinho, projetando sua raiva sobre um cachorro ou sobre um brinquedo.  Às vezes, presenciamos um verdadeiro “esvaziamento” da personalidade do paciente, por causa da somatória de introjeções e projeções, resultantes do conflito gerado pelos “introjetos” com partes do ser. Por um lado, os introjetos ocupam espaço e, por outro lado, as projeções “esvaziam” a pessoa. Introjeção e Projeção
  • 108.  Tal como fizemos no caso da Projeção, também aqui é necessário estabelecer uma diferença entre o mecanismo universal da Introjeção, o introjetado ou introjeto e o lugar que o mecanismo ocupa como prevalente ou secundário na manutenção da estrutura de personalidade, sendo este último o que nos permitirá identificar um estilo introjetivo. Introjeção e Projeção
  • 109.  Retroflexão é o ato pelo qual retornamos a energia de uma ação, que deveria direcionar-se no meio e para o meio, para nós mesmos.  Em seu aspecto relacional, é a capacidade de auto-observação, de auto-análise que permite converter-nos em pessoas responsáveis e maduras emocionalmente.  Também representa a capacidade de sermos conscientes de nós mesmos, tanto como a possibilidade de postergar nossas necessidades e desejos em função dos outros, como ocorre na paternidade e na maternidade. Seria impensável que alguém pudesse ser uma boa mãe, um bom pai, ou um bom servidor da comunidade, sem a capacidade de retroflexão. Retroflexão
  • 110.  Retrofletir, no seu aspecto limitador, impede-nos dirigir e expressar nossos sentimentos para com o mundo, assim como também de pedir aquilo que necessitamos e desejamos.  Neste sentido, distinguimos dois tipos de retroflexão: fazer a nós mesmos o que gostaríamos de fazer aos outros e fazer a nós mesmos o que gostaríamos que os outros nos fizessem. Como se vê em ambos os casos, a energia da ação criada pela necessidade ou sentimento não alcança seu destino verdadeiro, voltando-se sobre sua origem.  No primeiro caso, um exemplo típico é o da raiva que, ao invés de dirigir-se até o causador de nosso sentimento, volta-se sobre nós mesmos em forma de culpa. No segundo caso, é nossa necessidade de carinho, atenção, ajuda, etc, o que não chega ao destino, voltando-se sobre nós mesmos em forma de auto-suficiência. Retroflexão
  • 111.  No primeiro caso, parece que a matriz emocional é a central, que nos diz que não é seguro (possibilidade de retaliação, abandono, rejeição, etc.) expressar nossas emoções fortes com os demais. Parece claro que a pessoa não se sente muito segura de seu valor em relação às outras pessoas, que a rodeiam (baixa auto-estima); o que acaba por situá-la numa constante espiral de auto- postergação.  No segundo caso, o fator central parece ser a desconfiança de que os demais poderão prover-nos daquilo que necessitarmos, o que for resolvido através do desenvolvimento de um argumento de vida auto- suficiente. Retroflexão
  • 112.  Defletir é o ato pelo qual impedimos o contato com experiências (relações, sentimentos, demandas, necessidades, etc.), tanto provenientes do meio externo como do interno.  Em seu aspecto relacional, é a capacidade de descartar informação para poder focalizar em algo que é de nosso interesse ou que, por sua urgência, demanda nossa atenção.  Sem a capacidade de defletir, jamais poderíamos prestar atenção a alguma coisa em particular, pois nos veríamos invadidos pela enorme quantidade de informação proveniente de nossos sentidos e do meio. Também não poderíamos defender-nos do material que não estamos disponíveis para assimilar, num determinado momento.  As crianças, em suas fases de obstinação e negação, são um bom exemplo da utilidade da deflexão. Deflexão
  • 113.  Defletir, em seu pólo limitador, impede-nos de estar presentes e em contato com o que está acontecendo no aqui-e-agora. Neste sentido, converte-se no mecanismo “evitativo” por excelência, levando-nos, em casos extremos, a uma vida centrífuga e ansiosa.  Neste caso também, devemos separar o uso da deflexão de sua posição como mecanismo prevalente de uma estrutura de personalidade, constituindo-se, então, num estilo defletivo de estar no mundo. Deflexão
  • 114.  Confluir é o ato mediante o qual diluímos nossas fronteiras ou limites para nos fundir com o outro, os outros, ou o meio que nos rodeia.  Em seu aspecto relacional, é a confluência que nos permite sentir parte de um grupo, uma família ou da natureza em geral. A capacidade de amar está indissoluvelmente unida à capacidade de confluir.  A palavra confluir pode ser decomposta como co-fluir, co-fundir-se ou confundir-se e podemos utilizar tais diferenças para catalogar o aspecto positivo ou o limitador do mecanismo, dependendo das circunstâncias.  A capacidade de fluir com uma situação é condição para a entrega. O poder fundir-nos num abraço ou permitir estar confundidos ao longo de uma experiência emocional também são exemplos positivos do uso da confluência. Confluência
  • 115.  Confluir, em seu aspecto limitador, é a capacidade de diluir nossa integridade a serviço de nos perdermos no ambiente, seja uma situação, um grupo, uma instituição, uma ideologia, uma relação, etc.  As evitações de conflitos, responsabilidades, intensidade das relações, desacordos, discriminação ou de manifestações de nossa individualidade, parecem ser alguns dos temas centrais na aplicação da confluência como mecanismo . Confluência
  • 116.  O Egotismo representa a capacidade de sustentar as fronteiras de nossa identidade perante as circunstâncias de nossa vida.  Em seu aspecto positivo, é a habilidade para a auto- afirmação e a manutenção de nossa auto-estima. Egotismo
  • 117.  Em seu aspecto limitador, converte-se na incapacidade de reconhecer nossas limitações e erros, deixando-nos na posição de sustentar temerariamente “nossas razões”, mesmo frente a todas as evidências em contrário. Representa o individualismo ao extremo e a impossibilidade de perceber os outros como “outros” e não como meras extensões de nossas necessidades.  Paul Goodman (anarquista, filósofo e escritor pioneiro da Terapia Gestáltica) – que fez originalmente a descrição deste mecanismo – identificou o egotismo como parte fundamental da estrutura de personalidade de homens e mulheres, em nossa cultura “selvagemente” individualista. Egotismo
  • 118.  Fluxo de energia dirigido ao meio para que o outro reaja de maneira desejada e esperada. É fazer aos outros o que gostaríamos que outro nos fizesse.  O proflexor costuma assumir uma atitude servil em relação ao outro, na tentativa de manipulá-lo. Proflexão
  • 119.  Proflexor ativo – realiza uma pesquisa das necessidades e desejos de outra pessoa e procura realizá-los, esperando que ela faça o mesmo.  Proflexão passiva – é caracterizada por uma submissão frequente, na tentativa de corresponder às expectativas do outro, para que sua dedicação seja apreciada e reconhecida. Proflexão
  • 120.  Envolve expectativas não explícitas e desejos não expressos na relação. A pessoa assume o papel de servidor incansável, mas busca sempre resultados, sentindo-se injustiçado, explorado e ressentido se o outro não corresponde às suas expectativas. Proflexão
  • 121.  Em seu aspecto relacional a proflexão nos ajuda a descobrir os desejos do outro e nosso desejo de agradá-lo porque o amamos. É o caso de comprarmos um presente para alguém pensando o quanto gostaríamos de ganhar tal presente. Se não cobrarmos o outro,é um aspecto relacional.  Em seu aspecto limitador, fazendo para o outro o que queremos que nos façam, sentimo-nos insatisfeitos e injustiçados: eu faço tudo para você e não recebo nada em troca. Acaba tendo um aspecto manipulador por não deixar claro o nosso desejo. Proflexão
  • 122.  Não pode haver empatia sem um certo grau de projeção.  Não pode haver aprendizagem sem sem introjeção.  Não é possível conceber uma relação humana sem um certo grau de contenção ou postergação de necessidades próprias (retroflexão).  Não pode haver uma tomada de decisão sem um certo grau de deflexão. (selecionar ou descartar figuras.  Não se pode pensar em pertencer a qualquer comunidade sem um certo grau de confluência.  Não pode haver sentido de si mesmo sem uma certa dose de egotismo. Ajustamentos neuróticos?
  • 123. Oração da Gestalt -Terapia “Eu sou Eu, Você é Você Eu faço minhas coisas, você faz as suas. Não estou neste mundo para viver de acordo com as suas expectativas. E você não está neste mundo para viver de acordo com as minhas Você é você e eu sou eu. E se por acaso, algum dia nos encontramos, será lindo Se não, nada há a fazer.” (Perls)
  • 124. Oração da Gestalt -Terapia  “Eu faço as minhas coisas e você faz as suas.  Não estou neste mundo para viver de acordo com suas  expectativas. E você não está neste mundo para viver de  acordo com as minhas. Você é você. Eu sou eu.  E, se por acaso nos encontrarmos, será lindo.  Se não, assim também o será.”  (Perls, 1977, p. 17. Tradução japonesa da oração da Gestalt).
  • 125. ORAÇÃO DA INTROJEÇÃO  ( Adaptada por Luciene Patrícia Yano,  Do original Oração da Gestalt de Fritz Perls)  Eu engulo as “minhas” coisas de acordo com as suas.  Eu sou aquilo que você espera de mim!  Eu estou neste mundo para atender às suas expectativas;  Eu sou aquilo que você espera de mim!  E, se por acaso nos encontrarmos,  Será lindo! Para você.  Se não, eu terei de mudar para te atender.
  • 126. ORAÇÃO DA PROJEÇÃO  (Adaptada por Luciane Patrícia Yano,  Do original Oração da Gestalt de Fritz Perls)   Eu Projeto as minhas coisas em você.  Eu sou eu. Você é aquilo que eu penso de você!  Eu estou neste mundo para viver  de acordo com as minhas expectativas;  Eu sou eu. Você é aquilo que eu penso de você!  E, se por acaso, nos encontrarmos, será lindo! Para mim.  Se não, você terá que mudar.
  • 127. ORAÇÃO DA RETROFLEXÃO  (Adaptada por Luciane Patrícia Yano,  do original Oração da Gestalt de Fritz Perls)   O que eu penso sobre você está investido em mim.  Eu vivo aquilo que eu espero de você!  Eu estou neste mundo para viver exclusivamente comigo;  Eu vivo aquilo que eu espero de você!  E, se por acaso nos encontrarmos, serei mais leve!  Se não, continuarei em minha solidão.
  • 128. ORAÇÃO DO EGOTISMO  (Adaptada por Luciane Patrícia Yano,  Do Original Oração da Gestalt de Fritz Perls)   Eu faço as minhas coisas.  Eu sou aquele que analisa e manipula você.  Eu não estou neste mundo para ter surpresas;  E você está nele para não atrapalhar meus planos.  Eu sou aquele que analisa e manipula você.  E, se por acaso nos encontrarmos.... Não, isso não acontecerá!
  • 129. ORAÇÃO DA CONFLUÊNCIA  (Adaptada por Luciene Patrícia Yano,  do original Oração da Gestalt de Fritz Perls)  Eu faço minhas coisas mescladas com as suas.  Eu sou o nós e não tenho um eu.  Eu estou neste mundo para viver de acordo com as nossas expectativas;  E você está nele para atender às nossas expectativas.  Eu sou o nós e não tenho um eu.  E, se por acaso separarmos nossas fronteiras ficarei perdido.  Para que isso não ocorra lutarei por nós.
  • 130. ORAÇÃO DA DEFLEXÃO (Adaptada por Luciane Patrícia Yano,  do original Oração da Gestalt de Fritz Perls)  Eu fujo das minhas coisas e das suas.  Eu evito o que eu sinto e evito o que você sente.  Eu estou neste mundo para lidar  Apenas com as expectativas que eu sustento;  E você está nele para não me forçar a sentir.  Eu evito o que eu sinto e evito o que você sente.  Nos encontrarmos, será difícil!  Continuemos com nossas fantasias e assim,  Em meu conforto, não me desorganizo.