1. da pecuária de leite
Ano 2 - Edição 11
Abril/Maio 2010
INVESTIR EM PRODUTIVIDADE
É MAIS VANTAJOSO QUE
EXPANSÃO DO REBANHO
Aumentar o rebanho ou investir em pro- Operacional Total (COT), que contabiliza
dutividade? O que vale mais a pena? o custo operacional efetivo e as depre-
Análise baseada nas pesquisas de custo ciações. Para esse cálculo, foi analisado
de produção de leite em algumas regi- o COT médio de 2009 de cada região.
ões de Minas Gerais, Goiás, São Paulo, Na média da amostra, se o produtor au- situação de mercado em 2009. Porém, é
Paraná e Rio Grande do Sul, mostra que mentar os gastos em 89,7%, investindo preciso considerar que um investimento
o investimento em produtividade, sem principalmente em alimentação, higieni- em produtividade tende a trazer também
alterar o rebanho, pode ser a opção mais zação e mão-de-obra, teria um ganho melhoria da qualidade do leite e ainda
viável economicamente. de produção de 87,6%, sem aumentar aumentar a escala do produtor. Assim,
Se desconsiderarmos a produtividade da o seu rebanho. o aumento do volume de leite entregue
região de Castro (PR), que possui siste- Caso o produtor resolvesse aumentar a cooperativas e laticínios pode também
ma de produção distinto do identificado o número de vacas para obter a mesma proporcionar um preço mais elevado.
nas demais áreas da amostra da pesqui- produção alcançada na simulação ante- O ganho em receita, na prática, seria su-
sa, é possível observar que a produtivi- rior, que tivessem a mesma produtividade perior aos 88,1%.
dade máxima é de 15 litros diários por média do rebanho atual, o valor que preci- O ganho em receita não compensaria a ex-
vaca. Se em todas as regiões analisadas saria desembolsar seria 46,7% maior que pansão de todo o sistema produtivo sem
a produtividade por vaca alcançasse o investimento para elevar a produtivida- que houvesse aumento de produtividade e,
esse nível máximo, haveria aumento de de. Precisaria gastar 178,2% a mais que o com isso, diluição dos custos de produção.
87,6% na produção anual de leite. custo atual para obter a mesma produção Os ganhos ambientais seriam muito
O aumento de custos para a obtenção que poderia ter caso a produtividade su- maiores no caso da intensificação, uma
dessa produtividade viria quase na mes- bisse para 15 litros diários por vaca. vez que o mesmo número de vacas pro-
ma proporção do incremento da produ- Em receita, o aumento obtido com a maior duziria mais leite sem aumentar a emis-
ção, em 89,71%, considerando o Custo produção seria de 88,1%, considerando a são de gases do efeito estufa.
COMPARAÇÃO NA VARIAÇÃO DOS CUSTOS E RECEITAS COM INVESTIMENTOS EM
PRODUTIVIDADE E EXPANSÃO DA PRODUÇÃO, SEM VARIAR A PRODUTIVIDADE
Investimento em produtividade, sem alterar o rebanho
Aumento na produção 87,63%
Aumento no custo operacional total 89,71%
Aumento na receita 88,06%
Investimento em expansão, sem alterar produtividade
Aumento na produção 87,63%
Aumento no custo operacional total 178,23%
Aumento na receita 88,06%
Fonte: Cepea/CNA
2. AUMENTO DE 27% NO PREÇO DO LEITE ATÉ
ABRIL É O MAIOR JÁ REGISTRADO NO PERÍODO
A entressafra de leite iniciou mais cedo bruto do leite foi de R$ 0,76/litro em a retomada da economia
neste ano. Adversidades climáticas entre abril - referente à produção de março. impulsionou o consumo das
janeiro e fevereiro, como seca em algu- De janeiro a abril, o aumento no preço famílias – no último trimestre do
mas regiões mineiras, excesso de chuvas do leite chega a 27%, a maior elevação ano passado o Produto Interno Bruto
em São Paulo e temperaturas elevadas no já observada pelo Cepea para o período (PIB) avançou 2%, segundo dados do
sul do País, prejudicaram a produção de – com base em série iniciada em 1995. Instituto Brasileiro de Geografia e Esta-
leite. Assim, o Índice de Captação de Leite Em relação a abril de 2009, o acréscimo tística (IBGE).
do Cepea (ICAP-Leite) reduziu 7,3% no foi de 21,4%, em termos nominais. O mercado de derivados também foi
primeiro trimestre do ano. Em março, o Apesar da queda de captação entre ja- impulsionado pela menor oferta da ma-
recuo foi de 3,4% em relação a fevereiro. neiro e março ser inferior à média dos téria-prima e maior demanda. O leite
Sob influência da menor produção, hou- últimos cinco anos para o período, o UHT negociado no atacado de São Paulo
ve representativo aumento dos preços aumento nos preços foi superior à me- avançou 14,7% em março frente ao mês
do leite. Na média nacional considerada dia do período analisado. Além da me- anterior e 27,2% na comparação com ja-
pelo Cepea, que abrange o Rio Grande nor produção, o forte reajuste pode ser neiro. O queijo mussarela acumulou alta
do Sul, Paraná, Santa Catarina, São Pau- explicado pelo aquecimento do consu- de 17% entre janeiro e março em São
lo, Minas Gerais, Goiás e Bahia, o valor mo brasileiro. Desde o final de 2009, Paulo e o leite pasteurizado, de 10,6%.
COMPARAÇÃO ENTRE A REDUÇÃO NA CAPTAÇÃO DE LEITE E O AUMENTO NOS
PREÇOS MÉDIOS BRUTOS PAGOS AOS PRODUTORES - JANEIRO E MARÇO.
16%
13,8%
14%
12% 10,7% 10,1%
10% 9,1%
8% 7,5% 7,3%
6,5% 6,7% 6,5%
6% 4,7%
4% 3,1%
2,0%
2%
0%
jan-mar/05 jan-mar/06 jan-mar/07 jan-mar/08 jan-mar/09 jan-mar/10
Média de aumento de preços entre 2005 e 2010 Média da queda de captação entre 2005 e 2010 Aumento de preços pagos aos produtores Queda no ICAP-Leite/Cepea
Fonte: CEPEA – ESALQ/USP
SÉRIE DE PREÇOS MÉDIOS PAGOS AO PRODUTOR - DEFLACIONADA
PELO IPCA (MÉDIA DO RS, SC, PR, SP, MG, GO E BA)
0,94
0,92
2007
0,90
0,88
0,86
0,84 2008
0,82 2009
0,80
0,78
0,76
0,74 2010
0,72
R$/litro
0,70
0,68
0,66 Média
0,64 2001 a 2009
0,62
0,60
0,58
0,56 2006
0,54
0,52
0,50
0,48
0,46
0,44
0,42
jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez
Fonte: CEPEA – ESALQ/USP
3. MELHOR MOMENTO PARA
O PRODUTOR EM DOIS ANOS
O Custo Operacional Efetivo entre os estados de Minas Gerais, Goiás, Quanto aos insumos considerados nes-
(COE) e o Custo Operacional São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul, foi ta pesquisa, o grupo de adubos e cor-
Total (COT) da pecuária leiteira re- a mais favorável desde janeiro de 2006. retivos foi o que mais subiu de março
gistraram pequenas quedas de 0,71% De acordo com dados do Cepea, em para abril em praticamente todos os Es-
e de 0,57%, respectivamente, de mar- meados de maio, os preços do milho já tados analisados pelo Cepea. A maior
ço para abril, considerando a média tiveram uma recuperação no mercado alta desse insumo, de 14,6%, foi obser-
nacional. Em abril, o índice do COT interno. Entre os motivos, estão a expec- vada em Goiás. No Paraná, o aumen-
registrou o menor nível desde abril de tativa de menor produtividade devido to do grupo adubos e corretivos foi de
2008. Esse cenário, somado às recentes à seca nas lavouras do Centro-Oeste e 5,5%, no Rio Grande do Sul, de 2,7%
altas nos preços do leite, fez com que possibilidade de geadas no Paraná. Além e, em São Paulo, de 0,9%. Já em Minas
abril deste ano se caracterizasse como disso, o apoio governamental confirma- Gerais houve queda de 3,7%, de mar-
o período mais favorável ao produtor do também em maio, por meio de leilões ço para abril – foi o único Estado onde
desde 2008. de PEP (Prêmio de Escoamento do Produ- os preços caíram no período.
De modo geral, em abril, a queda nos to) e Pepro (Prêmio Equalizado Pago ao Em abril, o COE em São Paulo teve va-
custos de produção esteve atrelada aos Produtor), também impulsionou as cota- lorização de 0,04% e o COT redução de
menores preços do farelo de soja e do ções no período. Mas, a oferta do grão é 0,08% em relação a março.
milho, principais produtos utilizados no considerada elevada e, neste período do Em Goiás, houve pequena queda de
concentrado. Para o leite, a recuperação ano, também iniciou a colheita de safri- 0,14% do COE.
dos preços se deve à menor captação do nha. No caso da soja, os preços também Em Minas Gerais, o COE teve queda de
produto nos últimos meses. Assim, a re- voltaram a subir em meados de maio de- 1,41% em abril e o COT, de 1,26%.
lação de troca de leite frente ao concen- vido à maior demanda, principalmente No Rio Grande do Sul, houve leve re-
trado (60% de milho e 40% de farelo de do mercado externo e à desvalorização dução de 0,5% no COE e de 0,23%
soja) em abril, considerando uma média do dólar frente ao real. no COT.
QUANTIDADE DE LEITE - EM LITROS - NECESSÁRIA PARA ADQUIRIR UMA TONELADA DE
CONCENTRADO (60% DE MILHO E 40% DE FARELO DE SOJA) - MÉDIA ENTRE MG, GO, SP, PR E RS
1.000
necessária para adquirir 1 tonelada
900
Quantidade de leite (em litros)
800
700
de concentrado
600
500
400
300
200
100
0
jan/06
mar
mai
jul
set
nov
jan/07
mar
mai
jul
set
nov
jan/08
mai
jul
mar
set
nov
jan/09
mar
mai
jul
set
nov
jan/10
mar
Fonte: CEPEA/CNA
EVOLUÇÃO DO CUSTO OPERACIONAL TOTAL (COT) E O
PREÇO DO LEITE NO BRASIL - GO, MG, SP, PR E RS. (ÍNDICE BASE 100=JAN/08)
120
115
Índice - Base 100= Jan/08
110
105
100
95
90
85
80
jan/08 mar/08 mai/08 jul/08 set/08 nov/08 jan/09 mar/09 mai/09 jul/09 set/09 nov/09 jan/10 mar/10
COT Preço do leite
Fonte: CEPEA/CNA
4. GOVERNO ESTIMULA
COMPRA DE MÁQUINAS
A recuperação econômica do Brasil e a aumentará, elevando os custos do insu- (referente ao leite entregue em março),
menor taxa de financiamento ofereci- mo fundamental para a realização das melhorou para o produtor de leite, pois
da por programas governamentais tem operações mecanizadas: o óleo diesel. os preços do leite, de forma geral, es-
favorecido a venda de máquinas agrí- Entre os Estados que o Cepea analisa, tão em níveis mais elevados neste ano.
colas. Alguns exemplos são o Programa o Rio Grande do Sul registrou o maior Em Minas Gerais, o poder de compra do
de Sustentação do Investimento (PSI), preço médio do óleo diesel em abril, produtor foi o maior desde agosto do
do Banco Nacional de Desenvolvimento de R$ 2,06. Goiás ficou em segundo ano passado. Para comprar um litro de
Econômico e Social (BNDES), destinado lugar, com R$ 2,00/litro, seguido por diesel, o produtor necessitou do equiva-
a produtores maiores, além dos progra- Minas Gerais, São Paulo e Paraná, com lente a 2,53 litros de leite, 24% a menos
mas destinados aos agricultores familia- R$ 1,98/l, R$ 1,96/l e R$ 1,95/l, respec- que em abril do ano passado.
res, como o Programa Mais Alimentos, tivamente, segundo levantamento feito No Rio Grande do Sul, o produtor ne-
do Ministério do Desenvolvimento Agrí- pelo Cepea. cessitou de 2,83 litros de leite para
cola (MDA) e o Pró-Trator, do Governo Os preços do diesel vêm se mantendo a aquisição de um litro de óleo diesel
de São Paulo. nos mesmos patamares desde junho de – 23% a menos que o necessário em
Relação de Troca - Com um crescimen- 2009, quando recuou 15% no preço abril de 2009. No Paraná, São Paulo e
to de 30% no faturamento (Abimaq) nas refinarias. Porém, a relação de tro- Goiás precisaram de 2,6 litros de leite,
previsto para este ano, a quantidade de ca, considerando o preço médio bru- com diminuição de 24%, 19% e 24%,
máquinas agrícolas em serviço também to do leite pago ao produtor de abril respectivamente.
EVOLUÇÃO DA QUANTIDADE NECESSÁRIA DE LEITE PARA ADQUIRIR UM LITRO DE ÓLEO DIESEL
3,80
Litros de leite/litro de diesel
3,60
3,40
3,20
3,00
2,80
2,60
2,40
2,20
2,00
abr/09 mai/09 jun/09 jul/09 ago/09 set/09 out/09 nov/09 dez/09 jan/10 fev/10 mar/10 abr/10
GO MG PR RS SP
Fonte: CEPEA/CNA
EVOLUÇÃO DA QUANTIDADE NECESSÁRIA DE LEITE PARA ADQUIRIR UM LITRO DE ÓLEO DIESEL
R$ 2,25
R$ 2,20
R$ 2,15
R$/litro
R$ 2,10
R$ 2,05
R$ 2,00
R$ 1,95
R$ 1,90
abr/09 mai/09 jun/09 jul/09 ago/09 set/09 out/09 nov/09 dez/09 jan/10 fev/10 mar/10 abr/10
GO MG PR RS SP
Fonte: CEPEA/CNA
ATIVOS DA PECUÁRIA DE LEITE é um boletim
mensal elaborado pela Superintendência
Técnica da CNA e Centro de Estudos SGAN - Quadra 601 - Módulo K
70.830-903 Brasília - DF
Avançados em Economia Aplicada - Cepea/ Fone (61) 2109-1458 Fax (61) 2109-1490
Esalq - da Universidade de São Paulo. CENTRO DE ESTUDOS AVANÇADOS EM
ECONOMIA.APLICADA.-. ESALQ/USP E-mail: cna.sut@cna.org.br
Reprodução permitida desde que citada a fonte. Site: www.canaldoprodutor.com.br