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INSTITUTO DE ECONOMIA AGRÍCOLA http://www.iea.sp.gov.br
Análises e
Indicadores
do Agronegócio
ISSN 1980-0711
v. 9, n. 11, novembro 2014
Ciclo Pecuário I
Abate de Fêmeas no Rebanho Bovino do Estado de São Paulo
A bovinocultura de corte, conforme divulgado recentemente na imprensa1
, atra-
vessa um período de recuperação de suas margens sobre os custos de produção no mer-
cado interno, em termos de preços da arroba do boi gordo. Com a cotação média da ar-
roba bovina no mês de setembro de 2014 de R$129,16 e de R$130,00/@ no início do mês
de outubro, segundo o boletim diário de preços do Instituto de Economia Agrícola (IEA)2
,
os pecuaristas no Estado de São Paulo vivem um bom momento, com a recuperação no
valor da arroba acima da inflação. Este valor sinaliza que o estado está no ponto ascen-
dente da curva de preços da arroba do boi gordo, fato que merece uma reflexão.
No grande caldeirão da cadeia de bovinos de corte, conforme o tempero utiliza-
do, tem-se como resultado final um valor pago pela arroba bovina. Pode-se entender
como tempero as diversas variáveis que incrementam ou recrudescem a atividade: pre-
ços de insumos; tributos nos diversos elos da cadeia; valor dos animais de reposição;
preço da arroba; exportações; poder de compra dos consumidores; sazonalidade; locali-
zação na curva do ciclo da pecuária e abate de fêmeas; ou seja, todos os itens que irão
influenciar a demanda e a oferta de animais para o abate. Ao longo do tempo, as cota-
ções da arroba bovina descrevem uma trajetória que reflete a influência de todas as
variáveis mencionadas isoladas ou combinadas. Três dessas variáveis - o mercado de ani-
mais de reposição, disponibilidade de animais para o abate e o número de fêmeas abati-
das - serão alvo da reflexão deste trabalho.
A trajetória dos preços do boi gordo determina o “ciclo da pecuária”, explicado
pela evolução do preço da arroba do boi gordo ao longo do tempo, onde períodos de
preços altos estão ligados à pequena disponibilidade de animais para o abate e vice-
-versa. Uma das justificativas da falta de animais para o abate é explicada, por sua vez,
pelo número de vacas que foram abatidas no período de tempo defasado de 3 a 4 anos e
que determinaram a reduzida oferta de animais de reposição para a engorda. A trajetó-
ria do abate de fêmeas se comportou sob a forma de curva ascendente e descendente ao
longo de aproximadamente 8 anos (Figura 1). O comportamento dos preços da arroba do
boi gordo mantém relação com o comportamento dos pecuaristas em reter ou descartar
Análises e Indicadores do Agronegócio
v. 9, n. 11, novembro 2014
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fêmeas de seu rebanho. A decisão de manter fêmeas no rebanho significa oferta de ani-
mais para a engorda e que há intenção de que as bezerras atinjam a maturidade, te-
nham a primeira cria e seu produto chegue à idade de abate. Este movimento, conforme
a cotação da arroba do boi gordo, que, por sua vez, está ligada ao balanço da oferta e
da demanda por carne bovina, também vai estimular ou desestimular a retenção de fê-
meas para a produção de bezerros.
Figura 1 - Abate de Bovinos, Brasil, 1997 a 2013.
Fonte: Elaborada pelos autores a partir de dados do INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA - IBGE. Estatísti-
ca da produção pecuária. Rio de Janeiro: IBGE, mar. 2014.
Nessa equação, deve-se ter em conta que aspectos relacionados à tecnologia de
criação são de fundamental importância. O tempo necessário para que uma bezerra
cresça, tenha sua primeira cria e seu produto também cresça e seja encaminhado ao
abate compõe um indicador do quão tecnologicamente eficiente é o sistema de criação,
ou seja, a idade em que a fêmea tem sua primeira cria e a idade em que seu produto
pode ser abatido, isto é, em quanto tempo o rebanho se recompõe, são indicadores de
eficiência.
Índices zootécnicos próximos aos de países que empregam alta tecnologia na produ-
ção permitem maior rendimento em carne em menor área e no menor tempo. Esta base,
rendimento-área-tempo, permite que países desenvolvidos obtenham mais carne sobre um
número menor de animais num período inferior de tempo. A discrepância nas relações de
produção do Brasil constitui-se num dos fatores que ajudam a explicar o longo ciclo da pe-
cuária praticada no país e no Estado de São Paulo. Dada a falta de uniformidade nos aspectos
técnicos, os indicadores de rendimento do rebanho nacional são baixos, por exemplo, a idade
média de abate dos animais é entre 3 e 4 anos e o índice médio de lotação de pastagens é de
0,81 unidade animal por hectare3
. Em resumo, o baixo desempenho, resultado da grande
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1.000cab.
Bois Vacas Novilhas
Ano
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v. 9, n. 11, novembro 2014
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diversidade tecnológica entre os criadores, explica o fato de que o rebanho nacional parece
crescer apenas numericamente.
Essa lógica de comportamento leva a certas armadilhas que, frequentemente, se
impõem nos momentos em que a demanda cai, seja por resultado da redução do poder
aquisitivo da população, seja por qualquer outro fator. Uma dessas armadilhas é a ruptu-
ra da relação entre a retenção de fêmeas para a produção de bezerros e, consequente-
mente, para a produção de carne. Nesses momentos, a soma de ações individuais volta-
das a evitar perdas resulta na decisão de enviar as matrizes e as filhas para o abate,
piorando mais ainda o quadro crítico. As expectativas individuais somadas resultam na
queda ou na alta do valor da arroba do boi gordo, na queda ou na alta do valor dos ani-
mais de reposição e na maior ou menor participação de fêmeas no total de abate. A de-
cisão do pecuarista sobre o valor pretendido da arroba do boi gordo é o resultado do
balanço das diversas fontes de informações disponíveis. Conforme a decisão do mercado
sobre o valor da arroba, ou seja, se for aceito o valor pretendido, ocorre a inserção des-
te na curva do ciclo pecuário, conforme o movimento ascendente ou descendente dos
preços. O movimento do ciclo de preços do boi gordo é influenciado pelo ciclo de reten-
ção ou de descarte de vacas em período precedente do ciclo pecuário.
O abate de fêmeas, que sem dúvida nenhuma é de suma importância na oferta de
carne, serve como indicador antecipado dos períodos de falta ou de excesso de animais
para o abate (Figura 2) e, por consequência, influencia no preço da arroba bovina. Na
figura 2, os dados do Estado de São Paulo e do Brasil estão na mesma base (1997=100)
para que sejam comparáveis no tempo. Observa-se que até 2004 as séries evoluíram de
maneira semelhante e que a partir de 2005 houve um descolamento delas, entretanto, a
tendência de queda ocorreu nas duas, com recuperação nos últimos anos do período.
Uma das possíveis causas dessa mudança de amplitude entre a curva de abate de fêmeas
no Brasil e em São Paulo seria a intensificação da aptidão do Estado de São Paulo em
recria e o fato de que os animais utilizados para o confinamento no estado são em sua
maioria machos.
A produção de bovinos no Estado de São Paulo é tradicional e está vinculada ao
fato de que este é um dos maiores centros consumidores do país e tem um dos maiores
parques abatedouros, além de ter o porto nacional com o maior volume em exportação
de carne bovina brasileira para o mundo. A dinâmica de produção do Estado de São Pau-
lo é a mesma de outros estados, porém, os fatores considerados em qualquer sistema
produtivo do país pesam mais sobre seus produtores. O valor da terra é maior que em
outros estados, os baixos índices de rendimento do rebanho e o valor pago pelos animais
de reposição somam-se e resultam no comprometimento do rendimento por hectare.
Análises e Indicadores do Agronegócio
v. 9, n. 11, novembro 2014
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4
Figura 2 - Evolução do Abate de Vacas, Brasil e Estado de São Paulo, 1997 a 2013.
Fonte: Elaborada pelos autores a partir de dados do INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA - IBGE. Estatísti-
ca da produção pecuária. Rio de Janeiro: IBGE, mar. 2014.
Em matéria do jornal O Estado de S. Paulo4
, foi estimada em 60% a proporção de
pecuaristas nacionais de pequeno porte, em geral, são produtores com base tecnológica
baixa. Essa proporção é considerável e pode explicar, em parte, os baixos índices de
produtividade no rebanho nacional5
.
Apesar dos indicadores de produtividade desfavoráveis, em 2013 o Brasil comer-
cializou US$6,6 bilhões em carne bovina para o exterior, conforme dados da ABIEC6
, fato
que dá a indicação de que o país é bem competitivo no mercado externo em nível de
indústria processadora, apesar de seu baixo rendimento na base de produção. A partir
dessas colocações, conclui-se que esta atividade é importante para o país, porém, os
diferentes índices de produtividade que os animais destinados ao abate apresentam in-
terferem no equilíbrio do setor. Lembrando-se que eles expressam as bases tecnológicas
empregadas na produção e que elas são múltiplas, variando no grau de sofisticação de
cada produtor. Contabilizados todos os fatores, vê-se nas estatísticas de abate da produ-
ção nacional e de São Paulo, apresentadas nas figuras 1 e 4, o resultado final que é des-
tinado ao consumo interno e às exportações. É claro que não se pode esquecer das leis
de mercado, das condições macro e microeconômicas que são extremamente importan-
tes para a definição e orientação do setor.
A soma de bois, vacas e novilhas (Figura 3) é o número total de bovinos enviados
para o abate pelo Estado de São Paulo em 2013, que foi de aproximadamente 3,5 mi-
lhões de cabeças, 10,3% do total nacional, de 34,4 milhões de cabeças aproximadamen-
te, conforme o Levantamento Trimestral da Produção Pecuária7
.
 
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Brasil Estado de São Paulo
Númeroíndice
Ano
Análises e Indicadores do Agronegócio
v. 9, n. 11, novembro 2014
INSTITUTO DE ECONOMIA AGRÍCOLA http://www.iea.sp.gov.br
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Figura 3 - Abate de Bovinos, Estado de São Paulo, 1997 a 2013.
Fonte: Elaborada pelos autores a partir de dados do INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA - IBGE. Estatísti-
ca da produção pecuária. Rio de Janeiro: IBGE, mar. 2014.
A participação do Estado de São Paulo na produção nacional vem decrescendo
gradativamente e em 2013 situava-se na terceira posição em número de cabeças abati-
das. Os principais Estados produtores são: Mato Grosso, com 5,8 milhões de cabeças;
Mato Grosso do Sul, com 4,1 milhões de cabeças, São Paulo, com 3,4 milhões de cabe-
ças; e, na quarta posição, Goiás8
.
A produção brasileira está inserida em uma grande cadeia de produção mundial e
dentro deste mercado global, segundo dados de previsão do Departamento de Agricultu-
ra dos Estados Unidos (USDA)9
, destaca-se como o maior exportador de carne bovina do
mundo, com o volume exportado em 2013 previsto em 1.821,6 milhões de toneladas em
equivalente carcaça.
Toda a conquista do mercado externo e o crescimento da produção nacional a fim
de atender a demanda do mercado interno e externo por carne bovina parte de uma
base instável, ou seja, ao primeiro sinal de mudança das condições de mercado, as ma-
trizes (Figura 4) e, posteriormente, o mercado de animais de reposição serão os primei-
ros a manifestar com o descarte ou a retenção de matrizes e, em seguida, com a queda
ou o aumento nos preços dos animais de reposição, bezerro, garrote e boi magro, que no
fim de tudo determinaram a escassez de animais para o abate.
A expansão ou a retração do rebanho estão relacionadas ao grau de demanda
por carne que a população requisita e ao grau tecnológico que os criadores aplicam em
seus rebanhos, portanto, a rapidez com que o setor reage aos estímulos positivos ou ne-
gativos está na dependência do cuidado com que sua produção é conduzida.
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Bois Vacas Novilhas
Ano
Análises e Indicadores do Agronegócio
v. 9, n. 11, novembro 2014
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6
Figura 4 - Bovinos Abatidos X Partipação de Fêmeas (VG+N), Brasil e Estado de São Paulo, 1997 a 2013.
Fonte: Elaborada pelos autores a partir dados do INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA - IBGE. Estatística
da produção pecuária. Rio de Janeiro: IBGE, mar. 2014.
1
BARROS, B. Rondônia já tem o boi mais disputado do país. Valor Econômico, São Paulo, 20-22 set. 2014.
2
INSTITUTO DE ECONOMIA AGRÍCOLA - IEA. Banco de dados. São Paulo: IEA. Disponível em:
<http://www.iea.sp.gov.br>. Acesso em: out. 2014.
3
Op. cit. nota 1.
4
PETRILLO, D. Pecuária ainda tem potencial de crescimento: Brasil precisa abrir mercado e investir em tec-
nologia e qualidade do produto. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 22 set. 2014. Caderno X10, especial.
5
Op. cit. nota 4.
6
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DAS INDÚSTRIAS EXPORTADORAS DE CARNES - ABIEC. Produção mundial de carne
bovina. São Paulo: ABIEC. Disponível em: <http://www.abiec.org.br/pt/estatisticas/mundial/producao-
2.html>. Acesso em: 16 abr. 2014.
7
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA - IBGE. Estatística da produção pecuária. Rio de ja-
neiro: IBGE, mar. 2014.
8
Op. cit. nota 7.
9
COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO - CONAB. Perspectivas para a agropecuária. Brasília: CONAB,
2013. v. 1. Disponível em: <http://www.conab.gov.br>. Acesso em: out. 2014.
Palavras-chave: abate de fêmeas, ciclo pecuário, produção agropecuária.
Carlos Roberto Ferreira Bueno
Pesquisador do IEA
crfbueno@iea.sp.gov.br
Vagner Azarias Martins
Pesquisador do IEA
vagneram@iea.sp.gov.br
Liberado para publicação em: 12/11/2014
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45
50Abatetotal//VG+N(%)
BRASIL SÂO PAULO
Ano
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  • 1. INSTITUTO DE ECONOMIA AGRÍCOLA http://www.iea.sp.gov.br Análises e Indicadores do Agronegócio ISSN 1980-0711 v. 9, n. 11, novembro 2014 Ciclo Pecuário I Abate de Fêmeas no Rebanho Bovino do Estado de São Paulo A bovinocultura de corte, conforme divulgado recentemente na imprensa1 , atra- vessa um período de recuperação de suas margens sobre os custos de produção no mer- cado interno, em termos de preços da arroba do boi gordo. Com a cotação média da ar- roba bovina no mês de setembro de 2014 de R$129,16 e de R$130,00/@ no início do mês de outubro, segundo o boletim diário de preços do Instituto de Economia Agrícola (IEA)2 , os pecuaristas no Estado de São Paulo vivem um bom momento, com a recuperação no valor da arroba acima da inflação. Este valor sinaliza que o estado está no ponto ascen- dente da curva de preços da arroba do boi gordo, fato que merece uma reflexão. No grande caldeirão da cadeia de bovinos de corte, conforme o tempero utiliza- do, tem-se como resultado final um valor pago pela arroba bovina. Pode-se entender como tempero as diversas variáveis que incrementam ou recrudescem a atividade: pre- ços de insumos; tributos nos diversos elos da cadeia; valor dos animais de reposição; preço da arroba; exportações; poder de compra dos consumidores; sazonalidade; locali- zação na curva do ciclo da pecuária e abate de fêmeas; ou seja, todos os itens que irão influenciar a demanda e a oferta de animais para o abate. Ao longo do tempo, as cota- ções da arroba bovina descrevem uma trajetória que reflete a influência de todas as variáveis mencionadas isoladas ou combinadas. Três dessas variáveis - o mercado de ani- mais de reposição, disponibilidade de animais para o abate e o número de fêmeas abati- das - serão alvo da reflexão deste trabalho. A trajetória dos preços do boi gordo determina o “ciclo da pecuária”, explicado pela evolução do preço da arroba do boi gordo ao longo do tempo, onde períodos de preços altos estão ligados à pequena disponibilidade de animais para o abate e vice- -versa. Uma das justificativas da falta de animais para o abate é explicada, por sua vez, pelo número de vacas que foram abatidas no período de tempo defasado de 3 a 4 anos e que determinaram a reduzida oferta de animais de reposição para a engorda. A trajetó- ria do abate de fêmeas se comportou sob a forma de curva ascendente e descendente ao longo de aproximadamente 8 anos (Figura 1). O comportamento dos preços da arroba do boi gordo mantém relação com o comportamento dos pecuaristas em reter ou descartar
  • 2. Análises e Indicadores do Agronegócio v. 9, n. 11, novembro 2014 INSTITUTO DE ECONOMIA AGRÍCOLA http://www.iea.sp.gov.br 2 fêmeas de seu rebanho. A decisão de manter fêmeas no rebanho significa oferta de ani- mais para a engorda e que há intenção de que as bezerras atinjam a maturidade, te- nham a primeira cria e seu produto chegue à idade de abate. Este movimento, conforme a cotação da arroba do boi gordo, que, por sua vez, está ligada ao balanço da oferta e da demanda por carne bovina, também vai estimular ou desestimular a retenção de fê- meas para a produção de bezerros. Figura 1 - Abate de Bovinos, Brasil, 1997 a 2013. Fonte: Elaborada pelos autores a partir de dados do INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA - IBGE. Estatísti- ca da produção pecuária. Rio de Janeiro: IBGE, mar. 2014. Nessa equação, deve-se ter em conta que aspectos relacionados à tecnologia de criação são de fundamental importância. O tempo necessário para que uma bezerra cresça, tenha sua primeira cria e seu produto também cresça e seja encaminhado ao abate compõe um indicador do quão tecnologicamente eficiente é o sistema de criação, ou seja, a idade em que a fêmea tem sua primeira cria e a idade em que seu produto pode ser abatido, isto é, em quanto tempo o rebanho se recompõe, são indicadores de eficiência. Índices zootécnicos próximos aos de países que empregam alta tecnologia na produ- ção permitem maior rendimento em carne em menor área e no menor tempo. Esta base, rendimento-área-tempo, permite que países desenvolvidos obtenham mais carne sobre um número menor de animais num período inferior de tempo. A discrepância nas relações de produção do Brasil constitui-se num dos fatores que ajudam a explicar o longo ciclo da pe- cuária praticada no país e no Estado de São Paulo. Dada a falta de uniformidade nos aspectos técnicos, os indicadores de rendimento do rebanho nacional são baixos, por exemplo, a idade média de abate dos animais é entre 3 e 4 anos e o índice médio de lotação de pastagens é de 0,81 unidade animal por hectare3 . Em resumo, o baixo desempenho, resultado da grande 0 2.000 4.000 6.000 8.000 10.000 12.000 14.000 16.000 18.000 20.000 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 1.000cab. Bois Vacas Novilhas Ano
  • 3. Análises e Indicadores do Agronegócio v. 9, n. 11, novembro 2014 INSTITUTO DE ECONOMIA AGRÍCOLA http://www.iea.sp.gov.br 3 diversidade tecnológica entre os criadores, explica o fato de que o rebanho nacional parece crescer apenas numericamente. Essa lógica de comportamento leva a certas armadilhas que, frequentemente, se impõem nos momentos em que a demanda cai, seja por resultado da redução do poder aquisitivo da população, seja por qualquer outro fator. Uma dessas armadilhas é a ruptu- ra da relação entre a retenção de fêmeas para a produção de bezerros e, consequente- mente, para a produção de carne. Nesses momentos, a soma de ações individuais volta- das a evitar perdas resulta na decisão de enviar as matrizes e as filhas para o abate, piorando mais ainda o quadro crítico. As expectativas individuais somadas resultam na queda ou na alta do valor da arroba do boi gordo, na queda ou na alta do valor dos ani- mais de reposição e na maior ou menor participação de fêmeas no total de abate. A de- cisão do pecuarista sobre o valor pretendido da arroba do boi gordo é o resultado do balanço das diversas fontes de informações disponíveis. Conforme a decisão do mercado sobre o valor da arroba, ou seja, se for aceito o valor pretendido, ocorre a inserção des- te na curva do ciclo pecuário, conforme o movimento ascendente ou descendente dos preços. O movimento do ciclo de preços do boi gordo é influenciado pelo ciclo de reten- ção ou de descarte de vacas em período precedente do ciclo pecuário. O abate de fêmeas, que sem dúvida nenhuma é de suma importância na oferta de carne, serve como indicador antecipado dos períodos de falta ou de excesso de animais para o abate (Figura 2) e, por consequência, influencia no preço da arroba bovina. Na figura 2, os dados do Estado de São Paulo e do Brasil estão na mesma base (1997=100) para que sejam comparáveis no tempo. Observa-se que até 2004 as séries evoluíram de maneira semelhante e que a partir de 2005 houve um descolamento delas, entretanto, a tendência de queda ocorreu nas duas, com recuperação nos últimos anos do período. Uma das possíveis causas dessa mudança de amplitude entre a curva de abate de fêmeas no Brasil e em São Paulo seria a intensificação da aptidão do Estado de São Paulo em recria e o fato de que os animais utilizados para o confinamento no estado são em sua maioria machos. A produção de bovinos no Estado de São Paulo é tradicional e está vinculada ao fato de que este é um dos maiores centros consumidores do país e tem um dos maiores parques abatedouros, além de ter o porto nacional com o maior volume em exportação de carne bovina brasileira para o mundo. A dinâmica de produção do Estado de São Pau- lo é a mesma de outros estados, porém, os fatores considerados em qualquer sistema produtivo do país pesam mais sobre seus produtores. O valor da terra é maior que em outros estados, os baixos índices de rendimento do rebanho e o valor pago pelos animais de reposição somam-se e resultam no comprometimento do rendimento por hectare.
  • 4. Análises e Indicadores do Agronegócio v. 9, n. 11, novembro 2014 INSTITUTO DE ECONOMIA AGRÍCOLA http://www.iea.sp.gov.br 4 Figura 2 - Evolução do Abate de Vacas, Brasil e Estado de São Paulo, 1997 a 2013. Fonte: Elaborada pelos autores a partir de dados do INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA - IBGE. Estatísti- ca da produção pecuária. Rio de Janeiro: IBGE, mar. 2014. Em matéria do jornal O Estado de S. Paulo4 , foi estimada em 60% a proporção de pecuaristas nacionais de pequeno porte, em geral, são produtores com base tecnológica baixa. Essa proporção é considerável e pode explicar, em parte, os baixos índices de produtividade no rebanho nacional5 . Apesar dos indicadores de produtividade desfavoráveis, em 2013 o Brasil comer- cializou US$6,6 bilhões em carne bovina para o exterior, conforme dados da ABIEC6 , fato que dá a indicação de que o país é bem competitivo no mercado externo em nível de indústria processadora, apesar de seu baixo rendimento na base de produção. A partir dessas colocações, conclui-se que esta atividade é importante para o país, porém, os diferentes índices de produtividade que os animais destinados ao abate apresentam in- terferem no equilíbrio do setor. Lembrando-se que eles expressam as bases tecnológicas empregadas na produção e que elas são múltiplas, variando no grau de sofisticação de cada produtor. Contabilizados todos os fatores, vê-se nas estatísticas de abate da produ- ção nacional e de São Paulo, apresentadas nas figuras 1 e 4, o resultado final que é des- tinado ao consumo interno e às exportações. É claro que não se pode esquecer das leis de mercado, das condições macro e microeconômicas que são extremamente importan- tes para a definição e orientação do setor. A soma de bois, vacas e novilhas (Figura 3) é o número total de bovinos enviados para o abate pelo Estado de São Paulo em 2013, que foi de aproximadamente 3,5 mi- lhões de cabeças, 10,3% do total nacional, de 34,4 milhões de cabeças aproximadamen- te, conforme o Levantamento Trimestral da Produção Pecuária7 .   0 50  100  150  200  250  300  Brasil Estado de São Paulo Númeroíndice Ano
  • 5. Análises e Indicadores do Agronegócio v. 9, n. 11, novembro 2014 INSTITUTO DE ECONOMIA AGRÍCOLA http://www.iea.sp.gov.br 5 Figura 3 - Abate de Bovinos, Estado de São Paulo, 1997 a 2013. Fonte: Elaborada pelos autores a partir de dados do INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA - IBGE. Estatísti- ca da produção pecuária. Rio de Janeiro: IBGE, mar. 2014. A participação do Estado de São Paulo na produção nacional vem decrescendo gradativamente e em 2013 situava-se na terceira posição em número de cabeças abati- das. Os principais Estados produtores são: Mato Grosso, com 5,8 milhões de cabeças; Mato Grosso do Sul, com 4,1 milhões de cabeças, São Paulo, com 3,4 milhões de cabe- ças; e, na quarta posição, Goiás8 . A produção brasileira está inserida em uma grande cadeia de produção mundial e dentro deste mercado global, segundo dados de previsão do Departamento de Agricultu- ra dos Estados Unidos (USDA)9 , destaca-se como o maior exportador de carne bovina do mundo, com o volume exportado em 2013 previsto em 1.821,6 milhões de toneladas em equivalente carcaça. Toda a conquista do mercado externo e o crescimento da produção nacional a fim de atender a demanda do mercado interno e externo por carne bovina parte de uma base instável, ou seja, ao primeiro sinal de mudança das condições de mercado, as ma- trizes (Figura 4) e, posteriormente, o mercado de animais de reposição serão os primei- ros a manifestar com o descarte ou a retenção de matrizes e, em seguida, com a queda ou o aumento nos preços dos animais de reposição, bezerro, garrote e boi magro, que no fim de tudo determinaram a escassez de animais para o abate. A expansão ou a retração do rebanho estão relacionadas ao grau de demanda por carne que a população requisita e ao grau tecnológico que os criadores aplicam em seus rebanhos, portanto, a rapidez com que o setor reage aos estímulos positivos ou ne- gativos está na dependência do cuidado com que sua produção é conduzida. 0 500 1.000 1.500 2.000 2.500 3.000 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 1.000cab. Bois Vacas Novilhas Ano
  • 6. Análises e Indicadores do Agronegócio v. 9, n. 11, novembro 2014 INSTITUTO DE ECONOMIA AGRÍCOLA http://www.iea.sp.gov.br 6 Figura 4 - Bovinos Abatidos X Partipação de Fêmeas (VG+N), Brasil e Estado de São Paulo, 1997 a 2013. Fonte: Elaborada pelos autores a partir dados do INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA - IBGE. Estatística da produção pecuária. Rio de Janeiro: IBGE, mar. 2014. 1 BARROS, B. Rondônia já tem o boi mais disputado do país. Valor Econômico, São Paulo, 20-22 set. 2014. 2 INSTITUTO DE ECONOMIA AGRÍCOLA - IEA. Banco de dados. São Paulo: IEA. Disponível em: <http://www.iea.sp.gov.br>. Acesso em: out. 2014. 3 Op. cit. nota 1. 4 PETRILLO, D. Pecuária ainda tem potencial de crescimento: Brasil precisa abrir mercado e investir em tec- nologia e qualidade do produto. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 22 set. 2014. Caderno X10, especial. 5 Op. cit. nota 4. 6 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DAS INDÚSTRIAS EXPORTADORAS DE CARNES - ABIEC. Produção mundial de carne bovina. São Paulo: ABIEC. Disponível em: <http://www.abiec.org.br/pt/estatisticas/mundial/producao- 2.html>. Acesso em: 16 abr. 2014. 7 INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA - IBGE. Estatística da produção pecuária. Rio de ja- neiro: IBGE, mar. 2014. 8 Op. cit. nota 7. 9 COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO - CONAB. Perspectivas para a agropecuária. Brasília: CONAB, 2013. v. 1. Disponível em: <http://www.conab.gov.br>. Acesso em: out. 2014. Palavras-chave: abate de fêmeas, ciclo pecuário, produção agropecuária. Carlos Roberto Ferreira Bueno Pesquisador do IEA crfbueno@iea.sp.gov.br Vagner Azarias Martins Pesquisador do IEA vagneram@iea.sp.gov.br Liberado para publicação em: 12/11/2014 25 30 35 40 45 50Abatetotal//VG+N(%) BRASIL SÂO PAULO Ano Brasil Estado de São Paulo