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Aspectos Fisiológicos da Ingestão de Água no Organismo Humano
             e sua Influência no Rendimento Atlético

            Physiological    Aspects of Drinking Water in the Human Body and its
                                Influence on Athletic Performance



                       Samuel Dias Cardoso1,, Sandro Conceição de Souza2
                   1
                    Licenciado em Educação Física pela Universidade Salgado de Oliveira
                    Bacharel em Educação Física pela Universidade Salgado de Oliveira
      2
        Mestrando em Ciência da Atividade Física pela Universidade Salgado de Oliveira , Graduado em
      Educação Física pela Universidade Salgado de Oliveira , Especialista em Treinamento Desportivo
      pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, Docente do Curso de Especialização em Fisiologia e
      Treinamento de Força da Universidade Salgado de Oliveira e Docente do Curso de Graduação em
                            Educação Física da Universidade Salgado de Oliveira




Resumo – É consenso entre os profissionais que atuam na área de prescrição de exercícios, que um bom
equilíbrio hídrico é fundamental para a manutenção dos exercícios físicos. Essa temática também é de interesse
de esportistas e de vários profissionais interessados no comportamento fisiológico do homem quando em
atividades de elevada intensidade. Porém, mesmo compreendendo a importância do tema, algumas perguntas
continuam deixando espaços para reflexões e merecem ser investigadas com mais atenção. Uma dessas questões
refere-se ao momento que se deve ingerir líquidos de uma forma em geral, para se obter a manutenção ou até o
ganho do rendimento atlético e consequentemente, encontrar uma quantidade mínima ideal para o bom
funcionamento do organismo humano. Diante ao exposto, temos como objetivo verificar a importância da água
para o organismo humano, seus benefícios para a saúde e as recomendações para consumo antes, durante e após
a pratica de exercícios de alto rendimento. Utilizaremos como metodologia de pesquisa a análise de fontes
bibliográficas no período de 1971 a 2010, em diversas bases de dados (Scielo, Bireme, MedLine) e livros textos
editorados, para demonstrar e esclarecer os argumentos desenvolvidos e aqui apresentados. Após a revisão das
fontes bibliográficas, obteve-se uma maior compreensão sobre o papel da água no organismo humano.
Concluímos que a água é de fundamental importância para o funcionamento equilibrado da célula, para o
rendimento atlético e que em alguns casos, faz-se necessário a adição de substratos energéticos e sais minerais
em complemento, para um perfeito restabelecimento orgânico e melhora da performance.

Palavras chaves: líquidos, desidratação, hidratação e atividade física.





      Samuel D. C.: profsamuelcardoso@hotmail.com
I – Introdução

        Uma das respostas do corpo humano quando submetidos a uma atividade é a produção
de calor e consequentemente ativação dos mecanismos fisiológicos de controle térmico e
hídrico. Ao realizarmos uma atividade física com elevada intensidade, esse aspecto torna-se
extremamente relevante e limitador da continuidade dessa atividade. Baseado nessa premissa,
a reposição de líquidos deve ser estimulada e aceita como um fator fundamental para a
manutenção e qualidade do exercício e para reduzir os riscos de síncopes geradas pelo
estresse térmico. Assim, uma hidratação apropriada durante a atividade física de caráter
competitivo ou recreativo pode garantir que o desempenho atlético esperado seja atingido e
que problemas de saúde sejam evitados. Os procedimentos para assegurá-la requerem
conhecimento de fatores que influenciam quando e o quanto beber de água. As
recomendações dependem do tipo de atividade a ser realizada e de fatores individuais, como
condicionamento físico, idade, modalidade praticada, estresse ambiental, entre outros. Diante
ao exposto temos como objetivo verificar a importância da água para o organismo humano,
seus benefícios para a saúde e as recomendações para consumo antes, durante e após a pratica
de exercícios de alto rendimento. Utilizaremos como metodologia de pesquisa a análise de
fontes bibliográficas de diversas bases de dados (Scielo, Bireme, MedLine) e livros textos
publicados para demonstrar e esclarecer os argumentos desenvolvidos e aqui apresentados.
        A água não possui nenhum valor calórico e por isso raramente é considerada como
nutriente. Porém, sua importância para a manutenção da vida só fica atrás do oxigênio. A
água constitui de 40 a 70% da massa corporal, dependendo de idade, sexo e composição
corporal; representa de 65 a 75% do peso do músculo e cerca de 10% da massa de gordura
(MCARDLE, KATCH & KATCH, 2008).
        Alguns autores colocam que em média cerca de 60% da massa corporal é constituída
por água, ou seja, 42 litros para um indivíduo pesando cerca de 70 Kg (GUYTON, 1997;
MARQUEZI & LANCHA JÚNIOR, 1998; COSTILL & WILMORE, 2001).
        Segundo Costill & Wilmore (2001) podemos sobreviver a perdas de até 40% de nosso
peso corporal de carboidratos, proteínas e gorduras. Mas uma perda de apenas 9% a 12% do
peso corporal de água pode levar um individuo a morte. A água é importante em muitos
processos do organismo, assim como, no transporte do corpo e o meio reativo; nutrientes e
gases viajam em solução aquosa; os produtos de desgaste deixam o corpo através da água
existente na urina e nas fezes; a difusão dos gases se dá na presença de superfícies
umedecidas pela água; a água, em combinação com várias proteínas, lubrifica as articulações
e protege contra o choque vários órgãos, tais como o coração, os pulmões, os intestinos e os
olhos.

II – Discussão:

       Compartimentos Hídricos:

        São dois os compartimentos hídricos (líquidos) do corpo humano, o intracelular e o
extracelular.
        Aproximadamente dois terços da água do nosso corpo encontram-se contidos dentro
das nossas células e é denominado de compartimento intracelular. O restante encontra-se fora
das células e é denominado compartimento extracelular (COSTILL & WILMORE, 2001;
MCARDLE, KATCH & KATCH, 2008). Inclui a este compartimento o liquido intersticial,
linfa, saliva, líquido existente nos órgãos, líquidos excretados pelas glândulas e pelo trato
digestivo, líquidos que banha os nervos raquidianos e líquidos excretados pela pele e pelos
rins, além, do plasma sanguíneo (COSTILL & WILMORE, 2001; MCARDLE, KATCH &
KATCH, 2008).
        O plasma sanguíneo é responsável por quase 20% do líquido extracelular. A água
corporal total uma média de 62% representam líquido intracelular e 38% de fonte extracelular
(MCARDLE, KATCH & KATCH, 2008).
        Utilizando os dados de referência de Costill & Wilmore (2001) e McArdle, Katch &
Kacth (2008) comparando um homem de 70 kg, seu peso de água corporal total (aprox. 60%)
será de 42 kg, seu volume intracelular (aprox. 2/3 ou 62%) será de 28 kg e seu volume
extracelular (1/3 ou 38%) será de 14 kg.

       Equilíbrio Hídrico:

        Diariamente um adulto sedentário em um meio ambiente termo neutro necessita de
aproximadamente 2,5 L de água. Porém para um adulto ativo em um meio ambiente quente e
úmido essa necessidade pode chegar a quantidade entre cinco e 10 L de água por dia
(MCARDLE, KATCH & KATCH, 2008).
        Essa ingestão será dividida da seguinte forma: 60% ingestão líquida, 30% ingestão
alimentar e 10% produção metabólica de água.
        Alimentos: Todos os alimentos nos fornecem água, sendo que uns fornecem mais que
outros, como por exemplo dos que nos fornecem bastante água temos o melaço (25%), o pão
integral (35%), a carne de hambúrguer (54%) e o leite integral com (87%); já os que nos
fornecem menos água temos as nozes (4%), e os cocos secos e as nozes-peças com apenas
(7%).
        Líquidos: São as bebidas em geral como o refrigerante, sucos, entre outros, porém a
maior parte será a ingestão da própria água.
        Água metabólica: Cerca de 14% da água utilizada pelo nosso organismo diariamente,
por uma pessoa sedentária, provem do fracionamento das moléculas dos macronutrientes que
no seu metabolismo forma dióxido de carbono e água, essa água é denominada água
metabólica.

       Excreção de Água:

        Segundo McArdle, Katch & Katch (2008) a perda de água pelo corpo ocorre de quatro
maneiras: pela urina,, como vapor de água no ar expirado, pela pele e nas fezes.
        Pela urina: Em repouso, a maior parte de água é excreta é pela urina (cerca de 60%), o
rins utilizam essa água para colocarem para fora do organismo os produtos metabólicos sob a
forma de urina. Em condições de repouso, os rins excretam cerca de 50 a 60 ml de água por
hora.
        Pelo vapor d’água no ar: Cerca de 30% da água excretada pelo organismo é através
do trato respiratório, uma vez que todo o ar que respiramos é umedecido e depois expelido
pelos pulmões.
        Pela pele: Através da transpiração são perdidos cerca de 5% de água diariamente.
        Pelas fezes: É excretado pelo intestino grosso cerca de 5% de água através das fezes,
vale ressaltar que cerca de 70 % do material fecal é constituído por água.
        Diante aos fatos acima citados, estudos são realizados para obter melhor compreensão
de como podemos garantir boas condições de saúde e melhor rendimento atlético fazendo uso
da água. A partir daqui prosseguiremos em nossa análise dando ênfase as variantes hídricas na
presença dos exercícios.
Desidratação:

        Quando o organismo está com níveis adequados de água, dizemos que ele está num
estado de euhidratação. A hipohidratação se caracteriza como uma situação na qual o
organismo apresenta uma redução do conteúdo de fluidos do corpo, e a hiperhidratação se
caracteriza por um volume de água no corpo acima do normal. O termo desidratação define
uma redução mais ou menos rápida da água corporal, levando o organismo de um estado de
euhidratado para hipohidratado (COSTILL & WILMORE, 2001).
        Segundo Sawka & Pandolf (1990), uma desidratação relativamente pequena, como da
ordem de 1 a 2% do peso corporal, já é suficiente para alterar o desempenho em exercícios de
resistência (FOSS et al., 2000).
        Independentemente de quando ocorre a redução da quantidade de água do organismo,
se antes da prática de exercícios (GREENLEAF & CASTLE, 1971; NADEL at al, 1980;
SAWKA et al., 1985) ou durante os exercícios (MONTAIN & COYLE, 1992), os efeitos
adversos da perda de água corporal nas funções cardiovasculares e na termoregulação,
aumenta gradativamente em função do aumento da quantidade de líquidos perdidos.
        Segundo Sawka & Pandolf (1990) a desidratação interfere negativamente na
performance da atividade física, sendo que os efeitos negativos se acentuam quanto maior for
o grau de desidratação e quanto maior for o tempo de atividade.
        Em resumo, quando se inicia um exercício em condições de desidratação, são elevadas
as probabilidades de ocorrerem efeitos adversos nas funções fisiológicas e no rendimento
atlético, e em estado de hidratação, mesmo que parcial, esses efeitos indesejáveis são
atenuados.

       Hiperhidratação:

        Se por um lado, a perda hídrica durante o exercício vai gerar um estado de
desidratação, com diminuição do rendimento e prejuízos no mecanismo de termoregulação,
por outro, um estado de hiperhidratação também é prejudicial, já que pode causar desconforto
gástrico e hiponatremia (INSTITUTE OF MEDICINE, 2004; MEYER & PERRONE, 2004;
BRITO & MARINS, 2005).
        Segundo Latzka et al. (1998); Meyer & Perrone (2004); Machado-Moreira et al
(2006) existe controvérsia se o aumento da quantidade de água do organismo em uma
situação de euhidratado afeta positivamente o organismo. Um dos principais fatores que
contribui para essa controvérsia reside na quantidade de líquidos que é ingerida durante a
atividade física.
        É pouco provável que a hiperhidratação pré-exercícios traga alguma vantagem extra,
caso seja feita uma hidratação adequada durante o transcorrer do evento. Entretanto, sabe-se
que é raro entre os atletas ocorrer uma reposição integral de fluidos durante um evento
esportivo, sendo esta geralmente menor que 50% dos líquidos perdidos através do suor e da
urina (SAWKA & PANDOLF, 1990). Segundo Latzka et al. (1998) a hiperhidratação prévia
parece retardar o aparecimento da desidratação por algum tempo, embora não seja eficiente na
proteção contra os efeitos negativos de uma hipertermia progressiva.

       Perda de Eletrólitos:

        Os eletrólitos são de suma importância para a manutenção do sistema fisiológico do
ser humano e durante a pratica de exercícios. Com a diminuição de água no organismo esses
eletrólitos são rapidamente alterados, isso se dá principalmente por duas vias: a transpiração e
a produção de urina.
O suor é um filtrado do plasma sanguíneo e, por esta razão, ele contém muitas
substâncias encontradas no plasma, incluindo o sódio (Na+), o cloreto (Cl-), o potássio (K+), o
magnésio (Mg 2+) e o cálcio (Ca 2+ ) (Tabela 1). Embora o seu sabor seja salgado, ele contém
muito menos mineral do que o plasma ou outros líquidos corporais. Na realidade, ele é
composto por 99% de água (GUYTON, 1997).
         As concentrações dos eletrólitos no suor podem variar consideravelmente entre os
indivíduos, sendo fortemente influenciadas pela taxa de transpiração, pelo estado de
treinamento e pelo estado da aclimatação ao calor. A figura 1 apresenta os valores referenciais
de eletrólitos e osmolaridade de diversas regiões do corpo humano. De uma forma geral, em
atletas, ocorrem perdas da ordem de 5 a 7% para sódio e cloreto e 1% de potássio e magnésio.
Essas perdas provavelmente não acarretam um efeito mensurável sobre o desempenho do
atleta (MARQUEZI & LANCHA JÚNIOR, 1998; COSTILL & WILMORE, 2001).

 Figura 1. Concentrações de eletrólitos e osmolaridade no suor, plasma e músculo de homens após 2
                                   horas de exercícios no calor.

                                 Eletrólitos (mEq/L)                      Osmolaridade
        Local
                         Na+         Cl-          K+          Mg2+          (mOsm/L)


         Suor           40-60      30-50          4-6         1,5-5          80-185


        Plasma           140        101            4            1,5            295


       Músculo            9           6          162            31             295

                                     Fonte: COSTILL & WILMORE, 2001




       A taxa de sudorese (quantidade de suor perdida por unidade de tempo) é variável e
depende da superfície corporal, temperatura do ambiente, umidade, tipo de roupa e
aclimatação do atleta. Em média perde-se de 1 a 2 litros de líquido a cada hora de exercício.
Normalmente os homens tendem a suar mais do que as mulheres e a taxa de suor diminui com
o avanço da idade (MAUGHAN & NADEL, 2000).
        Para Guyton (1997) além de eliminar produtos de degradação do sangue e regular os
níveis de água, os rins também regulam o conteúdo de eletrólitos no organismo. A produção
de urina é a outra fonte importante de perda de eletrólitos. No repouso, eles são excretados na
urina conforme for necessário para a manutenção dos níveis homeostáticos, e essa é a
principal via de perda dos eletrólitos. Entretanto, quando a perda de água corporal aumenta
durante o exercício, a taxa de produção de urina diminui consideravelmente num esforço para
preservar a água. Conseqüentemente, com muito pouca urina sendo produzida, a perda de
eletrólitos por essa via é minimizada (MAUGHAN & GLEESON, 2004).
Recomendações para consumo de líquidos e outros substratos:

        A ingestão de líquidos durante o exercício, especialmente durante temperaturas
elevadas, apresenta benefícios como evitar a desidratação, regular a temperatura corporal e
evitar estresse cardiovascular (MEYER & PERRONE, 2004).
        A hidratação com água apresenta como vantagens um rápido esvaziamento gástrico,
desnecessária adaptação para a palatabilidade da solução e custo praticamente zero.
Entretanto, a reposição hídrica utilizando apenas água não é aconselhada para atletas, pois a
perda de eletrólitos, associada a um quadro de ingestão aumentada de água pode induzir a
quadros como a hiponatremia (MARINS et al, 2003; MOUNTAIN et al, 2006).
        Os sinais e sintomas de hiponatremia geralmente ocorrem quando há diminuição
rápida dos níveis de sódio ou quando o Na+ sérico é menor que 120 mEq/l. Os sintomas
principais decorrem do edema cerebral (brain swelling) e incluem confusão mental e letargia,
anorexia, convulsões e coma, além de náuseas, vômitos, cãibras e fraqueza (KOKKO, 1996).
        A ingestão de isotônico antes do exercício tem apresentado algumas vantagens em
relação à água. Os pontos positivos de uma hidratação com carboidratos são: manutenção dos
níveis de glicemia sangüínea ideais durante o exercício, aumento no tempo de exercício,
menor índice de percepção do esforço e absorção intestinal mais rápida. Como pontos
negativos tem-se: possível sensação de plenitude gástrica, desconforto gástrico e custo
financeiro (NASSIS et al, 1998; SHIRREFFS at al, 2007).
        A adição de eletrólitos nestas bebidas é controversa. Em relação ao sódio, sua
presença na bebida se justifica por 2 motivos, para a reposição do conteúdo deste eletrólito
perdido no suor e para facilitar a absorção dos carboidratos (NASSIS et al, 1998; MEYER &
PERRONE, 2004; SHIRREFFS at al, 2007).
        Sobre o potássio não existe consenso sobre sua adição nas bebidas para atletas. Uma
baixa significativa nas concentrações de potássio ocorrem quando o atleta se utiliza de
diuréticos. Uma pequena quantidade de potássio na recuperação pode melhorar a retenção de
água no espaço intracelular, além de reduzir a perda de potássio devido a retenção de sódio
pelos rins (NASSIS et al, 1998; MEYER & PERRONE, 2004; SHIRREFFS at al, 2007).
        Diferentemente dos carbohidroeletrolíticos convencionais, pesquisadores têm buscado
uma alternativa natural para esta reposição: a água de côco. A água de côco é uma bebida
saborosa, nutritiva e pouco calórica (27 Kcal/100g) (TAVARES et al, 1998). Segundo
COSTA et al (2006), os principais constituintes da água de côco são os açúcares, minerais,
substâncias nitrogenadas, gorduras e algumas vitaminas. O potássio é o eletrólito mais
abundante e seus teores variam de 2572,11 mg/L a 3149,04 mg/L, vindo em seguida o cálcio
e o magnésio (ARAGÃO et al, 2001; CARVALHO et al, 2006; COSTA et al, 2006).
        Corrobora para a indicação de sua utilização na hidratação também o fato de
apresentar uma densidade semelhante à do plasma sanguíneo, pH favorável, presença de
aminoácidos essenciais, vitaminas do complexo B, ácido ascórbico e eletrólitos diversos. Por
este fato, ela foi utilizada durante a Segunda Guerra como soro fisiológico para reequilibrar os
líquidos do organismo, durante as cirurgias de emergência, e também como infusão
intravenosa, em casos de desidratação acentuada (ARAGÃO et al, 2001; EMBRAPA, 2007).
        Um recente estudo comparando índices de rehidratação utilizando água pura, bebidas
esportivas (carbohidroeletrolíticos), água de côco e água de côco acrescida de sódio mostrou
que os três últimos compostos apresentam efetividade equivalente na rehidratação, bem como
na manutenção das taxas de glicemia. Como vantagem a água de côco apresentou menor
índice de náusea e desconforto gástrico (ISMAIL et al, 2007).
        Assim, este produto natural parece ser uma excelente forma de manutenção da
hidratação corporal, muito embora estudos adicionais ainda sejam necessários para a
elucidação completa dos seus benefícios.
Recomendações da Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte:

 Devemos ingerir líquidos antes, durante e após o exercício.
 Para garantir que o indivíduo inicie o exercício bem hidratado, recomenda-se que ele
  beba cerca de 250 a 500ml de água duas horas antes do exercício.
 Durante o exercício recomenda-se iniciar a ingestão já nos primeiros 15 minutos e
  continuar bebendo a cada 15 a 20 minutos.
 O volume a ser ingerido varia conforme as taxas de sudorese, geralmente entre 500 e
  2.000ml/hora.
 Se a atividade durar mais de uma hora, ou se for intensa do tipo intermitente mesmo com
  menos de uma hora, devemos repor carboidrato na quantidade de 30 a 60g·h-1 e sódio na
  quantidade de 0,5 a 0,7g·l-1.
 A bebida deve estar em temperatura em torno de 15 a 22oC e apresentar um sabor de
  acordo com a preferência do indivíduo, favorecendo a palatabilidade.
 Após o exercício, deve-se continuar ingerindo líquidos para compensar as perdas
  adicionais de água pela diurese e sudorese.
 Deve-se aproveitar para ingerir carboidratos, em média de 50gde glicose, nas primeiras
  duas horas após o exercício para que se promova a ressíntese do glicogênio muscular e o
  rápido armazenamento de glicogênio muscular e hepático.
 A hiperhidratação com líquidos contendo glicerol pode aumentar o risco de hiponatremia
  pela maior diluição, e a vontade de urinar durante a competição.
 Mesmo que boa hidratação durante o exercício prolongado no calor favoreça as respostas
  termorregulatórias e de performance ao exercício, não podemos garantir que, em
  situações de extremo estresse térmico, ela seja suficiente para evitar fadiga ou choque
  térmico.

III – Conclusão:

       Após a análise dos materiais referenciais, podemos concluir que uma hidratação
apropriada durante a atividade física de caráter recreativo ou competitivo pode garantir que o
rendimento físico esperado seja atingido e que problemas de saúde sejam evitados. Os
procedimentos para assegurá-la requerem conhecimento de fatores que influenciam quando e
o quanto beber de água. As recomendações dependem do tipo de atividade e de fatores
individuais, como condicionamento físico, idade, modalidade praticada, estresse ambiental,
entre outros.
       Pode-se verificar também que a água é de fundamental importância para o organismo
humano e para a continuidade dos exercícios físicos, e que em alguns casos são necessário a
adição de substratos energéticos aos líquidos ingeridos, principalmente glicose. As
quantidades de sais minerais também são cruciais para a manutenção dos exercícios.
Portanto, adição de Cálcio e Potássio aos líquidos, pode ser uma interessante estratégia para
minimizar os efeitos deletérios da desidratação, podendo também melhorar o desempenho.
       Vale ressaltar que apesar do assunto ser amplamente pesquisado, algumas lacunas
permanecem em aberto e merecem ser revistas. Assim, recomendamos que novos estudos de
revisão e/ou originais possam atender a essas lacunas e que a compreensão detalhada de toda
a regulação hídrica possa ser esclarecida.
Referências:

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    Caracterização morfológica do fruto e química da água de côco em cultivares de
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    Movimento. v.13, n.2, p. 59-74, 2005.
3. CARVALHO, Joelia M; et al. Composição mineral de bebida mista a base de água-de-
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14. LATZKA, W.A.; SAWKA, M.N.; MOANTAIN, S.J.; SKRINAR, G.S.; FIELDING,
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15. MACHADO-MOREIRA, Christiano A.; VIMEIRO-GOMES, Ana C.; SILAMI-
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    suficiente? Revista Brasileira de Medicina do Esporte. v.12, n.6, p.405-409, 2006.
16. MARINS, João C.B.; DANTAS, Estélio H.M; NAVARRO, Salvador Z. Diferentes tipos
    de hidratação durante o exercício prolongado e sua influência sobre o sódio plasmático.
    Revista Brasileira de Ciência e Movimento. v.11, n.1, p. 13-22, 2003.
17. MARQUEZI, Marcelo L & LANCHA JUNIOR, Antonio H. Estratégias de Reposição
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18. MCARDLE, Wiliam D.; KATCH, Franck L.; KATCH, Vitor L. Fisiologia do Exercício -
    Energia, nutrição e desempenho humano. 6º ed. Rio de janeiro: Guanabara Koogan,
    2008.
19. MEYER, Flávia; PERRONE, Cláudia A. Hidratação pós-exercício –Recomendações e
    Fundamentação científica. Revista Brasileira de Ciência e Movimento, Porto Alegre, v
    12, n. 2, p.87-90, 2004.
20. MOUNTAIN, S.J.; CHEUVRONT, S.N.; SAWKA, M.N. Exercise associated
    hyponatraemia: quantitative analysis to understand the aetiology. British Journal of
    Sports Medical. v. 40, p. 98-106, 2006.
21. NADEL, E.R., S.M. FORTNEY, AND C.B. WENGER. Effect of hydration state on
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22. NASSIS, George P; WILLIAMS, Clyde; CHISNALL, Penélope. Effect of a
    carbohydrate-eletrolyte drink on endurance capacity prolonged intermittent high
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23. SAWKA, M.N., YOUNG, A.J.; FRANCESCONI, R.P.; MUZA, S.R.;PANDOLF, K.B.
    Thermoregulatory and blood responses during exercise at graded hypohydration levels.
    J. Appl. Physiol. v.59, p.1394-1401, 1985.
24. SAWKA, M.N & PANDOLF, K.B. Effects of body water loss on physiological function
    and exercise performance. In: C.V. GISOLFI and D.R. LAMB (eds) Perspectives in
    Exercise Science and Sports Medicine, Vol. 3, Fluid Homeostasis During Exercise.
    Carmel: Benchmark Press, p. 1-30, 1990.
25. SHIRREFFS, S.M.; TAYLOR, A.J.; LEIPER, J.B.; MAUGHAN, R.J. Post-exercise
    rehydration in man: effects of volume consumed and drink sodium content. Med. Sci.
    Sports Exerc. v.28, p.1260-1271, 1996.
26. SHIRREFFS, Susan M; et al. Rehydration after exercise in the heat: a comparison of 4
    commonly used drinks. International Journal of Sport Nutrition and Exercise Metabolism.
    v. 17, 244-258, 2007.
27. TAVARES, Mario; et al. Estudo da composição química da água de côco-anão verde em
    diferentes estágios de maturação. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIA E
    TECNOLOGIA DE ALIMENTOS, 16, Rio de Janeiro, 1998. Anais... Rio de
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Aspectos fisiológicos da ingestão de água no organismo humano

  • 1. Aspectos Fisiológicos da Ingestão de Água no Organismo Humano e sua Influência no Rendimento Atlético Physiological Aspects of Drinking Water in the Human Body and its Influence on Athletic Performance Samuel Dias Cardoso1,, Sandro Conceição de Souza2 1 Licenciado em Educação Física pela Universidade Salgado de Oliveira Bacharel em Educação Física pela Universidade Salgado de Oliveira 2 Mestrando em Ciência da Atividade Física pela Universidade Salgado de Oliveira , Graduado em Educação Física pela Universidade Salgado de Oliveira , Especialista em Treinamento Desportivo pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, Docente do Curso de Especialização em Fisiologia e Treinamento de Força da Universidade Salgado de Oliveira e Docente do Curso de Graduação em Educação Física da Universidade Salgado de Oliveira Resumo – É consenso entre os profissionais que atuam na área de prescrição de exercícios, que um bom equilíbrio hídrico é fundamental para a manutenção dos exercícios físicos. Essa temática também é de interesse de esportistas e de vários profissionais interessados no comportamento fisiológico do homem quando em atividades de elevada intensidade. Porém, mesmo compreendendo a importância do tema, algumas perguntas continuam deixando espaços para reflexões e merecem ser investigadas com mais atenção. Uma dessas questões refere-se ao momento que se deve ingerir líquidos de uma forma em geral, para se obter a manutenção ou até o ganho do rendimento atlético e consequentemente, encontrar uma quantidade mínima ideal para o bom funcionamento do organismo humano. Diante ao exposto, temos como objetivo verificar a importância da água para o organismo humano, seus benefícios para a saúde e as recomendações para consumo antes, durante e após a pratica de exercícios de alto rendimento. Utilizaremos como metodologia de pesquisa a análise de fontes bibliográficas no período de 1971 a 2010, em diversas bases de dados (Scielo, Bireme, MedLine) e livros textos editorados, para demonstrar e esclarecer os argumentos desenvolvidos e aqui apresentados. Após a revisão das fontes bibliográficas, obteve-se uma maior compreensão sobre o papel da água no organismo humano. Concluímos que a água é de fundamental importância para o funcionamento equilibrado da célula, para o rendimento atlético e que em alguns casos, faz-se necessário a adição de substratos energéticos e sais minerais em complemento, para um perfeito restabelecimento orgânico e melhora da performance. Palavras chaves: líquidos, desidratação, hidratação e atividade física.  Samuel D. C.: profsamuelcardoso@hotmail.com
  • 2. I – Introdução Uma das respostas do corpo humano quando submetidos a uma atividade é a produção de calor e consequentemente ativação dos mecanismos fisiológicos de controle térmico e hídrico. Ao realizarmos uma atividade física com elevada intensidade, esse aspecto torna-se extremamente relevante e limitador da continuidade dessa atividade. Baseado nessa premissa, a reposição de líquidos deve ser estimulada e aceita como um fator fundamental para a manutenção e qualidade do exercício e para reduzir os riscos de síncopes geradas pelo estresse térmico. Assim, uma hidratação apropriada durante a atividade física de caráter competitivo ou recreativo pode garantir que o desempenho atlético esperado seja atingido e que problemas de saúde sejam evitados. Os procedimentos para assegurá-la requerem conhecimento de fatores que influenciam quando e o quanto beber de água. As recomendações dependem do tipo de atividade a ser realizada e de fatores individuais, como condicionamento físico, idade, modalidade praticada, estresse ambiental, entre outros. Diante ao exposto temos como objetivo verificar a importância da água para o organismo humano, seus benefícios para a saúde e as recomendações para consumo antes, durante e após a pratica de exercícios de alto rendimento. Utilizaremos como metodologia de pesquisa a análise de fontes bibliográficas de diversas bases de dados (Scielo, Bireme, MedLine) e livros textos publicados para demonstrar e esclarecer os argumentos desenvolvidos e aqui apresentados. A água não possui nenhum valor calórico e por isso raramente é considerada como nutriente. Porém, sua importância para a manutenção da vida só fica atrás do oxigênio. A água constitui de 40 a 70% da massa corporal, dependendo de idade, sexo e composição corporal; representa de 65 a 75% do peso do músculo e cerca de 10% da massa de gordura (MCARDLE, KATCH & KATCH, 2008). Alguns autores colocam que em média cerca de 60% da massa corporal é constituída por água, ou seja, 42 litros para um indivíduo pesando cerca de 70 Kg (GUYTON, 1997; MARQUEZI & LANCHA JÚNIOR, 1998; COSTILL & WILMORE, 2001). Segundo Costill & Wilmore (2001) podemos sobreviver a perdas de até 40% de nosso peso corporal de carboidratos, proteínas e gorduras. Mas uma perda de apenas 9% a 12% do peso corporal de água pode levar um individuo a morte. A água é importante em muitos processos do organismo, assim como, no transporte do corpo e o meio reativo; nutrientes e gases viajam em solução aquosa; os produtos de desgaste deixam o corpo através da água existente na urina e nas fezes; a difusão dos gases se dá na presença de superfícies umedecidas pela água; a água, em combinação com várias proteínas, lubrifica as articulações e protege contra o choque vários órgãos, tais como o coração, os pulmões, os intestinos e os olhos. II – Discussão: Compartimentos Hídricos: São dois os compartimentos hídricos (líquidos) do corpo humano, o intracelular e o extracelular. Aproximadamente dois terços da água do nosso corpo encontram-se contidos dentro das nossas células e é denominado de compartimento intracelular. O restante encontra-se fora das células e é denominado compartimento extracelular (COSTILL & WILMORE, 2001; MCARDLE, KATCH & KATCH, 2008). Inclui a este compartimento o liquido intersticial, linfa, saliva, líquido existente nos órgãos, líquidos excretados pelas glândulas e pelo trato digestivo, líquidos que banha os nervos raquidianos e líquidos excretados pela pele e pelos
  • 3. rins, além, do plasma sanguíneo (COSTILL & WILMORE, 2001; MCARDLE, KATCH & KATCH, 2008). O plasma sanguíneo é responsável por quase 20% do líquido extracelular. A água corporal total uma média de 62% representam líquido intracelular e 38% de fonte extracelular (MCARDLE, KATCH & KATCH, 2008). Utilizando os dados de referência de Costill & Wilmore (2001) e McArdle, Katch & Kacth (2008) comparando um homem de 70 kg, seu peso de água corporal total (aprox. 60%) será de 42 kg, seu volume intracelular (aprox. 2/3 ou 62%) será de 28 kg e seu volume extracelular (1/3 ou 38%) será de 14 kg. Equilíbrio Hídrico: Diariamente um adulto sedentário em um meio ambiente termo neutro necessita de aproximadamente 2,5 L de água. Porém para um adulto ativo em um meio ambiente quente e úmido essa necessidade pode chegar a quantidade entre cinco e 10 L de água por dia (MCARDLE, KATCH & KATCH, 2008). Essa ingestão será dividida da seguinte forma: 60% ingestão líquida, 30% ingestão alimentar e 10% produção metabólica de água. Alimentos: Todos os alimentos nos fornecem água, sendo que uns fornecem mais que outros, como por exemplo dos que nos fornecem bastante água temos o melaço (25%), o pão integral (35%), a carne de hambúrguer (54%) e o leite integral com (87%); já os que nos fornecem menos água temos as nozes (4%), e os cocos secos e as nozes-peças com apenas (7%). Líquidos: São as bebidas em geral como o refrigerante, sucos, entre outros, porém a maior parte será a ingestão da própria água. Água metabólica: Cerca de 14% da água utilizada pelo nosso organismo diariamente, por uma pessoa sedentária, provem do fracionamento das moléculas dos macronutrientes que no seu metabolismo forma dióxido de carbono e água, essa água é denominada água metabólica. Excreção de Água: Segundo McArdle, Katch & Katch (2008) a perda de água pelo corpo ocorre de quatro maneiras: pela urina,, como vapor de água no ar expirado, pela pele e nas fezes. Pela urina: Em repouso, a maior parte de água é excreta é pela urina (cerca de 60%), o rins utilizam essa água para colocarem para fora do organismo os produtos metabólicos sob a forma de urina. Em condições de repouso, os rins excretam cerca de 50 a 60 ml de água por hora. Pelo vapor d’água no ar: Cerca de 30% da água excretada pelo organismo é através do trato respiratório, uma vez que todo o ar que respiramos é umedecido e depois expelido pelos pulmões. Pela pele: Através da transpiração são perdidos cerca de 5% de água diariamente. Pelas fezes: É excretado pelo intestino grosso cerca de 5% de água através das fezes, vale ressaltar que cerca de 70 % do material fecal é constituído por água. Diante aos fatos acima citados, estudos são realizados para obter melhor compreensão de como podemos garantir boas condições de saúde e melhor rendimento atlético fazendo uso da água. A partir daqui prosseguiremos em nossa análise dando ênfase as variantes hídricas na presença dos exercícios.
  • 4. Desidratação: Quando o organismo está com níveis adequados de água, dizemos que ele está num estado de euhidratação. A hipohidratação se caracteriza como uma situação na qual o organismo apresenta uma redução do conteúdo de fluidos do corpo, e a hiperhidratação se caracteriza por um volume de água no corpo acima do normal. O termo desidratação define uma redução mais ou menos rápida da água corporal, levando o organismo de um estado de euhidratado para hipohidratado (COSTILL & WILMORE, 2001). Segundo Sawka & Pandolf (1990), uma desidratação relativamente pequena, como da ordem de 1 a 2% do peso corporal, já é suficiente para alterar o desempenho em exercícios de resistência (FOSS et al., 2000). Independentemente de quando ocorre a redução da quantidade de água do organismo, se antes da prática de exercícios (GREENLEAF & CASTLE, 1971; NADEL at al, 1980; SAWKA et al., 1985) ou durante os exercícios (MONTAIN & COYLE, 1992), os efeitos adversos da perda de água corporal nas funções cardiovasculares e na termoregulação, aumenta gradativamente em função do aumento da quantidade de líquidos perdidos. Segundo Sawka & Pandolf (1990) a desidratação interfere negativamente na performance da atividade física, sendo que os efeitos negativos se acentuam quanto maior for o grau de desidratação e quanto maior for o tempo de atividade. Em resumo, quando se inicia um exercício em condições de desidratação, são elevadas as probabilidades de ocorrerem efeitos adversos nas funções fisiológicas e no rendimento atlético, e em estado de hidratação, mesmo que parcial, esses efeitos indesejáveis são atenuados. Hiperhidratação: Se por um lado, a perda hídrica durante o exercício vai gerar um estado de desidratação, com diminuição do rendimento e prejuízos no mecanismo de termoregulação, por outro, um estado de hiperhidratação também é prejudicial, já que pode causar desconforto gástrico e hiponatremia (INSTITUTE OF MEDICINE, 2004; MEYER & PERRONE, 2004; BRITO & MARINS, 2005). Segundo Latzka et al. (1998); Meyer & Perrone (2004); Machado-Moreira et al (2006) existe controvérsia se o aumento da quantidade de água do organismo em uma situação de euhidratado afeta positivamente o organismo. Um dos principais fatores que contribui para essa controvérsia reside na quantidade de líquidos que é ingerida durante a atividade física. É pouco provável que a hiperhidratação pré-exercícios traga alguma vantagem extra, caso seja feita uma hidratação adequada durante o transcorrer do evento. Entretanto, sabe-se que é raro entre os atletas ocorrer uma reposição integral de fluidos durante um evento esportivo, sendo esta geralmente menor que 50% dos líquidos perdidos através do suor e da urina (SAWKA & PANDOLF, 1990). Segundo Latzka et al. (1998) a hiperhidratação prévia parece retardar o aparecimento da desidratação por algum tempo, embora não seja eficiente na proteção contra os efeitos negativos de uma hipertermia progressiva. Perda de Eletrólitos: Os eletrólitos são de suma importância para a manutenção do sistema fisiológico do ser humano e durante a pratica de exercícios. Com a diminuição de água no organismo esses eletrólitos são rapidamente alterados, isso se dá principalmente por duas vias: a transpiração e a produção de urina.
  • 5. O suor é um filtrado do plasma sanguíneo e, por esta razão, ele contém muitas substâncias encontradas no plasma, incluindo o sódio (Na+), o cloreto (Cl-), o potássio (K+), o magnésio (Mg 2+) e o cálcio (Ca 2+ ) (Tabela 1). Embora o seu sabor seja salgado, ele contém muito menos mineral do que o plasma ou outros líquidos corporais. Na realidade, ele é composto por 99% de água (GUYTON, 1997). As concentrações dos eletrólitos no suor podem variar consideravelmente entre os indivíduos, sendo fortemente influenciadas pela taxa de transpiração, pelo estado de treinamento e pelo estado da aclimatação ao calor. A figura 1 apresenta os valores referenciais de eletrólitos e osmolaridade de diversas regiões do corpo humano. De uma forma geral, em atletas, ocorrem perdas da ordem de 5 a 7% para sódio e cloreto e 1% de potássio e magnésio. Essas perdas provavelmente não acarretam um efeito mensurável sobre o desempenho do atleta (MARQUEZI & LANCHA JÚNIOR, 1998; COSTILL & WILMORE, 2001). Figura 1. Concentrações de eletrólitos e osmolaridade no suor, plasma e músculo de homens após 2 horas de exercícios no calor. Eletrólitos (mEq/L) Osmolaridade Local Na+ Cl- K+ Mg2+ (mOsm/L) Suor 40-60 30-50 4-6 1,5-5 80-185 Plasma 140 101 4 1,5 295 Músculo 9 6 162 31 295 Fonte: COSTILL & WILMORE, 2001 A taxa de sudorese (quantidade de suor perdida por unidade de tempo) é variável e depende da superfície corporal, temperatura do ambiente, umidade, tipo de roupa e aclimatação do atleta. Em média perde-se de 1 a 2 litros de líquido a cada hora de exercício. Normalmente os homens tendem a suar mais do que as mulheres e a taxa de suor diminui com o avanço da idade (MAUGHAN & NADEL, 2000). Para Guyton (1997) além de eliminar produtos de degradação do sangue e regular os níveis de água, os rins também regulam o conteúdo de eletrólitos no organismo. A produção de urina é a outra fonte importante de perda de eletrólitos. No repouso, eles são excretados na urina conforme for necessário para a manutenção dos níveis homeostáticos, e essa é a principal via de perda dos eletrólitos. Entretanto, quando a perda de água corporal aumenta durante o exercício, a taxa de produção de urina diminui consideravelmente num esforço para preservar a água. Conseqüentemente, com muito pouca urina sendo produzida, a perda de eletrólitos por essa via é minimizada (MAUGHAN & GLEESON, 2004).
  • 6. Recomendações para consumo de líquidos e outros substratos: A ingestão de líquidos durante o exercício, especialmente durante temperaturas elevadas, apresenta benefícios como evitar a desidratação, regular a temperatura corporal e evitar estresse cardiovascular (MEYER & PERRONE, 2004). A hidratação com água apresenta como vantagens um rápido esvaziamento gástrico, desnecessária adaptação para a palatabilidade da solução e custo praticamente zero. Entretanto, a reposição hídrica utilizando apenas água não é aconselhada para atletas, pois a perda de eletrólitos, associada a um quadro de ingestão aumentada de água pode induzir a quadros como a hiponatremia (MARINS et al, 2003; MOUNTAIN et al, 2006). Os sinais e sintomas de hiponatremia geralmente ocorrem quando há diminuição rápida dos níveis de sódio ou quando o Na+ sérico é menor que 120 mEq/l. Os sintomas principais decorrem do edema cerebral (brain swelling) e incluem confusão mental e letargia, anorexia, convulsões e coma, além de náuseas, vômitos, cãibras e fraqueza (KOKKO, 1996). A ingestão de isotônico antes do exercício tem apresentado algumas vantagens em relação à água. Os pontos positivos de uma hidratação com carboidratos são: manutenção dos níveis de glicemia sangüínea ideais durante o exercício, aumento no tempo de exercício, menor índice de percepção do esforço e absorção intestinal mais rápida. Como pontos negativos tem-se: possível sensação de plenitude gástrica, desconforto gástrico e custo financeiro (NASSIS et al, 1998; SHIRREFFS at al, 2007). A adição de eletrólitos nestas bebidas é controversa. Em relação ao sódio, sua presença na bebida se justifica por 2 motivos, para a reposição do conteúdo deste eletrólito perdido no suor e para facilitar a absorção dos carboidratos (NASSIS et al, 1998; MEYER & PERRONE, 2004; SHIRREFFS at al, 2007). Sobre o potássio não existe consenso sobre sua adição nas bebidas para atletas. Uma baixa significativa nas concentrações de potássio ocorrem quando o atleta se utiliza de diuréticos. Uma pequena quantidade de potássio na recuperação pode melhorar a retenção de água no espaço intracelular, além de reduzir a perda de potássio devido a retenção de sódio pelos rins (NASSIS et al, 1998; MEYER & PERRONE, 2004; SHIRREFFS at al, 2007). Diferentemente dos carbohidroeletrolíticos convencionais, pesquisadores têm buscado uma alternativa natural para esta reposição: a água de côco. A água de côco é uma bebida saborosa, nutritiva e pouco calórica (27 Kcal/100g) (TAVARES et al, 1998). Segundo COSTA et al (2006), os principais constituintes da água de côco são os açúcares, minerais, substâncias nitrogenadas, gorduras e algumas vitaminas. O potássio é o eletrólito mais abundante e seus teores variam de 2572,11 mg/L a 3149,04 mg/L, vindo em seguida o cálcio e o magnésio (ARAGÃO et al, 2001; CARVALHO et al, 2006; COSTA et al, 2006). Corrobora para a indicação de sua utilização na hidratação também o fato de apresentar uma densidade semelhante à do plasma sanguíneo, pH favorável, presença de aminoácidos essenciais, vitaminas do complexo B, ácido ascórbico e eletrólitos diversos. Por este fato, ela foi utilizada durante a Segunda Guerra como soro fisiológico para reequilibrar os líquidos do organismo, durante as cirurgias de emergência, e também como infusão intravenosa, em casos de desidratação acentuada (ARAGÃO et al, 2001; EMBRAPA, 2007). Um recente estudo comparando índices de rehidratação utilizando água pura, bebidas esportivas (carbohidroeletrolíticos), água de côco e água de côco acrescida de sódio mostrou que os três últimos compostos apresentam efetividade equivalente na rehidratação, bem como na manutenção das taxas de glicemia. Como vantagem a água de côco apresentou menor índice de náusea e desconforto gástrico (ISMAIL et al, 2007). Assim, este produto natural parece ser uma excelente forma de manutenção da hidratação corporal, muito embora estudos adicionais ainda sejam necessários para a elucidação completa dos seus benefícios.
  • 7. Recomendações da Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte:  Devemos ingerir líquidos antes, durante e após o exercício.  Para garantir que o indivíduo inicie o exercício bem hidratado, recomenda-se que ele beba cerca de 250 a 500ml de água duas horas antes do exercício.  Durante o exercício recomenda-se iniciar a ingestão já nos primeiros 15 minutos e continuar bebendo a cada 15 a 20 minutos.  O volume a ser ingerido varia conforme as taxas de sudorese, geralmente entre 500 e 2.000ml/hora.  Se a atividade durar mais de uma hora, ou se for intensa do tipo intermitente mesmo com menos de uma hora, devemos repor carboidrato na quantidade de 30 a 60g·h-1 e sódio na quantidade de 0,5 a 0,7g·l-1.  A bebida deve estar em temperatura em torno de 15 a 22oC e apresentar um sabor de acordo com a preferência do indivíduo, favorecendo a palatabilidade.  Após o exercício, deve-se continuar ingerindo líquidos para compensar as perdas adicionais de água pela diurese e sudorese.  Deve-se aproveitar para ingerir carboidratos, em média de 50gde glicose, nas primeiras duas horas após o exercício para que se promova a ressíntese do glicogênio muscular e o rápido armazenamento de glicogênio muscular e hepático.  A hiperhidratação com líquidos contendo glicerol pode aumentar o risco de hiponatremia pela maior diluição, e a vontade de urinar durante a competição.  Mesmo que boa hidratação durante o exercício prolongado no calor favoreça as respostas termorregulatórias e de performance ao exercício, não podemos garantir que, em situações de extremo estresse térmico, ela seja suficiente para evitar fadiga ou choque térmico. III – Conclusão: Após a análise dos materiais referenciais, podemos concluir que uma hidratação apropriada durante a atividade física de caráter recreativo ou competitivo pode garantir que o rendimento físico esperado seja atingido e que problemas de saúde sejam evitados. Os procedimentos para assegurá-la requerem conhecimento de fatores que influenciam quando e o quanto beber de água. As recomendações dependem do tipo de atividade e de fatores individuais, como condicionamento físico, idade, modalidade praticada, estresse ambiental, entre outros. Pode-se verificar também que a água é de fundamental importância para o organismo humano e para a continuidade dos exercícios físicos, e que em alguns casos são necessário a adição de substratos energéticos aos líquidos ingeridos, principalmente glicose. As quantidades de sais minerais também são cruciais para a manutenção dos exercícios. Portanto, adição de Cálcio e Potássio aos líquidos, pode ser uma interessante estratégia para minimizar os efeitos deletérios da desidratação, podendo também melhorar o desempenho. Vale ressaltar que apesar do assunto ser amplamente pesquisado, algumas lacunas permanecem em aberto e merecem ser revistas. Assim, recomendamos que novos estudos de revisão e/ou originais possam atender a essas lacunas e que a compreensão detalhada de toda a regulação hídrica possa ser esclarecida.
  • 8. Referências: 1. ARAGÃO, Wilson Menezes; CRUZ, Elizangela M. O.; HELVÉCIO, Jaqueline S. Caracterização morfológica do fruto e química da água de côco em cultivares de coqueiro anão. Agrotópica, v. 13, n. 2, p. 49-58, 2001. 2. BRITO, C.J.; MARINS, J.C.B. Caracterização das práticas sobre hidratação em atletas da modalidade de judô no estado de Minas Gerais. Revista Brasileira de Ciência e Movimento. v.13, n.2, p. 59-74, 2005. 3. CARVALHO, Joelia M; et al. Composição mineral de bebida mista a base de água-de- coco e suco de caju clarificado. B.CEPPA, Curitiba, v. 24, n. 1, p.1-12, jan/jun, 2006. 4. COSTA, José Maria C; et al. Características físico-químicas e minerais de água de côco de frutas da variedade anã amarelo em diferentes períodos de maturação. Acta Science Agronomy. Maringá, v. 28, n. 2, p. 173-177, April/June, 2006. 5. COSTILLL, David L. & WILMORE, Jack H. Fisiologia do Esporte e do Exercício. 1.ed. São Paulo: Manole, 2001. 6. FOSS, Merle L.; KETEYIAN, Steven J. Fox´s physiological basis for exercise and sport. 6.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, p. 472, 2000. 7. GREENLEAF, J.E. & CASTLE, B.L. Exercise temperature regulation in man during hypohydration and hyperhydration. J. Appl. Physiol. V.30, p.847-853, 1971. 8. GREENLEAF, J.E.; R. LOOF-WILSON, J.L. WISHERD, C.G.R. JAKSON, P.P. FUNG, A.C ERTL, P.R. BARNES, C.D. JENSEN; J.H. WHITTAN (1998). Hypervolemia in men from fluid ingestion at rest and during exercise. Aviat. Space Environ. Med. v.69, p.374-386, 1998. 9. GUYTON, Arthur C.; HALL, John E. Tratado de Fisiologia Médica. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Kogan, 1997. 10. HERNANDEZ, Arnaldo J.; NAHAS, Ricardo M. Modificações dietéticas, reposição hídrica, suplementos alimentares e drogas: comprovação de ação ergogênica e potenciais riscos para a saúde. Revista Brasileira de Medicina do Esporte. v.15, n.2, p.01-12, 2009. 11. INSTITUTE OF MEDICINE (2004). Dietary Reference Intakes for water, potassium, sodium, chloride, and sulfate. Washington, DC: The National Academies Press, in press. Disponível em www.iom.edu/report.asp?id=18495, acessado em abril de 2010. 12. ISMAIL, I; SINGH, R.; SIRISINGHE, R.G. Rehydration with sodium-enriched coconut water after exercise-induced dehydration. Southeast Asian Journal of Tropical Medicine Public Health. v.38, n. 4, p. 769-785, 2007. 13. KOKKO JP. Disorders of fluid volume, electrolyte, and acid-base balance. Chapter 75, pg 525-551. in: Cecil Textbook of Medicine. 20th ed. Bennett JC & Plum F. WB Saunders Co, Philadelphia, PA, 1996. 14. LATZKA, W.A.; SAWKA, M.N.; MOANTAIN, S.J.; SKRINAR, G.S.; FIELDING, R.A.; MATTOTT, R.P.; PANDOLF, K.B. Hyperhidration: tolerance and cardiovascular effects during encompensable exercise-heat stress. Appl. Physiol. v.84, p.1858-1864, 1998. 15. MACHADO-MOREIRA, Christiano A.; VIMEIRO-GOMES, Ana C.; SILAMI- GARCIA, E.; RODRIGUES, Luiz O.C. Hidratação durante o exercício: a sede é suficiente? Revista Brasileira de Medicina do Esporte. v.12, n.6, p.405-409, 2006. 16. MARINS, João C.B.; DANTAS, Estélio H.M; NAVARRO, Salvador Z. Diferentes tipos de hidratação durante o exercício prolongado e sua influência sobre o sódio plasmático. Revista Brasileira de Ciência e Movimento. v.11, n.1, p. 13-22, 2003.
  • 9. 17. MARQUEZI, Marcelo L & LANCHA JUNIOR, Antonio H. Estratégias de Reposição Hídrica: Revisão e Recomendações Aplicadas. Revista Paulista de Educação Física. v.12, n. 2, p. 219-227, 1998. 18. MCARDLE, Wiliam D.; KATCH, Franck L.; KATCH, Vitor L. Fisiologia do Exercício - Energia, nutrição e desempenho humano. 6º ed. Rio de janeiro: Guanabara Koogan, 2008. 19. MEYER, Flávia; PERRONE, Cláudia A. Hidratação pós-exercício –Recomendações e Fundamentação científica. Revista Brasileira de Ciência e Movimento, Porto Alegre, v 12, n. 2, p.87-90, 2004. 20. MOUNTAIN, S.J.; CHEUVRONT, S.N.; SAWKA, M.N. Exercise associated hyponatraemia: quantitative analysis to understand the aetiology. British Journal of Sports Medical. v. 40, p. 98-106, 2006. 21. NADEL, E.R., S.M. FORTNEY, AND C.B. WENGER. Effect of hydration state on circulatory and thermal regulations. J. Appl. Physiol. v.49, p.715-721, 1980. 22. NASSIS, George P; WILLIAMS, Clyde; CHISNALL, Penélope. Effect of a carbohydrate-eletrolyte drink on endurance capacity prolonged intermittent high intensity running. British Journal of Sports Medical. v. 32, p. 248-252, 1998. 23. SAWKA, M.N., YOUNG, A.J.; FRANCESCONI, R.P.; MUZA, S.R.;PANDOLF, K.B. Thermoregulatory and blood responses during exercise at graded hypohydration levels. J. Appl. Physiol. v.59, p.1394-1401, 1985. 24. SAWKA, M.N & PANDOLF, K.B. Effects of body water loss on physiological function and exercise performance. In: C.V. GISOLFI and D.R. LAMB (eds) Perspectives in Exercise Science and Sports Medicine, Vol. 3, Fluid Homeostasis During Exercise. Carmel: Benchmark Press, p. 1-30, 1990. 25. SHIRREFFS, S.M.; TAYLOR, A.J.; LEIPER, J.B.; MAUGHAN, R.J. Post-exercise rehydration in man: effects of volume consumed and drink sodium content. Med. Sci. Sports Exerc. v.28, p.1260-1271, 1996. 26. SHIRREFFS, Susan M; et al. Rehydration after exercise in the heat: a comparison of 4 commonly used drinks. International Journal of Sport Nutrition and Exercise Metabolism. v. 17, 244-258, 2007. 27. TAVARES, Mario; et al. Estudo da composição química da água de côco-anão verde em diferentes estágios de maturação. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE ALIMENTOS, 16, Rio de Janeiro, 1998. Anais... Rio de Janeiro:SBCTA, 1998. CD-ROM.