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Fluidoterapia em Equinos
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(Fluid Therapy
in Equines)
..........................
RESUMO
A fluidoterapia constitui um recurso tera-
pêutico dos mais importantes e freqüentes em
medicina eqüina. Seu objetivo principal é
corrigir desequilíbrios hidroeletrolíticos e áci-
do-basicos comuns em eqüinos enfermos.
Seus benefícios máximos dependem de co-
nhecimentos sobre a distribuição dos líqui-
dos corporais e da fisiopatologia dos dese-
quilíbrios hidroeletrolíticos e ácido-basicos.
Tais conhecimentos permitem adotar as me-
didas oportunas em cada situação, priorizan-
do corretamente o tipo de solução a ser em-
pregada e o ritmo adequado de administra-
ção para cada caso em particular.
Unitermos: hidratação; desidratação; cava-
lo.
Geraldo Eleno Silveira Alves
Professor, Doutor, Escola de Veterinária
DCCV-UFMG - Belo Horizonte, MG.
geufmg@gmail.com
Paulo de Tarso Landgraf Botteon
Professor Doutor, Instituto de Veterinária
DMCV-UFRRJ - Seropédica, MG
paulobotteon@gmail.com
José Dantas Ribeiro Filho
Professor, Doutor, Departamento de
Veterinária - UFV - Viçosa, MG
Humberto Pereira Oliveira
Professor, Doutor, Escola de Veterinária
DCCV-UFMG - Belo Horizonte, MG.
ABSTRACT
The fluid therapy is of vital impor-
tance and is a frequent resource in
equine medicine. Its main aim is to
correct dehydration, electrolytes and
acid-base imbalances, commonly
seen in ill horses. Its maximal bene-
fits depend on the knowledgement
about body fluids distribution and
pathophysiology of the imbalances.
Furthermore it knowledgements is
crucial for convenient manege of
each clinical situation, when should
be choose the correct kind of fluid
and adequate ritm of administration.
Keywords: hydration, dehydration,
horse.
Introdução
A fluidoterapia é a mais fundamental
forma de tratamento clínico, necessária e
utilizada nas mais diversas situações clí-
nicas, cirúrgicas, e na manutenção da ca-
pacidade física durante competições espor-
tivas. A administração de fluido é neces-
sária para manter o volume vascular, a
performance cardiovascular, a perfusão e
oxigenação dos tecidos, bem como corri-
gir desequilíbrios eletrolíticos e ácido-bá-
sicos1
.
Essa realidade permite afirmar, que o
clínico deve dispor de conhecimentos su-
ficientes que ultrapassem o diagnóstico
banal da necessidade de fluidoterapia, fa-
zendo-se necessário definir o volume, o
déficit de eletrólito, a solução apropria-
da, a velocidade de administração, a efi-
cácia e os possíveis efeitos adversos. Pro-
piciando ao paciente os benefícios da flui-
doterapia, minimizando ou abolindo as
conseqüências de sua falta que variam
consideravelmente. O equilíbrio orgânico
depende da condição hídrica adequada de
cada indivíduo. Na prática clínica, não
raramente, faz-se diagnóstico de uma en-
fermidade, do agente dessa enfermidade,
porém não dos desequilíbrios acarretados
pelo déficit hídrico, o qual, muitas vezes
é negligenciado. Muitos pacientes pade-
cem e vão a óbito, não por falta de diag-
nóstico e combate específico do agente,
mas por inexistência ou ineficiência da
identificação e controle do déficit hídrico
e desequilíbrios consecutivos.
Por diversas particularidades, os eqüi-
nos possuem uma fisiologia hidroeletrolí-
tica que funciona sob dinâmica veloz e crí-
tica, o que leva com facilidade e rapidez à
ocorrência de desequilíbrios. O exercício
físico induz mudanças na homeostase de
fluidos e eletrólitos proporcionais à inten-
sidade e ao tempo de exercício, e oscilam
desde trocas rápidas e fugazes, até défi-
cits importantes e duradouros2
. Este défi-
cit pode chegar a 10 l/h durante o enduro,
e perdas maiores podem ocorrer sob con-
dições de alta temperatura e umidade. Em
um enduro de 50 milhas, que dura mais de
5 horas, pode resultar em perda hídrica de
50 l, ou 10% do peso vivo3
.
Adicionalmente, eqüinos afetados por
enfermidades gastrointestinais encontram-
se muitas vezes desidratados e desenvol-
vem uma variedade de desequilíbrios ele-
trolíticos 4
A hipovolemia decorrente da
desidratação induz a uma redução da per-
fusãotecidual,resultandoemfornecimento
limitado de oxigênio aos tecidos e dimi-
nuição na excreção de íons H+
pelos rins4
.
A hipóxia tecidual aumenta a biossíntese
do ácido láctico, originário do metabolis-
mo anaeróbico, mais rápido do que pode
ser oxidado ou reconvertido em glicose ou
glicogênio pelo fígado5
. Esse evento é um
dos principais responsáveis pela acidose
metabólica em eqüinos desidratados.Aci-
dose láctica é uma desordem metabólica
comum em eqüinos com cólica6
. Entretan-
to, alcalose metabólica também pode ocor-
rer em uma minoria destes casos. Um Es-
tudo demonstrou que 66,7% dos eqüinos
com forma grave de cólica, apresentaram
acidose metabólica7
. Entretanto, a maio-
ria dos eqüinos com cólica não apresen-
tou de acidose metabólica grave8
. Em
eqüinos com compactação do cólon mai-
or, foram observados casos tanto de aci-
demia e alcalose respiratória como com
alcalinemia e acidose respiratória , com-
provando a necessidade de apoio labora-
torial para um diagnóstico preciso9
.
Distribuição dos fluidos
A idade, sexo, estado nutricional e saú-
de, atividade física e condições ambien-
tais são fatores influentes na taxa total de
fluidos (TF) do corpo animal 10
. Fisiologi-
camente é aceito que a taxa total de flui-
dos (TF) em eqüinos, varia em torno de
60 a 70% de seu peso, atingindo 80% em
neonatos 1
Um eqüino de 500 Kg de peso
possui aproximadamente 300 litros de flui-
do (TF = 300 L).Adistribuição do TF em
eqüinos varia dentro de a uma relação
onde o compartimento intracelular detém
cerca de 2/3 do total de fluidos do corpo
ou 200 L em um cavalo de 500 Kg e o
compartimento extracelular corresponde a
1/3 do total de fluidos ou 100 L em um
cavalo de 500 Kg. O compartimento ex-
tracelular (CEC) possui dois ambientes,
o intravascular, que ocupa de 1/4 a 2/3
do fluido extra celular (FEC) ou 25 – 33
litros e o extravascular que ocupa 2/3 a 3/
4 do FEC, equivalente a 66,7 a 75 litros.
No extravascular encontram-se os flui-
dos: intersticial, peritoneal, cérebro-espi-
nhal, gastrointestinal, bile, saliva, lágri-
ma e sêmem. O fluido gastrointestinal
(FG) que constitui cerca de 10% de todo
o fluido do corpo tem pelo menos quatro
funções importantes:
a) A ocorrência dos processos digestivos
químicos e biológicos;
b) A manutenção do equilíbrio da micro-
biota intestinal;
c) A absorção dos nutrientes;
d)Areposição do volume plasmático e de
eletrólitos durante atividades físicas inten-
sas, assim como em situações críticas de
enfermidades que acarretam hemoconcen-
tração.
Avaliação clínica e laboratorial
Os diversos parâmetros sinalizadores
de desidratação devem ser avaliados em
conjunto no curso do exame clínico. É im-
portante lembrar que esses parâmetros
apesar de terem alguma sensibilidade para
refletir a presença de desidratação, não
deixam de ter uma parcela variável de sub-
jetividade e influência de vários fatores de
confundimento.Amaioria dos parâmetros
clínicos sinalizadores de desidratação re-
flete o estado hídrico do compartimento
extracelular. Adicionalmente é oportuno
salientar que, de modo geral só a partir da
taxa de 5% é que a desidratação começa
a ser evidenciada pelos referidos parâme-
tros clínicos.
Na prática, um eqüino adulto pode ter
um déficit próximo de 20 litros de fluido
antes de manifestar sinais clínicos11
. Logo,
TPC = Tempo de preenchimento capilar; FC = Freqüência cardíaca.
Ligeiramente
aderente
Débito urinário
Distensibilidade jugular;
olhos fundos
5% 1 – 3 < 2 Normal
Pressão arterial
8% 3 – 5 Aderente 2 – 3 40 – 60
10 – 12% > 5 Seca > 4 _
> 60
­
­
­
Tabela 1: Parâmetros físicos utilizados na avaliação do grau de desidratação
Porcentagem de
Desidratação
Prega de
pele (s)
Membranas
Mucosas
TPC (s) FC (bpm) Outros
quando existem sinais clínicos de desidra-
tação, é importante lembrar que, a sua taxa
encontra-se acima de 5%. Para acessar a
necessidade de fluidoterapia deve-se con-
siderar o histórico e avaliar a umidade das
mucosas, o turgor da pele, o volume uri-
nário (Tabela 1) e se há debilidade mus-
cular
Clinicamente a desidratação é classi-
ficada como discreta, quando apresenta
uma taxa de 5-7%; moderada, quando se
situa na faixa de 8-10%; e severa, quando
a perda de fluidos está acima de 10% do
peso total do animal. Quando existe gran-
de perda de fluido, podem ocorrer sinais
clínicos de hipotensão, incluindo redução
da produção de urina, aumento da freqüên-
cia cardíaca, do tempo de preenchimento
capilar, pulso filiforme (Tabela 1) e di-
minuição da temperatura das extremida-
des.
O hematócrito (VG) e concentração
das proteínas plasmáticas totais (PPT) são
avaliações laboratoriais mais usadas como
indicadores de desidratação. Densidade
urinária, uréia, creatinina, L-lactato séri-
co também são utilizados12
. Entretanto, é
importante lembrar que, além do estado
hídrico do animal, essas variáveis podem
ser influenciadas por diversos fatores.
Como exemplo, o VG normalmente é al-
terado pela contração esplênica, enquan-
to as PPT são alteradas por perdas pela
via gastrintestinal ou urinária ou por re-
dução da produção hepática11
. A concen-
tração sangüínea de lactato em eqüinos
adultos normais varia entre 0,6 e 1,5
mmol/L. Concentrações de lactato supe-
riores a 1,2 mmol/L sugerem oxigenação
inadequada e podem indicar a necessida-
de de reposição hídrica, quando a desidra-
tação é a causa primaria desta hiperlacta-
temia12
. A análise destes exames labora-
toriais permite, adicionalmente, averiguar
se há correspondência entre esses parâ-
metros, o que não ocorre em pacientes gra-
ves com perdas de proteínas concomitan-
te a desidratação. Tais pacientes devem
receber soluções colóides a fim de equili-
brar a pressão oncótica.
As concentrações do lactato são muito
úteis como fator de avaliação da eficácia
da fluidoterapia. Ao se fazer o exame de
um paciente hipovolêmico, por exemplo,
pode-se considerar os valores do lactato
como uma referência inicial. Se o pacien-
te apresentar hiperlactatemia e o animal
está sendo hidratado, os teores do lactato
ao final da fluidoterapia podem determi-
nar se o tratamento foi eficaz em restau-
rar o volume circulatório. Similarmente,
os pacientes anêmicos, hipoxêmicos, e
endotoxêmicos podem ter as terapias es-
pecíficas instituídas baseadas em concen-
trações de lactato e na avaliação clínica.
Concentrações de lactato sanguíneo ele-
vadas, associadas com baixa oxigenação
tissular, contra-indicam o uso de grandes
volumes de fluido, devido à insuficiência
cardíaca ou insuficiência renal anúrica/
oligúrica. A resposta ao tratamento pode
ser calibrada na melhoria clínica e bio-
química13
. A concentração de lactato as-
sociada a outros sinais clínicos de hipo-
volemia pode servir de parâmetro para a
fluidoterapia (Tabela 2).
Princípio da eletroneutralidade
Quando pretendemos instituir junta-
mente com a fluidoterapia, uma terapêuti-
ca visando a correção dos desequilíbrios
salinos e ácido-basicos presentes, alguns
indicadores como o Ânion gap ou a Dife-
rença de íons fortes (SID), podem contri-
buir para a identificação e correção do
problema. O fundamento principal para a
avaliação destes indicadores está direta-
mente relacionado ao principio da eletro-
neutralidade.
A lei da eletroneutralidade determina
que, em qualquer solução aquosa, a soma
de todos os íons com cargas positivas (cá-
tions) deve ser igual à soma de todos os
íons com cargas negativas (ânios). Os ele-
trólitos Na, Cl, e K, e também a proteí-
nas séricas, juntamente com o pCO2,
compreendem os principais elementos en-
volvidos nos desequilíbrios ácido-basicos.
Em animais sob condições fisiológicas, as
concentrações médias de cátions e ânions
no soro são equivalentes14
.
Cátions ([Na+
]+[K+
]) = Ânions
([Cl-
]+[HCO3
-
] + [A–
] )
Ânion gap: Consiste na diferença en-
tre cátions e ânions extracelulares medi-
dos:
Ânion gap (A–
)=
([Na+
]+[K+
] ) – ( [Cl–
]+[HCO3
–
])
Em condições normais este valor va-
ria de 12 a 18 mEq/L. A função prelimi-
nar da medida do ânion gap é permitir a
identificação das possíveis causas da aci-
dose metabólica diagnosticada no pacien-
te.
Interpretações e Causas
Ânion gap pode ser classificado como
elevado, normal ou, mais raramente, bai-
xo. Um ânion gap elevado (> 18) indica
que há uma diminuição principalmente de
HCO3
-,
logo teremos uma acidose meta-
bólica. A electroneutralidade é mantida
>2 mmol/L
< 4 mmol/L
20 ml/kg em bolus de solução cristalóide isotônica por 1h.
Se regredir Instituir fluidoterapia de longo prazo
Repetir procedimento acima
Aplicar dois bolus de 20mL/kg de solução cristaloide iso-
tônica por 1h.
< 8 mmo/L
Se regredir Instituir fluidoterapia de longo prazo.
Se não regredir de 4 mmol/ Aplicar um terceiro bolus de 20 mL/kg
Mantém 4 mmol/L após o
terceiro bolus
Exames complementares; uso de colóides e
acompanhamento hospitalar
Considerar o uso de salina hipertônica; colóides; e mais
de um cateter para aplicação de 40mL/kg em bolus
Instituir fluidoterapia de longo prazo
Se regredir
Repetir o procedimento
Tabela 2: Conduta da fluidoterapia baseada na concentração do lactato,
segundo FIELDING (2005)
Lactato
inicial
Lactato após a
administração de fluido
Conduta
_
Se > 2 mmol/L
_
Se o valor for > ao original
_
> 4 mmol/L
_
> 8 mmol/L
pelo aumento na produção de ânions como
corpos cetônicos, lactato, PO4
-
, e SO4
-
;
estes ânions não fazem parte do calculo
do ânion-gap não influindo na elevação do
resultado do ânion gap. E pacientes com
ânion gap normal (12 a 18 mEq/L) a que-
da em HCO3
-
é compensada por um incre-
mento em Cl-
, acarretando uma acidose
hiperclorêmica.
Diferença de íons fortes (DIF)
Os cátions e ânions que entram na
equação são: (Na+
+ K+
+ Ca++
+ Mg++
) –
(Cl–
+ lactato–
). Isto é geralmente referi-
do como DIF aparente (DIFa) já que há
alguns ânions não-mensurados que podem
estar presentes.
DIF = ([Na+
] + [K+
]) – ([Cl–
] +
[lactato–
]) ou
DIF = ([Na+
] + [K+
]) – [Cl–
]
(quando lactato não é mensurado)
Em eqüinos saudáveis este valor é de
38 a 44 mEq/L. De acordo com o princí-
pio da eletroneutralidade, DIF deve ser
contrabalançado por uma carga oposta e
igual, definida como DIF efetivo (DIFe)
(aproximadamente – 40 mEq/L). O valor
do DIFe é principalmente determinado
pelas moléculas dissociadas de proteínas
plasmáticas (A–
), aproximadamente 78%
albumina, e fosfato, aproximadamente
20%.
A–
(mEq/L) =
(proteína g/dl) x (0,175 mEq)
Quando DIFa e DIFe são iguais, o pH
do plasma é exatamente 7,4 a uma PCO2
de 40 mmHg. Quando DIFa e DIFe são
diferentes, esta diferença é chamada
strong ion gap (SIG) (DIFa – DIFe, nor-
mal = 0).
SIG positivo indica que ânions não-
mensurados (sulfato, cetoácidos, citrato,
piruvato, acetato, gluconato etc.) devem
estar presentes determinando o pH medi-
do (acidose). Assim como SIG negativo
indica a presença de cátions não-mensu-
rados (alcalose).Adetecção de ânions não-
mensurados em pacientes críticos pode
identificar melhor a origem dos distúrbi-
os ácido-básicos. Evitando-se o agrava-
mento destas alterações.
Tipos de desidratação
A desidratação é classificada em hi-
potônica, isotônica ou hipertônica15
. Esse
tipo de desidratação pode ser determina-
da por mensuração direta no soro ou plas-
ma através de um osmômetro (osmolari-
dade plasmática medida)16,17
, ou pela de-
terminação da concentração das principais
substâncias osmoticamente ativas presen-
tes no sangue, Na+
, K+
, glicose e uréia (os-
molaridade plasmática calculada)17
.
Na desidratação isotônica, há redução
do líquido extracelular, sem modificação
da pressão osmótica, assim, o líquido in-
tracelular não se altera.
Quando ocorre desidratação hipotôni-
ca, ocorre maior perda de eletrólitos do
que de água, há diminuição de sódio no
LEC o meio extracelular se encontra hi-
potônico em relação ao intracelular. Com
isto, há passagem de líquido para o interi-
or das células possibilitando a ocorrência
de edema, que pode incluir o SNC e se
manifestar como agitação, convulsão e
coma.
Uma desidratação hipertônica cons-
titui-se em outra forma perigosa de desi-
dratação, corresponde a 2-10% dos casos.
Observa-se perda de água maior do que a
de eletrólitos.
As principais causas são: reposição
com soluções hipertônicas, diabetes insi-
pidus e uso de diuréticos osmóticos. Nes-
ta situação o líquido extracelular apresenta
osmolaridade superior a do líquido intra-
celular. Com isto, há passagem de água
do meio intracelular para o meio extrace-
lular. A desidratação intracelular é mani-
festa como febre alta, sede intensa, irrita-
bilidade, convulsões e coma.
Distúrbios eletrolíticos
a) Hiponatremia/hipernatremia:
A hiponatremia é mais comum em pa-
cientes com diarréia, em que uma quanti-
dade elevada de sódio é perdida e somen-
te uma reposição parcial é possível pela
ingestão de água. A hipernatremia não é
comum, contudo, pode ocorrer como re-
sultado de um erro de administração de
fluido particularmente de solução de bi-
carbonato de sódio, provocando também
hiperosmolaridade.
b) Hipocalemia/hipercalemia:
Potássio é um íon intracelular que pode
estar diminuído em cavalos com anorexia,
refluxo gastrintestinal, ou enterocolite,
avaliação do potássio sérico não reflete
com acurácea o potássio corpóreo total,
porque a maior concentração de potássio
encontra-se dentro da célula. Se o potás-
sio sérico está baixo em presença de aci-
dose, o déficit corpóreo total será severo.
Desequilíbrios multivariados invariavel-
mente ocorrem com perdas de potássio e
podem ser acompanhados por alterações
no funcionamento neuromuscular, inclu-
indo miocádio e trato gastrointestinal. A
concentração de potássio sérico é rigoro-
samente controlada pelos mecanismos de
defesa contra os riscos de hipercalemia.
Isso faz com que a hipercalemia seja ra-
ramente vista no eqüino exceto em casos
de falha renal e acidose severa.
c) Hipocalcemia:
A hipocalcemia é freqüente, particu-
larmente em animais anoréticos e/ou com
diarréia severa e, principalmente nos con-
valescentes de cirurgias gastrointestinais
com restrição alimentar. Sinais clínicos
comuns associados à hipocalcemia consis-
tem em depressão, fascilulação muscular,
taquicardia, ileus, e flutter diafragmático
sincrônico18
.
d) Hipocloremia:
A hipocloremia normalmente ocorre
devido a perdas pelo suor, em eqüinos du-
rante provas de enduro de longa distân-
cia, sem condicionamento adequado e re-
posição eletrolítica ou pelo refluxo gás-
trico, em casos de íleus e enterite proxi-
mal11
.
Plano de fluidoterapia
O estabelecimento de um plano de flui-
doterapia diminui a possibilidade de com-
plicações decorrentes da insuficiência (vo-
lume) e da impropriedade (tipo de fluido).
O volume de fluido e a velocidade de ad-
ministração dependem de cada situação
clínica. Em pesquisa visando verificar a
necessidade de corrigir a desidratação em
583 eqüinos com cólica por diferentes dis-
túrbios, foi observado que o déficit hídri-
co aumentou na medida em que a freqüên-
cia cardíaca (FC) se tornou crítica19
.Ani-
mais com FC acima de 80 batimentos por
minutoapresentarammaiornecessidadede
reposição de fluido. Em casos de desidra-
tação devido a diarréia, a reposição deve
ser rápida. Já em casos de íleus, a rapi-
dez de administração pode influir na in-
tensidade de refluxo, sobretudo se a desi-
dratação é acompanhada de hipoproteine-
mia. Com freqüência, no início de uma
fluidoterapia de reposição a velocidade
deve ser maior que durante a fase de ma-
nutenção.
O volume de fluido a ser administrado
pode ser determinado multiplicando-se o
peso corporal do animal pela taxa de de-
sidratação, acrescido do volume requeri-
do de manutenção diária, que está em tor-
no de 40-60mL/kg/dia. Ou seja,
Volume da fluidoterapia =
(% de desidratação x peso corporal)
+ ( 40 a 60mL/kg)
Para um animal com 500 Kg, e 10%
de desidratação, a necessidade de reposi-
ção em 24h será de 50 L + 20 a 30 L por
dia (70 a 80 L/dia). A estes valores de-
vem ser somadas ainda todas as perdas de-
correntes de diarréias ou refluxo nasogás-
trico. Assim, a necessidade de reposição
diária em um eqüino com diarréia pode
ultrapassar 100 L por dia. No plano de
fluidoterapia, 50% deste volume devem
ser administrados nas primeiras 6 h e o
restante distribuído pelas 18 h restantes.
A fluidoterapia está contra-indicada ou
deve ser administrada com cautela em ca-
sos de edema cerebral insuficiência car-
díaca congestiva, doenças respiratórias e
anemia severas, bem como pressão oncó-
tica baixa devido à hipoproteinemia20
.
Tipos de fluido
Basicamente os fluidos são classifica-
dos como soluções cristalóides e soluções
colóides.As cristalóides se distribuem por
todos os compartimentos do corpo. São
as mais usadas para corrigir desequilíbri-
os hidroeletrolíticos e ácido-básicos. Já as
soluções colóides possuem elevado peso
molecular e se mantém no compartimento
intravascular. São administradas para res-
taurar a pressão oncótica principalmente
quandoháhipoproteinemia21
.Comoexem-
plos podem ser citadas o plasma, o dex-
tran e o hidroxi-etil-starch.
a) Solução de NaCl 0.9% é cristalóide
não balanceada. Por isso não é apropria-
da para ser administrada em grandes vo-
lumes isoladamente, pois, suas concentra-
ções de sódio e cloro são maiores que as
do plasma, o que pode acarretar hipocale-
mia e hypercloremia, resultando em aci-
dose metabólica22
. Em outras palavras, a
solução fisiológica é acidificante, e assim
sendo, deve constituir o fluido de eleição
para eqüinos com alcalose, principalmen-
te em eqüinos de enduro.
b) Solução hipertônica de NaCl a 7.2%
também é cristalóide não balanceada, o
que aumenta a contratilidade do miocár-
dio, o débito cardíaco e a pressão arterial.
Porém, durante a sua administração ob-
servou-se uma pré-hipotensão transitória
que poderá ser nociva quando já existe
hipotensão severa23
.Asolução é utilizada
como expansora plasmática de curta du-
ração em pacientes hipovolêmicos, em
estado de pré-choque hemorrágico ou en-
dotoxêmico24
. Visando aumentar o volu-
me circulante e combater a hipotensão
durante a anestesia geral. O aumento da
volemia com redução do VG e das PPT
resulta da redistribuição de fluido do com-
partimento intracelular para o extracelu-
lar23,25,26
. Por outro lado, desidratação de
células cerebrais e hipernatremia, podem
acarretar excitação e até convulsões, hi-
pocalemia e falha renal são efeitos cola-
terais reportados23
.
c) Solução de Ringer com lactato de só-
dio é cristalóide balanceada, sendo a mais
usada em eqüinos. Não deve prevalecer
como solução principal na fluidoterapia de
animais com alcalose e com acidose seve-
ras.
d) Solução glicosada a 5% é uma solu-
ção necessária para compor fluidoterapia
principalmente em eqüinos durante o pe-
ríodo pós-operatório de cirurgias de cóli-
ca.Algumas vantagens dessa solução de-
vem ser ressaltadas, como a redução do
estresse devido ao jejum. Melhora a ca-
pacidade detoxicante hepática; aumenta a
concentração de insulina, facilitando a
translocação de potássio para o comparti-
mento intracelular.
e) Solução de bicarbonato de sódio tem
sua principal indicação quando há perda
de bicarbonato. Pode não ser indicada em
casos de cólica ou choque em que a aci-
dose é resultante de baixa perfusão com
conseqüente aumento da produção de lac-
tato. Essa solução pode resultar em hiper-
natremia, hipocalemia e alcalose metabó-
lica27
. Portanto, sempre que a solução de
bicarbonato for usada deve-se administrar
também 20 mmol de cloreto de potássio
por litro de fluido22.
Durante o pós-operatório em eqüinos
operados de cólica é freqüente conduzir a
fluidoterapia com soluções de Ringer com
lactato de sódio, fisiológica 0,9% e glico-
sada a 5%. Na maioria dos pacientes sem
sinais clínicos de desequilíbrios importan-
tes, a proporção dessas soluções é de
3:2:1. Isso significa que para cada três
frascos de solução de Ringer com lactato
de sódio, administram-se dois frascos de
solução fisiológica 0,9% e, um de solu-
ção glicosada 5%. Em caso de desequilí-
brio ácido-basico, suspeitado pelo exame
clínico ou diagnosticado pelo exame de
gasometria, essa proporção deve ser ajus-
tada conforme exigir o tratamento do de-
sequilíbrio presente.
Fluidoterapia enteral (FE)
A FE administrada por sonda nasogás-
trica constitui um método de tratamento
prático, eficiente e barato28
, sendo benéfi-
ca para eqüinos com cólica que não apre-
sentam mais de 2-3 litros de refluxo e im-
pedimento de absorção18
.AFE recupera e
mantém a hidratação e os equilíbrios ele-
trolítico e ácido-basicos, promove a diu-
rese, aumenta a secreção pulmonar, esti-
mula a motilidade intestinal e aumenta a
hidratação do conteúdo intestinal29
. Entre-
tanto, em casos de desidratação severa a
FE isolada não é suficiente30
.Além disso,
a FE pode acarretar complicações como
falsa via, acidentes de intubação, descon-
forto abdominal, ruptura de estomago,
desequilíbrio eletrolítico e edema pulmo-
nar28
.
Em volume adequado em animais sem
íleus, a FE estimula o reflexo gastrocóli-
co, induzindo motilidade intestinal, que
pode até representar risco de ruptura em
eqüinos com compactação cecal severa28
.
Adicionalmente, há risco da FE, adminis-
trada em volume elevado ou cumulativo,
induzir ou agravar a dor. Isso ocorre devi-
do à distensão visceral ou tração mesen-
térica na medida em que o fluido acumu-
lado no lume do intestino delgado, resulta
em força com tendência a direcionar o in-
testino para o assoalho abdominal. Se exis-
te gás em outro segmento de intestino, a
diferença de densidade dos conteúdos pre-
dispõe a ocorrência de deslocamentos.
Para evitar esses riscos e garantir os be-
nefícios, só se deve administrar FE em
pacientes sem distensão abdominal gaso-
sa e sem íleus. Entre as causas de cólica,
a compactação do cólon maior (ICM)
constitui a maior indicação da FE. Entre-
tanto, nem todo caso de ICM deve ser tra-
tado com FE.
Em média, a capacidade do estômago
de um eqüino adulto varia de 8 a 10 litros
e, o tempo de esvaziamento varia de 20 a
30 minutos quando a motilidade é normal.
Assim sendo, o volume de administração
não deve ultrapassar 6 a 8 litros a cada 30
minutos18
, sempre checando se há reflu-
xo, o que condena a continuidade da FE e
exige drenagem.
A solução isotônica poliônica (5,0 g
de NaCl + 1,0 g KCl + 4,0 g NaHCO3 +
5,0 g de glicose + 1000 mL de água) com
osmolaridade de 308 mmol/L foi utiliza-
da para fluidoterapia enteral em eqüinos
portadores de compactação experimental
do cólon maior. O experimento permitiu
concluir que o volume de 8,0mL/kg/hora/
48h é eficiente como tratamento da com-
pactação29
.
A solução contendo (5,9 g de NaCl +
0,3 g KCl + 3,4 g NaHCO3) por litro de
fluido apresenta concentrações de sódio,
potássio e cloro igual a 141,4 e 105mmol/
Litro respectivamente. Essas concentra-
ções são próximas das verificadas no plas-
ma, o que torna tal solução adequada para
FE28
. Experimentos testando FE com so-
lução eletrolítica balanceada (135mmol de
Na, 5mmol de K e 95mmol de Cl) permi-
tiu verificar aumento efetivo da hidrata-
ção do conteúdo do cólon dorsal direito
de eqüinos, ao contrário da FE com água
pura que só resultou em aumento modesto
e desequilíbrio na concentração de eletró-
litos séricos31
.AFE com solução eletrolí-
tica balanceada também produziu expan-
são plasmática32
.
Considerações finais
A fluidoterapia influi em muitos me-
canismos biofísico-químicos integrados ao
metabolismo orgânico. Representa uma
dos mais importantes recursos para garan-
tir o sucesso da recuperação de indivídu-
os nas mais variadas situações de abalo
orgânico e riscos de óbito. Sem a fluido-
terapia não é possível alcançar resultados
satisfatórios de muitas outras terapias.
Invariavelmente não é possível consi-
derar qualquer medicina sem se colocar a
fluidoterapia em posição de destaque. Na
hipiatria essa realidade ganha uma dimen-
são ainda maior, requerendo educação
continuada constante. 
Referências Bibliográficas
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rapy. In: Current therapy en equine medici-
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  • 2. (Fluid Therapy in Equines) .......................... RESUMO A fluidoterapia constitui um recurso tera- pêutico dos mais importantes e freqüentes em medicina eqüina. Seu objetivo principal é corrigir desequilíbrios hidroeletrolíticos e áci- do-basicos comuns em eqüinos enfermos. Seus benefícios máximos dependem de co- nhecimentos sobre a distribuição dos líqui- dos corporais e da fisiopatologia dos dese- quilíbrios hidroeletrolíticos e ácido-basicos. Tais conhecimentos permitem adotar as me- didas oportunas em cada situação, priorizan- do corretamente o tipo de solução a ser em- pregada e o ritmo adequado de administra- ção para cada caso em particular. Unitermos: hidratação; desidratação; cava- lo. Geraldo Eleno Silveira Alves Professor, Doutor, Escola de Veterinária DCCV-UFMG - Belo Horizonte, MG. geufmg@gmail.com Paulo de Tarso Landgraf Botteon Professor Doutor, Instituto de Veterinária DMCV-UFRRJ - Seropédica, MG paulobotteon@gmail.com José Dantas Ribeiro Filho Professor, Doutor, Departamento de Veterinária - UFV - Viçosa, MG Humberto Pereira Oliveira Professor, Doutor, Escola de Veterinária DCCV-UFMG - Belo Horizonte, MG. ABSTRACT The fluid therapy is of vital impor- tance and is a frequent resource in equine medicine. Its main aim is to correct dehydration, electrolytes and acid-base imbalances, commonly seen in ill horses. Its maximal bene- fits depend on the knowledgement about body fluids distribution and pathophysiology of the imbalances. Furthermore it knowledgements is crucial for convenient manege of each clinical situation, when should be choose the correct kind of fluid and adequate ritm of administration. Keywords: hydration, dehydration, horse.
  • 3. Introdução A fluidoterapia é a mais fundamental forma de tratamento clínico, necessária e utilizada nas mais diversas situações clí- nicas, cirúrgicas, e na manutenção da ca- pacidade física durante competições espor- tivas. A administração de fluido é neces- sária para manter o volume vascular, a performance cardiovascular, a perfusão e oxigenação dos tecidos, bem como corri- gir desequilíbrios eletrolíticos e ácido-bá- sicos1 . Essa realidade permite afirmar, que o clínico deve dispor de conhecimentos su- ficientes que ultrapassem o diagnóstico banal da necessidade de fluidoterapia, fa- zendo-se necessário definir o volume, o déficit de eletrólito, a solução apropria- da, a velocidade de administração, a efi- cácia e os possíveis efeitos adversos. Pro- piciando ao paciente os benefícios da flui- doterapia, minimizando ou abolindo as conseqüências de sua falta que variam consideravelmente. O equilíbrio orgânico depende da condição hídrica adequada de cada indivíduo. Na prática clínica, não raramente, faz-se diagnóstico de uma en- fermidade, do agente dessa enfermidade, porém não dos desequilíbrios acarretados pelo déficit hídrico, o qual, muitas vezes é negligenciado. Muitos pacientes pade- cem e vão a óbito, não por falta de diag- nóstico e combate específico do agente, mas por inexistência ou ineficiência da identificação e controle do déficit hídrico e desequilíbrios consecutivos. Por diversas particularidades, os eqüi- nos possuem uma fisiologia hidroeletrolí- tica que funciona sob dinâmica veloz e crí- tica, o que leva com facilidade e rapidez à ocorrência de desequilíbrios. O exercício físico induz mudanças na homeostase de fluidos e eletrólitos proporcionais à inten- sidade e ao tempo de exercício, e oscilam desde trocas rápidas e fugazes, até défi- cits importantes e duradouros2 . Este défi- cit pode chegar a 10 l/h durante o enduro, e perdas maiores podem ocorrer sob con- dições de alta temperatura e umidade. Em um enduro de 50 milhas, que dura mais de 5 horas, pode resultar em perda hídrica de 50 l, ou 10% do peso vivo3 . Adicionalmente, eqüinos afetados por enfermidades gastrointestinais encontram- se muitas vezes desidratados e desenvol- vem uma variedade de desequilíbrios ele- trolíticos 4 A hipovolemia decorrente da desidratação induz a uma redução da per- fusãotecidual,resultandoemfornecimento limitado de oxigênio aos tecidos e dimi- nuição na excreção de íons H+ pelos rins4 . A hipóxia tecidual aumenta a biossíntese do ácido láctico, originário do metabolis- mo anaeróbico, mais rápido do que pode ser oxidado ou reconvertido em glicose ou glicogênio pelo fígado5 . Esse evento é um dos principais responsáveis pela acidose metabólica em eqüinos desidratados.Aci- dose láctica é uma desordem metabólica comum em eqüinos com cólica6 . Entretan- to, alcalose metabólica também pode ocor- rer em uma minoria destes casos. Um Es- tudo demonstrou que 66,7% dos eqüinos com forma grave de cólica, apresentaram acidose metabólica7 . Entretanto, a maio- ria dos eqüinos com cólica não apresen- tou de acidose metabólica grave8 . Em eqüinos com compactação do cólon mai- or, foram observados casos tanto de aci- demia e alcalose respiratória como com alcalinemia e acidose respiratória , com- provando a necessidade de apoio labora- torial para um diagnóstico preciso9 . Distribuição dos fluidos A idade, sexo, estado nutricional e saú- de, atividade física e condições ambien- tais são fatores influentes na taxa total de fluidos (TF) do corpo animal 10 . Fisiologi- camente é aceito que a taxa total de flui- dos (TF) em eqüinos, varia em torno de 60 a 70% de seu peso, atingindo 80% em neonatos 1 Um eqüino de 500 Kg de peso possui aproximadamente 300 litros de flui- do (TF = 300 L).Adistribuição do TF em eqüinos varia dentro de a uma relação onde o compartimento intracelular detém cerca de 2/3 do total de fluidos do corpo ou 200 L em um cavalo de 500 Kg e o compartimento extracelular corresponde a 1/3 do total de fluidos ou 100 L em um cavalo de 500 Kg. O compartimento ex- tracelular (CEC) possui dois ambientes, o intravascular, que ocupa de 1/4 a 2/3 do fluido extra celular (FEC) ou 25 – 33 litros e o extravascular que ocupa 2/3 a 3/ 4 do FEC, equivalente a 66,7 a 75 litros. No extravascular encontram-se os flui- dos: intersticial, peritoneal, cérebro-espi- nhal, gastrointestinal, bile, saliva, lágri- ma e sêmem. O fluido gastrointestinal (FG) que constitui cerca de 10% de todo o fluido do corpo tem pelo menos quatro funções importantes: a) A ocorrência dos processos digestivos químicos e biológicos; b) A manutenção do equilíbrio da micro- biota intestinal; c) A absorção dos nutrientes; d)Areposição do volume plasmático e de eletrólitos durante atividades físicas inten- sas, assim como em situações críticas de enfermidades que acarretam hemoconcen- tração. Avaliação clínica e laboratorial Os diversos parâmetros sinalizadores de desidratação devem ser avaliados em conjunto no curso do exame clínico. É im- portante lembrar que esses parâmetros apesar de terem alguma sensibilidade para refletir a presença de desidratação, não deixam de ter uma parcela variável de sub- jetividade e influência de vários fatores de confundimento.Amaioria dos parâmetros clínicos sinalizadores de desidratação re- flete o estado hídrico do compartimento extracelular. Adicionalmente é oportuno salientar que, de modo geral só a partir da taxa de 5% é que a desidratação começa a ser evidenciada pelos referidos parâme- tros clínicos. Na prática, um eqüino adulto pode ter um déficit próximo de 20 litros de fluido antes de manifestar sinais clínicos11 . Logo, TPC = Tempo de preenchimento capilar; FC = Freqüência cardíaca. Ligeiramente aderente Débito urinário Distensibilidade jugular; olhos fundos 5% 1 – 3 < 2 Normal Pressão arterial 8% 3 – 5 Aderente 2 – 3 40 – 60 10 – 12% > 5 Seca > 4 _ > 60 ­ ­ ­ Tabela 1: Parâmetros físicos utilizados na avaliação do grau de desidratação Porcentagem de Desidratação Prega de pele (s) Membranas Mucosas TPC (s) FC (bpm) Outros
  • 4. quando existem sinais clínicos de desidra- tação, é importante lembrar que, a sua taxa encontra-se acima de 5%. Para acessar a necessidade de fluidoterapia deve-se con- siderar o histórico e avaliar a umidade das mucosas, o turgor da pele, o volume uri- nário (Tabela 1) e se há debilidade mus- cular Clinicamente a desidratação é classi- ficada como discreta, quando apresenta uma taxa de 5-7%; moderada, quando se situa na faixa de 8-10%; e severa, quando a perda de fluidos está acima de 10% do peso total do animal. Quando existe gran- de perda de fluido, podem ocorrer sinais clínicos de hipotensão, incluindo redução da produção de urina, aumento da freqüên- cia cardíaca, do tempo de preenchimento capilar, pulso filiforme (Tabela 1) e di- minuição da temperatura das extremida- des. O hematócrito (VG) e concentração das proteínas plasmáticas totais (PPT) são avaliações laboratoriais mais usadas como indicadores de desidratação. Densidade urinária, uréia, creatinina, L-lactato séri- co também são utilizados12 . Entretanto, é importante lembrar que, além do estado hídrico do animal, essas variáveis podem ser influenciadas por diversos fatores. Como exemplo, o VG normalmente é al- terado pela contração esplênica, enquan- to as PPT são alteradas por perdas pela via gastrintestinal ou urinária ou por re- dução da produção hepática11 . A concen- tração sangüínea de lactato em eqüinos adultos normais varia entre 0,6 e 1,5 mmol/L. Concentrações de lactato supe- riores a 1,2 mmol/L sugerem oxigenação inadequada e podem indicar a necessida- de de reposição hídrica, quando a desidra- tação é a causa primaria desta hiperlacta- temia12 . A análise destes exames labora- toriais permite, adicionalmente, averiguar se há correspondência entre esses parâ- metros, o que não ocorre em pacientes gra- ves com perdas de proteínas concomitan- te a desidratação. Tais pacientes devem receber soluções colóides a fim de equili- brar a pressão oncótica. As concentrações do lactato são muito úteis como fator de avaliação da eficácia da fluidoterapia. Ao se fazer o exame de um paciente hipovolêmico, por exemplo, pode-se considerar os valores do lactato como uma referência inicial. Se o pacien- te apresentar hiperlactatemia e o animal está sendo hidratado, os teores do lactato ao final da fluidoterapia podem determi- nar se o tratamento foi eficaz em restau- rar o volume circulatório. Similarmente, os pacientes anêmicos, hipoxêmicos, e endotoxêmicos podem ter as terapias es- pecíficas instituídas baseadas em concen- trações de lactato e na avaliação clínica. Concentrações de lactato sanguíneo ele- vadas, associadas com baixa oxigenação tissular, contra-indicam o uso de grandes volumes de fluido, devido à insuficiência cardíaca ou insuficiência renal anúrica/ oligúrica. A resposta ao tratamento pode ser calibrada na melhoria clínica e bio- química13 . A concentração de lactato as- sociada a outros sinais clínicos de hipo- volemia pode servir de parâmetro para a fluidoterapia (Tabela 2). Princípio da eletroneutralidade Quando pretendemos instituir junta- mente com a fluidoterapia, uma terapêuti- ca visando a correção dos desequilíbrios salinos e ácido-basicos presentes, alguns indicadores como o Ânion gap ou a Dife- rença de íons fortes (SID), podem contri- buir para a identificação e correção do problema. O fundamento principal para a avaliação destes indicadores está direta- mente relacionado ao principio da eletro- neutralidade. A lei da eletroneutralidade determina que, em qualquer solução aquosa, a soma de todos os íons com cargas positivas (cá- tions) deve ser igual à soma de todos os íons com cargas negativas (ânios). Os ele- trólitos Na, Cl, e K, e também a proteí- nas séricas, juntamente com o pCO2, compreendem os principais elementos en- volvidos nos desequilíbrios ácido-basicos. Em animais sob condições fisiológicas, as concentrações médias de cátions e ânions no soro são equivalentes14 . Cátions ([Na+ ]+[K+ ]) = Ânions ([Cl- ]+[HCO3 - ] + [A– ] ) Ânion gap: Consiste na diferença en- tre cátions e ânions extracelulares medi- dos: Ânion gap (A– )= ([Na+ ]+[K+ ] ) – ( [Cl– ]+[HCO3 – ]) Em condições normais este valor va- ria de 12 a 18 mEq/L. A função prelimi- nar da medida do ânion gap é permitir a identificação das possíveis causas da aci- dose metabólica diagnosticada no pacien- te. Interpretações e Causas Ânion gap pode ser classificado como elevado, normal ou, mais raramente, bai- xo. Um ânion gap elevado (> 18) indica que há uma diminuição principalmente de HCO3 -, logo teremos uma acidose meta- bólica. A electroneutralidade é mantida >2 mmol/L < 4 mmol/L 20 ml/kg em bolus de solução cristalóide isotônica por 1h. Se regredir Instituir fluidoterapia de longo prazo Repetir procedimento acima Aplicar dois bolus de 20mL/kg de solução cristaloide iso- tônica por 1h. < 8 mmo/L Se regredir Instituir fluidoterapia de longo prazo. Se não regredir de 4 mmol/ Aplicar um terceiro bolus de 20 mL/kg Mantém 4 mmol/L após o terceiro bolus Exames complementares; uso de colóides e acompanhamento hospitalar Considerar o uso de salina hipertônica; colóides; e mais de um cateter para aplicação de 40mL/kg em bolus Instituir fluidoterapia de longo prazo Se regredir Repetir o procedimento Tabela 2: Conduta da fluidoterapia baseada na concentração do lactato, segundo FIELDING (2005) Lactato inicial Lactato após a administração de fluido Conduta _ Se > 2 mmol/L _ Se o valor for > ao original _ > 4 mmol/L _ > 8 mmol/L
  • 5. pelo aumento na produção de ânions como corpos cetônicos, lactato, PO4 - , e SO4 - ; estes ânions não fazem parte do calculo do ânion-gap não influindo na elevação do resultado do ânion gap. E pacientes com ânion gap normal (12 a 18 mEq/L) a que- da em HCO3 - é compensada por um incre- mento em Cl- , acarretando uma acidose hiperclorêmica. Diferença de íons fortes (DIF) Os cátions e ânions que entram na equação são: (Na+ + K+ + Ca++ + Mg++ ) – (Cl– + lactato– ). Isto é geralmente referi- do como DIF aparente (DIFa) já que há alguns ânions não-mensurados que podem estar presentes. DIF = ([Na+ ] + [K+ ]) – ([Cl– ] + [lactato– ]) ou DIF = ([Na+ ] + [K+ ]) – [Cl– ] (quando lactato não é mensurado) Em eqüinos saudáveis este valor é de 38 a 44 mEq/L. De acordo com o princí- pio da eletroneutralidade, DIF deve ser contrabalançado por uma carga oposta e igual, definida como DIF efetivo (DIFe) (aproximadamente – 40 mEq/L). O valor do DIFe é principalmente determinado pelas moléculas dissociadas de proteínas plasmáticas (A– ), aproximadamente 78% albumina, e fosfato, aproximadamente 20%. A– (mEq/L) = (proteína g/dl) x (0,175 mEq) Quando DIFa e DIFe são iguais, o pH do plasma é exatamente 7,4 a uma PCO2 de 40 mmHg. Quando DIFa e DIFe são diferentes, esta diferença é chamada strong ion gap (SIG) (DIFa – DIFe, nor- mal = 0). SIG positivo indica que ânions não- mensurados (sulfato, cetoácidos, citrato, piruvato, acetato, gluconato etc.) devem estar presentes determinando o pH medi- do (acidose). Assim como SIG negativo indica a presença de cátions não-mensu- rados (alcalose).Adetecção de ânions não- mensurados em pacientes críticos pode identificar melhor a origem dos distúrbi- os ácido-básicos. Evitando-se o agrava- mento destas alterações. Tipos de desidratação A desidratação é classificada em hi- potônica, isotônica ou hipertônica15 . Esse tipo de desidratação pode ser determina- da por mensuração direta no soro ou plas- ma através de um osmômetro (osmolari- dade plasmática medida)16,17 , ou pela de- terminação da concentração das principais substâncias osmoticamente ativas presen- tes no sangue, Na+ , K+ , glicose e uréia (os- molaridade plasmática calculada)17 . Na desidratação isotônica, há redução do líquido extracelular, sem modificação da pressão osmótica, assim, o líquido in- tracelular não se altera. Quando ocorre desidratação hipotôni- ca, ocorre maior perda de eletrólitos do que de água, há diminuição de sódio no LEC o meio extracelular se encontra hi- potônico em relação ao intracelular. Com isto, há passagem de líquido para o interi- or das células possibilitando a ocorrência de edema, que pode incluir o SNC e se manifestar como agitação, convulsão e coma. Uma desidratação hipertônica cons- titui-se em outra forma perigosa de desi- dratação, corresponde a 2-10% dos casos. Observa-se perda de água maior do que a de eletrólitos. As principais causas são: reposição com soluções hipertônicas, diabetes insi- pidus e uso de diuréticos osmóticos. Nes- ta situação o líquido extracelular apresenta osmolaridade superior a do líquido intra- celular. Com isto, há passagem de água do meio intracelular para o meio extrace- lular. A desidratação intracelular é mani- festa como febre alta, sede intensa, irrita- bilidade, convulsões e coma. Distúrbios eletrolíticos a) Hiponatremia/hipernatremia: A hiponatremia é mais comum em pa- cientes com diarréia, em que uma quanti- dade elevada de sódio é perdida e somen- te uma reposição parcial é possível pela ingestão de água. A hipernatremia não é comum, contudo, pode ocorrer como re- sultado de um erro de administração de fluido particularmente de solução de bi- carbonato de sódio, provocando também hiperosmolaridade. b) Hipocalemia/hipercalemia: Potássio é um íon intracelular que pode estar diminuído em cavalos com anorexia, refluxo gastrintestinal, ou enterocolite, avaliação do potássio sérico não reflete com acurácea o potássio corpóreo total, porque a maior concentração de potássio encontra-se dentro da célula. Se o potás- sio sérico está baixo em presença de aci- dose, o déficit corpóreo total será severo. Desequilíbrios multivariados invariavel- mente ocorrem com perdas de potássio e podem ser acompanhados por alterações no funcionamento neuromuscular, inclu- indo miocádio e trato gastrointestinal. A concentração de potássio sérico é rigoro- samente controlada pelos mecanismos de defesa contra os riscos de hipercalemia. Isso faz com que a hipercalemia seja ra- ramente vista no eqüino exceto em casos de falha renal e acidose severa. c) Hipocalcemia: A hipocalcemia é freqüente, particu- larmente em animais anoréticos e/ou com diarréia severa e, principalmente nos con- valescentes de cirurgias gastrointestinais com restrição alimentar. Sinais clínicos comuns associados à hipocalcemia consis- tem em depressão, fascilulação muscular, taquicardia, ileus, e flutter diafragmático sincrônico18 . d) Hipocloremia: A hipocloremia normalmente ocorre devido a perdas pelo suor, em eqüinos du- rante provas de enduro de longa distân- cia, sem condicionamento adequado e re- posição eletrolítica ou pelo refluxo gás- trico, em casos de íleus e enterite proxi- mal11 . Plano de fluidoterapia O estabelecimento de um plano de flui- doterapia diminui a possibilidade de com- plicações decorrentes da insuficiência (vo- lume) e da impropriedade (tipo de fluido). O volume de fluido e a velocidade de ad- ministração dependem de cada situação clínica. Em pesquisa visando verificar a necessidade de corrigir a desidratação em 583 eqüinos com cólica por diferentes dis- túrbios, foi observado que o déficit hídri- co aumentou na medida em que a freqüên- cia cardíaca (FC) se tornou crítica19 .Ani- mais com FC acima de 80 batimentos por minutoapresentarammaiornecessidadede reposição de fluido. Em casos de desidra- tação devido a diarréia, a reposição deve ser rápida. Já em casos de íleus, a rapi- dez de administração pode influir na in- tensidade de refluxo, sobretudo se a desi- dratação é acompanhada de hipoproteine-
  • 6. mia. Com freqüência, no início de uma fluidoterapia de reposição a velocidade deve ser maior que durante a fase de ma- nutenção. O volume de fluido a ser administrado pode ser determinado multiplicando-se o peso corporal do animal pela taxa de de- sidratação, acrescido do volume requeri- do de manutenção diária, que está em tor- no de 40-60mL/kg/dia. Ou seja, Volume da fluidoterapia = (% de desidratação x peso corporal) + ( 40 a 60mL/kg) Para um animal com 500 Kg, e 10% de desidratação, a necessidade de reposi- ção em 24h será de 50 L + 20 a 30 L por dia (70 a 80 L/dia). A estes valores de- vem ser somadas ainda todas as perdas de- correntes de diarréias ou refluxo nasogás- trico. Assim, a necessidade de reposição diária em um eqüino com diarréia pode ultrapassar 100 L por dia. No plano de fluidoterapia, 50% deste volume devem ser administrados nas primeiras 6 h e o restante distribuído pelas 18 h restantes. A fluidoterapia está contra-indicada ou deve ser administrada com cautela em ca- sos de edema cerebral insuficiência car- díaca congestiva, doenças respiratórias e anemia severas, bem como pressão oncó- tica baixa devido à hipoproteinemia20 . Tipos de fluido Basicamente os fluidos são classifica- dos como soluções cristalóides e soluções colóides.As cristalóides se distribuem por todos os compartimentos do corpo. São as mais usadas para corrigir desequilíbri- os hidroeletrolíticos e ácido-básicos. Já as soluções colóides possuem elevado peso molecular e se mantém no compartimento intravascular. São administradas para res- taurar a pressão oncótica principalmente quandoháhipoproteinemia21 .Comoexem- plos podem ser citadas o plasma, o dex- tran e o hidroxi-etil-starch. a) Solução de NaCl 0.9% é cristalóide não balanceada. Por isso não é apropria- da para ser administrada em grandes vo- lumes isoladamente, pois, suas concentra- ções de sódio e cloro são maiores que as do plasma, o que pode acarretar hipocale- mia e hypercloremia, resultando em aci- dose metabólica22 . Em outras palavras, a solução fisiológica é acidificante, e assim sendo, deve constituir o fluido de eleição para eqüinos com alcalose, principalmen- te em eqüinos de enduro. b) Solução hipertônica de NaCl a 7.2% também é cristalóide não balanceada, o que aumenta a contratilidade do miocár- dio, o débito cardíaco e a pressão arterial. Porém, durante a sua administração ob- servou-se uma pré-hipotensão transitória que poderá ser nociva quando já existe hipotensão severa23 .Asolução é utilizada como expansora plasmática de curta du- ração em pacientes hipovolêmicos, em estado de pré-choque hemorrágico ou en- dotoxêmico24 . Visando aumentar o volu- me circulante e combater a hipotensão durante a anestesia geral. O aumento da volemia com redução do VG e das PPT resulta da redistribuição de fluido do com- partimento intracelular para o extracelu- lar23,25,26 . Por outro lado, desidratação de células cerebrais e hipernatremia, podem acarretar excitação e até convulsões, hi- pocalemia e falha renal são efeitos cola- terais reportados23 . c) Solução de Ringer com lactato de só- dio é cristalóide balanceada, sendo a mais usada em eqüinos. Não deve prevalecer como solução principal na fluidoterapia de animais com alcalose e com acidose seve- ras. d) Solução glicosada a 5% é uma solu- ção necessária para compor fluidoterapia principalmente em eqüinos durante o pe- ríodo pós-operatório de cirurgias de cóli- ca.Algumas vantagens dessa solução de- vem ser ressaltadas, como a redução do estresse devido ao jejum. Melhora a ca- pacidade detoxicante hepática; aumenta a concentração de insulina, facilitando a translocação de potássio para o comparti- mento intracelular. e) Solução de bicarbonato de sódio tem sua principal indicação quando há perda de bicarbonato. Pode não ser indicada em casos de cólica ou choque em que a aci- dose é resultante de baixa perfusão com conseqüente aumento da produção de lac- tato. Essa solução pode resultar em hiper- natremia, hipocalemia e alcalose metabó- lica27 . Portanto, sempre que a solução de bicarbonato for usada deve-se administrar também 20 mmol de cloreto de potássio por litro de fluido22. Durante o pós-operatório em eqüinos operados de cólica é freqüente conduzir a fluidoterapia com soluções de Ringer com lactato de sódio, fisiológica 0,9% e glico- sada a 5%. Na maioria dos pacientes sem sinais clínicos de desequilíbrios importan- tes, a proporção dessas soluções é de 3:2:1. Isso significa que para cada três frascos de solução de Ringer com lactato de sódio, administram-se dois frascos de solução fisiológica 0,9% e, um de solu- ção glicosada 5%. Em caso de desequilí- brio ácido-basico, suspeitado pelo exame clínico ou diagnosticado pelo exame de gasometria, essa proporção deve ser ajus- tada conforme exigir o tratamento do de- sequilíbrio presente. Fluidoterapia enteral (FE) A FE administrada por sonda nasogás- trica constitui um método de tratamento prático, eficiente e barato28 , sendo benéfi- ca para eqüinos com cólica que não apre- sentam mais de 2-3 litros de refluxo e im- pedimento de absorção18 .AFE recupera e mantém a hidratação e os equilíbrios ele- trolítico e ácido-basicos, promove a diu- rese, aumenta a secreção pulmonar, esti- mula a motilidade intestinal e aumenta a hidratação do conteúdo intestinal29 . Entre- tanto, em casos de desidratação severa a FE isolada não é suficiente30 .Além disso, a FE pode acarretar complicações como falsa via, acidentes de intubação, descon- forto abdominal, ruptura de estomago, desequilíbrio eletrolítico e edema pulmo- nar28 . Em volume adequado em animais sem íleus, a FE estimula o reflexo gastrocóli- co, induzindo motilidade intestinal, que pode até representar risco de ruptura em eqüinos com compactação cecal severa28 . Adicionalmente, há risco da FE, adminis- trada em volume elevado ou cumulativo, induzir ou agravar a dor. Isso ocorre devi- do à distensão visceral ou tração mesen- térica na medida em que o fluido acumu- lado no lume do intestino delgado, resulta em força com tendência a direcionar o in- testino para o assoalho abdominal. Se exis- te gás em outro segmento de intestino, a diferença de densidade dos conteúdos pre- dispõe a ocorrência de deslocamentos. Para evitar esses riscos e garantir os be- nefícios, só se deve administrar FE em pacientes sem distensão abdominal gaso- sa e sem íleus. Entre as causas de cólica, a compactação do cólon maior (ICM) constitui a maior indicação da FE. Entre- tanto, nem todo caso de ICM deve ser tra- tado com FE. Em média, a capacidade do estômago
  • 7. de um eqüino adulto varia de 8 a 10 litros e, o tempo de esvaziamento varia de 20 a 30 minutos quando a motilidade é normal. Assim sendo, o volume de administração não deve ultrapassar 6 a 8 litros a cada 30 minutos18 , sempre checando se há reflu- xo, o que condena a continuidade da FE e exige drenagem. A solução isotônica poliônica (5,0 g de NaCl + 1,0 g KCl + 4,0 g NaHCO3 + 5,0 g de glicose + 1000 mL de água) com osmolaridade de 308 mmol/L foi utiliza- da para fluidoterapia enteral em eqüinos portadores de compactação experimental do cólon maior. O experimento permitiu concluir que o volume de 8,0mL/kg/hora/ 48h é eficiente como tratamento da com- pactação29 . A solução contendo (5,9 g de NaCl + 0,3 g KCl + 3,4 g NaHCO3) por litro de fluido apresenta concentrações de sódio, potássio e cloro igual a 141,4 e 105mmol/ Litro respectivamente. Essas concentra- ções são próximas das verificadas no plas- ma, o que torna tal solução adequada para FE28 . Experimentos testando FE com so- lução eletrolítica balanceada (135mmol de Na, 5mmol de K e 95mmol de Cl) permi- tiu verificar aumento efetivo da hidrata- ção do conteúdo do cólon dorsal direito de eqüinos, ao contrário da FE com água pura que só resultou em aumento modesto e desequilíbrio na concentração de eletró- litos séricos31 .AFE com solução eletrolí- tica balanceada também produziu expan- são plasmática32 . Considerações finais A fluidoterapia influi em muitos me- canismos biofísico-químicos integrados ao metabolismo orgânico. Representa uma dos mais importantes recursos para garan- tir o sucesso da recuperação de indivídu- os nas mais variadas situações de abalo orgânico e riscos de óbito. Sem a fluido- terapia não é possível alcançar resultados satisfatórios de muitas outras terapias. Invariavelmente não é possível consi- derar qualquer medicina sem se colocar a fluidoterapia em posição de destaque. Na hipiatria essa realidade ganha uma dimen- são ainda maior, requerendo educação continuada constante. Referências Bibliográficas 1 - SCHMALL, L.M. Fluid and electrolyte the- rapy. In: Current therapy en equine medici- ne. 4, Philadelphia: Saunders, 1997, p.227-231. 2 - SCHOTT, H.C.; HINCHCLIFF, K.W. Treat- ments affecting fluid and electrolyte status du- ring exercise. Vet. Clin. North Am. Equine Prac., v.14, p.175-205, 1998. 3 - CARLSON, G.P. Thermoregulation and fluid balance in the exercising horse. In: Equine exer- cise physiology, Cambridge: Granta Editions, 1983, 291-309. 4 - COSTA, L.R.R. et al. Plasma magnesium and other electrolyte abnormalities in horses affected with gastrointestinal tract disease. In: International Equine Colic Research Sym- posium, 7th . Manchester: BEVA, 2003, p.95. 5 - ALVES, G.E.S. et al. Tratamento da com- pactação experimental do cólon maior em eqüi- nos: resultados de laboratório e exames bioquí- micos. Arq. Bras. Méd. Vet. 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