Artigo: TERRA CRUA - TAIPA DE MÃO, ADOBE E TIJOLO DE SOLO-CIMENTO
1. CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO
TRABALHO DA DISCIPLINA MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO II – 2017 – TURMA V07
Profª Drª Alessandra Savazzini Reis
TERRA CRUA –TAIPADE MÃO, ADOBE E TIJOLODE SOLO-CIMENTO
FARIA, Ana Paula; TALARICO, Caio ; de Menezes, Carlos; CALIMAN, Raissa ;
LAGES ,Emanuelle; OLIVEIRA, Gabriele Braun; BRANDÂO, Miriam
Resumo
O trabalho apresenta características e utilização de técnicas de construção com terra crua,
tais como, taipa de mão, adobe e o tijolo de solo-cimento. Este material é o mais primitivos da
construção de assentamentos humanos, usado nas primeiras civilizações, no qual o homem
estava aprendendo a moldar o seu espaço com as mãos. Com a evolução da humanidade, novas
tecnologias e ferramentas construtivas surgiram, principalmente após a revolução industrial que
determinou o concreto e o aço como principais materiais de construção, deixando aqueles antigos
sistemas em desuso nas grandes cidades e tornando-se símbolo de carência e pobreza nas
comunidades subdesenvolvidas. Nota-se que a utilização de terra crua pode ser muito útil na
construção civil, pois tem um baixo custo e são facilmente empregadas em qualquer meio, além
de não causarem tanto impacto ao meio ambiente como a alvenaria convencional. Desta forma, é
racional resgatar esta antiga técnica e outras com o objetivo de estabelecer uma construção civil
mais limpa que não degrade o meio ambiente e proporcione a preservação e sustentabilidade do
planeta.
Palavras-chave: TERRACRUA. BIOCONSTRUÇÃO. PERMACULTURA.
1. Introdução
A utilização de terra crua como material de construção apresenta ótimos benefícios, pois é
um recurso orgânico e abundante no planeta. Sua utilização exige um conhecimento técnico e
responsável e que, sendo aplicado de forma correta, é muito mais vantajoso que a construção
tradicional de terra cozida, cimento e aço. Algumas de suas vantagens são, alto desempenho
térmico e acústico; Eficiência energética, reduz a necessidade de refrigeração; Baixo impacto
ambiental, pois é um material oferecido pela natureza que exige poucos recursos externos, não
necessita de transporte se for extraído no local da obra, diminui a emissão de gases no planeta
pela redução da utilização de combustíveis fósseis, já que subsistiu ia terra cozida e o cimento
2. que são preparados por processos poluentes, diminuição de resíduos provenientes da construção,
diminuição do uso de água, atém de ser um material naturalmente reutilizável; Baixo custo, por
razão do processo construtivo e da matéria prima; Alto desempenho estrutural, relativo a técnica
que for empregada na construção; Facilidade de restauração e manutenção; Estética, as
construções com terra apresentam um caráter de perfeita sincronia com o planeta caracterizado
por um “edifício que respira”, possuindo uma beleza natural. Resumindo, é uma tecnologia
econômica, sustentável, rápida e requer baixo custo financeiro para sua execução, seu
procedimento de construção é simples e pode ser realizado em apoio do cliente ou da
comunidade, além de não necessitar de instrumentos e ferramentas de alta tecnologia. Segundo
Da Silva (2000), “As construções em terra crua representam notadamente a prefeita harmonia do
homem ao seu meio, pois em cada lugar ela se apresenta com características próprias conforme
as exigências do clima e das vegetações locais.”
2. Metodologia
Para a realizar esse trabalho foi necessário coletar informações adquiridas em livros,
artigos e revistas sobre o tema. O levantamento bibliográfico foi realizado buscando
características teóricas, físicas e históricas das técnicas construtivas aqui apresentadas. Além
disso, foi aproveitado o conhecimento da Permacultura, que apresenta fundamentos essenciais
para aplicação dessas técnicas visando o contexto econômico, político e social da atualidade.
3. Resultados e discussão
Fundamentos da Permacultura
A permacultura é um prática de desenvolvimento consciente do espaço humano integrado
a natureza através da elaboração de sistemas orgânicos e renováveis, esse conhecimento foi
desenvolvido na Austrália por Bill Mollison e David Holmgren na década de 70. Segundo Mollison,
esta prática pode ser elabora em pequena escala, uma casa ou jardim, ou em larga escala, uma
comunidade inteira, organizando e estruturando os fluxos de energia que envolvem os elementos
desses sistemas sem que haja a criação de resíduos e que se tenha uma necessidade mínima de
recursos externos. Ou seja, seguindo os fundamentos da permacultura, a construção de um
espaço deve ser dinâmico e sustentável (Dias, Nílson; 2017).
Para a aplicação da permacultura, as técnicas de construção com terra crua são a maneira
mais viável de manter um sistema vivo, e assim um edifício construído com tal material se integra
com o seu entorno de forma harmônica, pois o elemento que foi construído teve origem no próprio
local da construção e a sua futura utilização vai alimentar o sistema de forma que não haverá o
desperdício de energias e sua própria existência não impactará o seu meio (Dias, Nílson; 2017).
Taipa a Mão
A Taipa de Mão é um exemplo dos saberes e técnicas nas quais as edificações
residenciais eram e ainda são construídas em muitas regiões do Brasil (de Carvalho, Miranda;
2015) a taipa foi trazida ao Brasil pelos colonizadores europeus. De origem árabe, a taipa de sebe
3. ou pau-a-pique, chegou a ser utilizada, pelos carpinteiros portugueses na arquitetura naval.
(Lemos, 1979) Quando os portugueses chegaram ao brasil não encontram lugares para se
abrigarem e nem materiais para construam como os q eles tinham na Europa, então improvisaram
casas de barro e assim surgiu a taipa, porem ha registros dessas técnicas de construção
empregadas muito antes do império romano ,no oriente e na África.
Existem dois tipos de construção em taipa, a taipa a mão (figura 1) e a taipa de pilão
(figura 2)
FIGURA 1 - técnica de taipa a mão FIGURA 2 - técnica de taipa de pilão
Por ser um arquitetura vernácula não existem normas regulamentadas, porém,
conseguimos encontrar livros e cartilhas que nos ensinam a construir da melhor forma
possível
A taipa de mão consiste na construção de um quadro de galhos ou de bambu onde
os verticais são cravados no chão e os da horizontal são encaixados ou amarrados,
depois de montada a trama se abre espaço para as janelas como ilustrado no croquí
(figura 3).Os espaços da trama são em fim preenchidos com uma massa de terra (figura
4) que deve conter uma característica arenosa para não tricar, e esse preenchimento é
feito em três etapas para q não sobrem buracos de trincas. Recomenda-se construir a
cobertura com beirais de 50cm à 1m para manter as paredes protegidas de chuvas com
vento, além uma boa fundação com no mínimo 30 cm de altura para que não haja
infiltração de água pelo solo até a parede de taipa.
A massa de terra produzida para a construção da taipa deve conter 1 parte de solo
com 60% de argila e silte e 40% de areia, 1 parte de palha ou capim seco que evitam
rachaduras; e 10% de esterco verde que favorece o alinhamento das partículas de argila
durante o processo de fermentação (Dias, Nílson; 2017) Toda a matéria prima é de fácil
acesso em uma área rural, caso houver necessidade pode optar pela substituição desses
elemento por outros em pequena dosagem, como cal e cimento.
4. FIGURA 3 - croqui casa de taipa a mão FIGURA 4 - casa de taipa a mão
A taipa de pilão é uma técnica evoluída da taipa de mão, no qual se baseia na
compactação desse solo em formas de madeiras amarradas por caniços, estas que podem ter 1
metro de altura a cada 10cm de espessura da forma, a massa é a mesma utilizada na taipa de
mão, porém ela é colocada em camadas na forma e compactadas por um pilão (manual ou
mecânico). Esta técnica é mais vantajosa, pois a resistência obtida é ainda maior, é resistente a
fogo e a cupim além de que o resultado final após a retirada das formas não exige acabamento,
apenas por preferência estética, em contrapartida o uso de terra para a compactação do solo é
muito maior e necessita de uma maior abundância deste material e, assim como a taipa de mão,
esse tipo de construção não permite instalações hidráulicas e elétricas sendo um problema a ser
resolvido durante um projeto.
A técnica de taipa em geral é um sistema construtivo bem inovador que garante o conforto
térmico e acústico do edifício é completamente sustentável, porém a construção deve ser
realizada com cuidado para que não haja riscos para a estabilidade da edificação, como verificar
corretamente a dosagem da massa e sua compactação, outro risco acerca do uso da taipa de
mão é a necessidade de um bom acabamento que deve ser resinado para evitar a umidade, pois
a parede de barro é atrativo para insetos. Nota-se que metade da população mundial vive em
construções de terra (Easton, 2006) e a maior parte utiliza a técnica de taipa, que esta
diretamente relacionada a condição de miséria e instabilidade política em países emergentes. No
brasil há uma grande quantidade de pessoas que vivem em construções de taipa, e falta de
conhecimento e má utilização dessa técnica tornou-se principal motivo para a epidemia de
Chagas, proveniente das fezes do inseto barbeiro que se aloja na parede e contamina os
habitantes. (da Silva, Cláudia; 2000)
Adobe
O Adobe dos mais antigos materiais de construção utilizados no mundo é o tijolo de adobe.
Sua composição traz terra crua, água, palha e fibras naturais, tal como esterco de gado, que são
moldados artesanalmente em formas e cozidos ao sol (Figura 5). Seu uso se concentrou
especialmente nas regiões quentes e secas como no México, Chile e Oriente Médio.
5. FIGURA 5 - blocos de terra crua,
Com a evolução das técnicas de arquitetura, este método de construção foi caindo em
desuso, sendo geralmente substituído pelos tijolos de terra cozido e de cimento. Do ponto de vista
ecológico, este tipo de tijolo se mostra benéfico, pois é um material econômico e que regula a
temperatura interna da construção. Mas seu uso requer algumas ressalvas, uma vez que é
indicado para locais onde haja pouca umidade.
A principal vantagem consiste em ser um material ecológico e sustentável, já que o barro é
um elemento reutilizável, e quando não cozido, pode ser triturado e umedecido para voltar ao
estado original. Sua produção não necessita de grande quantidade de energia e ainda é um
excelente isolante térmico, mantendo a temperatura dos ambientes sempre balanceados. Além
disso, construções de adobe podem absorver até 30 vezes mais umidade do que uma de tijolo
cozido.
O principal problema é que as construções com tijolos de adobe precisam ser protegidas
da umidade, e não são todos os locais onde se pode implementá-lo, já que ele se desintegra
facilmente em contato direto com a chuva. Seu uso também não é próprio para edifícios com mais
de um pavimento. Além disso, o barro não é um elemento padronizado, podendo variar a
quantidade e o tipo de areia, argila e outros agregados de cada lugar onde a terra é extraída.
Outra desvantagem é que ao secar, o barro se contrai e podem aparecer fissuras. Para diminuir
este processo é necessário, enquanto o tijolo seca, mantê-lo sempre umedecido para que não
seque rápido demais.
O Adobe é feito tradicionalmente de forma rústica, apesar de haver alguns tipos produzidos
industrialmente, a técnica de produção tradicional base-se na construção de formas de madeira
no formato retangular, secas e untadas com areia para facilitar o desmonte das formas no qual o
solo é moldado e compactado, a massa aplicada é a mesma usada na técnica do pau a pique,
deve estar umedecida e após a moldagem deve secar naturalmente, o bloco poderá ser utilizado
instantemente após a retirada das formas ou estocado. Para que se construa uma parede
estrutural com adobe, que suporte a cobertura, é necessário que a forma tenha no mínimo 30 cm
de expressar. Com relação ao assentamento dos blocos, eles podem ser ligados por uma massa
de argila com uma pequena quantidade de cimento. (Dias, Nílson; 2017)
Tijolo de solo cimento
O tijolo de solo-cimento (figura 6), também chamado de tijolo ecológico, tijolo modular de
solo-cimento ou bloco de terra comprimida, é produzido da mistura de cimento, água e terra. O
6. solo não pode conter matéria orgânica, pois prejudica a resistência do material. O tijolo é
conformado por uma prensa hidráulica e passa pelo processo de cura, sem ir para a queima. Ele
possuí furos que permitem que a estrutura seja embutida e distribuída pela parede (figura 7),
diminuindo o uso de madeira nas formas do concreto, eliminando os resíduos que resultariam.
Além disso, permite que os sistemas hidráulicos e elétricos sejam embutidos.
FIGURA 6 - Tijolo de solo-cimento FIGURA 7 - Parede de tijolos de solo-cimento
Suas principais vantagens são o fácil assentamento, economia na construção, passagem
das instalações elétricas e hidráulicas sem necessitar romper a alvenaria, o conforto térmico
aumenta, a alvenaria pode ficar exposta ou receber revestimentos (figura 8).
FIGURA 8 - Revestimento em tijolo de solo-cimento
As maior dificuldades se encontram no assentamento da primeira camada do tijolo, que
determina o nivelamento e o prumo das demais fiadas e na escolha do próprio solo. De acordo
com Adriana Pinatti, na “fundação plana, os tijolos são arranjados delimitando paredes e abertura
das portas. A montagem é como um quebra-cabeça. Com todos os encaixes acertados, passa-se
à marcação das colunas com uma furadeira e broca de 15 cm. Os ferros são inseridos nas
colunas e colados com adesivo Compound. A partir daí, é iniciado o assentamento dos
tijolos” (PINATTI, 2016). Além disso, o solo pode conter impurezas que facilmente
comprometeriam a resistência e qualidade do tijolo de solo-cimento, como matéria orgânica,
cloretos e sulfatos. Isso demanda grande gasto com constantes análises do solo e grande número
7. de pessoal qualificado, aumentando seu custo de fabricação, o que levou muitas empresas a
desistirem da fabricação deste tijolo.
O tijolo de solo-cimento precisa atender às normas estabelecidas pela ABNT NBR
8492:2012, ABNT NBR 10833:2012 e ABNT NBR 10834:2012. A fábrica de tijolos de solo-cimento
Tijolo Ponto Eco fabrica tijolos com dimensões de 30x15x7cm (comprimento x largura x altura).
Segundo o fornecedor, um milheiro deste tijolo é capaz de fazer 21m² de parede, sendo, portanto,
necessários cerca de 47,5 tijolos para 1m² de parede. Esse sistema de construção começou a ser
usado no Brasil em 1948, dadas suas inúmeras vantagens, sendo usado em edifícios como o
Hospital Adriano Jorge do Serviço Nacional de Tuberculose, em Manaus (1949). Mas foi apenas
em 1978 que começou a ser utilizado para a construção de habitações populares.
4. Conclusões
Concluindo as informações aqui apresentadas, pode-se constatar que tanto os métodos
ancestrais como os inovadores podem ser muito bem aplicados a nossa vida moderna, se forem
bem pensadas e executadas, as obras com materiais a base de terra tornam-se soluções
ecológicas e acessível a qualquer comunidade e este material substitui com total eficiência a
alvenaria tradicional. Além disso, optar por técnicas como esta não é apenas uma iniciativa de
melhor rendimento de uma construção e sim uma responsabilidade que se deve a cada indivíduo
no seu papel de cidadão e no seu dever de cuidar do planeta. Esta e outras técnicas e práticas, tal
como a permacultura que foi apresentada neste trabalho, são conhecimentos fornecidos para
melhorar a existência humana na terra, e devem ser aplicados e compartilhados com
comprometimento e responsabilidade.
5. Referências Bibliográficas
TIJOLO ECO PONTO. Conheça o tijolo ecológico. 2017, Disponível em: <http://www.tijolo.eco.
br/tijolo-ecologico/conheca-o-tijolo-ecologico/>. Acesso em 06/11/2017.
PINATTI. 8 Perguntas sobre tijolo ecológico. 2016, Disponível em: <https://www.aecweb.com.br
/cont/m/rev/8-perguntas-sobre-tijolo-ecologico_9601_0_1> . Acesso em 06/11/2017.
PINI. Alvenaria de solo-cimento. 2004, Disponível em: <http://techne17.pini.com.br/engenharia-
civil/85/artigo286284-1.aspx>. Acesso em 08/11/2016.
PENSAMENTO VERDE. As vantagens e desvantagens do tijolo de adobe. 2013, Disponível
em: <http://www.pensamentoverde.com.br/arquitetura-verde/vantagens-desvantagens-tijolo-
adobe>. Acesso em 09/11/2017.
DIAS, Nilson. Permacultura para organização e casas ecológicas, guia prático para
economia de recursos e projetos sustentáveis. 2017, Instituto Pindorama, ed. Viena Gráfica &
Editora.
Da SILVA, Cláudia. Conceitos e preconceitos relativos às construções em terra crua. 2000,
Dissertação de Mestrado em Saúde Pública - Fundação Oswaldo Cruz. Acesso em 04/11/2017.
IMBROISI, Margaret. Construindo com taipa de mão e de pilão. 2016, Disponível em: < http://
www.historiadasartes.com/sala-dos-professores/construindo-com-taipa-de-mao-e-de-pilao/>.
Acesso em 09/11/2017.
FARIA, Paulina. Construção em terra crua. Tecnologias, potencialidades e patologias. 2007,
Revista MUSA, nº2 (p. 149-155), ed. FIDS/MAEDS