1. XXIX ENCONTRO REGIONAL DE ESTUDANTES DE
ARQUITETURA E URBANISMO DA REGIONAL CENTRO EREA
CHAPADA 2016
ESTABILIZAÇÃO SUSTENTÁVEL DE CASARÃO NO CENTRO HISTÓRICO DE
CUIABÁ
Diane dos Santos Oliveira (dianeoliveira.arquitetta@gmail.com)
Universidade de Cuiabá.
Amélia Hirata (amelia.hirata@iphan.gov.br)
Superintendência Estadual do Instituto do Patrimônio Histórico, Artístico Nacional em Mato Grosso.
Maria Elisa Campos Pereira
(elisa.pereira@iphan.gov.br)
Superintendência Estadual do Instituto do Patrimônio Histórico, Artístico Nacional em Mato Grosso.
RESUMO: Este artigo apresenta um trabalho de pesquisa e de dados sobre a utilização sustentável do adobe na
obra para a estabilização do Casarão do Beco Alto, localizado no centro histórico de Cuiabá/MT exatamente na
rua de Cima onde se construíam as melhores casas e sobrados. Atualmente a rua é denominada de Pedro
Celestino. O objetivo deste estudo é demostrar que o reuso dos resíduos da construção civil, além de contribuir
para reduzir a quantidade de lixo produzido em canteiro de obras, é um exemplo emblemático, por se tratar de
uma intervenção em um casarão tombado como patrimônio histórico em nível nacional e portanto, com grande
significado para a história da cidade onde esta inserido. Esse exemplo é importância para mostrar que casarões
históricos tanto na capital como no estado todo são possíveis uma restauração de modo mais econômico,
sustentável e minimizando as interferências e agressões nesses patrimônios históricos que contam a historia de
um lugar de seu povo. Nas páginas a seguir serão apresentados um breve histórico do adobe, as principais
características do material, o histórico do imóvel estudado e a descrição da obra de sustentabilidade com
utilização dos tijolos de adobe.
Palavras-chave: Técnica Construtiva. Adobe. Sustentabilidade.
Sustainable stabilization old house in Cuiaba History Center
ABSTRACT: This article presents a research paper and data on the sustainable use of adobe in the work of
stabilizing the Alley Upper Big House, located in the historic center of Cuiabá / MT. The objective of this study
is to demonstrate that the construction waste reuse, and help reduce the amount of waste produced in the
construction site, is an emblematic example, because it is an intervention in a big house listed as heritage at the
national level and therefore, with great significance for the city's history. The following pages will be presented a
brief adobe history, the main features of the material, the property studied history and description of the work of
sustainability with the use of adobe bricks.
Keywords: Constructive technique. Adobe brick. Sustainability
2. OLIVEIRA, S. D; HIRATA, A.; PEREIRA, M. E. C..
Estabilização sustentável de casarão no Centro Histórico de Cuiabá.
1_INTRODUÇÃO
O presente artigo torna pública a obra de estabilização estrutural em casarão histórico
pertencente ao conjunto tombado pela União, no centro de Cuiabá.
O sobrado, antes dos trabalhos de estabilização, apresentava inúmeras patologias, tais como
apodrecimento das bases de esteios, lixiviação das paredes de adobe, presença de xilófagos
nas estruturas de madeira da cobertura, perda de seção de parede, rachaduras, dentre tantas
outras.
Diante da situação fatídica em que se encontrava o imóvel, foram contratados serviços
emergenciais para estabilizar o casarão. Uma empresa especializada em restauro e com larga
experiência em recuperação de bens tombados com sistema construtivo de alvenaria de terra
crua foi responsável pela sua execução.
A intervenção estrutural em um sobrado, cujo sistema construtivo é composto por alvenaria
de terra crua na sua parte mais antiga e por tijolos cozidos e maciços, nos trechos ampliados,
contemplou nas paredes originalmente de adobes a sua reconstrução com o mesmo sistema
construtivo e com o material remanescentes dos tijolos antigos.
Trata-se de um caso emblemático na cidade de Cuiabá, pois a estabilização do casarão que
vem sendo mencionado em várias publicações de autores locais, como por exemplo, pelo
autor Lenine C. Povoas, contribui para incentivar a adoção de métodos construtivos mais
sustentáveis, que apresentem possibilidades de reutilização ou reciclagem de resíduo de obra,
o que resultará em diminuição de custos e mais eficiência no resultado final.
2_BREVE HISTÓRICO DO ADOBE
O adobe nada mais é do que um tipo de tijolo cru (feito de terra e água), moldado em formas
de madeira ou metal, que logo após a moldagem é seco ao sol, sem a necessidade de queima.
É considerado um material sustentável, pois sua matéria-prima é extraída da natureza e sua
fabricação não emite nenhum tipo de gás poluente para a atmosfera. Dessa forma, Conte e
Freire (2005, p.45) denominam o adobe como:
[...] grandes tijolos de barro cru, assim como a taipa, feitos numa mistura ideal de
uma argila e um anti-plástico e secos ao sol. Devido ás suas grandes dimensões e
peso, são feitos próximos ao local onde deverá ser realizada a construção, evitando o
seu transporte. As construções tanto em taipa como em adobe, as vezes possuem
uma estrutura em madeira que dá amarração ás paredes, Essa estrutura tanto pode
ser aparente quanto embutida dentro da própria parede.
O tijolo de terra crua é um material muito antigo. Há indícios da sua utilização na construção
de grandes monumentos, já no Antigo Egito e Mesopotâmia. São tijolos compostos por terra
crua, água e palha e algumas vezes outras fibras naturais, moldados em formas por processo
artesanal ou semi-industrial. Há referências na Bíblia sobre tijolos de barro cozidos ou tijolos
de terra crua com palha, amassados com os pés.
O adobe aparece no Brasil com os portugueses no período colonial. Neste momento, a mão de
obra era escrava, os materiais para construção de moradias eram precários. Esses tijolos foram
muito utilizados nas construções do Norte, Nordeste e Centro Oeste, principalmente em
igrejas. Posteriormente, já no século XVI houve predominância nos engenhos e cidades rurais.
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Estabilização sustentável de casarão no Centro Histórico de Cuiabá.
Mesmo assim, o adobe foi lentamente abandonado e outras técnicas construtivas foram
surgindo. Entretanto, atualmente há uma corrente de pensamento que defende a arquitetura
ecológica e sustentável, o que trouxe à tona essa técnica que não provoca desmatamento e a
emissão de gás carbônico na atmosfera, como acontece com os tijolos cozidos.
2.1 Características do adobe
Esse tijolo seco ao sol, composto também, por matéria orgânica torna-se muito resistente.
Além disso, o barro utilizado na sua confecção apresenta alta capilaridade e é um isolante
térmico, que suporta muito bem as altas temperaturas, o que deixa o interior das casas mais
fresco e arejado. Devido essa característica também é muito utilizado em regiões quentes e
secas.
Para evitar infiltrações nesse tipo de construção executada sobre fundações de pedra, cerca de
60 cm acima do solo, as paredes devem ser revestidas para protege-las da água da chuva. Por
isso, a edificação pode ser construída em período de seca para garantia de maior durabilidade
do adobe.
Figura 01: Casa em Cuiabá construída com adobe.
Como todo material, esses tijolos apresentam vantagens e desvantagens.Uma grande
vantagem é o material ser ecológico e sustentável, pois os tijolos não são queimados, são
resistentes para a construção civil e o barro utilizado na sua confecção, pode voltar novamente
ao estado original, quando triturado e umedecido. Soma-se a isso, o fato do adobe ser um bom
isolante térmico que ajuda manter a temperatura do ambiente e também absorve bem a
umidade.
Porém, o principal problema é que as construções com tijolos de adobe precisam ser
protegidas da umidade, e não são todos os locais onde se pode implementá-lo, já que ele se
desintegra facilmente em contato direto com a chuva. Seu uso também não é próprio para
edifícios com mais de um pavimento. Além disso, o barro não é um elemento padronizado e
pode variar a quantidade e o tipo de areia, argila e outros agregados de cada lugar onde a terra
é extraída. Outra desvantagem é que ao secar, o barro se contrai e aparecem fissuras. Para
diminuir este processo é necessário, enquanto o tijolo seca, mantê-lo sempre umedecido para
que não seque rápido demais.
2.2. Fabricação do tijolo de adobe
A técnica de fabricação consiste em confeccionar tijolos de barro com formas retangulares
através de processo de secagem natural em descanso para formação das paredes. Hoje, os
Fonte: Arquivo fotográfico do Misc-Museu da Imagem e do som de Cuiabá, sem data identificada.
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tijolos de adobe representam uma boa alternativa aos tijolos cerâmicos convencionais
levando-se em consideração o fato de diminuir o consumo de energia e desperdícios de
material da obra.
Nesse sentido, a técnica a ser utilizada pode ser uma mistura mais seca ou mais úmida e o
barro agrupado junto com água e certos aditivos. A proporção exata de areia e argila deve ser
de 1:1 até 2:1, porque quantidades menores deixam a massa muito mole.
Ao se colocar fibras, grãos e folhas secas a mistura proporciona um barro mais estável e com
isso, a massa fica estabilizada e melhor produto final. Existe outra forma de criar uma mistura
mais estável, ou seja, adicionar cimento, cal ou cinzas para o resultado de uma liga mais
resistente.
É importante que essa mistura seja bem amassada e peneirada para obtenção de resultado
homogêneo e posterior descanso à sombra por mais ou menos dois dias antes da mistura
novamente.
A próxima fase é a colocação do barro nas formas que podem ser confeccionadas em madeira
ou plástico resistente. O importante é que os tijolos de adobe tenham o comprimento duas
vezes maior que a largura. Mesmo assim, outras dimensões podem ser confeccionadas,
precisando de mais atenção no seu processo de secagem.
Para isso, o barro já com a consistência certa é colocado nas formas até preencher por igual
todos os cantos. Ao retirar os tijolos das formas eles não devem ter a consistência de borracha.
Esse processo está ilustrado na figura 02 a e b, respectivamente, abaixo:
Figura 02: Ilustração de formas para fabricação de adobe
Ainda assim, o tijolo não deve desmoronar, nem ter suas quinas despedaçadas ou
afundamentos nas faces. Após ser retirado da forma, este deve ser posto para secar. O ideal é,
antes de começar a etapa, alisar as faces com uma espátula. Logo que o tijolo é retirado da
forma, deve-se lavá-la para utilização novamente.
Esse processo de secagem depende muito do clima no local, porque quando feito com tempo
quente e seco o ciclo se completa mais rapidamente. Na primeira fase dessa etapa é
importante que os tijolos fiquem expostos diretamente ao sol, para a retirada da umidade.
As peças devem ser manuseadas com cuidado. O ideal é que descansem sobre esteios de
madeira limpa, pois esta absorve um pouco da água ao contato com o bloco. Contudo, nesta
.
Fonte: Alvenaria de adobe - site- http://pt.slideshare.net/abianchipaula/arquitetura-do-brasil-adobeequipe-14
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etapa deve-se tomar cuidado com as intempéries, pois os tijolos por estarem descobertos não
devem receber chuva.
Figura 03: lustração de formas para a fabricação do adobe.
Após a fase de secagem deve-se analisar se os blocos feitos não estão trincados ou esfarelados
para posterior descanso à sombra dos mesmos. Em todo o processo os adobes devem ser
virados para secagem homogênea. Por fim, a armazenagem precisa ser em local seco.
3_BREVE HISTÓRICO DO CASARÃO DO BECO ALTO
O Casarão do Beco Alto está localizado na antiga rua de Cima onde se construíam as
melhores casas e sobrados. Atualmente a rua é denominada de Pedro Celestino. O imóvel
assobradado é conhecido popularmente como “Casarão do Beco Alto”, pois encontra-se em
no alto e em frente à uma escadaria no prolongamento da rua dos Bandeirantes.
Possui um grande significado para Cuiabá e para o Centro Histórico por ter sido um dos
primeiros sobrados construído na região de início da cidade ainda no período colonial, entre o
final do século XVIII e início do século XIX. Curioso é que supostamente esse imóvel foi
uma casa térrea como mostra a figura 04 a seguir:
Figura 04: Localização do Casarão do Beco Alto.
No livro Sobrados e Casas Senhoriais de Cuiabá, Póvoas (1980, p. 37), evidencia a existência
de poucos sobrados no Centro histórico “Apesar de tudo, antigos sobrados vêm resistindo, em
Cuiabá a ação do tempo e, em certos casos, a ação de maus administradores ou ao desprezo
pelo seu valor histórico por parte de seu proprietário”.
Esses raros exemplares de sobrados em Cuiabá possuíam uma arquitetura característica com
alinhamento da edificação nas calçadas, grandes quintais longitudinais para plantações de
frutas e obtenção de sombra, com muitas portas e janelas para a ventilação e iluminação
Fonte: Fabricando tijolos de adobe- site-https://kdcs.wordpress.com/2009/07/29/fabricando-tijolos-
de-adobe/
Fonte: REIS, Nestor Goulart. Imagens de Vilas e Cidades do Brasil Colonial. (Uspiana – Brasil 500 Anos).
Organizado por Araújo, F.A.P.
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natural. Nas fachadas existiam beirais para apoio das telhas coloniais, as portas no centro e
janelas correspondiam às peças da casa, conforme se verifica na figura 05 a seguir:
Figura 05: Foto do Casarão do Beco Alto e desenho da configuração dos sobrados coloniais.
Segundo Goulart (2006, p. 22), “No Pará ou no Recife, em Salvador ou em Porto Alegre,
encontra-se ainda hoje casas térreas e sobradas dos tempos coloniais, edificados em lotes mais
ou menos uniformes, com cerca de dez metros de frente e de grande profundidade. ” Nesse
livro o autor menciona características dos lotes, casas e sobrados em vários estados brasileiros
e evidencia que em vários lugares distintos, inclusive em Mato Grosso, há uma arquitetura
colonial compartilhada com características próprias.
Em particular, o Casarão do Beco Alto possui características de casa geminada, com
influências indígenas, árabe e portuguesa com telhado cerâmico colonial. Em sua
configuração interna, a área de serviços era ao fundo e os quartos no pavimento superior, por
ser um local mais privativo e de pouco acesso, como se verifica na figura 06, na sequência.
Figura 06: Foto das plantas baixas e planta de cobertura do casarão.
3.1_ Sustentabilidade no Casarão do Beco Alto
O Casarão do Beco Alto pertence ao conjunto tombado pelo IPHAN - Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional por enquadramento no Decreto-Lei nº 25, de 30/11/37. O
tombamento provisório do conjunto pela União Federal data de 1987 e a sua homologação, de
1992.
Fonte: Mini-curso de Vivencia Patrimoniais, da Teoria à Prática - ministrado pelo arquiteto Francisco
de Assis no período de maio de 2015.
Fonte: Livro: Sobrados e Casas Senhoriais de Cuiabá e Quadro da Arquitetura no Brasil e arquivo
fotográfico do Misc-Museu da Imagem e do som de Cuiabá.
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A obra de estabilização estrutural realizada pelo IPHAN no imóvel, neste ano de 2015,
proporcionou sua reestruturação, minimizando o risco de arruinamento do bem ou de
desabamento do mesmo. Essa medida tornou-se necessária devido à presença de diversas
patologias na edificação, como pode ser observado no mapeamento apresentado na figura 07,
a seguir.
Figura 07: Foto das Patologias do Imóvel.
A partir da identificação e da catalogação de todas essas patologias, tais como fissuras e
trincas nas paredes, perda de material de vedação e de cobertura, presença de xilófagos,
umidade, entre outros, percebeu-se o comprometimento do imóvel. Foi possível ainda
identificar na fachada partes de elementos em adobe, pedra canga e tijolo maciço escondido
por um revestimento branco.
O adobe foi empregado em vários locais do casarão. Pautado no pensamento de preservação
e restauração, surgiu a ideia de fazer novos tijolos para recompor as paredes, a partir da
matéria prima já existente, no caso, os tijolos de adobe antigos despedaçados. A alternativa de
reaproveitamento do resíduo original veio a contribuir para a sustentabilidade na obra, pois
reaproveitou o barro no seu estado original e diminuiu a quantidade de lixo e resíduos no
canteiro.
Sobre os materiais do casarão, Póvoas (1980, p. 42) escreve que:
“O sobrado é construído de adobes de tamanho excepcional, travados as suas
paredes com grossas e possantes esteios de madeira e coberto com telhas que
também chamam atenção pelas suas medidas fora do comum, atingindo o
comprimento das mesmas a 90 centímetros”.
Na figura 08, a seguir, é possível observar os sistemas construtivos empregados no casarão,
evidenciando que supostamente o imóvel foi bastante modificado pelo tempo com pequenas
reformas ou reparos e a utilização de elementos posteriores ao adobe.
Figura 08: Foto dos tipos de elementos construtivos empregados no casarão do Beco Alto.
Fonte: Mini-curso de Vivencia Patrimoniais, da Teoria à Prática - ministrado pela arquiteta
Maria Elisa Iphan-MT no período de maio de 2015.
8. OLIVEIRA, S. D; HIRATA, A.; PEREIRA, M. E. C..
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Para a estabilização do casarão, que permanecia em total abandono até o início das
intervenções do IPHAN, foram necessários estudos sobre a situação das fundações, a
possibilidade de retirada de vigas e barrotes, cobertura e alvenaria de vedação, devido a
situação precária em que o imóvel se encontrava antes dos serviços interventivos, como
demonstra a figura 09, abaixo:
Figura 09: Foto do estado que o imóvel se encontrava.
Os serviços contratados para casarão foram:
• Limpeza geral da edificação e terreno:
• Remoção do forro existente;
• Retirada do assoalho danificado;
• Escoramento por meio de pontaletes;
• Fechamento de vãos (com adobe);
• Proteção de corrimão;
• Revestimento de alvenaria danificada;
• Enchimento de brechas, trincas, etc.;
• Execução de sobrecobertura;
Fonte: Mini-curso de Vivencia Patrimoniais, da Teoria á Prática - ministrado pela arquiteta Maria
Elisa do Iphan-MT, no período de maio de 2015.
Fonte: Mini-curso de Vivencia Patrimoniais, da Teoria á Prática - ministrado pela arquiteta Maria
Elisa do Iphan-MT, no período de maio de 2015.
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• Substituição da estrutura da cobertura
• Substituição da cobertura com telhas coloniais;
• Substituição de frechais;
• Reforço estrutural com amarração de paredes;
• Prospecções estruturais.
Ainda nessa primeira fase, bem ilustrada pela figura 10, na limpeza geral da edificação e do
terreno é que se identificou a decomposição em algumas paredes do adobe original. Neste
contexto, vislumbrou-se a possibilidade de reaproveitamento do material depositado dentro do
imóvel, pois havia muito barro dos adobes dentro dos ambientes em decorrência da lixiviação
dos blocos pela ação da água das chuvas facilitada pela ausência parcial da cobertura do
casarão. A ideia resultou em uma alternativa mais sustentável e de custo reduzido para a obra.
Figura 10: Foto da fase de limpeza do imóvel e sedimentos de adobe na parede.
Ao se refazer esses tijolos de adobe proporcionou-se uma obra mais sustentável e um canteiro
mais eficiente com menos resíduos para ser descartado posteriormente. Estima-se que 30%
dos resíduos sólidos urbanos são gerados pela construção civil nos canteiros de obra, isso
ocasiona um grande impacto nos aterros das grandes cidades.
Os adobes fabricados para a vedação das paredes internas são feitos no próprio local, num
canteiro de obra ao fundo da edificação e no grande quintal longitudinal. São confeccionados
de forma muito simples e econômica e a mão de obra não precisa ser especializada e nem
necessita de equipamentos específicos. A massa é preparada em betoneira. As formas
possuem dimensão de 40 x 19 x 20 cm e a secagem em Cuiabá é feita a sol e a sombra
demorando uma semana em média para a sua utilização. Dessa forma esse tipo de sistema
construtivo torna-se um excelente atrativo.
Como já foi mencionado, o objetivo principal de uma intervenção em um casarão histórico é
preservar a sua identidade e a sua história. Deste feita, os tijolos de adobe foram produzidos a
partir de uma argamassa desenvolvida com os adobes antigos, a partir das ideias de
restauração de Camillo Boito (2003, p.60-61) que diz: “É necessário fazer o impossível, é
necessário fazer milagres para conservar no monumento o seu velho aspecto artístico e
pitoresco”.
Nas fotos 11 e 12, abaixo, tem-se os novos tijolos de adobe produzidos no próprio local:
Fonte: Mini-curso de Vivencia Patrimoniais, da Teoria á Prática - ministrado pelo engenheiro Adriano
Barros do Iphan-MT no período de maio de 2015.
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Figura 11: Fotos da fabricação dos tijolos de adobe no canteiro de obra.
Figura 12: Fotos da fabricação dos tijolos de adobe no canteiro de obra.
Esses blocos de adobes foram recolocados com aplicação de argamassa nas paredes internas
que já haviam desmoronado, conforme mostra a figura 13, abaixo:
Figura 13: Fotos da aplicação dos tijolos de adobe nas paredes.
Fonte: Mini-curso de Vivencia Patrimoniais, da Teoria á Prática - ministrado pelo Engenheiro Adriano
Barros do Iphan-MT no período de maio de 2015
Fonte: Mini-curso de Vivencia Patrimoniais, da Teoria á Prática - ministrado pelo Engenheiro Adriano
Barros do Iphan-MT no período de maio de 2015
Fonte: Mini-curso de Vivencia Patrimoniais, da Teoria á Prática - ministrado pelo Engenheiro
Adriano Barros do Iphan-MT no período de maio de 2015.
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Atualmente essa etapa de colocação dos adobes encontra-se finalizada e o imóvel limpo. A
obra foi entregue no final do mês de setembro. Aos poucos, o sobrado volta a ser o
imponente casarão de antigamente, como observado na figura 14 abaixo:
Figura 14: Fotos atualizadas da fachada do Casarão do Beco Alto.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A obra de estabilização do casarão do Beco Alto busca garantir a preservação do imóvel da
área tombada do conjunto. É a primeira intervenção feita pela Unidade do IPHAN em um
sobrado na capital. Trata-se, portanto, de uma obra que embora incomum, caracterizou-se
pelo viés sustentável, ao optar pela fabricação dos tijolos de adobe, em canteiro de obra com
material original remanescente.
Esse elemento construtivo pode ser dito como sustentável por não agredir o meio ambiente e
sua matéria prima ser abundante e fácil acesso no país e seu processo de fabricação todo
artesanal.
Essa é uma iniciativa particular e isolada que contribui para um canteiro de obras, um sistema
construtivo e uma habitação mais sustentável. Ainda que o imóvel seja uma residência
tombada como patrimônio histórico e a intervenção não seja um restauro , é válida a
divulgação e o conhecimento público dessa ação que contribuiu para a melhoria e a
preservação da integridade física e da originalidade desse imóvel de valor histórico para a
memória da população cuiabana.
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