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Fevereiro de 2022
Centenário da Semana
de Arte Moderna de 22
É apenas agitação é um misto de
reconstituição de cena literária, retrato de
época e crítica cultural, temos aqui não apenas
a reunião das entrevistas feitas pelo redator
intrépido de O Jornal, como também a nossa
reflexão crítica que acompanha cada uma
delas, com análise das respostas e sua
contextualização. Com esse projeto, colocamos
em primeiro plano a entrevista, gênero literário
que muitas vezes passa despercebido e é
indissociável da vida literária.
Sobre a minha trajetória
Sou mestra em Teoria Literária pela PUC-Rio, atuo há 20 anos no mercado de livros como
livreira, curadora de acervos e produtora de eventos com especialidade nos eixos temáticos
antirracistas, indígenas e estudos de gênero. Atualmente, pesquiso o mercado das editoras
independentes, de conteúdos insurgentes e literaturas periféricas. Participei do Centro
Acadêmico de Letras, fui monitora no Departamento de Letras desenvolvendo projetos em
pesquisa, produção de exposições e atividades culturais. Fui estagiária na Revista Poesia
Sempre, da Fundação Biblioteca Nacional, entre outras atividades ligadas ao setor do
mercado do livro. Atualmente, presto serviço de curadoria, participo como conselheira
suplente da sociedade civil no PMLLLB - Plano Municipal do Livro, Leitura, Literatura e
Biblioteca de São Paulo e me dedico a divulgar as entrevistas deste livro.
Sobre a publicação
Inicialmente, não havia pretensões de fazer uma edição impressa desta dissertação de
mestrado, porém, como as entrevistas de Peregrino Júnior ainda permaneciam inéditas, e
com a proximidade do centenário da Semana de 22, achei oportuno editar este material e
entregá-lo ao público.
Como começa essa história:
Estas entrevistas foram descobertas por Gilberto Mendonça Teles no
livro de Peregrino Júnior chamado O Movimento Modernista (1954),
livro de referência muito traduzido e utilizado em pesquisas no
exterior, e que tem origem numa das palestras internacionais
proferidas por PJ sobre a cultura brasileira.
Gilberto Mendonça Teles, poeta, crítico literário e professor, formou ao
longo de sua vida um acervo com manifestos das vanguardas
europeias e do modernismo brasileiro, além de outros registros como
as entrevistas. Inclusive, acaba de sair agora em 2022 a 21ª edição
do livro de referência Vanguarda Europeia e Modernismo
Brasileiro, com a novidade: “As vanguardas no Brasil e na
Hispano-América”, que é a apresentação da coleção Vanguardia
latinoamericana, publicada em seis volumes junto com o pesquisador
Klaus Muller-Bergh, pela Iberoamericana, em Madri.
No início do mestrado na PUC-Rio, o professor Gilberto ofereceu uma
disciplina chamada “A entrevista como gênero literário” e aí
começamos a reunir e trabalhar nesse material que PJ mencionou em
seu livro.
Essa primeira série de entrevistas com 10 acadêmicos foram
encontradas em páginas de O Jornal (1926) que fazem parte do
acervo da Fundação Biblioteca Nacional. No processo da pesquisa, o
acesso ao material foi bem difícil, não foi possível manusear o jornal
diretamente, e as transcrições foram feitas a partir dos microfilmes, o
que dificultou bastante a leitura.
Ainda há uma série complementar, de 1926 mesmo, a ser estudada e
publicada, que contém entrevistas inéditas de PJ com Graça Aranha,
Paulo Prado, Mário de Andrade, Ronald de Carvalho, Manuel
Bandeira, Aníbal Machado, Álvaro Moreyra, Carlos Drummond de
Andrade, Emílio Moura, Abgar Renault, entre outros.
Peregrino Júnior foi jornalista, médico, contista e ensaísta, nasceu em Natal, RN.
Ainda estudante exerceu grande atividade jornalística. Ele próprio lançou A Onda,
jornal em que escreveu um artigo contra o diretor da Escola Normal e professor do
Ateneu, o que custou-lhe a expulsão do colégio. Ainda em Natal, funda mais dois
jornais: A Gazeta de Notícias e O Espectador. Proibido de estudar na sua cidade,
mudou-se em 1914 para Belém, onde terminou o curso secundário. Em A Folha da
Tarde ocupou, gradativamente, as funções de suplente de revisor, repórter de polícia
e redator. Trabalhou, ainda, em A Tarde e A Rua, além de secretariar A Semana.
Fundou e dirigiu A Guajarina, antes de iniciar os estudos de Medicina. Em 1920
fixou-se no Rio de Janeiro, numa pensão de estudantes e candidatos a escritores.
Trabalhou na imprensa, como escrevente na Gazeta de Notícias, e começou a
produzir literatura. Trabalhou por um tempo na Central do Brasil, onde teve como
companheiro de trabalho Pereira da Silva, a quem sucedeu na Academia.
Organizou e publicou uma antologia de Ronald de Carvalho e escreveu ensaios
sobre José Lins do Rego, Graciliano Ramos e estudos sobre temas da literatura
brasileira. Por ser cunhado de Ronald de Carvalho, PJ teve acesso a informações
de bastidores da Semana de 22 e do movimento futurista-modernista no Brasil.
Fonte da foto e
informações:
site da ABL.
Alguns desses detalhes estão na entrevista que Gilberto Mendonça Teles realizou com Peregrino
Júnior em 1975, inédita e que está publica em nosso livro. Destaque para algumas obras - como
médico talentoso, Peregrino Júnior experimenta em algumas obras o hibridismo de
literatura-ensaio-medicina.
Vida fútil, 1923
Jardim da Melancolia, 1926
O cangaceiro Zé Favela, 1928
Um drama no seringal, 1929
Puçanga, 1929
Matupá, 1933
Histórias da Amazônia, 1936
Interpretação biotipológica das artes plásticas, 1936
Doença e constituição de Machado de Assis, 1938
Testamento de uma geração, 1944
Panorama cultural da Amazônia, 1960
Ronald de Carvalho, poesia e prosa, 1960
A mata submersa, 1960
José Lins do Rego, romance, 1966
Língua e estilo de José Lins do Rego, 1968
Da entrevista inédita de Peregrino Júnior para Gilberto Mendonça Teles, destaco estes
trechos saborosos em humor:
Foi exatamente quando abriu O Jornal e o Frederico Barata (que era irmão do Amilton
Barata) que muito meu amigo, me conhecia desde o Pará, disse para mim: Peregrino, você
vai tratar comigo no Jornal e fará no O Jornal a cobertura dos acontecimentos literários e
intelectuais. E eu fiquei fazendo isto quando estourou o movimento modernista em São
Paulo. O movimento modernista me deu um grande entusiasmo, desencadeou no meu
espírito uma adesão de entusiasmo e simpatia, e então eu passei a ser escrita do
modernismo no Rio; eu não aderia ao modernismo, eu fazia propaganda do modernismo,
quando os modernistas se reuniam, e eu ainda me lembro, dum grande almoço oferecido a
Ronald de Carvalho no Lido, muito diferente do que é hoje, em que o orador oficial foi Graça
Aranha, que não falava de improviso, levou o discurso escrito, que era um dia de chuva
como hoje, e ele começa o discurso: Neste dia de sol e brilho, e céu azul (estava chovendo
torrencialmente) coisa que saudava com muita graça Ronald de Carvalho, nós achamos
muita graça.
Neste dia também eu entrevistei alguns modernistas que estavam lá, de repente, um deles
foi Mario de Andrade, eu perguntei a opinião dele sobre a Academia, e ele disse:
A Academia é um motor de quarenta cavalos.
Eu, já, publiquei a sensação no dia seguinte, ele me procurou muito aflito e disse: Seu
Peregrino, que coisa, você me comprometeu com meus amigos da Academia, e não quero
fazer inimizades, eu não sou homem de ofender a ninguém, não considero..., aquilo foi
uma pilhéria.
Eu assumi as responsabilidades, dei uma nota que aquilo tinha sido uma invenção minha,
uma frase literária, que o Mario não tinha nenhuma culpa, e me culpei da responsabilidade
de uma coisa que achei gozadíssima.
Peregrino Júnior entra para a ABL em 1945.
A inspiração para o título do livro: faço aqui um agradecimento especial à
Josélia Aguiar, pois em sua leitura atenta pinçou a frase polêmica de Coelho
Neto e batizou com ela este livro. Evoé!
Nas palavras de Peregrino Júnior, Coelho Neto era o homem mais detestado
pelos modernistas, tal fato se deve pelo discurso que deu após o manifesto de
Graça Aranha na ABL, se auto intitulando como “o último heleno”. Filho da
miscigenação de colonizador português e de índia nativa, nasceu em Caxias,
Maranhão, no dia 21 de fevereiro de 1864 e faleceu no Rio de Janeiro, em 28
de novembro de 1934.Era presidente da Academia Brasileira de Letras por
ocasião da primeira série de entrevistas de PJ, e declarou sobre o momento
literário a partir da Semana de 22:
Que penso sobre o momento literário? Penso que é apenas uma agitação,
que não nos dará um resultado aproveitável como produção. Foi uma
tempestade que passou, escurecendo o céu e nele abrindo, de quando em
quando, relâmpagos que deixavam ver o fundo tenebroso. Há tempestades
úteis, não nego; esta, porém, parece-me da natureza das que apenas arrasam.
Esperemos os dias da bonança, para ver o que ficou desse chamado ciclone
literário.
Parte 1 - A entrevista literária no brasil
Até 1900, a entrevista literária era praticamente
inexistente no Brasil, ao contrário dos EUA que
já em 1830 fazia circular jornais e tímidos
suplementos literários, e da França que em
1884 já publicava entrevistas no Le Petit
Journal. É entre 1904 e 1905 que surge num
jornal carioca a primeira grande série de
entrevistas literárias. João do Rio, cronista da
época, publica nas páginas da Gazeta de
Notícias, as respostas de quase quarenta
escritores e críticos da cultura,entre eles:
No Metrópole à beira-mar: o Rio moderno dos anos
20, Ruy Castro informa a existência de pelos menos 15
jornais diários. Entre eles está O Jornal.
Parte 1 - A entrevista literária no brasil
Olavo Bilac, Julia Lopes de Almeida, Sylvio Romero, Coelho Neto, Medeiros e
Albuquerque, Afonso Celso, Felix Pacheco, Osório Duque Estrada, Rodrigo Otávio,
Laudelino Freire, Raymundo Correia, ao seu inquérito, chamado de O Momento Literário.
Omitiram-se Machado de Assis, Graça Aranha, Aluízio Azevedo, Arthur Azevedo e José
Veríssimo. Essas entrevistas foram editadas em livro em 1907. Atualmente é possível fazer
impresso ondemand.
A origem da novidade foi a publicação francesa chamada Enquête sur l’ evolution
littéraire, de Jules Huret, uma série de entrevistas publicadas nas páginas de L’echo de
Paris, em 1891. Esta foi a primeira série de entrevistas(7), na França, a reunir autores
notáveis que discursavam e revelavam o seu pensamento sobre o naturalismo, o
simbolismo e o parnasianismo.
Essas entrevistas foram trazidas por Medeiros e Albuquerque, que tratou prontamente de
passá-las para João do Rio, que formatou a ideia para aplicar nas páginas brasileiras. E
digo que foi no ambiente jornalístico que surgiu o gênero.
Parte 1 - A entrevista literária no brasil
Das páginas dos jornais para as páginas dos livros, depois teríamos até 2002 as
publicações:
Falam os escritores (1941), de Silveira Peixoto; A república das letras (1957), de
Homero Senna; Escritores brasileiros contemporâneos (1960), de Renard Perez; De
corpo inteiro (1975), de Clarice Lispector; De conversa em conversa (1976) e Palavra
puxa palavra (1982), de José Afrânio Moreira Duarte; Palavra de poeta (1989), de
Denira Rozário; Auto-retrato (1991), de Giovanni Ricciardi; Viver e escrever (1992), de
Edla van Steen; Inventário das sombras (1999), de José Castello e Cadernos de
Literatura,do Instituto Moreira Sales. Posteriormente, foram lançadas mais duas
publicações que podemos somar à listagem acima: 21 escritores brasileiros (2001), de
Suênio Campos de Lucena e Escritores (2002), de Eduardo Maretti.
Cópias das entrevistas que fazem parte
da dissertação a partir de microfilmes de
O Jornal (1926) - Acervo Biblioteca
Nacional (RJ). Nesta edição do livro não
foi possível incluir as imagens.
Ao ler as páginas, é possível observar
algumas notícias de época como o
registro “Pela cooperação da mulher na
pacificação do mundo”.
Parte 2 - O momento literário de 1926
Entrevistas que fazem parte do livro:
1. Coelho Netto - 13/06/1926 - MA
2. João Ribeiro - 17/06/1926 - SE
3. Laudelino Freire - 20/06/1926 - SE
4. Rodrigo Otávio - 27/06/1926 - SP
5. Silva Ramos - 04/07/1926 - PE
6. Cláudio de Souza - 11/07/1926 - SP
7. Medeiros e Albuquerque - 25/07/1926 - PE
8. Afonso Celso - 01/08/1926 - MG
9. Hélio Lobo - 08/08/1926 - MG
10. Gustavo Barroso - 15/08/1926 - CE
Inicialmente, são dez acadêmicos somente. A falta de adesão tira PJ um pouco do sério, que
recorre a uma estratégia nas publicações que seria iniciar a entrevista com um manifesto,
uma provocação envolvendo o nome de alguns ausentes e da própria instituição ABL.
Parte 2 - O momento literário de 1926
Não é tão fácil como parece, à primeira vista, obter resposta de um membro da Academia
Brasileira de Letras a uma enquete literária como a que O Jornal iniciou. Os acadêmicos se
julgam homens superiores.Para eles “o horror das responsabilidades”, de que Emile Faguet
nos fala, é mais sério do que para outro mortal — exatamente porque são “imortais”. Ao iniciar
o inquérito, podemos verificar o receio com que os membros da “ilustre companhia” encaram
todo e qualquer assunto literário que se afaste dos cânones acadêmicos.
O sr. Afrânio Peixoto também é muito precavido. Diz-se um independente. É uma espécie do
sr. João Ribeiro, homem simples e franco que chamou o sr. Menotti Del Picchia “um
imitador do sr. Júlio Dantas...” Mas, pelo sim, pelo não, o deputado e acadêmico também nos
pediu que esperássemos um pouco, pela sua entrevista. Ele mesmo pretendia deixá-la... O
dr. Augusto de Lima não é menos prudente — mas PJ obtém uma opinião não-oficial:
Parte 2 - O momento literário de 1926
Augusto de Lima: É preciso acabar com esse classicismo ferrenho. Isso de verso
medidinho, parnasiano, é uma droga que está fora de moda…
Mas quando um acadêmico qualquer se aproximava, o poeta mudava de assunto…
De todos eles, porém, o mais prevenido… pelo menos em falar nos jornais, é o sr.Carlos de
Laet — que declara, abertamente:“não dou entrevistas a colegas. Lobo não come lobo...”
(Inclusive, Carlos Laet era presidente da ABL por ocasião da Semana de 22. Foi grande
crítico de Graça Aranha e combatia o modernismo).
De João Ribeiro - Revendo a opinião
Olhe, disse-nos ele com o seu sorriso bonachão. Na entrevista que concedi a O Jornal, na
quarta-feira última, há um engano. Eu não considero os srs. Menotti Del Picchia e Álvaro
Moreira renovadores...O sr. Menotti del Picchia é até um imitador de Júlio Dantas...
Renovadores, entre os já citados são: Mário de Andrade e Guilherme de Almeida.
Parte 2 - O momento literário de 1926
Sobre o momento literário:
João Ribeiro: Francamente, não o tenho acompanhado. Fala-se em futurismo e
passadismo. Mas esse movimento renovador já existia no Brasil muito antes de Marinetti e
Graça Aranha. Surgiu com os rapazes de São Paulo e alguns daqui. E, entre uns e outros,
podemos citar Menotti Del Picchia, Manuel Bandeira, Ribeiro Couto, Ronald de Carvalho,
Álvaro Moreira e outros da mesma época.
Pensa que ele influirá sobre as letras do país?
JR: É um movimento efêmero, que há de passar como todos os outros.
Parte 2 - O momento literário de 1926
Sobre o momento literário:
Entrevista com Laudelino Freire:
À entrada, um contínuo, fardado com a decência que a milionária instituição impõe aos seus
serventes, veio indagar o que desejávamos (...) Vários acadêmicos vão chegando. Faz-se
mister justificar o “jeton” de presença…
LF: O Futurismo, para começar a sua entrevista, meu caro, faz, a meu ver, a apologia de
coisas já realizadas. É uma espécie de tempestade.
Crê na fixação de uma arte brasileira?
LF: Ainda não. Não creio nisso...Por ora, está visto. Para se estabilizar uma arte brasileira,
perfeitamente caracterizada, mister seria que possuíssemos uma literatura nossa, uma ciência
brasileira, etc...,o que não me parece fácil, dadas às ligações intelectuais, e quiçá de
dependência, com as nações onde vamos buscar a nossa instrução.
Parte 2 - O momento literário de 1926
Sobre o momento literário:
Rodrigo Otávio:
— Meu caro, começo dizendo que não creio que haja, neste momento, um movimento literário,
de modo a permitir ver uma tendência acentuada, nesta ou naquela direção.
Silva Ramos: Os jornalistas, às vezes, truncam o nosso pensamento, com a pressa que têm
em transmitir aos seus leitores aquilo que lhes afirmamos e parece ter algum valor para eles…
PJ a Cláudio de Souza: Acha que ao menos no teatro temos uma arte nacional?
CS: Íamos tendo uma arte regional a que o público correspondeu pressuroso. Infelizmente, os
empresários, alegando que as traduções custam menos e não lhes acarretam o fastídio da
fiscalização dos autores, mataram o surto que se anunciara, e só a intervenção oficial
assegurando a autores e atores uma cena onde se faça talvez menos dinheiro, porém mais
arte, poderá, no momento, reconstituir a tentativa frustrada da formação do teatro nacional.
À guisa de conclusão: A entrevista como gênero literário
Sobre a entrevista literária como gênero, a partir dos formalistas russos, fundadores da crítica
literária, utilizamos o dialogismo de Mikhail Bakhtin para analisar os índices sociais de valores
que constituem o enunciado. Ao trabalhar a enunciação como substância da língua, Bakhtin
superou a dicotomia forma-conteúdo e integrou a experiência social à organização lingüística.
Como bem define GMT na apresentação deste livro: “Bakhtin define a alteridade como
imprescindível ao ser humano: o ato de viver significa a participação num diálogo, em que o
homem pergunta, ouve, escuta, examina, responde e discute completando o circuito
linguístico, que já havia sido proclamado por Saussure, na famosa distinção da langue e
parole. Esta dicotomia linguística ajudou a compor a teoria da entrevista. O sentido da
alteridade deu mais conteúdo social às entrevistas, integrando-as
definitivamente no rol dos gêneros ou espécies literárias.”
À guisa de conclusão: Pregrino Júnior e sua etnografia pelas entrevistas
PJ considerava a Semana de Arte Moderna de 22 o marco do que se passou a chamar o
modernismo brasileiro.
As entrevistas realizadas por Peregrino Júnior em 1926 atestam os impactos da Semana na
instituição Academia Brasileira de Letras. A cada entrevista publicada temos a visão do que se
passa dentro do grêmio literário. Como entrevistador sagaz, consegue articular nas entrevistas
não só o momento literário da Semana de 22, mas também o comportamento do mercado
editorial em relação aos autores nacionais. Fica a reflexão: interessava ao mercado valorizar a
cultura nacional? Vemos hoje quantos títulos importantes da nossa cultura estão esgotados,
mesmo os textos e crítica modernistas, quantos autores nacionais publicados dentro da bolsa
de valores das editoras e como é, ou não é, a economia do livro.
No âmbito social, a cada entrevista PJ descreve detalhamento a casa, a academia, o trato com
empregados, a formação de cada escritor, uma verdadeira etnografia.
Chamo atenção também para o estilo de cada texto-entrevista, quase ficção. Um modelo de
entrevista literária e biografia de época capaz de prender o leitor nas páginas dominicais de O
Jornal.
À guisa de conclusão: A Semana de 22
Apesar de não mencionada como nome, a Semana de 22 está presente em todos os
momentos deste livro. Peregrino Júnior foi testemunha de acontecimentos de preparação da
Semana de 22 num lugar de privilégio: no bastidor, já que era cunhado de Ronald de
Carvalho. Toda a crítica dos acadêmicos, seja contra ou a favor, está implicada com os
acontecimentos culturais no Brasil desde 1917. A Semana de 22 foi um marco temporal
importante, é necessário lembrá-la, estudá-la e transmitir para as gerações futuras.
O momento literário não foi apenas uma agitação sem resultados, foi uma agitação que gera
desdobramentos notáveis até hoje. Se há uma Semana de Arte Moderna nas periferias -
realizada pela Cooperifa em 2007 - e se há a Semana do Modernismo Negro - FLUP 2022 -,
é porque a brasilidade ainda está em busca de si mesma e não esgotam-se suas expressões.
E o papel da ABL nisso tudo? Se no estatuto da Academia está desde 1897: A Academia
Brasileira de Letras, com sede no Rio de Janeiro, tem por fim a cultura da língua e da
literatura nacional, e funcionará de acordo com as normas estabelecidas em seu Regimento
Interno - o que faz para tal?

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É apenas agitação

  • 1. Fevereiro de 2022 Centenário da Semana de Arte Moderna de 22
  • 2. É apenas agitação é um misto de reconstituição de cena literária, retrato de época e crítica cultural, temos aqui não apenas a reunião das entrevistas feitas pelo redator intrépido de O Jornal, como também a nossa reflexão crítica que acompanha cada uma delas, com análise das respostas e sua contextualização. Com esse projeto, colocamos em primeiro plano a entrevista, gênero literário que muitas vezes passa despercebido e é indissociável da vida literária.
  • 3. Sobre a minha trajetória Sou mestra em Teoria Literária pela PUC-Rio, atuo há 20 anos no mercado de livros como livreira, curadora de acervos e produtora de eventos com especialidade nos eixos temáticos antirracistas, indígenas e estudos de gênero. Atualmente, pesquiso o mercado das editoras independentes, de conteúdos insurgentes e literaturas periféricas. Participei do Centro Acadêmico de Letras, fui monitora no Departamento de Letras desenvolvendo projetos em pesquisa, produção de exposições e atividades culturais. Fui estagiária na Revista Poesia Sempre, da Fundação Biblioteca Nacional, entre outras atividades ligadas ao setor do mercado do livro. Atualmente, presto serviço de curadoria, participo como conselheira suplente da sociedade civil no PMLLLB - Plano Municipal do Livro, Leitura, Literatura e Biblioteca de São Paulo e me dedico a divulgar as entrevistas deste livro. Sobre a publicação Inicialmente, não havia pretensões de fazer uma edição impressa desta dissertação de mestrado, porém, como as entrevistas de Peregrino Júnior ainda permaneciam inéditas, e com a proximidade do centenário da Semana de 22, achei oportuno editar este material e entregá-lo ao público.
  • 4. Como começa essa história: Estas entrevistas foram descobertas por Gilberto Mendonça Teles no livro de Peregrino Júnior chamado O Movimento Modernista (1954), livro de referência muito traduzido e utilizado em pesquisas no exterior, e que tem origem numa das palestras internacionais proferidas por PJ sobre a cultura brasileira. Gilberto Mendonça Teles, poeta, crítico literário e professor, formou ao longo de sua vida um acervo com manifestos das vanguardas europeias e do modernismo brasileiro, além de outros registros como as entrevistas. Inclusive, acaba de sair agora em 2022 a 21ª edição do livro de referência Vanguarda Europeia e Modernismo Brasileiro, com a novidade: “As vanguardas no Brasil e na Hispano-América”, que é a apresentação da coleção Vanguardia latinoamericana, publicada em seis volumes junto com o pesquisador Klaus Muller-Bergh, pela Iberoamericana, em Madri.
  • 5. No início do mestrado na PUC-Rio, o professor Gilberto ofereceu uma disciplina chamada “A entrevista como gênero literário” e aí começamos a reunir e trabalhar nesse material que PJ mencionou em seu livro. Essa primeira série de entrevistas com 10 acadêmicos foram encontradas em páginas de O Jornal (1926) que fazem parte do acervo da Fundação Biblioteca Nacional. No processo da pesquisa, o acesso ao material foi bem difícil, não foi possível manusear o jornal diretamente, e as transcrições foram feitas a partir dos microfilmes, o que dificultou bastante a leitura. Ainda há uma série complementar, de 1926 mesmo, a ser estudada e publicada, que contém entrevistas inéditas de PJ com Graça Aranha, Paulo Prado, Mário de Andrade, Ronald de Carvalho, Manuel Bandeira, Aníbal Machado, Álvaro Moreyra, Carlos Drummond de Andrade, Emílio Moura, Abgar Renault, entre outros.
  • 6. Peregrino Júnior foi jornalista, médico, contista e ensaísta, nasceu em Natal, RN. Ainda estudante exerceu grande atividade jornalística. Ele próprio lançou A Onda, jornal em que escreveu um artigo contra o diretor da Escola Normal e professor do Ateneu, o que custou-lhe a expulsão do colégio. Ainda em Natal, funda mais dois jornais: A Gazeta de Notícias e O Espectador. Proibido de estudar na sua cidade, mudou-se em 1914 para Belém, onde terminou o curso secundário. Em A Folha da Tarde ocupou, gradativamente, as funções de suplente de revisor, repórter de polícia e redator. Trabalhou, ainda, em A Tarde e A Rua, além de secretariar A Semana. Fundou e dirigiu A Guajarina, antes de iniciar os estudos de Medicina. Em 1920 fixou-se no Rio de Janeiro, numa pensão de estudantes e candidatos a escritores. Trabalhou na imprensa, como escrevente na Gazeta de Notícias, e começou a produzir literatura. Trabalhou por um tempo na Central do Brasil, onde teve como companheiro de trabalho Pereira da Silva, a quem sucedeu na Academia. Organizou e publicou uma antologia de Ronald de Carvalho e escreveu ensaios sobre José Lins do Rego, Graciliano Ramos e estudos sobre temas da literatura brasileira. Por ser cunhado de Ronald de Carvalho, PJ teve acesso a informações de bastidores da Semana de 22 e do movimento futurista-modernista no Brasil. Fonte da foto e informações: site da ABL.
  • 7. Alguns desses detalhes estão na entrevista que Gilberto Mendonça Teles realizou com Peregrino Júnior em 1975, inédita e que está publica em nosso livro. Destaque para algumas obras - como médico talentoso, Peregrino Júnior experimenta em algumas obras o hibridismo de literatura-ensaio-medicina. Vida fútil, 1923 Jardim da Melancolia, 1926 O cangaceiro Zé Favela, 1928 Um drama no seringal, 1929 Puçanga, 1929 Matupá, 1933 Histórias da Amazônia, 1936 Interpretação biotipológica das artes plásticas, 1936 Doença e constituição de Machado de Assis, 1938 Testamento de uma geração, 1944 Panorama cultural da Amazônia, 1960 Ronald de Carvalho, poesia e prosa, 1960 A mata submersa, 1960 José Lins do Rego, romance, 1966 Língua e estilo de José Lins do Rego, 1968
  • 8. Da entrevista inédita de Peregrino Júnior para Gilberto Mendonça Teles, destaco estes trechos saborosos em humor: Foi exatamente quando abriu O Jornal e o Frederico Barata (que era irmão do Amilton Barata) que muito meu amigo, me conhecia desde o Pará, disse para mim: Peregrino, você vai tratar comigo no Jornal e fará no O Jornal a cobertura dos acontecimentos literários e intelectuais. E eu fiquei fazendo isto quando estourou o movimento modernista em São Paulo. O movimento modernista me deu um grande entusiasmo, desencadeou no meu espírito uma adesão de entusiasmo e simpatia, e então eu passei a ser escrita do modernismo no Rio; eu não aderia ao modernismo, eu fazia propaganda do modernismo, quando os modernistas se reuniam, e eu ainda me lembro, dum grande almoço oferecido a Ronald de Carvalho no Lido, muito diferente do que é hoje, em que o orador oficial foi Graça Aranha, que não falava de improviso, levou o discurso escrito, que era um dia de chuva como hoje, e ele começa o discurso: Neste dia de sol e brilho, e céu azul (estava chovendo torrencialmente) coisa que saudava com muita graça Ronald de Carvalho, nós achamos muita graça.
  • 9. Neste dia também eu entrevistei alguns modernistas que estavam lá, de repente, um deles foi Mario de Andrade, eu perguntei a opinião dele sobre a Academia, e ele disse: A Academia é um motor de quarenta cavalos. Eu, já, publiquei a sensação no dia seguinte, ele me procurou muito aflito e disse: Seu Peregrino, que coisa, você me comprometeu com meus amigos da Academia, e não quero fazer inimizades, eu não sou homem de ofender a ninguém, não considero..., aquilo foi uma pilhéria. Eu assumi as responsabilidades, dei uma nota que aquilo tinha sido uma invenção minha, uma frase literária, que o Mario não tinha nenhuma culpa, e me culpei da responsabilidade de uma coisa que achei gozadíssima. Peregrino Júnior entra para a ABL em 1945.
  • 10. A inspiração para o título do livro: faço aqui um agradecimento especial à Josélia Aguiar, pois em sua leitura atenta pinçou a frase polêmica de Coelho Neto e batizou com ela este livro. Evoé! Nas palavras de Peregrino Júnior, Coelho Neto era o homem mais detestado pelos modernistas, tal fato se deve pelo discurso que deu após o manifesto de Graça Aranha na ABL, se auto intitulando como “o último heleno”. Filho da miscigenação de colonizador português e de índia nativa, nasceu em Caxias, Maranhão, no dia 21 de fevereiro de 1864 e faleceu no Rio de Janeiro, em 28 de novembro de 1934.Era presidente da Academia Brasileira de Letras por ocasião da primeira série de entrevistas de PJ, e declarou sobre o momento literário a partir da Semana de 22: Que penso sobre o momento literário? Penso que é apenas uma agitação, que não nos dará um resultado aproveitável como produção. Foi uma tempestade que passou, escurecendo o céu e nele abrindo, de quando em quando, relâmpagos que deixavam ver o fundo tenebroso. Há tempestades úteis, não nego; esta, porém, parece-me da natureza das que apenas arrasam. Esperemos os dias da bonança, para ver o que ficou desse chamado ciclone literário.
  • 11. Parte 1 - A entrevista literária no brasil Até 1900, a entrevista literária era praticamente inexistente no Brasil, ao contrário dos EUA que já em 1830 fazia circular jornais e tímidos suplementos literários, e da França que em 1884 já publicava entrevistas no Le Petit Journal. É entre 1904 e 1905 que surge num jornal carioca a primeira grande série de entrevistas literárias. João do Rio, cronista da época, publica nas páginas da Gazeta de Notícias, as respostas de quase quarenta escritores e críticos da cultura,entre eles: No Metrópole à beira-mar: o Rio moderno dos anos 20, Ruy Castro informa a existência de pelos menos 15 jornais diários. Entre eles está O Jornal.
  • 12. Parte 1 - A entrevista literária no brasil Olavo Bilac, Julia Lopes de Almeida, Sylvio Romero, Coelho Neto, Medeiros e Albuquerque, Afonso Celso, Felix Pacheco, Osório Duque Estrada, Rodrigo Otávio, Laudelino Freire, Raymundo Correia, ao seu inquérito, chamado de O Momento Literário. Omitiram-se Machado de Assis, Graça Aranha, Aluízio Azevedo, Arthur Azevedo e José Veríssimo. Essas entrevistas foram editadas em livro em 1907. Atualmente é possível fazer impresso ondemand. A origem da novidade foi a publicação francesa chamada Enquête sur l’ evolution littéraire, de Jules Huret, uma série de entrevistas publicadas nas páginas de L’echo de Paris, em 1891. Esta foi a primeira série de entrevistas(7), na França, a reunir autores notáveis que discursavam e revelavam o seu pensamento sobre o naturalismo, o simbolismo e o parnasianismo. Essas entrevistas foram trazidas por Medeiros e Albuquerque, que tratou prontamente de passá-las para João do Rio, que formatou a ideia para aplicar nas páginas brasileiras. E digo que foi no ambiente jornalístico que surgiu o gênero.
  • 13. Parte 1 - A entrevista literária no brasil Das páginas dos jornais para as páginas dos livros, depois teríamos até 2002 as publicações: Falam os escritores (1941), de Silveira Peixoto; A república das letras (1957), de Homero Senna; Escritores brasileiros contemporâneos (1960), de Renard Perez; De corpo inteiro (1975), de Clarice Lispector; De conversa em conversa (1976) e Palavra puxa palavra (1982), de José Afrânio Moreira Duarte; Palavra de poeta (1989), de Denira Rozário; Auto-retrato (1991), de Giovanni Ricciardi; Viver e escrever (1992), de Edla van Steen; Inventário das sombras (1999), de José Castello e Cadernos de Literatura,do Instituto Moreira Sales. Posteriormente, foram lançadas mais duas publicações que podemos somar à listagem acima: 21 escritores brasileiros (2001), de Suênio Campos de Lucena e Escritores (2002), de Eduardo Maretti.
  • 14. Cópias das entrevistas que fazem parte da dissertação a partir de microfilmes de O Jornal (1926) - Acervo Biblioteca Nacional (RJ). Nesta edição do livro não foi possível incluir as imagens. Ao ler as páginas, é possível observar algumas notícias de época como o registro “Pela cooperação da mulher na pacificação do mundo”.
  • 15. Parte 2 - O momento literário de 1926 Entrevistas que fazem parte do livro: 1. Coelho Netto - 13/06/1926 - MA 2. João Ribeiro - 17/06/1926 - SE 3. Laudelino Freire - 20/06/1926 - SE 4. Rodrigo Otávio - 27/06/1926 - SP 5. Silva Ramos - 04/07/1926 - PE 6. Cláudio de Souza - 11/07/1926 - SP 7. Medeiros e Albuquerque - 25/07/1926 - PE 8. Afonso Celso - 01/08/1926 - MG 9. Hélio Lobo - 08/08/1926 - MG 10. Gustavo Barroso - 15/08/1926 - CE Inicialmente, são dez acadêmicos somente. A falta de adesão tira PJ um pouco do sério, que recorre a uma estratégia nas publicações que seria iniciar a entrevista com um manifesto, uma provocação envolvendo o nome de alguns ausentes e da própria instituição ABL.
  • 16. Parte 2 - O momento literário de 1926 Não é tão fácil como parece, à primeira vista, obter resposta de um membro da Academia Brasileira de Letras a uma enquete literária como a que O Jornal iniciou. Os acadêmicos se julgam homens superiores.Para eles “o horror das responsabilidades”, de que Emile Faguet nos fala, é mais sério do que para outro mortal — exatamente porque são “imortais”. Ao iniciar o inquérito, podemos verificar o receio com que os membros da “ilustre companhia” encaram todo e qualquer assunto literário que se afaste dos cânones acadêmicos. O sr. Afrânio Peixoto também é muito precavido. Diz-se um independente. É uma espécie do sr. João Ribeiro, homem simples e franco que chamou o sr. Menotti Del Picchia “um imitador do sr. Júlio Dantas...” Mas, pelo sim, pelo não, o deputado e acadêmico também nos pediu que esperássemos um pouco, pela sua entrevista. Ele mesmo pretendia deixá-la... O dr. Augusto de Lima não é menos prudente — mas PJ obtém uma opinião não-oficial:
  • 17. Parte 2 - O momento literário de 1926 Augusto de Lima: É preciso acabar com esse classicismo ferrenho. Isso de verso medidinho, parnasiano, é uma droga que está fora de moda… Mas quando um acadêmico qualquer se aproximava, o poeta mudava de assunto… De todos eles, porém, o mais prevenido… pelo menos em falar nos jornais, é o sr.Carlos de Laet — que declara, abertamente:“não dou entrevistas a colegas. Lobo não come lobo...” (Inclusive, Carlos Laet era presidente da ABL por ocasião da Semana de 22. Foi grande crítico de Graça Aranha e combatia o modernismo). De João Ribeiro - Revendo a opinião Olhe, disse-nos ele com o seu sorriso bonachão. Na entrevista que concedi a O Jornal, na quarta-feira última, há um engano. Eu não considero os srs. Menotti Del Picchia e Álvaro Moreira renovadores...O sr. Menotti del Picchia é até um imitador de Júlio Dantas... Renovadores, entre os já citados são: Mário de Andrade e Guilherme de Almeida.
  • 18. Parte 2 - O momento literário de 1926 Sobre o momento literário: João Ribeiro: Francamente, não o tenho acompanhado. Fala-se em futurismo e passadismo. Mas esse movimento renovador já existia no Brasil muito antes de Marinetti e Graça Aranha. Surgiu com os rapazes de São Paulo e alguns daqui. E, entre uns e outros, podemos citar Menotti Del Picchia, Manuel Bandeira, Ribeiro Couto, Ronald de Carvalho, Álvaro Moreira e outros da mesma época. Pensa que ele influirá sobre as letras do país? JR: É um movimento efêmero, que há de passar como todos os outros.
  • 19. Parte 2 - O momento literário de 1926 Sobre o momento literário: Entrevista com Laudelino Freire: À entrada, um contínuo, fardado com a decência que a milionária instituição impõe aos seus serventes, veio indagar o que desejávamos (...) Vários acadêmicos vão chegando. Faz-se mister justificar o “jeton” de presença… LF: O Futurismo, para começar a sua entrevista, meu caro, faz, a meu ver, a apologia de coisas já realizadas. É uma espécie de tempestade. Crê na fixação de uma arte brasileira? LF: Ainda não. Não creio nisso...Por ora, está visto. Para se estabilizar uma arte brasileira, perfeitamente caracterizada, mister seria que possuíssemos uma literatura nossa, uma ciência brasileira, etc...,o que não me parece fácil, dadas às ligações intelectuais, e quiçá de dependência, com as nações onde vamos buscar a nossa instrução.
  • 20. Parte 2 - O momento literário de 1926 Sobre o momento literário: Rodrigo Otávio: — Meu caro, começo dizendo que não creio que haja, neste momento, um movimento literário, de modo a permitir ver uma tendência acentuada, nesta ou naquela direção. Silva Ramos: Os jornalistas, às vezes, truncam o nosso pensamento, com a pressa que têm em transmitir aos seus leitores aquilo que lhes afirmamos e parece ter algum valor para eles… PJ a Cláudio de Souza: Acha que ao menos no teatro temos uma arte nacional? CS: Íamos tendo uma arte regional a que o público correspondeu pressuroso. Infelizmente, os empresários, alegando que as traduções custam menos e não lhes acarretam o fastídio da fiscalização dos autores, mataram o surto que se anunciara, e só a intervenção oficial assegurando a autores e atores uma cena onde se faça talvez menos dinheiro, porém mais arte, poderá, no momento, reconstituir a tentativa frustrada da formação do teatro nacional.
  • 21. À guisa de conclusão: A entrevista como gênero literário Sobre a entrevista literária como gênero, a partir dos formalistas russos, fundadores da crítica literária, utilizamos o dialogismo de Mikhail Bakhtin para analisar os índices sociais de valores que constituem o enunciado. Ao trabalhar a enunciação como substância da língua, Bakhtin superou a dicotomia forma-conteúdo e integrou a experiência social à organização lingüística. Como bem define GMT na apresentação deste livro: “Bakhtin define a alteridade como imprescindível ao ser humano: o ato de viver significa a participação num diálogo, em que o homem pergunta, ouve, escuta, examina, responde e discute completando o circuito linguístico, que já havia sido proclamado por Saussure, na famosa distinção da langue e parole. Esta dicotomia linguística ajudou a compor a teoria da entrevista. O sentido da alteridade deu mais conteúdo social às entrevistas, integrando-as definitivamente no rol dos gêneros ou espécies literárias.”
  • 22. À guisa de conclusão: Pregrino Júnior e sua etnografia pelas entrevistas PJ considerava a Semana de Arte Moderna de 22 o marco do que se passou a chamar o modernismo brasileiro. As entrevistas realizadas por Peregrino Júnior em 1926 atestam os impactos da Semana na instituição Academia Brasileira de Letras. A cada entrevista publicada temos a visão do que se passa dentro do grêmio literário. Como entrevistador sagaz, consegue articular nas entrevistas não só o momento literário da Semana de 22, mas também o comportamento do mercado editorial em relação aos autores nacionais. Fica a reflexão: interessava ao mercado valorizar a cultura nacional? Vemos hoje quantos títulos importantes da nossa cultura estão esgotados, mesmo os textos e crítica modernistas, quantos autores nacionais publicados dentro da bolsa de valores das editoras e como é, ou não é, a economia do livro. No âmbito social, a cada entrevista PJ descreve detalhamento a casa, a academia, o trato com empregados, a formação de cada escritor, uma verdadeira etnografia. Chamo atenção também para o estilo de cada texto-entrevista, quase ficção. Um modelo de entrevista literária e biografia de época capaz de prender o leitor nas páginas dominicais de O Jornal.
  • 23. À guisa de conclusão: A Semana de 22 Apesar de não mencionada como nome, a Semana de 22 está presente em todos os momentos deste livro. Peregrino Júnior foi testemunha de acontecimentos de preparação da Semana de 22 num lugar de privilégio: no bastidor, já que era cunhado de Ronald de Carvalho. Toda a crítica dos acadêmicos, seja contra ou a favor, está implicada com os acontecimentos culturais no Brasil desde 1917. A Semana de 22 foi um marco temporal importante, é necessário lembrá-la, estudá-la e transmitir para as gerações futuras. O momento literário não foi apenas uma agitação sem resultados, foi uma agitação que gera desdobramentos notáveis até hoje. Se há uma Semana de Arte Moderna nas periferias - realizada pela Cooperifa em 2007 - e se há a Semana do Modernismo Negro - FLUP 2022 -, é porque a brasilidade ainda está em busca de si mesma e não esgotam-se suas expressões. E o papel da ABL nisso tudo? Se no estatuto da Academia está desde 1897: A Academia Brasileira de Letras, com sede no Rio de Janeiro, tem por fim a cultura da língua e da literatura nacional, e funcionará de acordo com as normas estabelecidas em seu Regimento Interno - o que faz para tal?