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UNIVERSIDADE CATÓLICA PORTUGUESA
FACULDADE DE TEOLOGIA
MESTRADO INTEGRADO EM TEOLOGIA (1.º grau canónico)
JOÃO MIGUEL PEREIRA
A (ad)oração em Lucas
7, 36-50
Trabalho realizado no âmbito do Seminário sobre a oração, no
evangelho de Lucas
sob orientação de:
Prof. Doutor Pe. João Alberto Correia
Braga
2018
1
Introdução
Folheando as páginas lavradas pelos belos capítulos que compõem o Evangelho de
Nosso Senhor Jesus Cristo segundo são Lucas, é difícil escolher um tema sobre o qual
elaborar um trabalho. Primeiro porque todo o texto é belo. A forma “imagética” como Lucas
nos retrata os diversos episódios da vida de Jesus Cristo dá-nos a possibilidade de entrar na
narrativa, como que visualizando tudo o que lá se relata a acontecer à nossa volta. Depois
porque, dada a complexidade do texto e a riqueza embutida na língua grega em que o texto
original nos foi deixado, muito se poderia dizer sobre cada capítulo… e, sem exagero, sobre o
significado de cada palavra cuidadosamente escolhida por Lucas, no sentido de alargar os
horizontes de significância de cada frase.
Todavia, esta unidade curricular prende-se sobre o tema da “oração no Evangelho de
Lucas”, o que desde logo me facilitou na escolha de um tema a trabalhar dentro do variado
leque de temas que compõem o texto. Ainda assim, a variedade de momentos em que se trata
de oração no evangelho de Lucas, continua a acompanhar a riqueza deste texto.
Por fim, deixei-me guiar pelo coração ou, se quiserem, pelo sentimento. Foi enquanto
lia o Evangelho que me deparei com a figura humilde da mulher pecadora, do inflexível
pretenso justo e do doce e amável Jesus. Bem que tentei continuar em frente, prosseguir para
os capítulos seguintes, mas aquela passagem não me largava. Não lhe fiquei indiferente. Será
por me identificar com aquela mulher pecadora e tantas vezes também eu me ajoelhar diante
de Jesus Sacramentado e chorar? Ou, por ventura, por me ter apaixonado por aquele Jesus que
se deixa tocar pelo pecador para permitir a sua cura?
Assim, neste breve trabalho, o que me proponho é fazer uma leitura dos gestos da
mulher e identificar ali sinais de oração ou, para ser mais preciso, de adoração. Afinal, o
diálogo daquela mulher não se faz pela pronúncia de sons, mas antes pela materialização
daquilo que deseja falar nos gestos que ela realiza.
UniversidadeCatólicaPortuguesa,FaculdadedeTeologia(CentroRegionaldeBraga)–Semináriosobreaoração,noevangelhodeLucas
“A(ad)oraçãoemLucas”7,36-50,porJoãoMiguelPereira–joaofreigil@hotmail.com
2
I – Enquadramento cultural/bíblico
a) Costume de receber gente em casa:
O acontecimento que Lucas 7, 36-50 retrata desenrola-se num cenário em que Jesus se
encontra reclinado à mesa, na casa de um fariseu que o convida para uma refeição. Importa
pois, antes de mais, retirar algumas ilações referentes a este quadro que não pode passar
indiferente numa análise que se adentre na tradição bíblica.
Desde logo, não podemos ignorar que «nos Textos Sagrados, comer e beber assumem
um carácter religioso e só podem ser entendidos à luz da Aliança de Deus com o Homem,
uma Aliança que coloca o Homem em relação com Deus e com toda a Criação»1
. Desta feita,
«falar de uma refeição, na época de Jesus, é falar de um ato social por excelência que muito
diz da relação entre os comensurais, sugerindo uma identidade comum que se traduz nos
gestos e nos alimentos que se partilham ao redor de uma mesma mesa»2
.
De igual modo, numa época caracterizada por uma forte componente de ritualização,
em que “o rito ordenava o sagrado e o profano, regulava a relação com o divino e o mapa das
sociedades”, partilhar uma refeição obedecia a um determinado protocolo. Para os judeus, «a
mesa apresentava-se como representação clara da estrutura do próprio grupo (Fariseus,
Saduceus ou outro) a que o dono da casa pertencia, não havendo a possibilidade de um judeu
partilhar a mesa com um não-judeu»3
. «Na mesa, cada vez mais ritualizada e influenciada
pela cultura grega, tudo era muito bem definido, desde o lugar de cada um até aos ritos
próprios de purificação e bênção antes da refeição. Aqui, sobretudo nos dias mais festivos,
comia-se recostado e durante várias horas, obedecendo sempre aos ritos próprios do partilhar
uma refeição»4
.
É de salientar ainda o facto de esta questão da hospitalidade estar muito presente
também na cultura grega, na qual Lucas se move e, a partir da qual, escreve. Igualmente, no
mundo judaico, esta questão tem também um impacto fundamental: os “filhos de Abraão”
devem imitar o seu exemplo da boa hospitalidade (Gn 18), satisfazendo as cinco leis da tenda:
“porta aberta, lavar os pés, alojar, dar de comer e ajudar a prosseguir”5
. Esse exemplo de
generosidade e hospitalidade de Abraão era seguido por aqueles que recebiam convidados em
casa. Estes, «não deixavam para os servos ou escravos o acolhimento do convidado, mas
1
Susana Vilas Boas, O amor que salva (Fátima: Difusora Bíblica, 2017), 30-31.
2
Ibidem.
3
Ibidem, 32.
4
Ibidem.
5
Cf. Ibidem, 33.
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“A(ad)oraçãoemLucas”7,36-50,porJoãoMiguelPereira–joaofreigil@hotmail.com
3
faziam-se, eles mesmos, servos daqueles que recebiam. À atitude do que receber, o convidado
respondia, na oração de ação de graças no fim da refeição, pedindo a bênção para este e para a
sua família»6
.
b) Tradição de ungir (os pés):
Tendo em conta as “cinco leis da tenda”, o expectável é que Simão, anfitrião da
refeição para a qual Jesus fora convidado, lhe tivesse oferecido água para lavar os pés e ele
mesmo se tivesse prestado a esse serviço de “bem receber” (Lc 7, 44). Todavia, não tendo isto
acontecido, ele e os comensais ficam mais preocupados pelo contacto que Jesus permite à
mulher pecadora, caindo em descrédito diante das categorias de “profeta” ou “puro” (cf. Lc 7,
39).
Aquela mulher consegue surpreender, age mais além do que seria expectável: «com
um vaso de perfume, chega-se ao hóspede de honra e, ao invés de ungir a cabeça dele em
sinal de veneração e respeito, como era costume em tais circunstâncias, dobra-se a seus pés,
unge-os, beija-os e os enxuga com seus cabelos. É um comportamento não só impróprio mas
equívoco»7
. Sem desprezar os vastos significados que a unção acarreta8
, «a unção dos pés,
nesta época, “encontrava-se dentro do esmero de uma esposa pelo seu marido ou de uma filha
pelo seu pai”, não havendo modo melhor de uma mulher poder demonstrar o seu amor erótico
ao marido»9
.
6
Susana Vilas Boas, O amor que salva (Fátima: Difusora Bíblica, 2017), 33.
7
Rinaldo Fabris, “O Evangelho de Lucas”, in Rinaldo Fabris e Bruno Maggioni, Os Evangelhos, Vol. II (São
Paulo: Ed. Loyola, 1992), 88.
8
O óleo como símbolo da prosperidade e fertilidade (Dt 33,24; Sl 133,2; Jb 29,6; Dt 33,24), das bênçãos de
Deus (Dt 7,13; 2 Rs 20,13), iluminação da habitação (Mt 25, 1-13), higiene-beleza-alegria (Sl 133,2; Sl 141,5; 2
Sm 14,2; Mt 6,17), respeito e tratamento prestado ao hóspede (Sl 23,5; Lc 7, 36-50; Jo 11,2; Jo 12,3), amor
conjugal (Ct1,12; Jo 12,1-8), alívio da dor física e espiritual (Sl 109,18; Mc 6,13; Tg 5,14), é um dos elementos
oferecidos nos sacrifícios no Templo (Gn 35, 14; Ex 29,2.7.23; Lv 2,4-10), mantém a lâmpada sempre acesa
diante do Senhor (Lv 24,2-3; Nm 4,16; Sir 38,11), constituinte dos perfumes, utilizado para massajar os atletas,
guerreiros ou os que tinham trabalhos pesados, símbolo escolha do rei por Deus que lhe dá autoridade, poder e
glória (1 Sm 16,1-3; 2 Sm 2,3-4), sinal de consagração do profano a Deus e dos sacerdotes (Ex 29,4-7; Ex 40,12-
15; Gn 28,18.22; Gn 31,13), Jesus Cristo é o Messias, isto é, o ungido de Deus (Mt 16,16; Mc 8,29; Lc 9,20; Jo
6,68).
9
Susana Vilas Boas, O amor que salva (Fátima: Difusora Bíblica, 2017), 66.
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“A(ad)oraçãoemLucas”7,36-50,porJoãoMiguelPereira–joaofreigil@hotmail.com
4
II – Adoração como silencioso diálogo de amor
A oração é a «livre expressão de dois amores que se encontram, se reconhecem e se
entregam um ao outro»10
, é «estar em relação de amor com quem sabemos que nos ama»11
.
No caso da adoração, o modo de expressão dessa relação de amor pauta-se pelo silêncio de
palavras, mas melódico diálogo de gestos. O significado do conceito adoração diz-nos isso
mesmo: vem da locução latina ad / oris [=levar os lábios] – o que implica calar e levar à flor
dos lábios, isto é, beijar12
.
Com o auxílio do tratado sobre a oração de Luís Melo, “Se tu soubesses o dom de
Deus”, proponho que façamos um breve percurso sobre a atitude do orante. Sugiro isto no
sentido de, logo que passemos à análise do texto (7, 36-50), consigamos imediatamente
visualizar e compreender cada gesto daquela mulher que ora silenciosamente mas que tanto
alcança dizer.
Primordialmente, as maravilhas de Deus, contempladas e saboreadas no coração
daquele que está diante delas, deslumbram a sua inteligência e fazem-no cair por terra. E é
diante da grandeza delas que o indivíduo toma consciência da própria pequenez, como S.
Pedro ao ver as redes a transbordar de peixe: “Afasta-te de mim, Senhor, que sou um homem
pecador” (Lc 5,8). «A santidade de Deus que se revela nas suas obras penetra internamente
para iluminar a verdade da criatura, pequena, impotente e pecadora. Em presença da
santidade, a passagem à oração faz-se naturalmente no ato de humildade que reconhece a
distância entre a santidade e o pecado. Dos lábios, brota uma súplica como a do publicano que
se mantinha à distância, batia no peito e dizia: “Ó Deus, tem piedade de mim que sou
pecador” (Lc 18,14)»13
.
Agora, este que abismado na presença das maravilhas de Deus, sente-se longe da
santidade do seu criador. Toma consciência de que Deus é o único santo, infinitamente acima
da criatura pequena e pecadora. Paradoxalmente, ao mesmo tempo, tal como experimentou
Pedro, reconhece um Deus que se faz próximo, que «se faz igual a nós e se põe de joelhos
diante dos homens (Jo 13,5), como que mendigo do amor»14
. «Adoração, louvor, súplica,
10
Marie de L´Enfant Jesus, Je veux voir Dieu, 3ª ed., (Tarrascon: ed. du Carmel, 1965), 59.
11
Luís Melo, Se tu soubesses o dom de Deus (Braga: ed. Fundação AIS e Apostolado de Oração, 2006), 27.
12
Cf. Susana Vilas Boas, O amor que salva (Fátima: Difusora Bíblica, 2017), 91.
13
Luís Melo, Se tu soubesses o dom de Deus (Braga: ed. Fundação AIS e Apostolado de Oração, 2006, 65-66.
14
Ibidem, 64-65.
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“A(ad)oraçãoemLucas”7,36-50,porJoãoMiguelPereira–joaofreigil@hotmail.com
5
acção de graças, contemplação, são movimentos naturais ou mesmo espontâneos para quem
toma consciência do incrível paradoxo»15
.
A adoração filial é a atitude subjacente a qualquer forma de oração e constitui o seu
âmago. «Em presença da santidade de Deus, o homem recolhe-se no interior e fica sem
palavras como que abismado, entendendo sem entender o que o mistério revela, e sente-se
interpelado a decantar impurezas que turvem a limpidez do olhar. Melhor disto, sente-se
interpelado por desejo veemente a pedir que a santidade de Deus venha abrasar e purificar
toda a impureza que destoa. Dirá como Isaías, “ai de mim que sou um homem de lábios
impuros, e vi com os meus olhos o Rei e Senhor dos exércitos” (Is 6,5-7). Não se sente
esmagado nem afastado de seu Senhor, Três vezes santo (ib. v.3); pelo contrário, a santidade
de Deus envolve-o como a chama envolve a acha, ou os lábios impuros para lhes tirar a culpa
e apagar o pecado»16
.
Finalmente, na adoração não se põem resistências. “Eis-me aqui” é a atitude do
verdadeiro adorador que dá a Deus o direito de entrar e de ocupar o espaço todo, e exprime a
adesão da liberdade a um projeto divino17
. O despojamento acompanha a adoração verdadeira,
e é fonte de purificação para quem se deixa modelar como o vaso do oleiro (Jr 18,5)18
.
III – Hermenêutica dos gestos da mulher
Analisamos agora os gestos da mulher, presentes neste excerto do capítulo 7 do
Evangelho de Lucas:
«Um fariseu convidou-o para comer consigo. Entrou em casa do fariseu, e
pôs-se à mesa. Ora certa mulher, conhecida naquela cidade como pecadora, ao
saber que Ele estava à mesa em casa do fariseu, trouxe um frasco de alabastro
com perfume. Colocando-se por detrás dele e chorando, começou a banhar-lhe
os pés com lágrimas; enxugava-os com os cabelos e beijava-os, ungindo-os
com perfume.
Vendo isto, o fariseu que o convidara disse para consigo: “Se este homem
fosse profeta, saberia quem é e de que espécie é a mulher que lhe está a tocar,
porque é uma pecadora”!
Então, Jesus disse-lhe: “Simão, tenho uma coisa para te dizer”. “Fala,
Mestre” - respondeu ele. “Um prestamista tinha dois devedores: um devia-lhe
quinhentos denários e o outro cinquenta. Não tendo eles com que pagar,
15
Ibidem.
16
Ibidem.
17
Cf. Ibidem.
18
Cf. Ibidem, 65-66.
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“A(ad)oraçãoemLucas”7,36-50,porJoãoMiguelPereira–joaofreigil@hotmail.com
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perdoou aos dois. Qual deles o amará mais?” Simão respondeu: “Aquele a
quem perdoou mais, creio eu”. Jesus disse-lhe: “Julgaste bem”. E, voltando-se
para a mulher, disse a Simão: “Vês esta mulher? Entrei em tua casa e não me
deste água para os pés; ela, porém, banhou-me os pés com as suas lágrimas e
enxugou-os com os seus cabelos. Não me deste um ósculo; mas ela, desde que
entrou, não deixou de beijar-me os pés. Não me ungiste a cabeça com óleo, e
ela ungiu-me os pés com perfume. Por isso, digo-te que lhe são perdoados os
seus muitos pecados, porque muito amou; mas àquele a quem pouco se perdoa
pouco ama”. Depois, disse à mulher: “Os teus pecados estão perdoados".
Começaram, então, os convivas a dizer entre si: “Quem é este que até
perdoa os pecados”? E Jesus disse à mulher: “A tua fé te salvou. Vai em paz”».
(Lc 7, 36-50)
Lendo este excerto, graças à mestria com que Lucas nos narra este acontecimento,
quase que conseguimos entrar naquele cenário da casa do fariseu Simão e visualizar a súbita
entrada em cena daquela mulher, vista com maus olhos pelos presentes. Todos, à exceção de
Jesus, a consideram indigna de ali estar. Não porque não fora convidada - pois era costume
que as portas ficassem abertas para quem desejasse “espreitar” o banquete - mas antes porque
ela tinha fama naquela cidade de ser pecadora.
E esta mulher entra naquele espaço, que se lhe antevê hostil, unicamente porque sabe
que Jesus ali está e, precisamente, com o intuito de o ver e ungir. Ela testemunha um amor
que se traduz em coragem (para desafiar os costumes e a sociedade da época)19
; não se deixa
aprisionar pelas leis e costumes do seu tempo. Isso nota-se, inclusive, no facto de andar
sozinha (quando o costume dizia que a mulher só devia sair de casa quando acompanhada
pelo pai ou pelo esposo) ou no momento em que solta os cabelos para secar os pés de Jesus
(lembremos que na cultura judaica da época era impróprio à mulher mostrar os cabelos).
Lucas não nos revela qual é realmente o motivo para aquela mulher ser rotulada de
pecadora. Alguns exegetas optam por descrevê-la como prostituta, mesmo que o texto grego
possa deixar algumas dúvidas quanto a essa interpretação. Todavia, a mestria de Lucas, ao
não identificar o pecado daquela mulher, dá espaço para que todo o leitor se possa identificar
com ela, colocando-se no seu lugar.
Agora, dentro de casa de Simão e fora do seu espaço de conforto, esta mulher fita
Aquele que ansiava ver. Uma vez que ela trazia o frasco de perfume, o seu primeiro objetivo
seria ungir Aquele sobre quem teria ouvido falar. Constatamos, no entanto, que o plano que
tinha feito é adiado no momento em que sente n´Aquele homem a presença de Deus. É diante
19
Cf. Susana Vilas Boas, O amor que salva (Fátima: Difusora Bíblica, 2017), 67-68.
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“A(ad)oraçãoemLucas”7,36-50,porJoãoMiguelPereira–joaofreigil@hotmail.com
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das maravilhas de Deus saboreadas em seu coração – e é só o seu coração que lhe confirma a
identidade divina de Jesus e a vontade de Deus sobre a história20
– que a mulher toma
consciência da sua pequenez. Ela coloca-se por detrás do Mestre, numa atitude de humildade
e discipulado, consciente de que está na presença da verdadeira santidade, sendo ela pecadora.
Quanto às lágrimas, nota-se que a apanham desprevenida21
. Não são umas pequenas
gotas, «Lucas exprime a ação de lavar os pés com o verbo bréxô, equiparando o choro da
mulher à chuva intensa que cai sobre a terra»22
. Dando-se conta do «que provocaram as suas
lágrimas, reage com um gesto ainda mais escandaloso e impróprio: enxuga os pés de Jesus
com os cabelos e beija-os! E o Mestre, que era tido como um profeta, permite tais atitudes,
não a impede de dar seguimento a estas ações impuras. No entanto, Lucas não deixa ao acaso
a forma como a mulher beija os pés de Jesus: beija-os repetidamente» 23
, fazendo uso do
imperfeito do indicativo, o que faz desta ação infindável.
Se presenciássemos essa ação, tal como o fizeram Simão e os comensais, julgávamos
que «esta mulher realiza uma ação íntima e de extremo erotismo em relação a Jesus, diante de
todos os presentes em casa do fariseu: unge-Lhe os pés, beija-os, solta os cabelos e seca, com
eles, os pés de Jesus»24
. Mas, se formos mais ao núcleo da ação, colocando a hipótese de
realmente ela ser prostituta, talvez nos dêmos conta que esta pode ser a «única forma que a
mulher conhece de expressar o seu amor»25
.
Constatar que a mulher cumpriu para com Jesus gestos extraordinários de acolhimento
e de veneração, que seriam expectáveis que tivesse sido o fariseu a ofertar, é evidente. Mas
Simão não demonstrou por Jesus qualquer gesto de boa hospitalidade, fossem eles expressão
de mero cumprimento da lei ou fossem de um coração fervilhante e apaixonado como o
daquela mulher. «No fim deste crescendo, em que o fariseu “justo” se encontra do lado da
falta e a pecadora anónima, do lado da misericórdia, chega-se à sentença chave: Por isso te
digo: seus muitos pecados lhe foram perdoados, dado que ela demonstrou tanto amor (Lc. 7,
47a). A tradução proposta vê nos gestos da mulher a expressão de um amor grato pelo perdão
recebido. Mas poder-se-ia entender o texto original de Lucas também neste sentido: o grande
perdão concedido à mulher é fruto e resposta a seu grande amor manifestado para com Jesus.
20
Cf. Felicísimo Martínez Díez, Crer em Jesus Cristo, viver como cristão (Coimbra: Gráfica de Coimbra 2,
2007), 941.
21
Cf. Susana Vilas Boas, O amor que salva (Fátima: Difusora Bíblica, 2017), 65.
22
Susana Vilas Boas, O amor que salva (Fátima: Difusora Bíblica, 2017), 42.
23
Ibidem, 65.
24
Ibidem, 66.
25
Ibidem.
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“A(ad)oraçãoemLucas”7,36-50,porJoãoMiguelPereira–joaofreigil@hotmail.com
8
O que Lucas quer expressar também, no comentário do v. 47b, é isto: há uma íntima ligação
entre o perdão dos pecados e o amor generoso»26
.
Vale a pena realçar o enquadramento desta passagem no Evangelho de Lucas, o que
testemunha mais uma vez a beleza e criatividade do redator e o seu intuito de apelar ao leitor
a que faça uma escolha dócil à Palavra. Se nas linhas que precedem esta narração (cf. Lc 7,29-
35) temos um cenário onde a insensibilidade e o cumprimento inflexível da lei havia
impedido aos fariseus e doutores da lei ingressarem nos desígnios salvíficos de Deus
(recusando o batismo de João e depois a atitude do Filho do Homem que a todos quer salvar),
nas linhas que se seguem (cf. Lc 8,1-3) vemos o florescer da vida dos humildes que (tendo
acolhido a Salvação e recebido o perdão e a cura das várias enfermidades) acompanham agora
Jesus na missão de anunciar a Boa-Nova, colocando-se a si próprios e aos seus bens ao
serviço da missão. Algo idêntico se passa aqui: a mulher humilde acolhe o dom da salvação
ao passo que o fariseu e os outros comensais endurecem os seus corações e, petrificados pelo
cumprimento rígido da lei, não são capazes de se abrirem à presença próxima e afetuosa,
gratuita e misericordiosa de Deus. Esta dicotomia de respostas está associada à consciência
que cada um julga ter da sua condição de maior ou menor pecador, mas é associada, acima de
tudo, à docilidade de coração.
a) Oração, expiação dos pecados v.s. amor que salva:
Na tradição bíblica, na Torah, a expiação dos pecados estava associada às solenidades
do Yon Kippur, a Festa da Expiação ou “dia do perdão”. Naquela, só quem se encontrava em
estado de purificação absoluta (pelo menos aos olhos dos homens), através do jejum e das
orações, podia realizar o rito27
. Se assim não fosse, a ira divina podia ser mortífera para quem
se aproximasse impuro diante do Senhor (cf. Lv 22,9).
Por seu turno, o Evangelho de Lucas apresenta o perdão associado à pessoa de Jesus,
obedecendo a um novo rito, o do amor28
. Lucas reelabora o rito judaico de purificação dos
pecados e, à luz do Deus-Misericórdia revelado em Jesus Cristo, «o rito de expiação passa a
ser descrito e realizado através do oferecimento de gestos de amor (cf. Lc 7,44-48), não
havendo lugar à imolação, apenas à amorização e à vida nova em Cristo (cf. Lc 7,47-
48.50)»29
. O propiciatório [cf. Lv 16,12-13] deixa de estar sobre a Arca da Aliança (cf. Lv
26
Rinaldo Fabris, “O Evangelho de Lucas”, in Rinaldo Fabris e Bruno Maggioni, Os Evangelhos, Vol. II (São
Paulo: Ed. Loyola, 1992), 88.
27
Cf. Susana Vilas Boas, O amor que salva (Fátima: Difusora Bíblica, 2017), 81.
28
Ibidem,76.
29
Susana Vilas Boas, O amor que salva (Fátima: Difusora Bíblica, 2017), 82.
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9
16,2c), mas é o próprio Deus encarnado e próximo. Ele torna-se-lhe acessível, não por mérito
humano mas por dom do Deus que é amor e que abre as portas a uma salvação universal. «A
mulher unge esse propiciatório – os pés de Jesus –, não com o sangue, fruto de um sacrifício
cruento, de uma vítima inocente, mas com o perfume, as lágrimas e os beijos (Lc 7,38),
reveladores de um amor que é resposta ao perdão de Deus. […] Ela não acarinha apenas o
lugar onde Deus vem falar ao homem (Ex 25,22), mas o próprio Deus feito homem para os
homens»30
. «Apesar do seu pecado, ela entra e acede ao verdadeiro Santo dos Santos. O véu
do templo já não é entrave para aceder a Deus (Lc 23,45), nem o acesso ao Propiciatório é
reserva para uma elite, dita santa (Lc 1,10)» 31
.
A relação com Deus torna-se agora mais humana e sensível. Tudo aqui parece recusar
a frieza e insensibilidade dos ritualismos mercantis e do cumprimento firme da lei. «Outrora,
os ritos de expiação eram marcados por um ritualismo quase mercantil: estava nas mãos do
homem “comprar” a graça divina (o Sumo-sacerdote, cumprindo o rito, não morrerá [Lv
16,11-13] e todo o povo será purificado [Lc 16,34]). Porém, em Lucas, não há espaço para o
negócio: o perdão é dom de Deus (tanto para os que só são capazes de O amar depois do
perdão [Lc 7,42-43], como para aqueles que, amando, estão perdoados [Lc 7,47])» 32
.
b) Resposta de Jesus, a quem muito ama muito se perdoa:
É exatamente isso: o amor recebe como resposta o perdão e vice-versa. Ainda que os
gestos da mulher sejam interpretados por Jesus como expressão de muito amor, aos quais
responde com o perdão (cf. Lc. 7, 47), permanece a dúvida: É-se perdoado porque muito se
ama ou ama-se porque muito se lhe é perdoado?
De facto, «no v. 47a, a conjunção traduzida por “por isso” (hoti) dá ao texto abertura
para duas leituras: uma causal e outra explicativa ou consecutiva. Assim, o v. 47a pode ser
entendido, graças a esta conjunção ambivalente, como “estão perdoados os seus muitos
pecados, porque mostra muito amor” (causal) ou como, “estão perdoados os seus muitos
pecados e, por isso, demonstra tanto amor” (explicativo). No entanto, se atendermos ao
contexto da parábola narrada nos versículos 41-43 e à segunda parte do v. 47 (“aquele a quem
pouco se perdoa pouco ama/pouco demonstra amor”), este hoti parece apresentar-se
30
Ibidem.
31
Ibidem, 83.
32
Ibidem, 85.
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10
claramente como sinal de amor/agradecimento da mulher em consequência do perdão que
recebeu»33
.
É o amor demonstrado pela mulher que recebe de Jesus a declaração pública de que os
seus pecados “estão resgatados”. Ela, porque O encontrou, acolheu/acreditou e amou, foi
perdoada. «Não se trata de um “arrependeu-se e, por isso, foi perdoada”, mas de um “ama,
está perdoada”, na medida em que o amor é o único capaz de resgatar e se deixar resgatar. Se
o Amor que resgata tem o seu clímax na Cruz, só aquele que ama é capaz de se deixar
resgatar por Ele. O Amor que resgata é sempre dado (é dom) e o acolhimento deste é que
permite que se realize, plenamente, o Seu efeito. Se o perdão apaga algo do passado, o
resgate salva do passado, afasta do erro presente e abre algo para o futuro. Assim, a
demonstração de amor da mulher é demonstração de reconhecimento, gratidão e acolhimento
do Amor d´Aquele que a resgatou. Ela é resgatada não de um passado de pecado, mas para
um futuro de salvação»34
. De facto, as mulheres curadas de quem Lucas lavra a seguir (cf. Lc.
8,1-5) não deixam de ter o seu passado nebuloso, todavia são resgatadas para uma vida nova,
a salvação por Cristo e com Ele.
Jesus, em linha com o que sempre ensinou, não quis com isto desvalorizar, ou até
anular, a lei. Ele de facto realiza um amor que vai além do pecado e da justiça humana («Não
julgueis e não sereis julgados; não condeneis e não sereis condenados; perdoai e sereis
perdoados»[Lc 6,37]). Isto não significa que Ele crie uma nova lei ou negue a Lei (Torah).
Trata-se, em vez disso, do difundir de «uma compreensão e de um sentido mais autêntico do
Deus da Torah»35
, libertando «“do fideísmo da lei e de algumas instruções que foram
incorporadas posteriormente na Torah de Israel por via da chamada tradição oral (…), mas
que [indevidamente] assumiram um patamar de igualdade perante a mesma”» 36
. As palavras
de Jesus, que declaram uma absolvição, explicitam o que estava já presente desde que Ele
acolhe e se deixa tocar pela pecadora. A última palavra: “A tua fé te salvou; vai em paz!”
mostra a raiz profunda do perdão e seu fruto mais amplo, ou seja, a fé gera perdão que é
salvação. O versículo 50 apresenta a fórmula de despedida que era comum na época: shalom –
“vai em paz”. Esta expressão simboliza plena comunhão de vida que é a paz em Deus e com
ela Jesus oferece uma paz (eirênê), totalmente nova e inovadora, oferecida a todos, sobretudo
aos mais excluídos da sociedade de então37
.
33
Ibidem, 44.
34
Ibidem, 88-89.
35
Ibidem, 90-91.
36
Ibidem.
37
Cf. Ibidem, 45.
UniversidadeCatólicaPortuguesa,FaculdadedeTeologia(CentroRegionaldeBraga)–Semináriosobreaoração,noevangelhodeLucas
“A(ad)oraçãoemLucas”7,36-50,porJoãoMiguelPereira–joaofreigil@hotmail.com
11
c) Referência ao anfitrião (e aos comensurais):
Diante da reação de Simão, que não põe em prática os costumes hebraicos de bem
receber e que, se inicialmente se interroga sobre a identidade profética de Jesus, rapidamente
passa a julgá-l`O, ficamos sem perceber bem porque O convidou para a refeição em sua casa.
Além do mais, «tendo em conta todas as polémicas e acusações que Jesus dirige aos fariseus,
nos relatos anteriores (cf. Lc 6,1-11.24-37), e a reação que estes demonstram, sobretudo desde
a cura e perdão dos pecados ao paralítico (Lc 5,21ss), o convite para jantar pode não ser
expressão de hospitalidade, mas estar revestido de segundas intenções. Estas tanto poderiam
prender-se com a vontade de desmascarar Jesus, ou seja, de O apanhar em contradição, como
poderiam, na melhor das hipóteses, visar convencer Jesus a alinhar com as autoridades
religiosas do Seu tempo»38
.
De facto, se por um lado Simão ouvira falar da fama deste homem que fazia milagres,
o que o terá feito interrogar sobre se Ele seria ou não um profeta, sabe também que Ele
questiona a lei e as autoridades judaicas. Ainda assim, o fariseu convida-O a jantar em sua
casa, porém, «os seus preconceitos (representativos do pensar do grupo dos fariseus), leva-o a
receber Jesus com uma certa frieza e sem grande intimidade, colocando de parte os ritos
habituais de hospitalidade»39
. «Aparências de humildade, como todas as aparências, não
fazem crescer no amor»40
. Não adianta que os costumes (as cinco leis da tenda) ensinem a
receber os hóspedes como se do próprio Deus se tratasse, pois, «a soberba do coração que
contraria a adoração verdadeira é aquela montanha que só uma grande fé consegue deitar ao
mar»41
. «Simão convida Jesus, mas parece estar paralisado pelos seus próprios julgamentos e
suposições. Não consegue agir (v. 44-46), limita-se a julgar e a supor»42
. Concluo com as
sábias palavras de R. Fabris que sintetizam esta passagem de Lucas: «A salvação como
perdão para os pecadores passa ao lado dos pretensos justos, bloqueados na sua justiça. E uma
justiça que não é recebida como dom de Deus torna-se alavanca secreta daquela exaltação que
se serve de Deus para consagrar as estratificações e as divisões entre os homens. Então a
misericórdia salvadora de Deus, que abre caminho entre os homens pobres e excluídos,
desmancha também as barreiras de casta e religião dos farisaísmos de todos os tempos»43
.
38
Susana Vilas Boas, O amor que salva (Fátima: Difusora Bíblica, 2017), 59.
39
Ibidem, 60-61.
40
Luís Melo, Se tu soubesses o dom de Deus (Braga: ed. Fundação Ais e Apostolado de Oração, 2006), 74.
41
Ibidem, 67.
42
Susana Vilas Boas, O amor que salva (Fátima: Difusora Biblica, 2017), 62.
43
Rinaldo Fabris, “O Evangelho de Lucas”, in Rinaldo Fabris e Bruno Maggioni, Os Evangelhos, Vol. II (São
Paulo: ed. Loyola, 1992), 81.
UniversidadeCatólicaPortuguesa,FaculdadedeTeologia(CentroRegionaldeBraga)–Semináriosobreaoração,noevangelhodeLucas
“A(ad)oraçãoemLucas”7,36-50,porJoãoMiguelPereira–joaofreigil@hotmail.com
12
Conclusão
Quando lemos Lc 7, 36-50 podemos não nos dar conta da profundidade de sentido do
que ali está escrito. Mas, de facto, nesta passagem, encontramos o culminar da história da
revelação: Deus adorado como amor. Na realidade, «Deus não é senão Amor»44
.
Em Jesus, Deus dá-se a conhecer como Amor e, ao mesmo tempo, como mendigo de
amor «correndo o risco de Se expor à qualidade dos nossos afetos, ao discernimento da nossa
inteligência, à disposição – ou indisposição – da nossa liberdade»45
.
Aqui, essa disponibilidade de Deus que se faz próximo e desejoso de ser acolhido para
também Ele poder acolher, recebe resposta positiva daquela mulher que, ferida pelo pecado,
não deixa de encontrar na pessoa de Jesus a presença da Santidade de Deus. É o próprio Deus,
que suscita, da parte do humano, uma amorosa adoração. Consciente da sua pequenez, ela
ama verdadeiramente o Mestre que tem diante de si. A Sua santidade faz com que ela se
apaixone e, amando-O verdadeiramente, esquece-se de si mesma e entrega-se totalmente no
serviço de agradar ao Amado, pois, quem ama, olha o amado como se fosse toda a sua
riqueza46
.
Ela esquece-se de si, mas também dos julgamentos ou das consequências sociais das
suas atitudes. Apenas pensa em agradar Jesus e confia plenamente n´Ele, no Seu acolhimento.
O crente, ao adorar a Deus, confia plenamente em Deus e em mais ninguém, relativamente ao
último fundamento da sua vida.
Nas ações desta mulher podemos vislumbrar um verdadeiro diálogo com Jesus. Ela
apenas deseja mostrar por Ele o seu amor, muito maior que o seu pecado. Como resposta aos
seus argumentos, Jesus declara-a como perdoada. Ela utilizou o maior argumento que alguma
vez podia ser usado: o amor com que orou e os gestos em que o testemunhou.
44
François Varillon, Alegria de crer e de viver (Braga: ed. Apostolado de Oração, 2013), 54.
45
José Frazão, «Creio em um só Senhor», in Aa. Vv., Santíssima Trindade adoro-Vos profundamente. Itinerário
temático do centenário das aparições de Fátima [1º Ciclo] (Fátima: 2010), 65.
46
Cf. François Varillon, Alegria de crer e de viver (Braga: ed. Apostolado de Oração, 2013), 59.
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“A(ad)oraçãoemLucas”7,36-50,porJoãoMiguelPereira–joaofreigil@hotmail.com
13
Bibliografia
Díez, Felicísimo Martínez, Crer em Jesus Cristo, viver como cristão . Coimbra: Gráfica de
Coimbra 2, 2007.
Fabris, Rinaldo . “O Evangelho de Lucas”, in Rinaldo Fabris e Bruno Maggioni, Os
Evangelhos, Vol. II . São Paulo: Ed. Loyola 1992, 87-89.
Frazão, José, «Creio em um só Senhor», in Aa. Vv., Santíssima Trindade adoro-Vos
profundamente. Itinerário temático do centenário das aparições de Fátima [1º Ciclo] .
Fátima: 2010.
Jesus, Marie de L´Enfant, Je veux voir Dieu . 3ª ed. . Tarrascon: ed. du Carmel, 1965.
Melo, Luís, Se tu soubesses o dom de Deus . Braga: ed. Fundação AIS e Apostolado de
Oração, 2006.
Varillon, François, Alegria de crer e de viver . Braga: ed. Apostolado de Oração, 2013.
Vilas Boas, Susana, O amor que salva . Fátima: Difusora Bíblica, 2017.
UniversidadeCatólicaPortuguesa,FaculdadedeTeologia(CentroRegionaldeBraga)–Semináriosobreaoração,noevangelhodeLucas
“A(ad)oraçãoemLucas”7,36-50,porJoãoMiguelPereira–joaofreigil@hotmail.com
14
Índice
Introdução_________________________________________________________________ 1
I – Enquadramento cultural/bíblico _____________________________________________ 2
a) Costume de receber gente em casa:________________________________________ 2
b) Tradição de ungir (os pés): ______________________________________________ 3
II – Adoração como silencioso diálogo de amor ___________________________________ 4
III – Hermenêutica dos gestos da mulher_________________________________________ 5
a) Oração, expiação dos pecados v.s. amor que salva: ___________________________ 8
b) Resposta de Jesus, a quem muito ama muito se perdoa: ________________________ 9
c) Referência ao anfitrião (e aos comensurais):________________________________ 11
Conclusão ________________________________________________________________ 12
Bibliografia_______________________________________________________________ 13
Índice ___________________________________________________________________ 14
UniversidadeCatólicaPortuguesa,FaculdadedeTeologia(CentroRegionaldeBraga)–Semináriosobreaoração,noevangelhodeLucas
“A(ad)oraçãoemLucas”7,36-50,porJoãoMiguelPereira–joaofreigil@hotmail.com

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A adoração da mulher pecadora

  • 1. UNIVERSIDADE CATÓLICA PORTUGUESA FACULDADE DE TEOLOGIA MESTRADO INTEGRADO EM TEOLOGIA (1.º grau canónico) JOÃO MIGUEL PEREIRA A (ad)oração em Lucas 7, 36-50 Trabalho realizado no âmbito do Seminário sobre a oração, no evangelho de Lucas sob orientação de: Prof. Doutor Pe. João Alberto Correia Braga 2018
  • 2. 1 Introdução Folheando as páginas lavradas pelos belos capítulos que compõem o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo são Lucas, é difícil escolher um tema sobre o qual elaborar um trabalho. Primeiro porque todo o texto é belo. A forma “imagética” como Lucas nos retrata os diversos episódios da vida de Jesus Cristo dá-nos a possibilidade de entrar na narrativa, como que visualizando tudo o que lá se relata a acontecer à nossa volta. Depois porque, dada a complexidade do texto e a riqueza embutida na língua grega em que o texto original nos foi deixado, muito se poderia dizer sobre cada capítulo… e, sem exagero, sobre o significado de cada palavra cuidadosamente escolhida por Lucas, no sentido de alargar os horizontes de significância de cada frase. Todavia, esta unidade curricular prende-se sobre o tema da “oração no Evangelho de Lucas”, o que desde logo me facilitou na escolha de um tema a trabalhar dentro do variado leque de temas que compõem o texto. Ainda assim, a variedade de momentos em que se trata de oração no evangelho de Lucas, continua a acompanhar a riqueza deste texto. Por fim, deixei-me guiar pelo coração ou, se quiserem, pelo sentimento. Foi enquanto lia o Evangelho que me deparei com a figura humilde da mulher pecadora, do inflexível pretenso justo e do doce e amável Jesus. Bem que tentei continuar em frente, prosseguir para os capítulos seguintes, mas aquela passagem não me largava. Não lhe fiquei indiferente. Será por me identificar com aquela mulher pecadora e tantas vezes também eu me ajoelhar diante de Jesus Sacramentado e chorar? Ou, por ventura, por me ter apaixonado por aquele Jesus que se deixa tocar pelo pecador para permitir a sua cura? Assim, neste breve trabalho, o que me proponho é fazer uma leitura dos gestos da mulher e identificar ali sinais de oração ou, para ser mais preciso, de adoração. Afinal, o diálogo daquela mulher não se faz pela pronúncia de sons, mas antes pela materialização daquilo que deseja falar nos gestos que ela realiza. UniversidadeCatólicaPortuguesa,FaculdadedeTeologia(CentroRegionaldeBraga)–Semináriosobreaoração,noevangelhodeLucas “A(ad)oraçãoemLucas”7,36-50,porJoãoMiguelPereira–joaofreigil@hotmail.com
  • 3. 2 I – Enquadramento cultural/bíblico a) Costume de receber gente em casa: O acontecimento que Lucas 7, 36-50 retrata desenrola-se num cenário em que Jesus se encontra reclinado à mesa, na casa de um fariseu que o convida para uma refeição. Importa pois, antes de mais, retirar algumas ilações referentes a este quadro que não pode passar indiferente numa análise que se adentre na tradição bíblica. Desde logo, não podemos ignorar que «nos Textos Sagrados, comer e beber assumem um carácter religioso e só podem ser entendidos à luz da Aliança de Deus com o Homem, uma Aliança que coloca o Homem em relação com Deus e com toda a Criação»1 . Desta feita, «falar de uma refeição, na época de Jesus, é falar de um ato social por excelência que muito diz da relação entre os comensurais, sugerindo uma identidade comum que se traduz nos gestos e nos alimentos que se partilham ao redor de uma mesma mesa»2 . De igual modo, numa época caracterizada por uma forte componente de ritualização, em que “o rito ordenava o sagrado e o profano, regulava a relação com o divino e o mapa das sociedades”, partilhar uma refeição obedecia a um determinado protocolo. Para os judeus, «a mesa apresentava-se como representação clara da estrutura do próprio grupo (Fariseus, Saduceus ou outro) a que o dono da casa pertencia, não havendo a possibilidade de um judeu partilhar a mesa com um não-judeu»3 . «Na mesa, cada vez mais ritualizada e influenciada pela cultura grega, tudo era muito bem definido, desde o lugar de cada um até aos ritos próprios de purificação e bênção antes da refeição. Aqui, sobretudo nos dias mais festivos, comia-se recostado e durante várias horas, obedecendo sempre aos ritos próprios do partilhar uma refeição»4 . É de salientar ainda o facto de esta questão da hospitalidade estar muito presente também na cultura grega, na qual Lucas se move e, a partir da qual, escreve. Igualmente, no mundo judaico, esta questão tem também um impacto fundamental: os “filhos de Abraão” devem imitar o seu exemplo da boa hospitalidade (Gn 18), satisfazendo as cinco leis da tenda: “porta aberta, lavar os pés, alojar, dar de comer e ajudar a prosseguir”5 . Esse exemplo de generosidade e hospitalidade de Abraão era seguido por aqueles que recebiam convidados em casa. Estes, «não deixavam para os servos ou escravos o acolhimento do convidado, mas 1 Susana Vilas Boas, O amor que salva (Fátima: Difusora Bíblica, 2017), 30-31. 2 Ibidem. 3 Ibidem, 32. 4 Ibidem. 5 Cf. Ibidem, 33. UniversidadeCatólicaPortuguesa,FaculdadedeTeologia(CentroRegionaldeBraga)–Semináriosobreaoração,noevangelhodeLucas “A(ad)oraçãoemLucas”7,36-50,porJoãoMiguelPereira–joaofreigil@hotmail.com
  • 4. 3 faziam-se, eles mesmos, servos daqueles que recebiam. À atitude do que receber, o convidado respondia, na oração de ação de graças no fim da refeição, pedindo a bênção para este e para a sua família»6 . b) Tradição de ungir (os pés): Tendo em conta as “cinco leis da tenda”, o expectável é que Simão, anfitrião da refeição para a qual Jesus fora convidado, lhe tivesse oferecido água para lavar os pés e ele mesmo se tivesse prestado a esse serviço de “bem receber” (Lc 7, 44). Todavia, não tendo isto acontecido, ele e os comensais ficam mais preocupados pelo contacto que Jesus permite à mulher pecadora, caindo em descrédito diante das categorias de “profeta” ou “puro” (cf. Lc 7, 39). Aquela mulher consegue surpreender, age mais além do que seria expectável: «com um vaso de perfume, chega-se ao hóspede de honra e, ao invés de ungir a cabeça dele em sinal de veneração e respeito, como era costume em tais circunstâncias, dobra-se a seus pés, unge-os, beija-os e os enxuga com seus cabelos. É um comportamento não só impróprio mas equívoco»7 . Sem desprezar os vastos significados que a unção acarreta8 , «a unção dos pés, nesta época, “encontrava-se dentro do esmero de uma esposa pelo seu marido ou de uma filha pelo seu pai”, não havendo modo melhor de uma mulher poder demonstrar o seu amor erótico ao marido»9 . 6 Susana Vilas Boas, O amor que salva (Fátima: Difusora Bíblica, 2017), 33. 7 Rinaldo Fabris, “O Evangelho de Lucas”, in Rinaldo Fabris e Bruno Maggioni, Os Evangelhos, Vol. II (São Paulo: Ed. Loyola, 1992), 88. 8 O óleo como símbolo da prosperidade e fertilidade (Dt 33,24; Sl 133,2; Jb 29,6; Dt 33,24), das bênçãos de Deus (Dt 7,13; 2 Rs 20,13), iluminação da habitação (Mt 25, 1-13), higiene-beleza-alegria (Sl 133,2; Sl 141,5; 2 Sm 14,2; Mt 6,17), respeito e tratamento prestado ao hóspede (Sl 23,5; Lc 7, 36-50; Jo 11,2; Jo 12,3), amor conjugal (Ct1,12; Jo 12,1-8), alívio da dor física e espiritual (Sl 109,18; Mc 6,13; Tg 5,14), é um dos elementos oferecidos nos sacrifícios no Templo (Gn 35, 14; Ex 29,2.7.23; Lv 2,4-10), mantém a lâmpada sempre acesa diante do Senhor (Lv 24,2-3; Nm 4,16; Sir 38,11), constituinte dos perfumes, utilizado para massajar os atletas, guerreiros ou os que tinham trabalhos pesados, símbolo escolha do rei por Deus que lhe dá autoridade, poder e glória (1 Sm 16,1-3; 2 Sm 2,3-4), sinal de consagração do profano a Deus e dos sacerdotes (Ex 29,4-7; Ex 40,12- 15; Gn 28,18.22; Gn 31,13), Jesus Cristo é o Messias, isto é, o ungido de Deus (Mt 16,16; Mc 8,29; Lc 9,20; Jo 6,68). 9 Susana Vilas Boas, O amor que salva (Fátima: Difusora Bíblica, 2017), 66. UniversidadeCatólicaPortuguesa,FaculdadedeTeologia(CentroRegionaldeBraga)–Semináriosobreaoração,noevangelhodeLucas “A(ad)oraçãoemLucas”7,36-50,porJoãoMiguelPereira–joaofreigil@hotmail.com
  • 5. 4 II – Adoração como silencioso diálogo de amor A oração é a «livre expressão de dois amores que se encontram, se reconhecem e se entregam um ao outro»10 , é «estar em relação de amor com quem sabemos que nos ama»11 . No caso da adoração, o modo de expressão dessa relação de amor pauta-se pelo silêncio de palavras, mas melódico diálogo de gestos. O significado do conceito adoração diz-nos isso mesmo: vem da locução latina ad / oris [=levar os lábios] – o que implica calar e levar à flor dos lábios, isto é, beijar12 . Com o auxílio do tratado sobre a oração de Luís Melo, “Se tu soubesses o dom de Deus”, proponho que façamos um breve percurso sobre a atitude do orante. Sugiro isto no sentido de, logo que passemos à análise do texto (7, 36-50), consigamos imediatamente visualizar e compreender cada gesto daquela mulher que ora silenciosamente mas que tanto alcança dizer. Primordialmente, as maravilhas de Deus, contempladas e saboreadas no coração daquele que está diante delas, deslumbram a sua inteligência e fazem-no cair por terra. E é diante da grandeza delas que o indivíduo toma consciência da própria pequenez, como S. Pedro ao ver as redes a transbordar de peixe: “Afasta-te de mim, Senhor, que sou um homem pecador” (Lc 5,8). «A santidade de Deus que se revela nas suas obras penetra internamente para iluminar a verdade da criatura, pequena, impotente e pecadora. Em presença da santidade, a passagem à oração faz-se naturalmente no ato de humildade que reconhece a distância entre a santidade e o pecado. Dos lábios, brota uma súplica como a do publicano que se mantinha à distância, batia no peito e dizia: “Ó Deus, tem piedade de mim que sou pecador” (Lc 18,14)»13 . Agora, este que abismado na presença das maravilhas de Deus, sente-se longe da santidade do seu criador. Toma consciência de que Deus é o único santo, infinitamente acima da criatura pequena e pecadora. Paradoxalmente, ao mesmo tempo, tal como experimentou Pedro, reconhece um Deus que se faz próximo, que «se faz igual a nós e se põe de joelhos diante dos homens (Jo 13,5), como que mendigo do amor»14 . «Adoração, louvor, súplica, 10 Marie de L´Enfant Jesus, Je veux voir Dieu, 3ª ed., (Tarrascon: ed. du Carmel, 1965), 59. 11 Luís Melo, Se tu soubesses o dom de Deus (Braga: ed. Fundação AIS e Apostolado de Oração, 2006), 27. 12 Cf. Susana Vilas Boas, O amor que salva (Fátima: Difusora Bíblica, 2017), 91. 13 Luís Melo, Se tu soubesses o dom de Deus (Braga: ed. Fundação AIS e Apostolado de Oração, 2006, 65-66. 14 Ibidem, 64-65. UniversidadeCatólicaPortuguesa,FaculdadedeTeologia(CentroRegionaldeBraga)–Semináriosobreaoração,noevangelhodeLucas “A(ad)oraçãoemLucas”7,36-50,porJoãoMiguelPereira–joaofreigil@hotmail.com
  • 6. 5 acção de graças, contemplação, são movimentos naturais ou mesmo espontâneos para quem toma consciência do incrível paradoxo»15 . A adoração filial é a atitude subjacente a qualquer forma de oração e constitui o seu âmago. «Em presença da santidade de Deus, o homem recolhe-se no interior e fica sem palavras como que abismado, entendendo sem entender o que o mistério revela, e sente-se interpelado a decantar impurezas que turvem a limpidez do olhar. Melhor disto, sente-se interpelado por desejo veemente a pedir que a santidade de Deus venha abrasar e purificar toda a impureza que destoa. Dirá como Isaías, “ai de mim que sou um homem de lábios impuros, e vi com os meus olhos o Rei e Senhor dos exércitos” (Is 6,5-7). Não se sente esmagado nem afastado de seu Senhor, Três vezes santo (ib. v.3); pelo contrário, a santidade de Deus envolve-o como a chama envolve a acha, ou os lábios impuros para lhes tirar a culpa e apagar o pecado»16 . Finalmente, na adoração não se põem resistências. “Eis-me aqui” é a atitude do verdadeiro adorador que dá a Deus o direito de entrar e de ocupar o espaço todo, e exprime a adesão da liberdade a um projeto divino17 . O despojamento acompanha a adoração verdadeira, e é fonte de purificação para quem se deixa modelar como o vaso do oleiro (Jr 18,5)18 . III – Hermenêutica dos gestos da mulher Analisamos agora os gestos da mulher, presentes neste excerto do capítulo 7 do Evangelho de Lucas: «Um fariseu convidou-o para comer consigo. Entrou em casa do fariseu, e pôs-se à mesa. Ora certa mulher, conhecida naquela cidade como pecadora, ao saber que Ele estava à mesa em casa do fariseu, trouxe um frasco de alabastro com perfume. Colocando-se por detrás dele e chorando, começou a banhar-lhe os pés com lágrimas; enxugava-os com os cabelos e beijava-os, ungindo-os com perfume. Vendo isto, o fariseu que o convidara disse para consigo: “Se este homem fosse profeta, saberia quem é e de que espécie é a mulher que lhe está a tocar, porque é uma pecadora”! Então, Jesus disse-lhe: “Simão, tenho uma coisa para te dizer”. “Fala, Mestre” - respondeu ele. “Um prestamista tinha dois devedores: um devia-lhe quinhentos denários e o outro cinquenta. Não tendo eles com que pagar, 15 Ibidem. 16 Ibidem. 17 Cf. Ibidem. 18 Cf. Ibidem, 65-66. UniversidadeCatólicaPortuguesa,FaculdadedeTeologia(CentroRegionaldeBraga)–Semináriosobreaoração,noevangelhodeLucas “A(ad)oraçãoemLucas”7,36-50,porJoãoMiguelPereira–joaofreigil@hotmail.com
  • 7. 6 perdoou aos dois. Qual deles o amará mais?” Simão respondeu: “Aquele a quem perdoou mais, creio eu”. Jesus disse-lhe: “Julgaste bem”. E, voltando-se para a mulher, disse a Simão: “Vês esta mulher? Entrei em tua casa e não me deste água para os pés; ela, porém, banhou-me os pés com as suas lágrimas e enxugou-os com os seus cabelos. Não me deste um ósculo; mas ela, desde que entrou, não deixou de beijar-me os pés. Não me ungiste a cabeça com óleo, e ela ungiu-me os pés com perfume. Por isso, digo-te que lhe são perdoados os seus muitos pecados, porque muito amou; mas àquele a quem pouco se perdoa pouco ama”. Depois, disse à mulher: “Os teus pecados estão perdoados". Começaram, então, os convivas a dizer entre si: “Quem é este que até perdoa os pecados”? E Jesus disse à mulher: “A tua fé te salvou. Vai em paz”». (Lc 7, 36-50) Lendo este excerto, graças à mestria com que Lucas nos narra este acontecimento, quase que conseguimos entrar naquele cenário da casa do fariseu Simão e visualizar a súbita entrada em cena daquela mulher, vista com maus olhos pelos presentes. Todos, à exceção de Jesus, a consideram indigna de ali estar. Não porque não fora convidada - pois era costume que as portas ficassem abertas para quem desejasse “espreitar” o banquete - mas antes porque ela tinha fama naquela cidade de ser pecadora. E esta mulher entra naquele espaço, que se lhe antevê hostil, unicamente porque sabe que Jesus ali está e, precisamente, com o intuito de o ver e ungir. Ela testemunha um amor que se traduz em coragem (para desafiar os costumes e a sociedade da época)19 ; não se deixa aprisionar pelas leis e costumes do seu tempo. Isso nota-se, inclusive, no facto de andar sozinha (quando o costume dizia que a mulher só devia sair de casa quando acompanhada pelo pai ou pelo esposo) ou no momento em que solta os cabelos para secar os pés de Jesus (lembremos que na cultura judaica da época era impróprio à mulher mostrar os cabelos). Lucas não nos revela qual é realmente o motivo para aquela mulher ser rotulada de pecadora. Alguns exegetas optam por descrevê-la como prostituta, mesmo que o texto grego possa deixar algumas dúvidas quanto a essa interpretação. Todavia, a mestria de Lucas, ao não identificar o pecado daquela mulher, dá espaço para que todo o leitor se possa identificar com ela, colocando-se no seu lugar. Agora, dentro de casa de Simão e fora do seu espaço de conforto, esta mulher fita Aquele que ansiava ver. Uma vez que ela trazia o frasco de perfume, o seu primeiro objetivo seria ungir Aquele sobre quem teria ouvido falar. Constatamos, no entanto, que o plano que tinha feito é adiado no momento em que sente n´Aquele homem a presença de Deus. É diante 19 Cf. Susana Vilas Boas, O amor que salva (Fátima: Difusora Bíblica, 2017), 67-68. UniversidadeCatólicaPortuguesa,FaculdadedeTeologia(CentroRegionaldeBraga)–Semináriosobreaoração,noevangelhodeLucas “A(ad)oraçãoemLucas”7,36-50,porJoãoMiguelPereira–joaofreigil@hotmail.com
  • 8. 7 das maravilhas de Deus saboreadas em seu coração – e é só o seu coração que lhe confirma a identidade divina de Jesus e a vontade de Deus sobre a história20 – que a mulher toma consciência da sua pequenez. Ela coloca-se por detrás do Mestre, numa atitude de humildade e discipulado, consciente de que está na presença da verdadeira santidade, sendo ela pecadora. Quanto às lágrimas, nota-se que a apanham desprevenida21 . Não são umas pequenas gotas, «Lucas exprime a ação de lavar os pés com o verbo bréxô, equiparando o choro da mulher à chuva intensa que cai sobre a terra»22 . Dando-se conta do «que provocaram as suas lágrimas, reage com um gesto ainda mais escandaloso e impróprio: enxuga os pés de Jesus com os cabelos e beija-os! E o Mestre, que era tido como um profeta, permite tais atitudes, não a impede de dar seguimento a estas ações impuras. No entanto, Lucas não deixa ao acaso a forma como a mulher beija os pés de Jesus: beija-os repetidamente» 23 , fazendo uso do imperfeito do indicativo, o que faz desta ação infindável. Se presenciássemos essa ação, tal como o fizeram Simão e os comensais, julgávamos que «esta mulher realiza uma ação íntima e de extremo erotismo em relação a Jesus, diante de todos os presentes em casa do fariseu: unge-Lhe os pés, beija-os, solta os cabelos e seca, com eles, os pés de Jesus»24 . Mas, se formos mais ao núcleo da ação, colocando a hipótese de realmente ela ser prostituta, talvez nos dêmos conta que esta pode ser a «única forma que a mulher conhece de expressar o seu amor»25 . Constatar que a mulher cumpriu para com Jesus gestos extraordinários de acolhimento e de veneração, que seriam expectáveis que tivesse sido o fariseu a ofertar, é evidente. Mas Simão não demonstrou por Jesus qualquer gesto de boa hospitalidade, fossem eles expressão de mero cumprimento da lei ou fossem de um coração fervilhante e apaixonado como o daquela mulher. «No fim deste crescendo, em que o fariseu “justo” se encontra do lado da falta e a pecadora anónima, do lado da misericórdia, chega-se à sentença chave: Por isso te digo: seus muitos pecados lhe foram perdoados, dado que ela demonstrou tanto amor (Lc. 7, 47a). A tradução proposta vê nos gestos da mulher a expressão de um amor grato pelo perdão recebido. Mas poder-se-ia entender o texto original de Lucas também neste sentido: o grande perdão concedido à mulher é fruto e resposta a seu grande amor manifestado para com Jesus. 20 Cf. Felicísimo Martínez Díez, Crer em Jesus Cristo, viver como cristão (Coimbra: Gráfica de Coimbra 2, 2007), 941. 21 Cf. Susana Vilas Boas, O amor que salva (Fátima: Difusora Bíblica, 2017), 65. 22 Susana Vilas Boas, O amor que salva (Fátima: Difusora Bíblica, 2017), 42. 23 Ibidem, 65. 24 Ibidem, 66. 25 Ibidem. UniversidadeCatólicaPortuguesa,FaculdadedeTeologia(CentroRegionaldeBraga)–Semináriosobreaoração,noevangelhodeLucas “A(ad)oraçãoemLucas”7,36-50,porJoãoMiguelPereira–joaofreigil@hotmail.com
  • 9. 8 O que Lucas quer expressar também, no comentário do v. 47b, é isto: há uma íntima ligação entre o perdão dos pecados e o amor generoso»26 . Vale a pena realçar o enquadramento desta passagem no Evangelho de Lucas, o que testemunha mais uma vez a beleza e criatividade do redator e o seu intuito de apelar ao leitor a que faça uma escolha dócil à Palavra. Se nas linhas que precedem esta narração (cf. Lc 7,29- 35) temos um cenário onde a insensibilidade e o cumprimento inflexível da lei havia impedido aos fariseus e doutores da lei ingressarem nos desígnios salvíficos de Deus (recusando o batismo de João e depois a atitude do Filho do Homem que a todos quer salvar), nas linhas que se seguem (cf. Lc 8,1-3) vemos o florescer da vida dos humildes que (tendo acolhido a Salvação e recebido o perdão e a cura das várias enfermidades) acompanham agora Jesus na missão de anunciar a Boa-Nova, colocando-se a si próprios e aos seus bens ao serviço da missão. Algo idêntico se passa aqui: a mulher humilde acolhe o dom da salvação ao passo que o fariseu e os outros comensais endurecem os seus corações e, petrificados pelo cumprimento rígido da lei, não são capazes de se abrirem à presença próxima e afetuosa, gratuita e misericordiosa de Deus. Esta dicotomia de respostas está associada à consciência que cada um julga ter da sua condição de maior ou menor pecador, mas é associada, acima de tudo, à docilidade de coração. a) Oração, expiação dos pecados v.s. amor que salva: Na tradição bíblica, na Torah, a expiação dos pecados estava associada às solenidades do Yon Kippur, a Festa da Expiação ou “dia do perdão”. Naquela, só quem se encontrava em estado de purificação absoluta (pelo menos aos olhos dos homens), através do jejum e das orações, podia realizar o rito27 . Se assim não fosse, a ira divina podia ser mortífera para quem se aproximasse impuro diante do Senhor (cf. Lv 22,9). Por seu turno, o Evangelho de Lucas apresenta o perdão associado à pessoa de Jesus, obedecendo a um novo rito, o do amor28 . Lucas reelabora o rito judaico de purificação dos pecados e, à luz do Deus-Misericórdia revelado em Jesus Cristo, «o rito de expiação passa a ser descrito e realizado através do oferecimento de gestos de amor (cf. Lc 7,44-48), não havendo lugar à imolação, apenas à amorização e à vida nova em Cristo (cf. Lc 7,47- 48.50)»29 . O propiciatório [cf. Lv 16,12-13] deixa de estar sobre a Arca da Aliança (cf. Lv 26 Rinaldo Fabris, “O Evangelho de Lucas”, in Rinaldo Fabris e Bruno Maggioni, Os Evangelhos, Vol. II (São Paulo: Ed. Loyola, 1992), 88. 27 Cf. Susana Vilas Boas, O amor que salva (Fátima: Difusora Bíblica, 2017), 81. 28 Ibidem,76. 29 Susana Vilas Boas, O amor que salva (Fátima: Difusora Bíblica, 2017), 82. UniversidadeCatólicaPortuguesa,FaculdadedeTeologia(CentroRegionaldeBraga)–Semináriosobreaoração,noevangelhodeLucas “A(ad)oraçãoemLucas”7,36-50,porJoãoMiguelPereira–joaofreigil@hotmail.com
  • 10. 9 16,2c), mas é o próprio Deus encarnado e próximo. Ele torna-se-lhe acessível, não por mérito humano mas por dom do Deus que é amor e que abre as portas a uma salvação universal. «A mulher unge esse propiciatório – os pés de Jesus –, não com o sangue, fruto de um sacrifício cruento, de uma vítima inocente, mas com o perfume, as lágrimas e os beijos (Lc 7,38), reveladores de um amor que é resposta ao perdão de Deus. […] Ela não acarinha apenas o lugar onde Deus vem falar ao homem (Ex 25,22), mas o próprio Deus feito homem para os homens»30 . «Apesar do seu pecado, ela entra e acede ao verdadeiro Santo dos Santos. O véu do templo já não é entrave para aceder a Deus (Lc 23,45), nem o acesso ao Propiciatório é reserva para uma elite, dita santa (Lc 1,10)» 31 . A relação com Deus torna-se agora mais humana e sensível. Tudo aqui parece recusar a frieza e insensibilidade dos ritualismos mercantis e do cumprimento firme da lei. «Outrora, os ritos de expiação eram marcados por um ritualismo quase mercantil: estava nas mãos do homem “comprar” a graça divina (o Sumo-sacerdote, cumprindo o rito, não morrerá [Lv 16,11-13] e todo o povo será purificado [Lc 16,34]). Porém, em Lucas, não há espaço para o negócio: o perdão é dom de Deus (tanto para os que só são capazes de O amar depois do perdão [Lc 7,42-43], como para aqueles que, amando, estão perdoados [Lc 7,47])» 32 . b) Resposta de Jesus, a quem muito ama muito se perdoa: É exatamente isso: o amor recebe como resposta o perdão e vice-versa. Ainda que os gestos da mulher sejam interpretados por Jesus como expressão de muito amor, aos quais responde com o perdão (cf. Lc. 7, 47), permanece a dúvida: É-se perdoado porque muito se ama ou ama-se porque muito se lhe é perdoado? De facto, «no v. 47a, a conjunção traduzida por “por isso” (hoti) dá ao texto abertura para duas leituras: uma causal e outra explicativa ou consecutiva. Assim, o v. 47a pode ser entendido, graças a esta conjunção ambivalente, como “estão perdoados os seus muitos pecados, porque mostra muito amor” (causal) ou como, “estão perdoados os seus muitos pecados e, por isso, demonstra tanto amor” (explicativo). No entanto, se atendermos ao contexto da parábola narrada nos versículos 41-43 e à segunda parte do v. 47 (“aquele a quem pouco se perdoa pouco ama/pouco demonstra amor”), este hoti parece apresentar-se 30 Ibidem. 31 Ibidem, 83. 32 Ibidem, 85. UniversidadeCatólicaPortuguesa,FaculdadedeTeologia(CentroRegionaldeBraga)–Semináriosobreaoração,noevangelhodeLucas “A(ad)oraçãoemLucas”7,36-50,porJoãoMiguelPereira–joaofreigil@hotmail.com
  • 11. 10 claramente como sinal de amor/agradecimento da mulher em consequência do perdão que recebeu»33 . É o amor demonstrado pela mulher que recebe de Jesus a declaração pública de que os seus pecados “estão resgatados”. Ela, porque O encontrou, acolheu/acreditou e amou, foi perdoada. «Não se trata de um “arrependeu-se e, por isso, foi perdoada”, mas de um “ama, está perdoada”, na medida em que o amor é o único capaz de resgatar e se deixar resgatar. Se o Amor que resgata tem o seu clímax na Cruz, só aquele que ama é capaz de se deixar resgatar por Ele. O Amor que resgata é sempre dado (é dom) e o acolhimento deste é que permite que se realize, plenamente, o Seu efeito. Se o perdão apaga algo do passado, o resgate salva do passado, afasta do erro presente e abre algo para o futuro. Assim, a demonstração de amor da mulher é demonstração de reconhecimento, gratidão e acolhimento do Amor d´Aquele que a resgatou. Ela é resgatada não de um passado de pecado, mas para um futuro de salvação»34 . De facto, as mulheres curadas de quem Lucas lavra a seguir (cf. Lc. 8,1-5) não deixam de ter o seu passado nebuloso, todavia são resgatadas para uma vida nova, a salvação por Cristo e com Ele. Jesus, em linha com o que sempre ensinou, não quis com isto desvalorizar, ou até anular, a lei. Ele de facto realiza um amor que vai além do pecado e da justiça humana («Não julgueis e não sereis julgados; não condeneis e não sereis condenados; perdoai e sereis perdoados»[Lc 6,37]). Isto não significa que Ele crie uma nova lei ou negue a Lei (Torah). Trata-se, em vez disso, do difundir de «uma compreensão e de um sentido mais autêntico do Deus da Torah»35 , libertando «“do fideísmo da lei e de algumas instruções que foram incorporadas posteriormente na Torah de Israel por via da chamada tradição oral (…), mas que [indevidamente] assumiram um patamar de igualdade perante a mesma”» 36 . As palavras de Jesus, que declaram uma absolvição, explicitam o que estava já presente desde que Ele acolhe e se deixa tocar pela pecadora. A última palavra: “A tua fé te salvou; vai em paz!” mostra a raiz profunda do perdão e seu fruto mais amplo, ou seja, a fé gera perdão que é salvação. O versículo 50 apresenta a fórmula de despedida que era comum na época: shalom – “vai em paz”. Esta expressão simboliza plena comunhão de vida que é a paz em Deus e com ela Jesus oferece uma paz (eirênê), totalmente nova e inovadora, oferecida a todos, sobretudo aos mais excluídos da sociedade de então37 . 33 Ibidem, 44. 34 Ibidem, 88-89. 35 Ibidem, 90-91. 36 Ibidem. 37 Cf. Ibidem, 45. UniversidadeCatólicaPortuguesa,FaculdadedeTeologia(CentroRegionaldeBraga)–Semináriosobreaoração,noevangelhodeLucas “A(ad)oraçãoemLucas”7,36-50,porJoãoMiguelPereira–joaofreigil@hotmail.com
  • 12. 11 c) Referência ao anfitrião (e aos comensurais): Diante da reação de Simão, que não põe em prática os costumes hebraicos de bem receber e que, se inicialmente se interroga sobre a identidade profética de Jesus, rapidamente passa a julgá-l`O, ficamos sem perceber bem porque O convidou para a refeição em sua casa. Além do mais, «tendo em conta todas as polémicas e acusações que Jesus dirige aos fariseus, nos relatos anteriores (cf. Lc 6,1-11.24-37), e a reação que estes demonstram, sobretudo desde a cura e perdão dos pecados ao paralítico (Lc 5,21ss), o convite para jantar pode não ser expressão de hospitalidade, mas estar revestido de segundas intenções. Estas tanto poderiam prender-se com a vontade de desmascarar Jesus, ou seja, de O apanhar em contradição, como poderiam, na melhor das hipóteses, visar convencer Jesus a alinhar com as autoridades religiosas do Seu tempo»38 . De facto, se por um lado Simão ouvira falar da fama deste homem que fazia milagres, o que o terá feito interrogar sobre se Ele seria ou não um profeta, sabe também que Ele questiona a lei e as autoridades judaicas. Ainda assim, o fariseu convida-O a jantar em sua casa, porém, «os seus preconceitos (representativos do pensar do grupo dos fariseus), leva-o a receber Jesus com uma certa frieza e sem grande intimidade, colocando de parte os ritos habituais de hospitalidade»39 . «Aparências de humildade, como todas as aparências, não fazem crescer no amor»40 . Não adianta que os costumes (as cinco leis da tenda) ensinem a receber os hóspedes como se do próprio Deus se tratasse, pois, «a soberba do coração que contraria a adoração verdadeira é aquela montanha que só uma grande fé consegue deitar ao mar»41 . «Simão convida Jesus, mas parece estar paralisado pelos seus próprios julgamentos e suposições. Não consegue agir (v. 44-46), limita-se a julgar e a supor»42 . Concluo com as sábias palavras de R. Fabris que sintetizam esta passagem de Lucas: «A salvação como perdão para os pecadores passa ao lado dos pretensos justos, bloqueados na sua justiça. E uma justiça que não é recebida como dom de Deus torna-se alavanca secreta daquela exaltação que se serve de Deus para consagrar as estratificações e as divisões entre os homens. Então a misericórdia salvadora de Deus, que abre caminho entre os homens pobres e excluídos, desmancha também as barreiras de casta e religião dos farisaísmos de todos os tempos»43 . 38 Susana Vilas Boas, O amor que salva (Fátima: Difusora Bíblica, 2017), 59. 39 Ibidem, 60-61. 40 Luís Melo, Se tu soubesses o dom de Deus (Braga: ed. Fundação Ais e Apostolado de Oração, 2006), 74. 41 Ibidem, 67. 42 Susana Vilas Boas, O amor que salva (Fátima: Difusora Biblica, 2017), 62. 43 Rinaldo Fabris, “O Evangelho de Lucas”, in Rinaldo Fabris e Bruno Maggioni, Os Evangelhos, Vol. II (São Paulo: ed. Loyola, 1992), 81. UniversidadeCatólicaPortuguesa,FaculdadedeTeologia(CentroRegionaldeBraga)–Semináriosobreaoração,noevangelhodeLucas “A(ad)oraçãoemLucas”7,36-50,porJoãoMiguelPereira–joaofreigil@hotmail.com
  • 13. 12 Conclusão Quando lemos Lc 7, 36-50 podemos não nos dar conta da profundidade de sentido do que ali está escrito. Mas, de facto, nesta passagem, encontramos o culminar da história da revelação: Deus adorado como amor. Na realidade, «Deus não é senão Amor»44 . Em Jesus, Deus dá-se a conhecer como Amor e, ao mesmo tempo, como mendigo de amor «correndo o risco de Se expor à qualidade dos nossos afetos, ao discernimento da nossa inteligência, à disposição – ou indisposição – da nossa liberdade»45 . Aqui, essa disponibilidade de Deus que se faz próximo e desejoso de ser acolhido para também Ele poder acolher, recebe resposta positiva daquela mulher que, ferida pelo pecado, não deixa de encontrar na pessoa de Jesus a presença da Santidade de Deus. É o próprio Deus, que suscita, da parte do humano, uma amorosa adoração. Consciente da sua pequenez, ela ama verdadeiramente o Mestre que tem diante de si. A Sua santidade faz com que ela se apaixone e, amando-O verdadeiramente, esquece-se de si mesma e entrega-se totalmente no serviço de agradar ao Amado, pois, quem ama, olha o amado como se fosse toda a sua riqueza46 . Ela esquece-se de si, mas também dos julgamentos ou das consequências sociais das suas atitudes. Apenas pensa em agradar Jesus e confia plenamente n´Ele, no Seu acolhimento. O crente, ao adorar a Deus, confia plenamente em Deus e em mais ninguém, relativamente ao último fundamento da sua vida. Nas ações desta mulher podemos vislumbrar um verdadeiro diálogo com Jesus. Ela apenas deseja mostrar por Ele o seu amor, muito maior que o seu pecado. Como resposta aos seus argumentos, Jesus declara-a como perdoada. Ela utilizou o maior argumento que alguma vez podia ser usado: o amor com que orou e os gestos em que o testemunhou. 44 François Varillon, Alegria de crer e de viver (Braga: ed. Apostolado de Oração, 2013), 54. 45 José Frazão, «Creio em um só Senhor», in Aa. Vv., Santíssima Trindade adoro-Vos profundamente. Itinerário temático do centenário das aparições de Fátima [1º Ciclo] (Fátima: 2010), 65. 46 Cf. François Varillon, Alegria de crer e de viver (Braga: ed. Apostolado de Oração, 2013), 59. UniversidadeCatólicaPortuguesa,FaculdadedeTeologia(CentroRegionaldeBraga)–Semináriosobreaoração,noevangelhodeLucas “A(ad)oraçãoemLucas”7,36-50,porJoãoMiguelPereira–joaofreigil@hotmail.com
  • 14. 13 Bibliografia Díez, Felicísimo Martínez, Crer em Jesus Cristo, viver como cristão . Coimbra: Gráfica de Coimbra 2, 2007. Fabris, Rinaldo . “O Evangelho de Lucas”, in Rinaldo Fabris e Bruno Maggioni, Os Evangelhos, Vol. II . São Paulo: Ed. Loyola 1992, 87-89. Frazão, José, «Creio em um só Senhor», in Aa. Vv., Santíssima Trindade adoro-Vos profundamente. Itinerário temático do centenário das aparições de Fátima [1º Ciclo] . Fátima: 2010. Jesus, Marie de L´Enfant, Je veux voir Dieu . 3ª ed. . Tarrascon: ed. du Carmel, 1965. Melo, Luís, Se tu soubesses o dom de Deus . Braga: ed. Fundação AIS e Apostolado de Oração, 2006. Varillon, François, Alegria de crer e de viver . Braga: ed. Apostolado de Oração, 2013. Vilas Boas, Susana, O amor que salva . Fátima: Difusora Bíblica, 2017. UniversidadeCatólicaPortuguesa,FaculdadedeTeologia(CentroRegionaldeBraga)–Semináriosobreaoração,noevangelhodeLucas “A(ad)oraçãoemLucas”7,36-50,porJoãoMiguelPereira–joaofreigil@hotmail.com
  • 15. 14 Índice Introdução_________________________________________________________________ 1 I – Enquadramento cultural/bíblico _____________________________________________ 2 a) Costume de receber gente em casa:________________________________________ 2 b) Tradição de ungir (os pés): ______________________________________________ 3 II – Adoração como silencioso diálogo de amor ___________________________________ 4 III – Hermenêutica dos gestos da mulher_________________________________________ 5 a) Oração, expiação dos pecados v.s. amor que salva: ___________________________ 8 b) Resposta de Jesus, a quem muito ama muito se perdoa: ________________________ 9 c) Referência ao anfitrião (e aos comensurais):________________________________ 11 Conclusão ________________________________________________________________ 12 Bibliografia_______________________________________________________________ 13 Índice ___________________________________________________________________ 14 UniversidadeCatólicaPortuguesa,FaculdadedeTeologia(CentroRegionaldeBraga)–Semináriosobreaoração,noevangelhodeLucas “A(ad)oraçãoemLucas”7,36-50,porJoãoMiguelPereira–joaofreigil@hotmail.com