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Frente à diversidade da “aldeia global”, têm surgido crenças mais
razoáveis (se sigo a Jesus, posso encontrar uma vida boa, verdadeira
e abençoada pelo seu caminho de amor, mas entendo que outros
possam descobrir outras espiritualidades válidas) e até mais
pluralistas (há algo da consciência de Cristo em todos os seres e
culturas, sendo o cristianismo uma de suas interpretações).
Inclusive religiosidades mais integrais e trânsfugas (a
espiritualidade também se verifica na profundidade da observação
científica e nas relações intersubjetivas profundas, podendo-se
conceber uma "missa sobre o mundo" para além das místicas
explicitamente eclesiais).
Mas temos ainda uma visão mágica da espiritualidade (por exemplo,
Jesus altera o mundo milagrosamente e atende as minhas preces
por prosperidade e riqueza) e também uma visão mítica das coisas
(segundo a qual Jesus traz a verdade eterna sobre tudo - e contra
todos os que não têm fé nele).
Como perceber um dinamismo espiritual comum e humanizante
entre e para além das religiões? As experiências místicas podem ser
fator de paz justa, enquanto respeito ao mistério da realidade – que
nos atravessa e ultrapassa.
Essa busca passa pelo diálogo, que requer consciência da
humildade, abertura para o valor da alteridade e fidelidade à
própria tradição. Mas também que se busque (com) a verdade e que
se cultive, principalmente, a compaixão, a “regra de ouro”.
Ao contrário da tese exclusivista tradicional ‘Fora da minha igreja
não há salvação’, ou melhor pontuando a proposta inclusivista mais
recente ‘Fora do meu salvador não há salvação’, ensaia-se um
projeto mais radical: ‘Fora da caridade não há salvação’.
Tal diálogo se desenvolve pelo serviço à justiça e cuidado com a
Terra, pelos intercâmbios teológicos e pela partilha das experiências
religiosas. Mas como criar conteúdos e processos de aprendizagem
para esse caminho?
As Ciências da Religião surgem como campo de conhecimento aberto
à complementariedade das disciplinas científicas e alicerçadas em
uma epistemologia das controvérsias.
A transdisciplinaridade desenvolve esses fundamentos científico-
culturais, em uma forma nova de ver e entender a natureza, a vida e
a humanidade. Ela busca a unidade do conhecimento para nos
ajudar a encontrar sentido para a existência.
A transdisciplinaridade reivindica a centralidade da vida nas
discussões sobre a realidade, propondo uma mudança na
compreensão do conhecimento, como relação, tendo por base três
princípios:
 considerar vários níveis de realidade;
 trabalhar com a lógica do Terceiro Termo Incluído;
 abranger a visão da complexidade dos fenômenos.
A vida se manifesta na complexidade das relações, que são
estudadas separadamente pelas ciências: exatas, biológicas e
humanas. Mas a interdependência é um princípio que sustenta a
vida neste planeta.
Negar a interdependência entre ciência e cultura significa negar o
sujeito, desvanecendo o sentido da vida. Precisamos associar as
sabedorias das antigas tradições simbólicas de interioridade aos
princípios culturais e científicos modernos e pós-modernos, que
exploram o mundo objetiva e intersubjetivamente.
A transdisciplinaridade está “entre”, “através” e “além” das
disciplinas. A transdisciplinaridade transgride as fronteiras de cada
ciência disciplinar e constrói um novo conhecimento “através” das
ciências, um conhecimento integrado em função da humanidade,
resgatando as relações de interdependência...
O pensamento de Panikkar é claramente transdisciplinar e tem a
ver com a teoria da complexidade. A sua percepção trinitária da
realidade pode ajudar nos desdobramentos e aplicações da lógica do
Terceiro Incluído na produção de conhecimentos pelos estudos de
religião e no seu desenvolvimento pedagógico pelo Ensino Religioso.
Raimon Panikkar nasceu em Barcelona, filho de mãe espanhola e de
pai indiano. Doutorou-se em Filosofia, Ciências e Teologia. Ensinou
em Bengalore, Roma e Harvard. Viveu na Índia, na Europa e na
América. A sua obra aponta para a espiritualidade como uma forma
de compreensão da realidade e de envolvimento com o seu mistério.
A Trindade representa, para ele, a possibilidade de apreender
melhor a constituição última da realidade do humano, do cósmico e
do divino.
Essa Trindade cosmoteândrica leva a uma percepção diferenciada
da realidade, que está em movimento e mantém juntas as três
dimensões constituídas pelo divino, pelo ser humano e pelo mundo.
Essa Trindade é pericórese e relação, não é monismo nem dualismo,
e sim diferenciação-em-relação. Panikkar está alinhado com os
esboços atuais a respeito da doutrina da Trindade, mas em seu caso
trata-se mais ainda de um acesso hermenêutico à realidade.
Panikkar não usa o termo complexidade, mas seu pensamento
dialoga com os pensadores dessa teoria, desenvolvendo uma
perspectiva holística da realidade, em que tudo está inter-
relacionado, e uma concepção da matéria e do universo oposta à
reducionista-mecanicista. Ele repete constantemente em sua obra,
aberta ao diálogo nos entre-lugares das ciências e das religiões, uma
oposição à tendência moderna de compartimentar tudo, porque isso
impede a experiência do ritmo e harmonia do universo e do Ser.
Sobre a base da história geral das religiões as Ciências da Religião
erguem um estudo comparativo, que aborda as religiões com
questionamentos sistemáticos e interpretativos. O campo de
conhecimento das Ciências da Religião organiza-se com uma
epistemologia das controvérsias para esclarecer a busca por
transcendência e as experiências de sagrado, com aproximações
fenomenológicas e hermenêuticas.
As Ciências da Religião recebem colaborações transdisciplinares de
História e de Hermenêutica, das disciplinas de Sociologia,
Antropologia e Psicologia, bem como de Filosofia, Linguística e
Teologia – exigindo, contudo, que os seus aportes metodológicos
sejam redimensionados com base na comparação empírica dos fatos
e na busca hermenêutica de significados.
A transdisciplinaridade colabora nesse processo, pois engendra uma
atitude transcultural e trans-religiosa. A atitude transcultural
designa a abertura de todas as culturas para aquilo que as
atravessa e as ultrapassa, indicando que nenhuma cultura se
constitui em um lugar privilegiado a partir do qual podemos julgar
universalmente as outras, como nenhuma religião pode ser a única
verdadeira – mesmo que cada uma possa se experimentar como
absolutamente verdadeira e universal.
Em um mesmo nível de realidade elas seriam possivelmente
antagônicas e excludentes, mas se considerarmos um outro nível ao
menos, surge um “terceiro” que, incluído, as pode reconciliar. Trata-
se da base antropológica que nos constitui a todos e exige uma
atitude ética, ou da altitude mística para cujo silêncio e sonho
comum colaboram os sons de todas as tradições.
MODELOS DE ENSINO
RELIGIOSO
O Ensino Religioso, compreendido como área de aplicação
pedagógica do campo de conhecimento das Ciências da Religião,
numa visão transdisciplinar, não objetiva transpor conteúdos
enciclopédicos e muito menos doutrinais, mas o desenvolvimento de
processos de aprendizagem participativos, de construção de
conhecimentos através de projetos de pesquisa, em conexão com as
pautas de estudo e engajamento dos cientistas da religião.
O jeito transdisciplinar de pesquisar lança uma nova luz sobre o
sentido do sagrado. Uma zona de absoluta resistência liga o sujeito e
o objeto, os níveis de realidade e os níveis de percepção. Mística
deriva desse mistério, do respeito a esse ilimitado em todo
conhecimento. Espiritualidade é religação com esse outro lado,
profundo, de toda a realidade: em nosso interior, na natureza e na
história, na face do outro.
Pra continuar a conversa:
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  • 1.
  • 2. Frente à diversidade da “aldeia global”, têm surgido crenças mais razoáveis (se sigo a Jesus, posso encontrar uma vida boa, verdadeira e abençoada pelo seu caminho de amor, mas entendo que outros possam descobrir outras espiritualidades válidas) e até mais pluralistas (há algo da consciência de Cristo em todos os seres e culturas, sendo o cristianismo uma de suas interpretações). Inclusive religiosidades mais integrais e trânsfugas (a espiritualidade também se verifica na profundidade da observação científica e nas relações intersubjetivas profundas, podendo-se conceber uma "missa sobre o mundo" para além das místicas explicitamente eclesiais). Mas temos ainda uma visão mágica da espiritualidade (por exemplo, Jesus altera o mundo milagrosamente e atende as minhas preces por prosperidade e riqueza) e também uma visão mítica das coisas (segundo a qual Jesus traz a verdade eterna sobre tudo - e contra todos os que não têm fé nele).
  • 3.
  • 4. Como perceber um dinamismo espiritual comum e humanizante entre e para além das religiões? As experiências místicas podem ser fator de paz justa, enquanto respeito ao mistério da realidade – que nos atravessa e ultrapassa. Essa busca passa pelo diálogo, que requer consciência da humildade, abertura para o valor da alteridade e fidelidade à própria tradição. Mas também que se busque (com) a verdade e que se cultive, principalmente, a compaixão, a “regra de ouro”. Ao contrário da tese exclusivista tradicional ‘Fora da minha igreja não há salvação’, ou melhor pontuando a proposta inclusivista mais recente ‘Fora do meu salvador não há salvação’, ensaia-se um projeto mais radical: ‘Fora da caridade não há salvação’. Tal diálogo se desenvolve pelo serviço à justiça e cuidado com a Terra, pelos intercâmbios teológicos e pela partilha das experiências religiosas. Mas como criar conteúdos e processos de aprendizagem para esse caminho?
  • 5.
  • 6. As Ciências da Religião surgem como campo de conhecimento aberto à complementariedade das disciplinas científicas e alicerçadas em uma epistemologia das controvérsias. A transdisciplinaridade desenvolve esses fundamentos científico- culturais, em uma forma nova de ver e entender a natureza, a vida e a humanidade. Ela busca a unidade do conhecimento para nos ajudar a encontrar sentido para a existência. A transdisciplinaridade reivindica a centralidade da vida nas discussões sobre a realidade, propondo uma mudança na compreensão do conhecimento, como relação, tendo por base três princípios:  considerar vários níveis de realidade;  trabalhar com a lógica do Terceiro Termo Incluído;  abranger a visão da complexidade dos fenômenos.
  • 7.
  • 8. A vida se manifesta na complexidade das relações, que são estudadas separadamente pelas ciências: exatas, biológicas e humanas. Mas a interdependência é um princípio que sustenta a vida neste planeta. Negar a interdependência entre ciência e cultura significa negar o sujeito, desvanecendo o sentido da vida. Precisamos associar as sabedorias das antigas tradições simbólicas de interioridade aos princípios culturais e científicos modernos e pós-modernos, que exploram o mundo objetiva e intersubjetivamente. A transdisciplinaridade está “entre”, “através” e “além” das disciplinas. A transdisciplinaridade transgride as fronteiras de cada ciência disciplinar e constrói um novo conhecimento “através” das ciências, um conhecimento integrado em função da humanidade, resgatando as relações de interdependência...
  • 9.
  • 10. O pensamento de Panikkar é claramente transdisciplinar e tem a ver com a teoria da complexidade. A sua percepção trinitária da realidade pode ajudar nos desdobramentos e aplicações da lógica do Terceiro Incluído na produção de conhecimentos pelos estudos de religião e no seu desenvolvimento pedagógico pelo Ensino Religioso. Raimon Panikkar nasceu em Barcelona, filho de mãe espanhola e de pai indiano. Doutorou-se em Filosofia, Ciências e Teologia. Ensinou em Bengalore, Roma e Harvard. Viveu na Índia, na Europa e na América. A sua obra aponta para a espiritualidade como uma forma de compreensão da realidade e de envolvimento com o seu mistério. A Trindade representa, para ele, a possibilidade de apreender melhor a constituição última da realidade do humano, do cósmico e do divino.
  • 11.
  • 12. Essa Trindade cosmoteândrica leva a uma percepção diferenciada da realidade, que está em movimento e mantém juntas as três dimensões constituídas pelo divino, pelo ser humano e pelo mundo. Essa Trindade é pericórese e relação, não é monismo nem dualismo, e sim diferenciação-em-relação. Panikkar está alinhado com os esboços atuais a respeito da doutrina da Trindade, mas em seu caso trata-se mais ainda de um acesso hermenêutico à realidade. Panikkar não usa o termo complexidade, mas seu pensamento dialoga com os pensadores dessa teoria, desenvolvendo uma perspectiva holística da realidade, em que tudo está inter- relacionado, e uma concepção da matéria e do universo oposta à reducionista-mecanicista. Ele repete constantemente em sua obra, aberta ao diálogo nos entre-lugares das ciências e das religiões, uma oposição à tendência moderna de compartimentar tudo, porque isso impede a experiência do ritmo e harmonia do universo e do Ser.
  • 13.
  • 14. Sobre a base da história geral das religiões as Ciências da Religião erguem um estudo comparativo, que aborda as religiões com questionamentos sistemáticos e interpretativos. O campo de conhecimento das Ciências da Religião organiza-se com uma epistemologia das controvérsias para esclarecer a busca por transcendência e as experiências de sagrado, com aproximações fenomenológicas e hermenêuticas. As Ciências da Religião recebem colaborações transdisciplinares de História e de Hermenêutica, das disciplinas de Sociologia, Antropologia e Psicologia, bem como de Filosofia, Linguística e Teologia – exigindo, contudo, que os seus aportes metodológicos sejam redimensionados com base na comparação empírica dos fatos e na busca hermenêutica de significados.
  • 15.
  • 16. A transdisciplinaridade colabora nesse processo, pois engendra uma atitude transcultural e trans-religiosa. A atitude transcultural designa a abertura de todas as culturas para aquilo que as atravessa e as ultrapassa, indicando que nenhuma cultura se constitui em um lugar privilegiado a partir do qual podemos julgar universalmente as outras, como nenhuma religião pode ser a única verdadeira – mesmo que cada uma possa se experimentar como absolutamente verdadeira e universal. Em um mesmo nível de realidade elas seriam possivelmente antagônicas e excludentes, mas se considerarmos um outro nível ao menos, surge um “terceiro” que, incluído, as pode reconciliar. Trata- se da base antropológica que nos constitui a todos e exige uma atitude ética, ou da altitude mística para cujo silêncio e sonho comum colaboram os sons de todas as tradições.
  • 18. O Ensino Religioso, compreendido como área de aplicação pedagógica do campo de conhecimento das Ciências da Religião, numa visão transdisciplinar, não objetiva transpor conteúdos enciclopédicos e muito menos doutrinais, mas o desenvolvimento de processos de aprendizagem participativos, de construção de conhecimentos através de projetos de pesquisa, em conexão com as pautas de estudo e engajamento dos cientistas da religião. O jeito transdisciplinar de pesquisar lança uma nova luz sobre o sentido do sagrado. Uma zona de absoluta resistência liga o sujeito e o objeto, os níveis de realidade e os níveis de percepção. Mística deriva desse mistério, do respeito a esse ilimitado em todo conhecimento. Espiritualidade é religação com esse outro lado, profundo, de toda a realidade: em nosso interior, na natureza e na história, na face do outro.
  • 19.
  • 20. Pra continuar a conversa: gilbraz.aragao@unicap.br www.unicap.br/observatorio2