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A relação entre as novas tecnologias da comunicação e o regime
democrático: abordagem de um tema clássico a partir da
experiência de uma rede de mobilização

Introdução

A relação entre o desenvolvimento das novas tecnologias
comunicacionais1 e o regime democrático constitui um rico objeto de
estudo acadêmico, tanto na área da comunicação social quanto no campo
das ciências sociais. O questionamento central que se coloca é o seguinte:
essas ferramentas contribuem ou não para o fortalecimento da democracia?
De um lado, existem os autores que apresentam uma visão
triunfalista, segundo a qual as novas tecnologias (especialmente a internet)
possibilitariam a superação de todos os déficits democráticos das
sociedades contemporâneas. De outro, há os apocalípticos, que não só
rejeitam os benefícios das novas ferramentas de comunicação, como
também defendem que elas trariam graves prejuízos ao regime
democrático2.
Neste breve trabalho, apresentamos o nosso próprio entendimento,
de acordo com o qual a internet, assim como as tecnologias desenvolvidas a
partir dela (as redes sociais, por exemplo), é um instrumento. Apesar de não
ser

1

absolutamente

neutro,

esse

instrumento

apresenta

as

suas

A internet não constitui mais uma tecnologia propriamente nova, mas, seguindo o exemplo de
Rafael Cardoso Sampaio (Sampaio, 2010, p. 32), a inserimos na expressão “novas tecnologias
comunicacionais” para diferenciá-la das tecnologias tradicionais de comunicação, como o
impresso, o rádio e a televisão.
2
As expressões triunfalistas e apocalípticos são empregadas em Sampaio, 2010.
potencialidades: se bem empregado, pode sim contribuir para a
consolidação da democracia3.
A partir do estudo de caso de uma rede de mobilização, o Meu Rio,
constatamos que o engajamento político da sociedade civil pode ser
estimulado, com grande sucesso, a partir de ferramentas de participação
disponibilizadas online. Percebemos que um dos maiores problemas
apontados pelos críticos das novas tecnologias (a dependência de uma
cultura de participação cívica da população) pode ser solucionado,
justamente, pelo bom uso delas.
A finalidade desse estudo foi contribuir para a reflexão sobre o tema
e inspirar aqueles que têm o desejo de criar a sua própria rede de
mobilização a dar o primeiro passo. Esperamos ter sido bem sucedidos
nessa tarefa.

Metodologia

Optamos pela abordagem metodológica do estudo de caso. A
pesquisa realizada, a partir da análise de um caso único, pode ser
classificada como qualitativa e explanatória.
O objetivo da investigação empírica foi verificar como a organização
não governamental eleita (Meu Rio) conseguiu, em um curto período de
tempo, obter projeção no cenário em que se instalou (cidade do Rio de
Janeiro) e contribuir efetivamente para a mobilização da sociedade civil, a
partir de ferramentas disponibilizadas online.
Era de nosso interesse, ainda, reunir dados que nos permitissem
elaborar um guia para a criação e desenvolvimento de uma rede de
mobilização. A partir desse documento, seria possível a replicação da
3

Esse é o mesmo entendimento que Rafael Cardoso Sampaio apresenta em artigo que serviu de
base para a nossa reflexão (Sampaio, 2010). Pretendemos, com nosso estudo, revisitar o
pensamento, sob a perspectiva de um estudo de caso.
iniciativa em outras cidades do país e a formação de uma rede nacional de
estímulo ao engajamento político da sociedade civil4.
A abordagem de pesquisa do estudo de caso, justamente por
viabilizar a obtenção de uma grande quantidade de informações sobre
determinado fenômeno (no caso, uma entidade), foi a que nos pareceu mais
adequada. Em virtude da limitação temporal, as fontes de evidência se
restringiram a uma entrevista com o co-fundador da rede de mobilização5 e
à análise das ferramentas tecnológicas disponíveis no site da entidade
(como a “panela de pressão”).
A compilação dos dados obtidos foi feita no dia 9/12/2013, assim
que

terminou

a

referida

entrevista

aproximadamente).

Depois

da

revisão

(de
da

1

hora

de

duração,

bibliografia

indicada

(especialmente, Gomes, 2005, e Sampaio, 2010) e da transcrição de partes
fundamentais da entrevista, iniciamos este trabalho. Mais à frente,
apresentamos o seu desenvolvimento.

Debate

Como apontamos, o debate acadêmico acerca da influência das
novas tecnologias da comunicação sobre a democracia reúne triunfalistas e
apocalípticos. A seguir, faremos uma breve síntese dos argumentos
desenvolvidos por cada grupo, para que, ao fim, possamos apresentar o
nosso entendimento pessoal.
A começar pelos argumentos apresentados pelos triunfalistas,
podemos destacar a inquestionável facilidade com que as novas tecnologias
permitem, hoje em dia, que as pessoas se comuniquem. Obter e disseminar
4

Além do presente trabalho, criamos também um guia em formato digital, que apresenta, com um
design próprio, o passo-a-passo para se criar uma nova rede de mobilização. Esse guia pode ser
acessado aqui.
5
O questionário da entrevista com Miguel Lago foi anexado a este estudo, sendo apresentado ao
final.
informação, inclusive informação de natureza política, tornou-se mais
rápido, fácil, barato e conveniente, em relação às mídias tradicionais
(Gomes, 2005a, p. 220).
Esse acesso a uma grande quantidade de informação permitiria que
os cidadãos estivessem mais a par do processo político e se tornassem mais
capacitados para participar dele. Em outros termos, ele possibilitaria a
formação de cidadãos civicamente educados (Barber, 1984).
Além disso, a informação disponibilizada online estaria menos
sujeita a distorções, por não se submeter (ao menos não tanto quanto as
mídias tradicionais) às pressões da indústria da comunicação de massa
(Gomes, 2005a). Ela poderia muito bem ser fornecida, por exemplo, por
jornalistas freelancers (Kakabadse et al., 2003), que venderiam suas
informações e serviriam como consultores independentes para a população.
As novas tecnologias (em especial a internet) ofereceriam ainda
oportunidades de interação online. Os cidadãos poderiam não somente
expressar suas opiniões políticas, mas também participar de debates em
fóruns e organizar mobilizações presenciais (protestos, por exemplo). Os
problemas de escala, ou seja, os problemas oriundos da dificuldade de se
reunir um grande número de pessoas, estariam resolvidos pelo meio
(Barber, 1984).
Por fim, a internet permitiria também a superação da tradicional
mediação institucional entre cidadãos e os agentes públicos. Por meio das
redes sociais, por exemplo, os primeiros poderiam se comunicar
diretamente com os segundos, expressando as suas opiniões políticas e
reivindicando mudanças esperadas. Isso permitiria, em última instância, a
influência da sociedade civil na condução dos negócios públicos6.
Os apocalípticos, como dissemos, negam os benefícios indicados,
além de apresentarem uma série de prejuízos que a internet e as demais
6

A esperança das redes de mobilização, inclusive do Meu Rio, é justamente a de que, por meio do
diálogo direto com as autoridades políticas e/ou da pressão exercida sobre elas, as mudanças
sociais esperadas sejam promovidas.
tecnologias trariam para o regime democrático. Em primeiro lugar, eles
defendem que, em vez de agregar, a internet tenderia a estratificar ainda
mais a sociedade (Sampaio, 2010, p. 37).
Com efeito, somente os integrantes da elite socioeconômica teriam
os recursos financeiros e a perícia técnica para utilizar a tecnologia com
uma finalidade política. Na realidade, grande parte da população,
especialmente aquela com menor renda e nível educacional, sequer teria
acesso à internet (Whilelm, 2004, p. 242-243).
A disponibilização de uma grande quantidade de informações online,
celebrada pelos triunfalistas, recebe também críticas por partes dos autores
pessimistas. Ela tornaria praticamente impossível a distinção entre o
conteúdo relevante e aquele errôneo, distorcido, ou falso (Gomes, 2005b).
Esse gerenciamento da informação, necessário à sua utilização política,
somente estaria ao alcance daqueles com habilidades e tempo para
identificar e organizar a informação (Gomes, 2005a, p. 221).
Os apocalípticos tentam demonstrar, ainda, que a possibilidade de
interação

online

não

tem

servido

à

promoção

de

discussões

verdadeiramente significativas. A fragmentação do debate e a troca de
insultos (flames) dariam o tom do embate político travado na internet, muito
mais que o diálogo razoável em que se busca o entendimento mútuo.
Rafael Cardoso Sampaio, ao expor o argumento dos autores
pessimistas, ensina:
“Na literatura pessimista, para além dos pontos levantados por
Buchstein, há outros dois elementos muito visitados: a fragmentação
da esfera pública e o excesso de informação política. No primeiro
quesito, ao invés de fomentar as discussões e a esfera pública, a
internet tenderia a fragmentá-la. Os cidadãos poderiam decidir se
juntar a indivíduos de pensamento similar (like-minded), evitando,
assim, as posições contrárias às suas. Os debates online seriam
geralmente polarizados por posições extremas e acabariam se
tornando trocas de insultos (flames). A competição seria
provocativa. Tratar-se-ia de um diálogo pouco informado, que não
busca o consenso ou o entendimento. É o discurso político do mostre
e grite.”
A ausência de mediação institucional entre cidadão e representante
político também não seria um benefício significativo apresentado pela
internet. Não existiria, afinal de contas, qualquer garantia de que o feedback
oferecido pela população aos agentes públicos fosse levado em
consideração por eles. O ambiente virtual seria apenas mais um espaço de
participação, o que certamente não asseguraria a influência da sociedade
civil na tomada da decisão política.
Para além dos contra-argumentos apresentados pela corrente
apocalíptica, existe um argumento central que os seus autores
desenvolvem: a mera provisão de tecnologias que permitam o acesso à
informação, que garantam a interação online com outros cidadãos ou que
possibilitem a comunicação direta com os tomadores de decisão não criaria,
por si só, cidadãos engajados politicamente.
Seria necessária uma cultura de participação cívica, que não se faz
presente na maior parte das sociedades contemporâneas. Por ser
especialmente relevante, para o fim de nosso estudo, esse argumento será
mais bem analisado adiante, ao apresentarmos o nosso entendimento e
expormos como as redes de mobilização, como o Meu Rio, podem
contribuir para o debate.
Como aponta Sampaio, existem, subjacentes a essa temática, dois
determinismos: o tecnológico e o socioeconômico. De acordo com o
primeiro, todos os benefícios e malefícios da internet derivariam da própria
tecnologia (e não tanto do seu uso). Ela passaria a ser vista como uma
entidade, e não como um instrumento a ser utilizado (Sampaio, 2010, p.
43).
Esse pensamento desconsideraria que, como qualquer outra
tecnologia, a internet não possui potencialidade autônoma (Sampaio, 2010,
p. 44). Os seus resultados sobre a realidade dependem de específicas formas
de uso, para as quais elas são concebidas (Lee Salter, 2004). Elas seriam,
afinal de contas, ferramentas postas à disposição das pessoas (Gomes,
2005a).
O segundo determinismo leva essa última conclusão ao extremo: a
internet, assim como as demais tecnologias de comunicação, seria apenas
um instrumento a ser utilizado pelos atores sociais (cidadãos, agentes
políticos etc.). Dessa maneira, ela não poderia ser qualificada como positiva
ou negativa, sendo propriamente neutra (Sampaio, 2010, p. 43).
Essa perspectiva desconsideraria, na opinião de Rafael Sampaio
(com a qual concordamos), que a tecnologia pode exercer forte influência
sobre os usuários da tecnologia, não sendo um mero objeto. O exemplo que
ele nos fornece é ilustrativo: um fórum de discussão online com o design
adequado pode favorecer a deliberação pública.
Por outro lado, um portal de transparência governamental mal
planejado pode dificultar a leitura, a navegação pelos relatórios e a busca
por informações específicas (Sampaio, 2010, p. 43). A conclusão a que se
chega é a de que, apesar de ser um meio, a internet não pode ser
considerada neutra.
Apesar de aceitarmos a constatação (de não neutralidade da
tecnologia), não há como negar que a internet é um instrumento. Embora
ela seja capaz de influir sobre aqueles que a utilizam (e receba também a
influência deles7), ela depende, naturalmente, dos seus usuários. Se não
existe uma cultura cívica de participação política, por parte da população
7

Sampaio destaca: “Se entre os diversos usos do Twitter, para voltar ao exemplo, a agregação de
notícias se destacar, tal uso pode levar aos administradores do site a criar novas ferramentas de
somar links, notícias, interligação com ferramentas de web feeds etc. Se, por outro lado, a
utilização política se tornasse dominante, os mesmos administradores poderiam, por exemplo,
fazer acordos com governos, criar links para páginas governamentais etc. Nos dois casos, os
próprios usuários teriam a opção de mandar sugestões, debater e realizar pressões diversas por
esses desenvolvimentos” (Sampaio, 2010, p. 45).
civil, parece que as potencialidades democráticas do meio são,
efetivamente, bastante reduzidas.
Aqui entra a nossa reflexão pessoal: será que as novas tecnologias
não podem servir, justamente, para inspirar na sociedade civil essa cultura
de participação? Em outros termos, será que um dos principais obstáculos
ao aproveitamento do potencial democrático delas (a falta de interesse da
sociedade civil) não pode ser superado pelo uso politicamente ativista
dessas ferramentas?
A resposta, a nosso ver, é sim. O exemplo de que nos servimos, para
fundamentar esse entendimento, é precisamente o das redes de mobilização,
que hoje representam uma tendência mundial8. O seu objetivo, como
demonstraremos no estudo de caso do Meu Rio, é encorajar o engajamento
político da sociedade civil, por meio da criação, do estímulo e da facilitação
de mobilizações de interesse público.
O sucesso que essas organizações têm obtido, no cenário mundial e,
particularmente, no cenário do Rio de Janeiro, demonstra que, a partir de
um pequeno número de pessoas (aquelas que iniciam a rede), é possível
criar um movimento pela melhoria política de uma cidade (ou país) e
contribuir para que a sociedade civil participe da condução dos negócios
públicos.

O caso Meu Rio

O Meu Rio é uma rede de mobilização que se estabeleceu em 2011
na cidade do Rio de Janeiro. A sua missão social, como se pode imaginar,
consiste em criar, estimular e/ou facilitar mobilizações da sociedade civil
que possam influir, em última instância, na tomada de decisão política.

8

A título de exemplo, poderíamos indicar diversas redes de mobilização surgiram e têm se
desenvolvido nos últimos anos, como a Get Up, a Move On, a Change e a Avaaz.
A inspiração para a rede surgiu da experiência dos co-fundadores
Miguel Lago e Alessandra Orofino. Em 2008, ambos eram estudantes
universitários e não conseguiam compreender por que, no estudo de gestão
pública, a opinião do usuário do serviço público, assim como a sua
participação, não eram aproveitadas.
Esta parte da entrevista com Miguel Lago esclarece o ponto:
“Na época eu estava em Buenos Aires, estudando avaliação de
políticas públicas. E eu sempre ficava chocado, porque meus
professores falavam, por exemplo, da qualidade do transporte
público, mas nenhum deles pegava ônibus ou se preocupava em
perguntar para o usuário comum qual era a sua opinião... Todos
eram muito técnicos, mas não refletiam sobre a qualidade do
serviço, sob a ótica do usuário.”
A partir do contato que, em seguida, eles tiveram com as redes
sociais, em expansão no período (especialmente o Facebook), surgiu a
pergunta que nortearia o desenvolvimento do Meu Rio:
“Como nós podemos usar as redes sociais para permitir que as
pessoas participem da formulação de políticas públicas?”
Foi então que os dois começaram a estudar as organizações
estrangeiras que promoviam a mobilização social como forma de ativismo
político. Redes de mobilização consolidadas, como a Get Up (Australia),
serviram de modelo e ensinaram que o foco no resultado prático dos
movimentos (como a influência direta em determinada questão política
importante para a cidade, por exemplo) era fundamental.
É o que revela o entrevistado:
“O maior aporte que essas redes de mobilização [Get Up, Change,
Move on, Avazz] nos deu foi a percepção de que nós devemos
estimular uma participação que gere resultado...No entanto, essas
redes não tinham uma preocupação com o local, focando nos níveis
nacional ou mesmo global. Além disso, elas não estavam
interessadas

em

criar

novas

ferramentas

de

participação,

restringindo-se basicamente às petições online.”
A parte final do trecho destacado mostra que, apesar de ter sido
levada em consideração a experiência estrangeira, existia, desde o início do
projeto, o intuito de expandir o arsenal de ferramentas de participação.
Somente a partir dessa expansão seria possível estimular, na sociedade
civil, a cultura de engajamento político. A reflexão de Miguel Lago é
interessante:
“A ferramenta de participação é importante. O que, afinal, você
estaria exigindo da pessoa que participa da sua rede? Se é só
assinar uma petição, é muito baixa a barreira. É muito melhor ver
que uma pessoa realmente se engaja, participando por mais tempo e
de forma mais efetiva (apresentando uma nova ideia para o governo,
por exemplo).”
Essa colocação indica, nitidamente, que o fim social da rede não se
restringiria ao papel de “cão de guarda”, tradicionalmente atribuído à
comunicação pública. A pretensão não era a de simplesmente impedir que
os agentes públicos cerceassem os direitos dos cidadãos, mas a de permitir,
efetivamente, que estes pudessem participar da tomada de decisões políticas
e da formulação de políticas públicas9.
As ferramentas posteriormente desenvolvidas pela rede consistiram,
justamente, em plataformas online que permitiam a participação política do
cidadão comum. A “panela de pressão”, por exemplo, possibilita que
qualquer indivíduo inicie uma campanha por mudança, agregue pessoas que
compartilham o mesmo interesse e pressione, pelos diversos meios de

9

No campo de estudo da democracia digital, a proposta do Meu Rio poderia ser classificada como
deliberativa.
comunicação (E-mail, Twitter, Facebook) os agentes públicos responsáveis
pela condução de determinada matéria10 11.
Uma vez concebida a ideia de criar uma rede de mobilização no Rio
de Janeiro, foi essencial estabelecer o correto networking. Para Miguel
Lago, essa seria, inclusive, a primeira etapa para aqueles que desejam
articular qualquer organização. A primeira pessoa a quem ele e a cofundadora Alessandra Orofino recorreram foi o economista André Urani
(falecido em 2011), que os apoiou e os apresentou às pessoas certas.
Lago destaca a importância do apoio:
“Nós tivemos muita sorte e, ao mesmo tempo, muita competência.
Fomos abraçados pela sociedade civil aqui do Rio de Janeiro. Nós
apresentamos a nossa ideia (uma ideia maluca de dois moleques de
20 anos) para o André Urani, que era um economista respeitado, e
ele a abraçou completamente. Por sorte, ele não era uma pessoa
quadrada e conservadora; se fosse, o projeto teria sido um fracasso.
O André nos apresentou muita gente: todas as ONGs e institutos de
pesquisa importantes. Ele nos colocou em contato com todo mundo,
para que a gente pudesse desenvolver ao máximo a ideia.”
Em um segundo momento, foi de extrema importância reunir uma
equipe competente. No que se refere a esse ponto específico, Miguel Lago
destaca dois fatores: a necessidade de se estabelecer uma remuneração para

10

A “panela de pressão” é apenas uma das ferramentas utilizadas pela rede de mobilização, tendo
sido desenvolvida recentemente. Outras plataformas de participação incluem o “verdade ou
consequência”, que permite que o cidadão consiga encontrar o candidato que tenha um perfil
político semelhante ao seu (a partir de um formulário que é preenchido pelo candidato), assim
como o “de olho”, que possibilita que cidadãos montem uma espécie de vigília sobre determinada
região da cidade (a partir da observação de câmeras instaladas pelo Rio) e alertem uns aos outros
sobre movimentações suspeitas. Esta última ferramenta, inclusive, foi utilizada há pouco, quando o
governo estadual estava ameaçando derrubar a escola municipal Friedenreich, tendo sido montada
uma “guarda” pela comunidade online.
11
A efetividade da plataforma é surpreendente, se considerarmos a taxa de sucesso das redes de
mobilização. Segundo dados divulgados pelo co-fundador do Meu Rio na entrevista feita, das 120
campanhas realizadas por meio do “panela de pressão”, 26 foram vitoriosas, o que representa uma
porcentagem de êxito superior a 20%.
os que trabalham para a rede (a independência relativa do voluntariado12) e
a composição eclética dos membros da equipe (comunicadores, gestores
públicos, designers etc.).
O primeiro fator seria fundamental para que o trabalho do Meu Rio
não se reduzisse àquilo que as pessoas se dispusessem a fazer
voluntariamente. Existiria, afinal, a necessidade de realizar algumas tarefas
essenciais ao bom funcionamento da rede, embora não fossem prazerosas.
O segundo fator, por sua vez, garantiria uma riqueza de habilidades, que
traria mais efetividade ao trabalho.
O próximo passo dos fundadores da rede foi organizar uma
campanha de mobilização vitoriosa. Com 2 messes de existência do Meu
Rio, eles conseguiram contribuir para a emenda da constituição do estado, a
partir da qual os candidatos ficha-suja se tornaram inelegíveis, em âmbito
estadual.
Perguntado sobre o que gera a mobilização social, o entrevistado
apresentou a reflexão:
“Este é o grande mistério: como você mobiliza as pessoas? Existe
uma parte que não dá para explicar, que é imponderável. Existem,
em todo caso, algumas constantes. Uma delas é o contexto em que se
insere a temática de mobilização. Então, se a temática de
mobilização está sendo muito discutida (nos meios de comunicação
em geral), a mobilização é facilitada. Esse é o primeiro ponto. O
segundo ponto é a concretude da temática. Se existe, por exemplo,
uma questão política a ser votada no dia tal, a tal hs, a
probabilidade de você mobilizar as pessoas é maior.”
A criação de novas interfaces de participação cívica foi, a partir
dessa primeira mobilização, uma constante, no cotidiano de trabalho do
Meu Rio. Esse seria, ainda de acordo com Lago, um dos fundamentos para
12

Utilizamos aqui a expressão “independência relativa” porque, apesar de a rede contar com o
apoio de voluntários, ela realmente não depende dessa ajuda.
a manutenção de uma rede que pretende mobilizar as pessoas. Os cidadãos
devem se sentir constantemente atraídos para participarem de mobilizações
de relevância para a cidade.
A última etapa desse histórico de desenvolvimento da organização
foi o investimento na manutenção de uma rede numerosa (que se liga ao
fornecimento de novas possibilidades de participação) e o trabalho de
preservação de uma imagem institucional positiva diante dos agentes
públicos pressionados.
O entrevistado explica perfeitamente a questão:
“A quinta etapa [para desenvolver uma rede de mobilização], a meu
ver, seria criar uma rede forte de pessoas que participam e, ao
mesmo tempo, trabalhar muito bem a sua imagem institucional e a
sua relação, justamente, com as pessoas pressionadas. A ideia não
era que o Meu Rio fosse um “pé no saco” dos tomadores de decisão;
a ideia era que nós pudéssemos nos reunir com eles para discutir as
questões da cidade. [...] Eles [os tomadores de decisão] têm que ver
quem você é. Eles têm que saber, por exemplo, que você não é ligado
a partidos políticos, porque, se acharem isso, vão perder todo o
respeito por você.”
O suporte financeiro para o desenvolvimento de todas essas
atividades da rede ainda representa uma preocupação do Meu Rio. A aposta
no auto-financiamento, por meio de microdoações, é bastante arriscada,
como o próprio entrevistado destaca:
“A aposta financeira do Meu Rio é muito arriscada: os próprios
membros dessa rede a financiariam, por meio de microdoações. A
primeira

campanha

(aproximadamente

700

de

microdoações

pessoas

se

foi

inscreveram

um

sucesso

para

doar

mensalmente R$ 20,00), mas para o Meu Rio poder se manter, e se
manter bem (ter uma equipe de 15 pessoas, por exemplo), nós
precisaríamos ainda multiplicar por 10 esse valor. Hoje, nós temos
um pool que macrodoadores (pessoas físicas como Armínio Fraga,
Guilherme Leal etc), em número de aproximadamente 40, que
fizeram doações iniciais e que vão contribuir cada vez menos.”
Apesar da delicada questão, o Meu Rio ainda se mantém como uma
sólida rede de mobilização de pessoas na cidade, decorridos mais de 2 anos
de sua constituição13. A equipe continua a dedicar a maior parte de seu
tempo de trabalho ao desenvolvimento de novas plataformas online de
participação14 e ao aprimoramento de sua imagem institucional15. O sucesso
obtido demonstra que, a partir de um pequeno grupo de pessoas
interessadas e de ferramentas específicas, é sim possível estabelecer uma
cultura de engajamento político da sociedade civil.

Conclusão

No presente estudo, abordamos um dos mais instigantes debates
acadêmicos da atualidade: o que trata da relação entre as novas tecnologias
comunicacionais e o regime democrático. Apontamos, inicialmente, a
perspectiva dos triunfalistas, aqueles que celebram a contribuição da
internet – e das outras tecnologias da comunicação – para o fortalecimento
da democracia.
Em seguida, apresentamos o ponto de vista dos autores denominados
apocalípticos, que rejeitam os benefícios dessas ferramentas e demonstram
o prejuízo que elas podem causar ao regime democrático. Em alguma

13

O objetivo da instituição, a longo prazo, é também contribuir para que o movimento pela
participação política da sociedade civil se estenda para outras cidades do Brasil e do mundo. Uma
das primeiras decisões políticas tomadas por seus membros, inclusive, foi a de desenvolver as suas
ferramentas com tecnologia open source, de maneira que qualquer programador pudesse replicálas, sem a necessidade de pedir qualquer autorização do Meu Rio.
14
Todas as ferramentas disponibilizadas ao público podem ser consultadas no site da rede:
www.meurio.org.br.
15
Durante a própria realização deste estudo de caso, a equipe do Meu Rio lançou uma nova página
inicial da rede, mais acessível e didática.
medida, eles desenvolvem uma contra argumentação ao pensamento dos
otimistas.
Destacamos, então, um dos argumentais centrais desses autores
pessimistas: o de que a ausência de uma cultura de participação política da
sociedade civil seria um dos principais obstáculos ao aproveitamento das
potencialidades democráticas das novas tecnologias.
Apresentamos, sob a perspectiva desse argumento, o nosso
entendimento pessoal, segundo o qual as ferramentas disponíveis online
podem servir, justamente, para a superação desse “déficit cultural”, a partir
da mobilização de pessoas pela melhoria de sua comunidade política.
Para

demonstrarmos

a

validade

do

nosso

posicionamento,

apresentamos um estudo de caso do Meu Rio, no qual, além de indicarmos
as etapas de desenvolvimento da rede de mobilização, apontamos o sucesso
que ela vem tendo em instigar, no Rio de Janeiro, a participação política dos
cidadãos nas questões de relevância para a cidade.
Esperamos ter contribuído para a reflexão sobre o tema abordado e
ter indicado, de uma maneira simples, algumas etapas fundamentais para a
criação e o desenvolvimento de novas redes de mobilização. Acreditamos
que a valorização dessas novas organizações da sociedade civil seja o
caminho que hoje devemos seguir para fortalecer o regime democrático.
Referências bibliográficas

BARBER, Benjamin. Strong Democracy: Participatory Politic for a New
Age. Berkeley: University of California Press, 1984.
GOMES, Wilson. A democracia digital e o problema da participação civil
na decisão política. Revista Fronteiras – Estudos Midiáticos, VII(3): 214222, set./dez. 2005a.
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A democracia dividida. In: EISENBERG, José;

CEPIK, Marco (Orgs). Internet e Política: Teoria e prática da democracia
eletrônica. Belo Horizonte: Humanitas, 2004. p. 235-276.
Anexo I. Questionário da entrevista com Miguel Lago

1. Como você definiria o Meu Rio?

2. Quando foi criada a organização?

3. De onde surgiu a ideia de criar uma rede de mobilização na
cidade do Rio de Janeiro? Qual foi a sua motivação?

4. Como a rede se desenvolveu? Por quais etapas vocês tiveram que
passar, para a sua consolidação?

5. Você acredita que a experiência do Meu Rio pode ser inserida no
debate sobre a democracia digital?

6. Quais as principais ferramentas online de participação que vocês
utilizam na rede? Qual o impacto gerado por elas? Por quê?

7. Como são as equipes? Qual é a sua composição? Quais as tarefas
a que elas se dedicam?

8. Quais as suas aspirações futuras? Existe a intenção de expandir a
iniciativa para outras cidades do Brasil e do mundo?

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A relação entre as novas tecnologias da comunicação e o regime democrático - Abordagem de um tema clássico a partir da experiência de uma rede de mobilização

  • 1. A relação entre as novas tecnologias da comunicação e o regime democrático: abordagem de um tema clássico a partir da experiência de uma rede de mobilização Introdução A relação entre o desenvolvimento das novas tecnologias comunicacionais1 e o regime democrático constitui um rico objeto de estudo acadêmico, tanto na área da comunicação social quanto no campo das ciências sociais. O questionamento central que se coloca é o seguinte: essas ferramentas contribuem ou não para o fortalecimento da democracia? De um lado, existem os autores que apresentam uma visão triunfalista, segundo a qual as novas tecnologias (especialmente a internet) possibilitariam a superação de todos os déficits democráticos das sociedades contemporâneas. De outro, há os apocalípticos, que não só rejeitam os benefícios das novas ferramentas de comunicação, como também defendem que elas trariam graves prejuízos ao regime democrático2. Neste breve trabalho, apresentamos o nosso próprio entendimento, de acordo com o qual a internet, assim como as tecnologias desenvolvidas a partir dela (as redes sociais, por exemplo), é um instrumento. Apesar de não ser 1 absolutamente neutro, esse instrumento apresenta as suas A internet não constitui mais uma tecnologia propriamente nova, mas, seguindo o exemplo de Rafael Cardoso Sampaio (Sampaio, 2010, p. 32), a inserimos na expressão “novas tecnologias comunicacionais” para diferenciá-la das tecnologias tradicionais de comunicação, como o impresso, o rádio e a televisão. 2 As expressões triunfalistas e apocalípticos são empregadas em Sampaio, 2010.
  • 2. potencialidades: se bem empregado, pode sim contribuir para a consolidação da democracia3. A partir do estudo de caso de uma rede de mobilização, o Meu Rio, constatamos que o engajamento político da sociedade civil pode ser estimulado, com grande sucesso, a partir de ferramentas de participação disponibilizadas online. Percebemos que um dos maiores problemas apontados pelos críticos das novas tecnologias (a dependência de uma cultura de participação cívica da população) pode ser solucionado, justamente, pelo bom uso delas. A finalidade desse estudo foi contribuir para a reflexão sobre o tema e inspirar aqueles que têm o desejo de criar a sua própria rede de mobilização a dar o primeiro passo. Esperamos ter sido bem sucedidos nessa tarefa. Metodologia Optamos pela abordagem metodológica do estudo de caso. A pesquisa realizada, a partir da análise de um caso único, pode ser classificada como qualitativa e explanatória. O objetivo da investigação empírica foi verificar como a organização não governamental eleita (Meu Rio) conseguiu, em um curto período de tempo, obter projeção no cenário em que se instalou (cidade do Rio de Janeiro) e contribuir efetivamente para a mobilização da sociedade civil, a partir de ferramentas disponibilizadas online. Era de nosso interesse, ainda, reunir dados que nos permitissem elaborar um guia para a criação e desenvolvimento de uma rede de mobilização. A partir desse documento, seria possível a replicação da 3 Esse é o mesmo entendimento que Rafael Cardoso Sampaio apresenta em artigo que serviu de base para a nossa reflexão (Sampaio, 2010). Pretendemos, com nosso estudo, revisitar o pensamento, sob a perspectiva de um estudo de caso.
  • 3. iniciativa em outras cidades do país e a formação de uma rede nacional de estímulo ao engajamento político da sociedade civil4. A abordagem de pesquisa do estudo de caso, justamente por viabilizar a obtenção de uma grande quantidade de informações sobre determinado fenômeno (no caso, uma entidade), foi a que nos pareceu mais adequada. Em virtude da limitação temporal, as fontes de evidência se restringiram a uma entrevista com o co-fundador da rede de mobilização5 e à análise das ferramentas tecnológicas disponíveis no site da entidade (como a “panela de pressão”). A compilação dos dados obtidos foi feita no dia 9/12/2013, assim que terminou a referida entrevista aproximadamente). Depois da revisão (de da 1 hora de duração, bibliografia indicada (especialmente, Gomes, 2005, e Sampaio, 2010) e da transcrição de partes fundamentais da entrevista, iniciamos este trabalho. Mais à frente, apresentamos o seu desenvolvimento. Debate Como apontamos, o debate acadêmico acerca da influência das novas tecnologias da comunicação sobre a democracia reúne triunfalistas e apocalípticos. A seguir, faremos uma breve síntese dos argumentos desenvolvidos por cada grupo, para que, ao fim, possamos apresentar o nosso entendimento pessoal. A começar pelos argumentos apresentados pelos triunfalistas, podemos destacar a inquestionável facilidade com que as novas tecnologias permitem, hoje em dia, que as pessoas se comuniquem. Obter e disseminar 4 Além do presente trabalho, criamos também um guia em formato digital, que apresenta, com um design próprio, o passo-a-passo para se criar uma nova rede de mobilização. Esse guia pode ser acessado aqui. 5 O questionário da entrevista com Miguel Lago foi anexado a este estudo, sendo apresentado ao final.
  • 4. informação, inclusive informação de natureza política, tornou-se mais rápido, fácil, barato e conveniente, em relação às mídias tradicionais (Gomes, 2005a, p. 220). Esse acesso a uma grande quantidade de informação permitiria que os cidadãos estivessem mais a par do processo político e se tornassem mais capacitados para participar dele. Em outros termos, ele possibilitaria a formação de cidadãos civicamente educados (Barber, 1984). Além disso, a informação disponibilizada online estaria menos sujeita a distorções, por não se submeter (ao menos não tanto quanto as mídias tradicionais) às pressões da indústria da comunicação de massa (Gomes, 2005a). Ela poderia muito bem ser fornecida, por exemplo, por jornalistas freelancers (Kakabadse et al., 2003), que venderiam suas informações e serviriam como consultores independentes para a população. As novas tecnologias (em especial a internet) ofereceriam ainda oportunidades de interação online. Os cidadãos poderiam não somente expressar suas opiniões políticas, mas também participar de debates em fóruns e organizar mobilizações presenciais (protestos, por exemplo). Os problemas de escala, ou seja, os problemas oriundos da dificuldade de se reunir um grande número de pessoas, estariam resolvidos pelo meio (Barber, 1984). Por fim, a internet permitiria também a superação da tradicional mediação institucional entre cidadãos e os agentes públicos. Por meio das redes sociais, por exemplo, os primeiros poderiam se comunicar diretamente com os segundos, expressando as suas opiniões políticas e reivindicando mudanças esperadas. Isso permitiria, em última instância, a influência da sociedade civil na condução dos negócios públicos6. Os apocalípticos, como dissemos, negam os benefícios indicados, além de apresentarem uma série de prejuízos que a internet e as demais 6 A esperança das redes de mobilização, inclusive do Meu Rio, é justamente a de que, por meio do diálogo direto com as autoridades políticas e/ou da pressão exercida sobre elas, as mudanças sociais esperadas sejam promovidas.
  • 5. tecnologias trariam para o regime democrático. Em primeiro lugar, eles defendem que, em vez de agregar, a internet tenderia a estratificar ainda mais a sociedade (Sampaio, 2010, p. 37). Com efeito, somente os integrantes da elite socioeconômica teriam os recursos financeiros e a perícia técnica para utilizar a tecnologia com uma finalidade política. Na realidade, grande parte da população, especialmente aquela com menor renda e nível educacional, sequer teria acesso à internet (Whilelm, 2004, p. 242-243). A disponibilização de uma grande quantidade de informações online, celebrada pelos triunfalistas, recebe também críticas por partes dos autores pessimistas. Ela tornaria praticamente impossível a distinção entre o conteúdo relevante e aquele errôneo, distorcido, ou falso (Gomes, 2005b). Esse gerenciamento da informação, necessário à sua utilização política, somente estaria ao alcance daqueles com habilidades e tempo para identificar e organizar a informação (Gomes, 2005a, p. 221). Os apocalípticos tentam demonstrar, ainda, que a possibilidade de interação online não tem servido à promoção de discussões verdadeiramente significativas. A fragmentação do debate e a troca de insultos (flames) dariam o tom do embate político travado na internet, muito mais que o diálogo razoável em que se busca o entendimento mútuo. Rafael Cardoso Sampaio, ao expor o argumento dos autores pessimistas, ensina: “Na literatura pessimista, para além dos pontos levantados por Buchstein, há outros dois elementos muito visitados: a fragmentação da esfera pública e o excesso de informação política. No primeiro quesito, ao invés de fomentar as discussões e a esfera pública, a internet tenderia a fragmentá-la. Os cidadãos poderiam decidir se juntar a indivíduos de pensamento similar (like-minded), evitando, assim, as posições contrárias às suas. Os debates online seriam geralmente polarizados por posições extremas e acabariam se
  • 6. tornando trocas de insultos (flames). A competição seria provocativa. Tratar-se-ia de um diálogo pouco informado, que não busca o consenso ou o entendimento. É o discurso político do mostre e grite.” A ausência de mediação institucional entre cidadão e representante político também não seria um benefício significativo apresentado pela internet. Não existiria, afinal de contas, qualquer garantia de que o feedback oferecido pela população aos agentes públicos fosse levado em consideração por eles. O ambiente virtual seria apenas mais um espaço de participação, o que certamente não asseguraria a influência da sociedade civil na tomada da decisão política. Para além dos contra-argumentos apresentados pela corrente apocalíptica, existe um argumento central que os seus autores desenvolvem: a mera provisão de tecnologias que permitam o acesso à informação, que garantam a interação online com outros cidadãos ou que possibilitem a comunicação direta com os tomadores de decisão não criaria, por si só, cidadãos engajados politicamente. Seria necessária uma cultura de participação cívica, que não se faz presente na maior parte das sociedades contemporâneas. Por ser especialmente relevante, para o fim de nosso estudo, esse argumento será mais bem analisado adiante, ao apresentarmos o nosso entendimento e expormos como as redes de mobilização, como o Meu Rio, podem contribuir para o debate. Como aponta Sampaio, existem, subjacentes a essa temática, dois determinismos: o tecnológico e o socioeconômico. De acordo com o primeiro, todos os benefícios e malefícios da internet derivariam da própria tecnologia (e não tanto do seu uso). Ela passaria a ser vista como uma entidade, e não como um instrumento a ser utilizado (Sampaio, 2010, p. 43).
  • 7. Esse pensamento desconsideraria que, como qualquer outra tecnologia, a internet não possui potencialidade autônoma (Sampaio, 2010, p. 44). Os seus resultados sobre a realidade dependem de específicas formas de uso, para as quais elas são concebidas (Lee Salter, 2004). Elas seriam, afinal de contas, ferramentas postas à disposição das pessoas (Gomes, 2005a). O segundo determinismo leva essa última conclusão ao extremo: a internet, assim como as demais tecnologias de comunicação, seria apenas um instrumento a ser utilizado pelos atores sociais (cidadãos, agentes políticos etc.). Dessa maneira, ela não poderia ser qualificada como positiva ou negativa, sendo propriamente neutra (Sampaio, 2010, p. 43). Essa perspectiva desconsideraria, na opinião de Rafael Sampaio (com a qual concordamos), que a tecnologia pode exercer forte influência sobre os usuários da tecnologia, não sendo um mero objeto. O exemplo que ele nos fornece é ilustrativo: um fórum de discussão online com o design adequado pode favorecer a deliberação pública. Por outro lado, um portal de transparência governamental mal planejado pode dificultar a leitura, a navegação pelos relatórios e a busca por informações específicas (Sampaio, 2010, p. 43). A conclusão a que se chega é a de que, apesar de ser um meio, a internet não pode ser considerada neutra. Apesar de aceitarmos a constatação (de não neutralidade da tecnologia), não há como negar que a internet é um instrumento. Embora ela seja capaz de influir sobre aqueles que a utilizam (e receba também a influência deles7), ela depende, naturalmente, dos seus usuários. Se não existe uma cultura cívica de participação política, por parte da população 7 Sampaio destaca: “Se entre os diversos usos do Twitter, para voltar ao exemplo, a agregação de notícias se destacar, tal uso pode levar aos administradores do site a criar novas ferramentas de somar links, notícias, interligação com ferramentas de web feeds etc. Se, por outro lado, a utilização política se tornasse dominante, os mesmos administradores poderiam, por exemplo, fazer acordos com governos, criar links para páginas governamentais etc. Nos dois casos, os próprios usuários teriam a opção de mandar sugestões, debater e realizar pressões diversas por esses desenvolvimentos” (Sampaio, 2010, p. 45).
  • 8. civil, parece que as potencialidades democráticas do meio são, efetivamente, bastante reduzidas. Aqui entra a nossa reflexão pessoal: será que as novas tecnologias não podem servir, justamente, para inspirar na sociedade civil essa cultura de participação? Em outros termos, será que um dos principais obstáculos ao aproveitamento do potencial democrático delas (a falta de interesse da sociedade civil) não pode ser superado pelo uso politicamente ativista dessas ferramentas? A resposta, a nosso ver, é sim. O exemplo de que nos servimos, para fundamentar esse entendimento, é precisamente o das redes de mobilização, que hoje representam uma tendência mundial8. O seu objetivo, como demonstraremos no estudo de caso do Meu Rio, é encorajar o engajamento político da sociedade civil, por meio da criação, do estímulo e da facilitação de mobilizações de interesse público. O sucesso que essas organizações têm obtido, no cenário mundial e, particularmente, no cenário do Rio de Janeiro, demonstra que, a partir de um pequeno número de pessoas (aquelas que iniciam a rede), é possível criar um movimento pela melhoria política de uma cidade (ou país) e contribuir para que a sociedade civil participe da condução dos negócios públicos. O caso Meu Rio O Meu Rio é uma rede de mobilização que se estabeleceu em 2011 na cidade do Rio de Janeiro. A sua missão social, como se pode imaginar, consiste em criar, estimular e/ou facilitar mobilizações da sociedade civil que possam influir, em última instância, na tomada de decisão política. 8 A título de exemplo, poderíamos indicar diversas redes de mobilização surgiram e têm se desenvolvido nos últimos anos, como a Get Up, a Move On, a Change e a Avaaz.
  • 9. A inspiração para a rede surgiu da experiência dos co-fundadores Miguel Lago e Alessandra Orofino. Em 2008, ambos eram estudantes universitários e não conseguiam compreender por que, no estudo de gestão pública, a opinião do usuário do serviço público, assim como a sua participação, não eram aproveitadas. Esta parte da entrevista com Miguel Lago esclarece o ponto: “Na época eu estava em Buenos Aires, estudando avaliação de políticas públicas. E eu sempre ficava chocado, porque meus professores falavam, por exemplo, da qualidade do transporte público, mas nenhum deles pegava ônibus ou se preocupava em perguntar para o usuário comum qual era a sua opinião... Todos eram muito técnicos, mas não refletiam sobre a qualidade do serviço, sob a ótica do usuário.” A partir do contato que, em seguida, eles tiveram com as redes sociais, em expansão no período (especialmente o Facebook), surgiu a pergunta que nortearia o desenvolvimento do Meu Rio: “Como nós podemos usar as redes sociais para permitir que as pessoas participem da formulação de políticas públicas?” Foi então que os dois começaram a estudar as organizações estrangeiras que promoviam a mobilização social como forma de ativismo político. Redes de mobilização consolidadas, como a Get Up (Australia), serviram de modelo e ensinaram que o foco no resultado prático dos movimentos (como a influência direta em determinada questão política importante para a cidade, por exemplo) era fundamental. É o que revela o entrevistado: “O maior aporte que essas redes de mobilização [Get Up, Change, Move on, Avazz] nos deu foi a percepção de que nós devemos estimular uma participação que gere resultado...No entanto, essas redes não tinham uma preocupação com o local, focando nos níveis
  • 10. nacional ou mesmo global. Além disso, elas não estavam interessadas em criar novas ferramentas de participação, restringindo-se basicamente às petições online.” A parte final do trecho destacado mostra que, apesar de ter sido levada em consideração a experiência estrangeira, existia, desde o início do projeto, o intuito de expandir o arsenal de ferramentas de participação. Somente a partir dessa expansão seria possível estimular, na sociedade civil, a cultura de engajamento político. A reflexão de Miguel Lago é interessante: “A ferramenta de participação é importante. O que, afinal, você estaria exigindo da pessoa que participa da sua rede? Se é só assinar uma petição, é muito baixa a barreira. É muito melhor ver que uma pessoa realmente se engaja, participando por mais tempo e de forma mais efetiva (apresentando uma nova ideia para o governo, por exemplo).” Essa colocação indica, nitidamente, que o fim social da rede não se restringiria ao papel de “cão de guarda”, tradicionalmente atribuído à comunicação pública. A pretensão não era a de simplesmente impedir que os agentes públicos cerceassem os direitos dos cidadãos, mas a de permitir, efetivamente, que estes pudessem participar da tomada de decisões políticas e da formulação de políticas públicas9. As ferramentas posteriormente desenvolvidas pela rede consistiram, justamente, em plataformas online que permitiam a participação política do cidadão comum. A “panela de pressão”, por exemplo, possibilita que qualquer indivíduo inicie uma campanha por mudança, agregue pessoas que compartilham o mesmo interesse e pressione, pelos diversos meios de 9 No campo de estudo da democracia digital, a proposta do Meu Rio poderia ser classificada como deliberativa.
  • 11. comunicação (E-mail, Twitter, Facebook) os agentes públicos responsáveis pela condução de determinada matéria10 11. Uma vez concebida a ideia de criar uma rede de mobilização no Rio de Janeiro, foi essencial estabelecer o correto networking. Para Miguel Lago, essa seria, inclusive, a primeira etapa para aqueles que desejam articular qualquer organização. A primeira pessoa a quem ele e a cofundadora Alessandra Orofino recorreram foi o economista André Urani (falecido em 2011), que os apoiou e os apresentou às pessoas certas. Lago destaca a importância do apoio: “Nós tivemos muita sorte e, ao mesmo tempo, muita competência. Fomos abraçados pela sociedade civil aqui do Rio de Janeiro. Nós apresentamos a nossa ideia (uma ideia maluca de dois moleques de 20 anos) para o André Urani, que era um economista respeitado, e ele a abraçou completamente. Por sorte, ele não era uma pessoa quadrada e conservadora; se fosse, o projeto teria sido um fracasso. O André nos apresentou muita gente: todas as ONGs e institutos de pesquisa importantes. Ele nos colocou em contato com todo mundo, para que a gente pudesse desenvolver ao máximo a ideia.” Em um segundo momento, foi de extrema importância reunir uma equipe competente. No que se refere a esse ponto específico, Miguel Lago destaca dois fatores: a necessidade de se estabelecer uma remuneração para 10 A “panela de pressão” é apenas uma das ferramentas utilizadas pela rede de mobilização, tendo sido desenvolvida recentemente. Outras plataformas de participação incluem o “verdade ou consequência”, que permite que o cidadão consiga encontrar o candidato que tenha um perfil político semelhante ao seu (a partir de um formulário que é preenchido pelo candidato), assim como o “de olho”, que possibilita que cidadãos montem uma espécie de vigília sobre determinada região da cidade (a partir da observação de câmeras instaladas pelo Rio) e alertem uns aos outros sobre movimentações suspeitas. Esta última ferramenta, inclusive, foi utilizada há pouco, quando o governo estadual estava ameaçando derrubar a escola municipal Friedenreich, tendo sido montada uma “guarda” pela comunidade online. 11 A efetividade da plataforma é surpreendente, se considerarmos a taxa de sucesso das redes de mobilização. Segundo dados divulgados pelo co-fundador do Meu Rio na entrevista feita, das 120 campanhas realizadas por meio do “panela de pressão”, 26 foram vitoriosas, o que representa uma porcentagem de êxito superior a 20%.
  • 12. os que trabalham para a rede (a independência relativa do voluntariado12) e a composição eclética dos membros da equipe (comunicadores, gestores públicos, designers etc.). O primeiro fator seria fundamental para que o trabalho do Meu Rio não se reduzisse àquilo que as pessoas se dispusessem a fazer voluntariamente. Existiria, afinal, a necessidade de realizar algumas tarefas essenciais ao bom funcionamento da rede, embora não fossem prazerosas. O segundo fator, por sua vez, garantiria uma riqueza de habilidades, que traria mais efetividade ao trabalho. O próximo passo dos fundadores da rede foi organizar uma campanha de mobilização vitoriosa. Com 2 messes de existência do Meu Rio, eles conseguiram contribuir para a emenda da constituição do estado, a partir da qual os candidatos ficha-suja se tornaram inelegíveis, em âmbito estadual. Perguntado sobre o que gera a mobilização social, o entrevistado apresentou a reflexão: “Este é o grande mistério: como você mobiliza as pessoas? Existe uma parte que não dá para explicar, que é imponderável. Existem, em todo caso, algumas constantes. Uma delas é o contexto em que se insere a temática de mobilização. Então, se a temática de mobilização está sendo muito discutida (nos meios de comunicação em geral), a mobilização é facilitada. Esse é o primeiro ponto. O segundo ponto é a concretude da temática. Se existe, por exemplo, uma questão política a ser votada no dia tal, a tal hs, a probabilidade de você mobilizar as pessoas é maior.” A criação de novas interfaces de participação cívica foi, a partir dessa primeira mobilização, uma constante, no cotidiano de trabalho do Meu Rio. Esse seria, ainda de acordo com Lago, um dos fundamentos para 12 Utilizamos aqui a expressão “independência relativa” porque, apesar de a rede contar com o apoio de voluntários, ela realmente não depende dessa ajuda.
  • 13. a manutenção de uma rede que pretende mobilizar as pessoas. Os cidadãos devem se sentir constantemente atraídos para participarem de mobilizações de relevância para a cidade. A última etapa desse histórico de desenvolvimento da organização foi o investimento na manutenção de uma rede numerosa (que se liga ao fornecimento de novas possibilidades de participação) e o trabalho de preservação de uma imagem institucional positiva diante dos agentes públicos pressionados. O entrevistado explica perfeitamente a questão: “A quinta etapa [para desenvolver uma rede de mobilização], a meu ver, seria criar uma rede forte de pessoas que participam e, ao mesmo tempo, trabalhar muito bem a sua imagem institucional e a sua relação, justamente, com as pessoas pressionadas. A ideia não era que o Meu Rio fosse um “pé no saco” dos tomadores de decisão; a ideia era que nós pudéssemos nos reunir com eles para discutir as questões da cidade. [...] Eles [os tomadores de decisão] têm que ver quem você é. Eles têm que saber, por exemplo, que você não é ligado a partidos políticos, porque, se acharem isso, vão perder todo o respeito por você.” O suporte financeiro para o desenvolvimento de todas essas atividades da rede ainda representa uma preocupação do Meu Rio. A aposta no auto-financiamento, por meio de microdoações, é bastante arriscada, como o próprio entrevistado destaca: “A aposta financeira do Meu Rio é muito arriscada: os próprios membros dessa rede a financiariam, por meio de microdoações. A primeira campanha (aproximadamente 700 de microdoações pessoas se foi inscreveram um sucesso para doar mensalmente R$ 20,00), mas para o Meu Rio poder se manter, e se manter bem (ter uma equipe de 15 pessoas, por exemplo), nós precisaríamos ainda multiplicar por 10 esse valor. Hoje, nós temos
  • 14. um pool que macrodoadores (pessoas físicas como Armínio Fraga, Guilherme Leal etc), em número de aproximadamente 40, que fizeram doações iniciais e que vão contribuir cada vez menos.” Apesar da delicada questão, o Meu Rio ainda se mantém como uma sólida rede de mobilização de pessoas na cidade, decorridos mais de 2 anos de sua constituição13. A equipe continua a dedicar a maior parte de seu tempo de trabalho ao desenvolvimento de novas plataformas online de participação14 e ao aprimoramento de sua imagem institucional15. O sucesso obtido demonstra que, a partir de um pequeno grupo de pessoas interessadas e de ferramentas específicas, é sim possível estabelecer uma cultura de engajamento político da sociedade civil. Conclusão No presente estudo, abordamos um dos mais instigantes debates acadêmicos da atualidade: o que trata da relação entre as novas tecnologias comunicacionais e o regime democrático. Apontamos, inicialmente, a perspectiva dos triunfalistas, aqueles que celebram a contribuição da internet – e das outras tecnologias da comunicação – para o fortalecimento da democracia. Em seguida, apresentamos o ponto de vista dos autores denominados apocalípticos, que rejeitam os benefícios dessas ferramentas e demonstram o prejuízo que elas podem causar ao regime democrático. Em alguma 13 O objetivo da instituição, a longo prazo, é também contribuir para que o movimento pela participação política da sociedade civil se estenda para outras cidades do Brasil e do mundo. Uma das primeiras decisões políticas tomadas por seus membros, inclusive, foi a de desenvolver as suas ferramentas com tecnologia open source, de maneira que qualquer programador pudesse replicálas, sem a necessidade de pedir qualquer autorização do Meu Rio. 14 Todas as ferramentas disponibilizadas ao público podem ser consultadas no site da rede: www.meurio.org.br. 15 Durante a própria realização deste estudo de caso, a equipe do Meu Rio lançou uma nova página inicial da rede, mais acessível e didática.
  • 15. medida, eles desenvolvem uma contra argumentação ao pensamento dos otimistas. Destacamos, então, um dos argumentais centrais desses autores pessimistas: o de que a ausência de uma cultura de participação política da sociedade civil seria um dos principais obstáculos ao aproveitamento das potencialidades democráticas das novas tecnologias. Apresentamos, sob a perspectiva desse argumento, o nosso entendimento pessoal, segundo o qual as ferramentas disponíveis online podem servir, justamente, para a superação desse “déficit cultural”, a partir da mobilização de pessoas pela melhoria de sua comunidade política. Para demonstrarmos a validade do nosso posicionamento, apresentamos um estudo de caso do Meu Rio, no qual, além de indicarmos as etapas de desenvolvimento da rede de mobilização, apontamos o sucesso que ela vem tendo em instigar, no Rio de Janeiro, a participação política dos cidadãos nas questões de relevância para a cidade. Esperamos ter contribuído para a reflexão sobre o tema abordado e ter indicado, de uma maneira simples, algumas etapas fundamentais para a criação e o desenvolvimento de novas redes de mobilização. Acreditamos que a valorização dessas novas organizações da sociedade civil seja o caminho que hoje devemos seguir para fortalecer o regime democrático.
  • 16. Referências bibliográficas BARBER, Benjamin. Strong Democracy: Participatory Politic for a New Age. Berkeley: University of California Press, 1984. GOMES, Wilson. A democracia digital e o problema da participação civil na decisão política. Revista Fronteiras – Estudos Midiáticos, VII(3): 214222, set./dez. 2005a. ____________. Internet e participação política em sociedades democráticas. Revista da FAMECOS. Porto Alegre, v. 2, n. 27, p. 58-78, ago. 2005b. KAKABADSE, Andrew; KAKABADSE, Nada K.; KOUZMIN, Alexander. Reinventing the democratic Governance Project through Information Technology? A Growing Agenda for Debate. Public Administration Review. Malden, v. 63, n. 1, p. 44-60, jan. 2003. SALTER, Lee. Structure and Forms of Use. A contribution to understanding the ‘effects’ of the Internet on deliberative democracy. Information, Communication & Society. Londres, v. 7, n. 2, p. 185–206, jun. 2004. SAMPAIO, Rafael Cardoso. Participação política e os potenciais democráticos da internet. REVISTA DEBATES. Porto Alegre, v.4, n.1, p. 29-53, jan.-jun. 2010. WHILELM, Anthony. A democracia dividida. In: EISENBERG, José; CEPIK, Marco (Orgs). Internet e Política: Teoria e prática da democracia eletrônica. Belo Horizonte: Humanitas, 2004. p. 235-276.
  • 17. Anexo I. Questionário da entrevista com Miguel Lago 1. Como você definiria o Meu Rio? 2. Quando foi criada a organização? 3. De onde surgiu a ideia de criar uma rede de mobilização na cidade do Rio de Janeiro? Qual foi a sua motivação? 4. Como a rede se desenvolveu? Por quais etapas vocês tiveram que passar, para a sua consolidação? 5. Você acredita que a experiência do Meu Rio pode ser inserida no debate sobre a democracia digital? 6. Quais as principais ferramentas online de participação que vocês utilizam na rede? Qual o impacto gerado por elas? Por quê? 7. Como são as equipes? Qual é a sua composição? Quais as tarefas a que elas se dedicam? 8. Quais as suas aspirações futuras? Existe a intenção de expandir a iniciativa para outras cidades do Brasil e do mundo?