1. À MODA DO SÉCULO XX: LA BELLE EPOQUE
Apesar de já ter cinqüenta e oito anos ao ser coroada
rainha em 1902, Alexandra continuou a exercer influencia
no estilo da Grã-Bretanha e dos EUA. Com sua postura
ereta e a bela figura, sua aparência era magnífica tanto nas
roupas brilhantes da corte, excessivamente ornamentadas,
como em trajes de equitação de corte severo. Era famosa
pelo estilo de penteado com franjas e gargantilhas largas,
assim como pelo uso cada vez maior de cosméticos à
medida que ia envelhecendo (muitas vezes foi descrita
como esmaltada).
2. No Reino Unido, a imprensa dedicou grande atenção à
“invasão americana” da nobreza britânica por herdeiras do
Novo Mundo, cuja considerável fortuna deu à aristocracia
inglesa um impulso financeiro muito necessário. E as
fotografias destacavam suas roupas caras, pois eram
acostumadas a vestirem-se com os melhores costureiros.
3. O palco também forneceu uma aristocracia de sangue
novo e glamour – pelo menos meia dúzia de nobres casou-
se com atrizes, ligações que ofereciam material ideal para
colunistas de mexericos e editoriais de moda.
Uma chegada notável, dos EUA, foi a atriz Camille
Clifford. Ela conquistara certa fama na Inglaterra ao
representar no palco londrino a “Garota Gibson”, a
personificação da mulher ideal, criada pelo ilustrador
americano Charles Gibson.
4. Camille Clifford – Garota Gibson
Uma minoria de mulheres evitava a corrente principal
da moda em favor de estilos individualistas essas mulheres
muitas vezes pertenciam a círculos literários ou
aristocráticos e escolas de design, como a Souls. Na
Inglaterra a loja Liberty, era freqüentada pelas que
buscavam roupas e tecidos que transcendessem a moda.
Ao longo de todo o inicio da década de 1900, seu estúdio
especializou-se em roupas fluidas, baseadas em trajes
históricos de varias origens e períodos. Em 1909, em um
espírito similar de independência diante das tendências
correntes, o designer de teatro, têxteis e vestuário,
Mariano Fortuny, operando a partir de sua base, o Pallazo
d’Orfei , em Veneza, patenteou o famoso vestido Delfos.
5. Baseado no quíton grego clássico, feito de finas sedas,
tingidas com cores brilhantes, e franzido por meio de um
método secreto, o vestido Delfos ia dos ombros ao chão
como uma coluna brilhante. Era discretamente decorado
com contas de vidro veneziano e ajustado em torno do
pescoço e dos braços com tiras ocultas. Trajes igualmente
folgado ganharam à preferência de executantes liberadas
como Isadora Duncan, Loie Fuller e Maud Allen, que
adentraram a historia do vestuário dançando com finas
túnicas e drapeados pseudoclássicos.
8. Não houve mudanças radicais no vestuário durante os
oito primeiros anos do século. O desejo do novo era
inteiramente satisfeito pela introdução de series de cores
sazonais e por novos ornamentos, cada vez mais
complexos. E se distinguiam os costureiros parisienses –
especialmente Callot Soeurs, Doucet, Paquin e Worth. Os
estilistas usavam os tecidos mais caros, que tinham de ser
maleáveis, com boas qualidades para o drapeado, para
que pudessem conseguir as linhas fluidas em voga na
época. O calor vinha de peles, veludo, lãs e do onipresente
boá de plumas de avestruz. As roupas de verão e noite
eram feitas de uma abundancia de linhos, algodoes e sedas
leves, como nomes evocativos – musselina de soei, crepe
meteoro e tule cresta. Tecidos sem estampas eram
9. preferidos, generosamente adornados com rendas, detalhes
de crochê, bordados e trançados finos. Miudezas
essenciais, como armações e fechos, eram obtidas junto a
fornecedores e ateliês especializados em Paris, assim
como bordados, passamanes, contas, plumas e flores
artificiais.
10. Para sustentar um estabelecimento de trabalho
intensivo, um grande costureiro parisiense da época
empregava entre duzentos e seiscentos funcionários. A
hierarquia era rígida e o trabalho cuidadosamente
organizado. Oficinas separadas eram dedicadas a uma
função ou a produção de um traje especifico. O processo
começava com uma vendedora apresentando à cliente os
últimos modelos, envergados por manequins da casa. A
escolha de conjuntos era seguida pelo corte e pela
construção habilidosos e por longas provas, das quais
dependia a natureza exclusiva dessas roupas
personalizadas.
A casa de alta-costura de mais prestigio em Paris no
inicio do século era a Casa Worth – nessa época, nas mãos
do filho do fundador, Jean Feles e Gastam. A Worth vestia
uma elite rica, que incluía a realeza européia, herdeiras
11. americanas e atrizes famosas. Suas criações do inicio da
década eram ostensivamente caras e, às vezes, tinham uma
exuberância quase vulgar, que as anunciava como modelos
da Worth e identificava quem as vestias como mulheres
associadas à riqueza e ao poder.
12. No que se refere à alfaiataria, Londres continuou a ser o
centro internacional, atendendo às exigências dos trajes
para caminhada e equitação. A mania do ciclismo, no fim
do século XIX, continuou no século XX, e os alfaiates
produziram um grande leque de trajes bifurcados,
projetados especificamente para essa atividade.
Para o “beau monde”, a rotina diária exigia pelo menos
quatro mudas de roupa – para a manhã, para o inicio da
tarde, para o chá e para a noite. De manhã, era costume
usar um conjunto de alfaiataria para fazer visitas e
compras. Este era composto de uma saia e uma jaqueta ou
casaco, às vezes combinando com blusa e cinto. Peças em
la, especialmente um lenço fino, eram perfeitas para
conjuntos de outono e inverno.
13. The Blue Hat – Kees Van Dongin 1904
A saia era destacada nas revistas de moda da época como
um dos elementos mais significativos da moda do inicio
da década de 1900. Cortada para enfatizar um corpo de
curvas, as saias eram feitas em godê ou plissadas, para
ficarem justas da cintura ate quase os joelhos. Abriam-se,
então, pouco acima do chão, na frente, e formavam
pequenas caudas varrendo o chão, na parte de trás. Se o
traseiro arredondado era mal definido, anquinhas podiam
ser atadas ao redor da cintura. Blusas ou camisas com
frente “pombo-papo-de-vento” caindo sobre a cintura
tornaram-se uma parte importante do guarda-roupa. Estas
tinham colarinhos altos, eretos mantidos por suportes de
barbatanas de baleias ou arame. De estilo nada
confortável, essas roupas ajudavam e sustentavam a
postura empertigada imposta pelos espartilhos e
obrigavam as usuárias a manter o pescoço ereto e
14. alongado e a cabeça em uma postura arrogante, de queixo
para cima. Os chapéus eram obrigatórios e os chapeleiros
elaboravam criações cada vez mais decoradas. Era
símbolo de “status” incorporar plumas e ate mesmo
pássaros inteiros em um chapéu de moda.
As bem relacionadas tinham um vasto arsenal de
roupas. A roupa era determinada pela ocasião pela estação
e pela hora do dia. Particularmente exigente era os fins de
semana nas casas de campo. Os automóveis abertos
estavam substituindo as carruagens puxadas por cavalos.
As mais avançadas iam para os compromissos no campo
enfiadas em volumosos guarda-pos, gorros protetores,
véus e óculos, as malas abarrotadas com os artigos
necessários às varias atividades dentro e fora de casa. A
equitação dava às mulheres uma oportunidade de exibir
sua boa forma (espartilhada) em roupas de corte justo.
15. Golfe, caça, patinação, criquet, arco e flecha e natação,
quer como passatempo, quer como esporte serio, exigiam
roupas especializadas. Os estilistas ingleses capitalizavam
com base na sua reputação de trajes de bom corte e roupas
para atividades vigorosas.
Originalmente uma marca da divisão entre a roupa de
dia e a roupa de noite, permitiam as mulheres algumas
horas de alivio dos apertados espartilhos, por volta das
cinco horas, quando o chá era tradicionalmente servido.
Descritos como pitorescos, os tea gowns (vestidos para
chá) eram longos, fluidos e, ás vezes volumosos,
informais, dando espaço ao corpo para relaxar.
16. A roupa de noite era extremamente vistosa e
provocativa; os corpetes tinham corte baixo, com alças
estreitas, decoradas com tiras de seda pregueadas em
macho. Isso permitia a exibição ostensiva de jóias – os
diamantes e as perolas eram especialmente admirados.
Tiaras e ornamentos com pedras preciosas cintilavam nos
cabelos e longas voltas de perolas eram afestoadas por
sobre o corpete.
17. Madame Jasmy Alvin – Kees Van Dogen (1910)
O frou-frou eduardiano valia-se de tecidos luxuosos,
particularmente de cetins brilhantes, que capturavam e
refletiam a luz e eram imaginosamente decorados com
voiles plissados, painéis com lantejoulas e contas
inserções pintadas a mãos e rufos e babados de renda.
Anáguas farfalhantes de tafetá por baixo das saias com
cauda completavam a composição. Capas generosas, com
forro aconchegante, protegiam do ar frio da noite.
19. John Singer 1902
O estilo descrito por vezes como Império, Diretório e
Madame Récamier, com linhas verticais retas e cintura
alta, foi preferido durantes os primeiros anos do século
para os vestidos de noite e os tea gowns. Em 1909, havia
se tornado a forma dominante. O circulo cromático girou e
os matizes suaves da década foram substituídos por cores
mais fortes, mais afirmativas. Essa mudança foi gradual,
ocasionada por certos fenômenos culturais e pelo
surgimento de vários talentos de vanguarda.
20. As irmãs Wertheimer – John Singer (1901)
Foi no contexto desse fermento artístico que os modelos
de Poiret assumiram proeminência. Poiret conduziu
energicamente o distanciamento da silhueta cheia e
curvilínea da moda do inicio da década rumo a uma linha
mais longa e esbelta. Contudo, as declarações deste
talentoso propagandista de si mesmo, que afirmou ter sido
pessoalmente responsável por libertar as mulheres da
tirania do espartilho e o primeiro estilista a empregar cores
brilhantes e fortes, tem de ser tratadas com cautela. Na
onda de uma tendência para o orientalismo, a transição
para matizes suaves para matizes violentos era inevitável.
Os modelos vívidos de Bakst para os Ballets Russes e as
roupas de cores brilhantes, mais folgadas, foram recebidas
por um publico que soube aprecia-las e não precisou ser
persuadido a abondonar os tons esmaecidos.
21. Poiret abria sua própria Maison, em 1903. Tornou-se o
costureiro mais empolgante nos anos anteriores à Primeira
Guerra Mundial, e os editores de moda davam cobertura
proeminente às suas criações. Com verve e imaginação ele
construiu um estilo de vida que enfatizava suas atividades
com estilista. Era um mestre de cor, textura e tecido,
combinando os mais recentes tecidos de luxo com peças
de sua própria coleção de têxteis étnicos. Tinha o
“panache” de figurinista de teatro: o impacto final, mais
do que os detalhes da construção, era supremo, e o
resultado era que algumas roupas ostentando sua marca
distinta, com o logotipo da rosa, foram montadas de
maneiras toscas. Em oito anos de criatividade febril, Poiret
abriu caminhos novos e significativos para a profissão. Em
22. 1911, havia introduzido os perfumes “Rosine”, e em 1914
viajou pela Europa com sua trupe de manequins. Apenas a
eclosão da guerra mundial truncou essas iniciativas
pioneiras.