2. «livro de poemas, formando realmente um só
poema», organizado em torno dos números do
brasão de Portugal, sobretudo o 5 das quinas
Síntese
Fernando Pessoa, Mensagem
Mensagem
Símbolos como tema e como processo
Nomes dos
heróis
Cifras heráldicas
do brasão
Imagens-chave
da história
Fundamentos identificadores do «ser português»
Palavras da
língua
portuguesa
3. Síntese
Fernando Pessoa, Mensagem
Brasão O Encoberto
Evolução do Império Português
Idade do Pai
Os fundadores da
nação portuguesa
Idade ainda não
concretizada, mas já
anunciada
Estrutura simbólica Mensagem
Idade do Filho
Os que deram
continuidade ao Pai e
alargaram o Império
Idade do Espírito
Mar Português
Nascimento/
génese
Realização
(vida)
Morte e
Renascimento
As fases da existência
4. Síntese
Fernando Pessoa, Mensagem
O Sebastianismo Mito gerado à volta da figura do rei D. Sebastião
1.º Crença do povo no seu regresso, após a derrota em Alcácer
Quibir (D. Sebastião, ente histórico: o «ser que houve»,
símbolo da decadência), como salvador da pátria: a
possibilidade teórica do regresso físico do rei ajudou a criar a
auréola de mito.
Alonso Sánchez Coello,
D. Sebastião, 1575.
2.º O regresso iminente do Encoberto foi garante de
sobrevivência política, seja porque congregou sob o mesmo
pendão do sonho a Nação destroçada, seja porque estimulou
o instinto de conservação nacional, seja ainda porque foi o
lugar do refúgio contra uma morte anunciada.
3.º Mito messiânico que se funda na esperança da vinda de
um Salvador, que virá salvar e libertar o povo e restaurar o
prestígio nacional.
5. Síntese
Fernando Pessoa, Mensagem
Lima de Freitas, Painel de azulejos da Estação do
Rossio, Lisboa, D. Sebastião: o Encoberto, 1995.
D. Sebastião mítico surge, na moderna poesia
portuguesa, como paradigma da loucura heroica,
como potenciador da esperança no ressurgimento
da Pátria adormecida.
O Sebastianismo
Espectro, ideia, símbolo, o «ser que há», que
fecunda o sonho e a loucura – o verdadeiro mito
nacional, núcleo do profetismo que impregna a
Terceira Parte da Mensagem, impulsionador do
homem e, consequentemente, da História.
Mito do Encoberto
6. É no inconsciente nacional que o mito do Encoberto se guarda, apresentando-se como
um motor poderoso do processo histórico, torna-se o sonho pelo qual vale a pena
viver.
Desejo latente de renovação nacional que promove o regresso de D. Sebastião.
Síntese
Fernando Pessoa, Mensagem
O Sebastianismo
Espera inconsequente que
acentua o nosso atraso.
Procura da revitalização
nacional, sob o estandarte de
um sonho comum.
7. Síntese
Fernando Pessoa, Mensagem
O Quinto Império
Império construído na esfera de uma identidade
cultural, um império que a vontade e a esperança
transformadora hão de por força (re)criar contra a
decadência presente, contra a Nação adormecida.
Império civilizacional, de paz universal, espiritual,
tendo como centro Portugal, que pressupõe o
regresso de um Messias: o D. Sebastião mítico,
coordenada simbólica da sua edificação.
Representação mental, uma atitude perante a nação
e a nossa própria existência: a procura do nosso ser
no mundo, como indivíduos e como Povo
historicamente predestinado a recuperar o prestígio
perdido.
8. Síntese
Fernando Pessoa, Mensagem
Exaltação
patriótica
Pátria = nação
conjunto humano unido por instituições
comuns, tradições históricas e, acima de tudo,
uma língua comum.
Intenção do poeta:
transformação da sua pátria (decadente, incapaz de agir
coletivamente e virada para um passado glorioso) em
«nação criadora de civilização» através do poder do sonho.
evocação, com os olhos postos no futuro, dos heróis
passados de Portugal, exemplos da vontade de mudança e
da capacidade de ação, de modo a influenciar os
portugueses do presente, transformando-os em agentes
de construção do Portugal futuro.
Processo:
9. Síntese
Fernando Pessoa, Mensagem
Mensagem
«Brasão» «O Encoberto»
«Mar Português»
A origem predestinada e
o património divino a
defender.
Envolto em nevoeiro, mas
símbolo do espírito do homem
das descobertas que cada
português encerra em si.
A capacidade criadora de
Portugal.
Exaltação patriótica
10. Síntese
Fernando Pessoa, Mensagem
Dimensão simbólica do herói
Herói aquele que se eleva acima da medida humana comum na defesa
de um ideal, pela sua energia, coragem e sabedoria.
Dois tipos de herói:
o que age por instinto sem
apresentar consciência do alcance
dos seus atos no futuro.
voluntário, consciente dos seus
atos e de ter cumprido um dever
contra o Destino.
Aspeto comum aos heróis:
encontram-se envoltos por um misticismo de algo a cumprir,
existem em função do futuro que nebulosamente prenunciam.
11. Síntese
Fernando Pessoa, Mensagem
Dimensão simbólica do herói
Mito
conjunto de valores que não tem tempo nem espaço,
contrariamente ao facto histórico concreto, e que tipifica uma
situação existencial comum a um povo.
Transformação do mito em História: o modo como recria e
sonha a vida de um grupo (Ulisses transformou-se em História
para os portugueses por aquilo que representa na sua vivência
interior; D. Sebastião permanece vivo na nossa memória
coletiva como exemplo, como alma representativa de um
conjunto de valores essenciais à construção do futuro).
Reconhecimento de um povo nos seus mitos: contributo
para a construção de uma memória coletiva e de uma
identidade própria, aspetos que prefiguram também um
futuro comum.
12. Síntese
Fernando Pessoa, Mensagem
Natureza épico-lírica da obra
A poesia da Mensagem é uma poesia epo-lírica, não só pela forma
fragmentária como pela atitude introspetiva, de contemplação no espelho
da alma, e pelo tom menor adequado.
Integra a matéria épica na corrente subjetiva, reduzindo-a a imagens
simbólicas pelas quais o poeta liricamente se exprime.
Há assim na Mensagem uma dupla face de tédio e ansiedade, de cética
lucidez e intuição divinatória.
Poesia épica sui generis – epo-lírica
13. Síntese
Fernando Pessoa, Mensagem
Natureza épico-lírica da obra
Discurso épico:
Passado histórico: exaltação de acontecimentos memoráveis e extraordinários, que
veiculam uma visão heroica do mundo, protagonizados por figuras de alta estirpe
(social e moral) que se impõem como seres superiores, de qualidades excecionais,
capazes de executarem feitos extraordinários, gloriosos e singulares.
Presente: resultado consequente desse passado remoto e mítico que se projeta no
futuro.
Recurso ao maravilhoso: confere grandeza à ação e transpõe a verdade histórica
para a dimensão do mito.
Uso narrativo da terceira pessoa.
14. Síntese
Fernando Pessoa, Mensagem
Natureza épico-lírica da obra
Discurso lírico:
brevidade dos poemas, que encerram um valor próprio e isolado dos demais;
interiorização, mentalização da matéria épica que é reduzida a imagens
simbólicas através das quais o sujeito poético se exprime;
expressão da subjetividade: presença «dominante» da primeira pessoa do
presente;
confluência íntima entre o eu e o mundo, o tempo e o espaço.
15. Síntese
Fernando Pessoa, Mensagem
Estrutura estrófica, a métrica e a rima
Mensagem: 44 poemas
Número de estrofes Estrofes Versos
Rima
Monóstrofos (3 poemas)
Duas estrofes (15 poemas)
Três estrofes (18 poemas)
Quatro estrofes (5 poemas)
Cinco estrofes (2 poemas)
Seis estrofes (1 poema)
Monósticos, dísticos,
tercetos, quadras e
quartetos, quintilhas,
sextilhas, sétimas,
nonas e décimas.
Apresentam uma vasta
gama de ritmos, indo do
dissílabo ao dodecassílabo,
passando pelos versos de
três, quatro, seis, sete, oito,
nove e dez sílabas.
Grande variedade, que vai dos versos brancos aos versos rimados, dividindo-se
estes em emparelhados, cruzados, interpolados, misturados, e que vai da rima
rica à rima pobre, da rima aguda à rima grave e esdrúxula.
16. Síntese
Fernando Pessoa, Mensagem
Estrutura estrófica, a métrica e a rima
Poema: «O dos Castelos»
Estrutura estrófica
Métrica
Rima
Exemplificação:
• quatro estrofes irregulares: par / ímpar / par / ímpar –
quadra / quintilha / dístico / monóstico.
• versos decassilábicos: «A Eu/ro/pa/ jaz/, pos/ta/ nos/
co/to/ve/los»;
• último verso da primeira estrofe: verso hexassilábico –
«O/lhos/ gre/ gos/, lem/bran/do».
• rima cruzada: primeira e segunda estrofes;
• versos soltos ou brancos: terceira e quarta estrofes.
17. Síntese
Fernando Pessoa, Mensagem
Linguagem e estilo
Características da linguagem Exemplos
•Adjetivo de características abrangentes.
•Adjetivo duplicado.
•Adjetivo nominalizado.
•Adjetivo separado do nome e realçado
entre vírgulas.
•Advérbio de modo repetido.
•Emprego típico do particípio.
•Interjeição emotiva e apelativa.
•Desnudo; ungido.
•Com bruta e natural certeza.
•Ai dos felizes.
•Que arcanjo teus sonhos veio / Velar,
maternos, um dia?
•Assim vivi, assim morri.
•À espada em tuas mãos achada.
•Ai dos felizes; Ah, quando.
18. Síntese
Fernando Pessoa, Mensagem
Linguagem e estilo
Características da linguagem Exemplos
• Inversão da ordem habitual das frases.
•Neologismos.
•Nomes conceituais.
•Repetição do verbo.
•Verbo intransitivo empregado
transitivamente.
•Três impérios do chão lhe a sorte
apanha.
•Almar; beira-mágoa; praiar.
•Mito; brasão; mistério; vigília.
•Baste, basta, bastar.
•Assim vivi, assim morri a vida.
•Verbo nominalizado, de sabor latino, no
infinitivo.
•O querer; o ser; o saber; ter é tardar.
•… •…
19. Síntese
Fernando Pessoa, Mensagem
Recursos expressivos Exemplos
• Aliteração.
• Anáfora.
• Anástrofe.
• Antítese.
• Formidável vulto; […] os medos do mar sem fundo.
• É o som […] / É a voz […].
• Que, da obra ousada, é minha a parte feita.
• Apóstrofe.
• Comparação.
• A vida é breve, a alma é vasta.
• Ó mar anterior a nós […].
• É rumor dos pinhais que, como um trigo / De
império, ondulam sem se poder ver.
• Enumeração. • A árvore, a praia, a flor, a ave, a fonte.
Linguagem e estilo
20. Síntese
Fernando Pessoa, Mensagem
Recursos expressivos Exemplos
• Gradação.
• Interrogação retórica.
• Metáfora.
• Metonímia.
• Quando a nau se aproxima […] / Mais perto […] / E
no desembarcar […].
• Inutilmente? Não, porque o cumpri.
• Em baixo, a vida, metade / De nada, morre.
• (D. Filipa): princesa do Santo Graal […]; Madrinha
de Portugal!
• Personificação. • A Europa jaz, posta nos cotovelos.
•… •…
Linguagem e estilo