– A firmeza do caráter moral e espiritual de daniel
1. LIÇÃO Nº 2 – A FIRMEZA DO CARÁTER MORAL E
ESPIRITUAL DE DANIEL
A integridade começa pela decisão firme pela santificação.
INTRODUÇÃO
- Damos início ao estudo do livro do profeta Daniel e, nesta lição,
analisaremos o capítulo primeiro deste livro.
- A integridade começa pela decisão firme pela santificação.
I – DANIEL É LEVADO CATIVO PARA BABILÔNIA
- Damos início, nesta lição, ao estudo do livro do profeta Daniel,
depois de uma lição introdutória em que tivemos uma visão
panorâmica deste livro.
- Conforme dissemos na lição anterior, segundo Frank Klassen e
Edward Reese, Daniel nasceu por volta do ano 628 a.C., o
décimo terceiro ano do reinado de Josias, mesmo ano em que
Jeremias iniciou o seu ministério profético.
- Sendo de linhagem real, Daniel vivenciou intensamente o
momento político e religioso que havia em Judá neste período.
O rei Josias era um rei temente a Deus e que procurou fazer o
povo retornar para os caminhos do Senhor, fazendo grande
esforço para debelar a idolatria e feitiçaria que haviam sido
largamente seguidas pelo povo judaíta durante o longo reinado de
Manassés, avô de Josias (II Cr.34:1-7).
- Com efeito, quando do nascimento de Daniel, fazia cinco anos
que o rei Josias havia iniciado esta importante e última reforma
religiosa da história de Judá, sendo certo que fazia um ano que
tinha iniciado a purificação de Judá e Jerusalém, com a destruição
de todas imagens, ídolos e bosques que havia (II Cr.34:3,4).
- Daniel nasceu, então, numa atmosfera totalmente contrária
à idolatria e não é mera conjectura ou especulação entender que,
em sua primeira infância, tenha sido educado de forma a
abominar totalmente estas práticas.
- Quando Daniel tinha apenas cinco anos de idade, o rei Josias
mandou que a casa do Senhor fosse reparada (II Cr.34:8), ocasião
em que foi encontrado no templo o livro da lei, que acabou sendo
lido ao rei Josias que, diante da leitura do livro, percebeu quanto o
povo de Judá havia se distanciado dos mandamentos divinos, o
2. que fez com que ele pedisse que se consultasse a profetisa Hulda,
a qual reafirmou que o Senhor lançaria juízo sobre o povo de Judá
por causa de sua desobediência mas que, diante da retidão de
Josias, pouparia este de ver a destruição (II Cr.34:8-33).
- Josias, apesar desta mensagem, quis levar o povo ao
arrependimento, tendo, então, convocado não só os judaítas mas
remanescentes do reino de Israel para a celebração de uma páscoa
em Jerusalém, buscando, assim, restabelecer a aliança com o
Senhor (II Cr.35). - Como se não bastasse isso, Deus começava a
usar o profeta Jeremias com poderosas mensagens que
anunciavam a iminência do juízo divino sobre Judá por causa de
sua apostasia espiritual, conclamando o povo a se arrepender dos
seus pecados sob pena de serem expatriados de Canaã, como,
aliás, estava previsto na lei de Moisés (Dt.28:64-67).
- Daniel, portanto, cresceu tendo pleno conhecimento destas
profecias bem como da necessidade de se seguir a lei do
Senhor e de que a mesma abominava a prática da idolatria e
da feitiçaria. O fato de ter tido sua infância e adolescência num
ambiente de temor a Deus foi fundamental para que fizesse a sua
opção, que foi a de servir a Deus, apesar de todo o pecado que
havia, a começar do próprio palácio.
- Embora Josias fosse um rei temente a Deus, vemos que assim
não se portava a sua família. Com efeito, três filhos de Josias
foram reis de Judá: Jeoacaz (II Cr.36:1), Jeoiaquim (II Cr.36:4) e
Zedequias (II Rs.24:17) e os três foram reis ímpios e infiéis ao
Senhor. Isto mostra, claramente, que a geração de Daniel era uma
geração que se mostrou resistente às mensagens proféticas do
Senhor, mas isto não impediu que Daniel fizesse parte da
“minoria”, daqueles que resolveram servir ao Senhor.
- Vemos, portanto, que a decisão de Daniel de servir a Deus não
foi uma atitude que tenha nascido somente quando Daniel chegou
ao palácio de Nabucodonosor em Babilônia, como alguns
equivocadamente pensam ao ler o início do livro de Daniel. Bem
ao contrário, Daniel resolveu servir a Deus a partir do momento
que adquiriu consciência e, ao saber de tudo o que ocorria no
meio de seu povo, entendeu que o melhor caminho a seguir era o
de seguir o que estava escrito no livro da lei do Senhor.
3. - Daniel, desde cedo, tomou a sua atenção para o que se
achava escrito no livro da lei do Senhor que, como vimos, foi
achado no templo e lido ao rei e, a partir de então, lido e estudado
por tantos quantos se decidiram por servir a Deus.
- Sabemos disto porque Daniel, ao ser escolhido para ir para o
palácio do rei Nabucodonosor, passou por uma seleção, pois só
foram para o palácio aqueles que foram achados “sem defeito,
formosos de parecer, instruídos em toda a sabedoria, sábios em
ciência e entendidos no conhecimento, que tivessem habilidade
para viver no palácio do rei” (Dn.1:4).
- Ora, entre os judaítas, ser “instruído em toda a sabedoria, sábio
em ciência e entendido no conhecimento”, outra coisa não poderia
ser senão ser pessoa que tivesse conhecimento das Escrituras
Sagradas e da lei do Senhor, um estudioso dos escritos sagrados,
pois, em Judá, era isto que significava “sabedoria, ciência e
conhecimento”. Como o livro da lei do Senhor havia sido
recentemente encontrado no templo, certamente se começou a
estuda-lo e Daniel, estando na corte real, interessou-se em
aprender a Palavra do Senhor e se sobressaiu neste conhecimento,
a ponto de ter sido selecionado para ir viver no palácio de
Nabucodonosor.
- Temos, portanto, aqui, o cumprimento do que fala o salmista:
“Como purificará o mancebo o seu caminho? Observando-o
comforme a Tua Palavra” (Sl.119:9). Nem podia ser diferente,
pois o principal meio de santificação do servo de Deus é a Palavra
de Deus, como o Senhor Jesus deixa claro em Sua oração
sacerdotal (Jo.17:17).
- Daniel, desde cedo, como se vê, era um estudioso da Palavra
de Deus e não somente um estudioso mas um praticante dela,
mesmo vivendo em meio a um povo que havia se distanciado da
Palavra de Deus e que fazia ouvidos moucos às mensagens
proféticas que exortavam o povo ao arrependimento.
- Daniel era uma pessoa diferente das que viviam com ele na
corte. Enquanto a grande maioria das pessoas se preocupava
apenas em participar dos rituais cerimoniais, servindo ao Senhor
tão somente de aparência e, depois que saíam do templo, iam
adorar ídolos e fazer práticas contrárias à vontade de Deus, Daniel
dedicava-se ao estudo e meditação nas Escrituras, a ponto de, com
4. pouco mais de vinte anos de idade, já ser considerado como
“instruído em toda a sabedoria, sábio em ciência e entendido no
conhecimento”. - Daniel, porém, não apenas era entendido nas
Escrituras, mas, também, tinha uma vida de oração. Ninguém
pense que Daniel começou a orar apenas quando chegou a
Babilônia. Seu costume de orar três vezes ao dia (Cf. Dn.6:10)
iniciou-se desde a mais tenra idade, como resultado até do
aprendizado que teve na Palavra de Deus, pois tal costume se
desenvolveu a partir do que escreveu Davi, o homem segundo o
coração de Deus, no Sl.55:17: “De tarde, e de manhã, e ao meio-
dia, orarei; e clamarei, e ele ouvirá a minha voz”.
- Vemos, portanto, que a decisão firme de servir a Deus
depende substancialmente destas duas práticas: a meditação
nas Escrituras e a vida de oração, sem o que não teremos
condições de nos mantermos separados do pecado e do mundo
que nos rodeia.
- Nos dias em que vivemos, não é diferente o ambiente daquele
que era vivido por Daniel. Também estamos num ambiente de
grande apostasia espiritual, em que, apesar de o Senhor estar, a
todo instante, mostrando a iminência do juízo divino sobre a face
da Terra, a extrema necessidade de nos arrependermos de nossos
pecados e buscarmos a Deus, muitos se contentam apenas de
participar de cerimônias religiosas, de terem uma vida espiritual
de aparência, continuando a viver no pecado quando fora do
“templo”.
- Entretanto, esforcemo-nos para que sejamos, diante de Deus e
dos homens, pessoas “instruídas em toda sabedoria, sábias em
ciência e entendidas no conhecimento”, o que somente se
conseguirá se mantivermos uma vida de meditação nas Escrituras
e uma vida de oração, pois, deste modo, a exemplo de Josias e de
Daniel, poupados seremos do terrível juízo que há de vir sobre a
Terra. Aliás, é esta a promessa do Senhor Jesus para os fiéis de
nosso tempo, como registrado está na carta que o Senhor mandou
João escrever à igreja de Filadélfia: “Como guardaste a palavra da
minha paciência, também eu te guardarei da hora da tentação que
há de vir sobre todo o mundo, para tentar os que habitam na terra”
(Ap.3:10).
5. - Mas Daniel não era um eremita, ou seja, uma pessoa que se
separava do convívio de seus pares. Ele foi selecionado, entre
outras coisas, porque “tinha habilidade para viver no palácio do
rei”, ou seja, sendo, como era, um nobre, alguém da linhagem
real, Daniel também se esmerou em saber conviver e em se portar
como um príncipe, como um nobre.
- Daniel era dedicado no estudo das Escrituras e tinha uma
vida de oração, mas não era um alienado, alguém que se
enclausurava e não conviva com as demais pessoas, mas, pelo
contrário, alguém que tinha uma conduta exemplar entre seus
pares e que procurou sempre ter uma boa convivência com o
próximo, sem que isto representasse qualquer atitude de
participação na vida pecaminosa, tão comum na sua geração.
- Daniel mostra-nos, desta maneira, que, embora tenhamos de
ser santos, isto não significa que devamos ser antissociais e,
mais do que isto até, impõe a necessidade de que sejamos pessoas
que estejam no meio das pessoas, pois só assim poderemos
cumprir o nosso papel de “luz do mundo” e “sal da terra”, que nos
determinou o Senhor Jesus (Mt.5:13-16).
- Daniel distinguiu-se na vida da corte não só pela sua piedade,
mas, também, pela sua excelência no convívio social, revelando
toda a sua habilidade para viver no palácio, algo que seria
fundamental para ser o estadista que foi. Temos, também, de
saber viver em sociedade, cumprindo suas regras, portando-se de
modo a que, com nossa conduta excelente, sejamos motivo para
que os homens glorifiquem a Deus. Temos sido assim?
- No ano terceiro do rei Jeoiaquim, quando Daniel tinha por volta
de 22 anos de idade, no ano 606 a.C., Nabucodonosor veio até
Jerusalém e a sitiou, tendo, então, o rei de Babilônia determinado
que se levassem cativos os jovens nobres da terra para que deles
se fizessem funcionários para o seu reino.
- Não deve ter sido fácil para Daniel, conhecedor que era das
Escrituras, ter sido escolhido para ser levado cativo para a
Babilônia. O cativeiro era a máxima punição prevista na lei de
Moisés e o jovem Daniel bem poderia ter se questionado como,
sendo fiel a Deus, estava na leva daqueles que foram levados
cativos, como se fosse um ímpio
6. - No entanto, apesar desta incompreensível situação, Daniel não
desfaleceu na sua fé, não se revoltou contra o Senhor, sabendo
que Deus sempre procura o bem daqueles que O servem e que,
como diria séculos depois o apóstolo Paulo, todas as coisas
contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus,
daqueles que são chamados por Seu decreto (Rm.8:28). Mesmo
não entendendo o que se passava, Daniel continuou com o firme
propósito de servir a Deus, mesmo que em terra estranha, mesmo
que, aparentemente, sendo “punido” injustamente.
- Esta deve ser, também, a nossa atitude quando, nas
circunstâncias desta vida, aparentemente somos injustiçados. Não
podemos deixar de confiar no Senhor, de saber que Ele está no
absoluto controle de todas as coisas e de que o mal que pode nos
sobrevir não é eterno, certamente será um mal menor que se
tornará num bem muito maior. Foi assim que ocorreu com Daniel:
sua participação na primeira leva dos cativos era apenas uma
passagem para que ele pudesse ser o grande estadista que foi e,
mais do que isto, o porta-voz de Deus para que todos nós, ao
longo dos séculos, soubéssemos que o Altíssimo tem controle
sobre os reinos dos homens.
II – DANIEL E SEUS AMIGOS DECIDEM SERVIR A DEUS
EM BABILÔNIA
- Daniel chegou a Babilônia e logo notou que seu destino não
era o de uma “punição injusta”. Pelo contrário, foi selecionado
por Aspenaz, chefe dos eunucos do rei, para fazer parte de um
grupo que moraria no palácio real e que seria preparado para ser
funcionário na corte babilônica.
- De pronto, Daniel, sendo, como era, um homem espiritual,
percebeu que sua sorte era diferente da dos demais cativos que
haviam sido levados e que ganhara uma rica e singular
oportunidade na terra do seu cativeiro, cativeiro que sabia duraria
setenta anos, como fora profetizado por Jeremias, profecia que
jamais se esqueceu, como se pode ver de sua oração a Deus
quando já tinha por volta de noventa anos de idade em Dn.9:2.
- Notamos, portanto, que, embora estivesse em terra estranha,
talvez não compreendendo a situação de cativeiro que passava, e
mesmo diante da situação diferenciada e favorável em que foi
posto, logo após a chegada a Babilônia, Daniel sempre escondeu
7. em seu coração a palavra do Senhor, tendo, assim, como norte,
como orientação da sua vida o da observância da Palavra do
Senhor, não só no sentido de cumprir os mandamentos, mas de
confiar nas promessas recebidas da parte de Deus por intermédio
dos profetas.
- Daniel e três amigos seus, Hananias, Misael e Azarias, que,
como ele, compartilhavam deste mesmo comportamento, não
se deixaram deslumbrar com as maravilhas do palácio real
nem com a “sorte” que tinham tido de poder, num ambiente de
cativeiro, desfrutar de um tão grande privilégio, que era o de
terem sido selecionados para serem preparados para ser
funcionários do rei de Babilônia, então a potência mundial da
época. Continuavam firmes no sentido de servir a Deus.
- Esta é outra importantíssima lição que temos a aprender com
estes jovens. Deus, muitas vezes, põe alguns dos Seus servos em
posições de destaque na sociedade, em condições de terem
influência na condução da própria vida em sociedade, mas, diante
desta bênção, desta circunstância, jamais podemos abrir mão
daquilo que já estávamos a fazer antes de sermos alçados a esta
nova situação, nunca podemos perder de vista de que, se fomos
postos neste lugar, é para ali fazermos com que o nome do Senhor
seja glorificado.
- Assim que chegaram ao palácio do rei, estes jovens tiveram
mudados os seus nomes. Daniel, cujo significado é “Deus é o
meu juiz”, passou a ser chamado “Beltessazar”, cujo significado é
“Bel protege a sua vida” ou “Bel te guarde”, lembrando que Bel
era um dos principais deuses de Babilônia. - Hananias, cujo nome
significa “Jeová é clemente” ou “Jeová é gracioso”, passou a ser
chamado “Sadraque”, cujo significado é “decreto do deus lua” ou
“enviado de Aku, o deus lua”. Misael, cujo nome significa “quem
é Deus?” ou “quem é como Deus?”, passou a se chamar
“Mesaque”, cujo nome significa “tirado” ou “quem é como Aku”.
Por fim, Azarias, cujo nome significa “Jeová é o meu ajudador”
ou “a quem Jeová ajudou”, passou a ser chamado de
“Abedenego”, cujo significado é “servo de Nego ou Nebo”, sendo
Nego ou Nebo outra divindade babilônica (Is.46:1).
- Esta mudança de nomes aos jovens tinham um importante
significado. O nome é a identidade da pessoa, é a própria
8. exteriorização de seu caráter, notadamente na cultura oriental.
Hoje, quando damos nome a alguém, fazemo-lo por causa de
modismos, de homenagem a alguém, enfim, somos motivados por
vários fatores que não dizem respeito à pessoa a ser nomeada.
- Entre os orientais, notadamente os judeus, porém, o nome
somente era dado depois de uma profunda reflexão a respeito das
circunstâncias do nascimento e da própria concepção daquela
pessoa, pois se entendia que o nome traduza a própria identidade
do ser, o seu caráter.
- Por isso mesmo, aqueles jovens tiveram mudados seus nomes
quando chegaram a Babilônia. Ao receberem nomes que
exaltavam as divindades de Babilônia, estava-se como a dizer
àqueles jovens que, a partir de então, eles deveriam se
esquecer completamente de seu passado em Judá, que não
mais pertenciam ao povo judaíta, que haviam sido “adotados” por
Babilônia e que, doravante, deveriam abraçar esta oportunidade
que haviam recebido do rei de Babilônia, abandonando o seu
antigo povo e passando a ser babilônios dali para a frente.
- Como diz o pastor José Serafim de Oliveira, em sua obra que, ao
tempo da elaboração deste esboço ainda estava no prelo: “…Esses
quatro jovens crentes tinham agora diante de si, um grande
desafio. Certamente Satanás não perdeu tempo em lhes trazer
mensagens de desânimo, como, por exemplo: Moços, nada de
fanatismo religioso; aqui não é Jerusalém, aqui é Babilônia; se
vocês quiserem ser bem sucedidos e prosperarem nesta terra,
esqueçam suas tradições, seu povo, sua religião, seu Deus,
adotem os costumes dos caldeus, sua religião e seus deuses, e
tudo lhes irá bem (Dn.1:3–4).…” (Panorama teológico e histórico
dos livros de Daniel e Apocalipse, p.4).
- Tudo conspirava para que Daniel e seus amigos, diante desta
nova situação, abandonassem por completo a fé em Deus e
abraçassem não só a religião mas o modo de vida babilônico.
Tinham sido levado cativos, a máxima punição prevista na lei de
Moisés, de modo que poderiam achar que Deus os havia
abandonado, e de forma injusta, já que eram fiéis ao Senhor.
Eram agora recebidos com toda a brandura e lhes era dada uma
oportunidade de “vencer na vida” por parte de Nabucodonosor.
9. Como não seria fácil deixar Deus e abraçar os deuses de
Babilônia?
- É isto, aliás, o que fizeram todos os demais jovens que, assim
como Daniel, Hananias, Misael e Azarias, foram levados cativos,
pois a Bíblia diz que somente estes quatro se negaram a participar
do manjar do rei. É possível que houvesse outros jovens que não
fossem judeus no meio daqueles que foram levados a frequentar o
curso de preparação, mas é evidente que aqueles quatro não foram
os únicos judeus da turma. Portanto, quase todos os jovens nobres
judeus levados para o cativeiro se corromperam, abandonaram a
Deus e passaram a servir aos deuses babilônios. No entanto,
somente Daniel e seus amigos alcançaram a bênção de Deus e o
destaque que os levou a serem altos funcionários daquele reino,
enquanto os outros se tornaram, sim, funcionários daquele reino
mas na mediocridade que haviam escolhido em suas vidas
espirituais.
- Não é, porventura, o que vemos ocorrer em nossos dias?
Quantos que são postos por Deus em lugares de destaque, em
circunstâncias privilegiadas, mas que, infelizmente, não resistem
aos “cantos de sereia” do mundo e aceitam abandonar a Deus para
ter benefícios ofertados pelo mundo, mundo este que, não nos
iludamos, está no maligno (I Jo.5:19). São os “quase todos”
mencionados em Mt.24:12 que, diante da multiplicação da
iniquidade, deixam que seu amor a Deus se esfrie, desviando-se
espiritualmente. - Embora tivessem seus nomes mudados,
aqueles jovens não abandonaram a Deus. Não compreendiam
porque tinham sido levados cativos mas, ante a singularidade de
serem levados ao palácio do rei, viram ali a mão do Senhor e,
gratos a Ele, resolveram continuar servindo a Deus, sabendo que
o Senhor lhes havia dado uma oportunidade singular e que
somente obedecendo a Ele poderiam desfrutar desta chance que
lhes era dada.
- Como tinham habilidade para viver no palácio do rei, aceitaram
com resignação os novos nomes recebidos, nomes que, entretanto,
não representaram a sua mudança de caráter. Temos aqui uma
importante lição: no mundo, devemos aceitar as regras e normas
existentes, mas jamais podemos mudar nosso caráter, nossa vida
de separação do pecado por causa destas normas e regras, pois
10. importa mais obedecermos a Deus que aos homens (At.5:29).
Como nos ensina o Senhor Jesus, devemos bem separar o que é
de César e o que é de Deus (Mt.22:21; Mc.12:17; Lc.20:25).
- Daniel e seus amigos não se rebelaram com os nomes novos
recebidos e os utilizaram ao longo de suas vidas na corte de
Babilônia, mas esta mudança, em absoluto, alterou a sua
fidelidade ao Senhor.
- O primeiro grande teste foi o da alimentação. Assim que
receberam seus novos nomes, Daniel e seus amigos foram
cientificados de que iriam se alimentar da porção do manjar do rei
e do vinho que ele bebia, durante os três anos de curso de
preparação (Dn.1:5).
- Daniel e seus amigos logo perceberam que não poderiam
participar do “manjar do rei”, pois, além de a alimentação
conter iguarias que não eram permitidas pela lei de Moisés,
tratava-se de alimentos que, antes de ser consumidos, eram
oferecidos aos deuses babilônios, eram coisas sacrificadas aos
ídolos. “Participar do manjar do rei” era renunciar à
santidade, quebrar a lei de Moisés.
- Daniel e seus amigos sabiam muito bem a distinção entre
conviver com os outros, ter habilidade para viver no palácio
do rei e participar do pecado, daquilo que desagrada a Deus.
Este discrímen deve ser uma constante na vida do servo de Deus,
que está no mundo mas não é do mundo (Jo.17:11,16).
- Aceitar os nomes que lhes foram dados, respeitando as normas
vigentes no palácio de Babilônia não comprometida a santidade
daqueles jovens, porquanto eles continuavam, no seu íntimo, a ter
o mesmo caráter que haviam adquirido no meio do povo apóstata
de Judá, ou seja, o de adorarem somente a Deus. O fato de seus
novos nomes exaltarem as divindades babilônicas nada
significava, já que eles continuavam a servir a Deus. Mas,
participar do manjar do rei seria comprometer esta adoração ao
Senhor e isto lhes era inadmissível.
- Daniel e seus amigos eram cativos, não tinham qualquer direito
e, sob a perspectiva humana, não podiam desrespeitar àquela
ordem real. Além do mais, se não se alimentassem daquela ração
diária, totalmente vinculada ao “manjar do rei”, como poderiam
sobreviver? Recusar tal participação era como que uma sentença
11. de morte. No entanto, aqueles jovens estavam realmente dispostos
a servir a Deus e esta fidelidade exige, inclusive, colocar em risco
a própria vida.
- Como afirma Nathan Ausubel, “…Na escola tradicional dos
valores religiosos judaicos, não havia categoria de devoção que
fosse considerada no mesmo nível da do martírio. Não havia ato
de virtude ou heroísmo que se pudesse comparar com o que
consistia em oferecer a própria vida em ‘holocausto’, para a
santificação do Nome de Deus por lealdade à Torah, e em defesa
do povo judeu. Ao longo dos éculos, e em todos os países em que
os judeus estivessem residindo, eram constantemente sujeito a mil
e uma pressões — tanto explícitas quanto implícitas — de uma
sociedade hostil. As pressões buscam induzi-los a abandonar sua
religião, sua identidade étnica, e seu separatismo cultural. Para o
judeu, como indivíduo, a escolha nunca era fácil; provocava nele
um turbilhão interno e uma crise de consciência. O teste de
lealdade para com a identidade judaica de grupo era avaliado pela
resistência que ele oferecia a todas as tentativas de atraí-lo para
longe de sua fé.…” (Kidush Ha-Shem [Santificação do Nome de
Deus]. In: A JUDAICA, v.5, pp.425-6).
- Esta mesma firmeza que sempre foi presente no meio do povo
judeu, resultado do fato de Deus tê-lo escolhido para ser Sua
propriedade peculiar dentre os povos (Ex.19:5), tem de existir,
também, na Igreja, este povo formado por Cristo Jesus para estar
perto do Senhor (Ef.2:11-22), sentimento este demonstrado na
vida dos apóstolos, que não tinham a sua vida por preciosa
(At.20:24) e ordenada pelo próprio Cristo, que mandou que
sejamos fiéis até a morte, mesmo em meio às perseguições
(Ap.2:10).
- Ao ver a ordem real de que deveriam se alimentar do manjar do
rei, Daniel tomou uma decisão firme: não se contaminou com a
porção do manjar do rei nem com o vinho que ele bebia (Dn.1:8).
- O texto sagrado diz que Daniel assentou isto no seu coração,
ou seja, foi uma decisão que vinha do seu interior, era uma
decisão que resultava de sua comunhão com Deus, de sua
piedade. Daniel servia a Deus de coração inteiro, de toda a sua
alma, de todo o seu entendimento, tinha um coração circunciso,
ou seja, uma aliança com Deus que provinha do íntimo de seu ser.
12. - Somente quem serve a Deus de todo o coração, que tem todo
o seu ser comprometido com o Senhor tem condições de
enfrentar as adversidades e de arriscar a sua própria vida
para manter o compromisso assumido com o Senhor. Quem
busca a Deus de todo o coração, encontra-O (Jr.29:13) e, neste
encontro, tem início uma real vida espiritual. Como afirmou, certa
feita, o ex-chefe da Igreja Romana, Bento XVI: “…Ao início do
ser cristão, não há uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o
encontro com um acontecimento, com uma Pessoa que dá à vida
um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo. No seu
Evangelho, João tinha expressado este acontecimento com as
palavras seguintes: « Deus amou de tal modo o mundo que lhe
deu o seu Filho único para que todo o que n'Ele crer (...) tenha a
vida eterna » (3, 16).…” (Encíclica Deus caritas est, n.1.
Disponível:
http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/encyclicals/docu
ments/hf_ben-xvi_enc_20051225_deus-caritas-est_po.html
Acesso em 18 ago. 014).
- Esta era a grande diferença entre Daniel e os demais judeus de
sua geração em Judá. Enquanto Daniel servia a Deus de
coração, os demais o faziam apenas de aparência. Como temos
servido a Deus? De coração ou apenas de aparência? Lembremos
que somente os que servem a Deus de coração inteiro serão
arrebatados naquele dia!
- Diante desta disposição de Daniel, imperceptível aos olhos
humanos, mas claramente percebida pelo Senhor, que é o que
sonda os corações e sabe o que neles há (I Sm.16:7; Pv.21:2;
Ap.2:23), o Senhor deu a Daniel graça e misericórdia diante do
chefe dos eunucos.
OBS: “…Deus, vendo a pureza de Daniel, que fez? 1º - Deu-lhe
graça e misericórdia. 2º - Ajudou-o a que seu chefe consentisse
que ele comesse só legumes v.10-13. 3º - Abençoou Daniel e os
seus companheiros, que ficaram mais gordos, bonitos e perfeitos
do que os que comeram na casa do rei. 4º - Conservou os seus
servos puros. Aquele que desejar conservar-se puro será guardado
pelo Senhor.…” (NYSTRÖM, Samuel. Lição 6 – Daniel e seus
companheiros na escravidão. 05 fev. 1939. In: Coleção Lições
Bíblicas, v.1, p.794).
13. - Daniel, ao assentar no seu coração não se contaminar com o
manjar do rei, pediu ao chefe dos eunucos que lhes concedesse
não se contaminar. Não bastou ter assentado no seu coração
não se contaminar, era preciso que se conseguisse um meio
para o fazer e este meio somente viria mediante um pedido ao
chefe dos eunucos para que se tivesse uma alimentação
diferente.
- Daniel mostra aqui mais uma vez sua habilidade para viver no
palácio do rei. Mesmo sabendo que não poderia participar da
porção do manjar do rei, que isto era inadmissível, sabendo de sua
condição de cativo, foi pedir ao chefe dos eunucos que lhe
concedesse não se contaminar. Não fugiu às normas vigentes, não
agiu impensadamente, mas, confiando em Deus, apresentou o seu
pedido de ter uma alimentação diferenciada.
- É assim que sempre devemos agir: prudentemente e tendo
plena confiança em Deus. Devemos sempre obedecer às
normas e regras vigentes no ambiente onde estamos, agindo
para cumprir a vontade de Deus com ordem e decência.
Muitos, nestes momentos delicados, põem tudo a perder porque
agem precipitadamente, achando que, por terem boas intenções,
estão isentos de cumprir a forma e modo exigidos para uma
determinada situação. Aprendamos com o Senhor Jesus que
nunca pecou mas, nem por isso, deixou de observar as normas
vigentes na sociedade de seu tempo. - Deus deu graça e
misericórdia diante do chefe dos eunucos a Daniel e este, num
gesto inusitado para tal situação, revelou sua apreensão em
desobedecer às ordens do rei, mostrando que, se Daniel, com
alimentação diferenciada, fosse visto mais fraco que os demais,
poderia comprometer a própria vida do chefe dos eunucos
(Dn.1:10).
OBS: “…De acordo com alguns historiadores renomados, era
comumente observada a ‘face dos vassalos’ quando estes se
punham de pé diante do rei (ver Ne.2:1-2). Se o parecer de algum
servo se apresentasse formoso, então ele estava apto para servir ao
monarca no que houvesse de mister, se não, seria morto sem
misericórdia (comp. Com Et.5:1-3). Os filhos dos reis também
eram observados cada dia, se estavam magros ou gordos (ver II
Sm.13:3,4). Daniel e seus companheiros estavam sujeitos a estas e
14. outras penalidades impostas por aquela corte, mas a graça de
Deus os salvou de toda aquela burocracia ali existente.…”
(SILVA. Severino Pedro da. Daniel versículo por versículo,
p.19).
- Daniel, uma vez mais, mostrou a sua habilidade. Aquela
afirmação do chefe dos eunucos poderia incutir-lhe medo, pois, se
nem o chefe dos eunucos tinha segurança de vida diante da
desobediência a uma ordem do rei, que dirá os cativos como ele?
Quem sabe o inimigo não lhe tenha soprado nos ouvidos alguma
coisa como “está vendo, não há como se livrar da participação do
manjar do rei”?
- Entretanto, Daniel não se intimidou, porque nem a ameaça de
morte o separava da comunhão que tinha com o seu Deus. Assim
deve viver o cristão, naquela convicção externada pelo apóstolo
Paulo de que nem a morte nos pode separar do amor de Deus que
há em Cristo Jesus, nosso Senhor (Rm.8:38,39). Aleluia!
- Daniel ouviu atentamente o que disse o chefe dos eunucos e
reconheceu a situação delicada relatada pelo chefe, mas,
numa atitude extremamente prudente, apresentou uma
proposta ao despenseiro, ou seja, àquele incumbido pelo chefe
dos eunucos para lhes trazer a alimentação, a de que fosse feito
um teste de dez dias. Se, ao fim daqueles dias, fossem eles
achados mais tristes que os demais, eles se submeteriam à porção
do manjar do rei (Dn.1:11-14).
OBS: “… O diálogo do jovem profeta continua, mas não segue
mais com o eunuco, mas, sim, com o ‘despenseiro-chefe’.
Evidentemente, esse ‘despenseiro’ era um oficial debaixo das
ordens do eunuco, Aspenaz.…” (SILVA, Severino Pedro da.
Daniel versículo por versículo, p.18).
- Daniel não retrucou com o chefe dos eunucos, que lhe havia
dado uma resposta praticamente negativa, mas, diante das razões
apresentadas pelo chefe dos eunucos, foi até o despenseiro e fez
esta proposta. Era uma proposta que revelava a fé que Daniel
tinha em Deus, a confiança de que o Senhor providenciaria o
necessário para que ele mantivesse a sua santidade. Deus o havia
sustentado até ali com a alimentação que Lhe era agradável, por
que haveria de mudar? Daniel confiava que Deus não muda e que
está pronto a honrar aqueles que O honram (I Sm.2:30).
15. - É neste ponto da narrativa que ficamos a saber que Daniel não
estava sozinho neste seu intento. Hananias, Misael e Azarias
também estavam dispostos a não se contaminar com o manjar do
rei. Apenas estes quatro jovens se dispuseram a servir a Deus, os
demais haviam se curvado à exigência do rei de Babilônia. É
interessante observar que estes quatro resolveram conviver,
formavam um grupo, tanto que o despenseiro encarregado de
alimentá-los era o mesmo. Isto mostra que devemos sempre nos
associar com os que verdadeiramente servem a Deus, evitando
qualquer comunhão com aquele que se diz irmão mas não o é
pelas suas atitudes (I Co.5:10,11).
- Diante da graça e misericórdia dados por Deus tanto ao chefe
dos eunucos quanto ao despenseiro, o fato é que, após os dez dias
do teste, Daniel e seus amigos apareceram com os semblantes
melhores, estavam mais gordos que todos os outros mancebos que
comiam a porção do manjar do rei (Dn.1:15).
- Naturalmente, embora não esteja explícito no texto, que, durante
estes dez dias, os jovens não só se alimentaram de legumes e de
água, como também oraram intensamente para que o teste desse
certo, pois desejavam ardentemente se manter fiéis ao Senhor,
fazer parte de um povo santo. Esta disposição de coração de servir
a Deus vinha de uma vida de oração e de meditação nas
Escrituras, que não foi interrompida com o cativeiro.
- Ao término dos dez dias, quando o despenseiro verificou que
os jovens estavam até melhores que os demais, resolveu tirar a
porção do manjar do rei deles e a manter a alimentação
diferente até o final curso. Tinha sido vencida a primeira
barreira e aqueles jovens haviam mantido a sua integridade diante
do Senhor.
- Daniel e seus amigos, assim, obtinham algo inimaginável na
corte babilônica: o de se manter sem participar do manjar do rei, o
de suplantar uma ordem real e, assim, poderem, em pleno palácio
de Nabucodonosor, manter a sua vida de santidade diante de
Deus, continuar a observar os mandamentos divinos a despeito de
todas as circunstâncias adversas. Para tanto, usaram de uma
resolução firme e nascida em seu coração, mas também de
prudência e cautela, para que não fossem vistos como rebeldes e
insubmissos.
16. - É esta a fórmula que temos de seguir em nossos dias. Devemos
ter uma firme resolução, nascida de nossos corações, de servir ao
Senhor, apesar de todas as circunstâncias adversas, mas agir com
cautela e prudência, confiando sobretudo em Deus, para que
suplantemos todos os obstáculos e impedimentos que se nos
apresentam para que nos mantenhamos inteiramente servindo ao
Senhor.
III – O ÊXITO ALCANÇADO POR DANIEL E SEUS AMIGOS
- Depois deste teste nos dez primeiros dias de sua estada no
palácio de Nabucodonosor, Daniel e seus amigos começaram a
enfrentar um outro desafio, qual seja, o de aprender a cultura
babilônia e alcançar a aprovação no curso de preparação que
estavam a fazer.
- Daniel e seus amigos rejeitaram a proposta maligna de se
desprenderem de sua nação, do seu Deus e da sua identidade
judaica, mas tinham de se submeter à nova condição em que
haviam sido postos pelo Senhor, qual seja, a de estudantes que
deveriam obter a aprovação do rei da Babilônia para servirem
como funcionários.
- Daniel e seus amigos sabiam que teriam um longo cativeiro pela
frente, pois Jeremias havia profetizado que deveriam ali ficar por
setenta anos, ou seja, aquela geração que lá chegava ficaria
provavelmente até a morte naquelas plagas. Uma vida tinha de ser
vivida e aqueles jovens sabiam que Deus os queria servindo ao rei
de Babilônia como funcionários.
- Precisamos sempre observar qual é a vontade de Deus para
as nossas vidas e, diante desta vontade, devemos assumir as
condições postas pelo Senhor, a fim de que, no lugar e função
que estivermos, venhamos a glorificar o nome do Senhor. Afinal
de contas, como nos dá o apóstolo Paulo, onde quer que
servirmos, estaremos servindo a Deus e não aos homens
(Ef.6:5,6).
- Esta consciência está a faltar em muitos que cristãos se dizem
ser em nossos dias. Uns entendem que servir a Deus é tão
somente ser um pregador do Evangelho, um ministro de Cristo.
Assim, não “aceitam” outra posição senão a de ministro do
Evangelho, mesmo não tendo sido chamados por Deus para tal
obra. Outros, por sua vez, acham que servir a Deus é tão somente
17. comparecer às reuniões da igreja local e ter algumas atividades,
entendendo que, no mundo secular, tudo o que fizerem está fora
do contexto da adoração ao Senhor.
- Ambos os pontos-de-vista estão equivocados e não
correspondem à verdade bíblica. Daniel e seus amigos mostram-
nos que servir a Deus não é apenas participar de reuniões ou
atividades eclesiásticas, mas, também, dedicar-se em todas as
atividades que fomos realizar ao longo de nossas vidas, sempre
lembrando que o que fazemos não estamos a fazer para nós ou
para os demais seres humanos, mas para Deus.
- Daniel e seus amigos não se contentaram apenas em comer
legumes e beber água para agradar e glorificar a Deus, mas se
dedicaram, durante três anos, nos estudos, a ponto de, no
momento da avaliação, terem sido achados dez vezes mais doutos
do que os seus próprios professores, que eram os magos e
astrólogos que havia em todo o reino da Babilônia (Dn.1:20). -
Como Daniel e seus amigos conseguiram tal condição? Por
primeiro, porque, diante da vida de comunhão que tinham com
Deus, o próprio Senhor lhes deu conhecimento e inteligência em
todas as letras e sabedoria (Dn.1:17). Por segundo, porque eles se
dedicaram nos estudos e se esforçaram para aprender
profundamente tudo o que lhes era ensinado.
- Daniel e seus amigos não eram vagabundos. Estudavam com
denodo e dedicação, procuravam tudo aprender, aprofundar-se em
tudo que lhes era ensinado. Eram esforçados e, diante deste
esforço, bem como da vida de comunhão que tinham com Deus, o
Senhor fez a Sua parte, abrindo-lhes a mente e lhes dando
conhecimento e inteligência.
OBS: “…Daniel trabalhava muito mais do que os outros
mancebos, e ainda foi mais perseguido, mas isso não lhe tirou a
sabedoria, a saúde e as bênçãos, que, pelo contrário, foram
multiplicadas.…” (NYSTRÖM. Samuel. Lição 6 – Daniel e seus
companheiros na escravidão. 05 fev. 1939. In: Coleção Lições
Bíblicas, v.1, p.794).
- Deus não muda (Ml.3:6). Diante deste fato, o Senhor está
pronto, ainda hoje, a dar inteligência e conhecimento aos jovens
que, dispondo-se a servir a Deus, também se dedicarem aos
estudos e a se aprofundar na ciência humana, a fim de que possam
18. obter lugares de destaque em nossa sociedade, que tanto carece de
homens fiéis e tementes a Deus.
- Lamentavelmente, entretanto, o que temos visto em nosso país,
um dos países de pior educação em todo o mundo, a esmagadora
maioria dos jovens que cristãos se dizem ser não se esforçam para
se aprofundar no conhecimento, preferindo amoldar-se à
mediocridade e à mentalidade anti-intelectualista que vigora em
nosso país, inclusive dentro da igreja. Que o exemplo de Daniel e
seus amigos sirva de estímulo para que os nosso jovens e
adolescentes decidam aprimorar-se intelectualmente, sempre
dentro de um patamar de comunhão com Deus, pois devemos
buscar primeiro o reino de Deus e a justiça (Mt.6:33).
- O desenvolvimento daqueles jovens foi tanto intelectual
quanto espiritual, pois eles tanto se dedicavam a buscar a Deus
em oração e mediante a frequente meditação nas Escrituras, como
também estudavam tudo o que lhes era ensinado nas letras e
língua dos caldeus. Assim, somente poderiam, mesmo, crescer
tanto na vida intelectual quanto na espiritual.
- Tanto assim é que, enquanto que intelectualmente eles foram
achados dez vezes mais douto que os seus próprios mestres,
espiritualmente receberam da parte de Deus sabedoria, enquanto
que Daniel recebeu entendimento em toda a visão e sonhos, ou
seja, foi constituído por Deus como um profeta (Dn.1:17).
- Este mesmo crescimento tanto intelectual quanto espiritual
vemos na vida de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo
(Lc.2:52), a nos mostrar que é este o modelo de crescimento que
devemos ter para nossas crianças, jovens e adolescentes. Todavia,
estamos muito longe deste ideal, porquanto, como já dissemos,
há, hoje em dia, uma mentalidade altamente destrutiva em nossa
sociedade, em que os jovens são incentivados e estimulados a
apenas querer “ganhar dinheiro” sem qualquer esforço seja de
desenvolvimento espiritual, seja de desenvolvimento intelectual.
Que Deus nos ajude a vermos o exemplo de Daniel, seus amigos e
do Senhor Jesus para mudarmos este triste quadro vivido em
nosso país, inclusive e especialmente entre os que cristãos se
dizem ser.
- Daniel e seus amigos foram levados à presença de
Nabucodonosor e foram aprovados com louvor, sendo mais
19. doutos que seus próprios mestres, de modo que foram escalados
para servir o próprio rei, passando a fazer parte de seus assessores
diretos (Dn.1:19).
- O esforço em servir a Deus e em aprender o que lhes era
ensinado foi devidamente recompensado. Puderam continuar
diante do rei Nabucodonosor, numa posição de destaque, num
lugar em que já haviam aprendido a compatibilizar as funções que
exerciam com a adoração ao Senhor, bem como haviam sido
motivo para a glorificação do nome do Senhor.
OBS: “…O caráter do homem se forma no ambiente da pureza, da
abnegação e do sacrifício. A saúde é conservada, pela temperança
na vida.” (NYSTRÖM, Samuel. Lição 6. Daniel e seus
companheiros na escravidão. 05 fev. 1939. In: Coleção Lições
Bíblicas, v.1, p.794). - Os que haviam abandonado a Deus e
resolvido abraçar Babilônia eram ali envergonhados.
Tornaram-se medíocres funcionários do rei de Babilônia, sem
qualquer expressão ou força, porque haviam abandonado o
Senhor a quem haviam servido até irem para Babilônia. Muitos
ainda hoje passam por este mesmo estado de mediocridade. Que
Deus nos guarde deste destino, mas que, resolutamente, façamos
como Daniel e seus amigos, dispostos a servir a Deus de todo o
coração, sabendo que, no momento certo, o Senhor nos fará
alcançar a liberdade de continuar a servi-l’O e de termos, da parte
d’Ele a devida honra, em retribuição pela honra que demos a Ele,
mesmo que, para tanto, tenhamos de perder a nossa própria vida
física. Estamos dispostos a isto?
Colaboração para o Portal Escola Dominical – Ev. Dr.
Caramuru Afonso Francisco