SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 17
Baixar para ler offline
BBBBLLLLEEEEFFFFEEEE DDDDEEEE MMMMEEEESSSSTTTTRRRREEEE
Farsa
Texto de
JULIO CARRARA
Baseado numa farsa popular
Escrita em 2004
Julio CarraraJulio CarraraJulio CarraraJulio Carrara Blefe de MestreBlefe de MestreBlefe de MestreBlefe de Mestre 1111
PERSONAGENS:
BOBO
PADEIRO
MULHER
MENDIGO 1
MENDIGO 2
ÉPOCA: Atual
CENÁRIO: Praça de uma grande cidade, que ainda conserva um coreto, onde
ficam os mendigos. Ao fundo, a fachada de uma padaria.
Julio CarraraJulio CarraraJulio CarraraJulio Carrara Blefe de MestreBlefe de MestreBlefe de MestreBlefe de Mestre 2222
(Em frente ao teatro, dois mendigos se aproximam do público e pedem dinheiro,
comida, etc. Dentro da sala, entra o Bobo e com um bastão e dá as batidas de Molière.
Quando ele vai iniciar o texto, os mendigos entram pela plateia, furiosos, reclamando
que ninguém deu comida para eles, etc. Sobem no palco e se instalam no coreto. Bobo
respira fundo e...)
BOBO
Respeitável público!!! O grupo (Nome da Companhia.) orgulhosamente
apresenta: “Blefe de Mestre”, de Julio Carrara, baseado numa farsa popular.
Pois bem:
A farsa que irei narrar
passa-se nesta praça,
onde dois mendigos,
muito espertos,
querem a todos ludibriar.
Não escapam desse feito,
esses dois padeiros,
que tinham que
entregar um pastelão
a um mensageiro.
Porém,
os mendigos,
ao saberem do fato,
bolaram um plano
para enganar os coitados...
(Sai dando piruetas e fazendo acrobacias.)
Julio CarraraJulio CarraraJulio CarraraJulio Carrara Blefe de MestreBlefe de MestreBlefe de MestreBlefe de Mestre 3333
(A mulher do padeiro está em cena, às voltas com os pães e doces da padaria. Os
mendigos no coreto reclamam.)
MENDIGO 1
Ai que fome!!!
MENDIGO 2
Há três dias não comemos nada...
MENDIGO 1
Nem um pão duro sobrou pra gente roer. Não temos dinheiro nem pra
comprar uma bala...
MENDIGO 2
E se a gente pedisse?
MENDIGO 1
Pra quem?
MENDIGO 2
Ora, pra quem!!! Pra mulher do padeiro, é claro...
MENDIGO 1
Nunca! Aquela lá é sovina que só vendo... Eu não vou...
MENDIGO 2
Nem eu...
MENDIGO 1
Como vamos resolver isso, então? (Pausa.) Já sei: o jogo do par ou
ímpar...
Julio CarraraJulio CarraraJulio CarraraJulio Carrara Blefe de MestreBlefe de MestreBlefe de MestreBlefe de Mestre 4444
MENDIGO 2
Ah, não... Eu sempre perco e você sempre leva vantagem...
MENDIGO 1
Quem sabe dessa vez seja diferente... Vamos?
MENDIGO 2
(À contragosto.) Tá bem... Par...
MENDIGO 1
Ímpar...
(Ambos colocam os dedos, porém o resultado é par. Mendigo 1, rapidamente, estica
mais um dedo, ficando o número ímpar.)
MENDIGO 1
Ímpar... Ganhei!
MENDIGO 2
Mentiroso! Eu é que ganhei! Você colocou um dedo depois que a gente
tinha jogado. Pensa que eu não vi?
MENDIGO 1
Que dedo, o quê? Eu ganhei na raça... Você perdeu e agora vai ter que
pedir dois pães na padaria...
MENDIGO 2
Eu vou com uma condição...
MENDIGO 1
Qual?
Julio CarraraJulio CarraraJulio CarraraJulio Carrara Blefe de MestreBlefe de MestreBlefe de MestreBlefe de Mestre 5555
MENDIGO 2
Que você venha junto comigo.
MENDIGO 1
(Pensa um pouco.) Tá bem... A minha fome é tanta que eu sou capaz de
fazer qualquer coisa por um mísero pãozinho...
(Caminham até a padaria. A mulher do padeiro dirige-se para eles, mal-educada.)
MULHER
(Com sotaque português.) O que querem?
MENDIGO 1
Dois pãezinhos, dona. A gente não come há três dias...
MENDIGO 2
Acabou de sair uma fornada imensa. Dois pãezinhos não vão fazer
diferença.
MENDIGO 1
Pode ser pão duro também...
MULHER
Raios! Era só o que me faltava... Eu que acordo às quatro da manhã pra
fazer e assar os pães, trabalho o dia todo e vou ter que ficar sustentando dois
barbudos sem-vergonha? Pra fora da minha padaria. Vão trabalhar,
vagabundos! Rua, rua!
MENDIGO 2
Mas...
Julio CarraraJulio CarraraJulio CarraraJulio Carrara Blefe de MestreBlefe de MestreBlefe de MestreBlefe de Mestre 6666
MULHER
Não tem mas nem meio mas. (Pega uma vassoura.) Saiam já daqui ou eu
quebro isso aqui na cabeça dos dois. Ra, re, ri, ro, RUA!!!!
(Mendigos afastam-se, amedrontados.)
MULHER
Ora, pois! (Volta ao seu trabalho.)
(Mendigos xingam-na.)
MENDIGO 1
Unha de fome...
MENDIGO 2
Muquirana...
MENDIGO 1
Mão-de-vaca...
MENDIGO 2
Avarenta...
MENDIGO 1
(Bota a mão na barriga.) Ai que fome!
MENDIGO 2
(Observando a entrada do padeiro.) Olha lá! O padeiro vem chegando...
Vamos nos esconder e ouvir o que ele vai dizer... (Escondem-se.)
PADEIRO
(Para a mulher.) Mulher, por que estás tão furiosa?
Julio CarraraJulio CarraraJulio CarraraJulio Carrara Blefe de MestreBlefe de MestreBlefe de MestreBlefe de Mestre 7777
MULHER
Aqueles vagabundos me põem maluca. Acha que vou ficar sustentando
vagabundos desavergonhados?
PADEIRO
Tá bem, mulher... Deixa pra lá. Esses dois não vão tomar jeito nunca!
Mas escuta: daqui a pouco vai chegar aqui um mensageiro para apanhar o
pastelão para aquele banquete lá da rua de cima. O pastelão já está pronto?
MULHER
Já... Prontinho! Eu preparei dois, porque um só não será o suficiente pro
banquete... Ouvi dizer que é pra bastante gente. E eles estão deliciosos.
(Mendigos babam.)
PADEIRO
Que bom! Mas escuta: eu dei uma senha para o mensageiro. Você só
deve entregar o pastelão quando o mensageiro cantar uma música: (Canta
trecho de uma música referente à comida.) Entendeu?
(Reação dos mendigos.)
MULHER
Perfeitamente.
PADEIRO
Agora vou precisar entregar outras encomendas... Não se esqueça,
hein?
(Pega alguns embrulhos e sai cantarolando. Mendigos sorriem um para o outro.)
Julio CarraraJulio CarraraJulio CarraraJulio Carrara Blefe de MestreBlefe de MestreBlefe de MestreBlefe de Mestre 8888
MENDIGO 1
Você ouviu?
MENDIGO 2
Ouvi.
MENDIGO 1
Você está pensando o que eu estou pensando?
MENDIGO 2
Acho que sim...
OS DOIS
(Num rompante, cantam juntos a música.)
MENDIGO 1
Já sei o que eu vou fazer. Vou me disfarçar, corro até lá, canto a música e
volto com o pastelão...
MENDIGO 2
Mas tem que fazer isso rápido, pois o verdadeiro mensageiro pode
chegar antes de você...
MENDIGO 1
Vou me disfarçar...
(Vai atrás do coreto e volta com uma roupa de mensageiro. Disfarça-se com uma meia
máscara da comédia popular.)
MENDIGO 1
E aí, dá pra enganar?
Julio CarraraJulio CarraraJulio CarraraJulio Carrara Blefe de MestreBlefe de MestreBlefe de MestreBlefe de Mestre 9999
MENDIGO 2
Claro... Vai rápido...
(Mendigo 1 sai cantarolando, enquanto o outro se esconde. Ao chegar à porta da
padaria, ele bate palmas.)
MULHER
(Vem atendê-lo, educadamente.) Pois não. O que o senhor deseja?
MENDIGO 1
(Disfarça a voz.) Vim para buscar o pastelão para levar ao banquete...
MULHER
Está bem, mas antes de entregar o pastelão, o senhor terá que dizer a
senha...
MENDIGO 1
Oh, sim... Que cabeça a minha... Eu estou muito distraído hoje... Talvez
seja a fome... Bem, a senha é... (Canta.)
MULHER
É essa mesmo... Aguarde um momentinho, por favor. Já vou buscar sua
encomenda. (Vai buscar o pastelão.)
(Mendigo 1 gesticula para o Mendigo 2 dizendo que o pastelão está ganho. Mulher
volta.)
MULHER
(Entrega-lhe o pastelão.) Aqui está o pastelão, meu senhor. Bom apetite! E
volte sempre... Servimos bem para servirmos sempre... Obrigadinha...
(Faz acenos para o “mensageiro” que se afasta. Ela entra na padaria.)
Julio CarraraJulio CarraraJulio CarraraJulio Carrara Blefe de MestreBlefe de MestreBlefe de MestreBlefe de Mestre 10101010
(O mendigo 1 corre até o coreto, onde o mendigo 2 o aguarda ansioso.)
MENDIGO 2
Não via a hora de você chegar... Hum, este pastelão tá com um cheiro
delicioso...
MENDIGO 1
E uma pena que não vai dar nem pro cheiro...
(Devoram rapidamente o pastelão, brigam porque o Mendigo 1 pega o pedaço maior,
etc., e satisfeitos, com a barriga cheia, encostam uma cabeça com a outra e cochilam
felizes. Padeiro se aproxima.)
PADEIRO
Mulher, ó mulher...
MULHER
O que foi marido?
PADEIRO
Traz pra cá o pastelão... Vou eu mesmo levá-lo. É mais seguro...
MULHER
(Aflita.) Mas, marido... O mensageiro já veio buscá-lo...
PADEIRO
O quê? E você entregou?
MULHER
Mas é claro. Ele cantou a música...
Julio CarraraJulio CarraraJulio CarraraJulio Carrara Blefe de MestreBlefe de MestreBlefe de MestreBlefe de Mestre 11111111
PADEIRO
E quando foi isso?
MULHER
Não faz dez minutos...
PADEIRO
Você tá a mangar de mim...
MULHER
Por que eu iria fazer isso?
PADEIRO
Você está mentindo. (Pega a vassoura.) Mentirosa! Você vai apanhar...
MULHER
Mas eu não fiz nada de errado...
PADEIRO
Como, não? Você mentiu... Você comeu o pastelão, É por isso que está
gorda desse jeito... (Bate-lhe.) Isso é pra você aprender a fazer o que eu
mando... (Entra na padaria.)
MULHER
Ingrato!... Mas eu vou me vingar. Isso não fica assim, não...
(Vai até perto do coreto e vê os mendigos cochilando. Ao lado deles, o embrulho do
pastelão.)
MULHER
(Para si.) Então foram vocês? Mas tudo bem, seus vagabundos... Vocês
hão de se haver comigo... Vocês não sabem com quem vocês mexeram...
Julio CarraraJulio CarraraJulio CarraraJulio Carrara Blefe de MestreBlefe de MestreBlefe de MestreBlefe de Mestre 12121212
(Volta para a padaria. Mendigos acordam.)
MENDIGO 1
Ai, como é bom tirar um cochilo depois de um ranguinho...
MENDIGO 2
Ai... eu ainda tô com fome...
MENDIGO 1
Saco sem fundo, hein, mané?
MENDIGO 2
Claro, você comeu a maior parte... Me deixou um restinho de nada...
MENDIGO 1
O mundo é dos vivos. Quem manda ser bobo...
MENDIGO 2
Ah, é? Pois agora eu vou lá e pego outro pastelão e vou comer tudinho...
tudinho... até estourar...
MENDIGO 1
Pode ir... Olha só a minha cara de preocupado...
MENDIGO 2
Você vai ver...
(Vai atrás do coreto e coloca a roupa de mensageiro. Trata-se do mesmo disfarce usado
pelo Mendigo 1. Mendigo 2 aproxima-se da padaria e bate palmas. A mulher, já ciente
do fato, vira-se para a plateia.)
Julio CarraraJulio CarraraJulio CarraraJulio Carrara Blefe de MestreBlefe de MestreBlefe de MestreBlefe de Mestre 13131313
MULHER
(À parte.) Agora vocês me pagam seus vagabundos... (Vira-se para o
“mensageiro”, bem amável.) Pois não. O que o senhor deseja?
MENDIGO 2
(Disfarça a voz.) Vim para buscar outro pastelão para levar ao banquete...
MULHER
Está bem, mas antes de entregar o pastelão, o senhor terá que dizer a
senha...
MENDIGO 2
Oh, sim... Que cabeça a minha... Eu estou muito distraído hoje... Talvez
seja a fome... Bem, a senha é... (Canta.)
MULHER
É essa mesmo... Aguarde um momentinho, por favor. Já vou buscar sua
encomenda. (Vai buscar o pastelão.)
(Mendigo 2 gesticula para o Mendigo 1 dizendo que o pastelão já está ganho. Mulher
volta com o Padeiro que vem com uma vassoura e bate-lhe.)
MULHER
Aqui está o pastelão, meu senhor. Bom apetite! E volte sempre...
Servimos bem para servirmos sempre... Obrigadinha...
MENDIGO 2
Eu não sou o culpado... Você está batendo na pessoa errada. O meu
companheiro que é o culpado.
PADEIRO
Então vai buscá-lo. E rápido...
Julio CarraraJulio CarraraJulio CarraraJulio Carrara Blefe de MestreBlefe de MestreBlefe de MestreBlefe de Mestre 14141414
(Mendigo 2 sai correndo para o coreto. Ao chegar lá, Mendigo 1 zomba dele.)
MENDIGO 1
Ué, cadê o pastelão?
MENDIGO 2
Não trouxe...
MENDIGO 1
Por quê?
MENDIGO 2
Porque a mulher só vai dar o pastelão para o primeiro mensageiro. Ela
falou que eu era um mensageiro falso e que queria enganá-la e que o
verdadeiro mensageiro era aquele que tinha chegado antes de mim... E mais:
ela não vai dar um pastelão, não. Vai dar mais três...
MENDIGO 1
(Animando-se.) Então eu vou lá. Passa pra cá essa roupa.
(Troca novamente de roupa. Volta para á padaria e bate palmas. A mulher vira-se para
a plateia.)
MULHER
(À parte.) Agora é a sua vez... (Vira-se para o “mensageiro”, bem amável.)
Pois não. O que o senhor deseja?
MENDIGO 1
(Disfarça a voz.) Vim buscar outro pastelão para levar ao banquete...
Julio CarraraJulio CarraraJulio CarraraJulio Carrara Blefe de MestreBlefe de MestreBlefe de MestreBlefe de Mestre 15151515
MULHER
Está bem, mas antes de entregar o pastelão, o senhor terá que dizer a
senha...
MENDIGO 1
Oh, sim... Que cabeça a minha... Eu estou muito distraído hoje... Talvez
seja a fome... Bem, a senha é... (Canta.)
MULHER
É essa mesmo... Aguarde um momentinho, por favor. Já vou buscar sua
encomenda. (Vai buscar o pastelão.)
(Mendigo 1 gesticula para Mendigo 2 dizendo que o pastelão está ganho. Mulher
volta.)
MULHER
Olha, eu tenho aqui mais três pastelões para te entregar (Padeiro vem com
uma vassoura e bate-lhe.) Aqui está o pastelão, meu senhor. Bom apetite! E volte
sempre... Servimos bem para servirmos sempre... Obrigadinha...
(Mendigo 2 zomba do Mendigo 1. Padeiro, furioso, vai até ele.)
PADEIRO
Pensam que acabou? Isso é só o começo...
(Batem neles. Os mendigos se protegem, e para se defender começam a jogar pães e
doces nos padeiros. Eles fazem o mesmo. Vira uma típica cena de pastelão. Congelam.
Entra o Bobo.)
BOBO – E assim terminou a história,
entrou por uma porta
e saiu pela outra,
Julio CarraraJulio CarraraJulio CarraraJulio Carrara Blefe de MestreBlefe de MestreBlefe de MestreBlefe de Mestre 16161616
e quem quiser,
que conte outra...
(O Bobo recebe uma torta na cara e revida com outra, todos descongelam enquanto a
guerra continua. Black-out.)
FIM
Novembro/2004

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

Na cozinha com adolfo 02
Na cozinha com adolfo   02Na cozinha com adolfo   02
Na cozinha com adolfo 02adolfoturbay
 
04. la na terra do contrário
04. la na terra do contrário04. la na terra do contrário
04. la na terra do contrárioJulio Carrara
 
Fabio cavalcante flocloresantarenolivro1melodias
Fabio cavalcante flocloresantarenolivro1melodiasFabio cavalcante flocloresantarenolivro1melodias
Fabio cavalcante flocloresantarenolivro1melodiasAbia Reis
 
Artur azevedo a pele do lobo
Artur azevedo   a pele do loboArtur azevedo   a pele do lobo
Artur azevedo a pele do loboTulipa Zoá
 
14. natal dos excluídos
14. natal dos excluídos14. natal dos excluídos
14. natal dos excluídosJulio Carrara
 
3 érico veríssimo - o arquipélago vol. 1
3   érico veríssimo - o arquipélago vol. 13   érico veríssimo - o arquipélago vol. 1
3 érico veríssimo - o arquipélago vol. 1Jerônimo Ferreira
 
2 érico veríssimo - o retrato vol. 2
2   érico veríssimo - o retrato vol. 22   érico veríssimo - o retrato vol. 2
2 érico veríssimo - o retrato vol. 2Jerônimo Ferreira
 
A pele do lobo
A pele do loboA pele do lobo
A pele do lobocris_nh
 
3 érico veríssimo - o arquipélago vol. 2
3   érico veríssimo - o arquipélago vol. 23   érico veríssimo - o arquipélago vol. 2
3 érico veríssimo - o arquipélago vol. 2Jerônimo Ferreira
 
A sementinha alves redol (1)
A sementinha alves redol (1)A sementinha alves redol (1)
A sementinha alves redol (1)Sandra Pinheiro
 
60 trovas de humor a. a. de assis
60 trovas de humor   a. a. de assis60 trovas de humor   a. a. de assis
60 trovas de humor a. a. de assisMarcelo Birkenfeld
 
Artur azevedo o badejo
Artur azevedo   o badejoArtur azevedo   o badejo
Artur azevedo o badejoTulipa Zoá
 

Mais procurados (20)

O pastelão e a torta
O pastelão e a tortaO pastelão e a torta
O pastelão e a torta
 
O pastelao e a torta
O pastelao e a tortaO pastelao e a torta
O pastelao e a torta
 
Na cozinha com adolfo 02
Na cozinha com adolfo   02Na cozinha com adolfo   02
Na cozinha com adolfo 02
 
Sopa de Massa-2 "Deja Vu"
Sopa de Massa-2  "Deja Vu"Sopa de Massa-2  "Deja Vu"
Sopa de Massa-2 "Deja Vu"
 
Módulo Música
Módulo MúsicaMódulo Música
Módulo Música
 
04. la na terra do contrário
04. la na terra do contrário04. la na terra do contrário
04. la na terra do contrário
 
Fabio cavalcante flocloresantarenolivro1melodias
Fabio cavalcante flocloresantarenolivro1melodiasFabio cavalcante flocloresantarenolivro1melodias
Fabio cavalcante flocloresantarenolivro1melodias
 
Artur azevedo a pele do lobo
Artur azevedo   a pele do loboArtur azevedo   a pele do lobo
Artur azevedo a pele do lobo
 
O pastel e a torta
O pastel e a tortaO pastel e a torta
O pastel e a torta
 
AS VELHAS, Lourdes Ramalho
AS VELHAS, Lourdes RamalhoAS VELHAS, Lourdes Ramalho
AS VELHAS, Lourdes Ramalho
 
14. natal dos excluídos
14. natal dos excluídos14. natal dos excluídos
14. natal dos excluídos
 
3 érico veríssimo - o arquipélago vol. 1
3   érico veríssimo - o arquipélago vol. 13   érico veríssimo - o arquipélago vol. 1
3 érico veríssimo - o arquipélago vol. 1
 
2 érico veríssimo - o retrato vol. 2
2   érico veríssimo - o retrato vol. 22   érico veríssimo - o retrato vol. 2
2 érico veríssimo - o retrato vol. 2
 
A pele do lobo
A pele do loboA pele do lobo
A pele do lobo
 
3 érico veríssimo - o arquipélago vol. 2
3   érico veríssimo - o arquipélago vol. 23   érico veríssimo - o arquipélago vol. 2
3 érico veríssimo - o arquipélago vol. 2
 
A sementinha alves redol (1)
A sementinha alves redol (1)A sementinha alves redol (1)
A sementinha alves redol (1)
 
O tempo e o vento o retrato - erico verissimo
O tempo e o vento    o retrato  - erico verissimoO tempo e o vento    o retrato  - erico verissimo
O tempo e o vento o retrato - erico verissimo
 
Az-zait 18
Az-zait 18Az-zait 18
Az-zait 18
 
60 trovas de humor a. a. de assis
60 trovas de humor   a. a. de assis60 trovas de humor   a. a. de assis
60 trovas de humor a. a. de assis
 
Artur azevedo o badejo
Artur azevedo   o badejoArtur azevedo   o badejo
Artur azevedo o badejo
 

Mais de Julio Carrara

Mais de Julio Carrara (20)

Orgasmo dos deuses e outros poemas
Orgasmo dos deuses e outros poemasOrgasmo dos deuses e outros poemas
Orgasmo dos deuses e outros poemas
 
10. oh, dúvida cruel!
10. oh, dúvida cruel!10. oh, dúvida cruel!
10. oh, dúvida cruel!
 
06. baile de formatura
06. baile de formatura06. baile de formatura
06. baile de formatura
 
20. perdidos na serra
20. perdidos na serra20. perdidos na serra
20. perdidos na serra
 
01. o beco
01. o beco01. o beco
01. o beco
 
05. a moléstia azul
05. a moléstia azul05. a moléstia azul
05. a moléstia azul
 
17. uriel
17. uriel17. uriel
17. uriel
 
02.sombras do passado
02.sombras do passado02.sombras do passado
02.sombras do passado
 
03. o espelho da vida
03. o espelho da vida03. o espelho da vida
03. o espelho da vida
 
07. o anjo maldito
07. o anjo maldito07. o anjo maldito
07. o anjo maldito
 
09. a caverna dos suspiros
09. a caverna dos suspiros09. a caverna dos suspiros
09. a caverna dos suspiros
 
08. catedral
08. catedral08. catedral
08. catedral
 
11. conto de verão
11. conto de verão11. conto de verão
11. conto de verão
 
12. cidade dos urubus
12. cidade dos urubus12. cidade dos urubus
12. cidade dos urubus
 
15. cinzas no paraíso
15. cinzas no paraíso15. cinzas no paraíso
15. cinzas no paraíso
 
22. hamlet ao quadrado
22. hamlet ao quadrado22. hamlet ao quadrado
22. hamlet ao quadrado
 
24. adega dos anjos
24. adega dos anjos24. adega dos anjos
24. adega dos anjos
 
26. doce ilusão
26. doce ilusão26. doce ilusão
26. doce ilusão
 
30. estrela de bastidor
30. estrela de bastidor30. estrela de bastidor
30. estrela de bastidor
 
27. a torta de maçã
27. a torta de maçã27. a torta de maçã
27. a torta de maçã
 

21. blefe de mestre

  • 1. BBBBLLLLEEEEFFFFEEEE DDDDEEEE MMMMEEEESSSSTTTTRRRREEEE Farsa Texto de JULIO CARRARA Baseado numa farsa popular Escrita em 2004
  • 2. Julio CarraraJulio CarraraJulio CarraraJulio Carrara Blefe de MestreBlefe de MestreBlefe de MestreBlefe de Mestre 1111 PERSONAGENS: BOBO PADEIRO MULHER MENDIGO 1 MENDIGO 2 ÉPOCA: Atual CENÁRIO: Praça de uma grande cidade, que ainda conserva um coreto, onde ficam os mendigos. Ao fundo, a fachada de uma padaria.
  • 3. Julio CarraraJulio CarraraJulio CarraraJulio Carrara Blefe de MestreBlefe de MestreBlefe de MestreBlefe de Mestre 2222 (Em frente ao teatro, dois mendigos se aproximam do público e pedem dinheiro, comida, etc. Dentro da sala, entra o Bobo e com um bastão e dá as batidas de Molière. Quando ele vai iniciar o texto, os mendigos entram pela plateia, furiosos, reclamando que ninguém deu comida para eles, etc. Sobem no palco e se instalam no coreto. Bobo respira fundo e...) BOBO Respeitável público!!! O grupo (Nome da Companhia.) orgulhosamente apresenta: “Blefe de Mestre”, de Julio Carrara, baseado numa farsa popular. Pois bem: A farsa que irei narrar passa-se nesta praça, onde dois mendigos, muito espertos, querem a todos ludibriar. Não escapam desse feito, esses dois padeiros, que tinham que entregar um pastelão a um mensageiro. Porém, os mendigos, ao saberem do fato, bolaram um plano para enganar os coitados... (Sai dando piruetas e fazendo acrobacias.)
  • 4. Julio CarraraJulio CarraraJulio CarraraJulio Carrara Blefe de MestreBlefe de MestreBlefe de MestreBlefe de Mestre 3333 (A mulher do padeiro está em cena, às voltas com os pães e doces da padaria. Os mendigos no coreto reclamam.) MENDIGO 1 Ai que fome!!! MENDIGO 2 Há três dias não comemos nada... MENDIGO 1 Nem um pão duro sobrou pra gente roer. Não temos dinheiro nem pra comprar uma bala... MENDIGO 2 E se a gente pedisse? MENDIGO 1 Pra quem? MENDIGO 2 Ora, pra quem!!! Pra mulher do padeiro, é claro... MENDIGO 1 Nunca! Aquela lá é sovina que só vendo... Eu não vou... MENDIGO 2 Nem eu... MENDIGO 1 Como vamos resolver isso, então? (Pausa.) Já sei: o jogo do par ou ímpar...
  • 5. Julio CarraraJulio CarraraJulio CarraraJulio Carrara Blefe de MestreBlefe de MestreBlefe de MestreBlefe de Mestre 4444 MENDIGO 2 Ah, não... Eu sempre perco e você sempre leva vantagem... MENDIGO 1 Quem sabe dessa vez seja diferente... Vamos? MENDIGO 2 (À contragosto.) Tá bem... Par... MENDIGO 1 Ímpar... (Ambos colocam os dedos, porém o resultado é par. Mendigo 1, rapidamente, estica mais um dedo, ficando o número ímpar.) MENDIGO 1 Ímpar... Ganhei! MENDIGO 2 Mentiroso! Eu é que ganhei! Você colocou um dedo depois que a gente tinha jogado. Pensa que eu não vi? MENDIGO 1 Que dedo, o quê? Eu ganhei na raça... Você perdeu e agora vai ter que pedir dois pães na padaria... MENDIGO 2 Eu vou com uma condição... MENDIGO 1 Qual?
  • 6. Julio CarraraJulio CarraraJulio CarraraJulio Carrara Blefe de MestreBlefe de MestreBlefe de MestreBlefe de Mestre 5555 MENDIGO 2 Que você venha junto comigo. MENDIGO 1 (Pensa um pouco.) Tá bem... A minha fome é tanta que eu sou capaz de fazer qualquer coisa por um mísero pãozinho... (Caminham até a padaria. A mulher do padeiro dirige-se para eles, mal-educada.) MULHER (Com sotaque português.) O que querem? MENDIGO 1 Dois pãezinhos, dona. A gente não come há três dias... MENDIGO 2 Acabou de sair uma fornada imensa. Dois pãezinhos não vão fazer diferença. MENDIGO 1 Pode ser pão duro também... MULHER Raios! Era só o que me faltava... Eu que acordo às quatro da manhã pra fazer e assar os pães, trabalho o dia todo e vou ter que ficar sustentando dois barbudos sem-vergonha? Pra fora da minha padaria. Vão trabalhar, vagabundos! Rua, rua! MENDIGO 2 Mas...
  • 7. Julio CarraraJulio CarraraJulio CarraraJulio Carrara Blefe de MestreBlefe de MestreBlefe de MestreBlefe de Mestre 6666 MULHER Não tem mas nem meio mas. (Pega uma vassoura.) Saiam já daqui ou eu quebro isso aqui na cabeça dos dois. Ra, re, ri, ro, RUA!!!! (Mendigos afastam-se, amedrontados.) MULHER Ora, pois! (Volta ao seu trabalho.) (Mendigos xingam-na.) MENDIGO 1 Unha de fome... MENDIGO 2 Muquirana... MENDIGO 1 Mão-de-vaca... MENDIGO 2 Avarenta... MENDIGO 1 (Bota a mão na barriga.) Ai que fome! MENDIGO 2 (Observando a entrada do padeiro.) Olha lá! O padeiro vem chegando... Vamos nos esconder e ouvir o que ele vai dizer... (Escondem-se.) PADEIRO (Para a mulher.) Mulher, por que estás tão furiosa?
  • 8. Julio CarraraJulio CarraraJulio CarraraJulio Carrara Blefe de MestreBlefe de MestreBlefe de MestreBlefe de Mestre 7777 MULHER Aqueles vagabundos me põem maluca. Acha que vou ficar sustentando vagabundos desavergonhados? PADEIRO Tá bem, mulher... Deixa pra lá. Esses dois não vão tomar jeito nunca! Mas escuta: daqui a pouco vai chegar aqui um mensageiro para apanhar o pastelão para aquele banquete lá da rua de cima. O pastelão já está pronto? MULHER Já... Prontinho! Eu preparei dois, porque um só não será o suficiente pro banquete... Ouvi dizer que é pra bastante gente. E eles estão deliciosos. (Mendigos babam.) PADEIRO Que bom! Mas escuta: eu dei uma senha para o mensageiro. Você só deve entregar o pastelão quando o mensageiro cantar uma música: (Canta trecho de uma música referente à comida.) Entendeu? (Reação dos mendigos.) MULHER Perfeitamente. PADEIRO Agora vou precisar entregar outras encomendas... Não se esqueça, hein? (Pega alguns embrulhos e sai cantarolando. Mendigos sorriem um para o outro.)
  • 9. Julio CarraraJulio CarraraJulio CarraraJulio Carrara Blefe de MestreBlefe de MestreBlefe de MestreBlefe de Mestre 8888 MENDIGO 1 Você ouviu? MENDIGO 2 Ouvi. MENDIGO 1 Você está pensando o que eu estou pensando? MENDIGO 2 Acho que sim... OS DOIS (Num rompante, cantam juntos a música.) MENDIGO 1 Já sei o que eu vou fazer. Vou me disfarçar, corro até lá, canto a música e volto com o pastelão... MENDIGO 2 Mas tem que fazer isso rápido, pois o verdadeiro mensageiro pode chegar antes de você... MENDIGO 1 Vou me disfarçar... (Vai atrás do coreto e volta com uma roupa de mensageiro. Disfarça-se com uma meia máscara da comédia popular.) MENDIGO 1 E aí, dá pra enganar?
  • 10. Julio CarraraJulio CarraraJulio CarraraJulio Carrara Blefe de MestreBlefe de MestreBlefe de MestreBlefe de Mestre 9999 MENDIGO 2 Claro... Vai rápido... (Mendigo 1 sai cantarolando, enquanto o outro se esconde. Ao chegar à porta da padaria, ele bate palmas.) MULHER (Vem atendê-lo, educadamente.) Pois não. O que o senhor deseja? MENDIGO 1 (Disfarça a voz.) Vim para buscar o pastelão para levar ao banquete... MULHER Está bem, mas antes de entregar o pastelão, o senhor terá que dizer a senha... MENDIGO 1 Oh, sim... Que cabeça a minha... Eu estou muito distraído hoje... Talvez seja a fome... Bem, a senha é... (Canta.) MULHER É essa mesmo... Aguarde um momentinho, por favor. Já vou buscar sua encomenda. (Vai buscar o pastelão.) (Mendigo 1 gesticula para o Mendigo 2 dizendo que o pastelão está ganho. Mulher volta.) MULHER (Entrega-lhe o pastelão.) Aqui está o pastelão, meu senhor. Bom apetite! E volte sempre... Servimos bem para servirmos sempre... Obrigadinha... (Faz acenos para o “mensageiro” que se afasta. Ela entra na padaria.)
  • 11. Julio CarraraJulio CarraraJulio CarraraJulio Carrara Blefe de MestreBlefe de MestreBlefe de MestreBlefe de Mestre 10101010 (O mendigo 1 corre até o coreto, onde o mendigo 2 o aguarda ansioso.) MENDIGO 2 Não via a hora de você chegar... Hum, este pastelão tá com um cheiro delicioso... MENDIGO 1 E uma pena que não vai dar nem pro cheiro... (Devoram rapidamente o pastelão, brigam porque o Mendigo 1 pega o pedaço maior, etc., e satisfeitos, com a barriga cheia, encostam uma cabeça com a outra e cochilam felizes. Padeiro se aproxima.) PADEIRO Mulher, ó mulher... MULHER O que foi marido? PADEIRO Traz pra cá o pastelão... Vou eu mesmo levá-lo. É mais seguro... MULHER (Aflita.) Mas, marido... O mensageiro já veio buscá-lo... PADEIRO O quê? E você entregou? MULHER Mas é claro. Ele cantou a música...
  • 12. Julio CarraraJulio CarraraJulio CarraraJulio Carrara Blefe de MestreBlefe de MestreBlefe de MestreBlefe de Mestre 11111111 PADEIRO E quando foi isso? MULHER Não faz dez minutos... PADEIRO Você tá a mangar de mim... MULHER Por que eu iria fazer isso? PADEIRO Você está mentindo. (Pega a vassoura.) Mentirosa! Você vai apanhar... MULHER Mas eu não fiz nada de errado... PADEIRO Como, não? Você mentiu... Você comeu o pastelão, É por isso que está gorda desse jeito... (Bate-lhe.) Isso é pra você aprender a fazer o que eu mando... (Entra na padaria.) MULHER Ingrato!... Mas eu vou me vingar. Isso não fica assim, não... (Vai até perto do coreto e vê os mendigos cochilando. Ao lado deles, o embrulho do pastelão.) MULHER (Para si.) Então foram vocês? Mas tudo bem, seus vagabundos... Vocês hão de se haver comigo... Vocês não sabem com quem vocês mexeram...
  • 13. Julio CarraraJulio CarraraJulio CarraraJulio Carrara Blefe de MestreBlefe de MestreBlefe de MestreBlefe de Mestre 12121212 (Volta para a padaria. Mendigos acordam.) MENDIGO 1 Ai, como é bom tirar um cochilo depois de um ranguinho... MENDIGO 2 Ai... eu ainda tô com fome... MENDIGO 1 Saco sem fundo, hein, mané? MENDIGO 2 Claro, você comeu a maior parte... Me deixou um restinho de nada... MENDIGO 1 O mundo é dos vivos. Quem manda ser bobo... MENDIGO 2 Ah, é? Pois agora eu vou lá e pego outro pastelão e vou comer tudinho... tudinho... até estourar... MENDIGO 1 Pode ir... Olha só a minha cara de preocupado... MENDIGO 2 Você vai ver... (Vai atrás do coreto e coloca a roupa de mensageiro. Trata-se do mesmo disfarce usado pelo Mendigo 1. Mendigo 2 aproxima-se da padaria e bate palmas. A mulher, já ciente do fato, vira-se para a plateia.)
  • 14. Julio CarraraJulio CarraraJulio CarraraJulio Carrara Blefe de MestreBlefe de MestreBlefe de MestreBlefe de Mestre 13131313 MULHER (À parte.) Agora vocês me pagam seus vagabundos... (Vira-se para o “mensageiro”, bem amável.) Pois não. O que o senhor deseja? MENDIGO 2 (Disfarça a voz.) Vim para buscar outro pastelão para levar ao banquete... MULHER Está bem, mas antes de entregar o pastelão, o senhor terá que dizer a senha... MENDIGO 2 Oh, sim... Que cabeça a minha... Eu estou muito distraído hoje... Talvez seja a fome... Bem, a senha é... (Canta.) MULHER É essa mesmo... Aguarde um momentinho, por favor. Já vou buscar sua encomenda. (Vai buscar o pastelão.) (Mendigo 2 gesticula para o Mendigo 1 dizendo que o pastelão já está ganho. Mulher volta com o Padeiro que vem com uma vassoura e bate-lhe.) MULHER Aqui está o pastelão, meu senhor. Bom apetite! E volte sempre... Servimos bem para servirmos sempre... Obrigadinha... MENDIGO 2 Eu não sou o culpado... Você está batendo na pessoa errada. O meu companheiro que é o culpado. PADEIRO Então vai buscá-lo. E rápido...
  • 15. Julio CarraraJulio CarraraJulio CarraraJulio Carrara Blefe de MestreBlefe de MestreBlefe de MestreBlefe de Mestre 14141414 (Mendigo 2 sai correndo para o coreto. Ao chegar lá, Mendigo 1 zomba dele.) MENDIGO 1 Ué, cadê o pastelão? MENDIGO 2 Não trouxe... MENDIGO 1 Por quê? MENDIGO 2 Porque a mulher só vai dar o pastelão para o primeiro mensageiro. Ela falou que eu era um mensageiro falso e que queria enganá-la e que o verdadeiro mensageiro era aquele que tinha chegado antes de mim... E mais: ela não vai dar um pastelão, não. Vai dar mais três... MENDIGO 1 (Animando-se.) Então eu vou lá. Passa pra cá essa roupa. (Troca novamente de roupa. Volta para á padaria e bate palmas. A mulher vira-se para a plateia.) MULHER (À parte.) Agora é a sua vez... (Vira-se para o “mensageiro”, bem amável.) Pois não. O que o senhor deseja? MENDIGO 1 (Disfarça a voz.) Vim buscar outro pastelão para levar ao banquete...
  • 16. Julio CarraraJulio CarraraJulio CarraraJulio Carrara Blefe de MestreBlefe de MestreBlefe de MestreBlefe de Mestre 15151515 MULHER Está bem, mas antes de entregar o pastelão, o senhor terá que dizer a senha... MENDIGO 1 Oh, sim... Que cabeça a minha... Eu estou muito distraído hoje... Talvez seja a fome... Bem, a senha é... (Canta.) MULHER É essa mesmo... Aguarde um momentinho, por favor. Já vou buscar sua encomenda. (Vai buscar o pastelão.) (Mendigo 1 gesticula para Mendigo 2 dizendo que o pastelão está ganho. Mulher volta.) MULHER Olha, eu tenho aqui mais três pastelões para te entregar (Padeiro vem com uma vassoura e bate-lhe.) Aqui está o pastelão, meu senhor. Bom apetite! E volte sempre... Servimos bem para servirmos sempre... Obrigadinha... (Mendigo 2 zomba do Mendigo 1. Padeiro, furioso, vai até ele.) PADEIRO Pensam que acabou? Isso é só o começo... (Batem neles. Os mendigos se protegem, e para se defender começam a jogar pães e doces nos padeiros. Eles fazem o mesmo. Vira uma típica cena de pastelão. Congelam. Entra o Bobo.) BOBO – E assim terminou a história, entrou por uma porta e saiu pela outra,
  • 17. Julio CarraraJulio CarraraJulio CarraraJulio Carrara Blefe de MestreBlefe de MestreBlefe de MestreBlefe de Mestre 16161616 e quem quiser, que conte outra... (O Bobo recebe uma torta na cara e revida com outra, todos descongelam enquanto a guerra continua. Black-out.) FIM Novembro/2004