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A PSICOLOGIA ORGANIZACIONAL NO BRASIL:
Sua Evolução e Situação Atual
ANTÔNIO CAUBI RIBEIRO TUPINAMBÁ*
RESUMO
A trajetória da psicologia organizacional pode ser traçada a par-
tirt da própria evolução da psicologia como ciência e profissão no Bra-
sil.
Neste trabalho nós temos por objetivo compreender a situação
desta área da psicologia no âmbito das universidades e do mercado de
trabalho, caracterizando e criticando os modelos de formação e de
atuação do psicólogo organizacional no Brasil, sugerindo paralelamente
possibilidades de sair de um impasse ideológico que apronta a formação
e a atuação destes profissionais.
Para a efetivação deste projeto, consideramos, além da nossa ex-
periência como professor e supervisor de estágio nesta área do Curso de
Psicologia da Universidade Federal do Ceará, as idéias dos diversos au-
tores que formam o livro publicado pelo Conselho Federal de Psicologia
em 1988, que, de acordo com seu r.refácio, pode ser considerado "um
marco na história da psicologia braslleira"**.
A partir da demarcação e caracterização do papel do psicólogo
brasileiro em diferentes fases, avaliamos esta prática no curso de psico-
logia da UFC*** e sugerimos novas perspectivas de ação, quer seja a ní-
vel acadêmico ou profissional.
ABSTRACT
. The history and present situation of organizational psychology in
Brazil can be understood from lhe point of view of lhe development of
psychology as seience and profession.
.. The purpose of Ihis articIe is to deseribe the situation of this spe-
CI~I~~~Id <;>f
psychol?gy in the University and job market, showing and
cntícízing 115 academic pattems and application.
The retlexion .about po~sible altematives to lhe ideologicaI pro-
~Iems of this acadenuc formation and application is also part of this ar-
IIcIe.
Two main sources were considered for lhe realization of this
project: our o~ e~perience with this branch ofknowledge as professor
at Fede~l. University o~ C~ará an~ !he ideas of lhe book published by
lhe Brazlll~n Psychologísts .Council IO lhe year 1988. We recognize as a
fact the opmion of ItS publishers, who considered it a milestone in lhe
history of psychology in Brazil.
The acad~mic psychological formation at the Federal University
of Ceará ISdescnbed based upon lhe division of different developmental
(*) Professor Assistente do Departamento de Psicologia da UFC
(U) Conselho Federal de Psicologia, Quem éo PsW6Iogo BI3IIÜciro? Edicon, São Paulo, 1988.
(***) Universidade Federal do Ceará
Rev. de Psicologia, 5 (2): pág. 95-104, Jul/Dez. 1987 95
periods in which we can insert the development of psychology in Brazil
Itself. I
h Suggestions for new possible actions related to the formation of
t .e psychologísr as well as new perspectives for the application of orga-
mzanonal psychology out of the University are also presented.
l-Introdução
Existem diferentes definições do q '.
Os "Psychological Abstracts" id uep~ossa s.erpsicologia organizacional.
- consi eram a sicologia do Trabalho e da Or ani-
zaçao como aquel.aárea 9ue engloba as seguintes atividades: g
L Análise Institucional
2. Recrutamento e Sel~ão de Pessoal
3. Treinamento e avaliação, '
4. Fatores Humanos no Trabalho e
5'. Planejamento Ambiental e Comportamento Humano.
P , Iniciando CO~1O
~m apêndice de ciências e profissões já estabelecidas no
ais, como a ~edagogI~, Filosofia e Medicina ou mesmo como disciplina curricular
~~stas ffrmaçoes, a psicologia manteve este status complementar até a vigência da
er regu amentad?ra da pr?fissão em 1962. Já nesse ano 15 profissionais se cadas-
t~a~am no MEC comoy.sIcól.ogos, chegando a 11 343 em 1974 este número. Vale
ain a ressal.tar que.? Ministério da Guerra criava um curso de psicologia em meio a
outras mO':lffient~çoes para ~ fo~ação em instituições civis de profissionais desta
área. A PSIcologia Aplicada J~ vinha sendo exercida na década de 50 na forma de
trabalhos de consult.onos,. gabinetes, serviços, institutos e centros destinados a di-
versos c~pos da p~IcologIa.~c~nteceu no período imediatamente posterior à regu-
lame~taçao profissional a cnaçao de um curso de Psicologia Industrial (1963) na
PUC , sendo que foi no ISOp3 onde a psicologia organizacional teve uma forte
presença nos seus curs~,.especialmente no campo da psicotécnica. O decreto de 27
de agosto de 19~2.perrruna, além do cadastro de profissionais que exerciam ativida-
des nas áreas Clínica e Escolar, também aqueles que exercessem a psicoloai" "Apli-
cada ao Trabalho". ..~
. . Para q~e se entenda a situação da psicologia organizacional na realidade
brasil7lfa d.e hOJ~,necessário se faz acompanhar de forma sumária a evolução da
própna psicología brasileira, ~etirando oportunamente desta trajetória aqueles
fenornenos qu~ apontam o surgunento e ? desenvolvimento de uma área específica
que ora denommamos de psicologia organizacionaj+,
(1) Ministério de Educação e Cultura
(2) Pontiffcia Universidade Católica
(3) Instituto ~e Seleç.ão e Orientação Profissional
(4) McConruck & Tiffin (1977) ainda se utilizaram do termo "Psicologia Industrial" ara
assuntos que ora podem p~~ncer a? c~po d~ es~do da psicologia organizacionfI. A ~:
:un::i~;e: ~m~ rr:lOrlroxUnIdade histórica do início da aplicação de estudos de psiCOlogia no
d ~. ra a o, o comportamento humano relacionado com a indústria "e à aplicação
n~:~:nte~:~~t(~~fbtp~ ~)mportamento do homem para a solução dos problemas humanos
V'
,,;;:mo~ o q~~ os::st~r~ fmpreendem como o surgimento da psicologia organizacional:
ran ~ .c~ _e 40 e 1950 devotou-se muita atenção aos aspectos das relaç~ hu-
manas na a mlIUs~ç_ao d~ pessoal, incluindo um interesse particular r inte ão ru I
pr;:cessos ~e s~pervlsao e hde~ança, comunicação e satisfação no trabalho. Esta ~fas; m~~;
so re as re açoes humanas na indüstria levou a uma maior atenção para com o treinamento em
96 Rev. de Psicologia, 5 (2): pág. 95-104, Jul/Dez. 1987
Apresentamos abaixo um quadro geral representativo da população de
psicólogos inscritos por região em todo o Pais, apontando a grande concentração
destes profissionais na região Sudeste, onde de fato a psicologia acadêmica teve o
seu início e apresenta o seu maior contingente:
"De modo bastante aproximado à distribuição dos cursos, registra-se a
distribuição dos psicólogos pelas Unidades da Federação (...). Somos 58277 psicó-
logos em atividade profissional. Cerca de 75% desse total são vinculados aos CRPs
04,05 e 065 e trabalham sobretudo em São Paulo (23336), Rio de Janeiro (11 396)
e Minas Gerais (6 449). Juntos, esses Estados abrigam 44 181 dos 58 277 psicólogos
trabalhando na profissão em todo o Pais."6
A Psicologia tem se caracterizado ao longo do tempo como uma profissão
eminentemente "feminina": mais de 80% dos profissionais psicólogos são mulheres.
A procura deste contingente feminino, são atribuídas as características intrínsecas
da profissão dentre outros fatores: "Se a Psicologia, enquanto ciência, está voltada
para o estudo do comportamento de homens e animais, o papel do psicólogo, en-
quanto profissional, objetiva facilitar o desenvolvimento da pessoa e a realização
plena de suas potencialidades, levando em conta a realidade, em cada caso presente.
relações humanas do pessoal administrativo e de supervisão e, de um modo geral, para com
programas de desenvolvimento gerencial. E mais, o interesse pelos aspectos sociais do traba-
lho humano levou logicamente ao estabelecimento do que hoje é referido como psicologia or-
ganizacional. Nesta nova disciplina, o enfoque principal é sobre a motivação humana, procu-
rando-se compreender os efeitos da estrutura organizacional sobre a motivação, satisfação no
trabalho e eficiência no trabalho. O desenvolvimento da psicologia organizacional acarretou
um crescente interesse por estudos de liderança, filosofias de administração, políticas e estru-
turas organizacionais, sistemas de incentivo e outros aspectos das organizações relacionados
tanto com a satisfação humana como com a eficiência organizacional." (Vol, I, p. 6 e 7)
Schein (1982) atribui, por sua vez, ao desenvolvimento de teorias e métodos que capacitaram
os psicólogos a melhor compreender e agir sobre a organização, o aumento do interesse pela
psicologia organizacional. Limita o nome de psicologia industrial àquela fase de ação do
psicólogo sobre as questões voltadas para a área de seleção e avaliação do trabalhador, passan-
do a ocupar novos espaços à medida em que entravam em contato com os problemas organiza-
cionais, integrando equipes de trabalho com novos propósitos, como, por exemplo, as pesqui-
sas de "tempos e movimentos" junto aos engenheiros, a padronização do trabalho através das
análises das tarefas, estudos do ambiente físico e sua relação com quantidade e qualidade do
trabalho etc., evoluindo para estudos sobre sistemas de recompensa e punição nas organi-
zações e seus efeitos motivacionais e condicionadores da aprendizagem; estudos sobre o rela-
cionamento entre os funcionários entre si e com seus chefes e as conseqüências na produtivi-
dade e no moral. "Foi com o estudo da motivação dos funcionários, dos sistemas de incenti-
vos, da política de pessoal e das relações intergrupais que a organização como um sistema total
pela primeira vez passou a ser melhor compreendida." (p. 5) Para o autor, os conceitos e teo-
rias adicionais são o que no presente molda a psicologia organizacional, aqueles que derivam
de teorias da dinâmica dos sistemas e das teorias desenvolvi mentais. Neste caso, os estudos da
psicologia industrial como compreendidos por McCormick e Tiffin (1977) estão contidos ou
fazem parte de um período no curso da evolução da psicologia organizacional definida por
Schein.
Apesar de que Schein (1982) nos ofereça uma visão mais complexa do que vem a ser a psico-
logia organizacional atualmente, consideramos útil para as nossas reflexões neste momento
levar em conta todos os aspectos desta área da psicologia que possam ser pertinentes à compre-
ensão do nosso tema. Desta forma, dependendo do contexto ou do momento histórico a que
reportamos nossa análise, poderemos nos referir à psicologia industrial ou do trabalho corno
sinônimos, inclufdas na psicologia organizacional ou como parte de um período do seu desen-
volvimento.
(5) Conselhos Regionais de Psicologia
(6) ROSAS, Paulo, et alii. "Quantos e Quem Somos?", ln: Conselho Federal de Psicologia,
Quem 60 Psicólogo Brasileiro?, Edicon, 1988, São Paulo, p. 39.
Rev. de Psicologia, 5 (2): pág. 95-104, Jul/Dez. 1987 97
Assim, por se af~star do mO,d~lotecnolõgico, pelo caráter humanístico que predo-
n:unaem sua ~rá~lca,,o exercicio da psicologia tem muito a ver com o papel expres-
s~voque ,é a~~b~ldo,a_mulhe.r,.~m ?poslçao ao papel instrumental por sua vez rela-
cionado as ciencias naO-SOCIalS e a tecnologia, reservado ao homem pelo establish-
menr'I-
Fatores de_ordem econômica são certamente contributivos para este esta-
tuto. Aos homens. sao reservadas profissões que se coadunem com o exercício do
poder e em especial com o domínio econômico advindos do exercício profissional
além destes aspectos referentes ao "caráter" masculino. '
. Schein (I 982~ utiliza-se .de estudos que visam a delimitar as profissões e
~elaclOná-las com motivos pessoais da escolha profissional. O autor sugere que ao
m~és de procurar encontrar "um conjunto único de motivos ou valores que deter-
mm~ a escolha ~a profissão, talvez seja ~ais produtivo compreender que uma de-
te~ada profissao pode atender a uma séne de necessidades e utilizar uma série de
aptidões" (p. 67).
E~ suma, o autor aponta p~a o fato de que nossa imagem ocupacional é
uma parte Imp'?rtante de nossa auto-Imagem, talvez a mais importante. Urna com-
plexa correlaçao de fatores individuais e sociais devem ser considerados para se
compreender o fenômeno da escolha profissional.
Não ~ difícil, a despeito desta complexidade de fatores deterrninantes da
escolh~ profissíonal, fazer .uma possível correlação entre este pequeno contingente
m~c~lino qu~ ~pta pela. psicologia e sua direção às áreas que parecem corresponder
mais ~ des~n~oes mencionadas anteriormente sobre profissões masculinas. No caso
~ psicologia, Importante se faz investigar certos setores da área clínica e organiza-
cional em contrapartida à área escolar como mantenedores destas expectativas.
2 - Produção científica em Psicologia
. . Do ponto de vista hist6rico, a produção científica na área da psicologia or-
garnzaclOn~ sofr.e uma d~fasagem semelhante, mas não proporcional às demais
área~ da p~lcologIa no Bras~. Até me.adosde 1960, segundo Matos (1988), esta pro-
duçao, e!a ISolada e ~sJX>rádlca,relacionando-se principalmente a relatos de ativida-
des .c~cas e à. afençao de testes e escalas, s6 se solidificando a partir de 1980 com
a cnaçao dos diferentes cursos de pós- graduação no Brasil.
_ ':'-~rática pr~fissional, não tendo este respaldo da produção científica até
en~ao se limita~a à aplicação ou re~tição de instrumentos e à viabilização de t~rias
onund~ de países ~ desenvolvidos, onde muitas vezes resultava urna adaptação
grosse~a deste matenal carente de um redimensionamento face às idiossincrasias
culturais etc.
. A .SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência), entidade que
Visaa aglutínar os e~forços dos diversos centros produtores de ciência no País e que
Fe servir de ~ermometro para a situação da ciência no Brasil, pode nos dar uma
Idéia da evoluçao desta produção científica no âmbito da Psicologia 'nos anos mais
r~entes. Observ~-se a produção científica por vezes insignificante ou mesmo ine-
xistente, no que diz respeito à psicologia organizacional:
(7) Ibidem, p. 40.
98 Rev. de Psicologia, 5 (2):pág. 95-104, Jul/Dez. 1987
Freqüência relativa com que determinadas áreas da Psicologia
são abordadas nas pesquisas relatadas na SBPC em 1983 e 19848:
Área G2- Psicol. Geral
1983 1984 Total
G2-1- Psioobiolog. G2-2-An.Comport. Total
1983 1984 Total 1983 1984 Total Geral
Fund. Med.
Proc. Bás.
P. Fisiol.
P. Comparo
P. Social
P. Desenv.
P. Cogn.
P. Ensino
P. Desenvolv.
P. Cogn.
P. Ensino
P. Clínica
P. Trab.
NSA
5,3 6,5 5,9 15,8 21,1 18,9 15,0
21,1 2,2 10,7 18,1 14,0 17,9 10,4
50,0 41,3 45,2 9,6
7,9 41,3 26,2 2,6 1,1 5,8
27,6 15,9 23,1 2,6 1,2 10,5 22,8 15,8 15,2
25,4 14,6 21,3 28,9 28,1 28,1 18,5
5,2 4,9 5,1 7,9 3,1 3,5
8,9 6,1 7,9 13,1 7,0 9,5 6,7
25,4 14,6 21,3 28,9 28,1 28,4 18,5
5,2 4,9 5,1 7,9 3,1 9,5
8,9 6,1 7,9 13,1 7,0 9,5 6,7
13,4 18,3 15,3 10,5 6,5 8,3 2,6 7,0 5,3 11,3
3,0 1,9 1,0
0,7 11,0 4,6 2,6 2,2 2,4 3,0
11,2 25,6 16,7
4,5 3,7 4,2
Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0
Existe um fenômeno paralelo à produção científica nesta área quando se
consideram os trabalhos no contexto organizacional. Os profissionais da área se es-
forçam em criar instrumentos, manuais, adaptar os já existentes, pesquisar e escre-
ver sobre novas formas de intervenção organizacional, teorizar sobre fenômenos
organizacionais etc., sendo que esta produção muitas vezes foge aos padrões
científicos estabelecidos ou é inacabada quanto a estes critérios científicos tradicio-
nais, tendo em vista os objetivos limitados às fronteiras da organização, omitindo
por vezes uma produção que poderia contribuir para o avanço ou novas descobertas
neste campo do conhecimento.
A nível dos cursos de graduação, naqueles cursos onde existe a disciplina
de "Monografia", esta produção não-cadastrada, exceto quando transcende os limi-
tes do próprio curso e passam a compor anais de reuniões científicas, nos impede de
calcular a quantidade e qualidade destes trabalhos. No caso específico do Curso de
Psicologia da UFC, identificamos uma afluência mínima de trabalhos que versem
sobre temas de psicologia organizacional. No ano de 1989, das 52 monografias
aprovadas, duas foram formalmente registradas e apresentadas na SBPC, ambas na
área clínica e apenas 03 estavam diretamente voltadas para a área em questão.
A "Revista de Psicologia" da Universidade Federal do Ceará, nos seus seis
anos de existência, tem três artigos que podem ser considerados corno pertinentes ao
nosso tema, sendo que dois destes artigos já foram publicados e um terceiro está no
prelo.
Somem-se a estes fatores a existência de poucos cursos de pós-graduação
que tenham explícito o seu direcionamento para a psicologia organizacional em es-
pecífico, ainda o fato de que no mercado de trabalho onde estes profissionais se en-
contram inseridos a correlação entre sucesso profissional e produção científica é
duvidosa; o pragmatismo e o teor eminentemente técnico do seu,desempenho pro-
fissional desestimulam ou distanciam-no deste tipo de produção. E estabelecida uma
contradição entre a demanda organizacional contra a entropia e a exigência da per-
formance do psícõlogo.
(8) MATOS, Maria A. "Produção e Formação Científica em Psicologia", In: Quem 60 Psic6lo-
go Braileiro? CFP,Edicon, SP, 1988, p. 113.
Rev. de Psicologia, 5 (2): pág. 95-104, Jul/Dez. 1987 99
3 - As quatro fases da psicologia organizacional no Brasil?
A descaracterização da psicologia organizacional se intensifica a partir do
"clinicismo" que permeia a formação e os currículos de psicologia nas universidades
brasileiras 1O.
Para compreender esta afirmação, é necessário que se leve em conta a in-
serção deste psicólogo a ser formado num mercado de trabalho e, do ponto de vista
"sistêmico", numa sociedade que pressupõe valorações gradativas e status diferen-
ciados às diferentes áreas de atuação profissional. Tampouco podemos negligenciar
questões de ordem político-econômicas no desenvolvimento da sociedade brasileira,
que acompanham e de certa forma determinam a estrutura e o conteúdo dos currí-
culos acadêmicos. A grosso modo, podem-se detectar estas diferenças ainda hoje
quando se faz uma comparação dos diferentes currículos e suas filosofias subjacen-
tes entre as diferentes universidades. Some-se a este fato o escasso avanço da pro-
dução científica específica, especialmente quando se compara com as demais áreas
da psicologia.
Como vimos anteriormente, a psicologia industrial/organizacional iniciou a
sua participação nos currículos dos cursos de graduação com o estudo e desenvol-
vimento de atividades na área psicométrica, o que é constatável, por exemplo, nos
cursos de psicologia da USP, UFRJ e UFPell. Podemos observar que a formação
do psicólogo foi precedida pela prática profissional que desta forma influenciava
sobremodo os futuros currículos.
Bastos (1988) questiona o modelo de atuação do psicólogo em função do
contexto histórico-social em que a profissão surgiu e se desenvolveu, relacionando
ainda este modelo à própria origem social destes profissionais. Este modelo de
atuação é reproduzido pelas instituições de ensino, o que significa um reforço na
manutenção desta praxis. Isto resulta numa prática questionável quanto a sua ade-
quação à realidade social ou às possibilidades de contribuir na superação dos cruciais
problemas do homem brasileiro.
A promoção de urna identidade básica dos profissionais é intenção dos
cursos de formação. Bastos (1988) concorda com a existência desta identidade e
mostra a dificuldade para o estabelecimento de critérios que sejam divisores das di-
ferentes áreas de atuação.
Neste "gerneralisrno" da graduação, é possível defmir a nível formal,
através de grupos de disciplinas e estágios, o encaminhamento do profissional para
diferentes áreas de estudo e de atuação. Podemos observar a nível da UFC, tomando
como exemplo o curso de graduação em psicologia, certas tendências na formação
do psicólogo organizacional, mais especificamente no que diz respeito à prática do
estágio, em semelhança ao caminho seguido pela própria psicologia organizacional
no Brasil.
Transcrevemos a seguir os "divisores da psicologia organizacional" no
Brasil conforme a concepção de Pierre Weil (1974), traçando um paralelo entre o
(9) Baseado no trabalho apresentado com a Prol! Maria de Fátima de Sena e Silva no Encontro
Nacional de Administradores e Psicólogos em Salvador, Bahia, em 1987.
(10) BATITUCCI, Márcio D. "Psicologia Organizacional: Urna Saída para uma Profissão em
Crise no Brasil", em Arq_iws Brasileir08 de Psicologia Aplic •••• Rio de Janeiro
30(1-2): 137-156, jan.-jun. 1978. '
(11) USP: Universidade de São Paulo; UFRJ: Universidade Federal do Rio de Janeiro: UFPe·
Universidade Federal de Pernarnbuco. ' .
100 . Rev. de Psicologia, 5 (2): pág. 95-104, Jul/Dez, 1987
desenvolvimento geral da psicologia organizacional no Brasil e a experiência da
UFC:
I - Fase preliminar: as bases científicas e universitárias
A Psicologia Experimental penetra nos domínios da Filosofi~, E?ucação e
Psiquiatria, sendo ensinada nas universidades, sobretudo quanto à aplicaçao de tes-
tes psicológicos na educação e na clínica. ... . . .
Nesta fase, as primeiras gerações de fut~ros pSlc~l~gos m~ustnaIs a~q~;
ram os fundamentos científicos, mas sob um pnsma de diagnóstlc? prescntí".el ,
com predominância da psicometria. Isto e.xplica a Psicologia In~ustrial e Orgaruza-
ciona! ter começado por urna fase predommantemente psicométrica.
11e 111- Fase psicotécnica e fase educacional
do treinamento nas organizações
Fase bastante técnica, objetivando a aplicação da psicologia expe~ntal
no âmbito do trabalho, predominando trabalhos de seleção profissional, VISandoa
adaptar o homem ao trabalho, segundo conc_eitostayloristas. . . _
Tendo sido constatado que a seleçao com os recursos psícotécnícos nao era
suficiente para a alocação adequada e rendimento .do empre~a~o, outros fatores fo-
ram detectados dentro da organização que podenam contnbwr para este trabalho.
Houve desta forma urna expansão do papel do psicólog? n;s~e setor. Pod~mo~ con-
siderar aqui um rudimento do que seja uma abordagem SlS.tenucada orgamzaçao.
Esta terceira fase continua, contudo, caractenzando uma expansao d~s
métodos anteriores; novas técnicas serão aplicadas em outros setores da orgam-
zação. .. balh d
Podemos traçar um paralelo entre estas fases e o iníCl(:~
do tr~ o e su-
pervisão de estágio em psicologia orgcu:m~cional~o curso de I?sl~logIa da U~C .no
ano de 1977, quando a preocupação principal sena a de capaclt~çao dos ~sta!?ários
para transferir técnicas para o contexto das ~mp~as. ~ própna denomm~çao d~
disciplinas básicas e de apoio ao fu~ro estágio: P~colo~ do Trabalho e PSlcolo~
da Indústria, juntamente com a bibliografia sugenda, dao margem a esta concepçao
do trabalho desenvolvido neste período.
A área de psicologia organizacional ganha ainda nes~ mesma é~ca ';1m
impulso "politizador" no que tange à concepção do papel do psicólogo O~g~clO-
nal. Desenvolvem-se então pré-concepções do que se dev: e ;;e pode .atm~ com o
trabalho desenvolvido nesta área O caráter ideológico atribuído à Psicologia c~mo
reforçadora das relações de exploração .no ~terior ~ empresa e.seu C?mprOlmSso
com a manutenção do status quo organizacional, aliados a ~ distanc~ament~ ~
técnicas até então desenvolvidas e aplicadas, ferramentas consideradas imprescindí-
veis para a atuação na época, acentuaram as dificuldades na c~n~iliação entre poten-
cialidades do mercado de trabalho e ideologia dos novos estagiários.
IV - Fase psicossociol6gica:
Problemas da fase anterior que foram sendo sentidos no Brasil, EUA e
Europa:
a) eficientes métodos de recru~ent.?, sel~ã~ e trein~n~ ~? inefi-
cientes se não houver na orgamzaçao um clima organIzaC~ona! .resul-
tante de uma "cultura organizacional", favorecendo e apoiando as mu-
danças propostas; _
b) o treinador pode funcionar como agente de evoluçao (ou mesmo de re-
Rev. de Psicologia, 5 (2): pág. 95-104, Jul/Dez. 1987 101
volução), mas também como agente catalisador e de estagnação;
c) o homem de recrutamento, seleção e treinamento deve ser na realidade
um agente de mudanças, de evolução;
d) é necessário que o psicólogo industrial se conscientize deste seu papel;
e) o problema é saber como fazer evoluir o homem e a organização ao
mesmo tempo.
Trabalhos de psicossociõlogos organizacionais (McGregor, Argyris, Blake
e Mouton, nos EUA, e Max Pagês, na França) levaram às seguintes experiências:
1)todas as operações de uma organização são influenciadas pela cultura
organizacional;
2) os diferentes tipos de cultura organizacional (autoritária, paternalista,
diplomática, participante etc...) exigem diferentes maneiras de recrutar,
selecionar e treinar;
3) para que uma organização evolua, é necessário agir sobre a cultura or-
ganizacional;
4) s6 se consegue o item 3 acima por meio de estratégias de D.O. (Desen-
volvimento Organizacional), em que os próprios dirigentes se empe-
nham na mudança;
5) as operações de recrutamento, seleção e treinamento têm de adaptar-se
ao estilo cultural escolhido.
. Podemos destacar nesta 4! fase duas variantes que serão denominadas res-
pectlv~ente de Subfase de sensibilização e Subfase de D.O., com as seguintes ca-
ractenstícas:
Subfase de sensibilização (década de 60) - adoção de processos de T-
Group. Os métodos clássicos de discussão dos casos só mudam opiniões mas não
comportamentos efetivos. '
. " S~bfase de D.O. (década de 70) - reconhecimento de que os métodos de
sensibílização 'ta . .
. " necessi vam msenr-se numa estratégia de D.O. que envolvesse os
própnos dmgentes da organizações.
Passada a f~ d~ Administração de Recursos Humanos, o psicólogo for-
mado ?o ~urso de psícoíogíe da UFC deveria se preocupar com o Desenvolvimento
Orgamzaclon~; a_VlSao
macroscõpíca e sistêmica deveria nortear sua prática. Con-
ceber a.or~amzaçao COmoum sistema e interferir nesta organização a nível de D.O.
era a principal meta neste segundo período da UFC.
.Surgem neste momento certas incompatibilidades entre o mercado de tra-
b~o existente e as novas perspectivas de trabalho do novo estagiário. Preocu-
paçoes com ass.untoscomo ':m~tivação e satisfação no trabalho" poderiam ser gera-
doras de conflitos com as Idéias preconcebidas do psicólogo "psicometrista" por
parte das empresas.
Acompanhando estas mudanças, as disciplinas ganham nova denominação
econteüdo, passando a se chamar "psicologia organizacional". O estágio é enrique-
c~d? com n~vos recursos teóricos e metodológicos como, por exemplo, as super-
vtsoesgrupaISe seminários integrados .
. , _O último. período aqui considerado se caracteriza basicamente por uma
concilia~o dos dois períodos anteriores. A preocupação agora é resgatar o estudo
das ~écll1casde .tra~alho do psicólogo organizacional para integrá-Ias numa con-
ce~ao de organização que faltava à primeira fase que poderíamos, a partir de Pierre
We~ (1~74),denominar de "psicotécnica e fase educacional de treinamento nas or-
ganizações" .
102
Rev. de Psicologia, 5 (2): pág. 95-104, Jul/Dez. 1987
O Brasil tem um pólo industrial e empresarial que, seguindo as suas carac-
terísticas de país dos extremos, se localiza num continuum de artesanal ou pré-in-
dustrial (veja, por exemplo, as indústrias de redes, as fiações, as fábricas beneficia-
doras, as usinas etc.) até a informatização e robotização (veja, por exemplo, as
indústrias automobolísticas, os bancos, os pólos petroquúnicos, o desenvolvimento
de tecnologia de ponta etc.). Neste universo organizacional heterodoxo, podem a
qualquer nível permear as questões das relações de trabalho e a grosso modo a in-
terferência da psicologia organizacional. Não é nosso intuito neste momento qualifi-
car ou graduar a participação de diferentes conhecimentos na manutenção e desen-
volvimento organizacional. O que nos compete é abstrair deste universo multifa-
cetário aquele elemento componente desta organização que, sob uma "lupa", pode
ser analisado em suas funções ou conseqüências. No sentido inverso, isto é, vendo
da "sala de espera" ou do "galpão da produção", não é difícil acompanhar ao longo
da estrutura organizacional a impregnação de ações diferentes (aqui considerando
também políticas e filosofias subjacentes) na vida do trabalhador, nas relaçêos de
trabalho e no sistema organizacional.
As quatro fases aqui compreendidas que caracterizam a formação e a prá-
tica da psicologia organizacional no Brasil ainda servem de parâmetro para caracte-
rizar diversas possibilidades e modelos acadêmicos e de prática profissional. As uni-
versidades primam pela formação de profissionais que respaldem as necessidades do
mercado, ainda que paralelamente funcione como um dos poucos ambientes propí-
cios ao questionamento e revisão destes princípios e modelos de ação.
A demanda organizacional muitas vezes corrobora com a entropia do co-
nhecimento da psicologia organizacional, freando sua evolução ou transformação.
Limitando-se à execução e inserção de "tecnologia psicológica" no âmbito da orga-
nização, a psicologia funcionaria de "cara-metade" da engenharia industrial .
"A fábrica, como se vê, prescinde da intervenção do psicólogo na escolha
de seus funcionários e na manutenção de um bom andamento da produção. Isto é
possível devido a dois mecanismos básicos: primeiro, através da intervenção da En-
genharia Industrial, que se dedica ao estudo pormenorizado do trabalho, visando à
maximização dos lucros por meio da simplificação ad extremum da atividade do
operário, o que não só agiliza, pela divisão do trabalho na linha de montagem, a con-
secução do produto [mal, como também, e não menos importante, torna o operário
facihnente substituível (eis aqui o verdadeiro agente de controle do comportamento
dentro da fábrica); e, segundo, por um exército industrial de reserva farto e acoto-
velado às portas da fábrica à espera de demissões que possibilitem ao trabalhador o
acesso cada vez mais raro ao emprego." (CODO, 1989, p. 199)
A hipótese de que é possível fazer evoluir o homem e a organização con-
comitantemente é muitas vezes inviabilizada por fatores que também se originam na
própria ação empresarial. A ação do psicólogo organizacional será incorporada à es-
trutura e sentida no sistema organizacional somente se localizada no nível do "fazer
política", no estabelecimento da conduta organizacional. Katz e Kahn (1987) consi-
deram esta a "expressão mais significativa de liderança" e afirma que "o estabele-
cimento de política fica no âmbito da tomada de decisão. Esta perspectiva de ação
do psicólogo organizacionaljá ganha mais espaço na sociedade organizacional brasi-
leira e encontra correspondência no âmbito da formação acadêmica de certas uni-
versidades, como seria o caso da "quarta fase" por nós presentemente perseguida no
curso de psicologia da UFC.
Rev. de Psicologia, 5 (2): pág, 95-104, Jul/Dez. 1987 103
Bibliografia
BASTOS, Antônio V. B. "Áreas de Atuação- Em Questão o Nosso Modelo de Profissional", em
Quem ê o Psic6logo Brasileiro? C.F.P. Edicon, São Paulo, 1988.
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no Brasil", em Arquivos Brasileiros de Psicologia Aplicada, Rio de Janeiro,
30(1-2):137-l56,jan.-jun.1978.
CODO, Wanderley. "O Papel do Psicólogo Industrial (Notas sobre o 'lobo-mau' em psicolo-
gia)", em Psicologia Social- O Homem em Movimento. Editora Brasiliense, São
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CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Quem ~ o Psic6logo Brasileiro? Edicon, São
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KATZ, Daniel, & KAHN, Robert L. Psicologia Social das Organizações. Atlas, São Paulo,
1987.
MATOS, Maria A. "Produção e Formação Científica em Psicologia", em Quem ~ o Psic61ogo
Brasileiro? C.F.P., Edicon, São Paulo, 1988.
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WEIL, Pierre. "Evolução da Psicologia Industrial e Organizacional no Brasil, em Arquivos
Brasileiros de Psicologia Aplicada. Rio de Janeiro, vol. 24, set. 1972.
104 Rev. de Psicologia, 5 (2): pág. 95-104, Jul/Dez. 1987

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A psicologia organizacional no brasil sua evolucao e situacao atual

  • 1. A PSICOLOGIA ORGANIZACIONAL NO BRASIL: Sua Evolução e Situação Atual ANTÔNIO CAUBI RIBEIRO TUPINAMBÁ* RESUMO A trajetória da psicologia organizacional pode ser traçada a par- tirt da própria evolução da psicologia como ciência e profissão no Bra- sil. Neste trabalho nós temos por objetivo compreender a situação desta área da psicologia no âmbito das universidades e do mercado de trabalho, caracterizando e criticando os modelos de formação e de atuação do psicólogo organizacional no Brasil, sugerindo paralelamente possibilidades de sair de um impasse ideológico que apronta a formação e a atuação destes profissionais. Para a efetivação deste projeto, consideramos, além da nossa ex- periência como professor e supervisor de estágio nesta área do Curso de Psicologia da Universidade Federal do Ceará, as idéias dos diversos au- tores que formam o livro publicado pelo Conselho Federal de Psicologia em 1988, que, de acordo com seu r.refácio, pode ser considerado "um marco na história da psicologia braslleira"**. A partir da demarcação e caracterização do papel do psicólogo brasileiro em diferentes fases, avaliamos esta prática no curso de psico- logia da UFC*** e sugerimos novas perspectivas de ação, quer seja a ní- vel acadêmico ou profissional. ABSTRACT . The history and present situation of organizational psychology in Brazil can be understood from lhe point of view of lhe development of psychology as seience and profession. .. The purpose of Ihis articIe is to deseribe the situation of this spe- CI~I~~~Id <;>f psychol?gy in the University and job market, showing and cntícízing 115 academic pattems and application. The retlexion .about po~sible altematives to lhe ideologicaI pro- ~Iems of this acadenuc formation and application is also part of this ar- IIcIe. Two main sources were considered for lhe realization of this project: our o~ e~perience with this branch ofknowledge as professor at Fede~l. University o~ C~ará an~ !he ideas of lhe book published by lhe Brazlll~n Psychologísts .Council IO lhe year 1988. We recognize as a fact the opmion of ItS publishers, who considered it a milestone in lhe history of psychology in Brazil. The acad~mic psychological formation at the Federal University of Ceará ISdescnbed based upon lhe division of different developmental (*) Professor Assistente do Departamento de Psicologia da UFC (U) Conselho Federal de Psicologia, Quem éo PsW6Iogo BI3IIÜciro? Edicon, São Paulo, 1988. (***) Universidade Federal do Ceará Rev. de Psicologia, 5 (2): pág. 95-104, Jul/Dez. 1987 95
  • 2. periods in which we can insert the development of psychology in Brazil Itself. I h Suggestions for new possible actions related to the formation of t .e psychologísr as well as new perspectives for the application of orga- mzanonal psychology out of the University are also presented. l-Introdução Existem diferentes definições do q '. Os "Psychological Abstracts" id uep~ossa s.erpsicologia organizacional. - consi eram a sicologia do Trabalho e da Or ani- zaçao como aquel.aárea 9ue engloba as seguintes atividades: g L Análise Institucional 2. Recrutamento e Sel~ão de Pessoal 3. Treinamento e avaliação, ' 4. Fatores Humanos no Trabalho e 5'. Planejamento Ambiental e Comportamento Humano. P , Iniciando CO~1O ~m apêndice de ciências e profissões já estabelecidas no ais, como a ~edagogI~, Filosofia e Medicina ou mesmo como disciplina curricular ~~stas ffrmaçoes, a psicologia manteve este status complementar até a vigência da er regu amentad?ra da pr?fissão em 1962. Já nesse ano 15 profissionais se cadas- t~a~am no MEC comoy.sIcól.ogos, chegando a 11 343 em 1974 este número. Vale ain a ressal.tar que.? Ministério da Guerra criava um curso de psicologia em meio a outras mO':lffient~çoes para ~ fo~ação em instituições civis de profissionais desta área. A PSIcologia Aplicada J~ vinha sendo exercida na década de 50 na forma de trabalhos de consult.onos,. gabinetes, serviços, institutos e centros destinados a di- versos c~pos da p~IcologIa.~c~nteceu no período imediatamente posterior à regu- lame~taçao profissional a cnaçao de um curso de Psicologia Industrial (1963) na PUC , sendo que foi no ISOp3 onde a psicologia organizacional teve uma forte presença nos seus curs~,.especialmente no campo da psicotécnica. O decreto de 27 de agosto de 19~2.perrruna, além do cadastro de profissionais que exerciam ativida- des nas áreas Clínica e Escolar, também aqueles que exercessem a psicoloai" "Apli- cada ao Trabalho". ..~ . . Para q~e se entenda a situação da psicologia organizacional na realidade brasil7lfa d.e hOJ~,necessário se faz acompanhar de forma sumária a evolução da própna psicología brasileira, ~etirando oportunamente desta trajetória aqueles fenornenos qu~ apontam o surgunento e ? desenvolvimento de uma área específica que ora denommamos de psicologia organizacionaj+, (1) Ministério de Educação e Cultura (2) Pontiffcia Universidade Católica (3) Instituto ~e Seleç.ão e Orientação Profissional (4) McConruck & Tiffin (1977) ainda se utilizaram do termo "Psicologia Industrial" ara assuntos que ora podem p~~ncer a? c~po d~ es~do da psicologia organizacionfI. A ~: :un::i~;e: ~m~ rr:lOrlroxUnIdade histórica do início da aplicação de estudos de psiCOlogia no d ~. ra a o, o comportamento humano relacionado com a indústria "e à aplicação n~:~:nte~:~~t(~~fbtp~ ~)mportamento do homem para a solução dos problemas humanos V' ,,;;:mo~ o q~~ os::st~r~ fmpreendem como o surgimento da psicologia organizacional: ran ~ .c~ _e 40 e 1950 devotou-se muita atenção aos aspectos das relaç~ hu- manas na a mlIUs~ç_ao d~ pessoal, incluindo um interesse particular r inte ão ru I pr;:cessos ~e s~pervlsao e hde~ança, comunicação e satisfação no trabalho. Esta ~fas; m~~; so re as re açoes humanas na indüstria levou a uma maior atenção para com o treinamento em 96 Rev. de Psicologia, 5 (2): pág. 95-104, Jul/Dez. 1987 Apresentamos abaixo um quadro geral representativo da população de psicólogos inscritos por região em todo o Pais, apontando a grande concentração destes profissionais na região Sudeste, onde de fato a psicologia acadêmica teve o seu início e apresenta o seu maior contingente: "De modo bastante aproximado à distribuição dos cursos, registra-se a distribuição dos psicólogos pelas Unidades da Federação (...). Somos 58277 psicó- logos em atividade profissional. Cerca de 75% desse total são vinculados aos CRPs 04,05 e 065 e trabalham sobretudo em São Paulo (23336), Rio de Janeiro (11 396) e Minas Gerais (6 449). Juntos, esses Estados abrigam 44 181 dos 58 277 psicólogos trabalhando na profissão em todo o Pais."6 A Psicologia tem se caracterizado ao longo do tempo como uma profissão eminentemente "feminina": mais de 80% dos profissionais psicólogos são mulheres. A procura deste contingente feminino, são atribuídas as características intrínsecas da profissão dentre outros fatores: "Se a Psicologia, enquanto ciência, está voltada para o estudo do comportamento de homens e animais, o papel do psicólogo, en- quanto profissional, objetiva facilitar o desenvolvimento da pessoa e a realização plena de suas potencialidades, levando em conta a realidade, em cada caso presente. relações humanas do pessoal administrativo e de supervisão e, de um modo geral, para com programas de desenvolvimento gerencial. E mais, o interesse pelos aspectos sociais do traba- lho humano levou logicamente ao estabelecimento do que hoje é referido como psicologia or- ganizacional. Nesta nova disciplina, o enfoque principal é sobre a motivação humana, procu- rando-se compreender os efeitos da estrutura organizacional sobre a motivação, satisfação no trabalho e eficiência no trabalho. O desenvolvimento da psicologia organizacional acarretou um crescente interesse por estudos de liderança, filosofias de administração, políticas e estru- turas organizacionais, sistemas de incentivo e outros aspectos das organizações relacionados tanto com a satisfação humana como com a eficiência organizacional." (Vol, I, p. 6 e 7) Schein (1982) atribui, por sua vez, ao desenvolvimento de teorias e métodos que capacitaram os psicólogos a melhor compreender e agir sobre a organização, o aumento do interesse pela psicologia organizacional. Limita o nome de psicologia industrial àquela fase de ação do psicólogo sobre as questões voltadas para a área de seleção e avaliação do trabalhador, passan- do a ocupar novos espaços à medida em que entravam em contato com os problemas organiza- cionais, integrando equipes de trabalho com novos propósitos, como, por exemplo, as pesqui- sas de "tempos e movimentos" junto aos engenheiros, a padronização do trabalho através das análises das tarefas, estudos do ambiente físico e sua relação com quantidade e qualidade do trabalho etc., evoluindo para estudos sobre sistemas de recompensa e punição nas organi- zações e seus efeitos motivacionais e condicionadores da aprendizagem; estudos sobre o rela- cionamento entre os funcionários entre si e com seus chefes e as conseqüências na produtivi- dade e no moral. "Foi com o estudo da motivação dos funcionários, dos sistemas de incenti- vos, da política de pessoal e das relações intergrupais que a organização como um sistema total pela primeira vez passou a ser melhor compreendida." (p. 5) Para o autor, os conceitos e teo- rias adicionais são o que no presente molda a psicologia organizacional, aqueles que derivam de teorias da dinâmica dos sistemas e das teorias desenvolvi mentais. Neste caso, os estudos da psicologia industrial como compreendidos por McCormick e Tiffin (1977) estão contidos ou fazem parte de um período no curso da evolução da psicologia organizacional definida por Schein. Apesar de que Schein (1982) nos ofereça uma visão mais complexa do que vem a ser a psico- logia organizacional atualmente, consideramos útil para as nossas reflexões neste momento levar em conta todos os aspectos desta área da psicologia que possam ser pertinentes à compre- ensão do nosso tema. Desta forma, dependendo do contexto ou do momento histórico a que reportamos nossa análise, poderemos nos referir à psicologia industrial ou do trabalho corno sinônimos, inclufdas na psicologia organizacional ou como parte de um período do seu desen- volvimento. (5) Conselhos Regionais de Psicologia (6) ROSAS, Paulo, et alii. "Quantos e Quem Somos?", ln: Conselho Federal de Psicologia, Quem 60 Psicólogo Brasileiro?, Edicon, 1988, São Paulo, p. 39. Rev. de Psicologia, 5 (2): pág. 95-104, Jul/Dez. 1987 97
  • 3. Assim, por se af~star do mO,d~lotecnolõgico, pelo caráter humanístico que predo- n:unaem sua ~rá~lca,,o exercicio da psicologia tem muito a ver com o papel expres- s~voque ,é a~~b~ldo,a_mulhe.r,.~m ?poslçao ao papel instrumental por sua vez rela- cionado as ciencias naO-SOCIalS e a tecnologia, reservado ao homem pelo establish- menr'I- Fatores de_ordem econômica são certamente contributivos para este esta- tuto. Aos homens. sao reservadas profissões que se coadunem com o exercício do poder e em especial com o domínio econômico advindos do exercício profissional além destes aspectos referentes ao "caráter" masculino. ' . Schein (I 982~ utiliza-se .de estudos que visam a delimitar as profissões e ~elaclOná-las com motivos pessoais da escolha profissional. O autor sugere que ao m~és de procurar encontrar "um conjunto único de motivos ou valores que deter- mm~ a escolha ~a profissão, talvez seja ~ais produtivo compreender que uma de- te~ada profissao pode atender a uma séne de necessidades e utilizar uma série de aptidões" (p. 67). E~ suma, o autor aponta p~a o fato de que nossa imagem ocupacional é uma parte Imp'?rtante de nossa auto-Imagem, talvez a mais importante. Urna com- plexa correlaçao de fatores individuais e sociais devem ser considerados para se compreender o fenômeno da escolha profissional. Não ~ difícil, a despeito desta complexidade de fatores deterrninantes da escolh~ profissíonal, fazer .uma possível correlação entre este pequeno contingente m~c~lino qu~ ~pta pela. psicologia e sua direção às áreas que parecem corresponder mais ~ des~n~oes mencionadas anteriormente sobre profissões masculinas. No caso ~ psicologia, Importante se faz investigar certos setores da área clínica e organiza- cional em contrapartida à área escolar como mantenedores destas expectativas. 2 - Produção científica em Psicologia . . Do ponto de vista hist6rico, a produção científica na área da psicologia or- garnzaclOn~ sofr.e uma d~fasagem semelhante, mas não proporcional às demais área~ da p~lcologIa no Bras~. Até me.adosde 1960, segundo Matos (1988), esta pro- duçao, e!a ISolada e ~sJX>rádlca,relacionando-se principalmente a relatos de ativida- des .c~cas e à. afençao de testes e escalas, s6 se solidificando a partir de 1980 com a cnaçao dos diferentes cursos de pós- graduação no Brasil. _ ':'-~rática pr~fissional, não tendo este respaldo da produção científica até en~ao se limita~a à aplicação ou re~tição de instrumentos e à viabilização de t~rias onund~ de países ~ desenvolvidos, onde muitas vezes resultava urna adaptação grosse~a deste matenal carente de um redimensionamento face às idiossincrasias culturais etc. . A .SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência), entidade que Visaa aglutínar os e~forços dos diversos centros produtores de ciência no País e que Fe servir de ~ermometro para a situação da ciência no Brasil, pode nos dar uma Idéia da evoluçao desta produção científica no âmbito da Psicologia 'nos anos mais r~entes. Observ~-se a produção científica por vezes insignificante ou mesmo ine- xistente, no que diz respeito à psicologia organizacional: (7) Ibidem, p. 40. 98 Rev. de Psicologia, 5 (2):pág. 95-104, Jul/Dez. 1987 Freqüência relativa com que determinadas áreas da Psicologia são abordadas nas pesquisas relatadas na SBPC em 1983 e 19848: Área G2- Psicol. Geral 1983 1984 Total G2-1- Psioobiolog. G2-2-An.Comport. Total 1983 1984 Total 1983 1984 Total Geral Fund. Med. Proc. Bás. P. Fisiol. P. Comparo P. Social P. Desenv. P. Cogn. P. Ensino P. Desenvolv. P. Cogn. P. Ensino P. Clínica P. Trab. NSA 5,3 6,5 5,9 15,8 21,1 18,9 15,0 21,1 2,2 10,7 18,1 14,0 17,9 10,4 50,0 41,3 45,2 9,6 7,9 41,3 26,2 2,6 1,1 5,8 27,6 15,9 23,1 2,6 1,2 10,5 22,8 15,8 15,2 25,4 14,6 21,3 28,9 28,1 28,1 18,5 5,2 4,9 5,1 7,9 3,1 3,5 8,9 6,1 7,9 13,1 7,0 9,5 6,7 25,4 14,6 21,3 28,9 28,1 28,4 18,5 5,2 4,9 5,1 7,9 3,1 9,5 8,9 6,1 7,9 13,1 7,0 9,5 6,7 13,4 18,3 15,3 10,5 6,5 8,3 2,6 7,0 5,3 11,3 3,0 1,9 1,0 0,7 11,0 4,6 2,6 2,2 2,4 3,0 11,2 25,6 16,7 4,5 3,7 4,2 Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 Existe um fenômeno paralelo à produção científica nesta área quando se consideram os trabalhos no contexto organizacional. Os profissionais da área se es- forçam em criar instrumentos, manuais, adaptar os já existentes, pesquisar e escre- ver sobre novas formas de intervenção organizacional, teorizar sobre fenômenos organizacionais etc., sendo que esta produção muitas vezes foge aos padrões científicos estabelecidos ou é inacabada quanto a estes critérios científicos tradicio- nais, tendo em vista os objetivos limitados às fronteiras da organização, omitindo por vezes uma produção que poderia contribuir para o avanço ou novas descobertas neste campo do conhecimento. A nível dos cursos de graduação, naqueles cursos onde existe a disciplina de "Monografia", esta produção não-cadastrada, exceto quando transcende os limi- tes do próprio curso e passam a compor anais de reuniões científicas, nos impede de calcular a quantidade e qualidade destes trabalhos. No caso específico do Curso de Psicologia da UFC, identificamos uma afluência mínima de trabalhos que versem sobre temas de psicologia organizacional. No ano de 1989, das 52 monografias aprovadas, duas foram formalmente registradas e apresentadas na SBPC, ambas na área clínica e apenas 03 estavam diretamente voltadas para a área em questão. A "Revista de Psicologia" da Universidade Federal do Ceará, nos seus seis anos de existência, tem três artigos que podem ser considerados corno pertinentes ao nosso tema, sendo que dois destes artigos já foram publicados e um terceiro está no prelo. Somem-se a estes fatores a existência de poucos cursos de pós-graduação que tenham explícito o seu direcionamento para a psicologia organizacional em es- pecífico, ainda o fato de que no mercado de trabalho onde estes profissionais se en- contram inseridos a correlação entre sucesso profissional e produção científica é duvidosa; o pragmatismo e o teor eminentemente técnico do seu,desempenho pro- fissional desestimulam ou distanciam-no deste tipo de produção. E estabelecida uma contradição entre a demanda organizacional contra a entropia e a exigência da per- formance do psícõlogo. (8) MATOS, Maria A. "Produção e Formação Científica em Psicologia", In: Quem 60 Psic6lo- go Braileiro? CFP,Edicon, SP, 1988, p. 113. Rev. de Psicologia, 5 (2): pág. 95-104, Jul/Dez. 1987 99
  • 4. 3 - As quatro fases da psicologia organizacional no Brasil? A descaracterização da psicologia organizacional se intensifica a partir do "clinicismo" que permeia a formação e os currículos de psicologia nas universidades brasileiras 1O. Para compreender esta afirmação, é necessário que se leve em conta a in- serção deste psicólogo a ser formado num mercado de trabalho e, do ponto de vista "sistêmico", numa sociedade que pressupõe valorações gradativas e status diferen- ciados às diferentes áreas de atuação profissional. Tampouco podemos negligenciar questões de ordem político-econômicas no desenvolvimento da sociedade brasileira, que acompanham e de certa forma determinam a estrutura e o conteúdo dos currí- culos acadêmicos. A grosso modo, podem-se detectar estas diferenças ainda hoje quando se faz uma comparação dos diferentes currículos e suas filosofias subjacen- tes entre as diferentes universidades. Some-se a este fato o escasso avanço da pro- dução científica específica, especialmente quando se compara com as demais áreas da psicologia. Como vimos anteriormente, a psicologia industrial/organizacional iniciou a sua participação nos currículos dos cursos de graduação com o estudo e desenvol- vimento de atividades na área psicométrica, o que é constatável, por exemplo, nos cursos de psicologia da USP, UFRJ e UFPell. Podemos observar que a formação do psicólogo foi precedida pela prática profissional que desta forma influenciava sobremodo os futuros currículos. Bastos (1988) questiona o modelo de atuação do psicólogo em função do contexto histórico-social em que a profissão surgiu e se desenvolveu, relacionando ainda este modelo à própria origem social destes profissionais. Este modelo de atuação é reproduzido pelas instituições de ensino, o que significa um reforço na manutenção desta praxis. Isto resulta numa prática questionável quanto a sua ade- quação à realidade social ou às possibilidades de contribuir na superação dos cruciais problemas do homem brasileiro. A promoção de urna identidade básica dos profissionais é intenção dos cursos de formação. Bastos (1988) concorda com a existência desta identidade e mostra a dificuldade para o estabelecimento de critérios que sejam divisores das di- ferentes áreas de atuação. Neste "gerneralisrno" da graduação, é possível defmir a nível formal, através de grupos de disciplinas e estágios, o encaminhamento do profissional para diferentes áreas de estudo e de atuação. Podemos observar a nível da UFC, tomando como exemplo o curso de graduação em psicologia, certas tendências na formação do psicólogo organizacional, mais especificamente no que diz respeito à prática do estágio, em semelhança ao caminho seguido pela própria psicologia organizacional no Brasil. Transcrevemos a seguir os "divisores da psicologia organizacional" no Brasil conforme a concepção de Pierre Weil (1974), traçando um paralelo entre o (9) Baseado no trabalho apresentado com a Prol! Maria de Fátima de Sena e Silva no Encontro Nacional de Administradores e Psicólogos em Salvador, Bahia, em 1987. (10) BATITUCCI, Márcio D. "Psicologia Organizacional: Urna Saída para uma Profissão em Crise no Brasil", em Arq_iws Brasileir08 de Psicologia Aplic •••• Rio de Janeiro 30(1-2): 137-156, jan.-jun. 1978. ' (11) USP: Universidade de São Paulo; UFRJ: Universidade Federal do Rio de Janeiro: UFPe· Universidade Federal de Pernarnbuco. ' . 100 . Rev. de Psicologia, 5 (2): pág. 95-104, Jul/Dez, 1987 desenvolvimento geral da psicologia organizacional no Brasil e a experiência da UFC: I - Fase preliminar: as bases científicas e universitárias A Psicologia Experimental penetra nos domínios da Filosofi~, E?ucação e Psiquiatria, sendo ensinada nas universidades, sobretudo quanto à aplicaçao de tes- tes psicológicos na educação e na clínica. ... . . . Nesta fase, as primeiras gerações de fut~ros pSlc~l~gos m~ustnaIs a~q~; ram os fundamentos científicos, mas sob um pnsma de diagnóstlc? prescntí".el , com predominância da psicometria. Isto e.xplica a Psicologia In~ustrial e Orgaruza- ciona! ter começado por urna fase predommantemente psicométrica. 11e 111- Fase psicotécnica e fase educacional do treinamento nas organizações Fase bastante técnica, objetivando a aplicação da psicologia expe~ntal no âmbito do trabalho, predominando trabalhos de seleção profissional, VISandoa adaptar o homem ao trabalho, segundo conc_eitostayloristas. . . _ Tendo sido constatado que a seleçao com os recursos psícotécnícos nao era suficiente para a alocação adequada e rendimento .do empre~a~o, outros fatores fo- ram detectados dentro da organização que podenam contnbwr para este trabalho. Houve desta forma urna expansão do papel do psicólog? n;s~e setor. Pod~mo~ con- siderar aqui um rudimento do que seja uma abordagem SlS.tenucada orgamzaçao. Esta terceira fase continua, contudo, caractenzando uma expansao d~s métodos anteriores; novas técnicas serão aplicadas em outros setores da orgam- zação. .. balh d Podemos traçar um paralelo entre estas fases e o iníCl(:~ do tr~ o e su- pervisão de estágio em psicologia orgcu:m~cional~o curso de I?sl~logIa da U~C .no ano de 1977, quando a preocupação principal sena a de capaclt~çao dos ~sta!?ários para transferir técnicas para o contexto das ~mp~as. ~ própna denomm~çao d~ disciplinas básicas e de apoio ao fu~ro estágio: P~colo~ do Trabalho e PSlcolo~ da Indústria, juntamente com a bibliografia sugenda, dao margem a esta concepçao do trabalho desenvolvido neste período. A área de psicologia organizacional ganha ainda nes~ mesma é~ca ';1m impulso "politizador" no que tange à concepção do papel do psicólogo O~g~clO- nal. Desenvolvem-se então pré-concepções do que se dev: e ;;e pode .atm~ com o trabalho desenvolvido nesta área O caráter ideológico atribuído à Psicologia c~mo reforçadora das relações de exploração .no ~terior ~ empresa e.seu C?mprOlmSso com a manutenção do status quo organizacional, aliados a ~ distanc~ament~ ~ técnicas até então desenvolvidas e aplicadas, ferramentas consideradas imprescindí- veis para a atuação na época, acentuaram as dificuldades na c~n~iliação entre poten- cialidades do mercado de trabalho e ideologia dos novos estagiários. IV - Fase psicossociol6gica: Problemas da fase anterior que foram sendo sentidos no Brasil, EUA e Europa: a) eficientes métodos de recru~ent.?, sel~ã~ e trein~n~ ~? inefi- cientes se não houver na orgamzaçao um clima organIzaC~ona! .resul- tante de uma "cultura organizacional", favorecendo e apoiando as mu- danças propostas; _ b) o treinador pode funcionar como agente de evoluçao (ou mesmo de re- Rev. de Psicologia, 5 (2): pág. 95-104, Jul/Dez. 1987 101
  • 5. volução), mas também como agente catalisador e de estagnação; c) o homem de recrutamento, seleção e treinamento deve ser na realidade um agente de mudanças, de evolução; d) é necessário que o psicólogo industrial se conscientize deste seu papel; e) o problema é saber como fazer evoluir o homem e a organização ao mesmo tempo. Trabalhos de psicossociõlogos organizacionais (McGregor, Argyris, Blake e Mouton, nos EUA, e Max Pagês, na França) levaram às seguintes experiências: 1)todas as operações de uma organização são influenciadas pela cultura organizacional; 2) os diferentes tipos de cultura organizacional (autoritária, paternalista, diplomática, participante etc...) exigem diferentes maneiras de recrutar, selecionar e treinar; 3) para que uma organização evolua, é necessário agir sobre a cultura or- ganizacional; 4) s6 se consegue o item 3 acima por meio de estratégias de D.O. (Desen- volvimento Organizacional), em que os próprios dirigentes se empe- nham na mudança; 5) as operações de recrutamento, seleção e treinamento têm de adaptar-se ao estilo cultural escolhido. . Podemos destacar nesta 4! fase duas variantes que serão denominadas res- pectlv~ente de Subfase de sensibilização e Subfase de D.O., com as seguintes ca- ractenstícas: Subfase de sensibilização (década de 60) - adoção de processos de T- Group. Os métodos clássicos de discussão dos casos só mudam opiniões mas não comportamentos efetivos. ' . " S~bfase de D.O. (década de 70) - reconhecimento de que os métodos de sensibílização 'ta . . . " necessi vam msenr-se numa estratégia de D.O. que envolvesse os própnos dmgentes da organizações. Passada a f~ d~ Administração de Recursos Humanos, o psicólogo for- mado ?o ~urso de psícoíogíe da UFC deveria se preocupar com o Desenvolvimento Orgamzaclon~; a_VlSao macroscõpíca e sistêmica deveria nortear sua prática. Con- ceber a.or~amzaçao COmoum sistema e interferir nesta organização a nível de D.O. era a principal meta neste segundo período da UFC. .Surgem neste momento certas incompatibilidades entre o mercado de tra- b~o existente e as novas perspectivas de trabalho do novo estagiário. Preocu- paçoes com ass.untoscomo ':m~tivação e satisfação no trabalho" poderiam ser gera- doras de conflitos com as Idéias preconcebidas do psicólogo "psicometrista" por parte das empresas. Acompanhando estas mudanças, as disciplinas ganham nova denominação econteüdo, passando a se chamar "psicologia organizacional". O estágio é enrique- c~d? com n~vos recursos teóricos e metodológicos como, por exemplo, as super- vtsoesgrupaISe seminários integrados . . , _O último. período aqui considerado se caracteriza basicamente por uma concilia~o dos dois períodos anteriores. A preocupação agora é resgatar o estudo das ~écll1casde .tra~alho do psicólogo organizacional para integrá-Ias numa con- ce~ao de organização que faltava à primeira fase que poderíamos, a partir de Pierre We~ (1~74),denominar de "psicotécnica e fase educacional de treinamento nas or- ganizações" . 102 Rev. de Psicologia, 5 (2): pág. 95-104, Jul/Dez. 1987 O Brasil tem um pólo industrial e empresarial que, seguindo as suas carac- terísticas de país dos extremos, se localiza num continuum de artesanal ou pré-in- dustrial (veja, por exemplo, as indústrias de redes, as fiações, as fábricas beneficia- doras, as usinas etc.) até a informatização e robotização (veja, por exemplo, as indústrias automobolísticas, os bancos, os pólos petroquúnicos, o desenvolvimento de tecnologia de ponta etc.). Neste universo organizacional heterodoxo, podem a qualquer nível permear as questões das relações de trabalho e a grosso modo a in- terferência da psicologia organizacional. Não é nosso intuito neste momento qualifi- car ou graduar a participação de diferentes conhecimentos na manutenção e desen- volvimento organizacional. O que nos compete é abstrair deste universo multifa- cetário aquele elemento componente desta organização que, sob uma "lupa", pode ser analisado em suas funções ou conseqüências. No sentido inverso, isto é, vendo da "sala de espera" ou do "galpão da produção", não é difícil acompanhar ao longo da estrutura organizacional a impregnação de ações diferentes (aqui considerando também políticas e filosofias subjacentes) na vida do trabalhador, nas relaçêos de trabalho e no sistema organizacional. As quatro fases aqui compreendidas que caracterizam a formação e a prá- tica da psicologia organizacional no Brasil ainda servem de parâmetro para caracte- rizar diversas possibilidades e modelos acadêmicos e de prática profissional. As uni- versidades primam pela formação de profissionais que respaldem as necessidades do mercado, ainda que paralelamente funcione como um dos poucos ambientes propí- cios ao questionamento e revisão destes princípios e modelos de ação. A demanda organizacional muitas vezes corrobora com a entropia do co- nhecimento da psicologia organizacional, freando sua evolução ou transformação. Limitando-se à execução e inserção de "tecnologia psicológica" no âmbito da orga- nização, a psicologia funcionaria de "cara-metade" da engenharia industrial . "A fábrica, como se vê, prescinde da intervenção do psicólogo na escolha de seus funcionários e na manutenção de um bom andamento da produção. Isto é possível devido a dois mecanismos básicos: primeiro, através da intervenção da En- genharia Industrial, que se dedica ao estudo pormenorizado do trabalho, visando à maximização dos lucros por meio da simplificação ad extremum da atividade do operário, o que não só agiliza, pela divisão do trabalho na linha de montagem, a con- secução do produto [mal, como também, e não menos importante, torna o operário facihnente substituível (eis aqui o verdadeiro agente de controle do comportamento dentro da fábrica); e, segundo, por um exército industrial de reserva farto e acoto- velado às portas da fábrica à espera de demissões que possibilitem ao trabalhador o acesso cada vez mais raro ao emprego." (CODO, 1989, p. 199) A hipótese de que é possível fazer evoluir o homem e a organização con- comitantemente é muitas vezes inviabilizada por fatores que também se originam na própria ação empresarial. A ação do psicólogo organizacional será incorporada à es- trutura e sentida no sistema organizacional somente se localizada no nível do "fazer política", no estabelecimento da conduta organizacional. Katz e Kahn (1987) consi- deram esta a "expressão mais significativa de liderança" e afirma que "o estabele- cimento de política fica no âmbito da tomada de decisão. Esta perspectiva de ação do psicólogo organizacionaljá ganha mais espaço na sociedade organizacional brasi- leira e encontra correspondência no âmbito da formação acadêmica de certas uni- versidades, como seria o caso da "quarta fase" por nós presentemente perseguida no curso de psicologia da UFC. Rev. de Psicologia, 5 (2): pág, 95-104, Jul/Dez. 1987 103
  • 6. Bibliografia BASTOS, Antônio V. B. "Áreas de Atuação- Em Questão o Nosso Modelo de Profissional", em Quem ê o Psic6logo Brasileiro? C.F.P. Edicon, São Paulo, 1988. BATITUCCI, Márcio D. "Psicologia Organizacional: Uma Saída para uma Profissão em Crise no Brasil", em Arquivos Brasileiros de Psicologia Aplicada, Rio de Janeiro, 30(1-2):137-l56,jan.-jun.1978. CODO, Wanderley. "O Papel do Psicólogo Industrial (Notas sobre o 'lobo-mau' em psicolo- gia)", em Psicologia Social- O Homem em Movimento. Editora Brasiliense, São Paulo, 1989. CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Quem ~ o Psic6logo Brasileiro? Edicon, São Paulo, 1988. KATZ, Daniel, & KAHN, Robert L. Psicologia Social das Organizações. Atlas, São Paulo, 1987. MATOS, Maria A. "Produção e Formação Científica em Psicologia", em Quem ~ o Psic61ogo Brasileiro? C.F.P., Edicon, São Paulo, 1988. McCORMICK, Emest, & Joseph TIFFIN. Psicologia Indus trial. E.P.U. São Paulo, 1977. ROSAS, Paulo, et alii. "Quantos e Quem Somos", em Quem ~ o Psic6logo Brasileiro? C.F.P., Edicon, São Paulo, 1988. SCHEIN, Edgar H. Psicologia Organizacional. Prentice-Hall do Brasil. Rio de Janeiro, 1982. WEIL, Pierre. "Evolução da Psicologia Industrial e Organizacional no Brasil, em Arquivos Brasileiros de Psicologia Aplicada. Rio de Janeiro, vol. 24, set. 1972. 104 Rev. de Psicologia, 5 (2): pág. 95-104, Jul/Dez. 1987