O documento resume conceitos e obras do período barroco no Brasil, incluindo pinturas, esculturas e exemplos de literatura barroca de autores como Gregório de Matos e Padre Antonio Vieira. Ele também fornece contexto histórico sobre a economia escravocrata no Brasil colonial e características estilísticas do barroco como dualidade, contraste e uso de figuras de linguagem.
8. Senhor dos Martírios, 1960
Detalhes da pintura do Frei
Ricardo do Pilar no altar da
sacristia no Mosteiro de São
Bento – Rio de Janeiro
Pilar e moldura Alexandre
Machado Pereira
9. Coroa de Espinhos, cena da série Os passos da Paixão de
Cristo, 1796/1799. Escultura de Aleijadinho no santuário
Senhor Bom Jesus de Matosinho.
12. CONTEXTO HISTÓRICO
EUROPA:
Término das grandes Navegações
Reforma protestante/ Contra Reforma/ Inquisição
Brasil:
Economia escravocrata.
Instalação dos primeiros engenhos de açúcar.
Destaque para Bahia e Pernambuco
13. BARROCO
O vocábulo barroco designa
uma pedra de forma irregular. O
Barroco, enquanto escola
literária, começa no Brasil no
século XVII. Inicia-se com a
publicação
da Prosopopéia (1601), de
Bento Teixeira.
14. O ESTILO
O Barroco caracteriza-se pela fusão do velho
(Idade Média e o teocentrismo) com o novo (Idade
Moderna e o antropocentrismo). É uma estética
das oscilações, das dualidades, dos conflitos, dos
paradoxos.
15. ASSIM IDENTIFICAM-SE OPOSIÇÕES COMO:
Movimento marcado pela dúvida;
Arte repleta de contraste;
Jogo do claro-escuro ;
Luz e sombra;
Temática religiosa;
Misticismo e erotismo ;
Razão e fé;
Sensação de miséria da carne e bem-aventurança.
17. FIGURAS DE LINGUAGENS
ANTÍTESE:
Vista por fora é pouco apetecida,
porque aos olhos por feia é parecida;
porém dentro habitada
é muito bela, muito desejada,
é como a concha tosca e deslustrosa,
que dentro cria a pérola fermosa.
Manuel Botelho de Oliveira
18. PA
RADOXO
Vocabulário
florente:
brilhante
custódio:
aquele que guarda,
o anjo da guarda.
galharda: elega
nte, gentil
À mesma d. Ângela
Anjo no nome, Angélica na cara!
Isso é ser flor, e anjo juntamente:
Ser Angélica flor, e anjo florente,
Em quem senão em vós, se uniformara:
Quem vira uma tal flor, que não a cortara,
De verde pé, da rama florescente;
E quem um anjo vira tão luzente,
Que por seu Deus não a idolatrara?
Se pois como Anjo sois dos meus altares,
Fôreis o meu Custódio, e a minha guarda,
Livrara eu de diabólicos azares.
Mas vejo, que por bela, e por galharda,
Pois que os Anjos nunca dão pesares,
Sois Anjo que me tenta, e não me guarda.
Gregório de Matos
19. HIPÉRBATO
Ardor em firme coração nascido;
Pranto por belos olhos derramado;
Incêndio em mares de água disfarçado;
Rio de neve em fogo convertidos:
20. NA ORDEM DIRETA TEREMOS:
Ardor nascido em firme coração;
Pranto derramado por belos olhos;
Incêndio disfarçado em mares de água;
Rio de neve convertidos em fogo.
21. PROSOPÓPEIA
No diamante agradou-me o forte, no cedro o
incorruptível, na águia o sublime, no Leão o
generoso, no Sol o excesso de Luz.
Padre. Antonio Vieira
22. HIPÉRBOLE
É a vaidade, Fábio, nesta vida,
Rosa, que da manhã lisonjeada,
Púrpuras mil, com ambição dourada,
Airosa rompe, arrasta presumida.
É planta, que de abril favorecida,
Por mares de soberba desatada,
Florida galeota empavesada,
Sulca ufana, navega destemida.
É nau enfim, que em breve ligeireza,
Com presunção de Fênix generosa,
Galhardias apresta, alentos presa:
Mas ser planta, ser rosa, nau vistosa
De que importa, se aguarda sem defesa
Penha a nau, ferro a planta, tarde a rosa?
23. CULTISMO E CONCEPTISMO:
Cultismo ou gongorismo:
É o jogo de palavras, o emprego abusivo das
figuras de estilo como a metáfora e a hipérbole.
Corresponde ao excesso de detalhes das artes
plásticas.
24. Nasce o Sol, e não dura mais que um dia,
Depois da Luz se segue a noite escura,
Em tristes sombras morre a formosura,
Em contínuas tristezas a alegria.
Porém se acaba o Sol, por que nascia?
Se formosa a Luz é, por que não dura?
Como a beleza assim se transfigura?
Como o gosto da pena assim se fia?
Mas no Sol, e na Luz, falte a firmeza,
Na formosura não se dê constância,
E na alegria sinta-se tristeza.
Começa o mundo enfim pela ignorância,
E tem qualquer dos bens por natureza
A firmeza somente na inconstância.
25. CONCEPTISMO
Ocorre principalmente na prosa e corresponde ao
jogo de idéias visando convencer e ensinar. É
freqüente o uso de comparações explícitas,
analogias e até parábola.
26. G
REGÓRIO
DE
M
ATOS
Vocabulário
despido: despe
ço forma regular de
despedir-se.
delinqüir: pecar,
cometer delito.
sobejar: ser
mais que suficiene.
cobrada: recobr
ada, recuperada
A Jesus Cristo Nosso Senhor
Pequei, Senhor, mas não porque hei
pecado,
Da vossa alta clemência me despido;
Porque quanto mais tenho delinqüido,
Vos tenho a perdoar mais empenhado.
Se basta a vos irar tanto pecado,
A abrandar-vos sobeja um só gemido:
Que a mesma culpa que vos há
ofendido,
Vos tem para o perdão lisonjeado.
Se uma ovelha perdida e já cobrada
Glória tal e prazer tão repentino
Vos deu, como afirmais na sacra história,
Eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada,
Cobrai-a; e não queirais, pastor divino,
Perder na vossa ovelha a vossa glória.
27. G
REGÓRIO
DE
M
ATOS
Vocabulário:
Desatado:
desobrigado de;
isento, livre
Porfia: insistência,
perseverança,
tenacidade
Prudente:
cauteloso, sensato,
ajuizado
Tirania:domínio,
poder ou qualidade
de tirano
Aos afetos e lágrimas derramadas na
ausência da Dama a quem queria bem
Ardor em firme coração nascido;
Pranto por belos olhos derramado;
Incêndio em mares de água disfarçado;
Rio de neve em fogo convertidos:
Tu, que em um peito abrasas escondido;
Tu, que em um rosto corres desatado;
Quando fogo, em cristais aprisionado;
Quando. cristal, em chamas derretido:
Se és fogo, como passas brandamente?
Se és neve, como queimas com porfia?
Mas ai, que andou Amor em ti prudente!
Pois para temperar a tirania,
Como quis que aqui fosse a neve ardente,
Permitiu parecesse a chama fria.
28. G
REGÓRIO
DE
M
ATOS
O governador Câmara Coutinho, por
exemplo, foi assim retratado:
“Nariz de embono
com tal sacada,
que entra na escada
duas horas primeiro
que seu dono.”
29. GREGÓRIO DE MATOS
Que falta nesta cidade?...............................Verdade
Que mais por sua desonra?.........................Honra
Falta mais que se lhe ponha?......................Vergonha.
O demo a viver se exponha,
Por mais que a fama a exalta,
Numa cidade, onde falta
Verdade, Honra, Vergonha.
...................................................................................
Que vai pela clerezia?................................... Simonia
E pelos membros da igreja?.......................... Inveja
Cuidei, que mais se lhe punha ..................... Unha.
Sanzonada caramunha!
Enfim que na Santa Sé
O que se pratica é
Simonia, Inveja, Unha.
30. G
REGÓRIO
DE
M
ATOS
:
A
OS
V
ÍCIOS
Eu sou aquele, que os passados anos
cantei na minha lira maldizente
torpezas do Brasil, vícios e enganos
(...)
De que pode servir, calar, quem cala,
Nunca se há de falar, o que se sente?
Sempre se há de sentir, o que se fala?
Qual homem pode haver tão paciente,
Que vendo o triste estado da Bahia,
Não chore, não suspire, e não lamente?
(...)
Se souberas falar, também falaras,
Também satirizaras, se souberas,
E se foras Poeta, poetizaras.
31. G
REGÓRIO
DE
M
ATOS
:
A
OS
V
ÍCIOS
A ignorância dos homens destas eras
Sisudos faz ser uns, outros
prudentes,
Que a mudez canoniza bestas
feras.
Há bons, por não poder ser
insolente,
Outros há comedidos de
medrosos,
Não mordem outros não, por não
ter dentes.
Quantos há que os telhados têm
vidrosos,
32. Vocabulário
canonizar:
considerar santo,
incluir no rol dos
santos;
quem maior a
tiver: quem tiver
virtude maior;
chitom: silêncio
(do francês “chut
donc”)
E deixam de atirar sua pedrada
De sua mesma telha receosos.
Uma só natureza nos foi dada:
Não criou Deus os naturais diversos,
Um só Adão formou, e esse de nada.
Todos somos ruins, todos perversos,
Só nos distingue o vício, e a virtude,
De que uns são comensais outros
adversos.
Quem maior a tiver, do que eu ter
pude,
Esse só me censure, esse me note,
calem-se os mais, chitom, e haja
saúde.
33. PADRE ANTONIO VIEIRA
SERMÃO DA SEXAGÉSIMA
Quando Cristo mandou pregar os Apóstolos pelo Mundo,
disse-lhes desta maneira: Ide, e pregai a toda a criatura.
Como assim, Senhor?! Os animais não são criaturas?! As
árvores não são criaturas?! As pedras não são criaturas?!
Pois hão os Apóstolos de pregar às pedras?! Hão-de pregar
aos troncos?! Hão-de pregar aos animais?! Sim, diz S.
Gregório, depois de Santo Agostinho. Porque como os
Apóstolos iam pregar a todas as nações do Mundo, muitas
delas bárbaras e incultas, haviam de achar os homens
degenerados em todas as espécies de criaturas: haviam de
achar homens homens, haviam de achar homens brutos,
haviam de achar homens troncos, haviam de achar homens
pedras. E quando os pregadores evangélicos vão pregar a
toda a criatura, que se armem contra eles todas as criaturas?!
Grande desgraça!
34. (...)Fazer pouco fruto a palavra de Deus no Mundo, pode proceder de
um de três princípios: ou da parte do pregador, ou da parte do ouvinte,
ou da parte de Deus. Para uma alma se converter por meio de um
sermão, há-de haver três concursos: há-de concorrer o pregador com a
doutrina, persuadindo; há-de concorrer o ouvinte com o entendimento,
percebendo; há-de concorrer Deus com a graça, alumiando. Para um
homem se ver a si mesmo, são necessárias três coisas: olhos, espelho
e luz. Se tem espelho e é cego, não se pode ver por falta de olhos; se
tem espelho e olhos, e é de noite, não se pode ver por falta de luz.
Logo, há mister luz, há mister espelho e há mister olhos. Que coisa é a
conversão de uma alma, senão entrar um homem dentro em si e ver-se
a si mesmo? Para esta vista são necessários olhos, é necessária luz e é
necessário espelho. O pregador concorre com o espelho, que é a
doutrina; Deus concorre com a luz, que é a graça; o homem concorre
com os olhos, que é o conhecimento. Ora suposto que a conversão das
almas por meio da pregação depende destes três concursos: de Deus,
do pregador e do ouvinte, por qual deles devemos entender que falta?
Por parte do ouvinte, ou por parte do pregador, ou por parte de Deus?