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6/3/2016 À meia-noite levarei sua alma e seu cérebro — Medium
https://medium.com/@rpires76/%C3%A0-meia-noite-levarei-sua-alma-e-seu-c%C3%A9rebro-jornalistas-livres-2ec7bca0a5f#.ad286bvlj 1/6
À meia-noite levarei sua alma e seu cérebro
Por Alexandre Costa Lima e Rodrigo Pires, especial para os Jornalistas Livres
Décadas atrás, na época da ditadura, ainda não existiam tantos edifícios no
Recife, como hoje. Um bairro central e muito habitado, o da Boa Vista, por
exemplo, era uma área com muitas casas e qualquer pessoa que caminhasse
pelas calçadas daquelas ruas à noite inevitavelmente escutaria o plimplim da
Globo. Eram os aparelhos de TV, eletrodoméstico que se tornou essencial
para a classe média de 1970, todos ligados nas novelas e no Jornal Nacional.
Em casa, ver televisão, ou melhor, ver a Globo era a única opção para as
pessoas passarem o tempo. Ainda não existiam os filmes gravados em VHS e
muito menos DVDs, Blurays, etc. Internet, nem em sonho!
Hoje, você não ouve mais o plimplim por dois motivos: os televisores estão agora
situados bem acima do nível do solo, em apartamentos recuados da rua. É
impossível ouv́i-los. Em segundo lugar, a audiência da Globo sofreu uma queda
vertiginosa.
6/3/2016 À meia-noite levarei sua alma e seu cérebro — Medium
https://medium.com/@rpires76/%C3%A0-meia-noite-levarei-sua-alma-e-seu-c%C3%A9rebro-jornalistas-livres-2ec7bca0a5f#.ad286bvlj 2/6
Pouca gente no século XXI se dá ao trabalho de toda noite, naquele mesmo
horário, permanecer por horas seguidas diante da TV, assistindo a uma
novela produzida pela Vênus Platinada. Muito menos um adulto instruído ou
um jovem se dispõe a passar, ao menos, meia-hora de sua noite vendo as
notícias anunciadas por William Bonner.
Imagine que essas pessoas, horas antes, seja via blogs, facebook ou Skype, já
se inteiraram de tudo aquilo que vai ser dito por um repórter qualquer a
partir da perspectiva ditada pelo patrão. A essa hora, a notícia já é velha,
requentada e parcial. Perda de tempo buscar informação correta e
equilibrada através da televisão aberta.
6/3/2016 À meia-noite levarei sua alma e seu cérebro — Medium
https://medium.com/@rpires76/%C3%A0-meia-noite-levarei-sua-alma-e-seu-c%C3%A9rebro-jornalistas-livres-2ec7bca0a5f#.ad286bvlj 3/6
Décadas atrás, na época da ditadura, um final de novela da Globo chegava a
ter cem por cento das TV’s ligadas no Rio de Janeiro. Muita gente cancelava
compromissos para não perder o desfecho que uma trama que já se
arrastava por vários meses—sem contar que muita gente usava a
programação da emissora como relogio: “Depois da novela das 7, eu passo
na sua casa”, dizia-se.
Novelas como “Dancing Days” hipnotizavam as pessoas. Modas eram
lançadas através das novelas: meias não sei o que, cortes de cabelo não sei
como, gírias e expressões tomavam as ruas a partir das falas dos
personagens.
Ver o “Jornal Nacional” apresentado por Cid Moreira e Sergio Chapelin era
uma obrigação religiosa de muita gente. Os jornais impressos eram caros (no
Recife, um exemplar avulso da “Folha de S.Paulo” custava uma nota). Mas
para que ler jornal se Roberto Marinho já trazia a informação mastigada,
pronta para ser deglutida. Imagine você, o que as pessoas pensariam se
alguma noite, sem prévia explicação, o JN deixasse de ser exibido. Golpe de
Estado, terremoto, inundação. Seria uma comoção!
Hoje, em 2016, o JN vive um momento de enorme decadência, com uma
audiência ridícula, se comparada aos bons tempos. Ali, tudo é previsível!
Qualquer pessoa pode antecipar os lugares-comuns usados pelos repórteres
do JN e também descrever antecipadamente os ângulos da câmera ou as
perguntas nas entrevistas. Ninguém gosta de perder tempo com o previsível!
6/3/2016 À meia-noite levarei sua alma e seu cérebro — Medium
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Na verdade, o que mudou foi a forma de vida. Em poucas décadas, a
informação tornou-se um patrimônio público, uma expressão autêntica do
espaço democrático. Se antes, como assinala Pierre Levy, a televisão
encarnava uma totalidade na qual “um falava para todos”, caracterizando
uma via de mão única, uma experiência totalitária, digamos assim, as redes
sociais hoje fizeram da informação uma experiência ecológica, isto é, uma
experiência vivida por todos sem que haja o “um que dite a verdade”.
Tudo é parte da rede e dar um clique implica estar aberto a uma infinidade
de experiências. É o desdobrar do virtual que, em suas dobras potenciais,
esconde coisas insuspeitadas. Está tudo dobrado, à espera do
desdobramento. Basta clicar!
O LOGOTIPO COMO PROMESSA—O logotipo da Globo era um signo de
muito prestígio. Hans Donner pesquisava meses usando tecnologias de ponta
para inventar um logotipo prateado mesclado ao espectro de cores para
mostrar claramente que a Globo era um sonho tecnológico bem avançado.
O logotipo crescia ou encolhia ou virava ao avesso ao ritmo do plimplim. O
telespectador ficava boquiaberto com tanta “beleza” e continuava
sintonizado na Globo.
6/3/2016 À meia-noite levarei sua alma e seu cérebro — Medium
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Façamos uma pequena análise semiótica: o logotipo global evidentemente é
um signo. O signo é uma unidade elementar de significado (uma palavra,
um rosto, uma marca); ele é um mínimo de significação dotado de uma
certa autonomia que lhe permite combinar-se com outros signos.
O que o signo do Facebook promete? Na tela do seu computador, por
exemplo, ele é uma expressão mínima associada por uma convenção a uma
função e a uma ação igualmente mínimas (clicar para abrir). Abrir o quê.
Por trás do logo do Facebook, estão os seus amigos, a sua namorada, livros
para baixar, filmes de Hitchcock, roteiros de viagens, receitas de saladas etc.
Essa é uma operação que você comanda e que lhe permite movimentos livres
e autônomos por um campo livre de diálogo.
Sobre o logo da Globo, não é possível fazer clic. Ele só tem um sentido: de lá
para cá. É uma via de mão única. E qual é a promessa? Uma noite no museu.
Por trás do logo, não estão os seus amigos nem Hitchcock. Por trás do plimplim,
estão Bonner, Galvão Bueno, Faustão, Tony Ramos, Ronaldo Fenômeno, Ana
Maria Braga, Luciano Huck e Neymar. Essa lista é o inventário de um museu
dos zumbis.
Todos estes nomes são die hard, zumbis ideológicos que não assustam, mas
consomem o cérebro de quem ousa visitar suas dependências e repetir o seu
mantra: plimplim!
Vocês lembram do final de “Carrie, A Estranha”, lembram do susto do braço
puxado? Pois bem, para evitar que algum zumbi dessa lista puxe o seu
braço, caso ouça o “plimplim”, corra, mas corra muito mesmo e puxe o fio da
tomada. Todos desaparecerão.
. . .

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  • 2. 6/3/2016 À meia-noite levarei sua alma e seu cérebro — Medium https://medium.com/@rpires76/%C3%A0-meia-noite-levarei-sua-alma-e-seu-c%C3%A9rebro-jornalistas-livres-2ec7bca0a5f#.ad286bvlj 2/6 Pouca gente no século XXI se dá ao trabalho de toda noite, naquele mesmo horário, permanecer por horas seguidas diante da TV, assistindo a uma novela produzida pela Vênus Platinada. Muito menos um adulto instruído ou um jovem se dispõe a passar, ao menos, meia-hora de sua noite vendo as notícias anunciadas por William Bonner. Imagine que essas pessoas, horas antes, seja via blogs, facebook ou Skype, já se inteiraram de tudo aquilo que vai ser dito por um repórter qualquer a partir da perspectiva ditada pelo patrão. A essa hora, a notícia já é velha, requentada e parcial. Perda de tempo buscar informação correta e equilibrada através da televisão aberta.
  • 3. 6/3/2016 À meia-noite levarei sua alma e seu cérebro — Medium https://medium.com/@rpires76/%C3%A0-meia-noite-levarei-sua-alma-e-seu-c%C3%A9rebro-jornalistas-livres-2ec7bca0a5f#.ad286bvlj 3/6 Décadas atrás, na época da ditadura, um final de novela da Globo chegava a ter cem por cento das TV’s ligadas no Rio de Janeiro. Muita gente cancelava compromissos para não perder o desfecho que uma trama que já se arrastava por vários meses—sem contar que muita gente usava a programação da emissora como relogio: “Depois da novela das 7, eu passo na sua casa”, dizia-se. Novelas como “Dancing Days” hipnotizavam as pessoas. Modas eram lançadas através das novelas: meias não sei o que, cortes de cabelo não sei como, gírias e expressões tomavam as ruas a partir das falas dos personagens. Ver o “Jornal Nacional” apresentado por Cid Moreira e Sergio Chapelin era uma obrigação religiosa de muita gente. Os jornais impressos eram caros (no Recife, um exemplar avulso da “Folha de S.Paulo” custava uma nota). Mas para que ler jornal se Roberto Marinho já trazia a informação mastigada, pronta para ser deglutida. Imagine você, o que as pessoas pensariam se alguma noite, sem prévia explicação, o JN deixasse de ser exibido. Golpe de Estado, terremoto, inundação. Seria uma comoção! Hoje, em 2016, o JN vive um momento de enorme decadência, com uma audiência ridícula, se comparada aos bons tempos. Ali, tudo é previsível! Qualquer pessoa pode antecipar os lugares-comuns usados pelos repórteres do JN e também descrever antecipadamente os ângulos da câmera ou as perguntas nas entrevistas. Ninguém gosta de perder tempo com o previsível!
  • 4. 6/3/2016 À meia-noite levarei sua alma e seu cérebro — Medium https://medium.com/@rpires76/%C3%A0-meia-noite-levarei-sua-alma-e-seu-c%C3%A9rebro-jornalistas-livres-2ec7bca0a5f#.ad286bvlj 4/6 Na verdade, o que mudou foi a forma de vida. Em poucas décadas, a informação tornou-se um patrimônio público, uma expressão autêntica do espaço democrático. Se antes, como assinala Pierre Levy, a televisão encarnava uma totalidade na qual “um falava para todos”, caracterizando uma via de mão única, uma experiência totalitária, digamos assim, as redes sociais hoje fizeram da informação uma experiência ecológica, isto é, uma experiência vivida por todos sem que haja o “um que dite a verdade”. Tudo é parte da rede e dar um clique implica estar aberto a uma infinidade de experiências. É o desdobrar do virtual que, em suas dobras potenciais, esconde coisas insuspeitadas. Está tudo dobrado, à espera do desdobramento. Basta clicar! O LOGOTIPO COMO PROMESSA—O logotipo da Globo era um signo de muito prestígio. Hans Donner pesquisava meses usando tecnologias de ponta para inventar um logotipo prateado mesclado ao espectro de cores para mostrar claramente que a Globo era um sonho tecnológico bem avançado. O logotipo crescia ou encolhia ou virava ao avesso ao ritmo do plimplim. O telespectador ficava boquiaberto com tanta “beleza” e continuava sintonizado na Globo.
  • 5. 6/3/2016 À meia-noite levarei sua alma e seu cérebro — Medium https://medium.com/@rpires76/%C3%A0-meia-noite-levarei-sua-alma-e-seu-c%C3%A9rebro-jornalistas-livres-2ec7bca0a5f#.ad286bvlj 5/6 Façamos uma pequena análise semiótica: o logotipo global evidentemente é um signo. O signo é uma unidade elementar de significado (uma palavra, um rosto, uma marca); ele é um mínimo de significação dotado de uma certa autonomia que lhe permite combinar-se com outros signos. O que o signo do Facebook promete? Na tela do seu computador, por exemplo, ele é uma expressão mínima associada por uma convenção a uma função e a uma ação igualmente mínimas (clicar para abrir). Abrir o quê. Por trás do logo do Facebook, estão os seus amigos, a sua namorada, livros para baixar, filmes de Hitchcock, roteiros de viagens, receitas de saladas etc. Essa é uma operação que você comanda e que lhe permite movimentos livres e autônomos por um campo livre de diálogo. Sobre o logo da Globo, não é possível fazer clic. Ele só tem um sentido: de lá para cá. É uma via de mão única. E qual é a promessa? Uma noite no museu. Por trás do logo, não estão os seus amigos nem Hitchcock. Por trás do plimplim, estão Bonner, Galvão Bueno, Faustão, Tony Ramos, Ronaldo Fenômeno, Ana Maria Braga, Luciano Huck e Neymar. Essa lista é o inventário de um museu dos zumbis. Todos estes nomes são die hard, zumbis ideológicos que não assustam, mas consomem o cérebro de quem ousa visitar suas dependências e repetir o seu mantra: plimplim! Vocês lembram do final de “Carrie, A Estranha”, lembram do susto do braço puxado? Pois bem, para evitar que algum zumbi dessa lista puxe o seu braço, caso ouça o “plimplim”, corra, mas corra muito mesmo e puxe o fio da tomada. Todos desaparecerão. . . .