1. VIII U N I V E R S I D A D E S | Diário Económico Terça-feira 17 Novembro 2009
FO R M A Ç Ã O D E E X ECU T I VOS
“Ainda se acredita em Portugal
que o melhor é controlar”
Empresas devem responsabilizar em vez de controlar, diz Ronald Goovaerts.
CARLA CASTRO
carla.castro@economico.pt
Ronald Goovaerts, especia- “Liderança não é E como é que isso se resultados quando são li-
lista em ‘coaching’, defende uma atitude, é uma aprende? deradas por mulheres. Perfil
que a liderança não é uma Não se trata de ser efi- Porque elas são muito mais
capacidade inata, mas antes forma de vida, uma ciente ou melhor. A parte dedicadas e, quando que- Especialista em
algo que se aprende. É muito maneira de ver e mais crítica é que as pes- rem alguma coisa, querem ‘coaching’, Ronald
uma maneira de olhar para a sentir as coisas” soas precisam de agir. mesmo, gostam de produ- Goovaerts nasceu na
Bélgica, onde se licenciou
vida, diz em entrevista ao Para mim, falhar é algo zir resultados e, aí é uma
em engenharia química,
Diário Económico. que não existe. Está na coisa que eu não com-
e está há 15 anos em
nossa mente. Em tudo o preendo , querem provar Portugal. Criou a empresa
“Em tudo o que faço, que faço, falho imenso e que conseguem produzir ‘Unlock to do’
O que é que define um falho imenso e adoro, adoro, porque na realida- os mesmos resultados que especializada em
bom líder para o século porque na realidade de não é falhar, é estar no os homens. Elas não preci- negociação, comunicação
XXI? não é falhar, é estar processo para chegar lá. sam de fazer isso. Basta as persuasiva, liderança
Liderança, hoje em dia, é Não se pode esperar, por mulheres terem oportuni- e em ‘Creative Mental
uma questão de expressão, no processo para exemplo, ser um exce- dades justas, estou com- Power Thinking, Feeling
de inspirar os outros. É chegar lá” lente orador para uma pletamente seguro disso. & Acting’. Goovaerts
muito importante ter uma plateia de 500 pessoas, Considero as mulheres esteve na conferência
atitude magnética, que logo no primeiro discur- mais dispostas a aprender. “Liderança no século
atrai pessoas. É mais que so. Mas se não fizer esse Nós, homens, somos mui- XXI”, organizada no ISEG
carisma. Às vezes, conhe- esforço da primeira vez, to básicos e freudianos. As pela EWMD (’European
ce-se uma pessoa e ela nunca chegará lá. Chamo mulheres sentem que têm Women’s Management
tem pouco impacto em a isso treinar. Não é fa- de provar e não devem fa- Development
nós. Com outras, mesmo lhar, é um processo. Você zê-lo. Devem ser mais es- International Network’),
onde falou com o Diário
que nunca mais se esteja faz coisas, tem resulta- pontâneas e naturais.
Económico.
com elas, deixam alguma dos, faz as coisas outra
coisa em nós. Penso que vez e melhora, fica cada Uma das coisas a fazer po-
isso é muito importante na vez melhor. Ao mesmo deria ser introduzir algu-
liderança. tempo, contamina os ou- ma flexibilidade nas em-
tros a fazerem o mesmo. presas?
Mas isso é uma qualidade Tem de se aprender o Isso não tem nada a ver
que umas pessoas têm e prazer de fazer coisas. com mulheres ou ho-
outras não têm nem nunca mens. Tem a ver com o
vão ter? Qual a principal diferença facto de, em Portugal,
Não. É algo que se pode entre o manager e o líder? ainda se acreditar muito
aprender. Acredito que a Gerem-se coisas, lide- que o melhor é controlar
liderança é muito mais que ram-se pessoas. Liderança as pessoas.
uma ‘skill’. É algo que está tem a ver com pessoas. As empresas não vêm que
dentro das pessoas, em- Management tem a ver as pessoas podem ser res-
bora não esteja em todas as com tudo o resto.Quando ponsáveis quando não es-
pessoas da mesma forma. se tratam as pessoas como tão a ser completamente
Quer dizer que cada pes- coisas, estamos a afastar- controladas. Eu tenho o
soa pode ser um líder nas nos completamente da li- meu escritório em casa e
suas relações, mas sendo derança. trabalho muito de lá.
como é. Isso significa que Quando comecei como
liderança não é uma atitu- Porque é que as mulheres engenheiro, trabalhava
de, é uma forma de vida, não chegam aos lugares de muito em casa, e não era
uma maneira de ver as topo e o que é que podia por trabalhar em casa que
coisas, de sentir as coisas. ser feito para alterar esta não fazia nada. Fica-se é
É mais actuar, mas não situação? com a possibilidade de or-
como um actor, é fazer Estou totalmente conven- ganizar a vida de outra
coisas, expressando as cido que muitas empresas forma. Isso tem de ser
suas opiniões. produzem muito melhores mudado nas empresas. ■
Primeiro exercício: descubra O modelo ‘Creative Mental Power,
o seu objectivo na vida Thinking & Acting’
Antes de mais, Ronald Goovaerts diz aos seus clientes O princípio do ‘Creative Mental Power Thinking &
que têm de perguntar a si próprios quem são e ser aquilo Acting’ é que todos podemos ser líderes de sucesso nas
que realmente são e não desempenhar um papel nossas vidas, seja na família, na organização ou no
desenhado para eles. O exercício passa por responder grupo de amigos. E todos temos espaço para melhorar
a quatro questões. Primeira: Do que é que mais gosta o que somos. Temos é de descobrir quem somos, qual
na vida? Pode responder ser feliz, sentir-se apaixonado, a nossa identidade e o que sabemos fazer bem. E temos
etc... Pergunta dois: O que é que gostaria de ver acontecer de ser os directores das nossas vidas e não viver a vida
no mundo? Paz, as pessoas a aceitarem-se umas que outros destinaram para nós, senão nunca vamos
às outras, etc... Terceira: O que é que faz de si uma pessoa chegar à excelência. Primeiro, temos de ver as coisas
especial? A sua energia, entusiasmo, capacidade de como elas são e não pior do que são. Depois fazer com
inspirar os outros? Em quarto e último lugar: O que é que sejam mesmo melhores. Não esperar que as coisas Ronald Goovaerts, especialista
capaz de fazer neste momento? Uma leitura em voz alta, aconteçam. Actuar no sentido do progresso. Fazer em ‘coaching’ e liderança.
escrever um livro, treinar pessoas, seja o que for. coisas e progredir ao fazê-las.