1. Eis aqui o meu poeta predileto.
Gostaria de fazer minha a suas
palavras, ter vivido do mesmo jeito
que ele viveu, mas estarei sempre
fraseando , seus poemas e sonetos,
lindos e imortais, que foram feitos
na hora certa para a pessoa certa
no momento não mais do que certo,
pois você meu caro poeta foi um
grande curtidor neste mundo de
meu Deus. O sujeito que mais
soube amar na vida. viveu muitos
amores, carioca da gema, poeta
essencialmente lírico que
notabilizou-se pela poesia com
característica própria associada ao
seu nome, autor de mais de 400
poesias e cerca de 400 letras de
musicas, homem da noite, de
muitos amigos e muitos amores,
poeta e diplomata, também
conhecido com grande conquistador
(foi casado nove vezes)
transcendental, materialista, boêmio
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2. VINICIUS
ANTOLOGIA
POÉTICA
11ª eDIÇÃO
inveterado, apaixonado por multidões de mulheres,
fumante e grande bebedor de Whisky, alias autor de
celebres frases como: “O whisky é o melhor amigo do
homem é o cachorro engarrafado. As feias que me
perdoem mas a beleza e fundamental. A vida é a arte do
encontro embora haja tanto desencontro pela vida”.
Lembro-me bem de sua passagem aqui pela Bahia por
volta dos anos 1973/74 quando esteve casado com a
atriz baiana Gesse Gessy, que sem duvida foi uma das
maiores paixão de sua vida, foi a Gesse, que aproximou
o poeta do candomblé apresentando-o à mãe menininha
do Gantois.
S o l i d ã o
A maior solidão é a do ser que não ama. A maior solidão é
a dor do ser que se ausenta, que se defende, que se
fecha, que se recusa a participar da vida humana.
A maior solidão é a do homem encerrado em si mesmo, no
absoluto de si mesmo, o que não dá a quem pede o que
ele pode dar de amor, de amizade, de socorro.
O maior solitário é o que tem medo de amar, o que tem
medo de ferir e ferir-se, o ser casto da mulher, do amigo,
do povo, do mundo. Esse queima como uma lâmpada
triste, cujo reflexo entristece também tudo em torno. Ele é
a angústia do mundo que o reflete. Ele é o que se recusa
às verdadeiras fontes de emoção, as que são o patrimônio
de todos, e, encerrado em seu duro privilégio, semeia
pedras do alto de sua fria e desolada torre.
AC
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Texto Tom/Freire
3. Soneto de SeparaçãoSoneto de Separação
De repente do riso fez-se o prantoDe repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a brumaSilencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espumaE das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espantoE das mãos espalmadas fez-se o espanto
De repente da calma fez-se o ventoDe repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chamaQue dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimentoE da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o dramaE do momento imóvel fez-se o drama
De repente não mais que de repenteDe repente não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amanteFez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contenteE de sozinho o que se fez contente
Fez-se do amigo próximo, distanteFez-se do amigo próximo, distante
Fez-se da vida uma aventura erranteFez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repenteDe repente, não mais que de repente
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4. AMIGOSAMIGOS
Tenho amigos que não sabem o quanto são meus amigos.Tenho amigos que não sabem o quanto são meus amigos.
Não percebem o amor que lhes devoto e a absolutaNão percebem o amor que lhes devoto e a absoluta
necessidade que tenho deles.necessidade que tenho deles.
A amizade é um sentimento mais nobre do que o amor,A amizade é um sentimento mais nobre do que o amor,
eis que permite que o objeto dela se divida em outroseis que permite que o objeto dela se divida em outros
afetos, enquanto o amor tem intrínseco o ciúme, queafetos, enquanto o amor tem intrínseco o ciúme, que
não admite a rivalidade.não admite a rivalidade.
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5. AMIGOSAMIGOS
““ Eu poderia suportar, embora não sem dor,Eu poderia suportar, embora não sem dor,
Que tivessem morrido todos os meus amores,Que tivessem morrido todos os meus amores,
Mas enlouqueceria se morressem todos os meusMas enlouqueceria se morressem todos os meus
amigos!amigos!
A alguns deles não procuro, basta-me saber que elesA alguns deles não procuro, basta-me saber que eles
existem.existem.
Esta mera condição me encoraja a seguir em frenteEsta mera condição me encoraja a seguir em frente
pela vida...pela vida...
Mas é delicioso que eu saiba e sinta que os adoro,Mas é delicioso que eu saiba e sinta que os adoro,
embora não.embora não.
Declare e não os procure sempre...”Declare e não os procure sempre...”
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6. A UMA MULHERA UMA MULHER
Quando a madrugada
entrou, eu estendi o meu
peito nu sobre o teu peito.
Estavas trêmula e teu rosto
pálido e tuas mãos frias.
E a angustia do regresso
morava já nos teus olhos.
Tive piedade do teu destino
que era morrer no meu
destino.
Quis afastar por um segun-
do de ti o fardo da carne.
Quis beijar-te num vago
carinho agradecido.
Mas quando meus lábios
tocaram teus lábios,
Eu compreendi que a
morte já estava no teu
corpo.
E que era preciso fugir
para não perder o único
instante,
Em que fostes realmente
a ausência de sofrimento
Em que realmente foste
a serenidade
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7. SONETO DE DEVOÇÃOSONETO DE DEVOÇÃO
Essa mulher que se
arremesa, fria
E lúbrica aos meus braços,
e nos seios
Me arrebata e me beija e
balbucia
Versos, votos de amor e
nomes feios.
Essa mulher, flor de
melancolia
Que se ri dos meus pálidos
receios
A única entre todas a quem
dei os carinhos que nunca a
outra daria.
Essa mulher que a cada amor
proclama
A miséria e a grandeza de
quem ama
E guarda a marca dos meus
dentes nela
Essa mulher é um mundo !
- uma cadela.
Talvez … - mas na moldura
de uma cama
Nunca mulher nenhuma foi
tão bela.
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8. Outros que contemOutros que contem
Passo por passo:Passo por passo:
Eu morro ontemEu morro ontem
Nasço amanhãNasço amanhã
Ando onde há espaçoAndo onde há espaço
- Meu tempo é quando- Meu tempo é quando.
PoéticaPoética
De manhã escureçoDe manhã escureço
De dia tardoDe dia tardo
De tarde anoiteçoDe tarde anoiteço
De noite ardoDe noite ardo
A oeste a morteA oeste a morte
Contra quem vivoContra quem vivo
Do sul cativoDo sul cativo
O este é meu norteO este é meu norte
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9. AGONIAAGONIA
No teu grande corpo branco
depois eu fiquei.
Tinha os olhos lívidos e tive
medo.
Já não havia sombra em ti –
eras como um grande deserto
de areia
Onde eu houvesse tombado
após uma longa caminhada
sem noites.
Na minha angústia eu buscava
a paisagem calma
Que me havia dado tanto tempo
Mas tudo era estéril e
monstruoso e sem vida
E teus seios eram dunas
desfeitas pelo vendaval que
passara.
Eu estremecia agonizando e
procurava me erguer
Mas teu ventre era como areia
movediça para os meus dedos.
Procurei ficar imóvel e orar, mas
fui me afogando em ti mesma.
Desaparecendo no teu ser
disperso que se contraía como a
voragem.
Depois foi o sono, escuro, a
morte. Quando despertei era
claro e eu tinha brotado
novamente. Vinha cheio do
pavor de tuas entranhas.
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10. E tão fatal para os meus
versos duros ?
Fugaz, com que direito tens-
me presa
A alma, que por ti soluça
nua
E não és Tatiana e nem
Teresa:
E és tão pouco a mulher que
anda na rua.
Vagabunda, patética e
indefesa
Ó minha branca e
pequenina lua !
SONETO À LUASONETO À LUA
Por que tens, por que tens
olhos escuros. E mãos
lânguidas, loucas, e sem
fim.
Quem és, que és tu, não
eu, e estás em mim.
Impuro, como o bem que
está nos puros ?
Que paixão fez-te os lábios
tão maduros. Num rosto
como o teu criança assim.
Quem te criou tão boa para
o ruim.
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11. Dentro da eternidade e a
cada instante
Amo-te como um bicho,
simplesmente,
De um amor sem mistério e
sem virtude
Com um desejo maciço e
permanente.
E de te amar assim muito e
amiúde,
É que um dia em teu corpo
de repente
Hei de morrer de amar mais
do que pude.
Soneto do Amor TotalSoneto do Amor Total
Amo-te tanto, meu amor …
não cante
O humano coração com mais
verdade …
Amo-te como amigo e como
amante. Numa sempre
diversa realidade.
Amo-te afim, de um calmo
amor prestante.
Eu te amo além, presente na
saudade.
Amo-te emfim, com grande
liberdade
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12. SONETO DE FIDELIDADESONETO DE FIDELIDADE
De tudo, ao meu amor
serei atento.
Antes, e com tal zelo, e
sempre, e tanto.
Que mesmo em face do
maior encanto.
Dele se encante mais
meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada
vão momento.
E em seu louvor hei de
espalhar meu canto.
E rir meu riso e derramar
meu pranto.
Ao seu pesar ou seu
contentamento.
E assim, quando mais tarde
me procure.
Quem sabe a morte, angús-
tia de quem vive.
Quem sabe a solidão, fim
de quem ama.
Eu possa me dizer do amor
(que tive): Que não seja
imortal, posto que é chama.
Mas que seja infinito
enquanto dure.
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MARCUS VINICIUS DE MELLO
MORAES
Nasceu a 19 de outubro de 1913, no
bairro da Gávea, Rio de Janeiro, filho
de Clodoaldo Pereira da Silva Moraes
e Lydia Cruz de Moraes.
Fez o curso primário na Escola
Afrânio Peixoto, na Rua da Matriz.
Curso secundário no Colégio Santo
Ignácio.
Em 1930 ingressou na Faculdade de
Direito do Catete
1938 com dois livros publicados,
recebeu do British Council uma bolsa
de estudos de dois anos para estudar
Literatura Inglesa em Oxford.
Em 1939 foi obrigado a abandonar o
curso e voltar ao Brasil, devido à
eclosão da guerra.
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teatro do IV Centenário do Estado de
São Paulo, foi encenada no Teatro
Municipal com música de Antônio
Carlos Jobim.. Iniciava-se aí a
parceria que, pouco depois, com
contribuição do cantor e violonista
João Gilberto, daria início à Bossa
Nova. O drama ORFEU DA CONCEIÇÃO,
foi transposto para o cinema por
Marcel Camus, em 1959 e recebeu
nesse ano a Palma de Ouro no
Festival de Cannes e o Oscar da
Academia de Hollywood, como o
melhor filme estrangeiro. Teve várias
parcerias musicais, a saber: Carlos
Lyra, Edu Lobo, Pixinguinha, Baden
Powell, Ary Barroso, Francis Hime e
Toquinho, entre outros. Casou-se
várias vezes e teve cinco filhos.
Faleceu no Rio de Janeiro, a 09 de
julho de 1980.
Em 1943, é aprovado no concurso
para o Itamarati. Designado em 1946
para servir no Consulado do Brasil
em Los Angeles, lá permanecendo
por cinco anos. Serviu também em
Paris (duas vezes) e Montevidéu.
Foi cronista e crítico de cinema, foi
delegado do Brasil nos festivais
internacionais de cinema de Cannes,
Berlim, Locarno, Veneza e Punta del
Leste e, em 1966, membro do Júri
Internacional de Cannes.
Escreveu seu primeiro poema aos 7
anos.
É de 1953 o seu primeiro samba –
música e letra – intitulado QUANDO
TU PASSAS POR MIM. No ano
seguinte lança uma peça musical –
ORFEU DA CONCEIÇÃO – recebendo
o primeiro prêmio no concurso de
ACF
15. Para viver um grande amor,
preciso
é muita concentração
e muito siso,
muita seriedade
e pouco riso
- para viverumgrande amor.
ACF
16. Para viver um grande amor,
mistério é serumhomem
de uma só mulher;
pois serde muitas, poxa !
é prá quemquer
- não temnenhumvalor.
ACF
17. Para viver um grande amor,
primeiro,
é preciso sagrar-se cavalheiro
e serde sua dama porinteiro
- seja lá como for.
ACF
18. Há que fazerdo corpo uma morada
onde clausure-se a mulheramada
e postar-se de fora comuma espada
- para viverumgrande amor.
ACF
19. Para viver um grande amor
direito ,
não basta apenas
serumbomsujeito;
é preciso também
termuito peito
- peito de remador.
ACF
20. E o que há de melhor
que irpra cozinha
e prepararcomamor
uma galinha comuma rica
e gostosa farofinha,
- para o seu grande amor?
ACF
21. É sempre necessário terem vista
umcrédito de rosas no florista
- muito mais, muito mais
que na modista !
-- para viverum grande amor.
Conta ponto saberfazercoisinhas :
ovos mexidos, camarões, sopinhas,
molhos, filés com fritas,
comidinhas para depois do amor. ACF
22. Para viverum grande amoré muito,
muito importante,
viversempre junto e até ser, se possível,
um só defunto
- pra não morrerde dor.
É preciso um cuidado permanente
não só como corpo
mas também com a mente,
pois qualquer"baixo"seu, a amada sente
- e esfria um pouco o amor.
ACF
23. Há que serbemcortês semcortesia;
doce e conciliadorsemcovardia;
saberganhardinheiro compoesia
- não serumganhador.
Mas tudo isso não adianta nada,
se nesta selva escura e desvairada
não se souber achar
a grande amada
para viver um grande amor.ACF