1. Saúde do homem e da cidade na Antigüidade Greco-Romana
I Simpósio Internacional de Estudos Antigos Fernando Santoro – UFRJ
IV Seminário Internacional Archai
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A catarse na comédia
Fernando Santoro – UFRJ
“E, que significado tem então, fisiologicamente falando,
aquela loucura de onde brotou a arte trágica assim como a
cômica, a loucura dionisíaca?”.
Nietzsche, O Nascimento da Tragédia p. 17
Muitas razões há para especular sobre o sentido poético da catarse em Aristóteles,
mas se tanto estudo temos sobre a passagem que trata da catarse trágica no sexto capítulo
da Poética1
, por outro lado pouquíssimo escreveu-se sobre esta função na comédia, pelo
menos no tocante à teoria aristotélica. A razão parece de início muito simples: nada nos
restou do que teria dito Aristóteles sobre o assunto. Esta razão é, contudo, pouca: não só
temos vestígios pelas obras do Estagirita de uma teoria sobre a catarse não restrita à
tragédia, como também as lacunas neste caso são elementos significativos e são elas que
nos conduzirão por boa parte de nossa investigação. Além disso, a tradição legou-nos um
manuscrito contendo um epítome de um tratado sobre o cômico que nos dá muitas razões
para pensar que se referia ao segundo livro da Poética, e neste epítome aparece a função
catártica do riso. Por mais que sejam todos elementos filologicamente duvidosos:
referências, lacunas, textos de segunda mão etc., se mantivermos os olhos filosóficos sobre
o fenômeno em questão, poderemos levantar algumas hipóteses e com elas especular
seriamente sobre o tema.
Primeira consideração: se, como diz Aristóteles na Política2
, em alguma parte da
Poética, a catarse foi tratada com mais clareza e, com certeza, esta parte não está no
primeiro livro, segue-se que o Filósofo tratou da catarse no mesmo livro em que tratou da
comédia. Isto, se não é um indício de que a catarse tem muito a ver com a comédia, pelo
menos nos, deixa certos de que não é uma exclusividade da tragédia. Aliás, a própria
passagem da Política3
já trata de outros fenômenos poéticos catárticos, que Aristóteles
chama de “orgiásticos”, principalmente aqueles ligados à arte da flauta (aulética).
Segunda consideração, ainda entre as que provêm de lacunas: se a catarse é uma
função poética relacionada às afecções, e se entre as afecções trágicas encontramos a
piedade e o temor (e)le/oj kai fo/boj ), que afecções teríamos relacionadas à comédia?
1
1449b 26-27
2
1341b 38-40
3
Política, Liv. VIII
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Se olharmos para a mesma passagem da Política sobre a poesia de função catártica,
encontraremos outros indícios interessantes, a começar pela divisão das músicas em ética e
orgiástica, segundo a finalidade de educar ou purificar. A poesia que purifica é chamada de
orgiástica, isto é, de algum modo relativa ao transe (o)rgi/a). O transe é, numa visada
fenomênica, um estado em que o corpo realiza um movimento em que a consciência parece
não intervir, em que não dirigimos os movimentos de nosso corpo. Este estado da mente foi
denominado por Platão no diálogo Íon4
de e)k frw¤n, “fora do juízo” quando tratava do
estado e do modo como os rapsodos interpretavam a poesia. Este estado permite que a
mente e o corpo sejam de algum modo possuídos por uma força divina e fiquem, como
dizem os gregos, “entusiasmados”. Os ritos dionisíacos são entusiasmantes, põem os
homens e as mulheres em transe, em delírio, fora de si. A tragédia e a comédia, enquanto
ritos dionisíacos, além da aulética, são poesias orgiásticas e entusiasmantes. Em todas elas
haveria a produção de um efeito catártico. Se, para a tragédia, a catarse relaciona-se com as
afecções ligadas ao temor e à compaixão, que afecções estariam ligadas à comédia? A
primeira impressão que temos de um entusiasmo ou de um transe cômico seria ligado ao
efeito do riso no espectador. Mas o riso não é efetivamente uma afecção, senão um sintoma
de alguma afecção, assim como as lágrimas são sintomas e efeitos da compaixão e o tremor
é o análogo do temor. De que afecção o riso seria um sintoma? Esta é a questão que precisa
ser plenamente respondida para aproximarmo-nos da compreensão de algum tipo de catarse
cômica.
É fácil perceber que tipo de ações ou discursos ou personalidades provocam o riso,
pela experiência da observação direta, mas não é nem um pouco fácil determinar qual tipo
de afecção está envolvida neste processo. Com certeza sofremos medo e compaixão nos
espetáculos trágicos, mas o que efetivamente sentimos na comédia que nos dá prazer e faz
rir, isso não é nada evidente. Vamos nos permitir uma aproximação indireta do problema.
Não exatamente buscando que tipo de emoção provocaria o riso, mas percorrendo o
tratamento das diversas afecções empreendido pelo próprio Aristóteles, na Poética, na
Política e, principalmente, naquele que é o verdadeiro tratado aristotélico sobre a alma
humana que é o segundo livro da Retórica.
Parecem ser três as mais importantes ou os núcleos centrais das diversas afecções
humanas, pela visada fenomenológica de Aristóteles. Além do temor e da compaixão, que
já apareceram ligadas à tragédia, há uma terceira : a cólera (o)rgh/). Vejamos alguns
exemplos destas enumerações de afecções:
Na Poética, 1456a37-b2:
me/rh de tou/twn to/ te a)podeiknu/nai kaiì to lu/ein kaiì to pa/qh
paraskeua/zein oiâon eÃleon hÄ fo/bon hÄ o)rghn kaiì oÀsa toiau=ta
kaiì eÃti me/geqoj kaiì mikro/thtaj.
4
534 a-c
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Dele fazem parte o demonstrar e o refutar, suscitar afecções (como a
compaixão, o medo, a cólera e outras que tais) e ainda o majorar e o
minorar o valor das coisas.
Precedendo o estudo eidético sobre as diversas afecções, na Retórica 1378a.19-22 :
eÃsti de ta pa/qh di' oÀsa metaba/llontej diafe/rousi proj taj
kri¿seij oiâj eÀpetai lu/ph kaiì h(donh/, oiâon o)rgh eÃleoj fo/boj kaiì
oÀsa aÃlla toiau=ta, kaiì ta tou/toij e)nanti¿a.
As afecções são as causas que fazem alterar os seres humanos e introduzem
mudanças nos seus juízos, na medida em que elas comportam dor e prazer:
tais são a cólera, a compaixão, o medo e outras semelhantes, assim como
as suas contrárias.
Podemos acrescentar também esta passagem onde não aparece o termo “cólera”
(o)rgh/ ) mas um sinônimo, o termo “possessão” (e)nqousiasmo/j), na Política, 1342a4-7 :
o( gar peri e)ni/aj sumbai/nei pa/qoj yuxaj i)sxurw=j, tou=to e)n
pa/saij u(pa/rxei, tw?= de h(=tton diafe/rei kai tw?= ma=llon, oi(=on
e)/leoj kai fo/boj, e)/ti d' e)nqousiasmo/j
Pois a afecção está unida a algumas almas de modo intenso, embora ela
subsista em todas, diferindo-se pela menor e pela maior intensidade e tendo
como exemplos a compaixão, o medo e a possessão.
A cólera é a afecção que não foi considerada na catarse trágica, no entanto parece a
mais próxima do fenômeno da possessão ou de um estado fora de si. A cólera costuma ser
citada como exemplo sempre junto com as afecções de piedade e temor, que são as que
processam a catarse trágica. Poderíamos supor que é a afecção relativa a outras poesias
catárticas diferentes da tragédia, entre as quais a comédia? Parece um indício digno de
investigação.
Mais ainda do que estes indícios, porém, se atentarmos para todo o segundo capítulo
do segundo livro da Retórica5
, em que Aristóteles faz uma interpretação extremamente
acurada do fenômeno da cólera, veremos o quanto esta afecção tem a ver com toda a
estruturação da comédia, do riso e dos tipos cômicos. Desde a definição, envolvendo a
gênese da cólera num processo de ressentimento, já temos referência a elementos de
estruturação da comédia:
5
Livro que, Segundo Martin Heidegger, perfaz “a primeira hermenêutica sistemática da cotidianidade da
convivência”, Das erste systematische Hermeneutik der Alltäglichkeit des Miteinanderseins., Sein und Zeit,
p.138
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o)rgh oÃrecij meta lu/phj timwri¿aj [fainome/nhj] dia fainome/nhn
o)ligwri¿an ei¹j au)ton hà <ti> tw½n au)tou=, tou= o)ligwreiÍn mh
prosh/kontoj.
A cólera é um desejo com dor de exercer vingança por causa de um
manifesto desdém contra nós mesmos ou alguém próximo de nós, que não
merece o desdém. 1378a.30-32
Repare-se que a causa da cólera é o desdém, que o grego diz o)ligwri¿a,
literalmente “apequenamento” ou “inferiorização” (de o)ligo/j pequeno, inferior). Ora,
tornar pequeno é ridicularizar, por isso a comédia é uma representação de homens
inferiorizados, são os homens ridículos, dignos de riso. A definição do caráter cômico como
representação de homens inferiores significa justamente isso: tornar pequeno, inferiorizar,
amesquinhar o tipo humano, para transformá-lo na caricatura de um tipo, uma
personalidade patética, a representação de um tipo miserável, neurótico, o inverso do
engrandecimento do herói trágico. Justamente a cólera é definida em sua origem, nos
procedimentos que a provocam, como uma reação ressentida contra alguma ridicularização
inconveniente. Por isso os coléricos “enfurecem-se contra os que se riem, gozam e
escarnecem deles” o)rgi¿zontai de toiÍj te katagelw½si kaiì xleua/zousin kaiì
skw¯ptousin 1379a.30-32.
Além do mais, se olharmos para o inventário de tipos iracundos, não há como não
lembrar das clássicas personagens de Aristófanes, de Plauto ou de Molière: os enfermos
(principalmente os imaginários), os pobres (quanto mais maltrapilhos e bufões), os
soldados (quão mais brancaleônica ou quixotesca seja sua causa), os amantes (mais ainda
os cornos) etc.
A relação entre a comédia e a afecção colérica parece por demais evidente, mas ela
ainda pode desdobrar-se em muitos aspectos: o riso que provoca a cólera, o próprio riso
como reação colérica e orgiástica, o riso da vingança, até talvez um riso que purgasse o
ressentimento colérico...
Até aqui apontamos apenas os indícios provenientes de lacunas, mas não podemos
deixar de observar que também no documento que a tradição nos legou com as indicações
de conteúdo do que seria o segundo livro da Poética, há referências à catarse cômica e mais
referências à catarse em geral do que em todo o conhecido primeiro livro. O Tratado
Coisliniano está na segunda parte do manuscrito n.120 da coleção Coislin da Bibliothèque
Nationale de Paris, de onde provém seu nome. A redação deste manuscrito é assinalada por
Devreesse6
e outras autoridades como datando do início do séc X, mas a análise dos
extratos, sumários e comentários aristotélicos nele compreendidos fazem crer que o seu
conteúdo remonta ao séc. VI, pois reflete o ensino filosófico da época, sobretudo as partes
contendo e comentando o Isagoge de Porfírio, que ocupam a maioria das páginas. O
Tratado Coisliniano ocupa as folhas 248v, 249r e 249v do manuscrito, não possui título
6
Bibliothèque Nationale, Catalogue des Manuscrits grecs II : le Fonds Coislin, p.109 ss, apud. Janko
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nem autoria. É provavelmente um epítome dos conteúdos do Livro II da Poética de
Aristóteles, mas pode ter sofrido influências dos ensinamentos retóricos e poéticos
posteriores ao Lyceu; porém, como a influência é recíproca, não há como distinguir a
proveniência com exatidão. Vejamos pois as referências à catarse no pequeno Tratado
Coisliniano.
Segundo a ordenação proposta por Janko7
, três passagens, as de número III, IV e IX,
tratam, a nosso ver, do tema da catarse. Vejamos primeiro a IV :
IV. kwm%di/a e)sti mi/mhsij pra/cewj geloi/aj kai a)moi/rou
mege/qouj, telei/aj, xwrij e(kast% twÍn mori/wn e)n toiÍj eiÃdesi,
drw/ntwn kai di”h(done=j kai ge/lwtoj perai/nousa thn tw=n
toiou/twn paqhma/twn ka/qarsin. eÃxei de mhte/ra ton ge/lwta.
Comédia é uma imitação de uma ação risível e desprovida de grandeza,
completa, dispersa pelas várias partes do espetáculo; representada por atores
e também por meio de narrativa, consumando pelo prazer e pelo riso a
purgação destas afecções; tem como mãe o riso.
Aqui temos a definição da comédia, construída em evidente paralelo à definição da
tragédia contida no primeiro livro da Poética8
. Tal paralelismo pode advir da própria
natureza da relação entre tragédia e comédia, mas pode ser também uma construção
posterior ao texto aristotélico buscando decalcar a teoria da comédia sobre a bem conhecida
e autêntica teoria da tragédia. A edição crítica feita por Janko aceita algumas correções para
tornar o paralelismo ainda mais manifesto, acrescentando outras partes da definição de
tragédia. Como não envolvem o trecho sobre a catarse, não vamos nos preocupar agora com
elas. Interessa-nos que o enunciado define o meio da catarse como sendo o riso e o prazer e
repete o enigmático genitivo “destas afecções”. Se tais afecções são “prazer” e “riso”,
temos uma diferença com nossa consideração anterior, a qual sugeria ser a cólera a afecção
purgada pela comédia. Várias são as hipóteses alternativas para explicar esta diferença,
desde a desqualificação do texto ou da hipótese colérica até diversas formas de conciliá-las.
Não vamos aqui elencá-las todas, apenas lembro que o riso e o prazer, correspondem
analogicamente às lágrimas e tremores de quando se sofre compaixão e medo. De modo
que não seria o riso a afecção que é purgada, mas muito mais o efeito dessa catarse, como o
choro e as convulsões que acometem o espectador trágico.
Suspenderemos temporariamente o juízo sobre o sentido e a procedência dessa
definição de comédia para antes ver as outras duas passagens do tratado e obter mais
indícios acerca do problema. Uma última observação antes de prosseguir – reparemos o
acrescento final, enigmático e assimétrico à definição tradicional da tragédia: “tem como
mãe o riso” – afinal, que mãe é esta da comédia? Por que aparece outra vez o riso na
definição se nela já lhe coubera o lugar de purgante das afecções?
7
Aristotle On Comedy : towards a reconstruction of Poetics II, 1984, pp. 22-41
8
Cf. pg.1
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6
III. h( trag%di/a u(faireiÍ ta fobera paqh/mata thÍj yuxhÍj di”
oiÃktou kai de/ouj: [kai oÃti] summetri/a qe/lei eÃxein touÍ fo/bou:
eÃxei de mhte/ra thn lu/phn.
A Tragédia afasta as afecções da alma relativas ao medo por meio de
compaixão e terror, e [que] almeja estabelecer uma proporção do medo; tem
como mãe a dor.
Este outro fragmento do tratado é bastante interessante, sobretudo se comparado
com o fragmento IV, que acabamos de ver. É uma consideração sobre a catarse na tragédia
no sentido de explicitar ou interpretar a função e a relação das paixões envolvidas. Diz
quais paixões são afastadas – as relativas ao medo; quais são usadas para o processo – a
compaixão e o terror; e também o objetivo da catarse – alcançar um comedimento do medo.
Por último, encontramos o mesmo apêndice sobre a mãe que aparece no fragmento IV.
Aqui, porém, o sentido da “dor como mãe” parece menos obscuro, pelo menos coerente
com a passagem da Retórica 1378a19-22: eÃsti de ta pa/qh di' oÀsa metaba/llontej
diafe/rousi proj taj kri¿seij oiâj eÀpetai lu/ph kaiì h(donh/, . “As afecções são as
causas que fazem alterar os seres humanos e introduzem mudanças nos seus juízos, na
medida em que elas comportam dor e prazer [...]” A dor (como também o prazer) é a mãe,
no sentido de ser responsável pela comoção trágica e pelo desencadeamento do seu
processo catártico. Talvez a metáfora da mãe tenha ainda em vista a relação compassiva do
espectador com a cena e os atores, como a mãe que sente como sua a dor dos seus filhos. Se
voltarmos a comparar este fragmento III com o IV, reparamos que aquele enfim comporta
tanto um paralelismo com a definição de tragédia, quanto elementos de explicitação do
processo catártico, e assim como faltam partes simétricas àquela, também podemos supor
que haveria mais elementos simétricos a este. Podemos supor até que houve uma certa
confusão dos elementos no fragmento III, pois seria mais coerente dizer que na comédia a
mãe é o prazer (ou o prazer do riso), assim como o objetivo da catarse cômica poderia ser
afastar as paixões orgásticas do ressentimento por meio do riso e do seu prazer contagioso,
para alcançar um comedimento do ridículo. Mas esta é apenas uma conjectura para tornar
coerente uma gama de discursos que não têm nenhum compromisso autoral de coerência
interna (sequer podemos dizer que são da mesma época, quanto mais do mesmo autor).
Tentamos apenas seguir o que, para nós, pode clarificar-se com os próprios
fenômenos da comédia e do risível. Mas os fenômenos cômicos eles mesmos nos
autorizariam a tratá-los assim em simetria com a tragédia?
Seria interessante e talvez bastante instrutivo pensar simetricamente os processos
relativos à comédia e à tragédia, pelo menos no tocante aos seus afetos mais manifestos: o
terror e o riso. É o que nos convida a fazer o terceiro fragmento que selecionamos do
Tratado Coisliniano, o de número XI:
IX. summetri/a touÍ fo/bou qe/lei eiÃnai e)n tai=j trag%di/aij kai
touÍ geloi/ou e)n tai=j kwm%di/aij
Deve haver uma proporção do terror nas tragédias e do riso nas comédias.
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A condução última do problema deve ultrapassar os aspectos filológicos e de
hermenêutica dos textos do corpus filosófico aristotélico, seguindo todavia os passos de
suas próprias indicações. As relações e correspondências entre a tragédia e a comédia, bem
como entre as diversas afecções e suas purgações também precisam ser aclaradas à luz dos
próprios fenômenos que são os espetáculos trágicos e cômicos, de um lado e, de outro, as
afecções que, sendo humanas, são sempre nossas. Os muitos enigmas dos textos servem
para provocar a reflexão sobre problemas que efetivamente nos tocam a todos. Problemas
que não concernem apenas a História da Filosofia, mas também nossa reflexão Estética e
Humana contemporânea.
Aqui apresentei as cartas do problema, ainda muito embaralhadas, resta encontrar
uma ordem coerente com o próprio fenômeno da comédia, do riso e de suas conseqüências
patéticas para os espectadores. Isso fica para outra ocasião.
Referências Bibliográficas:
ARISTÓTELES, De Arte Poetica Liber. Oxford: Clarendonian press, 1965, 1982 (Ed. Kassel)
Poética. São Paulo: Abril Cultural, 1973 (Ed. E. Souza)
On Comedy, [texto, tr., com.] Londres, Duckworth, 1984 (Ed. R. Janko)
De arte poetica líber. ed. 3, Leipzig 1885 (ed. 1 = 1867, ed. 2 = 1874), Hildesheim, 1964 (Ed.
Vahlen)
Poética de Aristóteles. Ed. trilíngüe [texto, tr., com.] Madrid, Gredos,1974 (Ed.V. G. Yebra)
Política. [texto, tr.] Lisboa, Vega, 1998 (Ed. A.C. Amaral & C.C.Gomes)
Ars Rhetorica. Oxford: Clarendonian press, 1989 (Ed. Ross)
BURNET, J., Platonis Opera, Oxford, 1900
HEIDEGGER Martin., Sein und Zeit, Tübingen, 1986 [Ser e tempo. Petrópolis, Editora Vozes, 1988, ed. M. S.
Cavalcanti]
NIETZSCHE, F., Werke, München: Deutscher Taschenbuch, 1988. [O Nascimento da Tragédia, São Paulo, Cia
das Letras, 1992, ed. J. Guinsbourg]