Os probiotocos estão na "moda" por múltiplos motivos, mas será que são realmente úteis? Será que todas as situações beneficiam realmente da toma de probióticos?
2. Sabia que?
O termo probiótico deriva do Grego e traduz-se para “pró-vida”
Já utilizamos probióticos na Medicina há mais de 100 anos! O primeiro
probiótico (a bactéria E. coli Nissle 1917) foi utilizada em 1917!
O trato gastrointestinal normal alberga mais de 500 diferentes espécies de
bactérias e um conjunto de vírus (viroma) ainda mal investigados. Esta microbiota
funciona como um verdadeiro biorreactor, facilitando a digestão, o fabrico de
vários nutrientes e estimulando/moldando o nosso sistema imunitário.
A investigação crescente na microbiota intestinal e do seu papel em múltiplas
patologias (não exclusivamente do foro da gastrenterologia) tem levantado a
possibilidade de controlar algumas doenças com a alteração da flora intestinal.
3. O que são probióticos?
São microrganismos vivos que conferem um benefício à saúde do hospedeiro,
numa certa quantidade.
São considerados suplementos alimentares e, por isso, são de venda livre.
Esta situação tem vantagens (acesso fácil pela população) mas também tem a
desvantagem de não ter protocolos de estudo ou de vigilância tão restritos como
os medicamentos propriamente ditos.
4. Os probióticos actuam por vários
mecanismos diferentes?
O mecanismo de funcionamento da maioria dos probióticos é difícil de
elucidar, mas na sua globalidade, têm as seguintes funções:
Suprimem o crescimento e adesão/invasão de bactérias patogénicas
Melhoram a barreira epitelial intestinal
Conseguem modular o nosso sistema imunitário
Conseguem modular a perceção da dor
5. Os probióticos são todos iguais por isso
é indiferente qual se toma?
Um dos pontos chave que as pessoas (e os médicos) têm que compreender é
que nem todos os probióticos são iguais
Nem todos devem ser usados para tratar qualquer doença gastrointestinal.
Há particularidades de alguns probióticos que os fazem atuar melhor que outros em
doenças específicas.
6. Há doenças que podem beneficiar com
a toma de probióticos?
É verdade, especialmente nas seguintes patologias:
Gastroenterites infeciosas: está provado que a toma de probióticos encurta a duração dos sintomas
(especialmente probióticos com a bactéria Lactobacillus rhamnosus GG).
Colite ulcerosa e “bolsite” (inflamação depois da formação duma bolsa no reto após cirurgia ao
intestino grosso): especialmente para esta segunda doença, há já provas muito convincentes que um
probiótico específico (VSL#3) consegue controlar a inflamação associada a estas doenças. O
mecanismo pelo qual isto acontece é ainda largamente desconhecido.
Síndrome do Intestino Irritável: apesar de alguma controvérsia, vários probióticos parecem ter
benefício no controlo de alguns sintomas, nomeadamente distensão abdominal e consistência das
fezes.
Diarreia associada aos antibióticos/Colite por C. difficile: cerca de 20% dos doentes que tomam
um antibiótico vão ter alguma forma de diarreia associada à toma dos mesmos. A utilização de um
probiótico diminui a probabilidade de se ter esta complicação.
Tratamento do Helicobacter pylori: vários estudos demonstraram um aumento da erradicação
quando se associava um probiótico, provavelmente por melhor tolerância ao tratamento (menos
diarreia associada aos antibióticos).
CONTUDO múltiplas outras doenças estudadas como a Doença de Crohn, diverticulose cólica,
enteropatia por AINEs, pancreatite, encefalopatia hepática entre muitas outras, nunca
demonstraram beneficiar da toma de probióticos.
7. Vale a pena fazer um probiótico
sempre que se toma um antibiótico?
Provavelmente não!
Apesar de diminuir a probabilidade de diarreia associada aos antibióticos, apenas
20% das pessoas têm este efeito lateral, o que implica que podemos estar a
imputar um gasto desnecessário às pessoas sem qualquer benefício.
Contudo, há sempre que ponderar a sua toma (especialmente em doentes de maior
risco), uma vez que são suplementos inócuos na sua grande maioria, com
potenciais benefícios.
8. Quais são as tendências futuras no
campo dos probióticos?
Ainda temos muito a aprender sobre a correta utilização dos probióticos!
A crescente investigação na área da microbiota intestinal e da sua relação com múltiplas
doenças lançou um foco sobre a possível utilização terapêutica dos probióticos, mas este
entusiasmo ultrapassou largamente o conhecimento que ainda temos sobre este assunto.
Ainda há muitas questões por resolver, tais como:
Qual a dose, duração e estirpe de probiótico mais adequada a que doenças?
Há o risco de disbiose (alteração permanente da flora intestinal do doente)?
Temos que ter melhores estudos nesta área, com os mesmos protocolos que se utilizam para os
fármacos!
A microbiota intestinal muda com a idade: será que deveríamos utilizar probióticos diferentes
para diferentes faixas etárias?
Mas este é um campo entusiasmante na Medicina em geral e na Gastrenterologia em
particular!
No futuro saberemos melhor como alterar a nossa microbiota de forma a melhorar/tratar
várias doenças e é natural que os probióticos tenham um papel fundamental nesse aspeto.