1) O documento descreve um estudo sobre o crescimento e biologia reprodutiva do peixe Astyanax bimaculatus em um sistema de recirculação de água pequeno.
2) Os autores coletaram dados biométricos de A. bimaculatus e observaram que as fêmeas são estatisticamente maiores e mais pesadas do que os machos.
3) Eles concluíram que o sistema de recirculação de água pode ser uma opção viável para a produção de A. bimaculatus, tendo obtido c
REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228 - Artigo_Bioterra_V24_...
Artigo_Bioterra_V23_N2_10
1. REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228
Volume 23 - Número 2 - 2º Semestre 2023
PEIXE NA CAIXA: CRESCIMENTO FINAL E BIOLOGIA REPRODUTIVA DE Astyanax
bimaculatus (LINNAEUS, 1758) NUM PEQUENO SISTEMA DE RECIRCULAÇÃO DE
ÁGUA
José Marcos dos Santos Souza1
; Francimário da Silva Feitosa²; Artur Henrique Freitas Florentino de Souza³
RESUMO
A piaba-do-rabo-amarelo Astyanax bimaculatus pertence à família Characiade e são peixes de pequeno porte.
Aespécie está amplamente distribuída por toda região Neotropical, funcionando como forrageiro para diversos
peixes predadores e por isso vem sendo utilizada na piscicultura como alimento vivo. Embora tenha sido
tratada por muito tempo como peixe de valor econômico baixo, estudos recentes apontam que essa espécie
aceita alimentação artificial com muita facilidade, dando-lhe um bom potencial para aquicultura. Utilizamos o
método ‘Sistema de Recirculação Aquícola’ (do inglês ‘RAS’) para engorda de juvenis de piaba-do-amarelo,
consistindo numa caixa de água de 1m³ e tambores para filtragem e bombeamento da água para sua circulação
contínua. Também foram coletados dados morfológicos para análise populacional. O resultado obtido pela
comparação de médias mostrou que, estatisticamente, as fêmeas são mais pesadas e maiores do que os machos
para todas as variáveis biométricas analisadas. Concluímos que o sistema de criação de peixes com RAS pode
ser uma opção para incremento na produção, já que essa espécie vem sendo também oferecida como petisco
em bares e restaurantes. A. bimaculatus possui bom potencial para a piscicultura, obtivemos aproximadamente
600 gramas em um período final de 4 meses, o que possibilitaria a obtenção de 1,8 kg/m3
referente à 3 períodos
de engorda por ano de um produto diferenciado e que certamente pode ter um bom valor agregado.
Palavras-chave: Desempenho produtivo, Engorda, Piaba-do-rabo-amarelo, RAS, Semiárido.
FISH IN THE BOX: FINAL GROWTH AND REPRODUCTIVE BIOLOGY OF Astyanax
bimaculatus (LINNAEUS, 1758) IN A SMALL WATER RECIRCULATION SYSTEM
ABSTRACT
The Yellow-tailed Piaba Astyanax bimaculatus belongs to the Characiade family and are small fish. The
species is widely distributed throughout the Neotropical region, functioning as a forage for several predatory
fish and therefore has been used in fish farming as live food. Although it has been treated for a long time as a
fish of low economic value, recent studies indicate that this species accepts artificial feeding very easily, giving
it a good potential for aquaculture. We used the ‘Recirculation System Aquiculture’ (RAS) method for
fattening yellow piaba juveniles, consisting of a 1m³ water tank and 50 L plastic reservoir for filtering and
pumping the water for continuous circulation. Morphological data were collected for population analysis. The
results collected through the tests showed that females are statistically heavier and larger than males in all
observed biometric variables. We conclude that the system of rearing fish with RAS can be an option to
increase production, since this species has also been offered as a tidbit in bars and restaurants. A. bimaculatus
has good potential for fish farming, we obtained approximately 600 grams in a final period of 4 months, which
would make it possible to obtain 1.8 kg/m3 referring to 3 fattening periods per year of a differentiated product
that certainly can have good added value.
Keywords: Caatinga, Productive performance, Fattening, Yellow-tailed Piaba, RAS, Semi-arid.
102
2. 1. INTRODUÇÃO
Os peixes são os animais mais
abundantes e menos conhecidos dentre todos os
vertebrados (SCHUMACHER, 2001). Já foram
identificadas cerca de 22.000 espécies, sendo
que a cada ano são descritas cerca de 100 novas
espécies, o que evidencia um número real de
espécies bastante superior aos atualmente
conhecidos (GERALDES, 1999).
De acordo com estimativas mais
recentes existem aproximadamente 34.200
espécies de peixes descritas no mundo
(BOTERO et al. 2021), das quais 2.500 foram
confirmadas para os sistemas de água doce
brasileiros (REIS ET AL. 2003).
A atividade produtiva se divide em
diferentes modalidades, sendo que a criação de
peixes recebe o nome de piscicultura
(SCHULTER; FILHO, 2017). Na piscicultura,
a qualidade e a quantidade dos juvenis
disponíveis são pontos de extrema importância,
já que se necessita de uma alta taxa de
sobrevivência e de capacidade de crescimento
para que se tenha sucesso na produção (BOCK;
PADOVANI, 2000).
Popularmente conhecida como piaba-do-
rabo-amarelo, Astyanax bimaculatus foi descrita
por Linnaeus em 1758 e é uma espécie de peixe
da ordem Characiformes amplamente distribuída
na região Neotropical (GARUTTI, 2003).
O gênero Astyanax (BAIRD; GIRARD,
1854) é composto por peixes de pequeno porte,
até 200 mm, e são facilmente encontrados nas
bacias hidrográficas neotropicais (GARUTTI,
1999). Os representantes desse gênero são
bastante conhecidos por possuírem um ciclo
reprodutivo curto e crescimento rápido,
geralmente levando três messes para atingir o
tamanho máximo; já a maturidade sexual ocorre
por volta dos quatro meses de idade
(CARNEIRO, 2019).
A piaba-do-rabo-amarelo possui elevada
produtividade em cultivo intensivo (PORTO-
FORESTI, 2005). Essas características
possibilitaram a utilização desse peixe na
piscicultura intensiva, pois dados apontam que
alguns manejos permitem produzir cerca de 100
t/ha por ano, com o início de cultivo em qualquer
época (GARUTTI, 2003).
Outro fator relevante é o fato das técnicas
de criação e produção dessa espécie serem
extremamente simples, podendo o seu manejo ser
adotado por qualquer pessoa com pouca
experiência na área.
De acordo com Sussel (2012) estimativas
apontam que aproximadamente 30 milhões de
indivíduos sejam produzidos por ano. Desde o
início desse século esse pequeno peixe vem
sendo cada vez mais apreciado principalmente
como petisco em bares e restaurantes
(GARUTTI, 2003). Devido a essa demanda,
existem diversos estudos tocados por
pesquisadores interessados na produção,
principalmente em criadouros ecológicos
sustentáveis que visam regular a exploração
desses peixes.
Atualmente, na seção de congelados de
qualquer estabelecimento comercial localizados
próximo às áreas de produção (Sudeste) é
possível encontrar piabas-do-rabo-amarelo à
venda, embaladas em pequenos pacotes de 1000
gramas.
Diante das informações disponíveis na
literatura e observando o contexto para a espécie
no ecossistema Caatinga, surgiu a necessidade de
avaliar um sistema de criação de peixes para
locais pequenos e com pouca disponibilidade de
água e que pudesse ser vantajoso para a criação
da piaba-do-rabo-amarelo.
O modelo de criação escolhido para o
experimento foi o Sistema de Recirculação
Aquícola (RAS, sigla em inglês), que permite ao
produtor tratar e reutilizar a água continuamente
e proporcionando a produção de peixes com
reuso total ou parcial da água, o que diminui
drasticamente a quantidade de água utilizada em
um ciclo produtivo. Dessa forma, os peixes são
criados em tanques e o ambiente é totalmente
controlado o que permite uma alta densidade de
estocagem (OWATARI, 2016).
Ao voltarmos os olhares para a biologia
de A. bimaculatus num contexto da região
Semiárida, também surge a necessidade de se
verificar aspectos populacionais importantes
como a proporção sexual desses indivíduos na
natureza, sazonalidade reprodutiva e
ecomorfologia (BOTELHO, 2016).
Estudos que levantam essas
características podem se constituir como
subsídio para o estudo de outros aspectos como
avaliação temporal do potencial reprodutivo e,
3. atrelado a isso, estimativas do tamanho dos
estoques populacionais (VAZZOLER, 1996).
Tendo em vista a realidade ambiental da
região de São Raimundo Nonato, a presente
pesquisa objetivou fortalecer o conhecimento
sobre a biologia de A. bimaculatus além de
experimentar o ciclo produtivo dessa espécie
num pequeno sistema de recirculação de água,
conforme metodologia a seguir.
2. MATERIAS E METÓDOS
2.1 Local do experimento
A presente pesquisa foi conduzida na
Universidade Federal do Vale do São Francisco
no campus Serra da Capivara, na cidade de São
Raimundo Nonato, localizada no Sul do Piauí, no
período de 15 de março a 30 de setembro de
2021.
Nesse período foram realizadas
biometrias para verificar características
morfológicas de A. bimaculatus.
2.2 Local de coleta e espécie de peixe utilizada
Os exemplares da piaba-do-rabo-amarelo
A. bimaculatus foram coletados em dois trechos
do rio Piauí, localizado no município de São
Raimundo Nonato – PI, nos povoados Fechadão
e Lagoa dos Torrões (Figura 1 e 2).
Como no primeiro ponto de coleta a
quantidade de indivíduos capturados foi baixa,
houve a necessidade de se partir para o segundo
ponto de coleta. A autorização de coleta foi
concedida pelo Instituto Chico Mendes de
Conservação da Biodiversidade (ICMBio)
através de documento nº 78164. O apetrecho
utilizado para a captura dos exemplares foi a rede
de arrasto de praia.
Figura 1. Local de coleta para a obtenção de A.
bimaculatus no município de São Raimundo Nonato-PI:
(A) Localidade ‘Fechadão’; (B) Localidade ‘Lagoa dos
Torrões’. Fonte: produzida pelos autores (2021).
Foram coletados 210 indivíduos, 60 deles
utilizados para a verificação da morfologia
externa e proporção sexual, e os demais 150
utilizados para a avaliação do ganho de peso em
condições intensivas de criação.
2.3 Montagem do sistema de cultivo
Um sistema de criação e produção de
peixes do tipo “Sistema de Recirculação
Aquícola (RAS)” foi montado no Campus Serra
da Capivara (Figura 2).
O RAS se configura como uma
alternativa aos sistemas de produção
convencionais que utilizam uma demanda alta de
água para seu funcionamento. A principal
vantagem é economia de água, visto que água
circula várias vezes sendo filtrada antes de
retornar ao tanque de criação.
Figura 2. Sistema de cultivo do tipo Sistema de
Recirculação Aquícola (RAS) de A. bimaculatus montado
para o experimento - UNIVASF Campus Serra da
Capivara.
4. No interior da caixa está localizado o
Overflow (Figura 3A) um mecanismo que
funciona como um aspirador, onde todos os
dejetos presentes na água como restos de ração e
fezes são sugados do fundo da caixa e levados
para o próximo componente do sistema que é o
Decantador (Figura 3B).
O decantador tem como o próprio nome a
descrição da sua função, que é reter os
sedimentos mais pesados e decantar no fundo
para que os sedimentos mais pesados decantem e
a água mais limpa saia por cima para o próximo
componente do sistema que é o Biofiltro (Figura
3C).
O biofiltro (filtração biológica) é a peça
chave desse sistema, pois ele fornece abrigo as
bactérias que realizam o processo de nitrificação
(conversão de amônia em nitritos e nitratos).
Para a construção do biofiltro foi
utilizado um tambor e no seu interior as seguintes
mídias biológicas: brita, telha, tijolos e uma
manta sintética.Após passar pelo Biofiltro a água
já limpa é direcionada por gravidade para o
próximo e último componente do sistema, o
Sump (Figura 3D).
Esse reservatório é responsável por
armazenar a água limpa para bombeamento, por
isso nesse componente se encontra a bomba de
água conectada a um temporizador configurado
para fazer com que durante todo o dia a bomba
permaneça 15 minutos ligada e 15 minutos
desligada. Totalizando assim durante o dia 12
horas de recirculação da água no sistema.
Figura 3 - Componentes do sistema de cultivo do tipo
Sistema de Recirculação Aquícola (RAS) de A.
bimaculatus. (A) Overflow; (B) decantador; (C) biofiltro;
(D) Sump. Fonte: produzida pelos autores (2021).
2.4 Ração e manejo alimentar
Durante o período de experimento os
peixes foram alimentados duas vezes ao dia (8:00
e 17:00 horas). Foi utilizado a ração granulada (8
mm) para engorda contendo 28% de proteína
bruta de acordo com o fabricante. A ração foi
triturada para facilitar o consumo pelos peixes,
sendo ofertado diariamente 10% da biomassa
total dos peixes. Após 4 meses de experimento o
ganho de peso foi avaliado.
2.5 Coleta de dados morfométricos
Utilizando um paquímetro de precisão de
0,02 mm 60 exemplares de A. bimaculatus foram
submetidos a 10 medidas morfométricas segundo
Fink; Weitzman (1974) e com modificações; são
elas: 1-Comprimento padrão (CP); 2-Altura do
corpo (AC); 3-Comprimento da cabeça (CC); 4-
Altura da cabeça (AltCab); 5-Distância pré-
dorsal (DPD); 6-Distância pré- ventral (DPV); 7-
Distância entre as nadadeiras pélvica e a anal
(DPA); 8-Altura do pedúnculo caudal (AltPedC);
9-Comprimento da base da nadadeira dorsal
(BaseD); 10- Comprimento da base da nadadeira
anal (BaseA).
Por fim a massa do corpo em gramas foi
aferida, utilizou-se uma balança digital semi-
analítica com precisão de 0,1g.
2.6 Identificação do sexo
Para o reconhecimento do sexo dos
peixes coletados foi necessário dissecar os
indivíduos para observação das gônadas (Figura
5). Utilizando tesoura de ponta fina e lâminas de
bisturi foi feito uma incisão da cavidade
celomática pela abertura uro-genital, em direção
à cabeça, de modo a não atingir e danificar os
órgãos internos.
Ao todo 60 exemplares de A. bimaculatus
tiveram seu sexo identificado.
5. Figura 4 – Dissecação dos espécimes de A. bimaculatus
coletados para o reconhecimento do sexo. (A) incisão feita
a partir da cavidade celomática pela abertura uro-genita;
(B) Gônada de um indivíduo em estágio avançado de
maturação. Fonte: produzida pelos autores (2021).
2.7 Análise dos dados
Após a aferição das 10 variáveis
biométricas, os dados foram tabulados no
programa Excel e em seguida submetidas às
análises estatísticas utilizando o programa
estatístico PAST, onde foram calculados a
proporção sexual e o teste de comparação de
médias.
O teste do qui-quadrado (χ²) foi aplicado
com o propósito de testar as possíveis diferenças
na proporção sexual estabelecida. Para verificar
a diferença no tamanho entre machos e fêmeas
provenientes do local estudado, foi utilizado o
Teste t-student com nível de significância menor
ou igual a 5%.
O desempenho das piabas-do-rabo-
amarelo foi avaliado de acordo com os seguintes
parâmetros: Peso final (g); ganho em peso (g) =
peso final (g) - peso inicial (g).
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados obtidos pelo teste de
comparação de médias (Teste t) mostraram que
as fêmeas são mais pesadas e maiores do que os
machos para todas as variáveis biométricas
analisadas (TABELAS 1 e 2).
Tabela 1 - Médias e desvio padrão de biometrias de
machos e fêmea e teste t-student para a variável analisada.
*p-valor foi < 0.0001 para toda a variável biométrica de
pesos analisadas. Fonte: Dados da pesquisa.
Tabela 2 - Médias e desvio padrão das biometrias de
machos e fêmea e teste t-student para cada uma das
variáveis analisadas.
*p-valor foi < 0.05 para todas as variáveis biométricas
analisadas. Fonte: Dados da pesquisa.
Ao comparar as médias morfométricas
pode-se observar que as fêmeas são
estatisticamente maiores que os machos em todas
as variáveis analisadas. Nos trabalhos realizados
por Navarro et al. (2006) os dados obtidos ao
estudar a espécie A. scabripinnis se mostram
bastante similares ao encontrado nesse trabalho
com a espécie A. bimaculatus.
Os dados obtidos na presente pesquisa
também se assemelham muito aos encontrados
por Galvão (2011) que, ao analisar 14 variáveis
biométricas entre machos e fêmeas de A.
bimaculatus em dois açudes, verificou que as
fêmeas são maiores que os machos para todas as
variáveis biométricas analisadas.
Após jejum de 24 horas do final do
experimento, os peixes foram pesados. Sendo
assim o ganho de peso foi obtido pela diferença
de peso entre o peso final e inicial (Tabela 5).
Tabela 3 - Avaliação do ganho de peso após o experimento.
Fonte: dados da Pesquisa.
6. Com esses resultados, as piabas-do-rabo-
amarelo (Figura 5) apresentaram uma taxa de
sobrevivência de 85% dos peixes ao final da
engorda, utilizando-se a densidade de 150
peixes/m3
.
Figura 5 - Piaba-do-rabo-amarelo após crescimento final
no Sistema de Recirculação Aquícola (RAS). Fonte:
produzida pelos autores (2021).
Essa densidade baixa permitiu a obtenção
de aproximadamente 600 gramas em um período
final de 4 meses, o que possibilitaria a obtenção
de 1,8 kg/m3
referente à realização de 3 períodos
de engorda por ano.
Esses resultados se assemelham muito
aos encontrados por Porto-Foresti (2001) ao
demonstrar que o cultivo da piaba-de-rabo-
amarelo em tanques escavados permitiu a
obtenção de 1,8 a 2,4 quilos/m2, referente à
realização de 3 a 4 períodos de reprodução e
engorda por ano, com uma média de 21 toneladas
por hectare/ano.
Foi possível identificar um claro
dimorfismo sexual, onde as fêmeas foram
maiores e apresentavam corpo mais arredondado;
além disso a grande maioria dos machos
apresentava a nadadeira anal áspera ao toque.
Portanto se torna uma boa fonte para a
identificação do sexo do indivíduo, as análises da
presença desse dimorfismo sexual corroboram
com os estudos de Porto-Foresti et al. (2005).
Após a identificação do sexo dos
indivíduos de A. bimaculatus pela análise das
gônadas e do dimorfismo sexual presente, houve
uma predominância de fêmeas (n=33; 55%)
sobre os machos (n=27; 45%). A proporção
sexual foi de 1M:1,3F não apresentando
diferença significativa ao nível de 5% 2
= 0,417)
(tabela 4).
Tabela 4 - Avaliação do ganho de peso após o experimento.
Fonte: Dados da Pesquisa.
Ao analisar estudos sobre peixes é
possível observar quase sempre uma proporção
sexual de 1:1 para a população como um todo
(VAZZOLER, 1996). No entanto em análises
detalhadas alterações na proporção podem ser
observadas, o que pode indicar o predomínio de
machos ou fêmeas em diferentes classes de
comprimento ou em épocas distintas do estudo
(VAZZOLER, 1996).
De acordo com os estudos de Nikolski
(1969) entre os fatores que poderiam influenciar
na razão sexual, a competição por suprimento
alimentar da população pode ser considerada
como fator importante, em ambientes aquáticos
oligotróficos há predominância de machos e as
fêmeas predominam quando o alimento
disponível é abundante.
É necessário levar em conta que os peixes
utilizados no experimento foram fixados em
álcool (70%) ocasionando uma redução de sua
massa original. Entretanto, foi analisada a
relação entre a massa e o comprimento padrão
para machos e fêmeas sendo o coeficiente de
correlação uma medida de dependência linear
entre duas variáveis.
De acordo com os estudos de Galvão
(2011) essa relação massa-comprimento possui
grande aplicação nos estudos da dinâmica
populacional de peixes e fornecem informações
biológicas em análises quantitativas de
populações naturais.
Os resultados das análises de regressão
linear mostraram que há uma relação
(dependência) positiva entre o comprimento
padrão e a massa para ambos os sexos (Figura 7).
7. Figura 1 - Regressão linear da relação comprimento
padrão e peso em A. bimaculatus em fêmeas (A) e em
machos (B). Fonte: Dados da pesquisa.
Ao interpretar a Figura 7 foi possível
observar que os coeficientes de relação (r²)
diferem entre os sexos, (fêmeas r²= 0.93, machos
r²= 0.82), ficando claro que a relação peso-
comprimento é maior para as fêmeas. Dessa
forma a relação entre peso-comprimento é uma
importante ferramenta nos estudos de biologia e
ecologia de peixes, fornecendo informações
sobre seu peso e biomassa, permitindo
comparações entre o crescimento de diferentes
espécies ou populações diferentes de uma mesma
espécie, tanto em ambiente natural como em
cativeiro.
Além disso, é um indicador quantitativo
do bem-estar do peixe, avaliado pelo fator de
condição, que é obtido a partir dessa relação
(GOMERO; BRAGA, 2003; LEMOS et al.,
2006).
Isso demonstra que o cultivo da piaba-de-
rabo-amarelo em condições de alta densidade de
estocagem pode resultar na melhoria da
produção.
Porto-Foresti (2001) conclui que ao
levarmos em conta a sua fácil reprodução, a boa
taxa de sobrevivência das larvas e alevinos, o
rápido crescimento e o hábito alimentar onívoro,
a engorda de piabas-do-rabo-amarelo, tanto para
a produção de iscas vivas ou para o
processamento, pode ser considerada uma boa
opção de negócio. Portanto os resultados são
bastante promissores por se tratar de um pequeno
sistema de cultivo com recirculação.
4. CONCLUSÕES
Ao comparar os indivíduos machos e
fêmeas de A. bimaculatus os resultados obtidos
mostraram que a proporção sexual não difere
significativamente entre machos e fêmeas, apesar
de momentaneamente as fêmeas estarem em
maior número. Os resultados colhidos através
dos testes mostraram que as fêmeas são
estatisticamente mais pesadas e maiores que os
machos em todas as variáveis biométricas
observadas.
Apesar de ser um peixe de pequeno porte,
a piaba-do-rabo-amarelo mostrou ter um bom
potencial para piscicultura em sistema de
recirculação. Visto que é um peixe resistente para
esse tive de cultivo e que atinge crescimento
máximo rápido. No entanto o presente estudo
evidencia que para se ter uma produção por
período ainda mais vantajoso é necessário
utilizar uma maior densidade de estocagem por
metro cúbico.
Concluímos que os sistemas de
recirculação aquícola (RAS) é de fato uma ótima
opção para o produtor rural que está à procura de
novas opções de criação e que a piaba-do-rabo-
amarelo se adapta bem ao sistema sendo ali
promissor o seu cultivo.
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2012. Tese de Doutorado. Universidade de São
Paulo.
VAZZOLER, A.E.A.M. Biologia da
reprodução de peixes teleósteos: teoria e
prática. Maringá: Eduem, v. 169, 1996.
1. Colegiado de Ciências da Natureza,
Universidade Federal do Vale do São Francisco -
UNIVASF, Campus Serra da
Capivara, Rua João Ferreira dos Santos s/n,
Bairro Campestre, CEP 64770-000, São
Raimundo Nonato, PI, Brasil; e-mail:
josemarcos.souza@discente.univasf.edu.br
2. Colegiado de Ciências da Natureza,
Universidade Federal do Vale do São Francisco -
UNIVASF, Campus Serra da
Capivara, Rua João Ferreira dos Santos s/n,
Bairro Campestre, CEP 64770-000, São
Raimundo Nonato, PI, Brasil; e-mail:
francimario.feitosa@univasf.edu.br ORCID:
https://orcid.org/0000-0002-8463-3707
3. Prof. do Departamento de Sistemática e
Ecologia, Universidade Federal da Paraíba -
UFPB, Cidade Universitária I,
900, CEP 58059-900, João Pessoa, PB, Brasil; e-
mail: ahffs@ccen.ufpb.br ORCID:
https://orcid.org/0000-0002-9069-
7950
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