O Papa Francisco fez um apelo à paz durante uma missa em Assis, explicando que a paz cristã passa pelo amor de Cristo na cruz e não é um sentimento superficial. Ele criticou os "cristãos de pastelaria" que escolhem apenas os aspectos agradáveis do cristianismo sem abraçar a cruz, e defendeu que a Igreja deve dar atenção aos mais necessitados.
1. O Papa deixou um apelo à paz, durante a homilia da
missa campal a que presidiu, hoje, em Assis, fazendo
questão de explicar de que conceito de paz deve falar
um cristão.
Lembrando o ensinamento de São Francisco, segundo
o qual “quem segue a Cristo recebe a verdadeira paz,
a paz que só Ele, e não o mundo, nos pode dar”, Fran-
cisco sublinhou que “na ideia de muitos, São Francisco
aparece associado com a paz, e isso está certo, mas
poucos vão em profundidade”.
“Qual é a paz que Francisco acolheu e viveu, e que nos
transmite?”, questionou o Papa, apontando, de segui-
da, a resposta: “A paz de Cristo, que passou através do
maior amor, o da Cruz.”
“A paz franciscana não é um sentimento piegas. Por
favor, este São Francisco não existe”, advertiu o Papa,
esclarecendo, depois, que “a paz de São Francisco é
a de Cristo e encontra-a quem ‘toma sobre si’ o seu
‘jugo’, isto é, o seu mandamento: ‘Amai-vos uns aos
outros, como Eu vos amei’. E este jugo não se pode
levar com arrogância, presunção, orgulho, mas apenas
com mansidão e humildade de coração”.
“Cristãos de pastelaria”
Já antes da eucaristia, na Basílica de Assis, construída
no local onde São Francisco começou o seu ministério,
despojando-se dos seus bens materiais, o Papa recor-
reu a palavras muito duras para criticar aqueles que se
dizem cristãos sem quererem abraçar a cruz que acom-
panha sempre essa fé.
O Papa foi recebido pelos frades franciscanos, impe-
dindo-os de se ajoelharem para lhe beijar o anel pon-
tifício. Nas suas primeiras palavras naquele espaço,
deixou de lado, como começa a ser hábito, o discurso
preparado e ergueu a voz contra aqueles que querem
agarrar-se apenas às coisas boas do Cristianismo.
“Esta é uma boa ocasião para fazer um convite à Igreja
a despojar-se. Mas a Igreja somos todos nós. Todos so-
mos Igreja. E, se nós queremos ser cristãos, não há ou-
tro caminho. Não podemos fazer um cristianismo mais
humano, por assim dizer, sem a cruz, sem Jesus, sem
despojamento”, disse Francisco, na mesma sala em que
São Francisco se despojou dos seus bens materiais.
Quem não o faz, continuou, arrisca-se a ser um “cris-
tão de pastelaria”, que escolhe apenas a parte mais
doce. “Aí, tornámo-nos ‘cristãos de pastelaria’, como
bonitos bolos, bonitos doces, mas não cristãos verda-
deiros”, sublinhou.
O Papa voltou ainda a criticar a tentação da mundani-
dade, algo que considera incompatível com a missão da
Igreja, ao ponto de ter dito mesmo que a mundanidade
é o “cancro da Igreja”.
Pôr no centro das atenções quem mais precisa
Na sua primeira intervenção do dia, feita à chegada a
Assis, o Papa lembrou que o mundo não pode ignorar o
quadro de dificuldades em que muitos vivem.
Antes de se dirigir aos milhares de fiéis que o espe-
ravam, Francisco passou por um grupo de crianças e
jovens com necessidades especiais, alguns deficientes
profundos. Deixou de lado o discurso que tinha pre-
parado, sobre a cultura do descartável que se opõe à
cultura do acolhimento, para destacar o exemplo de
Cristo e lembrar a necessidade de atender as contrarie-
dades que persistem no dia-a-dia de muitos.
“Nós estamos entre as chagas de Jesus. Estas chagas
precisam de ser consideradas e reconhecidas. Mas é
interessante: Jesus, quando ressuscitou, era belíssimo,
não tinha no seu corpo nem marcas nem feridas, nada.
Era belo. Só que quis conservar as chagas e levou-as
para o céu. As chagas de Jesus estão aqui e estão no
céu, diante do Pai”, afirmou o Papa.
Cerca de cem mil fiéis e mais de um milhar de jor-
nalistas – números inéditos, mesmo com João Paulo
II – estiveram na localidade do santo, onde Francisco
cumpre um programa intenso, com visitas a todos os lo-
cais onde Giovanni di Pietro di Bernardone (1182-1226)
orou e pregou.
Francisco fez-se acompanhar pelos oito cardeais que o
aconselham na reforma da Cúria. (ver caixa)
RELIGIÃO
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Papa em Assis
Apelo à paz e crítica aos“cristãos de pastelaria”
PÁG.
r/com renascença comunicação multimédia, 2013
A Cúria Romana vai ter uma nova
constituição, incluindo a figura de
um eventual moderador, e a secre-
taria de Estado do Vaticano vai ser
restruturada.
Estas são algumas das novidades que
saem da reunião do conselho de car-
deais, nomeado pelo Papa Francisco
para o ajudar no governo da Igreja e
na reforma da Cúria.
A constituição “Pastor Bonus”, que
até agora regulava a Cúria Romana,
tem os dias contados. O conselho,
que esteve reunido entre terça-feira
e ontem, à porta fechada, com Fran-
cisco, decidiu-se por uma nova cons-
tituição apostólica.
Segundo explicações do porta-voz da
Santa Sé, Padre Frederico Lombardi,
a intenção do novo texto é pôr em
relevo a natureza de serviço da Cúria
universal para com as Igrejas locais,
numa pespectiva de subsidiariedade
e não de modo centralizador.
Lombardi afirmou ser neste contexto
que se devem enquadrar as futuras
funções e o papel da Secretaria de
Estado, que deverá ser uma espécie
de “secretaria do Papa” .
Estas reflexões são também extensi-
vas às funções do novo secretário de
Estado já nomeado pelo Papa, Mon-
senhor Parolin, que toma posse a 15
de Outubro.
Em discussão nestes dias esteve tam-
bém a nomeação de um eventual
“moderador da cúria”, uma nova fi-
gura de coordenação que faça a pon-
te entre os vários departamentos,
comissões e congregações do governo
do Vaticano.
O papel dos leigos na Igreja e o do
sínodo dos bispos estão também na
agenda de trabalhos do conselho de
cardeais, mas são temas para apro-
fundar na próxima reunião, que po-
derá ocorrer nos primeiros meses de
2014.
Cúria Romana vai ter uma nova constituição
Aura Miguel