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Carlos Drummond de Andrade
Memória Amar o perdido deixa confundido este coração. Nada pode o olvido contra o sem sentido apelo do Não. As coisas tangíveis tornam-se insensíveis à palma da mão Mas as coisas findas muito mais que lindas, essas ficarão. Carlos Drummond de Andrade
Aurora   O poeta ia bêbedo no bonde. O dia nascia atrás dos quintais. As pensões alegres dormiam tristíssimas. As casas também iam bêbedas. Tudo era irreparável. Ninguém sabia que o mundo ia acabar (apenas uma criança percebeu mas ficou calada), que o mundo ia acabar às 7 e 45. Últimos pensamentos! últimos telegramas! José, que colocava pronomes, Helena, que amava os homens, Sebastião, que se arruinava, Artur, que não dizia nada, embarcam para a eternidade. O poeta está bêbedo, mas escuta um apelo na aurora: Vamos todos dançar entre o bonde e a árvore? Entre o bonde e a árvore dançai, meus irmãos! Embora sem música dançai, meus irmãos! Os filhos estão nascendo com tamanha espontaneidade. Como é maravilhoso o amor (o amor e outros produtos). Dançai, meus irmãos! A morte virá depois como um sacramento. Carlos Drummond de Andrade
Em face dos últimos acontecimentos   Oh! sejamos pornográficos (docemente pornográficos). Por que seremos mais castos que o nosso avô português? Oh! sejamos navegantes, bandeirantes e guerreiros sejamos tudo que quiserem, sobretudo pornográficos. A tarde pode ser triste e as mulheres podem doer como dói um soco no olho (pornográficos, pornográficos). Teus amigos estão sorrindo de tua última resolução. Pensavam que o suicídio fosse a última resolução. Não compreendem, coitados, que o melhor é ser pornográfico. Propõe isso ao teu vizinho, ao condutor do teu bonde, a todas as criaturas que são inúteis e existem, propõe ao homem de óculos e à mulher da trouxa de roupa. Dize a todos: Meus irmãos, não quereis ser pornográficos? Carlos Drummond de Andrade
No corpo feminino, esse retiro   No corpo feminino, esse retiro - a doce bunda - é ainda o que prefiro. A ela, meu mais íntimo suspiro, pois tanto mais a apalpo quanto a miro. Que tanto mais a quero, se me firo em unhas protestantes, e respiro a brisa dos planetas, no seu giro lento, violento... Então, se ponho e tiro a mão em concha - a mão, sábio papiro, iluminando o gozo, qual lampiro, ou se, dessedentado, já me estiro, me penso, me restauro, me confiro, o sentimento da morte eis que o adquiro: de rola, a bunda torna-se vampiro. Carlos Drummond de Andrade
Jorge de lima
Anjo daltônico Tempo da infância, cinza de borralho, tempo esfumado sobre vila e rio e tumba e cal e coisas que eu não valho, cobre isso tudo em que me denuncio. Há também essa face que sumiu e o espelho triste e o rei desse baralho. Ponho as cartas na mesa. Jogo frio. Veste esse rei um manto de espantalho. Era daltônico o anjo que o coseu, e se era anjo, senhores, não se sabe, que muita coisa a um anjo se assemelha. Esses trapos azuis, olhai, sou eu. Se vós não os vedes, culpa não me cabe de andar vestido em túnica vermelha. Jorge de lima
ALTA NOITE QUANDO ESCREVEIS                  À senhora Heitor Usai   Alta noite, quando escreveis um poema qualquer  sem sentirdes o que escreveis,  olhai vossa mão — que vossa mão não vos pertence mais;  olhai como parece uma asa que viesse de longe.  Olhai a luz que de momento a momento  sai entre os seus dedos recurvos.  Olhai a Grande Mão que sobre ela se abate  e a faz deslizar sobre o papel estreito,  com o clamor silencioso da sabedoria,  com a suavidade do Céu  ou com a dureza do Inferno!  Se não credes, tocai com a outra mão inativa  as chagas da Mão que escreve.  Jorge de lima
A TRISTEZA ERA TANTA, TANTA A MÁGOA.. .   A tristeza era tanta, tanta a mágoa  que seu anjo da guarda resolvera  lutar com ele, lutar para lutar,  que o interesse da vida perecera.    Ave e serpente, círculo e pirâmide,  os olhos em fuzil e os doces olhos,  os laços, os vôos livres e as escamas.      Que doida simetria nesses ódios!  Que forças transcendentes aros e ângulos  alguém quis que lutassem nesse dia!    Ave e serpente, círculo e pirâmide:    Que divina constante simetria  nessa luta soturna, nessa liça  em que Deus reconstrói o eterno cisne! Jorge de lima
Murilo Mendes
O homem, a luta e a eternidade Adivinho nos planos da consciência dois arcanjos lutando com esferas e pensamentos mundo de planetas em fogo vertigem desequilíbrio de forças, matéria em convulsão ardendo pra se definir. Ó alma que não conhece todas as suas possibilidades, o mundo ainda é pequeno pra te encher. Abala as colunas da realidade, desperta os ritmos que estão dormindo. À guerra! Olha os arcanjos se esfacelando! Um dia a morte devolverá meu corpo, minha cabeça devolverá meus pensamentos ruins meus olhos verão a luz da perfeição e não haverá mais tempo. Murilo Mendes
METADE PÁSSARO  A mulher do fim do mundo Dá de comer às roseiras, Dá de beber às estátuas, Dá de sonhar aos poetas. A mulher do fim do mundo Chama a luz com um assobio, Faz a virgem virar pedra, Cura a tempestade, Desvia o curso dos sonhos, Escreve cartas ao rio, Me puxa do sono eterno Para os seus braços que cantam.  Murilo Mendes
ANTI-ELEGIA Nº 1  O dia e a noite são ligados pelo prazer E pelas ondas do ar A vida e a morte são ligadas pelas flores E pelos túneis futuros Deus e o demônio são ligados pelo homem.  Murilo Mendes

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  • 2. Memória Amar o perdido deixa confundido este coração. Nada pode o olvido contra o sem sentido apelo do Não. As coisas tangíveis tornam-se insensíveis à palma da mão Mas as coisas findas muito mais que lindas, essas ficarão. Carlos Drummond de Andrade
  • 3. Aurora O poeta ia bêbedo no bonde. O dia nascia atrás dos quintais. As pensões alegres dormiam tristíssimas. As casas também iam bêbedas. Tudo era irreparável. Ninguém sabia que o mundo ia acabar (apenas uma criança percebeu mas ficou calada), que o mundo ia acabar às 7 e 45. Últimos pensamentos! últimos telegramas! José, que colocava pronomes, Helena, que amava os homens, Sebastião, que se arruinava, Artur, que não dizia nada, embarcam para a eternidade. O poeta está bêbedo, mas escuta um apelo na aurora: Vamos todos dançar entre o bonde e a árvore? Entre o bonde e a árvore dançai, meus irmãos! Embora sem música dançai, meus irmãos! Os filhos estão nascendo com tamanha espontaneidade. Como é maravilhoso o amor (o amor e outros produtos). Dançai, meus irmãos! A morte virá depois como um sacramento. Carlos Drummond de Andrade
  • 4. Em face dos últimos acontecimentos Oh! sejamos pornográficos (docemente pornográficos). Por que seremos mais castos que o nosso avô português? Oh! sejamos navegantes, bandeirantes e guerreiros sejamos tudo que quiserem, sobretudo pornográficos. A tarde pode ser triste e as mulheres podem doer como dói um soco no olho (pornográficos, pornográficos). Teus amigos estão sorrindo de tua última resolução. Pensavam que o suicídio fosse a última resolução. Não compreendem, coitados, que o melhor é ser pornográfico. Propõe isso ao teu vizinho, ao condutor do teu bonde, a todas as criaturas que são inúteis e existem, propõe ao homem de óculos e à mulher da trouxa de roupa. Dize a todos: Meus irmãos, não quereis ser pornográficos? Carlos Drummond de Andrade
  • 5. No corpo feminino, esse retiro No corpo feminino, esse retiro - a doce bunda - é ainda o que prefiro. A ela, meu mais íntimo suspiro, pois tanto mais a apalpo quanto a miro. Que tanto mais a quero, se me firo em unhas protestantes, e respiro a brisa dos planetas, no seu giro lento, violento... Então, se ponho e tiro a mão em concha - a mão, sábio papiro, iluminando o gozo, qual lampiro, ou se, dessedentado, já me estiro, me penso, me restauro, me confiro, o sentimento da morte eis que o adquiro: de rola, a bunda torna-se vampiro. Carlos Drummond de Andrade
  • 7. Anjo daltônico Tempo da infância, cinza de borralho, tempo esfumado sobre vila e rio e tumba e cal e coisas que eu não valho, cobre isso tudo em que me denuncio. Há também essa face que sumiu e o espelho triste e o rei desse baralho. Ponho as cartas na mesa. Jogo frio. Veste esse rei um manto de espantalho. Era daltônico o anjo que o coseu, e se era anjo, senhores, não se sabe, que muita coisa a um anjo se assemelha. Esses trapos azuis, olhai, sou eu. Se vós não os vedes, culpa não me cabe de andar vestido em túnica vermelha. Jorge de lima
  • 8. ALTA NOITE QUANDO ESCREVEIS                 À senhora Heitor Usai   Alta noite, quando escreveis um poema qualquer sem sentirdes o que escreveis, olhai vossa mão — que vossa mão não vos pertence mais; olhai como parece uma asa que viesse de longe. Olhai a luz que de momento a momento sai entre os seus dedos recurvos. Olhai a Grande Mão que sobre ela se abate e a faz deslizar sobre o papel estreito, com o clamor silencioso da sabedoria, com a suavidade do Céu ou com a dureza do Inferno! Se não credes, tocai com a outra mão inativa as chagas da Mão que escreve. Jorge de lima
  • 9. A TRISTEZA ERA TANTA, TANTA A MÁGOA.. .   A tristeza era tanta, tanta a mágoa que seu anjo da guarda resolvera lutar com ele, lutar para lutar, que o interesse da vida perecera.   Ave e serpente, círculo e pirâmide, os olhos em fuzil e os doces olhos, os laços, os vôos livres e as escamas.     Que doida simetria nesses ódios! Que forças transcendentes aros e ângulos alguém quis que lutassem nesse dia!   Ave e serpente, círculo e pirâmide:   Que divina constante simetria nessa luta soturna, nessa liça em que Deus reconstrói o eterno cisne! Jorge de lima
  • 11. O homem, a luta e a eternidade Adivinho nos planos da consciência dois arcanjos lutando com esferas e pensamentos mundo de planetas em fogo vertigem desequilíbrio de forças, matéria em convulsão ardendo pra se definir. Ó alma que não conhece todas as suas possibilidades, o mundo ainda é pequeno pra te encher. Abala as colunas da realidade, desperta os ritmos que estão dormindo. À guerra! Olha os arcanjos se esfacelando! Um dia a morte devolverá meu corpo, minha cabeça devolverá meus pensamentos ruins meus olhos verão a luz da perfeição e não haverá mais tempo. Murilo Mendes
  • 12. METADE PÁSSARO A mulher do fim do mundo Dá de comer às roseiras, Dá de beber às estátuas, Dá de sonhar aos poetas. A mulher do fim do mundo Chama a luz com um assobio, Faz a virgem virar pedra, Cura a tempestade, Desvia o curso dos sonhos, Escreve cartas ao rio, Me puxa do sono eterno Para os seus braços que cantam. Murilo Mendes
  • 13. ANTI-ELEGIA Nº 1 O dia e a noite são ligados pelo prazer E pelas ondas do ar A vida e a morte são ligadas pelas flores E pelos túneis futuros Deus e o demônio são ligados pelo homem. Murilo Mendes