SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 206
• O Mestre dos Mestre
• O Mestre da Sensibilidade
• O Mestre da Vida
• O Mestre do Amor
• O Mestre Inesquecível
Augusto Cury: Preparação – Nelson Mendes
www.palestras.diversas.com.br
www.movpelavida.com.br
mendesbnelson@gmail.com
mendes.nelson@hotmail.com
Antes de entramos no trabalho
propriamente dito, vejamos alguns detalhes
da vida do menino Jesus, afim de
podermos avaliar o verdadeiro
temperamento, as virtudes e os contrastes
com os demais garotos de sua época, vou
passar um quadro de algumas minúcias de
sua vida, e que servirá para o mais claro
entendimento de nossa parte.
. Era absolutamente imune às ofensas e aos insultos alheios;
. Extremamente sincero em suas amizades;
. Ele não diferenciava nenhum companheiro;
. Segundo os relatos da história, Não traia, Não intrigava, Não
zombava e nem humilhava;
. Contasse que na época do menino Jesus ninguém o viu usar
qualquer meio para ferir um pássaro, destruir um réptil, inseto
ou batráquio;
. Era comum Jesus ccurvar-se para o solo para colher o verme
repelente na folha do vegetal, pondo-o fora do alcance das pisaduras
humanas;
. Sob o espanto dos próprios adultos, ele deliciava-se com a carreira
de formigas supercarregadas de partículas de alimentos ou folhas
tenras;e,
. Com os retalhos de madeira da carpintaria de José, construía túneis
para livrá-las de serem esmagadas pelas criaturas que ali cruzassem os
caminhos.
Certa vez, Maria e José mortificavam-se dolorosamente, ao encontrar
Jesus conversando animadamente com as aves e os animais, que, em
verdade, pareciam entendê-lo. Advertia, censurava e aconselhava patos,
cães, marrecos, galinhas, cordeiros e cabritos, apontando-lhes as
imprudências e os perigos do mundo... Curtiu noites de insônia, depois
que viu, estarrecido, os bois tombarem um atrás do outro pela goela
vomitando sangue e feridos mortalmente pela lança dos magarefes.
Mesmo depois de adulto, ele custava a se dominar diante dos quadros
lúgubres do Templo de Jerusalém, onde os sacerdotes ofereciam a Jeová
respingados pelo sangue dos animais e das aves inocentes.
Em conseqüência, Jesus não era um menino mórbido, excêntrico ou
propriamente rebelde; porém, manifestava uma linha de conduta Angélica
prematura entre os demais seres, e por isso semeava constrangimentos
nos hipócritas, atemorizava os cruéis, que o censuravam, zombando das
suas comiserações pelos insetos, vermes ou répteis.
Podemos dizer que o Menino Jesus era um ser angélico, uma flor
radiosa dos céus a vicejar na água poluída do mundo humano,
sofrendo a opressão da carne que lhe servia de instrumento
imprescindível para cumprir sua missão heróica, em favor do próprio
homem que o hostilizava. As trevas vigiavam-no incessantemente
para desfechar o ataque perigoso à sua delicadíssima rede
neurocerebral, a fim de lesá-lo no contato sadio com a matéria, e
isto só era impedido graças aos seus fiéis amigos desencarnados.
Jamais alguém, no Espaço ou na Terra, poderia ofender ou lesar a
contextura espiritual de Jesus, tal a sua integridade sideral, mas
não seria impossível atingir o seu espirito carnal.
- Certa vez o Pai pergunta a Jesus! Qual é o motivo de tua
aflição e desse sofrer constante?
- Jesus responde, Tu não podes compreender a minha aflição,
porque eu vivo a vontade de meu Pai que está nos céus e só Ele
sabe o motivo de minhas preocupações! Mas ainda não descobri
para onde o Pai me guia os passos! Sofro muito pela espera!
- Mas, o que alimentas em tua alma, que te faz tão diferente
dos demais jovens?
- Jesus reponde: Nenhuma flor, nem o ouro, nem o calor da
paixão humana aceleram o meu coração ou encantam minha alma!
Vivo somente o anseio de clarear o caminho dessa pobre
humanidade, que está mergulhada num charco de misérias que são
a sua própria infelicidade.
- O Pai pergunta: Mas que pode fazer um homem
como tu, para transformar os sentimentos dos outros
homens, e modificar os costumes da humanidade?
- O Menino Jesus responde: Que importância é viver,
se, para contentar os desejos insaciáveis do meu
corpo, preciso esmagar os anseios da minha alma? Que
sentido tem a vida, quando consumida entre os
prazeres medíocres e transitórios da carne na
implacável caminhada para o túmulo?
- Meu filho! Essa é a razão da vida humana e deve
ser da vontade do próprio Jeová que ela assim seja!
Resposta: Pai! O boi, o carneiro, o cabrito e o
camelo? Apenas dormem, digerem, procriam,
atendendo às suas necessidades físicas! O seu mundo
é produto dos instintos que os impelem para a
satisfação da sua via animal. Tu pensas; Eu penso.
Existimos além de nossos sentidos físicos. Muito além
dos fenômenos transitórios do corpo. Em nossos
próprios ombros, Jeová colocou o arbítrio de
optarmos pelos ideais superiores da alma ou nos
escravizarmos aos tesouros, aos bens que as traças
comem, a ferrugem rói e os ladrões roubam.
Entendes, Pai?
- O Pai responde: Temo por ti meu filho!
- A Resposta de do menino: Jamais alguém se perde
no seio de meu Pai, que está nos céus! Quem der sua
vida pelo amor de Jeová, ganha-la-á para toda a
eternidade! Eu não me pertenço; mas é a vontade de
meu Pai que age em mim e me guia! Quem me deu a
vida tira-la-á assim que lhe aprouver. Que cumpra
em mim a vontade de meu Pai!
Pela Páscoa do ano 12, tendo atingido idade legal, que lhe
permitia certa independência, Jesus, pela primeira vez,
acompanhou sua família na peregrinação de costume, no mês do
Nizan. (Março. Eis os meses do calendário hebreu, na mesma
ordem do nosso: Shebat - Adar - Nizan -Zif- Sivan - Tammuz
- Ab - Elul - Tishri - Bul - Kislev - Tebeth).
Nessa época, de todos os pontos da Palestina e de países
vizinhos, anuíam à Capital judaica caravanas inumeráveis de
peregrinos que se reuniam segundo as procedências, interesses,
amizades, laços de família, etc. Ao passar uma caravana por
determinado lugar, iam-se-lhe agregando todos aqueles que o
desejassem, após o devido entendimento com o guia que a
comandava.
A caminho de Nazaré a Jerusalém, após a cidade
de Siquém, tornava-se perigosa por causa dos
bandos de malfeitores romanos, herodianos e
mesmo judeus, que infestavam os ermos. Além
disso, Siquém ficava na Samaria, região detestada
e proibida. Por isso todos viajavam em bandos ou
caravanas que possuíam guardas armados para
defender os viajantes e preteriam esta rota mais
extensa, porém mais segura, com 140 quilômetros,
passando sucessivamente por Scytopolis, Sebaste,
Antipatris e Nicopolis.
Por esta rota, ao terceiro dia, os peregrinos
atingiam a Capital, passando, ao chegar, pela via
das rochas vermelhas que chamavam de Caminho de
Sangue. Por fim subiam ao Monte das Oliveiras, do
cimo do qual avistavam as cúpulas douradas do
Grande Templo. Agitavam então palmas, arrancadas
do arvoredo rasteiro e entoavam o "Cântico dos
Degraus", de Davi: "Hallel! Hallel! Haleluia! Nossos
passos se detêm às tuas portas, oh! Jerusalém!".
Esse canto bem representava a alegria intensa da
chegada.
Em Jerusalém, os pais de Jesus se hospedavam em
casa de Lia, parente de Maria, onde também se
juntavam outros parentes e conhecidos, tomando
conta dos cômodos interiores e dos pátios.
Foi nestas condições, diz o Evangelho, "que ao
regressar a caravana, no primeiro pouso (Beeroth,
a 15 quilômetros da cidade), deram pela falta do
menino e voltaram à cidade para procurá-lo
Eles pensavam que estava com seus outros
parentes. Depois de procurar por três dias,
encontraram o menino no templo, escutando e
fazendo perguntas aos mestres da lei. Seus pais
lhe repreenderam por não se preocupar com eles
mas ele respondeu que estava na casa de seu Pai.
Então Jesus foi para casa com seus pais (Lucas
2:41-50).
Lucas 3:23 diz que Jesus tinha cerca
de 30 anos quando começou seu
ministério. A Bíblia não nos diz sua idade
exata. Entre os judeus, aos 30 anos um
homem era considerado maduro e podia
ser mestre (professor) e ter discípulos
(alunos). Se Jesus tivesse começado seu
ministério antes dos 30, provavelmente
não seria tão respeitado por ser muito
jovem.
Cristo possuía uma personalidade difícil de ser
estudada. Suas reações intelectuais e emocionais
eram tão surpreendentes e incomuns que
ultrapassavam os limites da previsibilidade psicológica.
Apesar das dificuldades, é possível viajarmos por
algumas avenidas fundamentais do pensamento de
Cristo e compreendermos algumas áreas importantes
da sua inteligência.
Jesus é um enigma para a ciência em diversas áreas
Quem foi Jesus Cristo? A idéia é realizar uma análise psicológica
da inteligência de Cristo, não podemos responder plenamente quem
ele foi. Tal pergunta entra na esfera da fé, uma esfera que
ultrapassa os limites da investigação científica, que transcende a
ciência da interpretação. A ciência se cala quando a fé se inicia.
A fé transcende a lógica, é uma convicção em que há ausência de
dúvida. A ciência sobrevive da dúvida. Quanto maior for a dúvida,
maior poderá ser a dimensão da resposta. Sem a arte da dúvida,
a ciência não tem como sobreviver e expandir a sua produção de
conhecimento.
É difícil encontrar alguém capaz de nos
surpreender com as características de sua
personalidade, capaz de nos convidar a nos
interiorizar e repensar nossa história. Alguém que
diante dos seus focos de tensão, contrariedades e
dores emocionais tenha atitudes sofisticadas e
seja capaz de produzir pensamentos e emoções
que fujam do padrão trivial. Alguém tão
interessante que seja capaz de perturbar nossos
conceitos e paradigmas existenciais.
Cristo tinha plena consciência do que fazia. Tinha
metas e prioridades bem estabelecidas. Era seguro
e determinado, ao mesmo tempo flexível,
extremamente atencioso e educado. Tinha grande
paciência para educar, mas não era um mestre
passivo, e sim provocador. Ele despertava a sede
de conhecimento nos seus íntimos. Informava pouco,
porém educava muito. Era econômico no falar,
dizendo muito com poucas palavras. Era ousadíssimo
em expressar seus pensamentos, embora vivesse
numa época em que imperava o autoritarismo.
Cristo gostava de conviver com as pessoas
sem qualquer valor social. Era o exemplo
vivo de uma pessoa avessa a todo tipo de
discriminação. Ninguém, por mais imoral e
defeitos que tivesse, era indigno de se
relacionar com ele. Ele se doava sem
esperar nada em troca. JESUS SABIA
OUVIR.
Cristo discorria sobre a fé. Falava da necessidade de crer sem
duvidar, de uma crença plena, completa, sem insegurança.
Falava da fé como um misterioso processo de interiorização,
como uma trajetória de vida clandestina. Discorria sobre a fé
como um viver que transcende o mundo material, que extrapola o
sistema sensorial e que cria raízes no âmago do espírito humano.
A ciência não tem como investigar o que é essa fé, pois ela tem
raízes no cerne da experiência pessoal, portanto não se torna
um objeto de estudo investigável. Todavia, apesar de Cristo
falar da fé como um processo de existência transcendental, ele
não anulava a arte de pensar; pelo contrário, era um mestre
excepcional nessa arte. Cristo não discorria sobre uma fé sem
inteligência.
Para ele, primeiro deveria se exercer a capacidade de pensar e
refletir antes de crer, depois vinha o crer sem duvidar. Se
estudarmos os quatro evangelhos e investigarmos a maneira
como Cristo reagia e expressava seus pensamentos,
constataremos que pensar com liberdade e consciência era uma
obra-prima para ele.
Um dos maiores problemas enfrentados por Cristo era o
cárcere intelectual em que as pessoas viviam, ou seja, a rigidez
intelectual com que elas pensavam e compreendiam a si mesmas
e ao mundo que as envolviam. Por isso, apesar de falar da fé
como ausência da dúvida, ele também era um mestre
sofisticado no uso da arte da dúvida. Ele a usava para abrir as
janelas da inteligência das pessoas que o circundavam.
Quem é Cristo? Ele é o filho de Deus? Ele tem natureza
divina? Ele é o autor da existência? Como ele se antecipava ao
tempo e previa fatos ainda não acontecidos, tais como a
traição de Judas e a negação de Pedro? Como realizava os
atos sobrenaturais que deixavam as pessoas extasiadas? Como
multiplicou alguns pães e peixes e saciou a fome de milhares
de pessoas? Ele multiplicou a matéria, moléculas ou usou
qualquer outro fenômeno?
A ciência não pode dar essas respostas sobre Cristo e nem
outras tantas, pois essas perguntas entram na esfera da fé.
Como disse, quando começa a fé, que é íntima e pessoal de
cada ser humano, e que, portanto, deve ser respeitada, a
ciência se cala. Cristo continuará, em muitas áreas, um
grande enigma para a ciência.
As quatro biografias de Cristo: ele foi um personagem real
ou imaginário?
Cristo tem quatro biografias que são chamadas de
evangelhos: o evangelho de Mateus, de Marcos, de Lucas e
de João. Marcos e Lucas não pertenciam aos doze
discípulos. Eles escreveram sobre Cristo baseados num
processo de investigação de pessoas que conviveram
intimamente com ele. As biografias de Cristo não são
biografias no sentido clássico, como as que conhecemos
hoje. Porém, como os evangelhos retratam a sua história,
podemos dizer que eles representam a sua biografia.
O que chama a atenção nas biografias de Cristo são seus
comportamentos incomuns, seus gestos que extrapolam os
conceitos, sua capacidade de considerar a dor de cada
ser humano mesmo diante da sua própria dor. As suas
idéias eram tão surpreendentes que não têm precedente
histórico. Até os seus momentos de silêncio tinham
grande significado. As diversas passagens, expressas em
suas quatro biografias, possuem tantos segredos
intelectuais que muitas não foram compreendidas nem
pelos seus próprios autores na época em que as
escreveram.
É difícil encontrar alguém capaz de nos surpreender com as
características de sua personalidade, capaz de nos convidar a nos
interiorizar e repensar nossa história. Alguém que diante dos seus
focos de tensão, contrariedades e dores emocionais tenha atitudes
sofisticadas e seja capaz de produzir pensamentos e emoções que
fujam do padrão trivial. Alguém tão interessante que seja capaz de
perturbar nossos conceitos e paradigmas existenciais.
Cristo tinha plena consciência do que fazia. Tinha metas e prioridades
bem estabelecidas. Era seguro e determinado, ao mesmo tempo flexível,
extremamente atencioso e educado. Tinha grande paciência para educar,
mas não era um mestre passivo, e sim provocador. Ele despertava a
sede de conhecimento nos seus íntimos. Informava pouco, porém educava
muito. Era econômico no falar, dizendo muito com poucas palavras. Era
ousadíssimo em expressar seus pensamentos, embora vivesse numa época
em que imperava o autoritarismo.
O carpinteiro de Nazaré viveu no anonimato a maior parte de
sua existência, porém, quando se manifestou, revolucionou o
pensamento e viver humanos. Seu projeto era insidioso. Ele
expressava que primeiro o interior, ou seja, o mundo dos
pensamentos e das emoções deviam ser transformados, caso
contrário a mudança exterior não teria estabilidade, não
passaria de mera maquiagem social. Para Cristo, a mudança
exterior, dos amplos aspectos sociais, era uma conseqüência
da transformação interior.
Cristo gostava de conviver com as pessoas sem qualquer valor
social. Era o exemplo vivo de uma pessoa avessa a todo tipo
de discriminação. Ninguém, por mais imoral e defeitos que
tivesse, era indigno de se relacionar com ele. Ele se doava
sem esperar nada em troca.
O conhecimento e as misérias psicossociais
Será que Jesus tinha conhecimento sobre este assunto?
R: Claro que tinha.
E nós temos?
Nós sabemos hoje que milhões de pessoas conseguem definir as partículas
dos átomos que nunca viram, mas não conseguem compreender que a cor da
pele branca ou negra, tão perceptível aos olhos, não serve de parâmetro
para distinguir duas pessoas da mesma espécie que possuem o mesmo
espetáculo da construção de pensamentos. Somos, a cada geração, uma
espécie mais feliz, humanista, solidária, complacente, tolerante e menos
doente psiquicamente? Infelizmente não!
O conhecimento abriu novas e impensáveis perspectivas. As
escolas se multiplicaram. As informações nunca foram tão
democratizadas, tão acessíveis. Estamos na era da educação
virtual. Milhões de pessoas cursarão universidades dentro de
suas próprias casas.
Porém, onde estão os pensadores que deixam de ser
espectadores passivos e se tornam agentes modificadores da
sua história existencial e social?
Onde estão os engenheiros de idéias criativas, capazes de superar
as ditaduras do preconceito e dos focos de tensão?
Onde estão os humanistas, que não objetivam que o mundo
gravite em torno de si, que superam a paranóia do
individualismo, que transcendem a paranóia da competição
predatória e sabem se doar socialmente?
Onde estão os poetas da inteligência que desenvolveram a
arte de pensar?
O homem nunca usou tanto a ciência. Entretanto, nunca
desconfiou tanto dela. Ele sabe que a ciência não resolveu
os problemas básicos da humanidade. Qual a conseqüência
disto? É que a forte corrente do ateísmo que se iniciou
no século XIX e que perdurou durante boa parte do XX
foi rompida. A ciência, como disse, tanto progredia
quanto prometia muito. O homem, sob os alicerces da
ciência, ganhou status de deus, pois acreditava ser capaz
de extirpar completamente as suas próprias misérias.
Hoje queira ou não o homem vêm, percebendo as misérias
psicossociais ao seu redor e observando as notícias de
cunho negativo saltitando todos os dias nas manchetes
dos jornais, o homem moderno começou a procurar por
Deus. Ele, que não acreditava em nada, passou a crer em
tudo. Ele, que era tão cético, passou agora a ser tão
crédulo. É respeitável todo tipo de crença, porém é
igualmente respeitável exercer o direito de pensar antes
de crer, crer com maturidade e consciência crítica. O
direito de pensar com consciência crítica é nobilíssimo.
A ciência e a complexidade da inteligência de
Cristo
A ciência foi tímida e omissa em pesquisar algumas
áreas importantíssimas do conhecimento. Uma
delas se relaciona aos limites entre a psique e o
cérebro. Temos viajado pelo imenso espaço e
penetrado nas entranhas do pequeno átomo, mas a
natureza intrínseca da energia psíquica, que nos
torna seres que pensam e sentem emoções,
permanece um enigma.
Outra atitude tímida e omissa que a ciência cometeu ao
longo dos séculos está ligada à investigação do
personagem principal, Cristo. A ciência o considerou
complexo demais. Sim, ele o é, mas ela foi tímida em
pesquisar a inteligência dele. Será que aquele que dividiu
a história da humanidade não merecia ser mais bem
investigado? Ela o considerou inatingível, distante de
qualquer análise. Deixou esta tarefa apenas para ser
realizada na esfera teológica.
Há pelo menos duas maneiras de uma pessoa ser
deixada de lado: quando é considerada sem
nenhum valor ou quando, na outra ponta, é tão
valorizada que se torna inatingível. Cristo foi
rejeitado por diversos “intelectuais” de sua
época, pois foi considerado um perturbador da
ordem social e religiosa. Hoje, ao contrário, é
tão valorizado que muitos o consideram
intocável, distante de qualquer investigação.
Todavia, podemos afirmar que, ele gostava de
ser investigado com inteligência.
A omissão e a timidez da ciência fizeram com
que Cristo fosse banido das discussões
acadêmicas, não sendo estudado ou investigado
nas salas de aulas. Sua complexa inteligência
não é objeto de pesquisa nas teses de pós-
graduação das universidades. Embora a
inteligência de Cristo possua princípios
intelectuais sofisticados, capazes de estimular o
processo de interiorização e o desenvolvimento
das funções mais importantes da inteligência,
ele realmente foi banido dos currículos
escolares.
É muito raro alguém comentar que a inteligência
de Cristo era perturbadora, que ele rompia o
cárcere intelectual das pessoas, que abria as
janelas da mente delas. Ele foi, sem dúvida, um
exemplo vivo de mansidão e humildade,
entretanto ninguém comenta que era insuperável
na arte de pensar.
Algumas ferramentas usadas para investigar a
inteligência de Cristo
O mestre dos mestres da escola da existência foi banido da
escola clássica. Centenas de milhões de pessoas o admiram
profundamente, todavia uma minoria estuda os detalhes da sua
inteligência. Grande parte delas não tem idéia de como ele
desejava causar uma transformação psicossocial do interior para
o exterior do homem, uma transformação que a ciência
prometeu nas entrelinhas do seu desenvolvimento e não cumpriu.
Antes de estudar a inteligência de Cristo, vamos aos próximos
textos para expor alguns mecanismos básicos da construção da
inteligência humana. Vamos fazer uma pequena síntese sobre a
construção dos pensamentos, e os papéis da memória e a
ditadura do preconceito.
A inteligência do carpinteiro de Nazaré era tão impressionante que
ele discursava sobre temas que só seriam abordados pela ciência
dezenove séculos depois, com o surgimento da psiquiatria e da
psicologia. Ele se adiantou no tempo e discorreu sobre a mais
insidiosa das doenças psíquicas, a ansiedade. A ansiedade estanca
o prazer de viver, fomenta a irritabilidade, estimula a angústia e
gera um universo de doenças psicossomáticas.
A medicina, queriam e continuam estudando os órgãos do corpo
humano e suas doenças, mas ainda por parte desprezam o
funcionamento da mente.
Todavia, nestas últimas décadas, a medicina tem deixado sua
postura orgulhosa, tem procurado estudar e tratar o ser humano
integral — organismo e psique (alma) —, pois tem percebido que
muitas doenças cardiovasculares, pulmonares, gastrintestinais etc.
têm como causa desencadeante os transtornos psíquicos, dos quais
se destaca a ansiedade.
Quanto mais conquistamos bens materiais, mais queremos
tê-los. Parece que não há limites para a nossa
insegurança e insatisfação. Valorizamos mais “TER” do
que “SER”, ou seja, mais ter bens do que ser tranqüilo,
alegre, coerente. Esta inversão de valores cultiva a
ansiedade e seus frutos: insegurança, medo, apreensão,
irritabilidade, insatisfação, angústia (tensão emocional
associada a um aperto no tórax). A insegurança é uma
das principais manifestações da ansiedade. Fazemos
seguros de vida, da casa, do carro, mas, ainda assim,
não resolvemos nossa insegurança.
Cristo tinha razão: Há uma ansiedade inerente ao homem,
ligada à construção de pensamentos, influenciada pela
carga genética, por fatores psíquicos e sociais. Só não
tem essa ansiedade quem está morto. Somos a espécie que
possui o maior de todos os espetáculos, o da construção
de pensamentos. Todavia, muitas vezes usamos o
pensamento contra nós mesmos, para gerar uma vida
ansiosa. Os problemas ainda não ocorreram, mas já
estamos angustiados por eles. O registro de Mateus diz:
“Não andeis ansiosos pelo dia de amanhã... Basta ao dia o
seu próprio mal”.
Muitos de nós vivemos o paradoxo da liberdade utópica. Por fora,
somos livres porque vivemos em sociedades democráticas, mas por
dentro somos prisioneiros, escravos das idéias de conteúdo negativo, e
dramáticas que antecipam o futuro. Há diversas pessoas que estão
ótimas de saúde, mas vivem miseravelmente pensando em câncer,
infarto, acidentes, perdas.
Governamos o mundo exterior, mas temos enorme dificuldade para
gerenciar nosso mundo interno, o dos pensamentos e das emoções.
Somos subjugados por necessidades que nunca foram prioritárias,
subjugados pelas paranóias do mundo moderno: do consumismo, da
estética, da segurança. Assim, a vida humana, que deveria ser um
espetáculo de prazer, torna-se um espetáculo de terror, de medo, de
ansiedade. Nunca tivemos tantos sintomas psicossomáticos: cefaléias,
dores musculares, fadiga excessiva, sono perturbado, transtornos
alimentares (ex.: bulimia e anorexia nervosa) etc. Uma parte
significativa dos adolescentes americanos tem problemas de obesidade,
e a ansiedade é uma das principais causas desse transtorno.
A maior fonte de entretenimento humano não é a TV, o
esporte, a literatura, a sexualidade, o trabalho. A
resposta está dentro do próprio homem. É o mundo das
idéias, dos pensamentos, que o ser humano constrói
clandestinamente em sua própria mente, e que gera os
sonhos, os planos, as aspirações.
Quem consegue interromper a construção de pensamentos?
É impossível. A própria tentativa de interrupção já é um
pensamento. Pensamos durante os sonhos, quando estamos
trabalhando, andando, dirigindo.
As idéias representam um conjunto organizado de cadeias de
pensamentos. O fluxo das idéias que transitam a cada momento
no palco de nossas inteligências não pode ser contido. Todos
somos viajantes no mundo das idéias: viajamos para o passado,
reconstruindo experiências já vividas; viajamos para o futuro,
imaginando situações ainda inexistentes; viajamos também para
os problemas existenciais.
Os juízes viajam nos seus pensamentos enquanto julgam os réus.
Os psicoterapeutas viajam enquanto atendem seus pacientes. Os
cientistas viajam enquanto pesquisam. As crianças viajam nas suas
fantasias. Os adultos, nas suas preocupações. Os idosos, nas
suas recordações.
Uns constroem projetos e outros, castelos inatingíveis. Uns
viajam menos em seus pensamentos, outros viajam muito,
concentrando pouco em suas tarefas. Essas pessoas pensam que
têm déficit de memória, mas, na verdade, possuem apenas déficit
de concentração devido à hiperprodução de pensamentos.
Cristo tanto prevenia a ansiedade como discursava sobre o prazer
de viver. Dizia: “ Olhai os lírios dos campos”. Ele queria produzir
um homem alegre, inteligente, mas simples. Entretanto, tanto
seus discípulos como nós não sabemos contemplar os lírios dos
campos, ou seja, não sabemos extrair o prazer dos pequenos
eventos da vida. A ansiedade estanca esse prazer. Apesar de o
Mestre da escola da vida discursar sobre a ansiedade e suas
causas, sua proposta em relação ao sentido da vida e ao prazer
de viver era tão surpreendente que, chocam a psiquiatria,
psicologia e as neurociências.
É possível ter status e sucesso social e ser uma pessoa
insegura diante das contrariedades, não gerenciar as
situações estressantes. É possível ter sucesso econômico,
mas ser um “rico-pobre”, não ter prazer em viver, em
contemplar os pequenos detalhes da vida. É possível viajar
pelo mundo e conhecer vários continentes, mas não
caminhar nas trajetórias do seu próprio ser e conhecer a
si mesmo. É possível ser um grande executivo e ter o
controle de uma multinacional, mas não ter domínio sobre
os pensamentos e as reações emocionais, ser um
espectador passivo diante das mazelas psíquicas.
Cristo não freqüentou nenhuma escola, não estudou as letras,
mas foi o Mestre dos Mestres na escola da vida. Ele era tão
sofisticado em sua inteligência que fazia psiquiatria e psicologia
preventiva quando essas nem ensaiavam existir.
Por que a memória humana não funciona como a memória dos
computadores? Por que não recordamos o passado exatamente
como ele foi? Aqui esconde-se um grande segredo da
inteligência. Não recordamos o passado com exatidão não apenas
pelas dificuldades de registro cerebral, mas também porque um
dos mais importantes papéis da memória não é transformar o
homem num repetidor de informações do passado, mas um
engenheiro de idéias, um construtor de novos pensamentos. Este
segredo da mente humana precisa ser incorporado pelas teorias
educacionais.
O mestre dos mestres entendia as limitações humanas, sabia que
era difícil o homem administrar suas emoções, principalmente nos
focos de tensão. Sabia que facilmente perdemos a paciência
quando estressados, que nos irritamos por pequenas coisas e
ferimos as pessoas que mais amamos. Para ele, o mal é o que sai
de dentro do ser humano e não o que está fora dele. Cumpre ao
homem atuar primeiro no seu mundo intelectual para depois
aprender a ser um bom líder no mundo social.
Ele não admitia que as tensões, a ira, a intolerância o julgamento
preconcebido envolvessem seus discípulos. Estimulava seus íntimos a
serem fortes numa esfera em que costumamos ser fracos: fortes
em administrar a impaciência, rápidos em reconhecer as limitações,
seguros em reconhecer os fracassos, maduros em tratar com as
dificuldades de relacionamento social.
A preocupação desse mestre tem fundamento. Existe um
fenômeno inconsciente que registra automaticamente todas
as experiências na memória, conhecido como fenômeno
RAM. (Registro Automático da Memória). Nos
computadores é necessário dar um comando para
registrar, “salvar” as informações. Porém, na memória
humana, a mente não nos dá essa liberdade. Cada
pensamento e emoção são registrados automática e
espontaneamente, por isso as experiências do passado
irrigam o nosso presente.
O fenômeno RAM registra todas as nossas experiências de
vida, tantos nossos sucessos como nossos fracassos, tanto
nossas reações inteligentes como as imaturas. Entretanto, há
diferenças no processo de registro que influenciará o processo
de leitura da memória. Registramos de maneira mais
privilegiada as experiências que tiverem mais conteúdo
emocional, seja ele prazeroso ou angustiante, por isso temos
mais facilidade de recordar as experiências mais marcantes de
nossas vidas, tanto as que nos causaram alegrias como aquelas
que nos frustraram. Estimular adequadamente o fenomêno RAM
é fundamental para o desenvolvimento da personalidade,
inclusive para o sucesso do tratamento de pacientes
depressivos, fóbicos, autistas.
Cristo não queria que as turbulências emocionais fossem continuamente
registradas na memória, engessando a personalidade. Queria que seus
discípulos fossem livres. Livres no território que todo ser humano
facilmente é prisioneiro, seja um psiquiatra ou paciente, livres no
território da emoção. O mestre da escola da existência, quase vinte
século antes de Goleman já discursava sobre a energia emocional como uma
das importantes variáveis que influenciam o desenvolvimento da
inteligência.
Se não formos rápidos e inteligentes para tratar com nossas ansiedades,
intolerâncias, impaciências, fobias, então nós as retroalimentaremos em
nossas memórias. Assim, nos tornaremos o nosso maior inimigo; reféns de
nossas emoções. Por isso muitos vivem o paradoxo da cultura e da miséria
emocional. Eles têm diversos títulos acadêmicos, são cultos, mas, ao
mesmo tempo, são infelizes, ansiosos e hipersensíveis, não sabem
trabalhar suas contrariedades, frustrações e as críticas que recebem.
Tais pessoas deveriam se reciclar e investir em qualidade de vida.
Cristo indicou ao longo do relacionamento que teve com seus discípulos,
que tinha consciência de que a memória não pode ser deletada. Veremos
que não queria destruir a personalidade das pessoas que conviviam com
ele. Pelo contrário, desejava transformá-las essencialmente, amadurecê-
las e enriquecê-las. Não desejava anular a história delas, mas desejava
que reescrevessem suas histórias com liberdade e consciência, que não
tivessem medo de repensar seus dogmas e de revisar seus conflitos
diante da vida.
O maior líder não é aquele que é capaz de governar o mundo, mas
aquele que é capaz de governar a si mesmo. Alguns realizam com grande
habilidade suas tarefas profissionais, mas não têm habilidade para
construir relacionamentos profundos, abertos, flexíveis e desprovidos de
suas angústias e ansiedades. Um dos maiores problemas que engessa a
inteligência e dificulta ao homem a se relacionar socialmente é a
ditadura do preconceito.
O preconceito está intimamente ligado à construção de pensamentos. Toda
vez que estamos diante de algum estímulo fazemos automaticamente a
leitura da memória e construímos pensamentos que contêm preconceitos
sobre esse estímulo. Por exemplo, quando estamos diante do
comportamento de alguém, usamos a memória e produzimos um preconceito
sobre esse comportamento.
Quando vivemos sob a ditadura do preconceito aprisionamos o
pensamento, criamos verdades que não são verdades e nos tornamos
radicais. Há três grandes tipos de preconceito que geram ditadura da
inteligência: o histórico, o tendencioso e o radical.
À medida que adquirimos cultura, começamos a enxergar o mundo
de acordo com os preconceitos históricos, ou seja, com os
conceitos, paradigmas e parâmetros contidos nessa cultura.
As pessoas que vivem sob a ditadura do preconceito não apenas
podem violar os direitos dos outros e amarrar seus desempenhos
intelectuais, mas podem também ferir as suas próprias emoções e
experimentar uma fonte de angústia. Elas se tornam implacáveis e
radicais contra os seus próprios erros. Estão sempre se punindo e
exigindo de si mesmas um perfeccionismo inatingível.
Os preconceitos estão contidos na memória, mas, se não
aprendermos a nos interiorizar e aplicar a arte da dúvida e
da crítica sobre eles, poderemos ser autoritários,
agressivos, violar tanto os direitos dos outros como os
nossos. Por que nossa maneira de pensar é, às vezes,
radical e inquestionável? Porque nos comportamos como um
semideus. Pensamos como um ser absoluto, que não duvida
do que pensa, que não se recicla. Quem conhece
minimamente a grandeza e a sofisticação do funcionamento
da mente humana vacina-se contra a ditadura do
preconceito. Convém lembrar que o preconceito individual
pode se disseminar e se tornar um preconceito social, um
paradigma coletivo.
As biografias de Cristo evidenciam que ele era uma
pessoa aberta e inclusiva. Não classificava as pessoas.
Ninguém era indigno de se relacionar com ele, por pior
que fosse seu passado.
As ciências poderiam ter sido enriquecidas com os
princípios da inteligência de Cristo.
Se os princípios sociológicos, psicológicos e educacionais contidos
na inteligência de Cristo tivessem sido investigados e conhecidos,
poderiam ter sido usados em toda a esfera educacional, do ensino
fundamental à universidade. Esses princípios, independentemente
da questão teológica, poderiam ter enriquecido a sociedade
moderna, que tem sido irrigada por discriminações e múltiplas
formas de violência.
O que mais somos? Somos uma conta bancária, um título
acadêmico, um status social? Não. Somos o que sempre fomos,
seres humanos. As raízes da solidão começam a ser tratadas
quando aprendemos a ser apenas seres humanos. Parece ser
contraditório, mas temos grandes dificuldades de retornar às
nossas origens.
Se Cristo tivesse vivido nos dias de hoje, causaria turbulência
social, chocaria a política e a ciência. Suas idéias continuam
intrigantes na atualidade. Será que seus pensamentos abalaram a
sociedade em que viveu devido à falta de cultura de sua época ou
ainda hoje perturbariam os intelectuais e o pensamento acadêmico?
Que dimensão têm os seus pensamentos? Que alcance têm o seu
propósito, o seu projeto transcendental?
A morte física faz parte do ciclo natural da vida, mas a
morte da consciência humana é inaceitável. Só a aceita
aqueles que nunca refletiram minimamente sobre as suas
consequências psicológicas e filosóficas ou aqueles que nunca
sofreram a dor indescritível da perda de alguém que amam.
Outra coisa incompreensível pelo pensamento é a consciência do fim da
existência. O pensamento nunca atinge a consciência da morte como
“fim da existência”, o “nada existencial”, pois o discurso dos
pensamentos sobre o nada nunca é o nada em si, mas manifestação da
própria consciência. Por isso, toda pessoa que pensa ou comete atos de
suicídio não tem consciência da morte como fim da vida. Os que pensam
em suicídio de fato não querem matar a vida, terminar a existência,
mas “matar” a dor emocional, a angústia, o desespero que abate suas
emoções.
A idéia de suicídio é uma tentativa inadequada e desesperada de
procurar transcender a dor da existência, e não o fim dela. Só a vida
tem consciência da morte. A morte não tem consciência de si mesma. A
consciência da morte é sempre uma manifestação da vida, ou seja, é um
sistema intelectual que discursa sobre a morte, mas nunca atinge a
realidade em si.
Há doenças psíquicas que geram uma fobia ou medo doentio da morte,
como a síndrome do pânico e determinados transtornos obsessivos
compulsivos (TOC). No “pânico” ocorre um dramático e convincente
teatro da morte. Nele, há uma sensação súbita e iminente de que se
vai morrer. Tal sensação gera uma série de sintomas psicossomáticos,
como taquicardia, aumento da frequência respiratória e sudorese.
O homem possui uma necessidade intrínseca de procurar por Deus,
de criar religiões e de produzir sistemas filosóficos metafísicos. Tal
necessidade surge não apenas como tentativa de superar sua finitude
existencial, mas também para explicar a si mesmo o mundo, o
passado, o futuro, enfim, os mistérios da existência.
O homem é uma grande pergunta que por dezenas de anos
procura por uma grande resposta... Ele procura explicar o
mundo. Todavia, sabe que explicar a si mesmo é o maior
desafio da sua própria inteligência.
O discurso de Cristo sobre o segredo da eternidade
Vamos imaginar Cristo reagindo, falando, expressando seus
pensamentos numa sociedade que não tivesse qualquer cultura sobre o
cristianismo. O que Cristo diz sobre a crise existencial do homem? O
que ele tem para nos falar sobre a continuidade do espetáculo da
vida? Suas palavras sobre esses assuntos são triviais? Elas
perturbariam nossos pensamentos? Seu pensamento sobre o fim da
existência se aproxima dos pensamentos dos intelectuais?
Cristo disse palavras incomuns, inéditas, capazes de abalar tanto os
alicerces dos cientistas da medicina como da religiosidade humana.
Jesus gostava de falar na terceira pessoa. Dizia que fazia as obras,
proferia as palavras e executava a vontade do Pai. Por que usava a
terceira pessoa em sua argumentação?.
Primeiro, por causa da questão da trindade, um
assunto complexo que a ciência não tem como
discutir. Segundo, porque não gostava de se
ostentar. Terceiro, porque em suas biografias há
indícios claros que expressam que ele conhecia a
facilidade com que distorcemos a interpretação.
Por isso afirmava que a fidelidade do testemunho
de alguém tinha que ser confirmada por duas
pessoas.
Além disso, Cristo não impunha suas idéias, mas as expunha. Não
pressionava ninguém a segui-lo, apenas as convidava. Era contra o
autoritarismo do pensamento, por isso procurava continuamente
abrir as janelas da inteligência das pessoas para que refletissem
sobre suas palavras.
Resumindo, Cristo não gostava de se ostentar, conhecia as
distorções da interpretação, era elegante no seu discurso e
aberto quando expunha seus pensamentos.
Cristo era flexível e brando nos assuntos que tratava, todavia em
alguns pontos ele foi extremamente determinado. Entre esses
pontos destaca-se o que ele pensava sobre a continuidade da
existência e sobre a eternidade.
A respeito da continuação do espetáculo da vida, era incisivo. Não
deixava margem de dúvida sobre seu pensamento. E, diga-se de
passagem, seu pensamento era ousadíssimo. Neste assunto deixava o
discurso em terceira pessoa de lado e expressava claramente que tinha
o segredo da eternidade. Discursava que a vida eterna passava por ele.
Disse: “Quem crer em mim, ainda que morra, viverá!”, “Eu sou o pão
vivo que desceu do céu. Se alguém comer esse pão viverá para sempre”.
Proferiu muitas palavras semelhantes a essas, que são incomuns e
possuem uma dimensão indescritível.
Ele não disse que se as pessoas obedecessem a regras de
comportamentos ou doutrinas religiosas teriam a vida eterna. Não! Os
textos são claros, ele concentrou nele mesmo o segredo da eternidade.
Disse que se alguém cresse nele e o incorporasse interiormente, essa
pessoa teria a vida eterna, a vida inesgotável e infinita. Quem produziu
um discurso como esse na história?
O que a ciência pode dizer a respeito dos pensamentos de Cristo
sobre a eternidade? Nada! A ciência, por ser produzida dentro
dos intervalos de tempo, não tem como confirmar nem discordar
dele.
Se estudar a própria existência já é uma tarefa complexa, como
será possível à ciência discorrer sobre a autoria da existência!
Podemos discorrer teoricamente sobre as origens do universo,
sobre os buracos negros, a teoria do “Big Bang”, mas não temos
recursos intelectuais para discorrer sobre a “origem da origem”,
a “causa das causas”, aquilo que está antes do início, a fonte
primeira.
Einstein era um admirador de Cristo. Contudo, se ele tivesse vivido
naquela época, certamente o discurso de Cristo deixaria seus cabelos
mais revoados do que estão em sua famosa foto... O discurso dele
extrapolava os parâmetros da física, portanto não poderia ser
explicado nem mesmo pela inteligente teoria da relatividade.
Um dos maiores erros educacionais da escola clássica é não ter como
meta fundamental o preparo dos alunos para viver na sinuosa
existência. A melhor escola clássica é aquela que constrói uma ponte
sólida com a escola da vida. Boa parte das escolas clássicas se tornou
um parêntese dentro da escola da existência, não havendo comunicação
entre elas. Numa escola clássica fechada, os alunos são presos numa
bolha, numa redoma educacional, sem “anticorpos” intelectuais para
superar as contradições da existência e amadurecer multifocalmente a
inteligência.
Eles incorporam o conhecimento, mas raramente se tornam engenheiros
de idéias. Tornam-se profissionais, mas poucos conhecem a cidadania e
expandem a consciência crítica.
As biografias de Cristo revelam que ele objetivava não reformar o
homem, mas produzir uma transformação em seu interior, reorganizar
intrinsecamente sua capacidade de pensar e viver emoções. Cristo
objetivava produzir um novo homem. Um homem solidário, tolerante, que
supera as ditaduras da inteligência, que se vacina contra a paranóia do
individualismo, que aprende a cooperar mutuamente, que aprende a se
conhecer, que considera a dor do outro, que aprende a perdoá-lo, que se
interioriza, que se repensa, que se coloca como aprendiz diante da vida,
que desenvolve a arte de pensar, que expande a arte de ouvir, que refina
a arte da contemplação do belo.
No meu modo de ver creio que nunca alguém teve um
projeto tão audacioso e ambicioso como o de Cristo. Antes
dele existiram algumas escolas na Grécia. A academia de
Platão, o Liceu de Aristóteles, as escolas pós-socráticas.
Porém nenhuma possuía um projeto tão ambicioso e
instigante como a escola da existência de Cristo. É difícil
deixar de reconhecer a dimensão do seu propósito e como
era um mestre especialista em desengessar a inteligência
das pessoas que conviviam com ele. Ao estudar JESUS,
podemos concluímos que ele não queria melhorar o homem,
mas mudar a sua natureza intrínseca.
Um bom mestre possui eloquência, mas um excelente mestre
possui mais do que isso; possui a capacidade de surpreender
seus alunos, instigar-lhes a inteligência. Um bom mestre
transmite o conhecimento com dedicação, enquanto um
excelente mestre estimula a arte de pensar. Um bom mestre
procura pelos seus alunos porque quer educá-los, mas um
excelente mestre lhes inspira tanto a inteligência que é
procurado e apreciado por eles. Um bom mestre é valorizado
e lembrado durante o tempo de escola, enquanto um excelente
mestre jamais é esquecido, marcando para sempre a história
dos seus alunos.
Os princípios da matemática emocional
Muitos investem boa parte de sua energia física e psicológica em
aplicar seu dinheiro nas bolsas de valores, em adquirir bens
materiais, em ter um carro do último tipo, em adquirir um bom
plano de previdência. A segurança financeira é legítima, mas é
totalmente insuficiente para satisfazer as necessidades mais
íntimas do homem, para dar sentido à sua existência, enriquecer
seu prazer de viver e amadurecer sua personalidade.
Uma vez em uma palestra ouvi de um grande empresário
agroindustrial que disse que alguns dos seus empregados
cortadores de cana eram mais ricos do que ele, pois, mesmo
diante da miséria material, conseguiam cantar e se alegrar
enquanto trabalhavam. De fato, há miseráveis que moram em
palácios e ricos que moram em favelas...
Não estou fazendo apologia à miséria, pelo contrário, a miséria
em todos os sentidos deveria ser extirpada das sociedades, mas
quero dizer que a psique humana é tão complexa que desobedece
às regras da matemática financeira. A matemática emocional
tem, felizmente, princípios que ultrapassam os limites da
matemática lógica, financeira. Ter não é Ser.
Investindo em sabedoria: As dores da existência sob outra
perspectiva
Cristo objetivava que seus discípulos se tornassem grandes
investidores em sabedoria. Ele não queria que o ser
humano tivesse uma meta existencial pobre e superficial.
Cristo destilava sabedoria da sua miséria...
Cristo estava sempre conduzindo as pessoas a reescrever
suas histórias e a não ser vítimas das intempéries sociais e
dos sofrimentos que viviam. Ele se preocupava com o
desenvolvimento das funções mais altruístas da inteligência.
Desejava que elas tivessem domínio próprio, administrassem
os pensamentos e aprendessem a trafegar nas avenidas da
perseverança diante das dificuldades da vida.
Todo ser humano passa por invernos existenciais
Toda e qualquer pessoa passa por turbulências em sua vida.
As dores geradas por problemas externos ou por fatores
internos são os fenômenos mais democráticos da existência.
Um rei pode não ter problemas financeiros, mas tem
problemas internos. A princesa Diana era elegante e
humanística e não atravessava problemas financeiros, mas,
pelo que consta, possuía dores emocionais intensas, sofria
crises depressivas.
Talvez sofria mais do que muitos miseráveis da África ou do
Nordeste brasileiro.
As pessoas que passam pelas dores existenciais e as superam
com dignidade ficam mais bonitas e interessantes
interiormente. Quem passou pelo caos da depressão, da
síndrome do pânico ou de outras doenças psíquicas e o
superou, se tornou mais rico, belo e sábio. A sabedoria torna
as pessoas mais atraentes, ainda que o tempo sulque a pele e
traga as marcas da velhice.
Quem cuida apenas da estética do corpo e descuida do
enriquecimento interior vive a pior solidão, a de ter
abandonado a si mesmo em sua trajetória existencial. As
pessoas que vivem preocupadas com cada grama de peso
fazem de suas vidas uma fonte de ansiedade.
Elas têm grande dificuldade de superar as contrariedades,
as contradições e os focos de tensão que surgem na
trajetória existencial.
As escolas clássicas precisam ser albergues da sabedoria e da arte de
pensar, precisam provocar a inteligência dos alunos, precisam dar um rosto
ao conhecimento, transmitir a história do conhecimento. Os mestres precisam
dançar a valsa da educação com as duas pernas desengessadas, precisam ser
contadores de histórias, romper a impessoalidade do conhecimento e cruzar,
tanto quanto possível, suas histórias com a dos seus alunos. Contar histórias
e experiências existenciais são excelentes maneiras de semear as idéias mais
complexas.
Cristo era um grande semeador de princípios, de pensamentos e de vida. A
parábola do filho pródigo, das virgens néscias e prudentes, dos talentos e
tantas outras representam uma didática excelente desse contador de
histórias, desse plantador de sementes, que queria que o homem se
interiorizasse, reciclasse sua postura superficial de vida, se livrasse das
preocupações exageradas da existência e se tornasse uma terra fértil,
capaz de produzir muitos frutos. Há muito o que dizer sobre o conteúdo das
histórias de Cristo, entretanto, ficará para outra oportunidade.
Cristo não tinha receio de falar de si mesmo e
da história dos seus discípulos. Ele dinamizava
as relações interpessoais. Para esse contador
de histórias, ensinar não era uma fonte de
tédio, de stress, de obrigação, mas uma
aventura doce e prazerosa...
O discurso de Cristo sobre dar a outra face
Quando Cristo queria mostrar a necessidade vital de
tolerância nas relações sociais, ele não proferia inúmeras
aulas sobre o assunto, mas novamente usava gestos
surpreendentes. Ele dizia que se alguém batesse numa face
era também para oferecer a outra, e por diversas vezes
ele deu a outra face para seus opositores, ou seja, não
revidava quando o agrediam ou o ofendiam. Cristo não
falava da face física, da agressão física que compromete a
preservação da vida. Ele falava da face psicológica.
Se fizermos uma análise superficial, poderemos nos equivocar e
crer que dar a outra face parece uma atitude frágil e submissa.
Todavia, temos de nos perguntar: dar a outra face é um sinal de
fraqueza ou de força? Dar a outra face incomoda pouco ou muito
uma pessoa agressiva e injusta? Se analisarmos a construção da
inteligência, constataremos que dar a outra face não é um sinal de
fraqueza, mas de força e segurança. Só uma pessoa forte é capaz
de dar a outra face. Só uma pessoa segura dos seus próprios
valores é capaz de elogiar o seu agressor. Quem dá a outra face
não se esconde, não se intimida, mas enfrenta o outro com
tranquilidade e segurança.
Dar a outra face é respeitar o outro, é procurar
compreender os fundamentos da sua agressividade, é não
usar a violência contra a violência, é não se sentir agredido
diante das ofensas que lhe desferem. Somente uma pessoa
que é livre, segura e que não gravita em torno do que os
outros pensam e falam de si é capaz de agir com tanta
serenidade.
A psicologia do “dar a outra face” protege emocionalmente
a pessoa agredida e, ao mesmo tempo, provoca a
inteligência das pessoas violentas, estimulando-as a pensar
e reciclar a própria violência.
O mundo moderno é violento. A televisão
transmite programas violentos. A competição
profissional é violenta. Em muitas escolas
clássicas, onde deveria reinar o saber e a
tolerância, a violência tem sido cultivada.
Violência gera violência. Spinoza, um dos pais da
filosofia moderna, que era judeu, expressou que
Jesus Cristo era sinônimo de sabedoria e que as
sociedades envolvidas por guerras de espadas e
guerras de palavras poderiam encontrar nele
uma possibilidade de fraternidade.
Um poeta da inteligência que utilizava com grande
habilidade o fenômeno RAM
Um quadro é mais eloquente do que mil palavras.
Vimos que a memória sofre um registro
automático por meio do fenômeno RAM (registro
automático da memória). Vimos também que o
registro é mais privilegiado quando as
experiências contêm mais emoção, mais tensão,
seja ela positiva ou negativa.
Cristo utilizava com destreza o fenômeno RAM. Seus gestos
marcaram para sempre a memória dos discípulos e
atravessaram gerações. Ele usava a arte de pensar com uma
habilidade incrível. Preferia utilizar gestos surpreendentes para
educar, transformar, ampliar a visão dos seus discípulos. Seus
gestos produziam impactos inesquecíveis na memória dos seus
íntimos e eram mais eficientes do que milhares de palavras.
Suas biografias retratam um homem que falava pouco, mas que
dizia muito. Quando desejava demonstrar que não queria o
poder político, que se importava mais com o interior do homem
do que com a estética social, optava por não fazer grandes
reuniões, conferências e debates para discutir o assunto.
Economizando palavras e discursando com gestos.
Os pais, os professores, os executivos raramente conseguem
surpreender as pessoas que o circundam e abrir as janelas das suas
mentes. Um pai cujo filho passa por problemas, como uso de drogas
ou agressividade, fica perdido sem saber como penetrar no interior
dele e contribuir para reorganizar a sua vida. A melhor maneira de
conquistar alguém é romper a rotina e surpreendê-lo continuamente
com gestos inesperados.
Se um pai for comum, racional, crítico e explicativo com um filho,
ele entedia a relação interpessoal e se torna pouco eficiente como
educador. Porém, se o surpreender continuamente com gestos
inesperados, com momentos de silêncio, com diálogos incomuns, com
elogios agradáveis, certamente ao longo dos meses ele conquistará
esse filho e o ajudará a reconstruir sua história.
Muitos pais nunca entraram no mundo dos seus filhos e
muitos filhos nunca tiveram o prazer de conhecer seus
pais intimamente. Sair do relacionamento superficial e
previsível e construir um relacionamento que tenha raízes
é uma tarefa brilhante. Conquistar o outro é uma arte,
principalmente se o outro for uma pessoa difícil.
A solidão social e a solidão intrapsíquica
Nestes tempos de intensa crise social e educacional, é bom rompermos
nossa velha maneira de pensar e nos abrirmos para outras
possibilidades. Estudar a inteligência de Cristo pode fornecer princípios
sociológicos, psicológicos e psicopedagógicos muito úteis.
O homem moderno é um ser solitário, isolado dentro da sua própria
sociedade, um homem que sabe que tem fragilidades, inseguranças,
temores, momentos de hesitação e apreensão, mas tem medo de
reconhecê-los, de assumi-los e de falar sobre eles. Tem consciência
da necessidade de falar de si mesmo, contudo opta pelo silêncio e faz
dele seu melhor companheiro. Como disse, muitos vão ao psiquiatra e
psicoterapeuta não porque estão doentes, ou pelo menos seriamente
doentes, mas porque não têm ninguém para conversar abertamente
sobre suas crises existenciais.
Realmente é difícil falar de nós mesmos. O medo de falar de si
mesmo não está ligado apenas aos bloqueios íntimos que as pessoas
têm em comentar suas histórias, mas também às dificuldades de
encontrar alguém que desenvolveu a arte de ouvir.
Alguém que ouve sem prejulgar e que sabe se colocar em nosso lugar
e não dar conselhos superficiais. É mais fácil desenvolver a arte de
falar do que a de ouvir. Aprender a ouvir implica aprender a
compreender o outro dentro do contexto histórico, a respeitar suas
fragilidades, a perceber seus sentimentos mais profundos, a captar
os pensamentos que as palavras não expressam. A arte de ouvir é
uma das mais ricas funções da inteligência.
Muitos não apenas desenvolvem a solidão social, a solidão
de estar próximo fisicamente e, ao mesmo tempo, distante
interiormente das pessoas que o cercam, mas também a
solidão intrapsíquica, de abandonar-se a si mesmo, de não
dialogar consigo mesmo, de não discutir os próprios
problemas, dificuldades, reações.
Crise nas relações sociais: Os amigos estão morrendo
Nas sociedades modernas, fazer amigos está virando artigo de luxo. O
ser humano perdeu o apreço por uma relação horizontal equidistante.
Ele gosta de anular o outro e de que o mundo fique aos seus pés. Mas
Cristo, nos últimos dias da sua trajetória nesta terra, expressou que
queria muito mais do que admiradores, queria amigos. Não há relação
mais nobre do que ser e ter amigos. Os amigos se mesclam, confiam
mutuamente, desfrutam do prazer juntos, segredam coisas íntimas,
torcem uns pelos outros. Os amigos não anulam um ao outro, mas se
completam.
Quem vive sem amigos pode ter poder e palácios, mas vive só e
triste. Quem tem amigos, ainda que não tenha status e viva num
casebre, não se sentirá só. A falta de amigos deixa uma lacuna que
dinheiro, poder, cultura, sucesso, não podem preencher.
Todos precisamos de amigos, os quais não compramos,
mas conquistamos, cultivamos. Muitos querem tê-los,
mas não sabem como conquistá-los. Os amigos não são
aqueles que gravitam em torno de nós, que nos
rodeiam pelo que temos. Não, são aqueles que nos
valorizam pelo que somos. No mundo biológico, os
animais se agrupam pela necessidade instintiva de
sobrevivência. Na nossa espécie, as amizades surgem
por necessidades mais íntimas, como tentativa de
superar a solidão.
O Mestre da sensibilidade teve uma existência pautada por
desafios, perdas, frustrações e sofrimentos de toda
ordem. Ele tinha todos os motivos para ter depressão
durante sua trajetória de vida, mas não a adquiriu; pelo
contrário, era alegre e seguro no território da emoção.
Tinha também todos os motivos para ter ansiedade, mas
não a adquiriu; pelo contrário, era tranqüilo, lúcido e
sereno.
Cristo adotou para administrar seus pensamentos e superar
sua dramática angústia?
Jesus disse: “Pai, se possível, afaste de mim este cálice,
mas não faça como eu quero, mas como tu queres!”. Ele
hesitou diante da sua dor? Alguns vêem ali recuo e
hesitação. Todavia, se estudarmos detalhadamente seus
comportamentos, compreenderemos que ele expressou,
naquela noite densa e fria, a mais bela poesia de
liberdade, resignação e autenticidade.
Estava plenamente consciente do cálice que iria beber.
Seria espancado, açoitado, zombado, cuspido; teria uma
coroa de espinhos cravada em sua cabeça e, por fim,
passaria por seis longas horas na cruz até a sua falência
cardíaca.
A psicologia e a psiquiatria têm muito a aprender com os
pensamentos e reações que o mestre expressou ao longo de sua
história, principalmente nos seus últimos momentos. Diante das
mais dramáticas situações, ele demonstrou ser o mestre dos
mestres da escola da vida. Os sofrimentos, ao invés de abatê-
lo, expandiam sua sabedoria. As perdas, ao invés de destruí-lo,
refinavam-lhe a arte de pensar. As frustrações, ao invés de
desanimá-lo, renovavam-lhe as forças. A missão, propósito ou
objetivo de Jesus Cristo é impressionante. Não queria apenas
colocar o homem numa escola de sábios, mas também imergi-lo
na eternidade. Ele valorizava o homem ao máximo, por isso nunca
desistia de ninguém, por mais que o frustrassem. Sob o cuidado
afetivo dele, as pessoas começaram a contemplar a vida sob
outra perspectiva.
A MATURIDADE REVELADA
NO CAOS
É fácil reagirmos e pensarmos com lucidez quando o sucesso
bate à nossa porta, mas é difícil conservarmos a
serenidade quando as perdas e as dores da existência nos
invadem. Muitos revelam irritabilidade, intolerância e medo
nessas situações. Se quisermos observar a inteligência e
maturidade de alguém, não devemos analisá-la nas
primaveras de sua vida, mas no momento em que atravessa
os invernos de sua existência.
Muitas pessoas, incluindo intelectuais, comportam-se com elegância
quando o mundo os aplaude, mas perturbam-se e reagem impulsivamente
quando os fracassos e os sofrimentos cruzam as avenidas de suas vidas.
Não conseguem superar suas dificuldades nem mesmo extrair lições de
suas intempéries.
Quem vive sob o peso da culpa fere continuamente a si mesmo, torna-se
seu próprio carrasco e, de outro lado, quem é radical e excessivamente
crítico dos outros torna-se um “carrasco social”. Na escola da vida não
há graduação. Quem nela se “diploma” faz perecer sua criatividade, na
medida em que não mais possui a capacidade de ficar assombrado com os
mistérios que a norteiam. Tudo se torna comum para ele, nada havendo
que o anime e o instigue. Nessa escola, o melhor aluno não é aquele que
tem consciência do quanto sabe, mas do quanto não sabe. Não é aquele
que proclama a sua perfeição, mas o que reconhece suas limitações. Não
é aquele que proclama a sua força, mas o que educa a sua sensibilidade.
É fácil expressar serenidade quando nossas vidas transcorrem num jardim, difícil
é quando nos defrontamos com as dores da vida. Os estágios finais da vida de
Cristo foram pautados por dores e aflições. Teria ele conservado seu brilho
intelectual e emocional nas suas causticantes intempéries?
O mestre brilhou na adversidade:. Ele não freqüentou escola, era um simples
carpinteiro, mas para nossa surpresa expressou as funções mais ricas da
inteligência: era um especialista na arte de pensar, na arte de ouvir, na arte de
expor e não impor as idéias, na arte de pensar antes de reagir. Era um maestro da
sensibilidade e um agradável contador de histórias. Sabia despertar a sede do
saber das pessoas, vaciná-las contra a competição predatória e contra o
individualismo, estimulá-las a serem pensadoras e a desenvolver a arte da tolerância
e da cooperação social. Além disso, era alegre, tranqüilo, brando, lúcido, coerente,
estável, seguro, sociável e, acima de tudo, um poeta do amor e um excelente
investidor em sabedoria nos invernos da vida. Cristo foi visto ao longo dos séculos
como um sofredor que morreu na cruz. Tal conceito é pobre e superficial. Temos de
analisá-lo na sua grandeza.
O SEMEADOR DE VIDA E DE INTELIGÊNCIA
O semeador da Galiléia superando métodos da educação moderna
Há duas maneiras de se fazer uma fogueira: com as sementes
ou com um punhado de lenha. Qual maneira você escolheria?
Fazer fogueira com uma semente parece um absurdo, loucura.
Todos, certamente, escolheríamos a lenha. Entretanto, o mestre
de Nazaré pensava a longo prazo, por isso sempre escolhia as
sementes. Ele as plantava, esperava que as árvores crescessem,
dessem milhares de outras sementes e, aí sim, fornecessem a
lenha para a fogueira.
Se escolhesse a lenha, acenderia a fogueira apenas uma vez, mas
como preferia as sementes, a fogueira que acendia nunca mais se
apagava. Um dia ele comparou a si mesmo a um semeador que
semeia no coração dos homens. Um semeador do amor, da paz, da
segurança, da liberdade, do prazer de viver, da dependência
recíproca.
Quem não consegue enxergar o poder contido em uma semente
nunca mudará o mundo que o envolve, nunca influenciará o ambiente
social e profissional que o cerca. Uma mudança de cultura só será
legítima e consistente se ocorrer por intermédio das singelas e
ocultas sementes plantadas na mente dos homens e não por
intermédio da imposição de pensamentos.
Os EUA são a sociedade mais rica do globo.
Além disso, são o estandarte da democracia.
Entretanto, a farmacodependência, a
discriminação racial e a violência nas escolas são
sinais de que a riqueza material, o acesso à alta
tecnologia e à democracia política são
insuficientes para expandir a qualidade de vida
psíquica e social do homem.
A tecnopedagogia, ou seja, a tecnologia educacional, não
tem conseguido produzir homens que amam a tolerância, a
solidariedade, que vençam a paranóia de ser o número um,
que têm prazer na cooperação social e se preocupam com o
bem-estar dos consócios de sua sociedade. A democracia
política produz a liberdade de expressão, mas ela não é
por si mesma geradora da liberdade de pensamento. A
liberdade de expressão sem a liberdade do pensamento
provoca inúmeras distorções, uma das quais é a
discriminação. Por incrível que pareça, as pessoas não
compreendem que dois seres humanos que possuem os
mesmos mecanismos de construção da inteligência não
podem jamais ser discriminados pela fina camada de cor
da pele, por diferenças culturais, nacionalidade, sexo e
idade.
Milhões de jovens estão estudando nas sociedades modernas. Eles vivem
num ambiente democrático, que lhes propicia a liberdade de expressão.
Contudo, são livres por fora, mas não no território dos pensamentos. Por
isso, são presas fáceis da discriminação, da violência social, da
autoviolência, da paranóia da estética e das doenças psíquicas. Muitos
desses jovens superdimensionam o valor de alguns artistas, políticos e
intelectuais e gravitam em torno das suas idéias e comportamentos e não
sabem que, ao superdimensioná-los, estão diminuindo a si mesmos,
reduzindo o seu próprio valor. Aprender a construir uma liberdade com
consciência crítica, a proteger a emoção e a desenvolver a capacidade de
ver o mundo também com os olhos dos outros são funções importantíssimas
da inteligência, mas têm sido pouco desenvolvidas no mundo democrático.
Vivemos uma crise educacional semprecedentes.
Estamos resolvendo nossos problemas externos, mas não os
internos. Somos uma espécie única entre dezenas de milhões
de espécies na natureza. Por pensar e ter consciência do
fim da vida, colocamos grades nas janelas para nos
defender, cintos de segurança para nos proteger,
contratamos o pedreiro para corrigir as goteiras do telhado,
o encanador para solucionar o vazamento da torneira,
todavia não sabemos como construir a mais importante
proteção, a proteção emocional. À mínima ofensa,
contrariedade e perda, detonamos o gatilho instintivo da
agressividade.
Nas sociedades modernas, os bem-aventurados são aqueles que
têm status social, dinheiro, cultura acadêmica. Todavia, para
aquele mestre incomum, os bem-aventurados são aqueles que
exalam a paz onde quer que estejam, que atuam como bombeiros
da emoção, que são capazes de abrandar a ira, o ódio, a inveja, o
ciúme e, ainda por cima, estimular o diálogo entre as pessoas com
as quais convivem. No seu pensamento, se formos incapazes de
realizar tal tarefa, não somos felizes nem privilegiados. Nas
sociedades modernas, as pessoas amam o individualismo e se
preocupam pouco com o bem estar dos outros. A troca de
experiências de vida se tornou uma mercadoria escassa. Falam
cada vez mais do mundo exterior e cada vez menos de si mesmos.
Infelizmente, as pessoas só conseguem falar de si mesmas quando
vão a um psiquiatra ou psicoterapeuta.
O amanhã é um dia incerto para todos os mortais. Jesus, para o
espanto dos seus discípulos, comentava que sabia de todas as coisas que
lhe sobreviriam. Que homem é este que penetrava no túnel do tempo e
se antecipava aos fatos? Sabia que ia ser traído. Então, resolveu
facilitar sua prisão, pois, segundo sua firme convicção, havia chegado o
momento de passar pelo mais dramático caos pelo qual um ser humano
pode passar. Todos fogem do cárcere, ele o procurou.
Frequentemente perdemos o contato com nossa história. Os amigos e as
belas e singelas experiências do passado se tornam páginas que
dificilmente folheamos. Jesus, ao contrário, apesar de ser tão famoso,
nunca se esquecia das coisas singelas nem abandonava as pessoas simples
que o amavam. Lázaro havia morrido há quatro dias. Nós sepultamos
muitos amigos que estão vivos, nunca mais nos lembramos deles. Jesus,
ao contrário, não se esquecia nem dos que tinham morrido. Por isso, foi
visitar seu miserável amigo Lázaro.
O que se pode fazer para uma pessoa em estado de
putrefação? Depois de 15 minutos de completa parada
cardíaca, sem manobras de ressuscitação, o cérebro é
lesado de maneira irreversível, comprometendo áreas
nobres da memória. Tal situação pode causar
determinado grau de deficiência mental, pois milhões de
informações se desorganizam, impedindo que os quatro
grandes fenômenos que lêem a memória e constroem
cadeias de pensamentos sejam eficientes nesta magna
tarefa intelectual.
A memória de Lázaro havia se tornado um caos.
Se 15 minutos sem irrigação sanguínea podem lesar o cérebro,
imagine o que não acontece em quatro dias de falecimento, como
no caso de Lázaro. Não há mais nada a fazer. Todos os
segredos da memória deste homem se perderam de maneira
irreparável. Bilhões, trilhões de informações contidas no córtex
cerebral e que alicerçavam a construção da sua inteligência se
transformaram num caos. Não há mais história de vida nem
personalidade. A única coisa a ser feita era tentar consolar a
dor das suas irmãs, Maria e Marta.
Toda vez que não havia mais nada para se fazer, aparecia o
mestre da vida causando um tumulto nas leis da biologia e da
física. Quando todo mundo estava desesperado, ele reagia com
tranquilidade.
Lázaro era uma pessoa conhecida e muitos judeus estavam lá
consolando as suas irmãs. Quando Maria viu o mestre, lançou-se
sobre seus pés e chorou. Ao vê-la chorar, bem como os judeus
presentes, sua emoção mergulhou num profundo sentimento.
Jesus chorou.
Chorou ao ver a dor, o destino e a fragilidade humana. O homem
Jesus chorava ao ver as lágrimas dos homens. Somos muitas
vezes insensíveis à angústia dos outros, mas de seu olhar nem
mesmo escapava o sentimento de inferioridade de uma prostituta
ou de um leproso.
Ao chegar no lugar onde estava sepultado Lázaro, pediu que
retirassem a pedra da tumba. Aflita, Marta argumentou
sensatamente que seu irmão já cheirava mal, pois havia falecido
há quatro dias. Marta olhava para o mundo possível; Jesus, para
o impossível. Com uma segurança inabalável, acalmou-a, dizendo
que não temesse, mas apenas cresse.
Retirada a pedra, Jesus não foi analisar clinicamente seu
amigo, não foi verificar a condição de seus órgãos, nem muito
menos se importou com o assombramento das pessoas com sua
atitude. Manifestando um poder incompreensível, de quem está
acima das leis da ciência, ordenou que Lázaro saísse para fora.
Para perplexidade de todos, um homem envolvido em ataduras
sujeitou-se à sua ordem e saiu imediatamente ao seu encontro. Bilhões
de células nervosas ganharam vida. Os arranjos eletrônicos que
organizam as informações no córtex cerebral se reorganizaram. O
sistema vascular se recompôs. Os órgãos foram restaurados, o coração
voltou a pulsar, enfim, a vida começou novamente a fluir de todos os
sistemas daquele cadáver. Como isto é possível?
Nunca na história, até os dias de hoje, um homem clinicamente morto,
cujo coração parou de bombear o sangue há vários dias, recuperou a
vida, a memória, a identidade e a capacidade de pensar, como no caso
de Lázaro. Jesus era verdadeiramente um homem, mas concentrava
dentro de si a vida do Criador. Para ele não havia morte, tudo o que
ele tocava ganhava vida. Que homem é este que faz atos que a
medicina nem em seus delírios sonha em realizar?
Retirando a Pedra
Há uma consideração a fazer nesta passagem. Ele fez um dos
maiores milagres da história. Contudo, antes de fazê-lo, pediu
para que os homens retirassem a pedra da tumba. Se tinha tanto
poder para ressuscitar um homem, por que não tinha poder para
removê-la? Primeiro é necessário tirar a pedra do medo, da
insegurança, do desespero, para que ele possa intervir.
Sem o crer do homem, sem sua cooperação, ele pode agir, mas
raramente age. Para Jesus Cristo, o maior milagre não é a cura
sobrenatural de um corpo doente, mas superar o medo, a
infelicidade e a ansiedade de uma alma doente.
A morte é o maior problema dos mortais
Os psiquiatras só conseguem ter determinado sucesso no
tratamento de uma pessoa psiquicamente doente, porque os
antidepressivos, ansiolíticos e antipsicóticos atuam no metabolismo
de um cérebro vivo, pois num cérebro morto não há nada para se
fazer. Os médicos dependem da existência da vida para exercer
sua profissão, com exceção dos legistas. A medicina nasce quando
o homem é concebido e morre quando ele falece. A maior derrota
da medicina é a morte.
Pelo desejo do mestre de Nazaré, seu amigo Lázaro saiu do caos
cerebral para a plena sanidade. Muitos testemunharam este
fato. Será que este acontecimento poderia ser considerado um
delírio coletivo?
Não! O relato dessa passagem evidencia que Jesus não fez um
discurso atuando na emoção das pessoas, não induziu o sonho e a
fantasia humana. Aliás, em todos os seus atos sobrenaturais havia
uma estrita economia de palavras e uma eloquência dos gestos.
Além disso, ele resgatou a vida de Lázaro ante a desconfiança
dos presentes.
A fama de Jesus, que já era enorme, se tornou incontrolável
depois que trouxe Lázaro à vida. Os líderes judeus, que já haviam
tentado matá-lo sem êxito, tentavam conter a fama de Jesus,
mas não tinham sucesso.
O mestre da vida não era apenas seguido por inúmeras
pessoas, mas causava algo no território da emoção delas.
Elas se apaixonavam por ele. Numa terra em que imperava
o medo, a labuta social e as incertezas da vida, o amor
floresceu como na mais bela primavera.
Homens ricos e pobres, cultos e iletrados, que nunca
aprenderam as lições mais básicas do amor, aprenderam a
admirar e a amar um carpinteiro. Muitos se remoíam em
seus leitos esperando os primeiros raios de sol para
procurar aquele que lhes havia dado um novo sentido de
vida.
Certa vez, o mestre foi convidado para comer na
casa de um fariseu. Era um sábado. Havia muitos
convidados e todos o observavam. Estavam
atentos para ver alguma falha nele,
principalmente se desrespeitaria o sábado curando
alguém. Como sempre acontecia, mais uma pessoa
miseravelmente doente apareceu e mais uma vez
ele abalou a rigidez dos moralistas.
Antes de fazer um milagre, fitou os convidados e perguntou-lhes se
um filho ou um boi caísse num poço em dia de sábado, se eles não o
socorreriam imediatamente. Ninguém lhe deu resposta, ficaram
emudecidos; alguns, envergonhados. O mestre da vida aproveitou a
ocasião para contar-lhes mais uma parábola que combatia
frontalmente a necessidade compulsiva de prestígio e poder social.
Como exímio contador de histórias, falou-lhes que se eles fossem
convidados para um casamento não deveriam procurar sentar-se nos
primeiros lugares, para que vindo o noivo não os retirasse daquela
posição para dar lugar a pessoas mais importantes que eles.
Estimulou-os a procurarem o último lugar, para que,
quando viesse o que lhes convidara e pedisse para que se
sentassem num lugar mais privilegiado, fossem honrados
diante dos demais convidados. Nesta mesma passagem,
este brilhante contador de histórias foi mais longe.
Dilacerou o individualismo, o egocentrismo e a troca de
favores que permeiam o consciente e o inconsciente
humano. Abordou um princípio chocante que raramente é
praticado, mesmo por aqueles que se dizem hoje seus
mais ardentes seguidores.
O egoísmo, o orgulho e o individualismo são “vírus” da alma que
nunca morrem. Você pode controlá-los, mas nunca eliminá-los.
Se não os combater continuamente, eles um dia eclodirão
sorrateiramente, infectando nossa emoção e nos distanciando
paulatinamente das pessoas.
Para o mestre, o importante não era a doença do doente, mas o
doente da doença. O importante não era o quanto as pessoas
estavam doentes, o quanto erraram ou estavam deprimidas e
angustiadas, mas o quanto elas reconheciam suas misérias
emocionais. Os que tinham coragem para reconhecer-se
doentes, sentiam mais o calor do seu cuidado. Os moralistas,
por serem auto-suficientes, nunca se aqueceram com as chamas
de sua emoção.
Plantar diariamente a segurança, a solidariedade, a honestidade, a
perseverança, a alegria nos pequenos detalhes da vida, a capacidade
de expor e não impor as idéias, para muito tempo depois colher essas
funções nobres da inteligência. Se esperasse muito dos seus
discípulos, ele se frustraria excessivamente com o abandono deles,
com a traição de Judas e a negação de Pedro. Neste caso, poderia
desistir do seu martírio. Entretanto, educava-os, mas não esperava
resultados imediatos. Quem quer ser um bom educador tem de ter a
paciência de um agricultor. Se quisermos ter dias felizes não devemos
esperar resultados imediatos.
Às vezes, educamos nossos filhos com o maior carinho e eles nos
frustram com seus comportamentos, parece que tudo que ensinamos
foram como sementes lançadas em terra árida. Mas sutilmente, sem
percebermos, essas sementes um dia eclodem, criam raízes, crescem
e se tornam belas características de personalidade.
O mestre da vida entendia os limites das pessoas, por isso amava muito e
exigia pouco, ensinava muito e cobrava pouco. Esperava que o amor e a
arte de pensar florescessem pouco a pouco no terreno da inteligência. Por
dar muito e exigir pouco, ele protegia sua emoção, não se decepcionava
com as pessoas quando elas o frustravam e nem as sufocava com
sentimento de culpa e incapacidade.
Quantos, diante dos erros, se envergonham e retrocedem em sua
caminhada? Quantos não se esmagam com sentimento de culpa e vivenciam
crises depressivas diante das suas falhas? Jesus sabia que o homem é o
pior carrasco de si mesmo. Por isso, estava sempre querendo tornar leve o
fardo da vida, libertar a emoção do cárcere. Ninguém que andava com o
mestre de Nazaré vivia semartirizando. Até uma prostituta sentia-se
aliviada ao seu lado. Algumas derramavam lágrimas sobre ele, por tratá-las
com tanto amor, por dar continuamente uma oportunidade a elas.
Pergunto: Será que as pessoas se sentem aliviadas ao nosso redor?
Será que lhes damos condições para que elas rasguem a sua alma e nos
contem seus problemas? Não poucas vezes, ao ver a queda das pessoas,
as criticamos ao invés de ajudá-las a se levantar. O mais excelente
mestre da emoção sabia que seus discípulos o amavam, mas ainda não
tinham estrutura para vencer o medo, o fracasso, as perdas. Previu que
eles o abandonariam para que eles conhecessem a si mesmos e
compreendessem suas limitações. Fossem fortes após as derrotas.
O mestre da vida não procurava gigantes nem heróis, mas homens que
tivessem a coragem de levantar-se após cair, de retomar o caminho
após fracassar. Perdoando-os antes do fracasso.
Raramente uma pessoa presta atenção aos detalhes que norteiam o
comportamento de Jesus Cristo. Seu cuidado afetuoso era fascinante.
Ele já os estava perdoando antes mesmo que eles fracassassem.
Quem é que abandonado é capaz de ter ânimo para cuidar daqueles que o
abandonaram? Uma ofensa causada por um filho ou uma frustração
gerada por um amigo ou colega de trabalho nos irrita e a conseqüência
imediata é a impaciência. Quantas vezes dissemos: “Essa pessoa não tem
jeito mesmo!”. Certa vez, o mestre disse aos seus discípulos que se uma
pessoa errasse e viesse pedir-lhes perdão, eles deveriam perdoa-la. Se
ela viesse no mesmo dia e errasse sete vezes e as sete vezes pedisse
perdão, as sete vezes deveriam ser perdoadas. Outra vez disse que
deveríamos perdoar as pessoas setenta vezes sete. Na verdade queria
dizer que devemos perdoar sempre, continuamente, ainda que a pessoa
seja a mais teimosa e obstinada do mundo.
Somos controlados pela nossa emoção. Algumas pessoas nunca mais se
esquecem de um pequeno olhar de desprezo produzido por um colega
de trabalho. Outras nunca mais retornam a um médico se ele não lhes
deu a esperada atenção. Se uma pessoa não aprender a administrar o
gatilho da memória, viverá a pior prisão do mundo: o cárcere da
emoção. Os dependentes químicos vivem o cárcere da emoção,
porque, quando detonam este fenômeno, não conseguem administrar a
ansiedade e o desejo compulsivo por uma nova dose da droga. Os que
possuem a síndrome do pânico vivem o medo dramático de que vão
morrer ou desmaiar, gerado também por este gatilho. Do mesmo
modo, quem tem claustrofobia, transtornos obsessivos compulsivos
(TOC) e outras doenças que produzem intensa ansiedade é vítima do
gatilho da memória. Tal fenômeno é fundamental para o
funcionamento normal da mente humana, mas se ele produz reações
doentias e pensamentos negativos inadministráveis, contribui para
gerar uma masmorra interior.
Jesus sabia navegar pelas águas da emoção num ambiente
turbulento. Ele transitava pelas agressividades, pelas
perdas e frustrações da vida sem se deixar abater.
Certa vez, aconteceu num tribunal. Um homem estava
sendo julgado por assassinato. Havia cometido um crime
cruel. Matou um homem por um motivo torpe: a vítima
jogou, numa discussão, um copo d’água no seu rosto.
Humilhado, ele o assassinou.
O réu era indefensável. Pegaria a pena máxima. O promotor
discursava eloquentemente sobre a periculosidade do mesmo.
Dizia que alguém tão violento não poderia estar em nenhum
outro lugar senão atrás das grades. Como pode alguém matar
um ser humano por ter sido agredido com um copo d’água?
O advogado de defesa não tinha argumentos. Tudo parecia
estar perdido. Então, de repente, teve uma idéia. Resolveu
reproduzir a cena do crime. Começou a criar um clima de
atrito com os membros do júri. Então, subitamente, pegou um
copo com água e, no calor da discussão, sem que esperassem,
atirou água em seus rostos.
O juiz interpretou o gesto do advogado como um
grande desacato. Os membros do júri ficaram
profundamente irados com a insolência. Então,
imediatamente, pediu desculpas e explicou os
motivos de sua atitude. Disse que tramou agredir
os membros do júri e jogar água neles para que
eles olhassem para o réu com os olhos dele, na
pele dele. Comentou que tentou simular o clima
do assassinato, gerar uma emoção nos membros
do júri semelhante a que seu cliente sentiu no
momento em que a vítima lhe atirou água no
rosto.
Diante disto, ele fitou o júri e encerrou sua defesa
dizendo-lhes: “se vocês ficaram irados quando lhes atirei a
água, entenderão o que aconteceu com meu cliente.
Infelizmente, todos nós cometemos atos impensáveis quando
estamos tensos. Ele não é perigoso, jamais planejara aquele
assassinato, e havia se arrependido da sua atitude
impulsiva. Por favor, julguem meu cliente baseados em sua
consciência, em sua emoção”. O veredicto final foi a
absolvição. O advogado de defesa, sem ter consciência,
levou os jurados a compreender o fenômeno do gatilho da
memória. Infelizmente, desculpamos a violência dos outros
pela nossa violência.
Quanto mais se afloram os estímulos estressantes através
da competição predatória, do individualismo, da crise do
diálogo, da velocidade das transformações sociais, mais o
homem moderno reage sem pensar, mais volta ao tempo das
cavernas. Assim, pouco a pouco nos psicoadaptamos à
agressividade. Aceitamos a violência como normal, como
parte inerente da rotina social.
O mestre de Nazaré não reagia com violência, mesmo
quando ferido. Ele não apenas não se deixava ser invadido
pela agressividade dos outros como também não devolvia a
violência que lhe causavam, mas era capaz de conduzi-los a
refletir sobre os fundamentos de sua ira.
Quem é este homem que governa sua emoção num ambiente
em que todos nós nos afogaríamos nas águas da raiva e do
medo? Somos uma espécie tão bela, mas tão complicada.
Somos tão complicados que roubamos de nós mesmos nossa
tranquilidade e o direito de sermos felizes.
Todas as experiências que vivemos no palco de nossas
mentes são registradas involuntariamente na memória pelo
fenômeno RAM. E, se estas experiências tiverem alta
carga de tensão, o registro será privilegiado, ocupando
áreas nobres de nossa memória.
Aqui há um grande aprendizado a ser feito. Se uma
pessoa nos perturbou, nos prejudicou ou nos humilhou
de alguma forma e se desenvolvemos raiva, ódio ou
medo dela, saiba que ela será registrada de maneira
privilegiada na parte central de nossa memória, que
chamo de MUC (Memória de Uso Contínuo). Se
imaginarmos a memória como uma grande cidade, a
MUC é a área em que mais circulamos e realizamos
nossas atividades profissionais e sociais. Por estar
registrado na MUC, ela será lida preferencialmente e
participará de grande parte de nossos pensamentos.
Assim, pensando que a raiva, ódio ou reação fóbica de
afastamento nos livrará de nosso agressor, nos enganamos. Ele
almoçará, jantará e dormirá conosco, pois ocupará a área
central de nossa memória consciente e inconsciente e,
consequentemente, ocupará grande parte de nossos pensamentos
que, por sua vez, afetarão a qualidade de nossas emoções. Por
isso, quando temos um problema não deixamos de pensar nele.
Quanto mais aversão sentirmos por alguém, mais ele ocupará
nossos sonhos e nos convidará a ter insônia. Da próxima vez que
alguém o frustrar, lembre-se de que se não tomar cuidado, você
dormirá com ele.
O mestre de Nazaré não dormia com seus inimigos, pois
nenhum homem era seu inimigo. Os fariseus podiam odiá-lo
e ameaçá-lo, mas todo o ódio de um homem não o
qualificava para ser seu inimigo. Qual a razão? A razão era
que ninguém conseguia transpor sua capacidade de proteger
a sua emoção. Não permitia que a agressão dos outros
tocasse sua alma. Conheço a história de filhos que nunca
mais segredaram nada aos seus pais depois que estes os
frustraram. Conheço também pessoas que nunca mais
reataram a amizade com seus amigos depois de uma pequena
discussão. Eles abriram as comportas de sua emoção e
deixaram que um episódio turbulento destruísse para sempre
um belo relacionamento.
Todos os líderes políticos que usaram a agressividade como
ferramenta para impor suas idéias mancharam as páginas da
história. A própria história os condenou. Foram esquecidos
ou lembrados com repugnância.
O nome de Jesus percorreu todas as gerações como fogo em
madeira seca. Quais os motivos? Muitos. Não foi somente
pela sua demonstração de poder, mas muito mais pela sua
necessidade de não usá-lo. Quem agiu como ele na história?
Jesus mudou a história da humanidade pela delicadeza dos
seus gestos num ambiente grosseiro e inumano, pelos
patamares impensáveis aos quais chegou sua amabilidade num
ambiente em que os homens não sabiam amar.
Os homens que cometeram mais atrocidades na história
foram aqueles que tinham menos capacidade de se
questionar. Foram aqueles que tinham menos capacidade para
aprender. Eles fecharam as janelas da inteligência para
pensar em outras possibilidades. Quem vive verdades
absolutas usa o poder para dominar os outros. Aqueles que
eles não conseguem dominar, eliminam.
A vida é muito longa para se errar, mas
brevíssima para se viver. Se os homens
refletissem filosoficamente sobre a temporalidade
da vida, tal reflexão estimularia a sabedoria e o
amor pelos direitos humanos. Compreenderiam que
o intervalo entre a meninice e a velhice se
constitui de alguns instantes. Todavia, desprezam
a sabedoria.
O Autor da vida não queria que o homem se dobrasse aos seus pés
pelo seu poder, mas por seu amor. O poder financeiro e político
sempre fascinou mais o homem do que o amor. Mas apareceu
alguém que até hoje nos deixa perplexos. Poderia ter o mundo aos
seus pés se usasse seu poder, mas preferiu ser amado a ser
temido. Por incrível que pareça, o Todo Poderoso veio procurar
amigos e não escravos, por isso veio pessoalmente conviver com os
homens. Diferente de Deus, o homem quanto mais conquista poder,
mais perde seus amigos. Segundo os textos dos evangelhos, Deus
tem plena consciência de todas as necessidades humanas. Cada dor,
angústia ou aflição tocam sua emoção. Ele nunca esteve alienado ao
pranto dos pais que perderam seus filhos. Esteve presente em cada
lágrima que eles derramaram, em cada momento de desespero que
viveram. Penetrou em todos os momentos de solidão e de descrença
da vida que tiveram.
Há dois tipos de sabedoria: a inferior e a superior. A sabedoria
inferior é dada pelo quanto uma pessoa sabe e a superior é dada
pelo quanto ela tem consciência de que não sabe. Os verdadeiros
sábios são os mais convictos da sua ignorância. Desconfiem das
pessoas auto-suficientes. O orgulho é um golpe contra a lucidez,
um atentado contra a inteligência.
A sabedoria superior tolera; a inferior, julga; a superior alivia, a
inferior culpa; a superior perdoa, a inferior condena. Na
sabedoria inferior há diplomas, na superior ninguém se diploma,
não há mestres nem doutores, todos são eternos aprendizes. Que
tipo de sabedoria controla sua vida?
Sabemos muito pouco também sobre nós mesmos. Quem
somos? Como produzimos pensamentos e confeccionamos a
consciência? Você já percebeu que você, tal como cada ser
humano, é um ser único no teatro da vida?
Pensar e ter consciência parece tão simples, mas a ciência e todas
as bibliotecas do mundo inteiro são insuficientes para explicar
apenas a solidão de uma criança abandonada nas ruas.
Se você compreender algo sobre a complexidade dos
fenômenos que se encenam no palco de nossa mente e que
constroem as idéias, descobrirá que não existem árabes ou
judeus, americanos ou alemães, negros ou brancos, somos
todos uma única e apaixonante espécie.
O mestre da vida, Jesus Cristo, era profundamente
apaixonado pela espécie humana. Ele dava uma atenção
especial a cada ser humano. Os miseráveis eram tratados
como príncipes e os príncipes, como reis.
O mundo carece de pensadores. As sociedades precisam de
homens que possuam idéias inovadoras capazes de contribuir
para enriquecer nossas inteligências e mudar as rotas de
nossas vidas.
Raramente um político, intelectual, um artista tem idéias
novas e brilhantes. Não há emoção em suas palavras. O
espetáculo está nos filmes, mas não no terreno da realidade.
É incomum ouvirmos homens e mulheres famoso(a)s nos
encantando com sua inteligência.
Concordo plenamente com o autor quando ele nos diz que
estamos tão atarefados em comprar, vender, ter, fazer,
que não conseguimos ficar atônitos com o espetáculo da
vida e nem com os segredos que o cercam. É infrequente
alguém fazer uma simples indagação filosófica tal como
esta: “Que mistério é estar vivo e mergulhado no tempo
e no espaço!”. Você já parou para pensar que a vida que
pulsa em você é fonte insondável de enigmas? Quem
deixou de perguntar sobre os fenômenos da existência se
diplomou na escola da vida, destruiu sua capacidade de
aprender.
As crianças de hoje têm mais informações do que um idoso
do passado. Os adultos estão abarrotados de informações,
mas dificilmente sabem organizá-las. Saber muito, mas
pensar pouco tem pouca utilidade. Muitos têm uma mente
com centímetros de profundidade e quilômetros de
extensão.
Todavia, se você está, aborrecido com a carência de
pensadores numa sociedade em que as escolas se
multiplicaram, aqui teremos nós teremos um consolo,
estudando Jesus.
Jesus amava ser um homem e lutava para que as pessoas
percebessem o valor incondicional da vida. Para isso, procurava
desobstruir a inteligência delas.
Que ferramenta ele usava?
Muitos pensam que Jesus só discorria sobre a fé, mas ele utilizava
uma das melhores ferramentas para abrir as janelas da mente
humana: a arte da dúvida.
A dúvida amigos e amigas é uma ferramenta fundamental para
expandir o leque do pensamento. A morte de um cientista ocorre
quando ele deixa de duvidar do seu conhecimento.
Se você souber utilizar a arte da dúvida vai ao encontro da
sabedoria superior e, por isso, sempre vai considerar todo seu
conhecimento uma pequena gota num oceano.
Os jovens de hoje são frequentemente autoritários. O mundo tem
de girar em torno das suas verdades e necessidades. Por estarem
abarrotados de informações, acham que entendem de tudo.
Raramente uma pessoa mais velha consegue mudar as rotas do
que pensam e sentem. Por quê? Porque não aprenderam a duvidar
de si mesmos, a questionar as suas opiniões e nem a se colocar no
lugar dos outros.
A dúvida tem três estágios: ausência da dúvida, a presença
inteligente da dúvida, a presença excessiva da dúvida.
A ausência da dúvida gera pessoas psicopatas. Quem nunca duvida
de si mesmo, quem se acha infalível e perfeito nunca terá
compaixão dos outros.
A presença inteligente da dúvida abre as janelas da inteligência e
estimula a criatividade e a produção de novas respostas.
A presença excessiva da dúvida leva as pessoas a retrair sua
inteligência e suas atitudes pela insegurança. Tornam-se
excessivamente tímidas e autopunitivas.
A dúvida inteligente esvazia o orgulho. Jesus contava ricas
parábolas levando as pessoas a confrontar-se com seu orgulho e
rigidez, desse modo ele objetivava estimular o espírito delas e
romper seu cárcere intelectual. Ele respondia perguntas com
perguntas e quando dava respostas elas sempre abriam os
horizontes dos pensamentos. Era um grande mestre da educação e
seus discursos formavam e não informavam.
A mulher samaritana, ao ouvi-lo, ficou tão encantada que
saiu pela cidade discorrendo sobre ele, embora mal o
conhecesse. Ela era uma mulher promíscua e socialmente
rejeitada. Mas o mestre do amor não pediu conta dos
homens com quem ela tinha andado. Ele disse que ela
estava sedenta, ansiosa e precisava beber de um prazer
que jamais havia experimentado.
Que homem é esse que em poucas palavras deixa maravilhados
seus ouvintes? As pessoas querem formatar o homem Jesus, mas
é impossível formatá-lo. Independente de sua divindade, ele foi
um homem deslumbrante.
O que é educar? Educar é produzir um homem feliz e sábio.
Educar é produzir um homem que ama o espetáculo da vida.
Desse amor, emana a fonte da inteligência. Educar é produzir
uma sinfonia em que rimam dois mundos: o das idéias e o das
emoções.
Se as escolas conhecessem os procedimentos educacionais que
Jesus aplicou, elas não apenas formariam um homem saudável,
mas teriam professores com mais qualidade de vida.
Infelizmente, quase ninguém mais valoriza os educadores.
Entretanto, eles são os profissionais mais nobres da sociedade.
Os psiquiatras tratam do homem doente e os juízes julgam os
réus. E os professores?
Eles educam o homem para que ele não tenha transtorno psíquico e nem
se sente nos bancos dos réus.
Os professores, embora desvalorizados, são os alicerces da sociedade.
Eles precisam ter subsídios para resolver os conflitos em sala de aula,
educar a emoção e fazer laboratórios do desenvolvimento da
inteligência.
Jesus fazia laboratórios educacionais do mais alto nível. Fazia
laboratório das funções mais importantes da inteligência, laboratório
de superação, laboratório do treinamento do caráter, oficina de
psicologia preventiva. Quem andava com ele resgatava o sentido da
vida e desejava ser eterno. Quem deseja ser eterno é porque
aprendeu a amar a vida, a realçar sua autoestima e a não gravitar em
torno de seus sofrimentos. Essa é uma faceta da inteligência
espiritual.
Quando o mestre da emoção dizia: “Amai o próximo como a ti
mesmo”, ele estava fazendo um excelente laboratório de
autoestima. Se não amar a vida que pulsa em mim,
independentemente de meus erros, como vou amar o próximo?
Não espere amar as pessoas se você não ama a sua vida. Não
espere ser solidário com os outros se você é carrasco de si
mesmo.
Jesus sabia ensinar os homens a pensar e a navegar nas águas
da emoção. Queria tratar das feridas da alma e cuidar do bem
estar das pessoas. Não estava preocupado com a sua imagem
social. Corria todos os riscos por causa de um ser humano.
Uma das características admiráveis de Jesus era que ele
enfrentava as situações estressantes sem temor. Não fugia dos
seus inimigos, não tinha medo de ser questionado, não tinha
receio de entrar em conversas delicadas e, muito menos, de
usar as ferramentas que um dia o destruiriam.
Enfrente seu medo e desafie-o e você verá que o monstro é
menor do que você imagina. Dê as costas ao seu medo e ele se
tornará um gigante imbatível. Sabe qual é o pior matemático do
mundo? O medo. Ele sempre aumenta o volume dos problemas.
Por isso é tão importante não sermos passivos, mas darmos um
choque de lucidez em nossas emoções.
Os homens que andavam com Jesus aprenderam
uma das mais difíceis e importantes linguagens,
a linguagem da emoção. Aprenderam a não ter
medo de admitir as suas fragilidades e de falar
dos seus sentimentos. Aprenderam a não ter
medo de amar e chorar. As lágrimas são alguns
dos códigos da linguagem encantadora da
emoção. Pedro chorou por tê-lo negado; Judas
por tê-lo traído e agora uma numerosa multidão
soluçava inconsolada por crer que iria perdê-lo
para sempre.
Quanto você tem aprendido a linguagem da
emoção? Você vive represado dentro de si
mesmo ou sabe expressar seus sentimentos?
Nunca se esqueça de que a maneira como os
outros nos vêem e reagem a nós se deve não ao
que somos, mas ao que expressamos. Há
pessoas excelentes, mas com péssima
capacidade de exteriorizar sua amabilidade,
sabedoria, preocupação com os outros.
Oito grandes implicações da primeira frase de Cristo.
Os textos são claros. Jesus disse uma das suas mais célebres
frases, talvez a maior delas, no cume da sua dor, na primeira
hora da sua crucificação.
Ao clamar: “Pai, perdoa-os porque eles não sabem o que fazem”,
Jesus resume em poucas palavras a sua grande missão, o seu
projeto transcendental e as entranhas do seu ser. Esse
pensamento é sobremodo elevado, possui tantas vertentes que, é
impossível entendê-lo na plenitude.
Análise de Jesus
Análise de Jesus
Análise de Jesus
Análise de Jesus
Análise de Jesus
Análise de Jesus
Análise de Jesus
Análise de Jesus
Análise de Jesus
Análise de Jesus
Análise de Jesus
Análise de Jesus
Análise de Jesus
Análise de Jesus
Análise de Jesus
Análise de Jesus
Análise de Jesus
Análise de Jesus
Análise de Jesus
Análise de Jesus
Análise de Jesus
Análise de Jesus
Análise de Jesus
Análise de Jesus
Análise de Jesus
Análise de Jesus
Análise de Jesus
Análise de Jesus
Análise de Jesus
Análise de Jesus
Análise de Jesus
Análise de Jesus
Análise de Jesus
Análise de Jesus
Análise de Jesus
Análise de Jesus
Análise de Jesus
Análise de Jesus
Análise de Jesus
Análise de Jesus
Análise de Jesus
Análise de Jesus
Análise de Jesus
Análise de Jesus
Análise de Jesus
Análise de Jesus
Análise de Jesus

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

Eae 67 Continuação das Epístolas
Eae 67 Continuação das EpístolasEae 67 Continuação das Epístolas
Eae 67 Continuação das EpístolasPatiSousa1
 
Estudo do livro Roteiro lição 24
Estudo do livro Roteiro lição 24Estudo do livro Roteiro lição 24
Estudo do livro Roteiro lição 24Candice Gunther
 
De nada vale a fé sem obras
De nada vale a fé sem obrasDe nada vale a fé sem obras
De nada vale a fé sem obrasHelio Cruz
 
O evagenlho segundo jesus cristo
O evagenlho segundo jesus cristoO evagenlho segundo jesus cristo
O evagenlho segundo jesus cristoTamara Silva
 
Boletim informativo fev2015
Boletim informativo fev2015Boletim informativo fev2015
Boletim informativo fev2015fespiritacrista
 
John powell porque tenho medo de lhe dizer quem sou
John powell   porque tenho medo de lhe dizer quem souJohn powell   porque tenho medo de lhe dizer quem sou
John powell porque tenho medo de lhe dizer quem soudanibateras
 
Eae 64 Estudo das Epístolas
Eae 64 Estudo das EpístolasEae 64 Estudo das Epístolas
Eae 64 Estudo das EpístolasPatiSousa1
 
Smf vi antes do consolador 1 setembro 2014
Smf vi antes do consolador  1 setembro 2014Smf vi antes do consolador  1 setembro 2014
Smf vi antes do consolador 1 setembro 2014Marcílio Pereira
 
Homossexualismo Doença, Opção ou Demônio
Homossexualismo   Doença, Opção ou DemônioHomossexualismo   Doença, Opção ou Demônio
Homossexualismo Doença, Opção ou DemônioLeandro Sales
 
As escrituras não somente revelam cristo
As escrituras não somente revelam cristoAs escrituras não somente revelam cristo
As escrituras não somente revelam cristowelingtonjh
 
2 cartas de uma morta (chico xavier - maria joão de deus)
2   cartas de uma morta (chico xavier - maria joão de deus)2   cartas de uma morta (chico xavier - maria joão de deus)
2 cartas de uma morta (chico xavier - maria joão de deus)luisbramao
 

Mais procurados (20)

Eae 67 Continuação das Epístolas
Eae 67 Continuação das EpístolasEae 67 Continuação das Epístolas
Eae 67 Continuação das Epístolas
 
Estudo do livro Roteiro lição 24
Estudo do livro Roteiro lição 24Estudo do livro Roteiro lição 24
Estudo do livro Roteiro lição 24
 
Edição n. 60 do CH Noticias - Junho/2020
Edição n. 60 do CH Noticias - Junho/2020Edição n. 60 do CH Noticias - Junho/2020
Edição n. 60 do CH Noticias - Junho/2020
 
De nada vale a fé sem obras
De nada vale a fé sem obrasDe nada vale a fé sem obras
De nada vale a fé sem obras
 
Disfarce de Professor
Disfarce de ProfessorDisfarce de Professor
Disfarce de Professor
 
O evagenlho segundo jesus cristo
O evagenlho segundo jesus cristoO evagenlho segundo jesus cristo
O evagenlho segundo jesus cristo
 
Boletim informativo fev2015
Boletim informativo fev2015Boletim informativo fev2015
Boletim informativo fev2015
 
John powell porque tenho medo de lhe dizer quem sou
John powell   porque tenho medo de lhe dizer quem souJohn powell   porque tenho medo de lhe dizer quem sou
John powell porque tenho medo de lhe dizer quem sou
 
Eae 64 Estudo das Epístolas
Eae 64 Estudo das EpístolasEae 64 Estudo das Epístolas
Eae 64 Estudo das Epístolas
 
Smf vi antes do consolador 1 setembro 2014
Smf vi antes do consolador  1 setembro 2014Smf vi antes do consolador  1 setembro 2014
Smf vi antes do consolador 1 setembro 2014
 
Homossexualismo Doença, Opção ou Demônio
Homossexualismo   Doença, Opção ou DemônioHomossexualismo   Doença, Opção ou Demônio
Homossexualismo Doença, Opção ou Demônio
 
Uma deusa chamada lilith
Uma deusa chamada lilithUma deusa chamada lilith
Uma deusa chamada lilith
 
As escrituras não somente revelam cristo
As escrituras não somente revelam cristoAs escrituras não somente revelam cristo
As escrituras não somente revelam cristo
 
O Evangelho Segundo Jesus Cristo - 3ª D
O Evangelho Segundo Jesus Cristo - 3ª DO Evangelho Segundo Jesus Cristo - 3ª D
O Evangelho Segundo Jesus Cristo - 3ª D
 
Lar br
Lar brLar br
Lar br
 
Se a mediunidade falasse ii
Se a mediunidade falasse iiSe a mediunidade falasse ii
Se a mediunidade falasse ii
 
Edição n. 19 do CH Notícias - Janeiro/2017
Edição n. 19 do CH Notícias - Janeiro/2017Edição n. 19 do CH Notícias - Janeiro/2017
Edição n. 19 do CH Notícias - Janeiro/2017
 
Clone Rico Clone Pobre
Clone Rico Clone PobreClone Rico Clone Pobre
Clone Rico Clone Pobre
 
Paulo e abigail
Paulo e abigailPaulo e abigail
Paulo e abigail
 
2 cartas de uma morta (chico xavier - maria joão de deus)
2   cartas de uma morta (chico xavier - maria joão de deus)2   cartas de uma morta (chico xavier - maria joão de deus)
2 cartas de uma morta (chico xavier - maria joão de deus)
 

Semelhante a Análise de Jesus

Pastoral dia dos pais
Pastoral dia dos paisPastoral dia dos pais
Pastoral dia dos paisiceanapolis
 
Deus e jesus ccm 2011
Deus e jesus ccm 2011Deus e jesus ccm 2011
Deus e jesus ccm 2011Falec
 
1 5166115817590358172 (1)
1 5166115817590358172 (1)1 5166115817590358172 (1)
1 5166115817590358172 (1)AliceLirio1
 
PROGRAMAÇÃO AULAS DE EVANGELIZAÇÃO FASE 1 - CRIANÇAS 5 À 10 ANOS
PROGRAMAÇÃO AULAS DE EVANGELIZAÇÃO FASE 1 - CRIANÇAS 5 À 10 ANOS PROGRAMAÇÃO AULAS DE EVANGELIZAÇÃO FASE 1 - CRIANÇAS 5 À 10 ANOS
PROGRAMAÇÃO AULAS DE EVANGELIZAÇÃO FASE 1 - CRIANÇAS 5 À 10 ANOS Alice Lirio
 
Jesus e o evangelho á luz da psicologia profunda divaldo franco
Jesus e o evangelho á luz da psicologia profunda  divaldo francoJesus e o evangelho á luz da psicologia profunda  divaldo franco
Jesus e o evangelho á luz da psicologia profunda divaldo francoHelio Cruz
 
Deus e Jesus
Deus e JesusDeus e Jesus
Deus e Jesuscelsocs
 
Boletim 83
Boletim 83Boletim 83
Boletim 83CEJG
 
De Francisco de Assis para Você- Vamos cuidar da casa comum
De Francisco de Assis para Você- Vamos cuidar da casa comumDe Francisco de Assis para Você- Vamos cuidar da casa comum
De Francisco de Assis para Você- Vamos cuidar da casa comumAnderson Santos
 
Resenha espirita on line 135
Resenha espirita on line 135Resenha espirita on line 135
Resenha espirita on line 135MRS
 
De nada vale a fé sem obras
De nada vale a fé sem obrasDe nada vale a fé sem obras
De nada vale a fé sem obrasHelio Cruz
 
Paulo exemplo de transformação moral
Paulo exemplo de transformação moralPaulo exemplo de transformação moral
Paulo exemplo de transformação moralLUCAS CANAVARRO
 
O Exemplo de Joana de Cusa
O Exemplo de Joana de CusaO Exemplo de Joana de Cusa
O Exemplo de Joana de CusaHelio Cruz
 
Histórias que trazem felicidade
Histórias que trazem felicidadeHistórias que trazem felicidade
Histórias que trazem felicidadeHelio Cruz
 
Andre luizsexoe destino
Andre luizsexoe destinoAndre luizsexoe destino
Andre luizsexoe destinomamuskafomm
 
14 sexo e-destino-1963
14 sexo e-destino-196314 sexo e-destino-1963
14 sexo e-destino-1963paulasa pin
 

Semelhante a Análise de Jesus (20)

Pastoral dia dos pais
Pastoral dia dos paisPastoral dia dos pais
Pastoral dia dos pais
 
Edição n. 42 do CH Noticias - Dezembro/2018
Edição n. 42 do CH Noticias - Dezembro/2018Edição n. 42 do CH Noticias - Dezembro/2018
Edição n. 42 do CH Noticias - Dezembro/2018
 
Edição n. 66 do CH Noticias - Dezembro/2020
Edição n. 66 do CH Noticias - Dezembro/2020Edição n. 66 do CH Noticias - Dezembro/2020
Edição n. 66 do CH Noticias - Dezembro/2020
 
Deus e jesus ccm 2011
Deus e jesus ccm 2011Deus e jesus ccm 2011
Deus e jesus ccm 2011
 
1 5166115817590358172 (1)
1 5166115817590358172 (1)1 5166115817590358172 (1)
1 5166115817590358172 (1)
 
PROGRAMAÇÃO AULAS DE EVANGELIZAÇÃO FASE 1 - CRIANÇAS 5 À 10 ANOS
PROGRAMAÇÃO AULAS DE EVANGELIZAÇÃO FASE 1 - CRIANÇAS 5 À 10 ANOS PROGRAMAÇÃO AULAS DE EVANGELIZAÇÃO FASE 1 - CRIANÇAS 5 À 10 ANOS
PROGRAMAÇÃO AULAS DE EVANGELIZAÇÃO FASE 1 - CRIANÇAS 5 À 10 ANOS
 
Jesus e o evangelho á luz da psicologia profunda divaldo franco
Jesus e o evangelho á luz da psicologia profunda  divaldo francoJesus e o evangelho á luz da psicologia profunda  divaldo franco
Jesus e o evangelho á luz da psicologia profunda divaldo franco
 
Deus e Jesus
Deus e JesusDeus e Jesus
Deus e Jesus
 
J espiritismo nov-dez-2011
J espiritismo nov-dez-2011J espiritismo nov-dez-2011
J espiritismo nov-dez-2011
 
Boletim 83
Boletim 83Boletim 83
Boletim 83
 
De Francisco de Assis para Você- Vamos cuidar da casa comum
De Francisco de Assis para Você- Vamos cuidar da casa comumDe Francisco de Assis para Você- Vamos cuidar da casa comum
De Francisco de Assis para Você- Vamos cuidar da casa comum
 
2 Jesus e Assistência.
2 Jesus e Assistência.2 Jesus e Assistência.
2 Jesus e Assistência.
 
Resenha espirita on line 135
Resenha espirita on line 135Resenha espirita on line 135
Resenha espirita on line 135
 
Curso visitação fraterna
Curso visitação fraternaCurso visitação fraterna
Curso visitação fraterna
 
De nada vale a fé sem obras
De nada vale a fé sem obrasDe nada vale a fé sem obras
De nada vale a fé sem obras
 
Paulo exemplo de transformação moral
Paulo exemplo de transformação moralPaulo exemplo de transformação moral
Paulo exemplo de transformação moral
 
O Exemplo de Joana de Cusa
O Exemplo de Joana de CusaO Exemplo de Joana de Cusa
O Exemplo de Joana de Cusa
 
Histórias que trazem felicidade
Histórias que trazem felicidadeHistórias que trazem felicidade
Histórias que trazem felicidade
 
Andre luizsexoe destino
Andre luizsexoe destinoAndre luizsexoe destino
Andre luizsexoe destino
 
14 sexo e-destino-1963
14 sexo e-destino-196314 sexo e-destino-1963
14 sexo e-destino-1963
 

Último

Lição 4 - Como se Conduzir na Caminhada.pptx
Lição 4 - Como se Conduzir na Caminhada.pptxLição 4 - Como se Conduzir na Caminhada.pptx
Lição 4 - Como se Conduzir na Caminhada.pptxCelso Napoleon
 
Série Evangelho no Lar - Pão Nosso - Cap. 132 - Em tudo
Série Evangelho no Lar - Pão Nosso - Cap. 132 - Em tudoSérie Evangelho no Lar - Pão Nosso - Cap. 132 - Em tudo
Série Evangelho no Lar - Pão Nosso - Cap. 132 - Em tudoRicardo Azevedo
 
METODOLOGIA ELANA* – ENSINO LEVA AUTONOMIA NO APRENDIZADO. UMA PROPOSTA COMP...
METODOLOGIA ELANA* – ENSINO LEVA  AUTONOMIA NO APRENDIZADO. UMA PROPOSTA COMP...METODOLOGIA ELANA* – ENSINO LEVA  AUTONOMIA NO APRENDIZADO. UMA PROPOSTA COMP...
METODOLOGIA ELANA* – ENSINO LEVA AUTONOMIA NO APRENDIZADO. UMA PROPOSTA COMP...PIB Penha
 
Paulo é vítima de fake news e o primeiro culto num domingo
Paulo é vítima de fake news e o primeiro culto num domingoPaulo é vítima de fake news e o primeiro culto num domingo
Paulo é vítima de fake news e o primeiro culto num domingoPIB Penha
 
MATERIAL DE APOIO - E-BOOK - CURSO TEOLOGIA DA BÍBLIA
MATERIAL DE APOIO - E-BOOK - CURSO TEOLOGIA DA BÍBLIAMATERIAL DE APOIO - E-BOOK - CURSO TEOLOGIA DA BÍBLIA
MATERIAL DE APOIO - E-BOOK - CURSO TEOLOGIA DA BÍBLIAInsituto Propósitos de Ensino
 
2 joão (1) 1.pptx As TRÊS CARTAS DO APÓSTOLO JOÃO têm uma mensagem solene e u...
2 joão (1) 1.pptx As TRÊS CARTAS DO APÓSTOLO JOÃO têm uma mensagem solene e u...2 joão (1) 1.pptx As TRÊS CARTAS DO APÓSTOLO JOÃO têm uma mensagem solene e u...
2 joão (1) 1.pptx As TRÊS CARTAS DO APÓSTOLO JOÃO têm uma mensagem solene e u...MiltonCesarAquino1
 
Tabela bíblica Periódica - Livros da Bíblia.pdf
Tabela bíblica Periódica - Livros da Bíblia.pdfTabela bíblica Periódica - Livros da Bíblia.pdf
Tabela bíblica Periódica - Livros da Bíblia.pdfAgnaldo Fernandes
 
9ª aula - livro de Atos dos apóstolos Cap 18 e 19
9ª aula - livro de Atos dos apóstolos Cap 18 e 199ª aula - livro de Atos dos apóstolos Cap 18 e 19
9ª aula - livro de Atos dos apóstolos Cap 18 e 19PIB Penha
 
As festas esquecidas.pdf................
As festas esquecidas.pdf................As festas esquecidas.pdf................
As festas esquecidas.pdf................natzarimdonorte
 
Oração A Bem-Aventurada Irmã Dulce Dos Pobres
Oração A Bem-Aventurada Irmã Dulce Dos PobresOração A Bem-Aventurada Irmã Dulce Dos Pobres
Oração A Bem-Aventurada Irmã Dulce Dos PobresNilson Almeida
 
Baralho Cigano Significado+das+cartas+slides.pdf
Baralho Cigano Significado+das+cartas+slides.pdfBaralho Cigano Significado+das+cartas+slides.pdf
Baralho Cigano Significado+das+cartas+slides.pdfJacquelineGomes57
 
EUBIOSOFIA - MEMÓRIAS DA SOCIEDADE TEOSÓFICA BRASILEIRA
EUBIOSOFIA - MEMÓRIAS DA SOCIEDADE TEOSÓFICA BRASILEIRAEUBIOSOFIA - MEMÓRIAS DA SOCIEDADE TEOSÓFICA BRASILEIRA
EUBIOSOFIA - MEMÓRIAS DA SOCIEDADE TEOSÓFICA BRASILEIRAMarco Aurélio Rodrigues Dias
 
As violações das leis do Criador (material em pdf)
As violações das leis do Criador (material em pdf)As violações das leis do Criador (material em pdf)
As violações das leis do Criador (material em pdf)natzarimdonorte
 
O Sacramento do perdão, da reconciliação.
O Sacramento do perdão, da reconciliação.O Sacramento do perdão, da reconciliação.
O Sacramento do perdão, da reconciliação.LucySouza16
 

Último (18)

Lição 4 - Como se Conduzir na Caminhada.pptx
Lição 4 - Como se Conduzir na Caminhada.pptxLição 4 - Como se Conduzir na Caminhada.pptx
Lição 4 - Como se Conduzir na Caminhada.pptx
 
VICIOS MORAIS E COMPORTAMENTAIS NA VISÃO ESPÍRITA
VICIOS MORAIS E COMPORTAMENTAIS  NA VISÃO ESPÍRITAVICIOS MORAIS E COMPORTAMENTAIS  NA VISÃO ESPÍRITA
VICIOS MORAIS E COMPORTAMENTAIS NA VISÃO ESPÍRITA
 
Mediunidade e Obsessão - Doutrina Espírita
Mediunidade e Obsessão - Doutrina EspíritaMediunidade e Obsessão - Doutrina Espírita
Mediunidade e Obsessão - Doutrina Espírita
 
Série Evangelho no Lar - Pão Nosso - Cap. 132 - Em tudo
Série Evangelho no Lar - Pão Nosso - Cap. 132 - Em tudoSérie Evangelho no Lar - Pão Nosso - Cap. 132 - Em tudo
Série Evangelho no Lar - Pão Nosso - Cap. 132 - Em tudo
 
METODOLOGIA ELANA* – ENSINO LEVA AUTONOMIA NO APRENDIZADO. UMA PROPOSTA COMP...
METODOLOGIA ELANA* – ENSINO LEVA  AUTONOMIA NO APRENDIZADO. UMA PROPOSTA COMP...METODOLOGIA ELANA* – ENSINO LEVA  AUTONOMIA NO APRENDIZADO. UMA PROPOSTA COMP...
METODOLOGIA ELANA* – ENSINO LEVA AUTONOMIA NO APRENDIZADO. UMA PROPOSTA COMP...
 
Paulo é vítima de fake news e o primeiro culto num domingo
Paulo é vítima de fake news e o primeiro culto num domingoPaulo é vítima de fake news e o primeiro culto num domingo
Paulo é vítima de fake news e o primeiro culto num domingo
 
MATERIAL DE APOIO - E-BOOK - CURSO TEOLOGIA DA BÍBLIA
MATERIAL DE APOIO - E-BOOK - CURSO TEOLOGIA DA BÍBLIAMATERIAL DE APOIO - E-BOOK - CURSO TEOLOGIA DA BÍBLIA
MATERIAL DE APOIO - E-BOOK - CURSO TEOLOGIA DA BÍBLIA
 
2 joão (1) 1.pptx As TRÊS CARTAS DO APÓSTOLO JOÃO têm uma mensagem solene e u...
2 joão (1) 1.pptx As TRÊS CARTAS DO APÓSTOLO JOÃO têm uma mensagem solene e u...2 joão (1) 1.pptx As TRÊS CARTAS DO APÓSTOLO JOÃO têm uma mensagem solene e u...
2 joão (1) 1.pptx As TRÊS CARTAS DO APÓSTOLO JOÃO têm uma mensagem solene e u...
 
Aprendendo a se amar e a perdoar a si mesmo
Aprendendo a se amar e a perdoar a si mesmoAprendendo a se amar e a perdoar a si mesmo
Aprendendo a se amar e a perdoar a si mesmo
 
Tabela bíblica Periódica - Livros da Bíblia.pdf
Tabela bíblica Periódica - Livros da Bíblia.pdfTabela bíblica Periódica - Livros da Bíblia.pdf
Tabela bíblica Periódica - Livros da Bíblia.pdf
 
9ª aula - livro de Atos dos apóstolos Cap 18 e 19
9ª aula - livro de Atos dos apóstolos Cap 18 e 199ª aula - livro de Atos dos apóstolos Cap 18 e 19
9ª aula - livro de Atos dos apóstolos Cap 18 e 19
 
As festas esquecidas.pdf................
As festas esquecidas.pdf................As festas esquecidas.pdf................
As festas esquecidas.pdf................
 
Oração A Bem-Aventurada Irmã Dulce Dos Pobres
Oração A Bem-Aventurada Irmã Dulce Dos PobresOração A Bem-Aventurada Irmã Dulce Dos Pobres
Oração A Bem-Aventurada Irmã Dulce Dos Pobres
 
Baralho Cigano Significado+das+cartas+slides.pdf
Baralho Cigano Significado+das+cartas+slides.pdfBaralho Cigano Significado+das+cartas+slides.pdf
Baralho Cigano Significado+das+cartas+slides.pdf
 
EUBIOSOFIA - MEMÓRIAS DA SOCIEDADE TEOSÓFICA BRASILEIRA
EUBIOSOFIA - MEMÓRIAS DA SOCIEDADE TEOSÓFICA BRASILEIRAEUBIOSOFIA - MEMÓRIAS DA SOCIEDADE TEOSÓFICA BRASILEIRA
EUBIOSOFIA - MEMÓRIAS DA SOCIEDADE TEOSÓFICA BRASILEIRA
 
As violações das leis do Criador (material em pdf)
As violações das leis do Criador (material em pdf)As violações das leis do Criador (material em pdf)
As violações das leis do Criador (material em pdf)
 
Centros de Força do Perispírito (plexos, chacras)
Centros de Força do Perispírito (plexos, chacras)Centros de Força do Perispírito (plexos, chacras)
Centros de Força do Perispírito (plexos, chacras)
 
O Sacramento do perdão, da reconciliação.
O Sacramento do perdão, da reconciliação.O Sacramento do perdão, da reconciliação.
O Sacramento do perdão, da reconciliação.
 

Análise de Jesus

  • 1. • O Mestre dos Mestre • O Mestre da Sensibilidade • O Mestre da Vida • O Mestre do Amor • O Mestre Inesquecível Augusto Cury: Preparação – Nelson Mendes www.palestras.diversas.com.br www.movpelavida.com.br mendesbnelson@gmail.com mendes.nelson@hotmail.com
  • 2. Antes de entramos no trabalho propriamente dito, vejamos alguns detalhes da vida do menino Jesus, afim de podermos avaliar o verdadeiro temperamento, as virtudes e os contrastes com os demais garotos de sua época, vou passar um quadro de algumas minúcias de sua vida, e que servirá para o mais claro entendimento de nossa parte.
  • 3. . Era absolutamente imune às ofensas e aos insultos alheios; . Extremamente sincero em suas amizades; . Ele não diferenciava nenhum companheiro; . Segundo os relatos da história, Não traia, Não intrigava, Não zombava e nem humilhava;
  • 4. . Contasse que na época do menino Jesus ninguém o viu usar qualquer meio para ferir um pássaro, destruir um réptil, inseto ou batráquio; . Era comum Jesus ccurvar-se para o solo para colher o verme repelente na folha do vegetal, pondo-o fora do alcance das pisaduras humanas; . Sob o espanto dos próprios adultos, ele deliciava-se com a carreira de formigas supercarregadas de partículas de alimentos ou folhas tenras;e, . Com os retalhos de madeira da carpintaria de José, construía túneis para livrá-las de serem esmagadas pelas criaturas que ali cruzassem os caminhos.
  • 5. Certa vez, Maria e José mortificavam-se dolorosamente, ao encontrar Jesus conversando animadamente com as aves e os animais, que, em verdade, pareciam entendê-lo. Advertia, censurava e aconselhava patos, cães, marrecos, galinhas, cordeiros e cabritos, apontando-lhes as imprudências e os perigos do mundo... Curtiu noites de insônia, depois que viu, estarrecido, os bois tombarem um atrás do outro pela goela vomitando sangue e feridos mortalmente pela lança dos magarefes. Mesmo depois de adulto, ele custava a se dominar diante dos quadros lúgubres do Templo de Jerusalém, onde os sacerdotes ofereciam a Jeová respingados pelo sangue dos animais e das aves inocentes. Em conseqüência, Jesus não era um menino mórbido, excêntrico ou propriamente rebelde; porém, manifestava uma linha de conduta Angélica prematura entre os demais seres, e por isso semeava constrangimentos nos hipócritas, atemorizava os cruéis, que o censuravam, zombando das suas comiserações pelos insetos, vermes ou répteis.
  • 6. Podemos dizer que o Menino Jesus era um ser angélico, uma flor radiosa dos céus a vicejar na água poluída do mundo humano, sofrendo a opressão da carne que lhe servia de instrumento imprescindível para cumprir sua missão heróica, em favor do próprio homem que o hostilizava. As trevas vigiavam-no incessantemente para desfechar o ataque perigoso à sua delicadíssima rede neurocerebral, a fim de lesá-lo no contato sadio com a matéria, e isto só era impedido graças aos seus fiéis amigos desencarnados. Jamais alguém, no Espaço ou na Terra, poderia ofender ou lesar a contextura espiritual de Jesus, tal a sua integridade sideral, mas não seria impossível atingir o seu espirito carnal.
  • 7. - Certa vez o Pai pergunta a Jesus! Qual é o motivo de tua aflição e desse sofrer constante? - Jesus responde, Tu não podes compreender a minha aflição, porque eu vivo a vontade de meu Pai que está nos céus e só Ele sabe o motivo de minhas preocupações! Mas ainda não descobri para onde o Pai me guia os passos! Sofro muito pela espera! - Mas, o que alimentas em tua alma, que te faz tão diferente dos demais jovens? - Jesus reponde: Nenhuma flor, nem o ouro, nem o calor da paixão humana aceleram o meu coração ou encantam minha alma! Vivo somente o anseio de clarear o caminho dessa pobre humanidade, que está mergulhada num charco de misérias que são a sua própria infelicidade.
  • 8. - O Pai pergunta: Mas que pode fazer um homem como tu, para transformar os sentimentos dos outros homens, e modificar os costumes da humanidade? - O Menino Jesus responde: Que importância é viver, se, para contentar os desejos insaciáveis do meu corpo, preciso esmagar os anseios da minha alma? Que sentido tem a vida, quando consumida entre os prazeres medíocres e transitórios da carne na implacável caminhada para o túmulo? - Meu filho! Essa é a razão da vida humana e deve ser da vontade do próprio Jeová que ela assim seja!
  • 9. Resposta: Pai! O boi, o carneiro, o cabrito e o camelo? Apenas dormem, digerem, procriam, atendendo às suas necessidades físicas! O seu mundo é produto dos instintos que os impelem para a satisfação da sua via animal. Tu pensas; Eu penso. Existimos além de nossos sentidos físicos. Muito além dos fenômenos transitórios do corpo. Em nossos próprios ombros, Jeová colocou o arbítrio de optarmos pelos ideais superiores da alma ou nos escravizarmos aos tesouros, aos bens que as traças comem, a ferrugem rói e os ladrões roubam. Entendes, Pai?
  • 10. - O Pai responde: Temo por ti meu filho! - A Resposta de do menino: Jamais alguém se perde no seio de meu Pai, que está nos céus! Quem der sua vida pelo amor de Jeová, ganha-la-á para toda a eternidade! Eu não me pertenço; mas é a vontade de meu Pai que age em mim e me guia! Quem me deu a vida tira-la-á assim que lhe aprouver. Que cumpra em mim a vontade de meu Pai!
  • 11. Pela Páscoa do ano 12, tendo atingido idade legal, que lhe permitia certa independência, Jesus, pela primeira vez, acompanhou sua família na peregrinação de costume, no mês do Nizan. (Março. Eis os meses do calendário hebreu, na mesma ordem do nosso: Shebat - Adar - Nizan -Zif- Sivan - Tammuz - Ab - Elul - Tishri - Bul - Kislev - Tebeth). Nessa época, de todos os pontos da Palestina e de países vizinhos, anuíam à Capital judaica caravanas inumeráveis de peregrinos que se reuniam segundo as procedências, interesses, amizades, laços de família, etc. Ao passar uma caravana por determinado lugar, iam-se-lhe agregando todos aqueles que o desejassem, após o devido entendimento com o guia que a comandava.
  • 12. A caminho de Nazaré a Jerusalém, após a cidade de Siquém, tornava-se perigosa por causa dos bandos de malfeitores romanos, herodianos e mesmo judeus, que infestavam os ermos. Além disso, Siquém ficava na Samaria, região detestada e proibida. Por isso todos viajavam em bandos ou caravanas que possuíam guardas armados para defender os viajantes e preteriam esta rota mais extensa, porém mais segura, com 140 quilômetros, passando sucessivamente por Scytopolis, Sebaste, Antipatris e Nicopolis.
  • 13. Por esta rota, ao terceiro dia, os peregrinos atingiam a Capital, passando, ao chegar, pela via das rochas vermelhas que chamavam de Caminho de Sangue. Por fim subiam ao Monte das Oliveiras, do cimo do qual avistavam as cúpulas douradas do Grande Templo. Agitavam então palmas, arrancadas do arvoredo rasteiro e entoavam o "Cântico dos Degraus", de Davi: "Hallel! Hallel! Haleluia! Nossos passos se detêm às tuas portas, oh! Jerusalém!". Esse canto bem representava a alegria intensa da chegada.
  • 14. Em Jerusalém, os pais de Jesus se hospedavam em casa de Lia, parente de Maria, onde também se juntavam outros parentes e conhecidos, tomando conta dos cômodos interiores e dos pátios. Foi nestas condições, diz o Evangelho, "que ao regressar a caravana, no primeiro pouso (Beeroth, a 15 quilômetros da cidade), deram pela falta do menino e voltaram à cidade para procurá-lo
  • 15. Eles pensavam que estava com seus outros parentes. Depois de procurar por três dias, encontraram o menino no templo, escutando e fazendo perguntas aos mestres da lei. Seus pais lhe repreenderam por não se preocupar com eles mas ele respondeu que estava na casa de seu Pai. Então Jesus foi para casa com seus pais (Lucas 2:41-50).
  • 16. Lucas 3:23 diz que Jesus tinha cerca de 30 anos quando começou seu ministério. A Bíblia não nos diz sua idade exata. Entre os judeus, aos 30 anos um homem era considerado maduro e podia ser mestre (professor) e ter discípulos (alunos). Se Jesus tivesse começado seu ministério antes dos 30, provavelmente não seria tão respeitado por ser muito jovem.
  • 17.
  • 18. Cristo possuía uma personalidade difícil de ser estudada. Suas reações intelectuais e emocionais eram tão surpreendentes e incomuns que ultrapassavam os limites da previsibilidade psicológica. Apesar das dificuldades, é possível viajarmos por algumas avenidas fundamentais do pensamento de Cristo e compreendermos algumas áreas importantes da sua inteligência.
  • 19. Jesus é um enigma para a ciência em diversas áreas Quem foi Jesus Cristo? A idéia é realizar uma análise psicológica da inteligência de Cristo, não podemos responder plenamente quem ele foi. Tal pergunta entra na esfera da fé, uma esfera que ultrapassa os limites da investigação científica, que transcende a ciência da interpretação. A ciência se cala quando a fé se inicia. A fé transcende a lógica, é uma convicção em que há ausência de dúvida. A ciência sobrevive da dúvida. Quanto maior for a dúvida, maior poderá ser a dimensão da resposta. Sem a arte da dúvida, a ciência não tem como sobreviver e expandir a sua produção de conhecimento.
  • 20. É difícil encontrar alguém capaz de nos surpreender com as características de sua personalidade, capaz de nos convidar a nos interiorizar e repensar nossa história. Alguém que diante dos seus focos de tensão, contrariedades e dores emocionais tenha atitudes sofisticadas e seja capaz de produzir pensamentos e emoções que fujam do padrão trivial. Alguém tão interessante que seja capaz de perturbar nossos conceitos e paradigmas existenciais.
  • 21. Cristo tinha plena consciência do que fazia. Tinha metas e prioridades bem estabelecidas. Era seguro e determinado, ao mesmo tempo flexível, extremamente atencioso e educado. Tinha grande paciência para educar, mas não era um mestre passivo, e sim provocador. Ele despertava a sede de conhecimento nos seus íntimos. Informava pouco, porém educava muito. Era econômico no falar, dizendo muito com poucas palavras. Era ousadíssimo em expressar seus pensamentos, embora vivesse numa época em que imperava o autoritarismo.
  • 22. Cristo gostava de conviver com as pessoas sem qualquer valor social. Era o exemplo vivo de uma pessoa avessa a todo tipo de discriminação. Ninguém, por mais imoral e defeitos que tivesse, era indigno de se relacionar com ele. Ele se doava sem esperar nada em troca. JESUS SABIA OUVIR.
  • 23. Cristo discorria sobre a fé. Falava da necessidade de crer sem duvidar, de uma crença plena, completa, sem insegurança. Falava da fé como um misterioso processo de interiorização, como uma trajetória de vida clandestina. Discorria sobre a fé como um viver que transcende o mundo material, que extrapola o sistema sensorial e que cria raízes no âmago do espírito humano. A ciência não tem como investigar o que é essa fé, pois ela tem raízes no cerne da experiência pessoal, portanto não se torna um objeto de estudo investigável. Todavia, apesar de Cristo falar da fé como um processo de existência transcendental, ele não anulava a arte de pensar; pelo contrário, era um mestre excepcional nessa arte. Cristo não discorria sobre uma fé sem inteligência.
  • 24. Para ele, primeiro deveria se exercer a capacidade de pensar e refletir antes de crer, depois vinha o crer sem duvidar. Se estudarmos os quatro evangelhos e investigarmos a maneira como Cristo reagia e expressava seus pensamentos, constataremos que pensar com liberdade e consciência era uma obra-prima para ele. Um dos maiores problemas enfrentados por Cristo era o cárcere intelectual em que as pessoas viviam, ou seja, a rigidez intelectual com que elas pensavam e compreendiam a si mesmas e ao mundo que as envolviam. Por isso, apesar de falar da fé como ausência da dúvida, ele também era um mestre sofisticado no uso da arte da dúvida. Ele a usava para abrir as janelas da inteligência das pessoas que o circundavam.
  • 25. Quem é Cristo? Ele é o filho de Deus? Ele tem natureza divina? Ele é o autor da existência? Como ele se antecipava ao tempo e previa fatos ainda não acontecidos, tais como a traição de Judas e a negação de Pedro? Como realizava os atos sobrenaturais que deixavam as pessoas extasiadas? Como multiplicou alguns pães e peixes e saciou a fome de milhares de pessoas? Ele multiplicou a matéria, moléculas ou usou qualquer outro fenômeno? A ciência não pode dar essas respostas sobre Cristo e nem outras tantas, pois essas perguntas entram na esfera da fé. Como disse, quando começa a fé, que é íntima e pessoal de cada ser humano, e que, portanto, deve ser respeitada, a ciência se cala. Cristo continuará, em muitas áreas, um grande enigma para a ciência.
  • 26. As quatro biografias de Cristo: ele foi um personagem real ou imaginário? Cristo tem quatro biografias que são chamadas de evangelhos: o evangelho de Mateus, de Marcos, de Lucas e de João. Marcos e Lucas não pertenciam aos doze discípulos. Eles escreveram sobre Cristo baseados num processo de investigação de pessoas que conviveram intimamente com ele. As biografias de Cristo não são biografias no sentido clássico, como as que conhecemos hoje. Porém, como os evangelhos retratam a sua história, podemos dizer que eles representam a sua biografia.
  • 27. O que chama a atenção nas biografias de Cristo são seus comportamentos incomuns, seus gestos que extrapolam os conceitos, sua capacidade de considerar a dor de cada ser humano mesmo diante da sua própria dor. As suas idéias eram tão surpreendentes que não têm precedente histórico. Até os seus momentos de silêncio tinham grande significado. As diversas passagens, expressas em suas quatro biografias, possuem tantos segredos intelectuais que muitas não foram compreendidas nem pelos seus próprios autores na época em que as escreveram.
  • 28. É difícil encontrar alguém capaz de nos surpreender com as características de sua personalidade, capaz de nos convidar a nos interiorizar e repensar nossa história. Alguém que diante dos seus focos de tensão, contrariedades e dores emocionais tenha atitudes sofisticadas e seja capaz de produzir pensamentos e emoções que fujam do padrão trivial. Alguém tão interessante que seja capaz de perturbar nossos conceitos e paradigmas existenciais. Cristo tinha plena consciência do que fazia. Tinha metas e prioridades bem estabelecidas. Era seguro e determinado, ao mesmo tempo flexível, extremamente atencioso e educado. Tinha grande paciência para educar, mas não era um mestre passivo, e sim provocador. Ele despertava a sede de conhecimento nos seus íntimos. Informava pouco, porém educava muito. Era econômico no falar, dizendo muito com poucas palavras. Era ousadíssimo em expressar seus pensamentos, embora vivesse numa época em que imperava o autoritarismo.
  • 29. O carpinteiro de Nazaré viveu no anonimato a maior parte de sua existência, porém, quando se manifestou, revolucionou o pensamento e viver humanos. Seu projeto era insidioso. Ele expressava que primeiro o interior, ou seja, o mundo dos pensamentos e das emoções deviam ser transformados, caso contrário a mudança exterior não teria estabilidade, não passaria de mera maquiagem social. Para Cristo, a mudança exterior, dos amplos aspectos sociais, era uma conseqüência da transformação interior. Cristo gostava de conviver com as pessoas sem qualquer valor social. Era o exemplo vivo de uma pessoa avessa a todo tipo de discriminação. Ninguém, por mais imoral e defeitos que tivesse, era indigno de se relacionar com ele. Ele se doava sem esperar nada em troca.
  • 30. O conhecimento e as misérias psicossociais Será que Jesus tinha conhecimento sobre este assunto? R: Claro que tinha. E nós temos? Nós sabemos hoje que milhões de pessoas conseguem definir as partículas dos átomos que nunca viram, mas não conseguem compreender que a cor da pele branca ou negra, tão perceptível aos olhos, não serve de parâmetro para distinguir duas pessoas da mesma espécie que possuem o mesmo espetáculo da construção de pensamentos. Somos, a cada geração, uma espécie mais feliz, humanista, solidária, complacente, tolerante e menos doente psiquicamente? Infelizmente não!
  • 31. O conhecimento abriu novas e impensáveis perspectivas. As escolas se multiplicaram. As informações nunca foram tão democratizadas, tão acessíveis. Estamos na era da educação virtual. Milhões de pessoas cursarão universidades dentro de suas próprias casas. Porém, onde estão os pensadores que deixam de ser espectadores passivos e se tornam agentes modificadores da sua história existencial e social?
  • 32. Onde estão os engenheiros de idéias criativas, capazes de superar as ditaduras do preconceito e dos focos de tensão? Onde estão os humanistas, que não objetivam que o mundo gravite em torno de si, que superam a paranóia do individualismo, que transcendem a paranóia da competição predatória e sabem se doar socialmente? Onde estão os poetas da inteligência que desenvolveram a arte de pensar?
  • 33. O homem nunca usou tanto a ciência. Entretanto, nunca desconfiou tanto dela. Ele sabe que a ciência não resolveu os problemas básicos da humanidade. Qual a conseqüência disto? É que a forte corrente do ateísmo que se iniciou no século XIX e que perdurou durante boa parte do XX foi rompida. A ciência, como disse, tanto progredia quanto prometia muito. O homem, sob os alicerces da ciência, ganhou status de deus, pois acreditava ser capaz de extirpar completamente as suas próprias misérias.
  • 34. Hoje queira ou não o homem vêm, percebendo as misérias psicossociais ao seu redor e observando as notícias de cunho negativo saltitando todos os dias nas manchetes dos jornais, o homem moderno começou a procurar por Deus. Ele, que não acreditava em nada, passou a crer em tudo. Ele, que era tão cético, passou agora a ser tão crédulo. É respeitável todo tipo de crença, porém é igualmente respeitável exercer o direito de pensar antes de crer, crer com maturidade e consciência crítica. O direito de pensar com consciência crítica é nobilíssimo.
  • 35. A ciência e a complexidade da inteligência de Cristo A ciência foi tímida e omissa em pesquisar algumas áreas importantíssimas do conhecimento. Uma delas se relaciona aos limites entre a psique e o cérebro. Temos viajado pelo imenso espaço e penetrado nas entranhas do pequeno átomo, mas a natureza intrínseca da energia psíquica, que nos torna seres que pensam e sentem emoções, permanece um enigma.
  • 36. Outra atitude tímida e omissa que a ciência cometeu ao longo dos séculos está ligada à investigação do personagem principal, Cristo. A ciência o considerou complexo demais. Sim, ele o é, mas ela foi tímida em pesquisar a inteligência dele. Será que aquele que dividiu a história da humanidade não merecia ser mais bem investigado? Ela o considerou inatingível, distante de qualquer análise. Deixou esta tarefa apenas para ser realizada na esfera teológica.
  • 37. Há pelo menos duas maneiras de uma pessoa ser deixada de lado: quando é considerada sem nenhum valor ou quando, na outra ponta, é tão valorizada que se torna inatingível. Cristo foi rejeitado por diversos “intelectuais” de sua época, pois foi considerado um perturbador da ordem social e religiosa. Hoje, ao contrário, é tão valorizado que muitos o consideram intocável, distante de qualquer investigação. Todavia, podemos afirmar que, ele gostava de ser investigado com inteligência.
  • 38. A omissão e a timidez da ciência fizeram com que Cristo fosse banido das discussões acadêmicas, não sendo estudado ou investigado nas salas de aulas. Sua complexa inteligência não é objeto de pesquisa nas teses de pós- graduação das universidades. Embora a inteligência de Cristo possua princípios intelectuais sofisticados, capazes de estimular o processo de interiorização e o desenvolvimento das funções mais importantes da inteligência, ele realmente foi banido dos currículos escolares.
  • 39. É muito raro alguém comentar que a inteligência de Cristo era perturbadora, que ele rompia o cárcere intelectual das pessoas, que abria as janelas da mente delas. Ele foi, sem dúvida, um exemplo vivo de mansidão e humildade, entretanto ninguém comenta que era insuperável na arte de pensar. Algumas ferramentas usadas para investigar a inteligência de Cristo
  • 40. O mestre dos mestres da escola da existência foi banido da escola clássica. Centenas de milhões de pessoas o admiram profundamente, todavia uma minoria estuda os detalhes da sua inteligência. Grande parte delas não tem idéia de como ele desejava causar uma transformação psicossocial do interior para o exterior do homem, uma transformação que a ciência prometeu nas entrelinhas do seu desenvolvimento e não cumpriu. Antes de estudar a inteligência de Cristo, vamos aos próximos textos para expor alguns mecanismos básicos da construção da inteligência humana. Vamos fazer uma pequena síntese sobre a construção dos pensamentos, e os papéis da memória e a ditadura do preconceito.
  • 41. A inteligência do carpinteiro de Nazaré era tão impressionante que ele discursava sobre temas que só seriam abordados pela ciência dezenove séculos depois, com o surgimento da psiquiatria e da psicologia. Ele se adiantou no tempo e discorreu sobre a mais insidiosa das doenças psíquicas, a ansiedade. A ansiedade estanca o prazer de viver, fomenta a irritabilidade, estimula a angústia e gera um universo de doenças psicossomáticas. A medicina, queriam e continuam estudando os órgãos do corpo humano e suas doenças, mas ainda por parte desprezam o funcionamento da mente. Todavia, nestas últimas décadas, a medicina tem deixado sua postura orgulhosa, tem procurado estudar e tratar o ser humano integral — organismo e psique (alma) —, pois tem percebido que muitas doenças cardiovasculares, pulmonares, gastrintestinais etc. têm como causa desencadeante os transtornos psíquicos, dos quais se destaca a ansiedade.
  • 42. Quanto mais conquistamos bens materiais, mais queremos tê-los. Parece que não há limites para a nossa insegurança e insatisfação. Valorizamos mais “TER” do que “SER”, ou seja, mais ter bens do que ser tranqüilo, alegre, coerente. Esta inversão de valores cultiva a ansiedade e seus frutos: insegurança, medo, apreensão, irritabilidade, insatisfação, angústia (tensão emocional associada a um aperto no tórax). A insegurança é uma das principais manifestações da ansiedade. Fazemos seguros de vida, da casa, do carro, mas, ainda assim, não resolvemos nossa insegurança.
  • 43. Cristo tinha razão: Há uma ansiedade inerente ao homem, ligada à construção de pensamentos, influenciada pela carga genética, por fatores psíquicos e sociais. Só não tem essa ansiedade quem está morto. Somos a espécie que possui o maior de todos os espetáculos, o da construção de pensamentos. Todavia, muitas vezes usamos o pensamento contra nós mesmos, para gerar uma vida ansiosa. Os problemas ainda não ocorreram, mas já estamos angustiados por eles. O registro de Mateus diz: “Não andeis ansiosos pelo dia de amanhã... Basta ao dia o seu próprio mal”.
  • 44. Muitos de nós vivemos o paradoxo da liberdade utópica. Por fora, somos livres porque vivemos em sociedades democráticas, mas por dentro somos prisioneiros, escravos das idéias de conteúdo negativo, e dramáticas que antecipam o futuro. Há diversas pessoas que estão ótimas de saúde, mas vivem miseravelmente pensando em câncer, infarto, acidentes, perdas. Governamos o mundo exterior, mas temos enorme dificuldade para gerenciar nosso mundo interno, o dos pensamentos e das emoções. Somos subjugados por necessidades que nunca foram prioritárias, subjugados pelas paranóias do mundo moderno: do consumismo, da estética, da segurança. Assim, a vida humana, que deveria ser um espetáculo de prazer, torna-se um espetáculo de terror, de medo, de ansiedade. Nunca tivemos tantos sintomas psicossomáticos: cefaléias, dores musculares, fadiga excessiva, sono perturbado, transtornos alimentares (ex.: bulimia e anorexia nervosa) etc. Uma parte significativa dos adolescentes americanos tem problemas de obesidade, e a ansiedade é uma das principais causas desse transtorno.
  • 45. A maior fonte de entretenimento humano não é a TV, o esporte, a literatura, a sexualidade, o trabalho. A resposta está dentro do próprio homem. É o mundo das idéias, dos pensamentos, que o ser humano constrói clandestinamente em sua própria mente, e que gera os sonhos, os planos, as aspirações. Quem consegue interromper a construção de pensamentos? É impossível. A própria tentativa de interrupção já é um pensamento. Pensamos durante os sonhos, quando estamos trabalhando, andando, dirigindo.
  • 46. As idéias representam um conjunto organizado de cadeias de pensamentos. O fluxo das idéias que transitam a cada momento no palco de nossas inteligências não pode ser contido. Todos somos viajantes no mundo das idéias: viajamos para o passado, reconstruindo experiências já vividas; viajamos para o futuro, imaginando situações ainda inexistentes; viajamos também para os problemas existenciais. Os juízes viajam nos seus pensamentos enquanto julgam os réus. Os psicoterapeutas viajam enquanto atendem seus pacientes. Os cientistas viajam enquanto pesquisam. As crianças viajam nas suas fantasias. Os adultos, nas suas preocupações. Os idosos, nas suas recordações.
  • 47. Uns constroem projetos e outros, castelos inatingíveis. Uns viajam menos em seus pensamentos, outros viajam muito, concentrando pouco em suas tarefas. Essas pessoas pensam que têm déficit de memória, mas, na verdade, possuem apenas déficit de concentração devido à hiperprodução de pensamentos. Cristo tanto prevenia a ansiedade como discursava sobre o prazer de viver. Dizia: “ Olhai os lírios dos campos”. Ele queria produzir um homem alegre, inteligente, mas simples. Entretanto, tanto seus discípulos como nós não sabemos contemplar os lírios dos campos, ou seja, não sabemos extrair o prazer dos pequenos eventos da vida. A ansiedade estanca esse prazer. Apesar de o Mestre da escola da vida discursar sobre a ansiedade e suas causas, sua proposta em relação ao sentido da vida e ao prazer de viver era tão surpreendente que, chocam a psiquiatria, psicologia e as neurociências.
  • 48. É possível ter status e sucesso social e ser uma pessoa insegura diante das contrariedades, não gerenciar as situações estressantes. É possível ter sucesso econômico, mas ser um “rico-pobre”, não ter prazer em viver, em contemplar os pequenos detalhes da vida. É possível viajar pelo mundo e conhecer vários continentes, mas não caminhar nas trajetórias do seu próprio ser e conhecer a si mesmo. É possível ser um grande executivo e ter o controle de uma multinacional, mas não ter domínio sobre os pensamentos e as reações emocionais, ser um espectador passivo diante das mazelas psíquicas.
  • 49. Cristo não freqüentou nenhuma escola, não estudou as letras, mas foi o Mestre dos Mestres na escola da vida. Ele era tão sofisticado em sua inteligência que fazia psiquiatria e psicologia preventiva quando essas nem ensaiavam existir. Por que a memória humana não funciona como a memória dos computadores? Por que não recordamos o passado exatamente como ele foi? Aqui esconde-se um grande segredo da inteligência. Não recordamos o passado com exatidão não apenas pelas dificuldades de registro cerebral, mas também porque um dos mais importantes papéis da memória não é transformar o homem num repetidor de informações do passado, mas um engenheiro de idéias, um construtor de novos pensamentos. Este segredo da mente humana precisa ser incorporado pelas teorias educacionais.
  • 50. O mestre dos mestres entendia as limitações humanas, sabia que era difícil o homem administrar suas emoções, principalmente nos focos de tensão. Sabia que facilmente perdemos a paciência quando estressados, que nos irritamos por pequenas coisas e ferimos as pessoas que mais amamos. Para ele, o mal é o que sai de dentro do ser humano e não o que está fora dele. Cumpre ao homem atuar primeiro no seu mundo intelectual para depois aprender a ser um bom líder no mundo social. Ele não admitia que as tensões, a ira, a intolerância o julgamento preconcebido envolvessem seus discípulos. Estimulava seus íntimos a serem fortes numa esfera em que costumamos ser fracos: fortes em administrar a impaciência, rápidos em reconhecer as limitações, seguros em reconhecer os fracassos, maduros em tratar com as dificuldades de relacionamento social.
  • 51. A preocupação desse mestre tem fundamento. Existe um fenômeno inconsciente que registra automaticamente todas as experiências na memória, conhecido como fenômeno RAM. (Registro Automático da Memória). Nos computadores é necessário dar um comando para registrar, “salvar” as informações. Porém, na memória humana, a mente não nos dá essa liberdade. Cada pensamento e emoção são registrados automática e espontaneamente, por isso as experiências do passado irrigam o nosso presente.
  • 52. O fenômeno RAM registra todas as nossas experiências de vida, tantos nossos sucessos como nossos fracassos, tanto nossas reações inteligentes como as imaturas. Entretanto, há diferenças no processo de registro que influenciará o processo de leitura da memória. Registramos de maneira mais privilegiada as experiências que tiverem mais conteúdo emocional, seja ele prazeroso ou angustiante, por isso temos mais facilidade de recordar as experiências mais marcantes de nossas vidas, tanto as que nos causaram alegrias como aquelas que nos frustraram. Estimular adequadamente o fenomêno RAM é fundamental para o desenvolvimento da personalidade, inclusive para o sucesso do tratamento de pacientes depressivos, fóbicos, autistas.
  • 53. Cristo não queria que as turbulências emocionais fossem continuamente registradas na memória, engessando a personalidade. Queria que seus discípulos fossem livres. Livres no território que todo ser humano facilmente é prisioneiro, seja um psiquiatra ou paciente, livres no território da emoção. O mestre da escola da existência, quase vinte século antes de Goleman já discursava sobre a energia emocional como uma das importantes variáveis que influenciam o desenvolvimento da inteligência. Se não formos rápidos e inteligentes para tratar com nossas ansiedades, intolerâncias, impaciências, fobias, então nós as retroalimentaremos em nossas memórias. Assim, nos tornaremos o nosso maior inimigo; reféns de nossas emoções. Por isso muitos vivem o paradoxo da cultura e da miséria emocional. Eles têm diversos títulos acadêmicos, são cultos, mas, ao mesmo tempo, são infelizes, ansiosos e hipersensíveis, não sabem trabalhar suas contrariedades, frustrações e as críticas que recebem. Tais pessoas deveriam se reciclar e investir em qualidade de vida.
  • 54. Cristo indicou ao longo do relacionamento que teve com seus discípulos, que tinha consciência de que a memória não pode ser deletada. Veremos que não queria destruir a personalidade das pessoas que conviviam com ele. Pelo contrário, desejava transformá-las essencialmente, amadurecê- las e enriquecê-las. Não desejava anular a história delas, mas desejava que reescrevessem suas histórias com liberdade e consciência, que não tivessem medo de repensar seus dogmas e de revisar seus conflitos diante da vida. O maior líder não é aquele que é capaz de governar o mundo, mas aquele que é capaz de governar a si mesmo. Alguns realizam com grande habilidade suas tarefas profissionais, mas não têm habilidade para construir relacionamentos profundos, abertos, flexíveis e desprovidos de suas angústias e ansiedades. Um dos maiores problemas que engessa a inteligência e dificulta ao homem a se relacionar socialmente é a ditadura do preconceito.
  • 55. O preconceito está intimamente ligado à construção de pensamentos. Toda vez que estamos diante de algum estímulo fazemos automaticamente a leitura da memória e construímos pensamentos que contêm preconceitos sobre esse estímulo. Por exemplo, quando estamos diante do comportamento de alguém, usamos a memória e produzimos um preconceito sobre esse comportamento. Quando vivemos sob a ditadura do preconceito aprisionamos o pensamento, criamos verdades que não são verdades e nos tornamos radicais. Há três grandes tipos de preconceito que geram ditadura da inteligência: o histórico, o tendencioso e o radical.
  • 56. À medida que adquirimos cultura, começamos a enxergar o mundo de acordo com os preconceitos históricos, ou seja, com os conceitos, paradigmas e parâmetros contidos nessa cultura. As pessoas que vivem sob a ditadura do preconceito não apenas podem violar os direitos dos outros e amarrar seus desempenhos intelectuais, mas podem também ferir as suas próprias emoções e experimentar uma fonte de angústia. Elas se tornam implacáveis e radicais contra os seus próprios erros. Estão sempre se punindo e exigindo de si mesmas um perfeccionismo inatingível.
  • 57. Os preconceitos estão contidos na memória, mas, se não aprendermos a nos interiorizar e aplicar a arte da dúvida e da crítica sobre eles, poderemos ser autoritários, agressivos, violar tanto os direitos dos outros como os nossos. Por que nossa maneira de pensar é, às vezes, radical e inquestionável? Porque nos comportamos como um semideus. Pensamos como um ser absoluto, que não duvida do que pensa, que não se recicla. Quem conhece minimamente a grandeza e a sofisticação do funcionamento da mente humana vacina-se contra a ditadura do preconceito. Convém lembrar que o preconceito individual pode se disseminar e se tornar um preconceito social, um paradigma coletivo.
  • 58. As biografias de Cristo evidenciam que ele era uma pessoa aberta e inclusiva. Não classificava as pessoas. Ninguém era indigno de se relacionar com ele, por pior que fosse seu passado. As ciências poderiam ter sido enriquecidas com os princípios da inteligência de Cristo.
  • 59. Se os princípios sociológicos, psicológicos e educacionais contidos na inteligência de Cristo tivessem sido investigados e conhecidos, poderiam ter sido usados em toda a esfera educacional, do ensino fundamental à universidade. Esses princípios, independentemente da questão teológica, poderiam ter enriquecido a sociedade moderna, que tem sido irrigada por discriminações e múltiplas formas de violência. O que mais somos? Somos uma conta bancária, um título acadêmico, um status social? Não. Somos o que sempre fomos, seres humanos. As raízes da solidão começam a ser tratadas quando aprendemos a ser apenas seres humanos. Parece ser contraditório, mas temos grandes dificuldades de retornar às nossas origens.
  • 60. Se Cristo tivesse vivido nos dias de hoje, causaria turbulência social, chocaria a política e a ciência. Suas idéias continuam intrigantes na atualidade. Será que seus pensamentos abalaram a sociedade em que viveu devido à falta de cultura de sua época ou ainda hoje perturbariam os intelectuais e o pensamento acadêmico? Que dimensão têm os seus pensamentos? Que alcance têm o seu propósito, o seu projeto transcendental? A morte física faz parte do ciclo natural da vida, mas a morte da consciência humana é inaceitável. Só a aceita aqueles que nunca refletiram minimamente sobre as suas consequências psicológicas e filosóficas ou aqueles que nunca sofreram a dor indescritível da perda de alguém que amam.
  • 61. Outra coisa incompreensível pelo pensamento é a consciência do fim da existência. O pensamento nunca atinge a consciência da morte como “fim da existência”, o “nada existencial”, pois o discurso dos pensamentos sobre o nada nunca é o nada em si, mas manifestação da própria consciência. Por isso, toda pessoa que pensa ou comete atos de suicídio não tem consciência da morte como fim da vida. Os que pensam em suicídio de fato não querem matar a vida, terminar a existência, mas “matar” a dor emocional, a angústia, o desespero que abate suas emoções. A idéia de suicídio é uma tentativa inadequada e desesperada de procurar transcender a dor da existência, e não o fim dela. Só a vida tem consciência da morte. A morte não tem consciência de si mesma. A consciência da morte é sempre uma manifestação da vida, ou seja, é um sistema intelectual que discursa sobre a morte, mas nunca atinge a realidade em si.
  • 62. Há doenças psíquicas que geram uma fobia ou medo doentio da morte, como a síndrome do pânico e determinados transtornos obsessivos compulsivos (TOC). No “pânico” ocorre um dramático e convincente teatro da morte. Nele, há uma sensação súbita e iminente de que se vai morrer. Tal sensação gera uma série de sintomas psicossomáticos, como taquicardia, aumento da frequência respiratória e sudorese. O homem possui uma necessidade intrínseca de procurar por Deus, de criar religiões e de produzir sistemas filosóficos metafísicos. Tal necessidade surge não apenas como tentativa de superar sua finitude existencial, mas também para explicar a si mesmo o mundo, o passado, o futuro, enfim, os mistérios da existência.
  • 63. O homem é uma grande pergunta que por dezenas de anos procura por uma grande resposta... Ele procura explicar o mundo. Todavia, sabe que explicar a si mesmo é o maior desafio da sua própria inteligência. O discurso de Cristo sobre o segredo da eternidade
  • 64. Vamos imaginar Cristo reagindo, falando, expressando seus pensamentos numa sociedade que não tivesse qualquer cultura sobre o cristianismo. O que Cristo diz sobre a crise existencial do homem? O que ele tem para nos falar sobre a continuidade do espetáculo da vida? Suas palavras sobre esses assuntos são triviais? Elas perturbariam nossos pensamentos? Seu pensamento sobre o fim da existência se aproxima dos pensamentos dos intelectuais? Cristo disse palavras incomuns, inéditas, capazes de abalar tanto os alicerces dos cientistas da medicina como da religiosidade humana. Jesus gostava de falar na terceira pessoa. Dizia que fazia as obras, proferia as palavras e executava a vontade do Pai. Por que usava a terceira pessoa em sua argumentação?.
  • 65. Primeiro, por causa da questão da trindade, um assunto complexo que a ciência não tem como discutir. Segundo, porque não gostava de se ostentar. Terceiro, porque em suas biografias há indícios claros que expressam que ele conhecia a facilidade com que distorcemos a interpretação. Por isso afirmava que a fidelidade do testemunho de alguém tinha que ser confirmada por duas pessoas.
  • 66. Além disso, Cristo não impunha suas idéias, mas as expunha. Não pressionava ninguém a segui-lo, apenas as convidava. Era contra o autoritarismo do pensamento, por isso procurava continuamente abrir as janelas da inteligência das pessoas para que refletissem sobre suas palavras. Resumindo, Cristo não gostava de se ostentar, conhecia as distorções da interpretação, era elegante no seu discurso e aberto quando expunha seus pensamentos. Cristo era flexível e brando nos assuntos que tratava, todavia em alguns pontos ele foi extremamente determinado. Entre esses pontos destaca-se o que ele pensava sobre a continuidade da existência e sobre a eternidade.
  • 67. A respeito da continuação do espetáculo da vida, era incisivo. Não deixava margem de dúvida sobre seu pensamento. E, diga-se de passagem, seu pensamento era ousadíssimo. Neste assunto deixava o discurso em terceira pessoa de lado e expressava claramente que tinha o segredo da eternidade. Discursava que a vida eterna passava por ele. Disse: “Quem crer em mim, ainda que morra, viverá!”, “Eu sou o pão vivo que desceu do céu. Se alguém comer esse pão viverá para sempre”. Proferiu muitas palavras semelhantes a essas, que são incomuns e possuem uma dimensão indescritível. Ele não disse que se as pessoas obedecessem a regras de comportamentos ou doutrinas religiosas teriam a vida eterna. Não! Os textos são claros, ele concentrou nele mesmo o segredo da eternidade. Disse que se alguém cresse nele e o incorporasse interiormente, essa pessoa teria a vida eterna, a vida inesgotável e infinita. Quem produziu um discurso como esse na história?
  • 68. O que a ciência pode dizer a respeito dos pensamentos de Cristo sobre a eternidade? Nada! A ciência, por ser produzida dentro dos intervalos de tempo, não tem como confirmar nem discordar dele. Se estudar a própria existência já é uma tarefa complexa, como será possível à ciência discorrer sobre a autoria da existência! Podemos discorrer teoricamente sobre as origens do universo, sobre os buracos negros, a teoria do “Big Bang”, mas não temos recursos intelectuais para discorrer sobre a “origem da origem”, a “causa das causas”, aquilo que está antes do início, a fonte primeira.
  • 69. Einstein era um admirador de Cristo. Contudo, se ele tivesse vivido naquela época, certamente o discurso de Cristo deixaria seus cabelos mais revoados do que estão em sua famosa foto... O discurso dele extrapolava os parâmetros da física, portanto não poderia ser explicado nem mesmo pela inteligente teoria da relatividade. Um dos maiores erros educacionais da escola clássica é não ter como meta fundamental o preparo dos alunos para viver na sinuosa existência. A melhor escola clássica é aquela que constrói uma ponte sólida com a escola da vida. Boa parte das escolas clássicas se tornou um parêntese dentro da escola da existência, não havendo comunicação entre elas. Numa escola clássica fechada, os alunos são presos numa bolha, numa redoma educacional, sem “anticorpos” intelectuais para superar as contradições da existência e amadurecer multifocalmente a inteligência.
  • 70. Eles incorporam o conhecimento, mas raramente se tornam engenheiros de idéias. Tornam-se profissionais, mas poucos conhecem a cidadania e expandem a consciência crítica. As biografias de Cristo revelam que ele objetivava não reformar o homem, mas produzir uma transformação em seu interior, reorganizar intrinsecamente sua capacidade de pensar e viver emoções. Cristo objetivava produzir um novo homem. Um homem solidário, tolerante, que supera as ditaduras da inteligência, que se vacina contra a paranóia do individualismo, que aprende a cooperar mutuamente, que aprende a se conhecer, que considera a dor do outro, que aprende a perdoá-lo, que se interioriza, que se repensa, que se coloca como aprendiz diante da vida, que desenvolve a arte de pensar, que expande a arte de ouvir, que refina a arte da contemplação do belo.
  • 71. No meu modo de ver creio que nunca alguém teve um projeto tão audacioso e ambicioso como o de Cristo. Antes dele existiram algumas escolas na Grécia. A academia de Platão, o Liceu de Aristóteles, as escolas pós-socráticas. Porém nenhuma possuía um projeto tão ambicioso e instigante como a escola da existência de Cristo. É difícil deixar de reconhecer a dimensão do seu propósito e como era um mestre especialista em desengessar a inteligência das pessoas que conviviam com ele. Ao estudar JESUS, podemos concluímos que ele não queria melhorar o homem, mas mudar a sua natureza intrínseca.
  • 72. Um bom mestre possui eloquência, mas um excelente mestre possui mais do que isso; possui a capacidade de surpreender seus alunos, instigar-lhes a inteligência. Um bom mestre transmite o conhecimento com dedicação, enquanto um excelente mestre estimula a arte de pensar. Um bom mestre procura pelos seus alunos porque quer educá-los, mas um excelente mestre lhes inspira tanto a inteligência que é procurado e apreciado por eles. Um bom mestre é valorizado e lembrado durante o tempo de escola, enquanto um excelente mestre jamais é esquecido, marcando para sempre a história dos seus alunos. Os princípios da matemática emocional
  • 73. Muitos investem boa parte de sua energia física e psicológica em aplicar seu dinheiro nas bolsas de valores, em adquirir bens materiais, em ter um carro do último tipo, em adquirir um bom plano de previdência. A segurança financeira é legítima, mas é totalmente insuficiente para satisfazer as necessidades mais íntimas do homem, para dar sentido à sua existência, enriquecer seu prazer de viver e amadurecer sua personalidade. Uma vez em uma palestra ouvi de um grande empresário agroindustrial que disse que alguns dos seus empregados cortadores de cana eram mais ricos do que ele, pois, mesmo diante da miséria material, conseguiam cantar e se alegrar enquanto trabalhavam. De fato, há miseráveis que moram em palácios e ricos que moram em favelas...
  • 74. Não estou fazendo apologia à miséria, pelo contrário, a miséria em todos os sentidos deveria ser extirpada das sociedades, mas quero dizer que a psique humana é tão complexa que desobedece às regras da matemática financeira. A matemática emocional tem, felizmente, princípios que ultrapassam os limites da matemática lógica, financeira. Ter não é Ser. Investindo em sabedoria: As dores da existência sob outra perspectiva Cristo objetivava que seus discípulos se tornassem grandes investidores em sabedoria. Ele não queria que o ser humano tivesse uma meta existencial pobre e superficial.
  • 75. Cristo destilava sabedoria da sua miséria... Cristo estava sempre conduzindo as pessoas a reescrever suas histórias e a não ser vítimas das intempéries sociais e dos sofrimentos que viviam. Ele se preocupava com o desenvolvimento das funções mais altruístas da inteligência. Desejava que elas tivessem domínio próprio, administrassem os pensamentos e aprendessem a trafegar nas avenidas da perseverança diante das dificuldades da vida.
  • 76. Todo ser humano passa por invernos existenciais Toda e qualquer pessoa passa por turbulências em sua vida. As dores geradas por problemas externos ou por fatores internos são os fenômenos mais democráticos da existência. Um rei pode não ter problemas financeiros, mas tem problemas internos. A princesa Diana era elegante e humanística e não atravessava problemas financeiros, mas, pelo que consta, possuía dores emocionais intensas, sofria crises depressivas.
  • 77. Talvez sofria mais do que muitos miseráveis da África ou do Nordeste brasileiro. As pessoas que passam pelas dores existenciais e as superam com dignidade ficam mais bonitas e interessantes interiormente. Quem passou pelo caos da depressão, da síndrome do pânico ou de outras doenças psíquicas e o superou, se tornou mais rico, belo e sábio. A sabedoria torna as pessoas mais atraentes, ainda que o tempo sulque a pele e traga as marcas da velhice.
  • 78. Quem cuida apenas da estética do corpo e descuida do enriquecimento interior vive a pior solidão, a de ter abandonado a si mesmo em sua trajetória existencial. As pessoas que vivem preocupadas com cada grama de peso fazem de suas vidas uma fonte de ansiedade. Elas têm grande dificuldade de superar as contrariedades, as contradições e os focos de tensão que surgem na trajetória existencial.
  • 79. As escolas clássicas precisam ser albergues da sabedoria e da arte de pensar, precisam provocar a inteligência dos alunos, precisam dar um rosto ao conhecimento, transmitir a história do conhecimento. Os mestres precisam dançar a valsa da educação com as duas pernas desengessadas, precisam ser contadores de histórias, romper a impessoalidade do conhecimento e cruzar, tanto quanto possível, suas histórias com a dos seus alunos. Contar histórias e experiências existenciais são excelentes maneiras de semear as idéias mais complexas. Cristo era um grande semeador de princípios, de pensamentos e de vida. A parábola do filho pródigo, das virgens néscias e prudentes, dos talentos e tantas outras representam uma didática excelente desse contador de histórias, desse plantador de sementes, que queria que o homem se interiorizasse, reciclasse sua postura superficial de vida, se livrasse das preocupações exageradas da existência e se tornasse uma terra fértil, capaz de produzir muitos frutos. Há muito o que dizer sobre o conteúdo das histórias de Cristo, entretanto, ficará para outra oportunidade.
  • 80. Cristo não tinha receio de falar de si mesmo e da história dos seus discípulos. Ele dinamizava as relações interpessoais. Para esse contador de histórias, ensinar não era uma fonte de tédio, de stress, de obrigação, mas uma aventura doce e prazerosa... O discurso de Cristo sobre dar a outra face
  • 81. Quando Cristo queria mostrar a necessidade vital de tolerância nas relações sociais, ele não proferia inúmeras aulas sobre o assunto, mas novamente usava gestos surpreendentes. Ele dizia que se alguém batesse numa face era também para oferecer a outra, e por diversas vezes ele deu a outra face para seus opositores, ou seja, não revidava quando o agrediam ou o ofendiam. Cristo não falava da face física, da agressão física que compromete a preservação da vida. Ele falava da face psicológica.
  • 82. Se fizermos uma análise superficial, poderemos nos equivocar e crer que dar a outra face parece uma atitude frágil e submissa. Todavia, temos de nos perguntar: dar a outra face é um sinal de fraqueza ou de força? Dar a outra face incomoda pouco ou muito uma pessoa agressiva e injusta? Se analisarmos a construção da inteligência, constataremos que dar a outra face não é um sinal de fraqueza, mas de força e segurança. Só uma pessoa forte é capaz de dar a outra face. Só uma pessoa segura dos seus próprios valores é capaz de elogiar o seu agressor. Quem dá a outra face não se esconde, não se intimida, mas enfrenta o outro com tranquilidade e segurança.
  • 83. Dar a outra face é respeitar o outro, é procurar compreender os fundamentos da sua agressividade, é não usar a violência contra a violência, é não se sentir agredido diante das ofensas que lhe desferem. Somente uma pessoa que é livre, segura e que não gravita em torno do que os outros pensam e falam de si é capaz de agir com tanta serenidade. A psicologia do “dar a outra face” protege emocionalmente a pessoa agredida e, ao mesmo tempo, provoca a inteligência das pessoas violentas, estimulando-as a pensar e reciclar a própria violência.
  • 84. O mundo moderno é violento. A televisão transmite programas violentos. A competição profissional é violenta. Em muitas escolas clássicas, onde deveria reinar o saber e a tolerância, a violência tem sido cultivada. Violência gera violência. Spinoza, um dos pais da filosofia moderna, que era judeu, expressou que Jesus Cristo era sinônimo de sabedoria e que as sociedades envolvidas por guerras de espadas e guerras de palavras poderiam encontrar nele uma possibilidade de fraternidade.
  • 85. Um poeta da inteligência que utilizava com grande habilidade o fenômeno RAM Um quadro é mais eloquente do que mil palavras. Vimos que a memória sofre um registro automático por meio do fenômeno RAM (registro automático da memória). Vimos também que o registro é mais privilegiado quando as experiências contêm mais emoção, mais tensão, seja ela positiva ou negativa.
  • 86. Cristo utilizava com destreza o fenômeno RAM. Seus gestos marcaram para sempre a memória dos discípulos e atravessaram gerações. Ele usava a arte de pensar com uma habilidade incrível. Preferia utilizar gestos surpreendentes para educar, transformar, ampliar a visão dos seus discípulos. Seus gestos produziam impactos inesquecíveis na memória dos seus íntimos e eram mais eficientes do que milhares de palavras. Suas biografias retratam um homem que falava pouco, mas que dizia muito. Quando desejava demonstrar que não queria o poder político, que se importava mais com o interior do homem do que com a estética social, optava por não fazer grandes reuniões, conferências e debates para discutir o assunto. Economizando palavras e discursando com gestos.
  • 87. Os pais, os professores, os executivos raramente conseguem surpreender as pessoas que o circundam e abrir as janelas das suas mentes. Um pai cujo filho passa por problemas, como uso de drogas ou agressividade, fica perdido sem saber como penetrar no interior dele e contribuir para reorganizar a sua vida. A melhor maneira de conquistar alguém é romper a rotina e surpreendê-lo continuamente com gestos inesperados. Se um pai for comum, racional, crítico e explicativo com um filho, ele entedia a relação interpessoal e se torna pouco eficiente como educador. Porém, se o surpreender continuamente com gestos inesperados, com momentos de silêncio, com diálogos incomuns, com elogios agradáveis, certamente ao longo dos meses ele conquistará esse filho e o ajudará a reconstruir sua história.
  • 88. Muitos pais nunca entraram no mundo dos seus filhos e muitos filhos nunca tiveram o prazer de conhecer seus pais intimamente. Sair do relacionamento superficial e previsível e construir um relacionamento que tenha raízes é uma tarefa brilhante. Conquistar o outro é uma arte, principalmente se o outro for uma pessoa difícil. A solidão social e a solidão intrapsíquica
  • 89. Nestes tempos de intensa crise social e educacional, é bom rompermos nossa velha maneira de pensar e nos abrirmos para outras possibilidades. Estudar a inteligência de Cristo pode fornecer princípios sociológicos, psicológicos e psicopedagógicos muito úteis. O homem moderno é um ser solitário, isolado dentro da sua própria sociedade, um homem que sabe que tem fragilidades, inseguranças, temores, momentos de hesitação e apreensão, mas tem medo de reconhecê-los, de assumi-los e de falar sobre eles. Tem consciência da necessidade de falar de si mesmo, contudo opta pelo silêncio e faz dele seu melhor companheiro. Como disse, muitos vão ao psiquiatra e psicoterapeuta não porque estão doentes, ou pelo menos seriamente doentes, mas porque não têm ninguém para conversar abertamente sobre suas crises existenciais.
  • 90. Realmente é difícil falar de nós mesmos. O medo de falar de si mesmo não está ligado apenas aos bloqueios íntimos que as pessoas têm em comentar suas histórias, mas também às dificuldades de encontrar alguém que desenvolveu a arte de ouvir. Alguém que ouve sem prejulgar e que sabe se colocar em nosso lugar e não dar conselhos superficiais. É mais fácil desenvolver a arte de falar do que a de ouvir. Aprender a ouvir implica aprender a compreender o outro dentro do contexto histórico, a respeitar suas fragilidades, a perceber seus sentimentos mais profundos, a captar os pensamentos que as palavras não expressam. A arte de ouvir é uma das mais ricas funções da inteligência.
  • 91. Muitos não apenas desenvolvem a solidão social, a solidão de estar próximo fisicamente e, ao mesmo tempo, distante interiormente das pessoas que o cercam, mas também a solidão intrapsíquica, de abandonar-se a si mesmo, de não dialogar consigo mesmo, de não discutir os próprios problemas, dificuldades, reações. Crise nas relações sociais: Os amigos estão morrendo
  • 92. Nas sociedades modernas, fazer amigos está virando artigo de luxo. O ser humano perdeu o apreço por uma relação horizontal equidistante. Ele gosta de anular o outro e de que o mundo fique aos seus pés. Mas Cristo, nos últimos dias da sua trajetória nesta terra, expressou que queria muito mais do que admiradores, queria amigos. Não há relação mais nobre do que ser e ter amigos. Os amigos se mesclam, confiam mutuamente, desfrutam do prazer juntos, segredam coisas íntimas, torcem uns pelos outros. Os amigos não anulam um ao outro, mas se completam. Quem vive sem amigos pode ter poder e palácios, mas vive só e triste. Quem tem amigos, ainda que não tenha status e viva num casebre, não se sentirá só. A falta de amigos deixa uma lacuna que dinheiro, poder, cultura, sucesso, não podem preencher.
  • 93. Todos precisamos de amigos, os quais não compramos, mas conquistamos, cultivamos. Muitos querem tê-los, mas não sabem como conquistá-los. Os amigos não são aqueles que gravitam em torno de nós, que nos rodeiam pelo que temos. Não, são aqueles que nos valorizam pelo que somos. No mundo biológico, os animais se agrupam pela necessidade instintiva de sobrevivência. Na nossa espécie, as amizades surgem por necessidades mais íntimas, como tentativa de superar a solidão.
  • 94.
  • 95. O Mestre da sensibilidade teve uma existência pautada por desafios, perdas, frustrações e sofrimentos de toda ordem. Ele tinha todos os motivos para ter depressão durante sua trajetória de vida, mas não a adquiriu; pelo contrário, era alegre e seguro no território da emoção. Tinha também todos os motivos para ter ansiedade, mas não a adquiriu; pelo contrário, era tranqüilo, lúcido e sereno. Cristo adotou para administrar seus pensamentos e superar sua dramática angústia?
  • 96. Jesus disse: “Pai, se possível, afaste de mim este cálice, mas não faça como eu quero, mas como tu queres!”. Ele hesitou diante da sua dor? Alguns vêem ali recuo e hesitação. Todavia, se estudarmos detalhadamente seus comportamentos, compreenderemos que ele expressou, naquela noite densa e fria, a mais bela poesia de liberdade, resignação e autenticidade. Estava plenamente consciente do cálice que iria beber. Seria espancado, açoitado, zombado, cuspido; teria uma coroa de espinhos cravada em sua cabeça e, por fim, passaria por seis longas horas na cruz até a sua falência cardíaca.
  • 97. A psicologia e a psiquiatria têm muito a aprender com os pensamentos e reações que o mestre expressou ao longo de sua história, principalmente nos seus últimos momentos. Diante das mais dramáticas situações, ele demonstrou ser o mestre dos mestres da escola da vida. Os sofrimentos, ao invés de abatê- lo, expandiam sua sabedoria. As perdas, ao invés de destruí-lo, refinavam-lhe a arte de pensar. As frustrações, ao invés de desanimá-lo, renovavam-lhe as forças. A missão, propósito ou objetivo de Jesus Cristo é impressionante. Não queria apenas colocar o homem numa escola de sábios, mas também imergi-lo na eternidade. Ele valorizava o homem ao máximo, por isso nunca desistia de ninguém, por mais que o frustrassem. Sob o cuidado afetivo dele, as pessoas começaram a contemplar a vida sob outra perspectiva.
  • 98. A MATURIDADE REVELADA NO CAOS É fácil reagirmos e pensarmos com lucidez quando o sucesso bate à nossa porta, mas é difícil conservarmos a serenidade quando as perdas e as dores da existência nos invadem. Muitos revelam irritabilidade, intolerância e medo nessas situações. Se quisermos observar a inteligência e maturidade de alguém, não devemos analisá-la nas primaveras de sua vida, mas no momento em que atravessa os invernos de sua existência.
  • 99. Muitas pessoas, incluindo intelectuais, comportam-se com elegância quando o mundo os aplaude, mas perturbam-se e reagem impulsivamente quando os fracassos e os sofrimentos cruzam as avenidas de suas vidas. Não conseguem superar suas dificuldades nem mesmo extrair lições de suas intempéries. Quem vive sob o peso da culpa fere continuamente a si mesmo, torna-se seu próprio carrasco e, de outro lado, quem é radical e excessivamente crítico dos outros torna-se um “carrasco social”. Na escola da vida não há graduação. Quem nela se “diploma” faz perecer sua criatividade, na medida em que não mais possui a capacidade de ficar assombrado com os mistérios que a norteiam. Tudo se torna comum para ele, nada havendo que o anime e o instigue. Nessa escola, o melhor aluno não é aquele que tem consciência do quanto sabe, mas do quanto não sabe. Não é aquele que proclama a sua perfeição, mas o que reconhece suas limitações. Não é aquele que proclama a sua força, mas o que educa a sua sensibilidade.
  • 100. É fácil expressar serenidade quando nossas vidas transcorrem num jardim, difícil é quando nos defrontamos com as dores da vida. Os estágios finais da vida de Cristo foram pautados por dores e aflições. Teria ele conservado seu brilho intelectual e emocional nas suas causticantes intempéries? O mestre brilhou na adversidade:. Ele não freqüentou escola, era um simples carpinteiro, mas para nossa surpresa expressou as funções mais ricas da inteligência: era um especialista na arte de pensar, na arte de ouvir, na arte de expor e não impor as idéias, na arte de pensar antes de reagir. Era um maestro da sensibilidade e um agradável contador de histórias. Sabia despertar a sede do saber das pessoas, vaciná-las contra a competição predatória e contra o individualismo, estimulá-las a serem pensadoras e a desenvolver a arte da tolerância e da cooperação social. Além disso, era alegre, tranqüilo, brando, lúcido, coerente, estável, seguro, sociável e, acima de tudo, um poeta do amor e um excelente investidor em sabedoria nos invernos da vida. Cristo foi visto ao longo dos séculos como um sofredor que morreu na cruz. Tal conceito é pobre e superficial. Temos de analisá-lo na sua grandeza.
  • 101. O SEMEADOR DE VIDA E DE INTELIGÊNCIA O semeador da Galiléia superando métodos da educação moderna Há duas maneiras de se fazer uma fogueira: com as sementes ou com um punhado de lenha. Qual maneira você escolheria? Fazer fogueira com uma semente parece um absurdo, loucura. Todos, certamente, escolheríamos a lenha. Entretanto, o mestre de Nazaré pensava a longo prazo, por isso sempre escolhia as sementes. Ele as plantava, esperava que as árvores crescessem, dessem milhares de outras sementes e, aí sim, fornecessem a lenha para a fogueira.
  • 102. Se escolhesse a lenha, acenderia a fogueira apenas uma vez, mas como preferia as sementes, a fogueira que acendia nunca mais se apagava. Um dia ele comparou a si mesmo a um semeador que semeia no coração dos homens. Um semeador do amor, da paz, da segurança, da liberdade, do prazer de viver, da dependência recíproca. Quem não consegue enxergar o poder contido em uma semente nunca mudará o mundo que o envolve, nunca influenciará o ambiente social e profissional que o cerca. Uma mudança de cultura só será legítima e consistente se ocorrer por intermédio das singelas e ocultas sementes plantadas na mente dos homens e não por intermédio da imposição de pensamentos.
  • 103. Os EUA são a sociedade mais rica do globo. Além disso, são o estandarte da democracia. Entretanto, a farmacodependência, a discriminação racial e a violência nas escolas são sinais de que a riqueza material, o acesso à alta tecnologia e à democracia política são insuficientes para expandir a qualidade de vida psíquica e social do homem.
  • 104. A tecnopedagogia, ou seja, a tecnologia educacional, não tem conseguido produzir homens que amam a tolerância, a solidariedade, que vençam a paranóia de ser o número um, que têm prazer na cooperação social e se preocupam com o bem-estar dos consócios de sua sociedade. A democracia política produz a liberdade de expressão, mas ela não é por si mesma geradora da liberdade de pensamento. A liberdade de expressão sem a liberdade do pensamento provoca inúmeras distorções, uma das quais é a discriminação. Por incrível que pareça, as pessoas não compreendem que dois seres humanos que possuem os mesmos mecanismos de construção da inteligência não podem jamais ser discriminados pela fina camada de cor da pele, por diferenças culturais, nacionalidade, sexo e idade.
  • 105. Milhões de jovens estão estudando nas sociedades modernas. Eles vivem num ambiente democrático, que lhes propicia a liberdade de expressão. Contudo, são livres por fora, mas não no território dos pensamentos. Por isso, são presas fáceis da discriminação, da violência social, da autoviolência, da paranóia da estética e das doenças psíquicas. Muitos desses jovens superdimensionam o valor de alguns artistas, políticos e intelectuais e gravitam em torno das suas idéias e comportamentos e não sabem que, ao superdimensioná-los, estão diminuindo a si mesmos, reduzindo o seu próprio valor. Aprender a construir uma liberdade com consciência crítica, a proteger a emoção e a desenvolver a capacidade de ver o mundo também com os olhos dos outros são funções importantíssimas da inteligência, mas têm sido pouco desenvolvidas no mundo democrático. Vivemos uma crise educacional semprecedentes.
  • 106. Estamos resolvendo nossos problemas externos, mas não os internos. Somos uma espécie única entre dezenas de milhões de espécies na natureza. Por pensar e ter consciência do fim da vida, colocamos grades nas janelas para nos defender, cintos de segurança para nos proteger, contratamos o pedreiro para corrigir as goteiras do telhado, o encanador para solucionar o vazamento da torneira, todavia não sabemos como construir a mais importante proteção, a proteção emocional. À mínima ofensa, contrariedade e perda, detonamos o gatilho instintivo da agressividade.
  • 107. Nas sociedades modernas, os bem-aventurados são aqueles que têm status social, dinheiro, cultura acadêmica. Todavia, para aquele mestre incomum, os bem-aventurados são aqueles que exalam a paz onde quer que estejam, que atuam como bombeiros da emoção, que são capazes de abrandar a ira, o ódio, a inveja, o ciúme e, ainda por cima, estimular o diálogo entre as pessoas com as quais convivem. No seu pensamento, se formos incapazes de realizar tal tarefa, não somos felizes nem privilegiados. Nas sociedades modernas, as pessoas amam o individualismo e se preocupam pouco com o bem estar dos outros. A troca de experiências de vida se tornou uma mercadoria escassa. Falam cada vez mais do mundo exterior e cada vez menos de si mesmos. Infelizmente, as pessoas só conseguem falar de si mesmas quando vão a um psiquiatra ou psicoterapeuta.
  • 108.
  • 109. O amanhã é um dia incerto para todos os mortais. Jesus, para o espanto dos seus discípulos, comentava que sabia de todas as coisas que lhe sobreviriam. Que homem é este que penetrava no túnel do tempo e se antecipava aos fatos? Sabia que ia ser traído. Então, resolveu facilitar sua prisão, pois, segundo sua firme convicção, havia chegado o momento de passar pelo mais dramático caos pelo qual um ser humano pode passar. Todos fogem do cárcere, ele o procurou. Frequentemente perdemos o contato com nossa história. Os amigos e as belas e singelas experiências do passado se tornam páginas que dificilmente folheamos. Jesus, ao contrário, apesar de ser tão famoso, nunca se esquecia das coisas singelas nem abandonava as pessoas simples que o amavam. Lázaro havia morrido há quatro dias. Nós sepultamos muitos amigos que estão vivos, nunca mais nos lembramos deles. Jesus, ao contrário, não se esquecia nem dos que tinham morrido. Por isso, foi visitar seu miserável amigo Lázaro.
  • 110. O que se pode fazer para uma pessoa em estado de putrefação? Depois de 15 minutos de completa parada cardíaca, sem manobras de ressuscitação, o cérebro é lesado de maneira irreversível, comprometendo áreas nobres da memória. Tal situação pode causar determinado grau de deficiência mental, pois milhões de informações se desorganizam, impedindo que os quatro grandes fenômenos que lêem a memória e constroem cadeias de pensamentos sejam eficientes nesta magna tarefa intelectual. A memória de Lázaro havia se tornado um caos.
  • 111. Se 15 minutos sem irrigação sanguínea podem lesar o cérebro, imagine o que não acontece em quatro dias de falecimento, como no caso de Lázaro. Não há mais nada a fazer. Todos os segredos da memória deste homem se perderam de maneira irreparável. Bilhões, trilhões de informações contidas no córtex cerebral e que alicerçavam a construção da sua inteligência se transformaram num caos. Não há mais história de vida nem personalidade. A única coisa a ser feita era tentar consolar a dor das suas irmãs, Maria e Marta. Toda vez que não havia mais nada para se fazer, aparecia o mestre da vida causando um tumulto nas leis da biologia e da física. Quando todo mundo estava desesperado, ele reagia com tranquilidade.
  • 112. Lázaro era uma pessoa conhecida e muitos judeus estavam lá consolando as suas irmãs. Quando Maria viu o mestre, lançou-se sobre seus pés e chorou. Ao vê-la chorar, bem como os judeus presentes, sua emoção mergulhou num profundo sentimento. Jesus chorou. Chorou ao ver a dor, o destino e a fragilidade humana. O homem Jesus chorava ao ver as lágrimas dos homens. Somos muitas vezes insensíveis à angústia dos outros, mas de seu olhar nem mesmo escapava o sentimento de inferioridade de uma prostituta ou de um leproso.
  • 113. Ao chegar no lugar onde estava sepultado Lázaro, pediu que retirassem a pedra da tumba. Aflita, Marta argumentou sensatamente que seu irmão já cheirava mal, pois havia falecido há quatro dias. Marta olhava para o mundo possível; Jesus, para o impossível. Com uma segurança inabalável, acalmou-a, dizendo que não temesse, mas apenas cresse. Retirada a pedra, Jesus não foi analisar clinicamente seu amigo, não foi verificar a condição de seus órgãos, nem muito menos se importou com o assombramento das pessoas com sua atitude. Manifestando um poder incompreensível, de quem está acima das leis da ciência, ordenou que Lázaro saísse para fora.
  • 114. Para perplexidade de todos, um homem envolvido em ataduras sujeitou-se à sua ordem e saiu imediatamente ao seu encontro. Bilhões de células nervosas ganharam vida. Os arranjos eletrônicos que organizam as informações no córtex cerebral se reorganizaram. O sistema vascular se recompôs. Os órgãos foram restaurados, o coração voltou a pulsar, enfim, a vida começou novamente a fluir de todos os sistemas daquele cadáver. Como isto é possível? Nunca na história, até os dias de hoje, um homem clinicamente morto, cujo coração parou de bombear o sangue há vários dias, recuperou a vida, a memória, a identidade e a capacidade de pensar, como no caso de Lázaro. Jesus era verdadeiramente um homem, mas concentrava dentro de si a vida do Criador. Para ele não havia morte, tudo o que ele tocava ganhava vida. Que homem é este que faz atos que a medicina nem em seus delírios sonha em realizar?
  • 115. Retirando a Pedra Há uma consideração a fazer nesta passagem. Ele fez um dos maiores milagres da história. Contudo, antes de fazê-lo, pediu para que os homens retirassem a pedra da tumba. Se tinha tanto poder para ressuscitar um homem, por que não tinha poder para removê-la? Primeiro é necessário tirar a pedra do medo, da insegurança, do desespero, para que ele possa intervir. Sem o crer do homem, sem sua cooperação, ele pode agir, mas raramente age. Para Jesus Cristo, o maior milagre não é a cura sobrenatural de um corpo doente, mas superar o medo, a infelicidade e a ansiedade de uma alma doente.
  • 116. A morte é o maior problema dos mortais Os psiquiatras só conseguem ter determinado sucesso no tratamento de uma pessoa psiquicamente doente, porque os antidepressivos, ansiolíticos e antipsicóticos atuam no metabolismo de um cérebro vivo, pois num cérebro morto não há nada para se fazer. Os médicos dependem da existência da vida para exercer sua profissão, com exceção dos legistas. A medicina nasce quando o homem é concebido e morre quando ele falece. A maior derrota da medicina é a morte. Pelo desejo do mestre de Nazaré, seu amigo Lázaro saiu do caos cerebral para a plena sanidade. Muitos testemunharam este fato. Será que este acontecimento poderia ser considerado um delírio coletivo?
  • 117. Não! O relato dessa passagem evidencia que Jesus não fez um discurso atuando na emoção das pessoas, não induziu o sonho e a fantasia humana. Aliás, em todos os seus atos sobrenaturais havia uma estrita economia de palavras e uma eloquência dos gestos. Além disso, ele resgatou a vida de Lázaro ante a desconfiança dos presentes. A fama de Jesus, que já era enorme, se tornou incontrolável depois que trouxe Lázaro à vida. Os líderes judeus, que já haviam tentado matá-lo sem êxito, tentavam conter a fama de Jesus, mas não tinham sucesso.
  • 118. O mestre da vida não era apenas seguido por inúmeras pessoas, mas causava algo no território da emoção delas. Elas se apaixonavam por ele. Numa terra em que imperava o medo, a labuta social e as incertezas da vida, o amor floresceu como na mais bela primavera. Homens ricos e pobres, cultos e iletrados, que nunca aprenderam as lições mais básicas do amor, aprenderam a admirar e a amar um carpinteiro. Muitos se remoíam em seus leitos esperando os primeiros raios de sol para procurar aquele que lhes havia dado um novo sentido de vida.
  • 119. Certa vez, o mestre foi convidado para comer na casa de um fariseu. Era um sábado. Havia muitos convidados e todos o observavam. Estavam atentos para ver alguma falha nele, principalmente se desrespeitaria o sábado curando alguém. Como sempre acontecia, mais uma pessoa miseravelmente doente apareceu e mais uma vez ele abalou a rigidez dos moralistas.
  • 120. Antes de fazer um milagre, fitou os convidados e perguntou-lhes se um filho ou um boi caísse num poço em dia de sábado, se eles não o socorreriam imediatamente. Ninguém lhe deu resposta, ficaram emudecidos; alguns, envergonhados. O mestre da vida aproveitou a ocasião para contar-lhes mais uma parábola que combatia frontalmente a necessidade compulsiva de prestígio e poder social. Como exímio contador de histórias, falou-lhes que se eles fossem convidados para um casamento não deveriam procurar sentar-se nos primeiros lugares, para que vindo o noivo não os retirasse daquela posição para dar lugar a pessoas mais importantes que eles.
  • 121. Estimulou-os a procurarem o último lugar, para que, quando viesse o que lhes convidara e pedisse para que se sentassem num lugar mais privilegiado, fossem honrados diante dos demais convidados. Nesta mesma passagem, este brilhante contador de histórias foi mais longe. Dilacerou o individualismo, o egocentrismo e a troca de favores que permeiam o consciente e o inconsciente humano. Abordou um princípio chocante que raramente é praticado, mesmo por aqueles que se dizem hoje seus mais ardentes seguidores.
  • 122. O egoísmo, o orgulho e o individualismo são “vírus” da alma que nunca morrem. Você pode controlá-los, mas nunca eliminá-los. Se não os combater continuamente, eles um dia eclodirão sorrateiramente, infectando nossa emoção e nos distanciando paulatinamente das pessoas. Para o mestre, o importante não era a doença do doente, mas o doente da doença. O importante não era o quanto as pessoas estavam doentes, o quanto erraram ou estavam deprimidas e angustiadas, mas o quanto elas reconheciam suas misérias emocionais. Os que tinham coragem para reconhecer-se doentes, sentiam mais o calor do seu cuidado. Os moralistas, por serem auto-suficientes, nunca se aqueceram com as chamas de sua emoção.
  • 123. Plantar diariamente a segurança, a solidariedade, a honestidade, a perseverança, a alegria nos pequenos detalhes da vida, a capacidade de expor e não impor as idéias, para muito tempo depois colher essas funções nobres da inteligência. Se esperasse muito dos seus discípulos, ele se frustraria excessivamente com o abandono deles, com a traição de Judas e a negação de Pedro. Neste caso, poderia desistir do seu martírio. Entretanto, educava-os, mas não esperava resultados imediatos. Quem quer ser um bom educador tem de ter a paciência de um agricultor. Se quisermos ter dias felizes não devemos esperar resultados imediatos. Às vezes, educamos nossos filhos com o maior carinho e eles nos frustram com seus comportamentos, parece que tudo que ensinamos foram como sementes lançadas em terra árida. Mas sutilmente, sem percebermos, essas sementes um dia eclodem, criam raízes, crescem e se tornam belas características de personalidade.
  • 124. O mestre da vida entendia os limites das pessoas, por isso amava muito e exigia pouco, ensinava muito e cobrava pouco. Esperava que o amor e a arte de pensar florescessem pouco a pouco no terreno da inteligência. Por dar muito e exigir pouco, ele protegia sua emoção, não se decepcionava com as pessoas quando elas o frustravam e nem as sufocava com sentimento de culpa e incapacidade. Quantos, diante dos erros, se envergonham e retrocedem em sua caminhada? Quantos não se esmagam com sentimento de culpa e vivenciam crises depressivas diante das suas falhas? Jesus sabia que o homem é o pior carrasco de si mesmo. Por isso, estava sempre querendo tornar leve o fardo da vida, libertar a emoção do cárcere. Ninguém que andava com o mestre de Nazaré vivia semartirizando. Até uma prostituta sentia-se aliviada ao seu lado. Algumas derramavam lágrimas sobre ele, por tratá-las com tanto amor, por dar continuamente uma oportunidade a elas.
  • 125. Pergunto: Será que as pessoas se sentem aliviadas ao nosso redor? Será que lhes damos condições para que elas rasguem a sua alma e nos contem seus problemas? Não poucas vezes, ao ver a queda das pessoas, as criticamos ao invés de ajudá-las a se levantar. O mais excelente mestre da emoção sabia que seus discípulos o amavam, mas ainda não tinham estrutura para vencer o medo, o fracasso, as perdas. Previu que eles o abandonariam para que eles conhecessem a si mesmos e compreendessem suas limitações. Fossem fortes após as derrotas. O mestre da vida não procurava gigantes nem heróis, mas homens que tivessem a coragem de levantar-se após cair, de retomar o caminho após fracassar. Perdoando-os antes do fracasso.
  • 126. Raramente uma pessoa presta atenção aos detalhes que norteiam o comportamento de Jesus Cristo. Seu cuidado afetuoso era fascinante. Ele já os estava perdoando antes mesmo que eles fracassassem. Quem é que abandonado é capaz de ter ânimo para cuidar daqueles que o abandonaram? Uma ofensa causada por um filho ou uma frustração gerada por um amigo ou colega de trabalho nos irrita e a conseqüência imediata é a impaciência. Quantas vezes dissemos: “Essa pessoa não tem jeito mesmo!”. Certa vez, o mestre disse aos seus discípulos que se uma pessoa errasse e viesse pedir-lhes perdão, eles deveriam perdoa-la. Se ela viesse no mesmo dia e errasse sete vezes e as sete vezes pedisse perdão, as sete vezes deveriam ser perdoadas. Outra vez disse que deveríamos perdoar as pessoas setenta vezes sete. Na verdade queria dizer que devemos perdoar sempre, continuamente, ainda que a pessoa seja a mais teimosa e obstinada do mundo.
  • 127. Somos controlados pela nossa emoção. Algumas pessoas nunca mais se esquecem de um pequeno olhar de desprezo produzido por um colega de trabalho. Outras nunca mais retornam a um médico se ele não lhes deu a esperada atenção. Se uma pessoa não aprender a administrar o gatilho da memória, viverá a pior prisão do mundo: o cárcere da emoção. Os dependentes químicos vivem o cárcere da emoção, porque, quando detonam este fenômeno, não conseguem administrar a ansiedade e o desejo compulsivo por uma nova dose da droga. Os que possuem a síndrome do pânico vivem o medo dramático de que vão morrer ou desmaiar, gerado também por este gatilho. Do mesmo modo, quem tem claustrofobia, transtornos obsessivos compulsivos (TOC) e outras doenças que produzem intensa ansiedade é vítima do gatilho da memória. Tal fenômeno é fundamental para o funcionamento normal da mente humana, mas se ele produz reações doentias e pensamentos negativos inadministráveis, contribui para gerar uma masmorra interior.
  • 128. Jesus sabia navegar pelas águas da emoção num ambiente turbulento. Ele transitava pelas agressividades, pelas perdas e frustrações da vida sem se deixar abater. Certa vez, aconteceu num tribunal. Um homem estava sendo julgado por assassinato. Havia cometido um crime cruel. Matou um homem por um motivo torpe: a vítima jogou, numa discussão, um copo d’água no seu rosto. Humilhado, ele o assassinou.
  • 129. O réu era indefensável. Pegaria a pena máxima. O promotor discursava eloquentemente sobre a periculosidade do mesmo. Dizia que alguém tão violento não poderia estar em nenhum outro lugar senão atrás das grades. Como pode alguém matar um ser humano por ter sido agredido com um copo d’água? O advogado de defesa não tinha argumentos. Tudo parecia estar perdido. Então, de repente, teve uma idéia. Resolveu reproduzir a cena do crime. Começou a criar um clima de atrito com os membros do júri. Então, subitamente, pegou um copo com água e, no calor da discussão, sem que esperassem, atirou água em seus rostos.
  • 130. O juiz interpretou o gesto do advogado como um grande desacato. Os membros do júri ficaram profundamente irados com a insolência. Então, imediatamente, pediu desculpas e explicou os motivos de sua atitude. Disse que tramou agredir os membros do júri e jogar água neles para que eles olhassem para o réu com os olhos dele, na pele dele. Comentou que tentou simular o clima do assassinato, gerar uma emoção nos membros do júri semelhante a que seu cliente sentiu no momento em que a vítima lhe atirou água no rosto.
  • 131. Diante disto, ele fitou o júri e encerrou sua defesa dizendo-lhes: “se vocês ficaram irados quando lhes atirei a água, entenderão o que aconteceu com meu cliente. Infelizmente, todos nós cometemos atos impensáveis quando estamos tensos. Ele não é perigoso, jamais planejara aquele assassinato, e havia se arrependido da sua atitude impulsiva. Por favor, julguem meu cliente baseados em sua consciência, em sua emoção”. O veredicto final foi a absolvição. O advogado de defesa, sem ter consciência, levou os jurados a compreender o fenômeno do gatilho da memória. Infelizmente, desculpamos a violência dos outros pela nossa violência.
  • 132. Quanto mais se afloram os estímulos estressantes através da competição predatória, do individualismo, da crise do diálogo, da velocidade das transformações sociais, mais o homem moderno reage sem pensar, mais volta ao tempo das cavernas. Assim, pouco a pouco nos psicoadaptamos à agressividade. Aceitamos a violência como normal, como parte inerente da rotina social. O mestre de Nazaré não reagia com violência, mesmo quando ferido. Ele não apenas não se deixava ser invadido pela agressividade dos outros como também não devolvia a violência que lhe causavam, mas era capaz de conduzi-los a refletir sobre os fundamentos de sua ira.
  • 133. Quem é este homem que governa sua emoção num ambiente em que todos nós nos afogaríamos nas águas da raiva e do medo? Somos uma espécie tão bela, mas tão complicada. Somos tão complicados que roubamos de nós mesmos nossa tranquilidade e o direito de sermos felizes. Todas as experiências que vivemos no palco de nossas mentes são registradas involuntariamente na memória pelo fenômeno RAM. E, se estas experiências tiverem alta carga de tensão, o registro será privilegiado, ocupando áreas nobres de nossa memória.
  • 134. Aqui há um grande aprendizado a ser feito. Se uma pessoa nos perturbou, nos prejudicou ou nos humilhou de alguma forma e se desenvolvemos raiva, ódio ou medo dela, saiba que ela será registrada de maneira privilegiada na parte central de nossa memória, que chamo de MUC (Memória de Uso Contínuo). Se imaginarmos a memória como uma grande cidade, a MUC é a área em que mais circulamos e realizamos nossas atividades profissionais e sociais. Por estar registrado na MUC, ela será lida preferencialmente e participará de grande parte de nossos pensamentos.
  • 135. Assim, pensando que a raiva, ódio ou reação fóbica de afastamento nos livrará de nosso agressor, nos enganamos. Ele almoçará, jantará e dormirá conosco, pois ocupará a área central de nossa memória consciente e inconsciente e, consequentemente, ocupará grande parte de nossos pensamentos que, por sua vez, afetarão a qualidade de nossas emoções. Por isso, quando temos um problema não deixamos de pensar nele. Quanto mais aversão sentirmos por alguém, mais ele ocupará nossos sonhos e nos convidará a ter insônia. Da próxima vez que alguém o frustrar, lembre-se de que se não tomar cuidado, você dormirá com ele.
  • 136. O mestre de Nazaré não dormia com seus inimigos, pois nenhum homem era seu inimigo. Os fariseus podiam odiá-lo e ameaçá-lo, mas todo o ódio de um homem não o qualificava para ser seu inimigo. Qual a razão? A razão era que ninguém conseguia transpor sua capacidade de proteger a sua emoção. Não permitia que a agressão dos outros tocasse sua alma. Conheço a história de filhos que nunca mais segredaram nada aos seus pais depois que estes os frustraram. Conheço também pessoas que nunca mais reataram a amizade com seus amigos depois de uma pequena discussão. Eles abriram as comportas de sua emoção e deixaram que um episódio turbulento destruísse para sempre um belo relacionamento.
  • 137. Todos os líderes políticos que usaram a agressividade como ferramenta para impor suas idéias mancharam as páginas da história. A própria história os condenou. Foram esquecidos ou lembrados com repugnância. O nome de Jesus percorreu todas as gerações como fogo em madeira seca. Quais os motivos? Muitos. Não foi somente pela sua demonstração de poder, mas muito mais pela sua necessidade de não usá-lo. Quem agiu como ele na história?
  • 138. Jesus mudou a história da humanidade pela delicadeza dos seus gestos num ambiente grosseiro e inumano, pelos patamares impensáveis aos quais chegou sua amabilidade num ambiente em que os homens não sabiam amar. Os homens que cometeram mais atrocidades na história foram aqueles que tinham menos capacidade de se questionar. Foram aqueles que tinham menos capacidade para aprender. Eles fecharam as janelas da inteligência para pensar em outras possibilidades. Quem vive verdades absolutas usa o poder para dominar os outros. Aqueles que eles não conseguem dominar, eliminam.
  • 139. A vida é muito longa para se errar, mas brevíssima para se viver. Se os homens refletissem filosoficamente sobre a temporalidade da vida, tal reflexão estimularia a sabedoria e o amor pelos direitos humanos. Compreenderiam que o intervalo entre a meninice e a velhice se constitui de alguns instantes. Todavia, desprezam a sabedoria.
  • 140. O Autor da vida não queria que o homem se dobrasse aos seus pés pelo seu poder, mas por seu amor. O poder financeiro e político sempre fascinou mais o homem do que o amor. Mas apareceu alguém que até hoje nos deixa perplexos. Poderia ter o mundo aos seus pés se usasse seu poder, mas preferiu ser amado a ser temido. Por incrível que pareça, o Todo Poderoso veio procurar amigos e não escravos, por isso veio pessoalmente conviver com os homens. Diferente de Deus, o homem quanto mais conquista poder, mais perde seus amigos. Segundo os textos dos evangelhos, Deus tem plena consciência de todas as necessidades humanas. Cada dor, angústia ou aflição tocam sua emoção. Ele nunca esteve alienado ao pranto dos pais que perderam seus filhos. Esteve presente em cada lágrima que eles derramaram, em cada momento de desespero que viveram. Penetrou em todos os momentos de solidão e de descrença da vida que tiveram.
  • 141.
  • 142. Há dois tipos de sabedoria: a inferior e a superior. A sabedoria inferior é dada pelo quanto uma pessoa sabe e a superior é dada pelo quanto ela tem consciência de que não sabe. Os verdadeiros sábios são os mais convictos da sua ignorância. Desconfiem das pessoas auto-suficientes. O orgulho é um golpe contra a lucidez, um atentado contra a inteligência. A sabedoria superior tolera; a inferior, julga; a superior alivia, a inferior culpa; a superior perdoa, a inferior condena. Na sabedoria inferior há diplomas, na superior ninguém se diploma, não há mestres nem doutores, todos são eternos aprendizes. Que tipo de sabedoria controla sua vida?
  • 143. Sabemos muito pouco também sobre nós mesmos. Quem somos? Como produzimos pensamentos e confeccionamos a consciência? Você já percebeu que você, tal como cada ser humano, é um ser único no teatro da vida? Pensar e ter consciência parece tão simples, mas a ciência e todas as bibliotecas do mundo inteiro são insuficientes para explicar apenas a solidão de uma criança abandonada nas ruas.
  • 144. Se você compreender algo sobre a complexidade dos fenômenos que se encenam no palco de nossa mente e que constroem as idéias, descobrirá que não existem árabes ou judeus, americanos ou alemães, negros ou brancos, somos todos uma única e apaixonante espécie. O mestre da vida, Jesus Cristo, era profundamente apaixonado pela espécie humana. Ele dava uma atenção especial a cada ser humano. Os miseráveis eram tratados como príncipes e os príncipes, como reis.
  • 145. O mundo carece de pensadores. As sociedades precisam de homens que possuam idéias inovadoras capazes de contribuir para enriquecer nossas inteligências e mudar as rotas de nossas vidas. Raramente um político, intelectual, um artista tem idéias novas e brilhantes. Não há emoção em suas palavras. O espetáculo está nos filmes, mas não no terreno da realidade. É incomum ouvirmos homens e mulheres famoso(a)s nos encantando com sua inteligência.
  • 146. Concordo plenamente com o autor quando ele nos diz que estamos tão atarefados em comprar, vender, ter, fazer, que não conseguimos ficar atônitos com o espetáculo da vida e nem com os segredos que o cercam. É infrequente alguém fazer uma simples indagação filosófica tal como esta: “Que mistério é estar vivo e mergulhado no tempo e no espaço!”. Você já parou para pensar que a vida que pulsa em você é fonte insondável de enigmas? Quem deixou de perguntar sobre os fenômenos da existência se diplomou na escola da vida, destruiu sua capacidade de aprender.
  • 147. As crianças de hoje têm mais informações do que um idoso do passado. Os adultos estão abarrotados de informações, mas dificilmente sabem organizá-las. Saber muito, mas pensar pouco tem pouca utilidade. Muitos têm uma mente com centímetros de profundidade e quilômetros de extensão. Todavia, se você está, aborrecido com a carência de pensadores numa sociedade em que as escolas se multiplicaram, aqui teremos nós teremos um consolo, estudando Jesus.
  • 148. Jesus amava ser um homem e lutava para que as pessoas percebessem o valor incondicional da vida. Para isso, procurava desobstruir a inteligência delas. Que ferramenta ele usava? Muitos pensam que Jesus só discorria sobre a fé, mas ele utilizava uma das melhores ferramentas para abrir as janelas da mente humana: a arte da dúvida. A dúvida amigos e amigas é uma ferramenta fundamental para expandir o leque do pensamento. A morte de um cientista ocorre quando ele deixa de duvidar do seu conhecimento.
  • 149. Se você souber utilizar a arte da dúvida vai ao encontro da sabedoria superior e, por isso, sempre vai considerar todo seu conhecimento uma pequena gota num oceano. Os jovens de hoje são frequentemente autoritários. O mundo tem de girar em torno das suas verdades e necessidades. Por estarem abarrotados de informações, acham que entendem de tudo. Raramente uma pessoa mais velha consegue mudar as rotas do que pensam e sentem. Por quê? Porque não aprenderam a duvidar de si mesmos, a questionar as suas opiniões e nem a se colocar no lugar dos outros.
  • 150. A dúvida tem três estágios: ausência da dúvida, a presença inteligente da dúvida, a presença excessiva da dúvida. A ausência da dúvida gera pessoas psicopatas. Quem nunca duvida de si mesmo, quem se acha infalível e perfeito nunca terá compaixão dos outros. A presença inteligente da dúvida abre as janelas da inteligência e estimula a criatividade e a produção de novas respostas.
  • 151. A presença excessiva da dúvida leva as pessoas a retrair sua inteligência e suas atitudes pela insegurança. Tornam-se excessivamente tímidas e autopunitivas. A dúvida inteligente esvazia o orgulho. Jesus contava ricas parábolas levando as pessoas a confrontar-se com seu orgulho e rigidez, desse modo ele objetivava estimular o espírito delas e romper seu cárcere intelectual. Ele respondia perguntas com perguntas e quando dava respostas elas sempre abriam os horizontes dos pensamentos. Era um grande mestre da educação e seus discursos formavam e não informavam.
  • 152. A mulher samaritana, ao ouvi-lo, ficou tão encantada que saiu pela cidade discorrendo sobre ele, embora mal o conhecesse. Ela era uma mulher promíscua e socialmente rejeitada. Mas o mestre do amor não pediu conta dos homens com quem ela tinha andado. Ele disse que ela estava sedenta, ansiosa e precisava beber de um prazer que jamais havia experimentado. Que homem é esse que em poucas palavras deixa maravilhados seus ouvintes? As pessoas querem formatar o homem Jesus, mas é impossível formatá-lo. Independente de sua divindade, ele foi um homem deslumbrante.
  • 153. O que é educar? Educar é produzir um homem feliz e sábio. Educar é produzir um homem que ama o espetáculo da vida. Desse amor, emana a fonte da inteligência. Educar é produzir uma sinfonia em que rimam dois mundos: o das idéias e o das emoções. Se as escolas conhecessem os procedimentos educacionais que Jesus aplicou, elas não apenas formariam um homem saudável, mas teriam professores com mais qualidade de vida. Infelizmente, quase ninguém mais valoriza os educadores. Entretanto, eles são os profissionais mais nobres da sociedade. Os psiquiatras tratam do homem doente e os juízes julgam os réus. E os professores?
  • 154. Eles educam o homem para que ele não tenha transtorno psíquico e nem se sente nos bancos dos réus. Os professores, embora desvalorizados, são os alicerces da sociedade. Eles precisam ter subsídios para resolver os conflitos em sala de aula, educar a emoção e fazer laboratórios do desenvolvimento da inteligência. Jesus fazia laboratórios educacionais do mais alto nível. Fazia laboratório das funções mais importantes da inteligência, laboratório de superação, laboratório do treinamento do caráter, oficina de psicologia preventiva. Quem andava com ele resgatava o sentido da vida e desejava ser eterno. Quem deseja ser eterno é porque aprendeu a amar a vida, a realçar sua autoestima e a não gravitar em torno de seus sofrimentos. Essa é uma faceta da inteligência espiritual.
  • 155. Quando o mestre da emoção dizia: “Amai o próximo como a ti mesmo”, ele estava fazendo um excelente laboratório de autoestima. Se não amar a vida que pulsa em mim, independentemente de meus erros, como vou amar o próximo? Não espere amar as pessoas se você não ama a sua vida. Não espere ser solidário com os outros se você é carrasco de si mesmo. Jesus sabia ensinar os homens a pensar e a navegar nas águas da emoção. Queria tratar das feridas da alma e cuidar do bem estar das pessoas. Não estava preocupado com a sua imagem social. Corria todos os riscos por causa de um ser humano.
  • 156. Uma das características admiráveis de Jesus era que ele enfrentava as situações estressantes sem temor. Não fugia dos seus inimigos, não tinha medo de ser questionado, não tinha receio de entrar em conversas delicadas e, muito menos, de usar as ferramentas que um dia o destruiriam. Enfrente seu medo e desafie-o e você verá que o monstro é menor do que você imagina. Dê as costas ao seu medo e ele se tornará um gigante imbatível. Sabe qual é o pior matemático do mundo? O medo. Ele sempre aumenta o volume dos problemas. Por isso é tão importante não sermos passivos, mas darmos um choque de lucidez em nossas emoções.
  • 157. Os homens que andavam com Jesus aprenderam uma das mais difíceis e importantes linguagens, a linguagem da emoção. Aprenderam a não ter medo de admitir as suas fragilidades e de falar dos seus sentimentos. Aprenderam a não ter medo de amar e chorar. As lágrimas são alguns dos códigos da linguagem encantadora da emoção. Pedro chorou por tê-lo negado; Judas por tê-lo traído e agora uma numerosa multidão soluçava inconsolada por crer que iria perdê-lo para sempre.
  • 158. Quanto você tem aprendido a linguagem da emoção? Você vive represado dentro de si mesmo ou sabe expressar seus sentimentos? Nunca se esqueça de que a maneira como os outros nos vêem e reagem a nós se deve não ao que somos, mas ao que expressamos. Há pessoas excelentes, mas com péssima capacidade de exteriorizar sua amabilidade, sabedoria, preocupação com os outros.
  • 159. Oito grandes implicações da primeira frase de Cristo. Os textos são claros. Jesus disse uma das suas mais célebres frases, talvez a maior delas, no cume da sua dor, na primeira hora da sua crucificação. Ao clamar: “Pai, perdoa-os porque eles não sabem o que fazem”, Jesus resume em poucas palavras a sua grande missão, o seu projeto transcendental e as entranhas do seu ser. Esse pensamento é sobremodo elevado, possui tantas vertentes que, é impossível entendê-lo na plenitude.