O implante valvar aórtico transcateter (TAVI) é uma alternativa de tratamento da estenose aórtica grave sintomática em casos considerados de alto risco operatório ou inoperáveis. Indivíduos com disfunção sistólica do ventrículo esquerdo podem recuperar níveis normais da fração de ejeção e apresentar ganho em classe funcional (CF) por New York Heart Association (NYHA). Relatamos dois casos do emprego de TAVI, realizados em hospital terciário de cardiologia, público, brasileiro, e sua evolução clínica e ecocardiográfica durante o período de seguimento ambulatorial.
1. Melhora da função ventricular e da classe funcional após implante
valvar aórtico transcateter
Relato de Caso
Introdução
O implante valvar aórtico transcateter (TAVI) é uma alternativa de tratamento da
estenose aórtica grave sintomática em casos considerados de alto risco operatório ou
inoperáveis. Indivíduos com disfunção sistólica do ventrículo esquerdo podem
recuperar níveis normais da fração de ejeção e apresentar ganho em classe funcional
(CF) por New York Heart Association (NYHA). Relatamos dois casos do emprego de
TAVI, realizados em hospital terciário de cardiologia, público, brasileiro, e sua
evolução clínica e ecocardiográfica durante o período de seguimento ambulatorial.
Descrição
Relato do caso n°1
Paciente 79 anos, sexo feminino, admitida com relato de dispneia progressiva há
3 meses, estando em CF IV. O exame físico e o ecocardiograma demonstravam a
presença de estenose aórtica e disfunção biventricular graves. Durante a internação
evoluiu com instabilidade hemodinâmica, sendo realizada valvoplastia por balão como
ponte para segundo procedimento. Diante da melhora dos sintomas após valvoplastia,
associada à mortalidade cirúrgica estimada pelo EUROScore I de 19,4 % e STS Score
de 23%, optou-se por TAVI.
Realizado implante da prótese CoreValve® de 29 mm, com necessidade de
implante de segunda prótese por surgimento de regurgitação aórtica moderada a
importante. Evoluiu sem complicações, recebendo alta seis dias após o procedimento.
Após 30 dias de seguimento a paciente apresentava-se em CF I, mantendo-se
estável após um ano de acompanhamento clínico. Os ecocardiogramas de controle
foram realizados no 30° dia , seis e doze meses após a intervenção. O primeiro exame
mostrava maior área valvar aórtica, redução significativa do gradiente de pressão
transvalvar e aumento importante da fração de ejeção do ventrículo esquerdo. Houve
queda da pressão arterial pulmonar e melhora da função sistólica do ventrículo direito.
Os demais ecocardiogramas de controle mostraram manutenção dos gradientes obtidos
com TAVI e aumento progressivo da fração de ejeção do ventrículo esquerdo. A
regurgitação aórtica, moderada à alta pós TAVI, mostrou-se leve no último exame
realizado.
Relato de caso n°2
Paciente 84 anos, sexo feminino, com antecedentes de hipertensão arterial
sistêmica e hipertireoidismo. Admitida com queixa de cansaço progressivo.
Apresentava-se em CF III, com sinais de congestão pulmonar e sistêmica, evoluindo
com instabilidade hemodinâmica. Ecocardiograma realizado previamente a internação
revelava estenose aórtica importante e disfunção de ventrículo esquerdo. Devido a
2. idade avançada e mortalidade cirúrgica estimada pelo EUROScore I em 28,8 % e STS
Score em 5,9 %, optou- se por TAVI.
Foi realizado implante de CoreValve® de 26 mm. Apresentou regurgitação
moderada, recebendo implante de segunda prótese. Alta hospitalar oito dias após o
procedimento, com melhora dos sintomas.
No seguimento ambulatorial, no 30° dia, a paciente apresentava-se em CF II.
Ecocardiograma revelava maior área valvar aórtica, queda significativa do gradiente
VE/AO, porém mantendo grave disfunção de ventrículo esquerdo. Após seis meses do
procedimento, em CF I, apresentava melhora dos parâmetros ecocardiográficos, leve
disfunção de ventrículo esquerdo, queda importante da pressão sistólica da artéria
pulmonar e ventrículo direito normofuncionante. (Tab2)
Conclusão
Logo após o implante, nota-se a ampliação da área valvar e a queda significativa
do gradiente de pressão transvalvar aórtica. Essa melhora hemodinâmica precoce se
reflete, rapidamente, na melhora da sintomatologia de insuficiência cardíaca congestiva
das pacientes tratadas. Durante a evolução, houve melhora progressiva da fração de
ejeção, acompanhada por melhora clínica sustentada.
Tabela 1
Pré
Pós
imediato 30 dias 6 meses 12 meses
ECO TT
AO (cm) 3 3 3,1 2,8
AE (cm) 5,1 3,8 3,3 3.6 3,2
VES (cm) 5,6 3,6 3,6 2,9 3,1
VED (cm) 6,2 5,4 4,7 4,6 4,5
FE ( Teicholz %) 20, 19 61,48 46,82 66,91 59
VAO
VE/AO máx (mmHg) 65 34 22 25 15
VE/AO médio (mmHg) 38 12 14 7
Área valvar (cm) 0,3 1,6 1 1,9
Regurgitação leve leve a mod moderada moderada leve
VM IM leve IM mínima normal
PSAP (mmHg) 49 37
VD Disfunção Normal normal normal normal
Classe funcional (NYHA) IV II I I I
3. Tabela 2
Pré Pré Pré Pós imediato 30 dias 6 meses
ECO TT
AO (cm) 2,2 2,6 2,6 2,2 3,7 2,7
AE (cm) 4 4,2 4,4 3 3,2 3,9
VES (cm) 5,1 5,5 5,1 5,7 5,6 3,8
VED (cm) 6,8 6,5 5,7 6,3 6 4,9
FE (Teicholz %) 48 31,75 22,64 20,45 14,63 45,08
VAO
VE/AO máx (mmHg) 79 66 53 12 8 10
VE/AO médio (mmHg) 40 41 32 6 4 5
Área valvar (cm) 0,56 0,4 0,2 1,6 2
Regurgitação mínima mínima mínima moderada leve
VM IM mod-imp IM grave IM mod IM mod-grave IM leve IM leve
PSAP (mmHg) 54 55 45 50 35
VD Disfunção Disfunção Disfunção Disfunção Normal
Classe Funcional (NYHA) III III III II II I