O documento fornece uma introdução à geomorfologia, definindo-a como a ciência que estuda as formas da superfície terrestre e seus processos de formação. Aborda os principais conceitos da geomorfologia como sistemas geomorfológicos, processos geomorfológicos exógenos e endógenos, intemperismo e a classificação hierárquica das formas do relevo.
2. O QUE É A GEOMORFOLOGIA?
Segundo TORRES, NETO e MENESES (2012), é a ciência que estuda as formas da superfície
terrestre de forma sistematizada, buscando elucidar a relação entre os eventos pretéritos e as
morfologias observadas atualmente na superfície.
Na mesma linha de raciocínio (FLORENZANO, 2008 p. 11), a define como “...a ciência que
estuda as formas de relevo, sua gênese, composição ( materiais) e os processo que nela atuam.”
Christofoletti (1980) considera que as formas de relevo constituem o elemento visível da
superfície terrestre e que sua configuração caracteriza o modelado topográfico superficial de uma
área.
3. A geomorfologia é um conhecimento específico, sistematizado, que tem por
objetivo analisar as formas do relevo, buscando compreender os processos
pretéritos e atuais. Como componente disciplinar da temática geográfica, a
geomorfologia constitui importante subsídio para a apropriação racional do relevo,
como recurso ou suporte, considerando a conversão das propriedades
geoecológicas em sócio-reprodutoras. Seu objeto de estudo é a superfície da crosta
terrestre, apresentando uma forma específica de análise que se refere ao relevo. A
análise incorpora o necessário conhecimento do jogo de forças antagônicas,
sistematizadas pelas atividades tectogenéticas (endógenas) e mecanismos
morfoclimáticos (exógenos), responsáveis pelas formas resultantes.
4. Surge como ciência, em meados do século XVIII vinculada à geografia e geologia.
Sua sistematização ocorre com Davis no final do século XVIII a partir da elaboração da teoria
do Ciclo da Erosão.
Essa linha epistemológica (anglo-americana) recebe críticas de diversos pesquisadores, mas só
é superada a partir do final da década de 1930, no Simpósio de Chicago (1939) com as
interpretação de W. Penck sobre a teoria davisiana que, bem aceita pelo corpo científico,
proporcionou o surgimento de novos paradigmas sobre a evolução do relevo.
“Divido em três etapas, a teoria do Ciclo da Erosão, concebia a evolução do relevo sob a
perspectiva dos controles estruturais onde na fase de juventude ocorreria o rápido soerguimento de
uma superfície que ao encontrar sua estabilidade passaria a ser dissecada pelos rios.
Na fase de maturidade a erosão fluvial atuando sobre o relevo soerguido, vai suavizando as
encostas ao mesmo tempo em que as altimetrias vão diminuindo. O fluxo fluvial perde sua força
inicial, rio e relevo entram em estágio de maturidade.
Na senilidade, com o processo erosivo, já completo forma a superfície forma uma planície
levemente ondulada onde os sedimentos fluviais são depositados por um fluxo fluvial lento, já em
seu nível de base. Essa superfície, altamente trabalhada pela erosão fluvial, denominada
peneplanície indica que a região estaria pronta para a ocorrência de um novo soerguimento.
7. Após a Segunda Guerra Mundial, a cartografia geomorfológica ganha importante destaque nos
estudos do relevo e, a partir daí ocorre a ruptura definitiva com a epistemologia davisiana e a
maior aproximação com as teorias com focos processuais.
Ab’saber (1969) propõe três níveis de abordagens para os estudos geomorfológicos:
8. a) Compartimentação Topográfica: separação de
determinados domínios morfológicos que se
individualizam por apresentarem características
específicas, como determinados tipos de formas ou
domínios altimétricos. As formas resultantes do
processo evolutivo do relevo podem testemunhar
episódios associados a determinados domínios
morfoclimáticos, refletindo o jogo de forças entre
os agentes internos, comandados pela estrutura e
tectônica, e os externos, associados aos efeitos
climáticos, em tempo suficiente para deixar
impresso no modelado paleoformas relacionadas a
processos morfogenéticos correspondentes.
CASSETI, Valter. Geomorfologia. [S.l.]: [2005]
9. b) Estrutura Superficial: refere-se ao
estudo dos depósitos correlativos ao
longo das vertentes ou em diferentes
compartimentos. Esses depósitos são
suscetíveis de transformação ao longo
do tempo geológico, ensejadas por
erosão e perturbações tectônicas locais.
O longo período de tempo necessário
para sua formação envolve mudanças
climáticas, responsáveis por materiais
diferentes em sua constituição.
CASSETI, Valter. Geomorfologia. [S.l.]: [2005]
10. c) Fisiologia da Paisagem: diz
respeito ao momento atual e até
sub-atual do quadro evolutivo
relevo, considerando os
processos morfodinâmicos,
o significado das ocorrências
pluviométricas nas áreas
intertropicais, ou processos
específicos nos diferentes
domínios morfoclimáticos do
globo, bem como as
transformações produzidas na
paisagem pela intervenção
antrópica.
CASSETI, Valter. Geomorfologia. [S.l.]: [2005]
11. Outra perspectiva de análise e compreensão geomorfológica é a compartimentação do relevo.
Segundo Casseti (2005) Nessa perspectiva, Ross (1992), apropria-se das unidades taxonômicas
apresentadas por Demek (1967) e propõe seis níveis para representação geomorfológica.
12. 1 º táxon: corresponde a uma maior extensão superficial, é representado pelas Unidades
Morfoestruturais (denominado de “Domínios Morfoestruturais” no manual do IBGE, 1995), cuja
escala permite a plena identificação dos efeitos da estrutura no relevo, como mostram as imagens de
radar ou as de satélite, em escala média (em torno de 1:250.000). Este táxon organiza a causa de
fatos geomorfológicos derivados de aspectos amplos da geologia com os elementos geotectônicos,
os grandes arranjos estruturais e eventualmente a predominância de uma litologia conspícua”
(IBGE, 1995, p. 11);
2 º táxon: refere-se às Unidades Morfoesculturais (denominado de “Regiões Geomorfológicas” pelo
IBGE, 1995), contidas em cada Unidade Morfoestrutural. Refere-se a compartimentos que foram
gerados pela ação climática ao longo do tempo geológico. “Estas se caracterizam por uma
compartimentação reconhecida regionalmente e apresentam não mais um controle causal
relacionado às condições geológicas, mas estão ligadas, essencialmente, a fatores climáticos atuais
ou passados. “Incluem-se neste taxon os planaltos e as serras, as depressões periféricas como a da
Bacia do Paraná” (Tominaga, 2000). As unidades morfoesculturais, em geral, não têm relação
genética com as características climáticas atuais (Ross, 1992);
13. 3º táxon: representa as Unidades Morfológicas ou Padrões de Formas Semelhantes
(correspondente às “Unidades Geomorfológicas” na metodologia adotada pelo IBGE, 1995), que
por sua vez encontram-se contidas nas Unidades Morfoesculturais. Trata-se de compartimentos
diferenciados em uma mesma unidade, relacionados a processos morfoclimáticos específicos, com
importante participação dos eventos tectônicos ou diferenciações litoestratigráficas, sem
desconsiderar influências do clima do presente. O Manual Técnico de Geomorfologia (IBGE,
1995) define-o como arranjo de formas fisionomicamente semelhantes em seus tipos de modelado.
4º táxon: refere-se às formas de relevo individualizadas na unidade de padrão de formas
semelhantes (correspondente aos Modelados11 na metodologia adotada pelo IBGE, 1995). Estas
formas, quanto à gênese, podem ser: agradação, como as planícies fluviais ou marinhas, terraços
fluviais ou marinhos, ou de denudação, como colinas, morros e cristas.
5º táxon: refere-se às partes das vertentes ou setores das vertentes de cada uma das formas do
relevo. “As vertentes de cada tipologia de forma são geneticamente distintas, e cada um dos
setores dessas vertentes pode apresentar características geométricas, genéticas e dinâmicas
diferentes” (Tominaga, 2000, p. 17). A representação zonal desse táxon só é possível em escalas
grandes (1:25.000, 1:5.000). Nas escalas médias (1:50.000, 1:100.000) podem ser individualizadas
através de símbolos lineares ou pontuais.
14. 6 º táxon: “corresponde às pequenas formas de relevo que se desenvolvem por interferência
antrópica direta ou indireta ao longo das vertentes. São formas geradas pelos processos erosivos e
acumulativos atuais” (Ross, 1992), como ravinas, voçorocas, corridas de lama, assoreamentos,
dentre outros. Tais representações só se tornam possíveis em escala grande (1:5.000, 1:1.000).
15.
16. PROCESSOS
GEOMORFOLÓGICOS
Processos Geomorfológicos são
todas aquelas mudanças físicas e
químicas que causam
modificações na superfície
terrestre.
Agente geomorfológico é qualquer
meio natural capaz de assegurar e
transportar material terroso.
17. EXÓGENOS:
Predominantemente envolve a
DENUDAÇÃO (remoção do
material, que geralmente leva a
redução relevo). Fontes de
energia dos vários processos
exógenos são: • radiação solar
(evaporação da água, circulação
atmosférica) • gravidade (queda
da água, do gelo e de partículas
de rocha e de solo)
20. SISTEMA GEOMORFOLÓGICO
SISTEMA pode ser definido como o conjunto dos elementos e das relações entre si e entre os seus
atributos (Christofoletti, 1980).
As formas, os processos e as suas relações constituem o SISTEMA GEOMORFOLÓGICO, que é
um sistema aberto, pois recebe influências e também atua sobre outros sistemas componentes de seu
universo.
21. TEORIA GERAL DOS SISTEMAS
A Teoria geral de sistemas tem por objetivo uma análise da natureza dos sistemas e da interrelação
entre eles em diferentes espaços, assim como a interrelação de suas partes. Ela ainda análisa as leis
fundamentais dos sistemas.
Um sistema , ou seja, uma união de várias partes, é formado de componentes ou elementos.
Quando existe apenas um componente individual ele é chamado de elemento único, quando estes
elementos únicos se interrelacionam, eles são chamados de componentes, e quando estes
componentes se interrelacionam com elementos únicos, eles são chamados de componentes gerais.
Um sistema não vive isolado, ele é sempre parte de um todo. Ele é geral para as partes que o
compõe e e´parte da composição de outro sistema mais geral de um todo.
22. O QUE DEVE SER ABORDADO NO ESTUDO DE SISTEMAS:
1. MATÉRIA: corresponde ao material que vai ser mobilizado através do sistema. (Ex. água e
detritos)
2. ENERGIA: corresponde às forças que fazem o sistema funcionar, gerando capacidade de realizar
trabalho.
3. ESTRUTURA: constituída pelos elementos e suas relações, expressando-se através do arranjo de
seus componentes
A compreensão da Teoria geral dos Sistemas pode nos ajudar a entender a interrelação existente
entre os diferentes sistemas que compõem o espaço geográfico, sejam eles físicos, ambientais ou
antrópicos, bem como as interrelações existentes dentro cada sistema e suas interações.
23. INTEMPERISMO
É a quebra e a alteração dos minerais perto
da superfície da Terra para produtos que
estão mais em equilíbrio com as novas
condições físico-químicas impostas, Ollier
(1969).
As formações resultantes são denominadas
regolitos, saprolitos ou alteritos.
24. FATORES CONTROLADORES DO INTEMPERISMO
A.Material Parental – Rocha B.Clima (Umidade e Temperatura)
C.Fauna e Flora
D.Topografia (Relevo)
E.Tempo
25. MATERIAL PARENTAL A
alteração intempérica das
rochas depende da natureza
dos minerais.
26. CLIMA: Influência no tipo e na velocidade do intemperismo
Clima quente e úmido: Intensa e rápida decomposição das rochas e conseqüentemente manto de
alteração mais espesso com abundância de minerais secundários e pobres em cátions básicos (Ca, Mg
e K)
Clima árido e/ou muito frio: O manto de alteração é normalmente pouco espesso, contém menos argila
e mais minerais primários
Quanto maior a disponibilidade de água (pluviosidade total) e mais frequente for a sua renovação
(distribuição das chuvas), mais completas serão as reações químicas do intemperismo.
27. FAUNA E FLORA: animais, bactérias, fungos e a vegetação promovem o intemperismo a
partir da escavação, trazendo, geralmente, material do subsolo para a superfície ou da
penetração das raízes no solo.
28. TOPOGRAFIA: Regula a velocidade do escoamento superficial das águas pluviais. Controla a
quantidade de água que se infiltra nos perfis.
As reações químicas do intemperismo ocorrem mais intensamente nos compartimentos do relevo onde
é possível boa infiltração da água, percolando por tempo suficiente.
29. TEMPO: O tempo necessário para intemperizar uma determinada rocha depende dos outros fatores
que controlam o intemperismo, principalmente da suscetibilidade dos constituintes minerais e do
clima. Em condições de intemperismo pouco agressivas, é necessário um tempo mais longo de
exposição às intempéries para haver o desenvolvimento de um perfil de alteração.
30. Intemperismo Físico: Todos os processos que causam desagregação das rochas com separação dos
grãos minerais, antes coesos, transformando a rocha inalterada em material descontínuo e friável.
31. Intemperismo Químico
O ambiente da superfície da Terra, caracterizado por pressões e temperaturas baixas e riqueza de água
e oxigênio, é muito diferente daquele onde a maioria das rochas se formaram.
Quando as rochas afloram à superfície da Terra, seus minerais entram em desequilíbrio e, através de
uma série de reações químicas, transformam-se em outros minerais, mais estáveis nesse novo
ambiente. O principal agente do intemperismo químico é a ÁGUA da chuva, que infiltra e percola as
rochas.