Este poema descreve o sonho de um dragão cansado após uma longa batalha, representando um momento de paz e descanso para a fera guerreira. O sonho é descrito como sublime e único para os dragões, trazendo leveza, doçura e serenidade, sendo o único alívio que possuem em meio às lutas constantes.
3. Eu sou o sonho do dragão cansado
que ao se lamber, sangrando, se entregou a Orfeu
Eu sou sono deste guerreiro exausto
que golpeou, matou, e então adormeceu
4. Sou o arfar das ventas úmidas e mornas
Que em duas notas tocam uma canção de paz
Aquele ir e vir, de quem respira forte,
No aconchegante abraço que o acalanto traz
5. Eu sou a pausa do labor pesado
A suspensão da luta, do combate atroz
Sou o intervalo dessa luta infinda
Dessa corrida em que não há veloz
6. Um refrigério, sim, um momentâneo alento
Do gladiador sem plano, ilusão ou cais
Um breve instante, um recobrar de forças
Pequena sombra a reduzir os ais
7. Sou o descansar, o alívio breve e amado
De quem jamais descansará no amor
Pois aos dragões só resta um destino dado
Sobreviver matando, estraçalhando a flor
8. Mas saibam todos: os dragões tem sonhos!
E de tão sublimes, que não existe igual
Não há São Jorge, nem Quixote agora,
Nenhum cruzado, nem lança fatal
9. Fugida dorme a grande fera alada
Dona de um sonho em que só há o bem
Notem que há no adormecer das feras
Uma riqueza que só elas tem
10. E são tão leves, doces e serenos,
(Única paga que na vida veem)
Nem as criancinhas puras e felizes
Tem este sonho – só os dragões os têm.