1. WORKSHOP
Mídia e construção de significados:
a dimensão da recepção
Por Rodrigo Ratier
www.reporterbrasil.com.br
2. A importância da mídia na construção de significados
– Na sociedade brasileira: presença praticamente
universal, especialmente a da televisão
– Superando em muito a influência da escola, outro
importante espaço de socialização
Censo Demográfico 2000:
– 53% da população brasileira não ultrapassou o
ensino fundamental
– 88% dos domicílios brasileiros possuem televisão!
Transmissão de um saber (visões de mundo, valores,
modelos de conduta) que atinge virtualmente toda a
população do Brasil
3. A importância da mídia na construção de significados
Mídia na escola (e na própria mídia): maniqueísmo e
reducionismo
Frases recorrentes:
“A mídia é testemunho ocular da realidade”
“A mídia só manipula e engana”
“O receptor (telespectador / leitor) é livre para
escolher. Basta mudar de canal!”
Proposta: ampliar e complexificar o debate
4. Principais teorias sobre a mídia
1 TEORIA DA INFORMAÇÃO
PRINCIPAIS AUTORES Shannon (engenheiro que
propôs o esquema informacional)
ÉPOCA Anos 1950
TESES
– Modelo “cientificista”
– Esquema informacional de via única:
emissor mensagem receptor
– Comunicação como “transmissão de informação”
– Conhecimento é “acúmulo de informação mais
classificação”
5. Principais teorias sobre a mídia
1 TEORIA DA INFORMAÇÃO
INFLUÊNCIA
Discurso da mídia que se vende como imparcial (o
emissor neutro, como testemunho da verdade)
CRÍTICAS
Modelo deixa de fora coisas demais:
– interesses do emissor na produção de mensagens
– influência do receptor sobre a produção de
mensagens
– supõe que apreensão da informação é homogênea
6. Principais teorias sobre a mídia
2 TEORIA CRÍTICA
PRINCIPAIS AUTORES Adorno, Horkheimer, Benjamin
1ª fase (escola de Frankfurt)
ÉPOCA Décadas de 1940 a 1960
TESES
– Indústria cultural: crítica da produção cultural
(filmes, obras de arte, textos etc.) em escala industrial,
adquirindo as mesmas características da produção
industrial: fabricação em série, estandartização
(padronização) para consumo em larga escala (massa)
7. Principais teorias sobre a mídia
2 TEORIA CRÍTICA
TESES
– Manipulação comercial da cultura: esquematismo de
idéias (“todos os filmes dizem o mesmo”), atrofia da
atividade do espectador (cultura de massa não deixa
espaço para pensar), degradação da cultura em
diversão (a cultura de massa como alienação) e a
dessublimação da arte (ela se esgota na imitação, leva
à emoção e não à comoção)
– Mídia é rejeitada por reproduzir a dominação através
de mensagens ideológicas
8. Principais teorias sobre a mídia
2 TEORIA CRÍTICA
INFLUÊNCIAS
– Concepção negativa da mídia (só manipula e
engana)
– Uso posterior da teoria crítica fez com que “indústria
cultural” ficasse associado à idéia de que os meios de
comunicação de massa são apenas instrumentos de
controle e manipulação do pensamento coletivo
CRÍTICAS
– Mídia não representa apenas a ideologia dominante
– Telespectadores não são massa ignorante que
absorvem de maneira passiva a mensagem veiculada
9. Principais teorias sobre a mídia
3 TEORIA FUNCIONALISTA
PRINCIPAIS AUTORES Laswell e Lazarsfeld
ÉPOCA Décadas de 1950 a 1970
TESES
– Mensagens da mídia exprimem ideologia dominante
– Explicações psicanalíticas e lingüísticas para revelar
a função (ideologia) da mensagem midiática
10. Principais teorias sobre a mídia
3 TEORIA FUNCIONALISTA
INFLUÊNCIAS
– Concepção negativa da mídia (só manipula)–
Semiótica reducionista. Basta estudar signos e sinais
dos conteúdos para deduzir as intenções autorais
(produtor) e as respostas da audiência (receptor)
CRÍTICAS
– Mídia não representa apenas a ideologia dominante
– “Entre emissores-dominantes e receptores-
dominados, nenhuma sedução, nem resistência, só a
passividade do consumo e a alienação decifrada na
imanência de uma mensagem texto nunca atravessada
por conflitos e contradições, muito menos por lutas”
(Jesús Martin-Barbero, Dos Meios às Mediações, p.
291).
11. Principais teorias sobre a mídia
4 USOS E GRATIFICAÇÕES
PRINCIPAIS AUTORES Herzog
ÉPOCA Anos 1950
TESES
– Oposição à teoria crítica e à teoria funcionalista
– Centra a atenção na ponto final do processo
comunicativo, o receptor.
– Consumo e os efeitos da mídia em função das
motivações e das vantagens recebidas pelo
destinatário. Os receptores usam os meios como
forma de obter gratificações e satisfazer
necessidades. (exemplo: assistir novelas como forma
de esquecer seus problemas)
12. Principais teorias sobre a mídia
4 USOS E GRATIFICAÇÕES
INFLUÊNCIAS
– “A hipótese de usos e gratificações resultou na
crença de que as pessoas são livres para escolher o
que desejarem absorver da mídia e para fazer a
interpretação que bem desejarem das mensagens que
recebem” (Robert A. White, Recepção: A Abordagem
dos Estudos Culturais, p. 64)
CRÍTICA
– Imagem de “receptor todo-poderoso”
– Enfoque atomístico (individualista). Ênfase exagerada
nos estados psicológicos dos indivíduos, determinados
pelas necessidades internas de organização da
personalidade de cada um” (White, p. 64)
13. Principais teorias sobre a mídia
5 ESTUDOS DE RECEPÇÃO
PRINCIPAIS AUTORES “Escola de Birmingham”
(Richard Hoggart, Raymond Williams, Stuart Hall, E. P.
Thompson e David Morley). Posteriormente, latino-
americanos como Jesús Martin-Barbero
ÉPOCA A partir dos anos 1950
TESES
– Objetivo principal: qual o significado que as
audiências efetivamente constróem a partir das
mensagens midiáticas
– Mergulho no campo da cultura: mídia não é mais
estudada isoladamente, mas dentro do conjunto de
instituições que compõem a sociedade
14. Principais teorias sobre a mídia
5 ESTUDOS DE RECEPÇÃO
TESES
A- O conteúdo veiculado pelos meios de comunicação
é polissêmico (aberto a diversos significados). Ou
seja, o sentido da mensagem midiática não é único e
imutável, mas heterogêneo e circunstanciado. Não se
classifica a priori toda e qualquer mensagem midiática
como ideológica
15. Principais teorias sobre a mídia
5 ESTUDOS DE RECEPÇÃO
TESES
B- O discurso dos meios de comunicação é
construído a partir de interações entre emissores e
receptores. Essas interações incluem processos de
negociação, resistência, submissão, oposição e
cumplicidade. A cultura das mídias é ao mesmo tempo
amálgama e palco de disputa entre culturas populares
e eruditas.
16. Principais teorias sobre a mídia
5 ESTUDOS DE RECEPÇÃO
TESES
C- Os receptores não são mais tratados como
consumidores passivos dos meios de comunicação.
Eles têm capacidade de atribuir significados e
retrabalhar os conteúdos midiáticos. “Cada discurso,
cada programa dos meios de comunicação será
produzido (emissão) e interpretado, entendido
(recepção) a partir das referências de sua cultura”
(Maria Aparecida Baccega, Recepção: novas
perspectiva nos estudos de comunicação, p. 7)
17. Principais teorias sobre a mídia
5 ESTUDOS DE RECEPÇÃO
TESES
D- A recepção é um processo e não um momento. Isto
é, ela antecede o ato de usar um meio e prossegue a
ele. “É no espaço social que o significado se
completa, que os signos têm sentido” (Roseli Fígaro,
Estudos de recepção para a crítica da comunicação, p.
41)
18. Principais teorias sobre a mídia
5 ESTUDOS DE RECEPÇÃO
TESES
E- Perspectiva relacional. A construção de
significados nasce na interação entre discurss de
diversas instituições:
– mídia
– escola
– família
– Igreja
– Grupos de bairro etc.
19. Estudos de recepção e comunicação comunitária
COMUNICAÇÃO COMUNITÁRIA Produção de forma de
comunicação feita pela comunidade para a
comunidade
EDUCAÇÃO PARA OS MEIOS Experiências educativas
para a recepção das mensagens da mídia
20. Estudos de recepção e comunicação comunitária
Metodologia progressista
1- Envolver os estudantes
– Conhecer sua audiência (pesquisa prévia e debates
com a comunidade). Partir da realidade da
comunidade
2- Sistematizar o conhecimento deles sobre mídia
– Todo mundo vê TV. A maioria é fã de algum
programa
3- Questionar e ampliar esse conhecimento
– “Partir do ‘saber de experiência feito’ para superá-lo
e não para ficar nele” (Paulo Freire, Pedagogia da
Esperança, p. 71)
NINGUÉM SABE TUDO, NINGUÉM IGNORA TUDO
(Paulo Freire, A Importância do Ato de Ler)
21. Estudos de recepção e comunicação comunitária
Comunicação comunitária é intervenção pedagógica
Lições do mestre Paulo Freire:
– Nenhuma intervenção pedagógica é neutra (visão
ingênua da educação a serviço do “bem estar da
humanidade”). Educador deve honestidade aos
educandos (coerência entre teoria e prática) e mostrar
as outras possibilidades de escolha, mas deve
também testemunhar sua escolha
– Não existe transferência de conteúdo. “Conteúdo só
se aprende se o educando o apreende – e essa
apreensão é subjetiva” (p. 109). Democratize a escolha
dos conteúdos
22. Estudos de recepção e comunicação comunitária
Comunicação comunitária é intervenção pedagógica
Lições do mestre Paulo Freire:
– Mergulhe de cabeça na comunidade. “Sem que o
educador se exponha por inteiro à cultura popular,
dificilmente terá mais ouvintes do que ele mesmo” (p.
107)
– Jogar o jogo do povo. “Se queremos trabalhar com o
povo e não só para ele, precisamos saber qual o seu
jogo” (p. 130)
23. Estudos de recepção e comunicação comunitária
Comunicação comunitária é intervenção pedagógica
Lições do mestre Paulo Freire:
– Diálogo pedagógico tem de ter conteúdo (não pode
ser bate papo), mas não pode esmagar o pensamento
do educando (aula expositiva). Proposta: pequena
exposição do tema + discussão com os alunos acerca
da própria exposição
– Educação muda o mundo. “Ela não pode tudo, mas
pode alguma coisa” (p. 92)
24. Estudos de recepção e comunicação comunitária
O sujeito depois da intervenção pedagógica
Se tudo der certo, segundo Toda Y Terrero, ele deve
ser “receptor multidimensional”:
– ativo (faz a comparação do texto da TV com seu
próprio contexto)
– conhecedor (tem um grande conhecimento sobre a
TV)
– maduro (libera e controla, ao mesmo tempo, sua
imaginação a partir dos estímulos da TV)
– social (passa a fazer parte de grupos e comunidades
interpretativas de construção de sentido)
– crítico (capaz de julgar e criticar a mensagem da TV
a partir de sua identidade cultural)
– criativo (recria textos e escreve novas histórias)
25. Bibliografia
BACCEGA, Maria Aparecida. Recepção: nova
perspectiva nos estudos de comunicação. Revista
Comunicação & Educação. São Paulo: ECA-
USP/Moderna, n. 12, mai./ago. de 1998, p. 7 a 16
FIGARO, Roseli. Estudos de recepção para a crítica da
comunicação. Revista Comunicação & Educação. São
Paulo: ECA-USP/Segmento, n. 17, jan./abr. de 2000, p.
37 a 42
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Esperança – Um
reencontro com a pedagogia do oprimido. São Paulo:
Paz e Terra, 2003.
MARTÍN-BARBERO, Jesus. Dos meios às mediações:
comunicação, cultura e hegemonia. Rio de Janeiro:
Editora UFRJ, 2003
26. Bibliografia
MARTÍNEZ DE TODA Y TERRERO, José. Avaliação de
metodologias na educação para os meios. Revista
Comunicação & Educação. São Paulo: ECA-
USP/Segmento, n. 21, mai./ago. de 2001, p. 61 a 76
SETTON, Maria da Graça Jacintho. A educação
popular no Brasil: a cultura de massa. São Paulo:
Revista USP n. 61, mar./mai. 2004, p. 58 a 77
WHITE, Robert A. Recepção: a abordagem dos
estudos culturais. Revista Comunicação & Educação.
São Paulo: ECA-USP/Moderna, n. 12, mai./ago. de
1998, p. 56 a 76