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1. Estudo sobre Sinagoga – Parte Final
O Shabat na Sinagoga – Material de Apoio
Por Sha’ul Bentsion
Introdução
Para relembrarmos:
Devarim/Deuteronômio 11:13
"E será que, se diligentemente obedecerdes às minhas mitsvot que hoje vos ordeno, de
amar a YHWH vosso Elohim, e de o servir de todo o vosso coração e de toda a vossa
alma."
- A interpretação de Rambam: "os rabinos disseram (b. Ta'anit 2a): Que tipo de "avodá"
(serviço) existe com o coração? Oração. O número de orações [diárias] não é
estabelecido pela Torá, nem é a liturgia da oração ordenada pela Torá, nem a oração tem
tempo designado pela Torá." (Hilchot Tefilá 1:1)
- A idéia de que a oração é um sacrifício faz com que os serviços judaicos sejam
moldados a partir dos sacrifícios do Beit HaMikdash (Templo)
Chegando à Sinagoga no Shabat
- O que se espera de um visitante de uma comunidade tradicional:
- Trajar kipá (homens - observantes ou não-observantes)
2. - Trajar véu (mulheres observantes casadas) - Nas sinagogas tradicionais não há
imposição sobre pessoas não-observantes de trajarem o véu. Nas sinagogas dos
seguidores de Yeshua, entende-se como mitsvá (mandamento) devido a 1 Co. 11:5-6
- Nas sinagogas ortodoxas, evitar levar qualquer objeto que não esteja nos bolsos (ie.
que possam ser vistos), mesmo objetos religiosos, pois o Judaísmo ortodoxo proibe
carregar até mesmo um lenço um uma chave no Shabat. Essa proibição baseia-se em
Yirmiyahu/Jeremias 17:21 que diz:
"Assim diz YHWH: Guardai as vossas almas, e não tragais cargas no dia de Shabat,
nem as introduzais pelas portas de Yerushalayim;"
O Talmud Bavli em Shabat 91 discute extensamente a proibição de carregar coisas no
Shabat. No entanto, pela halachá ortodoxa é lícito arrastar um piano em casa no Shabat.
Observação: O Eruv nas comunidades ortodoxoas.
Interpretamos essa passagem como referência a carregar peso, algo que demanda
esforço físico, num dia de repouso. Na maioria das sinagogas dos seguidores de Yeshua
não há problema de se trazer objetos para dentro de casa.
- A nave central, onde ocorrem os serviços, costuma ser local de estudo e/ou oração. A
maioria das sinagogas possui áreas externas para socialização.
- Em sinagoga ortodoxa, evite acender ou apagar luzes e interruptores em geral, pois os
ortodoxos acreditam não poder fazê-lo no Shabat. Isso pode gerar um transtorno para
eles. Se o visitante for judeu, pode gerar mais do que um transtorno, e escandalizar.
1) Prelúdio de Shabat
- Cremos que é pela Torá é mitsvá (mandamento) o toque do shofar ou da trombeta de
prata para anúncio da chegada do Shabat:
"Semelhantemente, no dia da vossa alegria e nas vossas solenidades, e nos princípios de
vossos meses, também tocareis as trombetas sobre os vossos holocaustos, sobre os
3. vossos sacrifícios pacíficos, e vos serão por memorial perante vosso Elohim: Eu sou
YHWH vosso Elohim." (Bamidbar/Números 10:10)
- O acendimento das velas: É costume nas sinagogas tradicionais que as mulheres
acendam as velas de Shabat antes do serviço. Há um local para isso nas sinagogas,
normalmente.
Origem: "Não acendereis fogo em nenhuma das vossas moradas no dia do Shabat."
(Shemot/Êxodo 35:3) e as mulheres que acendiam as lâmpadas antes do pôr-do-sol
Nas sinagogas liberais, o acendimento é feito mesmo após o pôr-do-sol. Nas sinagogas
ortodoxas (bem como deve ser em nosso meio), não, devido a Ex. 35:3.
Observação: Não recitamos a bênção tradicional da vela de Shabat, pois atribui a
Elohim um mandamento humano.
Orações Típicas:
- Ma Tovu - Ao adentrar a sinagoga. Muitas sinagogas liberais a transformam em
cântico.
- Yedid Nefesh (ashkenazi) e Shir HaShirim (sefaradi) - Demonstrar o intenso amor
para com Elohim e preparar o espírito para adentrar a Sua presença.
2) O Serviço da Noite de Shabat
- Inicialmente, devido à precariedade da iluminação, não era realizado. Os serviços de
Shabat eram unicamente diúrnos. A noite de Shabat era passada em família, em meio a
uma refeição.
- Origem no século 16 em Safed (a "capital" da Kabalá): Os rabinos cabalistas saíam
pelos campos para "darem boas-vindas" ao Shabat. Daí o nome da primeira parte do
serviço.
4. Curiosidades:
- Nas sinagogas sefaradim, as mulheres não costumam participar dos serviços da noite
de Shabat.
- Por ser uma mitsvá visual, os homens não costumam usar talit nos serviços noturnos
nas sinagogas.
2.1) Cabalat Shabat
- Literalmente, a "recepção do Shabat"
- Sua liturgia, criada pelos rabinos Moshe Cordovero e Shlomo HaLevi Alkabetz (autor
de Lechá Dodi), constitui-se essencialmente de 6 salmos e da canção de recepção do
Shabat
- O significado dos 6 salmos: Rav. Shammai diariamente separava os melhores frutos
para o Shabat. Semelhantemente, indica que a semana é um prelúdio do Shabat.
Curiosidades:
- Em muitas comunidades ortodoxas, separa-se a bimá de um pequeno púlpito. O
chazan faz o Cabalat Shabat na Bimá, e o restante da liturgia dos outros dias no púlpito.
A diferenciação indica o caráter posterior do Cabalat Shabat.
- É costume em muitas sinagogas que as prédicas sobre a Parashá (porção) semanal
sejam feitas entre o Cabalat Shabat e Ma'ariv.
- A oração de Kadish costuma ser usada também para "separar" as seções.
2.2) Ma'ariv
- Literalmente, o "serviço da noite" de Shabat
- Representa simbolicamente a luta de Ya'akov com o anjo (b. Berachot 26b). Ramban
comenta que representa o exílio e a posterior redenção de Israel.
5. - Josefo afirma que os essênios (Guerras 2:8:5) acompanhavam o nascer do sol.
Considerando seu simbolismo, é provável que originalmente ma'ariv fosse recitado
pouco antes do amanhecer.
- A liturgia essencial de Ma'ariv consiste no Sh'má (Deut. 6) e na Shemonei Esrei
(Amidá).
- O serviço encerra-se com algumas Zemirot (cânticos) tais como o Aleinu
Observação: A diferença entre a Shemonei Esrei (Amidá) semanal e a de Shabat
(baseada em Is. 58:13)
3) O Kidush
- Um dos costumes mais antigos da noite de Shabat. Lembramos da criação e do
repouso de Elohim no Shabat.
- Consiste no uso do vinho (ou suco de uva) como forma de "santificar" o Shabat, isto é,
separá-lo como "tempo festivo"
- Costuma ser seguido de um pequeno lanche e é precedido e sucedido por cânticos,
como Shalom Aleichem e Eshet Chayil
Curiosidades:
- Muitas famílias fazem o kidush e/ou o jantar de Shabat em casa, ao invés de nas
sinagogas
- Costuma-se fazer silêncio durante a recitação do kidush
- Nas sinagogas ortodoxas, são servidos pães feitos com suco de laranja ao invés de
água, para descaracterizá-los como "pães", já que a bênção do pão é feita apenas no
jantar
- Segue-se ao kidush momentos de confraternização e/ou drashá (estudo) da Parashá
- Visitantes de sinagogas ortodoxas devem observar que um homem não costuma
sentar-se entre duas mulheres.
6. Observação: Em algumas sinagogas ashkenazim, utiliza-se a figura do "Shabes goy"
(um empregado não-judeu) para servir o kidush e/ou outra refeição. Para permitirem tal
prática, fazem uma série de leituras interpretativas da Torá. Os sefaradim consideram tal
costume uma violação da Torá. Concordamos com a posição sefaradi. Assm sendo, se
houver "Shabes goy" no local, devemos nos abster de participarmos de kidush e/ou
outra refeição, visto que estaríamos violando o Shabat ao fazer terceiros trabalharem
para nós.
4) O Jantar de Shabat
- Nas comunidades tradicionais, faz-se a netilat yadaim (lavagem das mãos) antes da
refeição
- A refeição é "inaugurada" com a bênção sobre o pão.
- Após o jantar, recita-se a birkat hamazon em cumprimento a Devarim/Deuteronômio
8:10: "Quando, pois, tiveres comido, e fores farto, louvarás a YHWH teu Elohim pela
boa terra que te deu."
Curiosidades:
- Nas sinagogas ortodoxas, fica-se em silêncio absoluto entre a netilat yadaim e a
bênção sobre o pão.
- A chalá, o pão trançado utilizado no Shabat tem toda uma forma especial e tradicional
de ser feita. Sempre utiliza-se 2 chalot, simbolizando a porção dobrada de maná que
caía para o Shabat.
- É costume das comunidades recitarem cânticos e melodias durante o jantar de Shabat.
- Como o jantar costuma terminar tarde, é comum que algumas pessoas durmam nas
sinagogas.
7. 5) Café-da-manhã
- Na maioria das sinagogas, serve-se um café-da-manhã antes do serviço de Shacharit,
pois no Shabat o serviço de Shacharit é muito extenso.
- O café-da-manhã, a exemplo do kidush, conterá apenas pão feito de suco de laranja
para evitar a necessidade da recitação da "birkat hamazon"
6) Manhã de Shabat
- Os serviços da manhã de Shabat são os mais antigos e costumeiros serviços de Shabat,
tendo sua origem antes mesmo de Yeshua. São também os mais extensos, com durações
que variam de 4 a 6 horas, dependendo da comunidade. A maioria das sinagogas dos
seguidores de Yeshua tende a abreviá-los, devido à falta de hábito das pessoas com
serviços tão extensos.
6.1) Shacharit
- O serviço da manhã se inicia com a colocação do talit, que já fica disponível na
própria sinagoga (caso seja ortodoxa)
- Sua liturgia básica consiste em: Pessukei d'Zimrá (cânticos de louvor), Sh'má (Deut.
6), Shemonei Esrei (Amidá) e Birkat Cohanim (bênção sacerdotal)
Curiosidade:
- O Pessukei d'Zimrá no Shacharit contém, além de salmos, versos dos três
componentes escritos do Tanach: Torá, Profetas e Escritos.
- A Amidá costuma ser repetida em voz alta pelo chazan. A origem disso está na
preocupação em dar uma oportunidade para os iletrados dizerem "amen"
- É comum neste momento em algumas comunidades haver alguma drashá (explanação)
da Torá, porém costuma ser breve, dada a extensão do serviço.
8. 6.2) Avodat haTorá
- O serviço da Torá já foi anteriormente descrito. No Shabat, diferentemente dos demais
dias em que ocorre, faz-se a leitura das 7 Parashiot (porções), sempre respeitando o
início com um Cohen, seguido de um Levi, e por fim um Israel.
6.3) Mussaf
- O termo "Mussaf" significa "adição" e se refere ao sacrifício adicional de Shabat que
era realizado no Beit HaMikdash (Templo). É basicamente uma reedição da Shemonei
Esrei (Amidá) e da Birkat Cohanim (bênção sacerdotal)
- Após o Mussaf, encerra-se com algumas zemirot (cânticos)
7) Almoço de Shabat
- Costuma ser realizado nos mesmos moldes do jantar.
8) Estudos de Shabat
- É costume em diversas sinagogas que, quer após o almoço, quer após a recitação do
serviço de minchá, as pessoas se reúnam para estudar os temas mais diversos.
9) Serviço da Tarde: Minchá
- Minchá se refere ao período da tarde. Nesse momento, no Beit HaMikdash (Templo)
eram sacrificadas as korbanot (ofertas).
- O período de realização de minchá pode ser desde a metade do dia (as comunidades
ortodoxas esperam meia-hora após a mesma) até pouco antes do pôr-do-sol.
9. - A parte fundamental da liturgia de Minchá é a recitação do texto das korbanot (Nm.
28:1-8) e da Shemonei Esrei (Amidá)
Curiosidades:
- O período mais cedo de minchá, até 2 horas e meia antes do pôr-do-sol, é chamada de
"minchá guedolá" (grande tarde) e o período após as 2 horas e meia antes do pôr-do-sol
é chamada de "minchá ketaná" (pequena tarde).
- Os ortodoxos preferem recitar minchá no último período, embora muitas vezes o
fazem no primeiro porque nem todas as pessoas não-observantes permanecem após o
almoço.
10) Seudá Shelishit
- Esta é a chamada "terceira refeição", pois conta-se oficialmente como refeição apenas
o jantar e o almoço, onde há a presença da chalá (pão)
- Costuma seguir os padrões litúrgicos do jantar e do almoço, embora seja, como
refeição, apenas uma espécie de lanche.
- Inicia-se pouco antes do pôr-do-sol, podendo terminar após o mesmo.
Curiosidades:
- Nas comunidades ortodoxas, costuma-se não comer entre a seudá shelishit e a
cerimônia de Havdalá (encerramento) do Shabat.
11) Encerramento do Shabat: Havdalá
- A cerimônia de havdalá (encerramento) costuma marcar o fim do Shabat e das festas
bíblicas de Yom Tov
- Seu objetivo é marcar a separação dos dias sagrados e dos dias ordinários
10. - A principal oração litúrgica é "Hamavdil ben kodesh lechol" (que separa o sagrado dos
demais), por essa mesma razão.
- Costuma-se fazer a havdalá acendendo as velas, o que marca o início da possibilidade
de fazê-lo, após o fim do Shabat.
Além disso, os elementos utilizados na Havdalá são:
- A luz (do fogo): simboliza o desejo de que a luz de Elohim, que brilhou no Shabat,
adentre a semana.
- O vinho: simboliza o desejo de uma semana alegre.
- As especiarias: simbolizam o desejo de uma semana doce.
Curiosidades:
- Nas sinagogas ashkenazim, é costume recitar a oração "Elohim de Avraham", que
pede que agora que nos afastamos do Beit Hamikdash (Templo) no tempo, o Shabat,
que o Eterno proteja o povo de Israel durante a semana.
- Durante o acendimento das velas, é costume as pessoas apontarem as mãos para as
velas, e depois para si mesmos, indicando o desejo de que a luz de Elohim adentre em
nós.
- É costume cantar a zemirá (cântico) "Eliyahu HaNavi". O Shabat tipifica a Era
Messiânica, e essa oração simboliza o nosso desejo de que ela chegue em tempo
próximo com a vinda/retorno do Mashiach.
12) Noite após o Shabat: Ma'ariv (Yom Rishon)
- A maioria das sinagogas aproveita que todos já estão juntos para a havdalá e realizam,
após isto, a cerimônia de Ma'ariv Yom Rishon (serviço da primeira noite).
- Liturgicamente, seus elementos essenciais são o Sh'má (Deut. 6) a Shemonei Esrei
(Amidá) semanal.
11. Observação: Ao recitar a Shemonei Esrei (Amidá) semanal, não recitamos a "Birkat
HaMinim" (bênção dos hereges, na realidade, uma maldição) que foi criada contra os
seguidores de Yeshua e demais grupos não-farisaicos. Esse texto não fazia parte
originalmente da Shemonei Esrei e foi acrescentado sob a liderança do Rebbe Akiva.
15) Conclusão
Esperamos que esta série dê uma boa base da origem histórica e prática atual das
sinagogas, bem como de um dia de Shabat. Embora seja impossível abordar todos os
aspectos da sinagoga nos mínimos detalhes por razões de tempo, creio termos abordado
todos os aspectos gerais mais importantes.