SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 9
O CONVENTO DE MAFRAO CONVENTO DE MAFRA
João Aníbal Henriques
298 anos depois
O CONVENTO DE MAFRApor João Aníbal Henriques
Existem realidades que são
maiores do que a História e que
subjugam os factos, os
documentos e a factualidade.
Transcendem-se a si próprias,
repercutindo os sonhos de quem as
idealizou e os horizontes infinitos e
intemporais que são sempre
sinónimos da genialidade. É o que
acontece com o Palácio / Convento
de Mafra. Que importa recordar no
dia em que se cumprem 298 anos
desde aquele dia extraordinário
em que Dom João V ali colocou a
primeira pedra.
298 anos depois…
O Convento de Mafra, localizado a poucos quilómetros de
Lisboa, foi uma das mais impactantes obras de arquitectura
jamais concretizadas em Portugal. Com os seus mais de
40000 m2 de área total, os seus impressionantes 29 pátios,
as 880 divisões e as duas mais de 4500 portas e janelas, o
edifício produz um enorme impacto visual a quem dele se
acerca, sendo um repositório que está à altura do facto de
ter sido edificado durante o mais rico de todos os reinados
dos reis portugueses.
Dom João V, cognominado como o magnânimo, teve a sorte
de alcançar o ouro do Brasil durante o seu reinado. E com
ele, impôs-se como um dos mais poderosos reis europeus.
Casado com a arquiduquesa Maria Ana Josefa da Áustria
(1683-1754), filha do Imperador Leopoldo I, da Casa dos
Habsburgos, foi pai do futuro rei Dom José I de Portugal e,
por morte deste, do Rei Dom Pedro III. Durante a sua vida,
assente na magnanimidade da sua imensa riqueza, teve
uma intervenção política muito relevante ao nível da cena
política internacional e foi um dos monarcas Portugueses
que maior influência teve na definição do rumo da Europa
durante a sua época.
O CONVENTO DE MAFRA
Mas o dia 17 de Novembro de 1717, quando decorreu a primeira pedra do futuro Convento de Mafra, tem um
profundo significado simbólico para o então Rei de Portugal em linha, aliás, com todo o simbolismo associado ao
edifício, à sua decoração e até ao uso que teve ao longo dos últimos séculos. Tendo tido grande dificuldade em gerar a
sua descendência, Dom João V terá feito uma promessa a Deus de que edificaria um convento em Mafra no caso de
lhe nascer um filho varão no prazo de um ano a contar daquela data. Diz-se ainda que a promessa, feita por um rei
que nunca foi coroado, visto que, tal como os seus antecessores desde o restauracionista Dom João IV, decidiu coroar
no seu lugar a imagem de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa, Padroeira de Portugal, aconteceu durante uma
das crises de melancolia do monarca. De facto, nos dias que antecederam o lendário episódio, Dom João V ter-se-ia
retirado para o Alentejo devido à estranha doença que o afectava. E terá sido num dos dias de maior prostração,
quando a rainha o encontrou desolado sob a sua poderosíssima condição, que terá formulado o seu voto do qual
resultou a construção do vetusto monumento.
De facto, apesar de o primeiro filho do rei não ter sido varão, pois nasceu a Princesa Maria Bárbara, futura rainha de
Espanha por casamento com Fernando VI, o Rei Português decidiu não só manter a sua promessa de construção do
pequeno convento destinado a cerca de 13 frades capuchos arrábidos, como incrementou o projecto juntando-lhe um
inusitado palácio real que causou a estupefacção e a surpresa dos Portugueses de então.
O CONVENTO DE MAFRA
Com o traço de João Frederico Ludovice, Mafra
assenta numa planta também ela estranha para a sua
época. Com as dimensões extraordinárias que foram
indicadas pelo Rei, o Convento de Mafra sobrepõe-se
de forma básica à planta da Baixa Pombalina de
Lisboa, construída pelo Marquês de Pombal depois do
Terramoto de 1755. A sua biblioteca, os aposentos de
caça e os longuíssimos corredores que ligam as
diversas alas do edifício, consolidam uma fachada
decorada com uma escadaria monumental que nos
transporta até à basílica. E por baixo de todo esse
espaço, escondem-se dos olhares menos atentos os
espaços de morte onde se acumulam os restos
mortais de várias centenas de religiosos que ali
viveram e morreram ao longo dos anos.
Estranho ainda, pelo seu carácter vincado e
linearmente ostensivo, os espaços vãos existentes
entre os tectos dos andares superiores e a cúpula
exterior do monumento. Nessas zonas inacessíveis
mas bem acabadas, montaram-se vastos espaços de
culto ritualístico maçónico, bem patentes na
simbologia e na imensa parafernália de instrumentos
que a decora. A ideia do Grande Construtor é, aliás, o
persistente sinal que acompanha o Rei na sua
demanda pela eternidade, consolidando a premissa
de que Mafra não é só aquilo que se vê e que existe
uma causa discretamente marcada nas suas paredes
da qual dependeu a orientação e a decisão real.
A vertente simbólica do Convento de Mafra, explicando o
tantas vezes mal compreendido carácter perdulário de Dom
João V, transmite-nos a certeza de que o monumento é
significativamente o expoente máximo da expressão
religiosa de Portugal, numa tentativa de tradução
cosmológica da realidade imensa do universo que
necessariamente terá de passar o entendimento mesquinho
do dia-a-dia Português. Mafra é, para Dom João V, o palácio-
convento que hoje temos. Mas é sobretudo, na sua vertente
mística de um Rei magnânimo, uma espécie de altar-mor de
Portugal, idealizado para aproximar o País do seu eterno
destino de representação na Terra do cruzeiro de luz que
emana do céu. A visão quinto-imperial que transvaza a
demanda do Prestes João e que enforma a épica empresa
dos descobrimentos, consolida-se aqui no palácio onde o
império aguarda a chegada nunca concretizada do desejado,
numa prática de despojamento que coroa como imperador
o mais puro e inocente dos rapazes. Porque nem sempre
aquilo que lá está é exactamente o que percebemos e,
sobretudo, porque raramente aquilo para onde olhamos é
aquilo que vemos.
Nos míticos subterrâneos de Mafra, onde a lenda diz que
existem ratazanas imensas que são capazes de se alimentar
de seres humanos, nada existe de extraordinário, para além
da cloaca colossal para dar vazão à imensidade de gente que
utilizava o edifício. Mas no topo das torres, onde o céu já se
sente, aí sim, existem os vestígios de uma porta para o
paraíso terrestre.
Num espaço repleto de lendas e de
ideias-feitas, genericamente resultantes
do impacto imenso que um edifício com
estas características sempre tem,
importa ainda relembrar os míticos
carrilhões.
Construídos em Antuérpia e Liége por
Guilherme Withlockx e Nicolau Levache,
respectivamente, terão custado a
módica quantia de 50000 moedas de
ouro ao cofre Português. Diz-nos a
lenda que, tendo encomendado o
primeiro, o seu manufactor terá
comentado que era obra de grande
monta para um Estado tão pequeno…
ao que o rei Português, mostrando bem
o poder que resultava da sua imensa
riqueza, terá respondido que duplicava
a encomenda e desejava adquirir não
um mas dois carrilhões para o seu
edifício mafrense!
O CONVENTO
DE MAFRA
298 anos depois…
Lenda ou realidade, o Convento de Mafra é hoje uma realidade que se impõe a todos os Portugueses. Se para uns
representa o exercício perdulário que sugou imensamente o erário pública, para outros é certamente o expoente
máximo da visão ancestral de um dos reis que melhor personificou a tradicionalmente portuguesa demanda do
Graal.
Vale a pena visitar com atenção e cuidado, libertando-se de preconceitos e alumiando os recantos mais sombrios de
uma história que ainda tem muito para contar ao País onde nasceu. E no fim, depois de subir aos carrilhões e de
descer aos sombrios recessos dos subterrâneos, é essencial sair pela “porta do cavalo”… se souber!
Vale a pena visitar com atenção e cuidado, libertando-se de preconceitos e alumiando os recantos mais sombrios de
uma história que ainda tem muito para contar ao País onde nasceu. E no fim, depois de subir aos carrilhões e de
descer aos sombrios recessos dos subterrâneos, é essencial sair pela “porta do cavalo”… se souber!
MAFRA
João Aníbal Henriques javeigahenriques@gmail.com Tel. +351 96 251 95 14
O CONVENTO DE MAFRA298 anos depois

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

Real Edificio De Mafra
Real Edificio De MafraReal Edificio De Mafra
Real Edificio De Mafraluisornelas
 
palácio de mafra e palácio de versalhes
palácio de mafra e palácio de versalhespalácio de mafra e palácio de versalhes
palácio de mafra e palácio de versalhesLorredana Pereira
 
O Convento De Mafra
O Convento De MafraO Convento De Mafra
O Convento De Mafraaneto
 
Os 10 mais belos cafés do mundo
Os 10 mais belos cafés do mundoOs 10 mais belos cafés do mundo
Os 10 mais belos cafés do mundoAgostinho.Gouveia
 
Palácio de Mafra
Palácio de MafraPalácio de Mafra
Palácio de Mafrahcaslides
 
Real paço de mafra uma arquitectura de poder
Real paço de mafra  uma arquitectura de poderReal paço de mafra  uma arquitectura de poder
Real paço de mafra uma arquitectura de poderangeldenis21
 
Palácio/ Convento de Mafra
Palácio/ Convento de Mafra Palácio/ Convento de Mafra
Palácio/ Convento de Mafra Susana Simões
 
Módulo 6 caso prático 2 real edifício de mafra
Módulo 6   caso prático 2 real edifício de mafraMódulo 6   caso prático 2 real edifício de mafra
Módulo 6 caso prático 2 real edifício de mafraCarla Freitas
 
Convento de Mafra
Convento de MafraConvento de Mafra
Convento de MafraJoão Couto
 
Convento de mafra
Convento de mafraConvento de mafra
Convento de mafraOracy Filho
 
Palácio da Pena
Palácio da PenaPalácio da Pena
Palácio da Penahcaslides
 
Portugal na unesco(som)
Portugal na unesco(som)Portugal na unesco(som)
Portugal na unesco(som)luis silva
 
PatrimóNio PortuguêS Classificado Pela Unesco Como PatrimóNio Da Humanidade
PatrimóNio PortuguêS Classificado Pela Unesco Como PatrimóNio Da HumanidadePatrimóNio PortuguêS Classificado Pela Unesco Como PatrimóNio Da Humanidade
PatrimóNio PortuguêS Classificado Pela Unesco Como PatrimóNio Da Humanidadecab3032
 

Mais procurados (20)

Real Edificio De Mafra
Real Edificio De MafraReal Edificio De Mafra
Real Edificio De Mafra
 
palácio de mafra e palácio de versalhes
palácio de mafra e palácio de versalhespalácio de mafra e palácio de versalhes
palácio de mafra e palácio de versalhes
 
O Convento De Mafra
O Convento De MafraO Convento De Mafra
O Convento De Mafra
 
Convento de Mafra
Convento de MafraConvento de Mafra
Convento de Mafra
 
Os 10 mais belos cafés do mundo
Os 10 mais belos cafés do mundoOs 10 mais belos cafés do mundo
Os 10 mais belos cafés do mundo
 
Palácio de Mafra
Palácio de MafraPalácio de Mafra
Palácio de Mafra
 
Real paço de mafra uma arquitectura de poder
Real paço de mafra  uma arquitectura de poderReal paço de mafra  uma arquitectura de poder
Real paço de mafra uma arquitectura de poder
 
Palácio da Pena
Palácio da PenaPalácio da Pena
Palácio da Pena
 
Palácio/ Convento de Mafra
Palácio/ Convento de Mafra Palácio/ Convento de Mafra
Palácio/ Convento de Mafra
 
Módulo 6 caso prático 2 real edifício de mafra
Módulo 6   caso prático 2 real edifício de mafraMódulo 6   caso prático 2 real edifício de mafra
Módulo 6 caso prático 2 real edifício de mafra
 
Convento de mafra
Convento de mafraConvento de mafra
Convento de mafra
 
Convento de Mafra
Convento de MafraConvento de Mafra
Convento de Mafra
 
Convento de mafra
Convento de mafraConvento de mafra
Convento de mafra
 
Palácio da Pena
Palácio da PenaPalácio da Pena
Palácio da Pena
 
Palacio da pena interiores
Palacio da pena interioresPalacio da pena interiores
Palacio da pena interiores
 
Att00067
Att00067Att00067
Att00067
 
Portugal na unesco(som)
Portugal na unesco(som)Portugal na unesco(som)
Portugal na unesco(som)
 
Pena
PenaPena
Pena
 
PatrimóNio PortuguêS Classificado Pela Unesco Como PatrimóNio Da Humanidade
PatrimóNio PortuguêS Classificado Pela Unesco Como PatrimóNio Da HumanidadePatrimóNio PortuguêS Classificado Pela Unesco Como PatrimóNio Da Humanidade
PatrimóNio PortuguêS Classificado Pela Unesco Como PatrimóNio Da Humanidade
 
Port Unesco
Port UnescoPort Unesco
Port Unesco
 

Destaque

Destaque (20)

2007: Stili di vita e comportamenti sostenibili - alimentazione
2007: Stili di vita e comportamenti sostenibili - alimentazione2007: Stili di vita e comportamenti sostenibili - alimentazione
2007: Stili di vita e comportamenti sostenibili - alimentazione
 
Living1
Living1Living1
Living1
 
O álcool - Rodrigo
O álcool - RodrigoO álcool - Rodrigo
O álcool - Rodrigo
 
Documento
DocumentoDocumento
Documento
 
Cisco
CiscoCisco
Cisco
 
Sound Mind Infographic-v7.5
Sound Mind Infographic-v7.5Sound Mind Infographic-v7.5
Sound Mind Infographic-v7.5
 
Opiáceos
OpiáceosOpiáceos
Opiáceos
 
Unlock the power of AI
Unlock the power of AIUnlock the power of AI
Unlock the power of AI
 
Jorge luis mulcue 11 1
Jorge luis mulcue 11 1Jorge luis mulcue 11 1
Jorge luis mulcue 11 1
 
Al Jazeera Certificate
Al Jazeera CertificateAl Jazeera Certificate
Al Jazeera Certificate
 
Revista Fundação Cascais - Dezembro de 2002
Revista Fundação Cascais - Dezembro de 2002Revista Fundação Cascais - Dezembro de 2002
Revista Fundação Cascais - Dezembro de 2002
 
Sinan Soğancı - Sosyal Sermayenin Yenilikçilik üzerindeki Etkileri
Sinan Soğancı - Sosyal Sermayenin Yenilikçilik üzerindeki EtkileriSinan Soğancı - Sosyal Sermayenin Yenilikçilik üzerindeki Etkileri
Sinan Soğancı - Sosyal Sermayenin Yenilikçilik üzerindeki Etkileri
 
Beer Tapp Handle.PDF
Beer Tapp Handle.PDFBeer Tapp Handle.PDF
Beer Tapp Handle.PDF
 
NET.TV
NET.TVNET.TV
NET.TV
 
Investigación universitaria, elementos, responsables, lineas de investigación,
Investigación universitaria, elementos, responsables, lineas de investigación, Investigación universitaria, elementos, responsables, lineas de investigación,
Investigación universitaria, elementos, responsables, lineas de investigación,
 
Panteão de Paris
Panteão de ParisPanteão de Paris
Panteão de Paris
 
Ficha 4 arquitectura civil
Ficha 4  arquitectura civilFicha 4  arquitectura civil
Ficha 4 arquitectura civil
 
A sociedade medieval parte 2
A sociedade medieval parte 2A sociedade medieval parte 2
A sociedade medieval parte 2
 
Apresentação2 reforma
Apresentação2 reformaApresentação2 reforma
Apresentação2 reforma
 
Os muçulmanos
Os muçulmanosOs muçulmanos
Os muçulmanos
 

Semelhante a O Convento de Mafra - por João Aníbal Henriques

memorial_do_convento (1).pptx
memorial_do_convento (1).pptxmemorial_do_convento (1).pptx
memorial_do_convento (1).pptxIriaFernandes2
 
Convento de Mafra
Convento de MafraConvento de Mafra
Convento de MafraJoão Couto
 
Convento de mafra
Convento de mafraConvento de mafra
Convento de mafraAshera
 
ufcd_clc6 Cultura urbanismo e mobilidade.pptx
ufcd_clc6 Cultura urbanismo e mobilidade.pptxufcd_clc6 Cultura urbanismo e mobilidade.pptx
ufcd_clc6 Cultura urbanismo e mobilidade.pptxMartineRicardo
 
Convento de mafra
Convento de mafraConvento de mafra
Convento de mafraPelo Siro
 
Construções no século XVIII
Construções no século XVIIIConstruções no século XVIII
Construções no século XVIIItomastormenta
 
casopratico_mod6.cultura palco.pptx
casopratico_mod6.cultura palco.pptxcasopratico_mod6.cultura palco.pptx
casopratico_mod6.cultura palco.pptxMariana Neves
 
Hist Palaciode Queluz Ss
Hist Palaciode Queluz SsHist Palaciode Queluz Ss
Hist Palaciode Queluz SsHelena
 
Império e monarquia absoluta no século XVIII
Império e monarquia absoluta no século XVIIIImpério e monarquia absoluta no século XVIII
Império e monarquia absoluta no século XVIIIcruchinho
 
F2 portugal na europa do antigo regime
F2 portugal na europa do antigo regimeF2 portugal na europa do antigo regime
F2 portugal na europa do antigo regimeVítor Santos
 
Hgp6 cdpd c1
Hgp6 cdpd c1Hgp6 cdpd c1
Hgp6 cdpd c1Ariy3
 
Hgp6 cdpd c1
Hgp6 cdpd c1Hgp6 cdpd c1
Hgp6 cdpd c1Ariy3
 
Imperio e monarquia absoluta no seculo XVIII
Imperio e monarquia absoluta no seculo XVIIIImperio e monarquia absoluta no seculo XVIII
Imperio e monarquia absoluta no seculo XVIIImartamariafonseca
 
UFCD CLC6 - Cultura Comunicação e Média
UFCD CLC6 - Cultura Comunicação e MédiaUFCD CLC6 - Cultura Comunicação e Média
UFCD CLC6 - Cultura Comunicação e MédiaNome Sobrenome
 
Capítulo i power point(1)
Capítulo i   power point(1)Capítulo i   power point(1)
Capítulo i power point(1)12anogolega
 
Fi.js mc
Fi.js mcFi.js mc
Fi.js mcfabio-g
 
Aulas digitais memorial do convento
Aulas digitais memorial do conventoAulas digitais memorial do convento
Aulas digitais memorial do conventoDulce Gomes
 

Semelhante a O Convento de Mafra - por João Aníbal Henriques (20)

memorial_do_convento (1).pptx
memorial_do_convento (1).pptxmemorial_do_convento (1).pptx
memorial_do_convento (1).pptx
 
Convento de Mafra
Convento de MafraConvento de Mafra
Convento de Mafra
 
Convento de mafra
Convento de mafraConvento de mafra
Convento de mafra
 
D. José I
D. José ID. José I
D. José I
 
ufcd_clc6 Cultura urbanismo e mobilidade.pptx
ufcd_clc6 Cultura urbanismo e mobilidade.pptxufcd_clc6 Cultura urbanismo e mobilidade.pptx
ufcd_clc6 Cultura urbanismo e mobilidade.pptx
 
Convento de mafra
Convento de mafraConvento de mafra
Convento de mafra
 
Construções no século XVIII
Construções no século XVIIIConstruções no século XVIII
Construções no século XVIII
 
casopratico_mod6.cultura palco.pptx
casopratico_mod6.cultura palco.pptxcasopratico_mod6.cultura palco.pptx
casopratico_mod6.cultura palco.pptx
 
Hist Palaciode Queluz Ss
Hist Palaciode Queluz SsHist Palaciode Queluz Ss
Hist Palaciode Queluz Ss
 
Império e monarquia absoluta no século XVIII
Império e monarquia absoluta no século XVIIIImpério e monarquia absoluta no século XVIII
Império e monarquia absoluta no século XVIII
 
F2 portugal na europa do antigo regime
F2 portugal na europa do antigo regimeF2 portugal na europa do antigo regime
F2 portugal na europa do antigo regime
 
11 ha m4 u2 2
11 ha m4 u2 211 ha m4 u2 2
11 ha m4 u2 2
 
Hgp6 cdpd c1
Hgp6 cdpd c1Hgp6 cdpd c1
Hgp6 cdpd c1
 
Hgp6 cdpd c1
Hgp6 cdpd c1Hgp6 cdpd c1
Hgp6 cdpd c1
 
Imperio e monarquia absoluta no seculo XVIII
Imperio e monarquia absoluta no seculo XVIIIImperio e monarquia absoluta no seculo XVIII
Imperio e monarquia absoluta no seculo XVIII
 
Palácio de Queluz
Palácio de QueluzPalácio de Queluz
Palácio de Queluz
 
UFCD CLC6 - Cultura Comunicação e Média
UFCD CLC6 - Cultura Comunicação e MédiaUFCD CLC6 - Cultura Comunicação e Média
UFCD CLC6 - Cultura Comunicação e Média
 
Capítulo i power point(1)
Capítulo i   power point(1)Capítulo i   power point(1)
Capítulo i power point(1)
 
Fi.js mc
Fi.js mcFi.js mc
Fi.js mc
 
Aulas digitais memorial do convento
Aulas digitais memorial do conventoAulas digitais memorial do convento
Aulas digitais memorial do convento
 

Mais de Cascais - Portugal

Fundação Cascais - 10º Aniversário - 2003
Fundação Cascais - 10º Aniversário - 2003Fundação Cascais - 10º Aniversário - 2003
Fundação Cascais - 10º Aniversário - 2003Cascais - Portugal
 
Apresentação do Livro "O Outro Cascais" de João Aníbal Henriques
Apresentação do Livro "O Outro Cascais" de João Aníbal HenriquesApresentação do Livro "O Outro Cascais" de João Aníbal Henriques
Apresentação do Livro "O Outro Cascais" de João Aníbal HenriquesCascais - Portugal
 
O Outro Cascais - de João Aníbal Henriques.pdf
O Outro Cascais - de João Aníbal Henriques.pdfO Outro Cascais - de João Aníbal Henriques.pdf
O Outro Cascais - de João Aníbal Henriques.pdfCascais - Portugal
 
Convite Livro "O Outro Cascais" de João Aníbal Henriques
Convite Livro "O Outro Cascais" de João Aníbal HenriquesConvite Livro "O Outro Cascais" de João Aníbal Henriques
Convite Livro "O Outro Cascais" de João Aníbal HenriquesCascais - Portugal
 
Restaurante Maré de José d'Avillez
Restaurante Maré de José d'AvillezRestaurante Maré de José d'Avillez
Restaurante Maré de José d'AvillezCascais - Portugal
 
Apresentação do Livro "Viva Estoril" de João Aníbal Henriques
Apresentação do Livro "Viva Estoril" de João Aníbal HenriquesApresentação do Livro "Viva Estoril" de João Aníbal Henriques
Apresentação do Livro "Viva Estoril" de João Aníbal HenriquesCascais - Portugal
 
Livro "Viva Estoril" de João Aníbal Henriques
Livro "Viva Estoril" de João Aníbal HenriquesLivro "Viva Estoril" de João Aníbal Henriques
Livro "Viva Estoril" de João Aníbal HenriquesCascais - Portugal
 
Quando o progresso se une à tradição - Construção da Estrada Marginal em 1940
Quando o progresso se une à tradição - Construção da Estrada Marginal em 1940Quando o progresso se une à tradição - Construção da Estrada Marginal em 1940
Quando o progresso se une à tradição - Construção da Estrada Marginal em 1940Cascais - Portugal
 
Apresentação do Livro AL-QABDAQ de João Aníbal Henriques
Apresentação do Livro AL-QABDAQ de João Aníbal HenriquesApresentação do Livro AL-QABDAQ de João Aníbal Henriques
Apresentação do Livro AL-QABDAQ de João Aníbal HenriquesCascais - Portugal
 
Livro "AL-QABDAQ" de João Aníbal Henriques
Livro "AL-QABDAQ" de João Aníbal HenriquesLivro "AL-QABDAQ" de João Aníbal Henriques
Livro "AL-QABDAQ" de João Aníbal HenriquesCascais - Portugal
 
Convite para a Apresentação do Livro AL-QABDAQ de João Aníbal Henriques
Convite para a Apresentação do Livro AL-QABDAQ de João Aníbal HenriquesConvite para a Apresentação do Livro AL-QABDAQ de João Aníbal Henriques
Convite para a Apresentação do Livro AL-QABDAQ de João Aníbal HenriquesCascais - Portugal
 
Da Aldeia para o Cabaré - por Marco Alves
Da Aldeia para o Cabaré - por Marco AlvesDa Aldeia para o Cabaré - por Marco Alves
Da Aldeia para o Cabaré - por Marco AlvesCascais - Portugal
 
A Quinta da Alagoa em Carcavelos - por João Aníbal Henriques
A Quinta da Alagoa em Carcavelos - por João Aníbal HenriquesA Quinta da Alagoa em Carcavelos - por João Aníbal Henriques
A Quinta da Alagoa em Carcavelos - por João Aníbal HenriquesCascais - Portugal
 
"Flatland: a Romance of Many Dimensions" - Edwin Abbott - 1884
"Flatland: a Romance of Many Dimensions" - Edwin Abbott - 1884"Flatland: a Romance of Many Dimensions" - Edwin Abbott - 1884
"Flatland: a Romance of Many Dimensions" - Edwin Abbott - 1884Cascais - Portugal
 
O Paço de Monte Real - por João Aníbal Henriques
O Paço de Monte Real - por João Aníbal HenriquesO Paço de Monte Real - por João Aníbal Henriques
O Paço de Monte Real - por João Aníbal HenriquesCascais - Portugal
 
A Casa Sommer em Cascais - por João Aníbal Henriques
A Casa Sommer em Cascais - por João Aníbal HenriquesA Casa Sommer em Cascais - por João Aníbal Henriques
A Casa Sommer em Cascais - por João Aníbal HenriquesCascais - Portugal
 
A Lenda da Boca do inferno - por João Aníbal Henriques
A Lenda da Boca do inferno - por João Aníbal HenriquesA Lenda da Boca do inferno - por João Aníbal Henriques
A Lenda da Boca do inferno - por João Aníbal HenriquesCascais - Portugal
 
Memórias de Guerra nos Açores - por João Aníbal Henriques
Memórias de Guerra nos Açores - por João Aníbal HenriquesMemórias de Guerra nos Açores - por João Aníbal Henriques
Memórias de Guerra nos Açores - por João Aníbal HenriquesCascais - Portugal
 
O Assassínio que Salazar Abafou - Fernando Dacosta
O Assassínio que Salazar Abafou - Fernando DacostaO Assassínio que Salazar Abafou - Fernando Dacosta
O Assassínio que Salazar Abafou - Fernando DacostaCascais - Portugal
 
O Castelo de Castro Laboreiro por João Aníbal Henriques
O Castelo de Castro Laboreiro por João Aníbal HenriquesO Castelo de Castro Laboreiro por João Aníbal Henriques
O Castelo de Castro Laboreiro por João Aníbal HenriquesCascais - Portugal
 

Mais de Cascais - Portugal (20)

Fundação Cascais - 10º Aniversário - 2003
Fundação Cascais - 10º Aniversário - 2003Fundação Cascais - 10º Aniversário - 2003
Fundação Cascais - 10º Aniversário - 2003
 
Apresentação do Livro "O Outro Cascais" de João Aníbal Henriques
Apresentação do Livro "O Outro Cascais" de João Aníbal HenriquesApresentação do Livro "O Outro Cascais" de João Aníbal Henriques
Apresentação do Livro "O Outro Cascais" de João Aníbal Henriques
 
O Outro Cascais - de João Aníbal Henriques.pdf
O Outro Cascais - de João Aníbal Henriques.pdfO Outro Cascais - de João Aníbal Henriques.pdf
O Outro Cascais - de João Aníbal Henriques.pdf
 
Convite Livro "O Outro Cascais" de João Aníbal Henriques
Convite Livro "O Outro Cascais" de João Aníbal HenriquesConvite Livro "O Outro Cascais" de João Aníbal Henriques
Convite Livro "O Outro Cascais" de João Aníbal Henriques
 
Restaurante Maré de José d'Avillez
Restaurante Maré de José d'AvillezRestaurante Maré de José d'Avillez
Restaurante Maré de José d'Avillez
 
Apresentação do Livro "Viva Estoril" de João Aníbal Henriques
Apresentação do Livro "Viva Estoril" de João Aníbal HenriquesApresentação do Livro "Viva Estoril" de João Aníbal Henriques
Apresentação do Livro "Viva Estoril" de João Aníbal Henriques
 
Livro "Viva Estoril" de João Aníbal Henriques
Livro "Viva Estoril" de João Aníbal HenriquesLivro "Viva Estoril" de João Aníbal Henriques
Livro "Viva Estoril" de João Aníbal Henriques
 
Quando o progresso se une à tradição - Construção da Estrada Marginal em 1940
Quando o progresso se une à tradição - Construção da Estrada Marginal em 1940Quando o progresso se une à tradição - Construção da Estrada Marginal em 1940
Quando o progresso se une à tradição - Construção da Estrada Marginal em 1940
 
Apresentação do Livro AL-QABDAQ de João Aníbal Henriques
Apresentação do Livro AL-QABDAQ de João Aníbal HenriquesApresentação do Livro AL-QABDAQ de João Aníbal Henriques
Apresentação do Livro AL-QABDAQ de João Aníbal Henriques
 
Livro "AL-QABDAQ" de João Aníbal Henriques
Livro "AL-QABDAQ" de João Aníbal HenriquesLivro "AL-QABDAQ" de João Aníbal Henriques
Livro "AL-QABDAQ" de João Aníbal Henriques
 
Convite para a Apresentação do Livro AL-QABDAQ de João Aníbal Henriques
Convite para a Apresentação do Livro AL-QABDAQ de João Aníbal HenriquesConvite para a Apresentação do Livro AL-QABDAQ de João Aníbal Henriques
Convite para a Apresentação do Livro AL-QABDAQ de João Aníbal Henriques
 
Da Aldeia para o Cabaré - por Marco Alves
Da Aldeia para o Cabaré - por Marco AlvesDa Aldeia para o Cabaré - por Marco Alves
Da Aldeia para o Cabaré - por Marco Alves
 
A Quinta da Alagoa em Carcavelos - por João Aníbal Henriques
A Quinta da Alagoa em Carcavelos - por João Aníbal HenriquesA Quinta da Alagoa em Carcavelos - por João Aníbal Henriques
A Quinta da Alagoa em Carcavelos - por João Aníbal Henriques
 
"Flatland: a Romance of Many Dimensions" - Edwin Abbott - 1884
"Flatland: a Romance of Many Dimensions" - Edwin Abbott - 1884"Flatland: a Romance of Many Dimensions" - Edwin Abbott - 1884
"Flatland: a Romance of Many Dimensions" - Edwin Abbott - 1884
 
O Paço de Monte Real - por João Aníbal Henriques
O Paço de Monte Real - por João Aníbal HenriquesO Paço de Monte Real - por João Aníbal Henriques
O Paço de Monte Real - por João Aníbal Henriques
 
A Casa Sommer em Cascais - por João Aníbal Henriques
A Casa Sommer em Cascais - por João Aníbal HenriquesA Casa Sommer em Cascais - por João Aníbal Henriques
A Casa Sommer em Cascais - por João Aníbal Henriques
 
A Lenda da Boca do inferno - por João Aníbal Henriques
A Lenda da Boca do inferno - por João Aníbal HenriquesA Lenda da Boca do inferno - por João Aníbal Henriques
A Lenda da Boca do inferno - por João Aníbal Henriques
 
Memórias de Guerra nos Açores - por João Aníbal Henriques
Memórias de Guerra nos Açores - por João Aníbal HenriquesMemórias de Guerra nos Açores - por João Aníbal Henriques
Memórias de Guerra nos Açores - por João Aníbal Henriques
 
O Assassínio que Salazar Abafou - Fernando Dacosta
O Assassínio que Salazar Abafou - Fernando DacostaO Assassínio que Salazar Abafou - Fernando Dacosta
O Assassínio que Salazar Abafou - Fernando Dacosta
 
O Castelo de Castro Laboreiro por João Aníbal Henriques
O Castelo de Castro Laboreiro por João Aníbal HenriquesO Castelo de Castro Laboreiro por João Aníbal Henriques
O Castelo de Castro Laboreiro por João Aníbal Henriques
 

O Convento de Mafra - por João Aníbal Henriques

  • 1. O CONVENTO DE MAFRAO CONVENTO DE MAFRA João Aníbal Henriques 298 anos depois
  • 2. O CONVENTO DE MAFRApor João Aníbal Henriques Existem realidades que são maiores do que a História e que subjugam os factos, os documentos e a factualidade. Transcendem-se a si próprias, repercutindo os sonhos de quem as idealizou e os horizontes infinitos e intemporais que são sempre sinónimos da genialidade. É o que acontece com o Palácio / Convento de Mafra. Que importa recordar no dia em que se cumprem 298 anos desde aquele dia extraordinário em que Dom João V ali colocou a primeira pedra. 298 anos depois…
  • 3. O Convento de Mafra, localizado a poucos quilómetros de Lisboa, foi uma das mais impactantes obras de arquitectura jamais concretizadas em Portugal. Com os seus mais de 40000 m2 de área total, os seus impressionantes 29 pátios, as 880 divisões e as duas mais de 4500 portas e janelas, o edifício produz um enorme impacto visual a quem dele se acerca, sendo um repositório que está à altura do facto de ter sido edificado durante o mais rico de todos os reinados dos reis portugueses. Dom João V, cognominado como o magnânimo, teve a sorte de alcançar o ouro do Brasil durante o seu reinado. E com ele, impôs-se como um dos mais poderosos reis europeus. Casado com a arquiduquesa Maria Ana Josefa da Áustria (1683-1754), filha do Imperador Leopoldo I, da Casa dos Habsburgos, foi pai do futuro rei Dom José I de Portugal e, por morte deste, do Rei Dom Pedro III. Durante a sua vida, assente na magnanimidade da sua imensa riqueza, teve uma intervenção política muito relevante ao nível da cena política internacional e foi um dos monarcas Portugueses que maior influência teve na definição do rumo da Europa durante a sua época. O CONVENTO DE MAFRA
  • 4. Mas o dia 17 de Novembro de 1717, quando decorreu a primeira pedra do futuro Convento de Mafra, tem um profundo significado simbólico para o então Rei de Portugal em linha, aliás, com todo o simbolismo associado ao edifício, à sua decoração e até ao uso que teve ao longo dos últimos séculos. Tendo tido grande dificuldade em gerar a sua descendência, Dom João V terá feito uma promessa a Deus de que edificaria um convento em Mafra no caso de lhe nascer um filho varão no prazo de um ano a contar daquela data. Diz-se ainda que a promessa, feita por um rei que nunca foi coroado, visto que, tal como os seus antecessores desde o restauracionista Dom João IV, decidiu coroar no seu lugar a imagem de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa, Padroeira de Portugal, aconteceu durante uma das crises de melancolia do monarca. De facto, nos dias que antecederam o lendário episódio, Dom João V ter-se-ia retirado para o Alentejo devido à estranha doença que o afectava. E terá sido num dos dias de maior prostração, quando a rainha o encontrou desolado sob a sua poderosíssima condição, que terá formulado o seu voto do qual resultou a construção do vetusto monumento. De facto, apesar de o primeiro filho do rei não ter sido varão, pois nasceu a Princesa Maria Bárbara, futura rainha de Espanha por casamento com Fernando VI, o Rei Português decidiu não só manter a sua promessa de construção do pequeno convento destinado a cerca de 13 frades capuchos arrábidos, como incrementou o projecto juntando-lhe um inusitado palácio real que causou a estupefacção e a surpresa dos Portugueses de então. O CONVENTO DE MAFRA
  • 5. Com o traço de João Frederico Ludovice, Mafra assenta numa planta também ela estranha para a sua época. Com as dimensões extraordinárias que foram indicadas pelo Rei, o Convento de Mafra sobrepõe-se de forma básica à planta da Baixa Pombalina de Lisboa, construída pelo Marquês de Pombal depois do Terramoto de 1755. A sua biblioteca, os aposentos de caça e os longuíssimos corredores que ligam as diversas alas do edifício, consolidam uma fachada decorada com uma escadaria monumental que nos transporta até à basílica. E por baixo de todo esse espaço, escondem-se dos olhares menos atentos os espaços de morte onde se acumulam os restos mortais de várias centenas de religiosos que ali viveram e morreram ao longo dos anos. Estranho ainda, pelo seu carácter vincado e linearmente ostensivo, os espaços vãos existentes entre os tectos dos andares superiores e a cúpula exterior do monumento. Nessas zonas inacessíveis mas bem acabadas, montaram-se vastos espaços de culto ritualístico maçónico, bem patentes na simbologia e na imensa parafernália de instrumentos que a decora. A ideia do Grande Construtor é, aliás, o persistente sinal que acompanha o Rei na sua demanda pela eternidade, consolidando a premissa de que Mafra não é só aquilo que se vê e que existe uma causa discretamente marcada nas suas paredes da qual dependeu a orientação e a decisão real.
  • 6. A vertente simbólica do Convento de Mafra, explicando o tantas vezes mal compreendido carácter perdulário de Dom João V, transmite-nos a certeza de que o monumento é significativamente o expoente máximo da expressão religiosa de Portugal, numa tentativa de tradução cosmológica da realidade imensa do universo que necessariamente terá de passar o entendimento mesquinho do dia-a-dia Português. Mafra é, para Dom João V, o palácio- convento que hoje temos. Mas é sobretudo, na sua vertente mística de um Rei magnânimo, uma espécie de altar-mor de Portugal, idealizado para aproximar o País do seu eterno destino de representação na Terra do cruzeiro de luz que emana do céu. A visão quinto-imperial que transvaza a demanda do Prestes João e que enforma a épica empresa dos descobrimentos, consolida-se aqui no palácio onde o império aguarda a chegada nunca concretizada do desejado, numa prática de despojamento que coroa como imperador o mais puro e inocente dos rapazes. Porque nem sempre aquilo que lá está é exactamente o que percebemos e, sobretudo, porque raramente aquilo para onde olhamos é aquilo que vemos. Nos míticos subterrâneos de Mafra, onde a lenda diz que existem ratazanas imensas que são capazes de se alimentar de seres humanos, nada existe de extraordinário, para além da cloaca colossal para dar vazão à imensidade de gente que utilizava o edifício. Mas no topo das torres, onde o céu já se sente, aí sim, existem os vestígios de uma porta para o paraíso terrestre.
  • 7. Num espaço repleto de lendas e de ideias-feitas, genericamente resultantes do impacto imenso que um edifício com estas características sempre tem, importa ainda relembrar os míticos carrilhões. Construídos em Antuérpia e Liége por Guilherme Withlockx e Nicolau Levache, respectivamente, terão custado a módica quantia de 50000 moedas de ouro ao cofre Português. Diz-nos a lenda que, tendo encomendado o primeiro, o seu manufactor terá comentado que era obra de grande monta para um Estado tão pequeno… ao que o rei Português, mostrando bem o poder que resultava da sua imensa riqueza, terá respondido que duplicava a encomenda e desejava adquirir não um mas dois carrilhões para o seu edifício mafrense! O CONVENTO DE MAFRA 298 anos depois…
  • 8. Lenda ou realidade, o Convento de Mafra é hoje uma realidade que se impõe a todos os Portugueses. Se para uns representa o exercício perdulário que sugou imensamente o erário pública, para outros é certamente o expoente máximo da visão ancestral de um dos reis que melhor personificou a tradicionalmente portuguesa demanda do Graal. Vale a pena visitar com atenção e cuidado, libertando-se de preconceitos e alumiando os recantos mais sombrios de uma história que ainda tem muito para contar ao País onde nasceu. E no fim, depois de subir aos carrilhões e de descer aos sombrios recessos dos subterrâneos, é essencial sair pela “porta do cavalo”… se souber! Vale a pena visitar com atenção e cuidado, libertando-se de preconceitos e alumiando os recantos mais sombrios de uma história que ainda tem muito para contar ao País onde nasceu. E no fim, depois de subir aos carrilhões e de descer aos sombrios recessos dos subterrâneos, é essencial sair pela “porta do cavalo”… se souber! MAFRA
  • 9. João Aníbal Henriques javeigahenriques@gmail.com Tel. +351 96 251 95 14 O CONVENTO DE MAFRA298 anos depois