SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 34
A  CADERNETA  VERMELHA
O carteiro entregou o telegrama. José Roberto não  agradeceu e enquanto abria  o envelope, uma profunda ruga sulcou-lhe a testa.  Uma expressão mais de  surpresa do que de dor tomou-lhe conta do rosto.   Palavras breves e incisas:   - Seu pai faleceu. Enterro 18horas. Mamãe;
  Jose Roberto continuou parado, olhando para o vazio.   Nenhuma lágrima lhe  veio aos olhos nenhum aperto no coração. Nada!
Era como se houvesse morrido um estranho. Por que nada  sentia pela morte do  velho? Com um turbilhão de pensamentos confundido-o,  avisou a esposa, tomou  o ônibus e se foi, vencendo os silenciosos quilômetros  de estrada enquanto a  cabeça girava a mil.
No íntimo, não queria ir ao funeral e, se estava indo era apenas para que a  mãe não ficasse mais amargurada. Ela sabia que pai e  filho não se davam bem.
A coisa havia chegado ao final no dia em que, depois de mais uma chuva de acusações, José Roberto havia feito as malas e partido  prometendo nunca mais  botar os pés naquela casa.
Um emprego razoável, casamento, telefonemas à mãe pelo  Natal, Ano Novo ou  Páscoa...  Ele havia se desligado da família, não pensava no pai e a última  coisa na vida que desejava na vida  era ser parecido com  ele. O velório:  poucas pessoas.
A mãe está lá, pálida, gelada, chorosa.  Quando reviu o filho, as lágrimas  correram silenciosas, foi um abraço de desesperado silêncio.  Depois, ele viu o corpo sereno envolto por um lençol de rosas vermelho,   como as que o pai gostava  de cultivar.
José Roberto não verteu uma única lágrima, o coração não pedia. Era como estar diante de um desconhecido um estranho, um...
O funeral: o sabiá cantando, o sol se pondo.  Ele ficou  em casa com a mãe até  a noite, beijou-a e prometeu que voltaria trazendo netos e esposa para  conhecê-la.  Agora, ele poderia voltar à casa, porque  aquele que não o amava,  não estava mais lá para dar-lhe  conselhos ácidos nem para criticá-lo.
[object Object],[object Object],[object Object],[object Object]
Foi um gesto mecânico que, minutos depois de começar a viagem, meteu a mão  no bolso e sentiu o presente. O foco mortiço da luz do  bagageiro, revelou  uma pequena caderneta de capa  vermelha.  Abriu-a curioso.
Páginas amareladas.  Na primeira, no alto, reconheceu a  caligrafia firme do  pai:  "Nasceu hoje o José Roberto.  Quase quatro quilos!  O meu primeiro filho,  um garotão!  Estou orgulhoso de ser o pai daquele  que será a minha  continuação na Terra!".
À medida que folheava, devorando cada anotação, sentia um aperto na boca do estomago, mistura de dor e perplexidade,  pois as imagens do passado ressurgiram firmes e  atrevidas como se acabassem de acontecer!
"Hoje, meu filho foi para escola. Está um homenzinho!  Quando eu vi ele de uniforme, fiquei  emocionado e desejei-lhe um futuro  cheio de sabedoria. A vida dele será diferente da minha,  que não pude estudar  por ter sido  obrigado a ajudar meu pai.  Mas para meu filho desejo o melhor. Não permitirei que a vida o castigue".
[object Object],[object Object],[object Object]
José Roberto mordeu os lábios. Lembrava-se da sua intolerância, das brigas feitas para ganhar a  sonhada bicicleta.  Se todos os  amigos ricos tinham uma,  por que ele também não poderia  ter a sua?
"É duro para um pai castigar um filho e bem sei que ele poderá me odiar  por isso;  entretanto, devo educá-lo para seu próprio bem."   "Foi assim que aprendi a ser um  homem honrado e esse é  o único modo que sei  de ensiná-lo".
  José Roberto fechou os olhos e viu toda a cena quando por causa de uma  bebedeira, tinha ido para a cadeia e naquela noite, se o pai não tivesse  aparecido para impedi-lo de ir ao baile com os amigos...
Lembrava-se apenas do automóvel retorcido e manchado de  sangue que tinha  batido contra uma árvore... Parecia ouvir sinos, o choro da cidade inteira enquanto quatro caixões seguiam lugubremente para o  cemitério.
As páginas se sucediam com ora curtas, ora longas anotações, cheias das respostas que revelam o quanto, em silêncio e amargura,  o pai o havia amado.   O "velho" escrevia de madrugada.
Momento da solidão, num grito de silêncio, porque era desse jeito que ele era, ninguém o havia ensinado a chorar e a dividir suas dores,  o mundo esperava que fosse durão  para que não o julgassem nem  fraco e nem covarde.   E, no entanto, agora José Roberto estava tendo a prova que, debaixo daquela  fachada de fortaleza havia um coração tão terno e cheio de amor.
A última página.  Aquela do dia em que ele havia  partido:  - "Deus, o que fiz de errado para meu filho me odiar tanto?  Por que sou considerado culpado,  se nada fiz, senão tentar  transformá-lo em um homem de  bem?"
  "Meu Deus, não permita que esta injustiça me atormente para sempre. Que um dia ele possa me compreender e perdoar por eu não ter sabido ser  o pai que ele merecia ter."
Depois não havia mais anotações e as folhas em branco davam a idéia de que o  pai tinha morrido naquele momento, José Roberto fechou  depressa a caderneta,  o peito doía. O coração parecia haver crescido tanto,  que lutava para escapar pela boca. Nem viu o ônibus entrar na  rodoviária, levantou aflito e  saiu quase correndo porque precisava de ar puro para respirar
A aurora rompia no céu e mais um dia começava.  "Honre seu pai para que os dias de sua velhice sejam tranqüilos!" - certa  vez ele tinha ouvido essa frase e jamais havia refletido o na profundidade  que ela continha. Em sua egocêntrica cegueira de  adolescente, jamais havia  parado para pensar em verdades mais profundas.
  Para ele, os pais eram descartáveis e sem valor como as embalagens que são  atiradas ao lixo. Afinal, naqueles dias de pouca reflexão tudo era juventude, saúde, beleza,  musica, cor, alegria,  despreocupação, vaidade. Não era ele um semideus?
Agora, porém, o tempo o havia envelhecido, fatigado e também tornado pai aquele falso herói. De repente. No jogo da vida, ele era  o pai e seus atuais contestadores.
Como não havia  pensado nisso antes? Certamente por não ter tempo, pois andava muito ocupado  com os negócios,  a luta pela sobrevivência, a sede de passar fins de  semana longe da cidade  grande, a vontade de mergulhar no silêncio sem precisar  dialogar com os  filhos.
Ele jamais tivera a idéia de comprar uma cadernetinha de capa vermelha  para anotar uma frase sobre  seus herdeiros, jamais lhe  havia passado pela cabeça escrever  que tinha orgulho daqueles que continuam o seu nome.   Justamente ele, que se considerava o mais completo pai da Terra?
Uma onda de vergonha quase o prostrou por terra numa derradeira lição de  humildade. Quis gritar, erguer procurando agarrar o  velho para sacudi-lo e  abraçá-lo, encontrou apenas o vazio.
Havia uma raquítica rosa vermelha num galho no jardim de uma casa, o sol  acabava de nascer.  Então, José Roberto acariciou as  pétalas e lembrou-se da  mãozona do pai podando, adubando e cuidando com amor.   Por que nunca tinha  percebido tudo aquilo antes?
[object Object],[object Object],[object Object],[object Object],[object Object]
"FALE, CURTA, ABRACE, BEIJE, SINTA E AME TODAS AS  PESSOAS COM QUE VOCÊ PODE  VER E TOCAR"   APROVEITE!!!

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

Mais procurados (10)

Frei simao
Frei simaoFrei simao
Frei simao
 
"As confissoes de Caim"
 "As confissoes de Caim"  "As confissoes de Caim"
"As confissoes de Caim"
 
é Preciso perdoar
é Preciso perdoaré Preciso perdoar
é Preciso perdoar
 
Filho prodigo
Filho prodigoFilho prodigo
Filho prodigo
 
107 longe dos olhos
107   longe dos olhos107   longe dos olhos
107 longe dos olhos
 
Coletânea Carlos Drummond
Coletânea Carlos DrummondColetânea Carlos Drummond
Coletânea Carlos Drummond
 
As memórias de Eulália
As memórias de EuláliaAs memórias de Eulália
As memórias de Eulália
 
Rezar o Pai-Nosso em família
Rezar o Pai-Nosso em famíliaRezar o Pai-Nosso em família
Rezar o Pai-Nosso em família
 
Bandeja a trecho
Bandeja a trechoBandeja a trecho
Bandeja a trecho
 
Artur azevedo a moça mais bonita do rio de janeiro
Artur azevedo   a moça mais bonita do rio de janeiroArtur azevedo   a moça mais bonita do rio de janeiro
Artur azevedo a moça mais bonita do rio de janeiro
 

Destaque

Afinidades
AfinidadesAfinidades
AfinidadesJNR
 
Carlos cazares vargas. mejoras a la capacitación del inee.
Carlos cazares vargas. mejoras a la capacitación del inee.Carlos cazares vargas. mejoras a la capacitación del inee.
Carlos cazares vargas. mejoras a la capacitación del inee.Carlos Cazares Vargas
 
Quatro esposas
Quatro esposasQuatro esposas
Quatro esposasJNR
 
Reciclado y usos del aceite usado de cocina.ppt grupo wiki hugo jaime lina
Reciclado  y usos del aceite usado de cocina.ppt grupo wiki hugo jaime linaReciclado  y usos del aceite usado de cocina.ppt grupo wiki hugo jaime lina
Reciclado y usos del aceite usado de cocina.ppt grupo wiki hugo jaime linalina maria universidad de sucre
 
Plano de 9ª aula 8ª série9º ano gestar 2012
Plano de 9ª aula 8ª série9º ano  gestar 2012Plano de 9ª aula 8ª série9º ano  gestar 2012
Plano de 9ª aula 8ª série9º ano gestar 2012Antonio Carneiro
 
gestion de procesos
gestion de procesosgestion de procesos
gestion de procesossaoriiih
 
Biblioteca e espaços de leitura e leitores
Biblioteca e espaços de leitura e leitoresBiblioteca e espaços de leitura e leitores
Biblioteca e espaços de leitura e leitoresSuelybcs .
 
Como Criar riqueza n6 parte1
Como Criar riqueza n6 parte1Como Criar riqueza n6 parte1
Como Criar riqueza n6 parte1RAM
 
Como Criar riqueza n13
Como Criar riqueza n13Como Criar riqueza n13
Como Criar riqueza n13RAM
 
Colegio nacional nicolas esguerra
Colegio nacional nicolas esguerra Colegio nacional nicolas esguerra
Colegio nacional nicolas esguerra el bergon y diego
 
Plano de6ªaula 6ª série7º ano gestar 2012 cópia
Plano de6ªaula 6ª série7º ano  gestar 2012   cópiaPlano de6ªaula 6ª série7º ano  gestar 2012   cópia
Plano de6ªaula 6ª série7º ano gestar 2012 cópiaAntonio Carneiro
 

Destaque (20)

Afinidades
AfinidadesAfinidades
Afinidades
 
Carlos cazares vargas. mejoras a la capacitación del inee.
Carlos cazares vargas. mejoras a la capacitación del inee.Carlos cazares vargas. mejoras a la capacitación del inee.
Carlos cazares vargas. mejoras a la capacitación del inee.
 
Anuario I.E.D Venecia
Anuario I.E.D Venecia Anuario I.E.D Venecia
Anuario I.E.D Venecia
 
Quatro esposas
Quatro esposasQuatro esposas
Quatro esposas
 
Catalogo artistry 2011
Catalogo artistry 2011Catalogo artistry 2011
Catalogo artistry 2011
 
Reciclado y usos del aceite usado de cocina.ppt grupo wiki hugo jaime lina
Reciclado  y usos del aceite usado de cocina.ppt grupo wiki hugo jaime linaReciclado  y usos del aceite usado de cocina.ppt grupo wiki hugo jaime lina
Reciclado y usos del aceite usado de cocina.ppt grupo wiki hugo jaime lina
 
Plano de 9ª aula 8ª série9º ano gestar 2012
Plano de 9ª aula 8ª série9º ano  gestar 2012Plano de 9ª aula 8ª série9º ano  gestar 2012
Plano de 9ª aula 8ª série9º ano gestar 2012
 
Inovações Financeiras e Crises
Inovações Financeiras e CrisesInovações Financeiras e Crises
Inovações Financeiras e Crises
 
Arranjos Produtivos Locais - Silvio Caio
Arranjos Produtivos Locais - Silvio CaioArranjos Produtivos Locais - Silvio Caio
Arranjos Produtivos Locais - Silvio Caio
 
gestion de procesos
gestion de procesosgestion de procesos
gestion de procesos
 
Biblioteca e espaços de leitura e leitores
Biblioteca e espaços de leitura e leitoresBiblioteca e espaços de leitura e leitores
Biblioteca e espaços de leitura e leitores
 
Marca personal
Marca personalMarca personal
Marca personal
 
Guess Residencial
Guess ResidencialGuess Residencial
Guess Residencial
 
Como Criar riqueza n6 parte1
Como Criar riqueza n6 parte1Como Criar riqueza n6 parte1
Como Criar riqueza n6 parte1
 
Como Criar riqueza n13
Como Criar riqueza n13Como Criar riqueza n13
Como Criar riqueza n13
 
Colegio nacional nicolas esguerra
Colegio nacional nicolas esguerra Colegio nacional nicolas esguerra
Colegio nacional nicolas esguerra
 
Plano de6ªaula 6ª série7º ano gestar 2012 cópia
Plano de6ªaula 6ª série7º ano  gestar 2012   cópiaPlano de6ªaula 6ª série7º ano  gestar 2012   cópia
Plano de6ªaula 6ª série7º ano gestar 2012 cópia
 
Simaberto ciencnatureza
Simaberto ciencnaturezaSimaberto ciencnatureza
Simaberto ciencnatureza
 
apresentação final
apresentação   finalapresentação   final
apresentação final
 
Hc 135504 medida de seguranca relator
Hc 135504 medida de seguranca relatorHc 135504 medida de seguranca relator
Hc 135504 medida de seguranca relator
 

Semelhante a A caderneta vermelha revela o amor de um pai

Semelhante a A caderneta vermelha revela o amor de um pai (20)

Cadernetavermelha
CadernetavermelhaCadernetavermelha
Cadernetavermelha
 
Caderneta vermelha
Caderneta vermelhaCaderneta vermelha
Caderneta vermelha
 
Caderneta vermelha
Caderneta vermelhaCaderneta vermelha
Caderneta vermelha
 
Machado de assis frei simão
Machado de assis   frei simãoMachado de assis   frei simão
Machado de assis frei simão
 
Umamorpararecordar trecho
Umamorpararecordar trechoUmamorpararecordar trecho
Umamorpararecordar trecho
 
Ele era magro, cabelos encaracolados...
Ele era magro, cabelos encaracolados...Ele era magro, cabelos encaracolados...
Ele era magro, cabelos encaracolados...
 
Olhosestranhosvol3
Olhosestranhosvol3Olhosestranhosvol3
Olhosestranhosvol3
 
Palavra Perdida - Oya Baydar
Palavra Perdida - Oya BaydarPalavra Perdida - Oya Baydar
Palavra Perdida - Oya Baydar
 
O feretro
O feretroO feretro
O feretro
 
Calendário Mensal: Julho 2010
Calendário Mensal: Julho 2010Calendário Mensal: Julho 2010
Calendário Mensal: Julho 2010
 
LETRAS TAQUARENSES Nº 61 NOV/DEZ 2014 * ANTONIO CABRAL FILHO - RJ
LETRAS TAQUARENSES Nº 61 NOV/DEZ 2014 * ANTONIO CABRAL FILHO - RJLETRAS TAQUARENSES Nº 61 NOV/DEZ 2014 * ANTONIO CABRAL FILHO - RJ
LETRAS TAQUARENSES Nº 61 NOV/DEZ 2014 * ANTONIO CABRAL FILHO - RJ
 
Visita de um amigo
Visita de um amigoVisita de um amigo
Visita de um amigo
 
O feretro
O feretroO feretro
O feretro
 
O feretro
O feretroO feretro
O feretro
 
O feretro
O feretroO feretro
O feretro
 
Poesia 8 1
Poesia 8 1Poesia 8 1
Poesia 8 1
 
De olhosfechadoslindotexto!!!!leiammmm!!!!!
De olhosfechadoslindotexto!!!!leiammmm!!!!!De olhosfechadoslindotexto!!!!leiammmm!!!!!
De olhosfechadoslindotexto!!!!leiammmm!!!!!
 
EU VOU FICAR AQUI - DERALDO CAMPOS PORTELA
EU VOU FICAR AQUI - DERALDO CAMPOS PORTELAEU VOU FICAR AQUI - DERALDO CAMPOS PORTELA
EU VOU FICAR AQUI - DERALDO CAMPOS PORTELA
 
Barbara cartland a cruz do amor
Barbara cartland   a cruz do amorBarbara cartland   a cruz do amor
Barbara cartland a cruz do amor
 
Recanto das letras carol
Recanto das letras   carolRecanto das letras   carol
Recanto das letras carol
 

Mais de JNR

Ainda tomaremos um cafe juntos
Ainda tomaremos um cafe juntosAinda tomaremos um cafe juntos
Ainda tomaremos um cafe juntosJNR
 
O voo
O vooO voo
O vooJNR
 
Compromisso
CompromissoCompromisso
CompromissoJNR
 
7 encontro propaganda, promoção e rp
7 encontro propaganda, promoção e rp7 encontro propaganda, promoção e rp
7 encontro propaganda, promoção e rpJNR
 
O voo
O vooO voo
O vooJNR
 
Tormentas
TormentasTormentas
TormentasJNR
 
Sapatos sujos
Sapatos sujosSapatos sujos
Sapatos sujosJNR
 
O misterio das coisas
O misterio das coisasO misterio das coisas
O misterio das coisasJNR
 
é Loucura
é Loucuraé Loucura
é LoucuraJNR
 
Amizade jb
Amizade jbAmizade jb
Amizade jbJNR
 
Caminhos e escolhas
Caminhos e escolhasCaminhos e escolhas
Caminhos e escolhasJNR
 
Ciclos em nossas vidas
Ciclos em nossas vidasCiclos em nossas vidas
Ciclos em nossas vidasJNR
 
A felicidade e uma viagem e nao um destino
A felicidade e uma viagem e nao um destinoA felicidade e uma viagem e nao um destino
A felicidade e uma viagem e nao um destinoJNR
 
O amor e o tempo
O amor e o tempoO amor e o tempo
O amor e o tempoJNR
 
Avos
AvosAvos
AvosJNR
 
Relacionamentos
RelacionamentosRelacionamentos
RelacionamentosJNR
 
A coragem e a vontade
A coragem e a vontadeA coragem e a vontade
A coragem e a vontadeJNR
 
O amor e o tempo
O amor e o tempoO amor e o tempo
O amor e o tempoJNR
 
Caminhos e escolhas
Caminhos e escolhasCaminhos e escolhas
Caminhos e escolhasJNR
 
Muitas vidas muitos mestres
Muitas vidas muitos mestresMuitas vidas muitos mestres
Muitas vidas muitos mestresJNR
 

Mais de JNR (20)

Ainda tomaremos um cafe juntos
Ainda tomaremos um cafe juntosAinda tomaremos um cafe juntos
Ainda tomaremos um cafe juntos
 
O voo
O vooO voo
O voo
 
Compromisso
CompromissoCompromisso
Compromisso
 
7 encontro propaganda, promoção e rp
7 encontro propaganda, promoção e rp7 encontro propaganda, promoção e rp
7 encontro propaganda, promoção e rp
 
O voo
O vooO voo
O voo
 
Tormentas
TormentasTormentas
Tormentas
 
Sapatos sujos
Sapatos sujosSapatos sujos
Sapatos sujos
 
O misterio das coisas
O misterio das coisasO misterio das coisas
O misterio das coisas
 
é Loucura
é Loucuraé Loucura
é Loucura
 
Amizade jb
Amizade jbAmizade jb
Amizade jb
 
Caminhos e escolhas
Caminhos e escolhasCaminhos e escolhas
Caminhos e escolhas
 
Ciclos em nossas vidas
Ciclos em nossas vidasCiclos em nossas vidas
Ciclos em nossas vidas
 
A felicidade e uma viagem e nao um destino
A felicidade e uma viagem e nao um destinoA felicidade e uma viagem e nao um destino
A felicidade e uma viagem e nao um destino
 
O amor e o tempo
O amor e o tempoO amor e o tempo
O amor e o tempo
 
Avos
AvosAvos
Avos
 
Relacionamentos
RelacionamentosRelacionamentos
Relacionamentos
 
A coragem e a vontade
A coragem e a vontadeA coragem e a vontade
A coragem e a vontade
 
O amor e o tempo
O amor e o tempoO amor e o tempo
O amor e o tempo
 
Caminhos e escolhas
Caminhos e escolhasCaminhos e escolhas
Caminhos e escolhas
 
Muitas vidas muitos mestres
Muitas vidas muitos mestresMuitas vidas muitos mestres
Muitas vidas muitos mestres
 

Último

PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...azulassessoria9
 
activIDADES CUENTO lobo esta CUENTO CUARTO GRADO
activIDADES CUENTO  lobo esta  CUENTO CUARTO GRADOactivIDADES CUENTO  lobo esta  CUENTO CUARTO GRADO
activIDADES CUENTO lobo esta CUENTO CUARTO GRADOcarolinacespedes23
 
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...azulassessoria9
 
Bullying - Atividade com caça- palavras
Bullying   - Atividade com  caça- palavrasBullying   - Atividade com  caça- palavras
Bullying - Atividade com caça- palavrasMary Alvarenga
 
Livro O QUE É LUGAR DE FALA - Autora Djamila Ribeiro
Livro O QUE É LUGAR DE FALA  - Autora Djamila RibeiroLivro O QUE É LUGAR DE FALA  - Autora Djamila Ribeiro
Livro O QUE É LUGAR DE FALA - Autora Djamila RibeiroMarcele Ravasio
 
VARIEDADES LINGUÍSTICAS - 1. pptx
VARIEDADES        LINGUÍSTICAS - 1. pptxVARIEDADES        LINGUÍSTICAS - 1. pptx
VARIEDADES LINGUÍSTICAS - 1. pptxMarlene Cunhada
 
Mapa mental - Classificação dos seres vivos .docx
Mapa mental - Classificação dos seres vivos .docxMapa mental - Classificação dos seres vivos .docx
Mapa mental - Classificação dos seres vivos .docxBeatrizLittig1
 
GÊNERO TEXTUAL - TIRINHAS - Charges - Cartum
GÊNERO TEXTUAL - TIRINHAS - Charges - CartumGÊNERO TEXTUAL - TIRINHAS - Charges - Cartum
GÊNERO TEXTUAL - TIRINHAS - Charges - CartumAugusto Costa
 
interfaces entre psicologia e neurologia.pdf
interfaces entre psicologia e neurologia.pdfinterfaces entre psicologia e neurologia.pdf
interfaces entre psicologia e neurologia.pdfIvoneSantos45
 
Portfolio_Trilha_Meio_Ambiente_e_Sociedade.pdf
Portfolio_Trilha_Meio_Ambiente_e_Sociedade.pdfPortfolio_Trilha_Meio_Ambiente_e_Sociedade.pdf
Portfolio_Trilha_Meio_Ambiente_e_Sociedade.pdfjanainadfsilva
 
CRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASB
CRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASBCRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASB
CRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASBAline Santana
 
A horta do Senhor Lobo que protege a sua horta.
A horta do Senhor Lobo que protege a sua horta.A horta do Senhor Lobo que protege a sua horta.
A horta do Senhor Lobo que protege a sua horta.silves15
 
Grupo Tribalhista - Música Velha Infância (cruzadinha e caça palavras)
Grupo Tribalhista - Música Velha Infância (cruzadinha e caça palavras)Grupo Tribalhista - Música Velha Infância (cruzadinha e caça palavras)
Grupo Tribalhista - Música Velha Infância (cruzadinha e caça palavras)Mary Alvarenga
 
Descreve o conceito de função, objetos, imagens, domínio e contradomínio.
Descreve o conceito de função, objetos, imagens, domínio e contradomínio.Descreve o conceito de função, objetos, imagens, domínio e contradomínio.
Descreve o conceito de função, objetos, imagens, domínio e contradomínio.Vitor Mineiro
 
Literatura Brasileira - escolas literárias.ppt
Literatura Brasileira - escolas literárias.pptLiteratura Brasileira - escolas literárias.ppt
Literatura Brasileira - escolas literárias.pptMaiteFerreira4
 
A poesia - Definições e Característicass
A poesia - Definições e CaracterísticassA poesia - Definições e Característicass
A poesia - Definições e CaracterísticassAugusto Costa
 
Aula de História Ensino Médio Mesopotâmia.pdf
Aula de História Ensino Médio Mesopotâmia.pdfAula de História Ensino Médio Mesopotâmia.pdf
Aula de História Ensino Médio Mesopotâmia.pdfFernandaMota99
 
CIÊNCIAS HUMANAS - ENSINO MÉDIO. 2024 2 bimestre
CIÊNCIAS HUMANAS - ENSINO MÉDIO. 2024 2 bimestreCIÊNCIAS HUMANAS - ENSINO MÉDIO. 2024 2 bimestre
CIÊNCIAS HUMANAS - ENSINO MÉDIO. 2024 2 bimestreElianeElika
 
PROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdf
PROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdfPROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdf
PROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdfMarianaMoraesMathias
 

Último (20)

Bullying, sai pra lá
Bullying,  sai pra láBullying,  sai pra lá
Bullying, sai pra lá
 
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
 
activIDADES CUENTO lobo esta CUENTO CUARTO GRADO
activIDADES CUENTO  lobo esta  CUENTO CUARTO GRADOactivIDADES CUENTO  lobo esta  CUENTO CUARTO GRADO
activIDADES CUENTO lobo esta CUENTO CUARTO GRADO
 
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
 
Bullying - Atividade com caça- palavras
Bullying   - Atividade com  caça- palavrasBullying   - Atividade com  caça- palavras
Bullying - Atividade com caça- palavras
 
Livro O QUE É LUGAR DE FALA - Autora Djamila Ribeiro
Livro O QUE É LUGAR DE FALA  - Autora Djamila RibeiroLivro O QUE É LUGAR DE FALA  - Autora Djamila Ribeiro
Livro O QUE É LUGAR DE FALA - Autora Djamila Ribeiro
 
VARIEDADES LINGUÍSTICAS - 1. pptx
VARIEDADES        LINGUÍSTICAS - 1. pptxVARIEDADES        LINGUÍSTICAS - 1. pptx
VARIEDADES LINGUÍSTICAS - 1. pptx
 
Mapa mental - Classificação dos seres vivos .docx
Mapa mental - Classificação dos seres vivos .docxMapa mental - Classificação dos seres vivos .docx
Mapa mental - Classificação dos seres vivos .docx
 
GÊNERO TEXTUAL - TIRINHAS - Charges - Cartum
GÊNERO TEXTUAL - TIRINHAS - Charges - CartumGÊNERO TEXTUAL - TIRINHAS - Charges - Cartum
GÊNERO TEXTUAL - TIRINHAS - Charges - Cartum
 
interfaces entre psicologia e neurologia.pdf
interfaces entre psicologia e neurologia.pdfinterfaces entre psicologia e neurologia.pdf
interfaces entre psicologia e neurologia.pdf
 
Portfolio_Trilha_Meio_Ambiente_e_Sociedade.pdf
Portfolio_Trilha_Meio_Ambiente_e_Sociedade.pdfPortfolio_Trilha_Meio_Ambiente_e_Sociedade.pdf
Portfolio_Trilha_Meio_Ambiente_e_Sociedade.pdf
 
CRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASB
CRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASBCRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASB
CRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASB
 
A horta do Senhor Lobo que protege a sua horta.
A horta do Senhor Lobo que protege a sua horta.A horta do Senhor Lobo que protege a sua horta.
A horta do Senhor Lobo que protege a sua horta.
 
Grupo Tribalhista - Música Velha Infância (cruzadinha e caça palavras)
Grupo Tribalhista - Música Velha Infância (cruzadinha e caça palavras)Grupo Tribalhista - Música Velha Infância (cruzadinha e caça palavras)
Grupo Tribalhista - Música Velha Infância (cruzadinha e caça palavras)
 
Descreve o conceito de função, objetos, imagens, domínio e contradomínio.
Descreve o conceito de função, objetos, imagens, domínio e contradomínio.Descreve o conceito de função, objetos, imagens, domínio e contradomínio.
Descreve o conceito de função, objetos, imagens, domínio e contradomínio.
 
Literatura Brasileira - escolas literárias.ppt
Literatura Brasileira - escolas literárias.pptLiteratura Brasileira - escolas literárias.ppt
Literatura Brasileira - escolas literárias.ppt
 
A poesia - Definições e Característicass
A poesia - Definições e CaracterísticassA poesia - Definições e Característicass
A poesia - Definições e Característicass
 
Aula de História Ensino Médio Mesopotâmia.pdf
Aula de História Ensino Médio Mesopotâmia.pdfAula de História Ensino Médio Mesopotâmia.pdf
Aula de História Ensino Médio Mesopotâmia.pdf
 
CIÊNCIAS HUMANAS - ENSINO MÉDIO. 2024 2 bimestre
CIÊNCIAS HUMANAS - ENSINO MÉDIO. 2024 2 bimestreCIÊNCIAS HUMANAS - ENSINO MÉDIO. 2024 2 bimestre
CIÊNCIAS HUMANAS - ENSINO MÉDIO. 2024 2 bimestre
 
PROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdf
PROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdfPROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdf
PROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdf
 

A caderneta vermelha revela o amor de um pai

  • 1. A CADERNETA VERMELHA
  • 2. O carteiro entregou o telegrama. José Roberto não  agradeceu e enquanto abria  o envelope, uma profunda ruga sulcou-lhe a testa. Uma expressão mais de  surpresa do que de dor tomou-lhe conta do rosto.   Palavras breves e incisas:   - Seu pai faleceu. Enterro 18horas. Mamãe;
  • 3.   Jose Roberto continuou parado, olhando para o vazio.   Nenhuma lágrima lhe  veio aos olhos nenhum aperto no coração. Nada!
  • 4. Era como se houvesse morrido um estranho. Por que nada  sentia pela morte do  velho? Com um turbilhão de pensamentos confundido-o,  avisou a esposa, tomou  o ônibus e se foi, vencendo os silenciosos quilômetros  de estrada enquanto a  cabeça girava a mil.
  • 5. No íntimo, não queria ir ao funeral e, se estava indo era apenas para que a  mãe não ficasse mais amargurada. Ela sabia que pai e  filho não se davam bem.
  • 6. A coisa havia chegado ao final no dia em que, depois de mais uma chuva de acusações, José Roberto havia feito as malas e partido  prometendo nunca mais  botar os pés naquela casa.
  • 7. Um emprego razoável, casamento, telefonemas à mãe pelo  Natal, Ano Novo ou  Páscoa... Ele havia se desligado da família, não pensava no pai e a última  coisa na vida que desejava na vida era ser parecido com  ele. O velório:  poucas pessoas.
  • 8. A mãe está lá, pálida, gelada, chorosa. Quando reviu o filho, as lágrimas  correram silenciosas, foi um abraço de desesperado silêncio. Depois, ele viu o corpo sereno envolto por um lençol de rosas vermelho,   como as que o pai gostava de cultivar.
  • 9. José Roberto não verteu uma única lágrima, o coração não pedia. Era como estar diante de um desconhecido um estranho, um...
  • 10. O funeral: o sabiá cantando, o sol se pondo. Ele ficou  em casa com a mãe até  a noite, beijou-a e prometeu que voltaria trazendo netos e esposa para  conhecê-la. Agora, ele poderia voltar à casa, porque  aquele que não o amava,  não estava mais lá para dar-lhe conselhos ácidos nem para criticá-lo.
  • 11.
  • 12. Foi um gesto mecânico que, minutos depois de começar a viagem, meteu a mão  no bolso e sentiu o presente. O foco mortiço da luz do  bagageiro, revelou  uma pequena caderneta de capa vermelha. Abriu-a curioso.
  • 13. Páginas amareladas. Na primeira, no alto, reconheceu a  caligrafia firme do  pai: "Nasceu hoje o José Roberto. Quase quatro quilos!  O meu primeiro filho,  um garotão! Estou orgulhoso de ser o pai daquele que será a minha  continuação na Terra!".
  • 14. À medida que folheava, devorando cada anotação, sentia um aperto na boca do estomago, mistura de dor e perplexidade, pois as imagens do passado ressurgiram firmes e atrevidas como se acabassem de acontecer!
  • 15. "Hoje, meu filho foi para escola. Está um homenzinho!  Quando eu vi ele de uniforme, fiquei emocionado e desejei-lhe um futuro  cheio de sabedoria. A vida dele será diferente da minha, que não pude estudar  por ter sido  obrigado a ajudar meu pai. Mas para meu filho desejo o melhor. Não permitirei que a vida o castigue".
  • 16.
  • 17. José Roberto mordeu os lábios. Lembrava-se da sua intolerância, das brigas feitas para ganhar a sonhada bicicleta. Se todos os  amigos ricos tinham uma,  por que ele também não poderia ter a sua?
  • 18. "É duro para um pai castigar um filho e bem sei que ele poderá me odiar por isso; entretanto, devo educá-lo para seu próprio bem."   "Foi assim que aprendi a ser um homem honrado e esse é  o único modo que sei  de ensiná-lo".
  • 19.   José Roberto fechou os olhos e viu toda a cena quando por causa de uma  bebedeira, tinha ido para a cadeia e naquela noite, se o pai não tivesse  aparecido para impedi-lo de ir ao baile com os amigos...
  • 20. Lembrava-se apenas do automóvel retorcido e manchado de  sangue que tinha  batido contra uma árvore... Parecia ouvir sinos, o choro da cidade inteira enquanto quatro caixões seguiam lugubremente para o  cemitério.
  • 21. As páginas se sucediam com ora curtas, ora longas anotações, cheias das respostas que revelam o quanto, em silêncio e amargura,  o pai o havia amado.   O "velho" escrevia de madrugada.
  • 22. Momento da solidão, num grito de silêncio, porque era desse jeito que ele era, ninguém o havia ensinado a chorar e a dividir suas dores, o mundo esperava que fosse durão para que não o julgassem nem  fraco e nem covarde.   E, no entanto, agora José Roberto estava tendo a prova que, debaixo daquela  fachada de fortaleza havia um coração tão terno e cheio de amor.
  • 23. A última página. Aquela do dia em que ele havia  partido:  - "Deus, o que fiz de errado para meu filho me odiar tanto? Por que sou considerado culpado, se nada fiz, senão tentar  transformá-lo em um homem de  bem?"
  • 24.   "Meu Deus, não permita que esta injustiça me atormente para sempre. Que um dia ele possa me compreender e perdoar por eu não ter sabido ser o pai que ele merecia ter."
  • 25. Depois não havia mais anotações e as folhas em branco davam a idéia de que o  pai tinha morrido naquele momento, José Roberto fechou  depressa a caderneta,  o peito doía. O coração parecia haver crescido tanto,  que lutava para escapar pela boca. Nem viu o ônibus entrar na  rodoviária, levantou aflito e  saiu quase correndo porque precisava de ar puro para respirar
  • 26. A aurora rompia no céu e mais um dia começava.  "Honre seu pai para que os dias de sua velhice sejam tranqüilos!" - certa  vez ele tinha ouvido essa frase e jamais havia refletido o na profundidade  que ela continha. Em sua egocêntrica cegueira de  adolescente, jamais havia  parado para pensar em verdades mais profundas.
  • 27.   Para ele, os pais eram descartáveis e sem valor como as embalagens que são  atiradas ao lixo. Afinal, naqueles dias de pouca reflexão tudo era juventude, saúde, beleza, musica, cor, alegria,  despreocupação, vaidade. Não era ele um semideus?
  • 28. Agora, porém, o tempo o havia envelhecido, fatigado e também tornado pai aquele falso herói. De repente. No jogo da vida, ele era  o pai e seus atuais contestadores.
  • 29. Como não havia  pensado nisso antes? Certamente por não ter tempo, pois andava muito ocupado  com os negócios, a luta pela sobrevivência, a sede de passar fins de  semana longe da cidade  grande, a vontade de mergulhar no silêncio sem precisar  dialogar com os  filhos.
  • 30. Ele jamais tivera a idéia de comprar uma cadernetinha de capa vermelha para anotar uma frase sobre seus herdeiros, jamais lhe  havia passado pela cabeça escrever que tinha orgulho daqueles que continuam o seu nome.   Justamente ele, que se considerava o mais completo pai da Terra?
  • 31. Uma onda de vergonha quase o prostrou por terra numa derradeira lição de  humildade. Quis gritar, erguer procurando agarrar o  velho para sacudi-lo e  abraçá-lo, encontrou apenas o vazio.
  • 32. Havia uma raquítica rosa vermelha num galho no jardim de uma casa, o sol  acabava de nascer. Então, José Roberto acariciou as  pétalas e lembrou-se da  mãozona do pai podando, adubando e cuidando com amor.   Por que nunca tinha  percebido tudo aquilo antes?
  • 33.
  • 34. "FALE, CURTA, ABRACE, BEIJE, SINTA E AME TODAS AS  PESSOAS COM QUE VOCÊ PODE  VER E TOCAR"   APROVEITE!!!