2. Sobre esse tema, que nos induz a refletir sobre a postura do Espírito diante
das adversidades da vida, fomos buscar no livro Almas em Desfile, do
Espírito Hilário Silva, uma estória intitulada “A Tira de papel”. (Momentos
de Paz Maria da Luz).
Nos conta assim o autor espiritual:
A sessão terminara. Armindo pensava, enquanto as pessoas deixavam o salão.
Ali viera pela primeira vez por insistência de amigos que lhe indicaram o
Espiritismo como recurso para asserenar-lhe a angústia. Ecoavam nele, ainda,
as palavras do orador, moço a brandir verbo firme e brilhante:
- A fé em Deus traz a alegria de viver. É sol na alma. Tenhamos confiança e,
sobretudo, ajudemos aqueles que não a possuem, confortando os
desesperados.
3. Ajudar a alguém é ajudar-nos. Servir é servir-nos. E Armindo cismava: O
pregador diz essas coisas, mas não creio que as faça. É muito moço ainda.
Cheio de vida. Quero ver quando chegar na minha idade. Cinquenta e seis
anos. Quanta decepção! Quanta dor! E, meditando, não percebeu que quase
todos os circunstantes já se haviam retirado, deixando-o quase só. Armindo
levanta-se e vê um montículo de papel sobre a mesa. São pequenas tiras
indicando os nomes de doentes que haviam recorrido às orações daquela
noite no templo espírita. Brota-lhe uma ideia de súbito. Apanharia um nome e
aplicaria os conselhos ouvidos. Consolaria a alguém necessitado, tentando
melhorar a sua própria mente. Toma de um pedacinho de papel e lê nele um
nome de mulher, com o endereço respectivo.
4. Amanhã é domingo, refletiu. Visitarei essa pessoa pela manhã. Realmente, às
oito horas batia à porta de pequena casa, a desmoronar-se em bairro distante.
Mocinha triste atende. Armindo pergunta pela mulher indicada. E a jovem
fala baixinho: Meu senhor, Conceição acaba de desencarnar. Entre, faça o
favor. Emocionado, Armindo vê junto a catre paupérrimo duas senhoras
humildes compondo o corpo inerte de mulher moça, observadas por duas
crianças de olhar agoniado. Depois das saudações, uma das senhoras assinala,
discreta; era câncer. Descansou, coitada. Há três meses vinha sofrendo
horrivelmente. Armindo, consternado, ouviu o esclarecimento. Nisso, um
homem penetra no quarto penumbroso. É o marido da morta e pai dos
meninos, esclarece a senhora, falando de novo.
5. Armindo dirige-se para ele, fazendo menção de cumprimentá-lo, e,
extremamente surpreendido, reconhece nele o orador da noite precedente, de
olhos molhados, mas de fisionomia tranquila.
REFLEXÃO:
O maior testemunho da fé em Deus e da compreensão da sua misericórdia
infinita pode ser observado nos primeiros cristãos que eram trucidados na
arena, e lá compareciam cantando glória ao Senhor e sentindo alegrias diante
da morte. Sua resignação, sua fé foi o maior exemplo que a humanidade da
época pôde ter da sobrevivência do Espírito após a morte do corpo.
Nossa verdadeira pátria é a pátria espiritual. As vidas na matéria são
necessárias para o desenvolvimento de valores essenciais ao Espírito.
6. O que ocorre no plano espiritual é o oposto daquilo que ocorre na Terra.
Quando alguém nasce na Terra é motivo de alegria para aqueles que aqui
estão e de apreensão para aqueles que estão na espiritualidade. Quando morre
alguém na Terra, é motivo de tristeza para aqueles que aqui ficam e de alegria
para a família espiritual que o aguarda. No plano espiritual encontram-se não
só nossos guias, nossos instrutores, mas também nossa extensa família
composta por seres que já compartilharam conosco outras experiências e que
nutrem por nós afeto sincero. Eles temem por nós e procuram ajudar o quanto
podem para que cresçamos e sejamos vencedores em nossas provas de
aprendizado e regeneração. Assim, diante das adversidades, amplia tua
compreensão, e não te lastimes.
7. Diante das doenças do corpo, persevere em tua fé e pede forças ao Criador
para melhor suportar aquilo que te cabe como prova na Terra. Diante da perda
de pessoas amadas, não percas a esperança do reencontro e pede a Jesus que
aquele que se foi possa ser amparado e esclarecido quanto à sua real situação.
Diante da doença incurável ou da expiação através de defeitos físicos ou de
deformações do corpo ou da mente, amplia a percepção para a vida futura, na
certeza de que todas as dores passarão, todas as lágrimas serão consoladas e
todas as experiências renovadas pelo Criador. Mantém tua fé e permanece
pronto para servir em todas as circunstâncias, lembrando-te de que é
consolando que se é consolado, de que é servindo que somos servidos.
Prepara-te para o bem viver e para o bem morrer com a certeza de que tudo
fizeste para tua evolução crescente, adotando a caridade como meio ...
8. De bem viver e a resignação e a fé como força para não temermos a morte.
Não te percas, pois, em lágrimas que não têm significado. Chora de emoção,
mas nunca chores por revolta ou apego. Não fiques ligado naquele que se foi,
pois ele necessita continuar sua caminhada na Espiritualidade. Crê na
misericórdia Divina que sempre oportuniza a seus filhos as experiências que
eles necessitam para sua evolução espiritual. Recebe a bem-aventurança do
consolo que Jesus nos ofereceu pela fé em tua vida eterna e no ciclo contínuo
da reencarnação como instrumento de progresso espiritual. Segue aquilo que
o Espírito da Verdade nos recomendou em “O Evangelho Segundo o
Espiritismo”, aprendendo a amar, mas buscando a instrução necessária para
melhor compreender quem és e qual o teu destino. Adota o Espiritismo em
tua vida como fonte de consolo e como guia de evolução.
9. Em seu Evangelho de amor, Jesus disse que ainda não falara todas as coisas,
mas que, no futuro, enviaria o Consolador, que nos diria tudo o que Ele disse
e traria os esclarecimentos necessários. De fato, na época em que Jesus
pregou Sua Verdade, nem todos estavam prontos para compreender a
extensão de seus ensinamentos. Daí Ele precisar falar por meio de parábolas.
Principalmente no tocante à sobrevivência da alma após a morte e a sua volta
à Terra em ciclos sucessivos de reencarnação, Jesus limitou-se a apresentar a
necessidade de nascer de novo. A religião cristã assumiu, ao longo de sua
implantação, interpretações pessoais, humanas, que impediram e desviaram a
compreensão do sentido correto do nascer de novo. (Em verdade vos digo
que não entrará no Reino dos Céus aquele que não nascer de novo).
10. Com o advento da Doutrina Espírita, a noção do nascer de novo ficou
esclarecida frente àquilo que a razão nos apresenta. Muitos, entretanto, não se
sentem capazes de aceitar o fato da reencarnação, alegando que uma vida só
basta para tanto sofrimento ou que não suportariam ter de viver em condições
mais precárias, quando hoje se dispõe de tantos recursos. Ao rico dói pensar
que poderia ser pobre, ao poderoso pode parecer ser mais difícil perder a
autoridade que hoje desfruta. Mesmo com todos esses desvios de
pensamento, fica claro e lógico para nós que o Espírito não alcança, de uma
só vez ou numa única experiência terrena, toda a sabedoria e amor
necessários para entrar no Reino dos Céus, entendendo-se como tal os planos
superiores da Espiritualidade.
11. Diante deste fato, isto é, diante da lógica da reencarnação, o Cristianismo
passa a nos parecer mais justo e consolador, permitindo-nos interpretar
melhor as palavras de Jesus quando nos disse: Bem-aventurados os que
choram, pois serão consolados. É essa certeza que transforma o espírita em
uma pessoa mais resignada, com a compreensão dilatada em relação ao fato
da vida e da morte, e ainda a suportar com mais entendimento suas
vicissitudes pela perda das pessoas amadas. O Espiritismo nos ajuda a
compreender melhor esses fatos e a enfrentar com mais coragem os embates
da vida, certos de que não existem dores e sofrimentos eternos e que em cada
existência o Espírito se adianta na direção de Deus.
12. Muita Paz!
Meu Blog: http://espiritual-espiritual.blogspot.com.br
Com estudos comentados de O Livro dos Espíritos, de O Livro dos Médiuns,
e de O Evangelho Segundo o Espiritismo.