Este documento discute a fisiopatologia do ritmo cardíaco, abordando:
1) A via normal de condução elétrica do coração;
2) As fases do potencial de ação;
3) Os principais mecanismos das arritmias cardíacas, incluindo automaticidade alterada, automaticidade deflagrada e reentrada.
1. Fisiopatologia do Ritmo Cardíaco
Tópicos:
1- Via normal da condução elétrica do coração
2- Fases do potencial de ação
3- Principais mecanismos das arritmias cardíacas
Prof. Caio SM Motoyama
(incor.usp.br)
2. James TN. Am Heart J 1961, 62:756.
CVSJr.
Via Normal da Condução Elétrica no Coração
Nó sinusal
Nó atrioventricular
Ramo esquerdo
Ramo direito
Cél. miocárdica Fibra de Purkinje
Nó sinusal
Diferenças histológicas entre o sistema de condução vs o miocárdio
• Velocidade de condução do impulso vs contratilidade
• Citoplasma organelas e miofibrilas: vs
• Concentrações iônicas diferentes
3. Becker AE, Anderson RH 1976
Spach MS, Lieberman M, Scott JG. Circ Res 1971, 29:156.
CVSJr.
Via Normal da Condução Elétrica no Coração
• Inervação cardíaca: SNA
(simpática e
parassimpática)
• Variação circadiana: 40
bpm (sono) a 90 bpm
(vigília)
4. • Células cardíacas adequadamente estimuladas
desenvolvem potenciais de ação.
• Estes potenciais são alterações do potencial da
membrana que se desencadeiam toda vez que o
estímulo tem intensidade suficiente para atingir um
limiar de excitação.
• Em repouso, existe uma polarização de cargas, com
concentração de cargas positivas fora da célula e
negativas dentro dela.
Formação e condução normal do impulso
5. • Durante a propagação do impulso ocorre um ciclo de
despolarização (o potencial transmembrana se inverte e
torna-se positivo na face interna da membrana), seguido
de repolarização (há retorno da polaridade ao seu valor
inicial).
• O potencial de repouso da membrana resulta da
diferença de cargas elétricas intra e extracelulares.
• Em geral, encontra-se entre -80 e -90 mV.
Formação e condução normal do impulso
6. Registro de Potenciais de Membrana
CVSJr. Cranefield - 1995
-90
0 +30 -90
+20
0
-20
-40
-60
-80
-100
mV
Cél. cardíaca
7. James TN. Am Heart J 1961, 62:756.
CVSJr.
Via Normal da Condução Elétrica no Coração
Concentrações iônicas da célula cardíaca:
diferenças intracelular e extracelular
Íon [ E ] [ I ] [ E ] : [ I ] Potencial de Equilíbrio
mM mM mV
Na 145 15 9,7 + 60
K 4 150 0,027 - 94
Cl 120 5 24 - 83
Ca 2 10-7 2x104 + 129
8. James TN. Am Heart J 1961, 62:756.
CVSJr.
Via Normal da Condução Elétrica no Coração
Concentrações iônicas da célula cardíaca:
diferenças intracelular e extracelular
Potencial de repouso
• Potencial intracelular em repouso (diástole): -50 a -90 mV,
dependendo da célula.
• As células possuem concentrações diferentes de K+, Na+, Cl-, e Ca2+
através da membrana.
• Bomba Na/K
• Bombeia Na+ para fora ao mesmo tempo que traz K+ para dentro
da célula
• 3 Na+ : 2K+
• Dependente de ATP
9. James TN. Am Heart J 1961, 62:756.
CVSJr.
Via Normal da Condução Elétrica no Coração
Propriedades dos potenciais transmembrana
NSA FP Cél. ventricular
PR (mV) -50 a -60 -90 a -95 -80 a -90
PA (mV) 60 a 70 120 110 a 120
Vel. de
propagação (M/s) <0,05 2 a 3 0,3 a 0,4
Diâmetro da fibra (m) 5 a 10 100 10 a 16
Nervo: alguns mseg
Fibras cardíacas: alguns centésimos de seg
10. Fases do Potencial de Ação
CVSJr.
Reversível
Potencial
de Repouso
Despola-
rizado
Fase 1
Fase 2
Fase 3
Fase 4
Fase 0
Hiperpolarizado
-90
0
+30 Quando uma célula em
repouso é atingida por um
estímulo elétrico,
desencadeia-se o potencial
de ação. Ele foi dividido,
didaticamente, em cinco
fases.
11. Fase 1
• Estímulos elétricos, químicos e mecânicos desencadeiam uma
elevação da permeabilidade da membrana ao Na+ que
penetra na célula (Fase zero).
• O potencial de membrana se altera e ao atingir o limiar de
excitação (-70 a -65 mV) desencadeia a abertura explosiva dos
“canais rápidos de Na+”.
• Os canais iônicos são macromoléculas que formam poros na
membrana celular. Esses canais são vias de baixa resistência
à condução de íons (Na+, K+, Ca2+ e Cl-), sendo que sua
abertura ou fechamento depende das condições elétricas da
membrana.
Fase 1
Fase 2
Fase 3
Fase 4
Fase 0
Fases do Potencial de Ação
CVSJr.
12. Fase 1
(Continuação)
• Conseqüentemente, após influxo de Na+, o potencial da
membrana atinge valores de +20 a +35 mV.
• Após a espícula inicial do potencial de ação ocorre um rápido
período de repolarização com o potencial de membrana
atingindo valores próximos de 0 mV.
• Esta fase é denominada de “Fase 1” e ocorre pela inativação
da corrente rápida de sódio e pela saída de potássio.
Fase 1
Fase 2
Fase 3
Fase 4
Fase 0
Fases do Potencial de Ação
CVSJr.
13. Fase 2
Segue-se um período em que a membrana permanece
despolarizada por 0,2 a 0,3 segundos criando um platô, a
“Fase 2” do potencial de ação, onde há influxo de cálcio.
Fase 3
Com o fechamento dos canais lentos de cálcio e com a
restauração da alta permeabilidade da membrana ao
potássio, inicia-se um período de repolarização rápida,
denominado de “Fase 3”.
Fase 1
Fase 2
Fase 3
Fase 4
Fase 0
Fases do Potencial de Ação
CVSJr.
14. Fase 4
• O sódio acumulado no espaço intracelular nas fases 0 e 2 é trocado
pelo potássio extracelular que deixou a célula nas fases 2 e 3, pela
atividade da bomba de sódio-potássio-ATPase.
• São eliminados 3 íons sódio para cada 2 íons potássio apreendidos,
criando uma corrente de “perda” de cargas positivas que restabelece
o potencial de repouso da membrana.
Este tipo de potencial de ação descrito é encontrado nas
células do músculo cardíaco contrátil e nas células de
Purkinje, conhecidas como células de resposta rápida.
Fase 1
Fase 2
Fase 3
Fase 4
Fase 0
Fases do Potencial de Ação
CVSJr.
15. Movimento de Íons Durante o Potencial de Ação Cardíaco
CVSJr.
0 = Despolarização
1 = Repolarização
2 = Platô
3 = Repolarização rápida
4 = Potencial de repouso
Fases da chave
CI- entrada
K+ saída
1
Ca++entrada
K+ saída
2
3 K+ saída
4
4
0
Na+
entrada
+20
0
-90
Potencial
Trasmembrana
(mV)
16. • O ECG é o registro gráfico das correntes elétricas
produzidas pelo coração e é fundamental no estudo
das arritmias.
• A atividade elétrica cardíaca registrada se apresenta
sob a forma de ondas e complexos que foram
denominadas, arbitrariamente e em seqüência, de
onda P, complexo QRS e onda T.
17. • A onda P representa a despolarização dos átrios, o
complexo QRS a despolarização dos ventrículos e a
onda T a repolarização dos ventrículos.
• A repolarização atrial não é registrada porque
acontece simultaneamente ao complexo QRS
18. Correlação entre Potencial de Ação Ventricular e o ECG
CVSJr.
4
0
1 2
3
4
Potencial
de ação
ventricular
ECG
P T
Complexo
QRS
19. Potenciais de Ação Típicos de Tecidos Cardíacos
CVSJr. Bigger, Brannwald - 1980
Nó sinusal
Músculo atrial
Nó AV
Fibra de Purkinge
Músculo ventricular
ECG
QRS
P
T
200 msec
20. Correlação entre Anatomia do Sistema Elétrico
Cardíaco e o ECG
Músculo atrial
Nó sinusal
Vias de condução
intra-atriais
Nó AV
Feixe de His
Ramos D e E
Rede de Purkinje
Músculo ventricular
VCS
VCI
AD
VD
VE
AE
P
QRS
Mirvis DM - 1990
CVSJr.
21. Propriedades Eletrofisiológicas Básicas do Tecido Cardíaco
Excitabilidade
Automaticidade*
Condutividade
Refratariedade
CVSJr.
*Algumas células cardíacas: As células não-automáticas requerem um estímulo
extrínseco enquanto que as células automáticas atingem o limiar
espontaneamente durante a diástole elétrica. O nó sinusal possui o maior grau de
automatismo e por isso é chamado de “marcapasso do coração”.
22. Limiar do Potencial de Ação
Potencial
(mV)
1
2
0 3
4
c
b
a
4
0
3
0
-50
-65
-65
-90
0
Potencial
(mV)
Despolarização da célula
não-automática
(fibra de Purkinje)
Despolarização da célula
automática
Hoffman, Cranefield - 1987
CVSJr.
Lento
Rápido
23. • As células dos nódulos sinusal (NSA) e átrio-ventricular
(NAV) apresentam outro tipo de potencial de ação e são
denominadas de células de resposta lenta ou marcapasso.
• O canal rápido de sódio somente é ativado quando o
potencial de membrana é mais negativo do que cerca de -
60 mV.
• Estes canais não operam nas células marcapasso, pois
estas se despolarizam lenta e espontaneamente até valores
negativos menores que -50mV, onde apenas os canais
lentos operam.
• Também não ocorre o platô e a fase 4 é ascendente.
• O NSA possui intensa propriedade de auto-excitação,
assumindo assim o controle dos batimentos cardíacos.
25. Principais Mecanismos das Arritmias Cardíacas
Automaticidade alterada
Automaticidade deflagrada
Re-entrada
Estimulação durante o
“Período vulnerável”
CVSJr.
26. Principais Mecanismos das Arritmias Cardíacas
Automaticidade alterada
Automaticidade deflagrada
Re-entrada
Estimulação durante o
“período vulnerável”
CVSJr.
Formação de impulso
(ritmicidade)
Condução de impulso
27. CVSJr.
Arritmias Cardíacas
Patogênese – Arritmias que resultam de alterações da:
• Formação de impulso
• Bradicardia ou taquicardia sinusal
• Escapes atrial, juncional ou ventricular
• Taquicardia atrial (ex. intoxicação digitálica)
• Parasístole
• Condução de impulso
• Flutter atrial
• Fibrilação atrial
• Re-entrada sinoatrial
• Taquicardia por re-entrada
• Taquicardia ventricular
• Fibrilação ventricular
• Flutter ventricular
28. Fatores que Influenciam a Automaticidade
Tono simpático
Catecolaminas
Parasimpáticos
CO2
Oxigênio
Acidose
Hipertermia
Estiramento
Digital
Potássio
Cálcio
Tono simpático
Catecolaminas
Parasimpáticos
CO2
Oxigênio
Acidose
Hipotermia
Estiramento
Antiarrítmicos
Beta-bloqueadores
Potássio
Cálcio
Autonômico
Metabólico
Mecânico
Drogas
Eletrolíticos
Aumenta Diminui
CVSJr.
29. Condução Anormal: Re-entrada
Causas:
Insuficiência cardíaca
Isquemia (> gravidade)
Doença valvar
Cirurgia cardíaca
Desequilíbrio eletrolítico
Efeitos clínicos possíveis*:
Despolarização atrial prematura
Taquicardia supra ventricular
Taquicardia ventricular
Arritmia nas síndromes de pré-excitação
* Depende do local
CVSJr.
30. Condições Necessárias para Re-entrada
Circuito
em alça
1 2 3
Via
não-contígua
Circuito
em alça
+
Bloqueio
unidirecional
+
Zona de
condução lenta
Circuito
em alça
+
Bloqueio
unidirecional
CVSJr.
31. Re-entrada em Tecidos Cardíacos
Estímulo
Área de
condução
lenta
Zona de bloqueio
unidirecional
1
2
3
Cranefield - 1992
CVSJr.
Múltiplas
saídas
32. Zonas de Perigo para Fibrilação Ventricular
no Ciclo Cardíaco
Lown. JAMA. - 1979
100
80
60
20
0 40 80 120 160 200
FA = Fibrilação Atrial
FV = Fibrilação Ventricular
Zona
de FA
Zona
de FV
P
T
QRS
msec.
Fibrilação,
%
CVSJr.
33.
34. Locais de Re-entrada de Três Arritmias Principais
Taquicardia
Supraventricular Taquicardia
Ventricular
Síndrome de
Wolff-Parkinson-White
CVSJr.
Nó AV
37. Muitos aspectos da eletrofisiologia cardíaca podem ser atribuídas à
variações na expressão de genes específicos ou à variabilidade da
função de produtos proteicos.
Distúrbios Arritmogênicos Hereditários
• Síndrome de QT longo
• Miocardiopatia hipertrófica familiar
• Displasia arritmogênica de ventrículo direito
• Fibrilação ventricular idiopática e síndrome de Brugada
• Fibrilação atrial
• Bloqueio cardíaco progressivo familiar
• Síndrome Wolff-Parkinson-White familiar
Biologia Molecular e Arritmias
CVSJr. Priori S. Circulation 1999;99:518-28.
40. Alteração da Automaticidade
Despolarizaçao
Diastólica Lenta
Produção de
Hiperpolarização
Diastólica
Aumento
do Limiar
Potencial de
Membrana (mV)
80 80 80 80
Schamroth - 1990
Marcapasso sinusal
Marcapasso Ectópico
Tempo
1 2 3 4
Mecanismos para Redução do Rítmo de Marcapasso
Quatro Mecanismos pelo qual Marcapasso Ectópico se torna Dominante
CVSJr.
41. Automaticidade Anormal: Atividade Deflagrada
Formas de Potenciais Tardios
Pós-
despolarização
precoce
Pós-hiperpolarização precoce
Potenciais tardios na
Atividade Deflagrada
= Espícula de marcapasso
500msec
25mV
Pós-
despolarização
tardio
Potencial Tardio
CVSJr.