Este documento discute a importância da metapesquisa para a construção do capital teórico sobre interações midiatizadas e a midiatização da sociedade. A metapesquisa identificou que esses temas ainda são pouco estudados no Brasil e que há dispersão e falta de sistematização teórica. Várias perspectivas teóricas são discutidas para analisar essas interações de forma comunicacional, incluindo a sociossemiótica. A midiatização é vista como uma nova ordem comunicacional.
A metapesquisa e a construção do capital teórico sobre interações midiáticas
1. APORTES PARA NOVA VISADA DA
METAPESQUISA EM
COMUNICAÇÃO
MARIA ÂNGELA MATTOS, RICARDO COSTA VILLAÇA
2. PROPOSTA DO ARTIGO
• Realiza uma reflexão sobre a importância da
metapesquisa para a construção de capital teórico nas
pesquisas sobre interação midiatizada e midiatização
das sociedades contemporâneas;
• Apresenta perspectivas de análise adotadas pelos
autores dedicados ao tema em questão, entre os anos
2000 e 2009.
• Objetivo: contribuir para a construção do marco teórico
da metapesquisa: A construção do capital teórico
sobre os processos de interação midiatizada nos artigos
científicos apresentados nos eventos nacionais da
Compós e Intercom durante os anos 2000.
3. QUESTÃO CENTRAL
• “[...]de que forma os aportes teóricos estão sendo
compreendidos, apropriados, ressignificados e
articulados com os objetos analisados nesses
artigos?”
4. ESTUDO DAS INTERAÇÕES ATÉ HOJE
• O estudo das interações midiatizadas e da
midiatização ainda não se estabeleceu como área
de pesquisa consolidada e legitimada.
• Os estudos de comunicação ainda mantêm o foco
sobre os condicionantes socioculturais das
interações, negligenciando a dimensão
comunicacional ; ou optam pela abordagem
tecnológica, em lugar de uma abordagem
processual
5. AINDA A VISÃO FUNCIONAL-
TECNICISTA
• De diferentes maneiras, ainda se privilegia o olhar
para o tradicional desenho: emissor – receptor –
estímulo-resposta.
• De maneira ainda tímida, o aspecto interacional
começa a emergir na literatura recente, porém, de
forma ainda parcial e redutora. Pecam pela ênfase
no aspectos técnicos da interatividade das mídias,
em detrimento da dimensão relacional.
6. PARADOXO
Ainda assim, tem crescido o número de artigos,
teses, dissertações e monografias de comunicação
que abordam o assunto sob o foco relacional, e que
buscam romper com a abordagem tecnicista. Tal
fato tem apresentado aspectos positivos
(diversidade) e negativos (fragmentação).
“Daí a importância de se investir no desenvolvimento
de metas pesquisas que possibilitem maior
sistematização e autorreflexão sobre os aportes
teóricos e metodológicos das pesquisas
desenvolvidas” (Marques , Villaça, 2011).
7. A IMPORTÂNCIA DA METAPESQUISA
• Permitir o início da consolidação do campo acadêmico
da comunicação, identificando as tendências de
utilização de determinadas perspectivas teóricas e
epistemológicas, ou de certos autores e obras na
elaboração dos artigos.
• Permitir a superação do desafio de identificar o
comunicacional ao lidar com a diversidade de aportes
teórico-epistemológicos provenientes de outras áreas
de conhecimento.
• Possibilitar o desenvolvimento de autorreflexões
sistemáticas e críticas das investigações.
8. O QUE A METAPESQUISA EM QUESTÃO
JÁ IDENTIFICOU
• Conforme já apresentado, o tema das interações
midiatizadas e midiatização da sociedade
contemporânea não se reflete significativamente
na produção científica do universo estudado.
• Exemplo mexicano: Estudo que investiga a
dimensão comunicativa da interação abordada
na literatura de referência daquele país mostra que
o tema tem pouca presença no campo, e as obras
de referência não pertencem à comunicação.
9. O QUE A METAPESQUISA IDENTIFICOU
NA PRODUÇÃO BRASILEIRA
• Ausência quase total dos temas “interação comunicacional”, “interações
midiáticas” ou “midiatização” nas denominações das 42 áreas de concentração
e 97 linhas de pesquisa no conjunto de 39 programas de pós-graduação em
comunicação existentes no Brasil em 2010.
• Apenas uma área e duas linhas adotam o termo interação. “Em relação à
Compós, por exemplo, em apenas um grupo aparece o termo “interacional”. Já
na Intercom não existe nenhum núcleo ou grupo de pesquisa que recebe tal
denominação”. (Mattos, Villaça, 2011)
• Na produção científica nacional, a interação midiatizada se apresenta com
problemas tais como:
• dispersão temática,
• ênfase na pesquisa empírica
• incipiente sistematização teórica
“Dito em outros termos, há carência de metas pesquisas que situem e
analisem os quadros interpretativos utilizados nos estudos da área,
discutindo sua validade, relevância e pertinência para o avanço do saber
comunicacional”. (Mattos, Villaça, 2011)
11. CAPITAL TEÓRICO E CAPITAL
COMUNICACIONAL
• Capital teórico
“Locus de construção, sistematização e acumulação de
conhecimentos de determinada área de conhecimento e de
articulação com outros saberes que abordam objetos e
problemáticas afins. Trata-se também de instância
responsável pela reflexão e revisão crítica de teorias,
conceitos, categorias, métodos e objetos de investigação
peculiares a um campo de conhecimento, originários ou não
do seu interior”; (Mattos, Villaça, 2011)
• Capital comunicacional ( entendido como saber
comunicacional)
Para os autores, o termo capital conota possibilidades de
acumulação, convertibilidade e reciprocidade, conforme
definido por Bourdieu e Matos.
12. POR QUE CAPITAL COMUNICACIONAL?
“Podemos depreender daí que a comunicação,
enquanto área de conhecimento está em
permanente processo de constituição e susceptível
às mudanças de paradigmas, modelos teóricos,
conceitos, métodos e às contribuições de outros
saberes, sem perder, no entanto, sua especificidade
epistemológica. Por tais razões, a expressão capital
comunicacional não apenas se justifica, mas possui
potencial heurístico para compreensão de objetos
de estudo mutáveis e dinâmicos, como o da
comunicação”. (Mattos e Villaça, 2011)
13. CONSTRUINDO CAPITAL
COMUNICACIONAL
A construção do capital comunicacional está
relacionada à forma como ele se articula com
outros saberes e como se apropria de seus aportes,
para interpretar os processos da comunicação,
“desentranhando” daí aquilo que é propriamente
comunicacional.
14. SOBRE O CAPITAL TEÓRICO
O capital teórico das interações midiatizadas é
avaliado sob o mesmo enfoque do capital
comunicacional, devendo, igualmente, “isolar” os
elementos puramente comunicacionais nas
conversações cotidianas.
15. ISOLANDO OS ELEMENTOS
COMUNICACIONAIS NAS INTERAÇÕES
Processos de interação pensados a partir da Sociologia
compreensiva (ciência social em que os múltiplos fatores se
encontram relacionados e se explicam reciprocamente ), que
oferece aparato conceitual que permite apreender os
diferentes modelos de interação, coexistentes e não
excludentes, já que interagem entre si. :
•Interacionismo Simbólico (concentra-se nos processos de
interação social - que ocorrem entre indivíduos ou grupos -
mediados por relações simbólicas)
•Etnometodologia (considera que a realidade socialmente
construída está presente na vivência cotidiana de cada um e
que em todos os momentos podemos compreender as
construções sociais que permeiam nossa conversa, nossos
gestos, nossa comunicação etc)
•Sociofenomenologia,entre outras.
16. ISOLANDO OS ELEMENTOS
COMUNICACIONAIS NAS INTERAÇÕES
• Sociossemiótica : Landowski defende a construção
de modelos interpretativos flexíveis, mas, ao mesmo
tempo rigorosos, capazes de analisar espaços
midiáticos emergentes que comportam distintos
regimes de interação e de produção de sentido.
• 1) Junção: adaptação unilateral entre um sujeito e
um parceiro
• 2) União: interação regida pela descoberta mútua
• 3) Programação: regras ou hábitos, rituais.
• 4) Assentimento: interação assentada no regime de
aceitação.
17. CONCEPÇÃO SOCIOSSEMIÓTICA
• Essa perspectiva contribui para se difundir na literatura
da área a concepção de que hoje, “estudos sobre o
encontro midiático enquanto experiência vivida do
sentido oriunda das dinâmicas temporais, espaciais e
intersubjetivas, com as quais permite jogar a co-
presença em ato, ao vivo, ainda que midiatizada, dos
actantes da enunciação” .(Landowski, apud Mattos,
Villaça, 2011)
• Landowski busca no ambiente midiático as evidências
de compartilhamentos simbólicos constróem “modos de
presença, formas de contato com o outro, que,
conquanto sejam da ordem do simulacro, atuam com
toda eficácia no plano do vivido” . (Landowski, apud
Mattos, Villaça, 2011)
18. CONCEPÇÃO SOCIOSSEMIÓTICA
• Oliveira investiga as interações entre as instâncias de
produção e as de apreensão. Para a autora, é na
instância da produção da interação que se estabelece
o modo da significação ser capturada pelo destinatário
a partir de um agir que se produz por meio da volição e
da estesia do enunciatário. Tal relação, segundo a
autora, é apreendida “não apenas por meio de uma
racionalidade, mas, sobretudo, por uma sensibilidade
que deles emana e os faz ter sentidos”. (OLIVEIRA, apud
Mattos, Villaça, 2011).
• Estratégias sensíveis em substituição às análises que se
pautavam pela manipulação do destinatário por parte
do emissor.”numa espécie de cultura das sensações e
emoções” (Mattos, Villaça, 2011). Aqui, o receptor deixa
de ser um elemento passivo.
19. INTERAÇÕES VERBAIS MIDIATIZADAS
• Embasado no campo da semiótica e da sociologia
compreensiva, Rodrigues apresenta a interação
discursiva e toda a sua complexidade, que não é
restrita ao aspecto verbal, mas também ao paraverbal
e ao extraverbal utilizado pelos falantes.
• Como aspectos paraverbais, temos: entonação, timbre
de voz, intensidade, altura.
• Como aspectos extraverbais, temos: gestos e expressões
corporais, nos olhares, na mímica, nos sorrisos.
O autor entende que os estudos de interação verbal
buscam identificar normas que os falantes respeitam e
os seus condicionamentos em situações de interação.
20. INTERAÇÕES VERBAIS MIDIATIZADAS:
• Rodrigues destaca a importância dos estudos das
interações midiatizadas muito em razão da
presença cotidiana dos programas de
conversação pela internet, que “midiatizam, de
maneira cada vez mais realista, grande parte dos
componentes de interação verbal, criando, assim,
efeito de copresença física dos interactantes”.
(Rodrigues, apud Mattos, Villaça, 2011).
• O autor entende que a interação midiatizada
constitui-se em forma particular de interação, que
possui como característica diferencial o fato de
acontecer em ambiente midiático.
21. INTERAÇÕES VERBAIS MIDIATIZADAS
• Braga adota perspectiva diversa de Rodrigues. Para o
autor, as interações midiatizadas possuem
configurações específicas, que ocorrem a partir das
atuação da mídia na vida social e vice-versa. Ela é uma
interação gerada a partir de produtos midiáticos, que
se expressam nas práticas conversacionais.
• Tal processo gera diferentes níveis de interação:
• a sociedade interage a partir da mídia (conversação social
sobre a mídia),
• a sociedade e seus dispositivos de interação são apropriados,
reapresentados e ressignificados pelos media (conversação
social na mídia) e
• a sociedade incorpora a lógica da mídia nos seus processos
de interação na vida cotidiana (conversação social
midiatizada). “Midiatização”
22. MIDIATIZAÇÃO:NOVA ORDEM
COMUNICACIONAL
• As mídias não são mais acessórios, mas ocupam um
papel central na sociedade contemporânea e
que, segundo os estudiosos do fenômeno, atinge
todos os âmbitos da sociedade.
23. MIDIATIZAÇÃO:NOVA ORDEM
COMUNICACIONAL
• Na nova ordem comunicacional imposta pela
midiatização, a mediação, segundo Gomes, deixa
de ser uma categoria de análise. Para o autor, a
sociedade contemporânea “percebe e se
percebe a partir do fenômeno da mídia, agora
alargado para além dos dispositivos tecnológicos
tradicionais”.
• Na concepção de Gomes, é possível falar da mídia
como “locus de compreensão da sociedade”.
25. CONSIDERAÇÕES DOS AUTORES
• Os debates sobre os conceitos de interações
midiatizadas e midiatização da sociedade
contemporânea ainda são incipientes;
• Existência de perspectivas as mais variadas, que
até mesmo se chocam;
• Muitos trabalhos abordam tangencialmente o
tema;
• A metapesquisa em questão, longe de propor-se a
esgotas as possibilidades de interpretação, tem
como finalidade a elaboração de um mapa
conceitual para o campo.