1) O documento apresenta questionamentos sobre três textos acadêmicos relacionados a comunicação pública e política.
2) Nos questionamentos, a estudante reflete sobre a legitimidade da comunicação como ciência, a especificidade epistemológica da área e o uso de conceitos teóricos.
3) A estudante também questiona aspectos metodológicos dos artigos, como a operacionalização de variáveis e a clareza na explicação dos modelos estatísticos utilizados.
Cap. 13 identificação de enquadramentos nas notícias políticas
Questionamento para encontro 20.02
1. 1
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
PGCOM – ECA
GRUPO DE PESQUISA EM COMUNICAÇÃO PÚBLICA E POLÍTICA
PROFESSORA:Heloiza Matos e Nobre
ALUNA:Patricia Guimarães Gil
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Data do encontro: 20/02/2013
Alguns questionários sobre cada texto
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TEXTO 1
MATTOS, M. A.; VILLAÇA, R.C. Aportes para nova visada da metapesquisa em comunicação
(2011).
Questionamentos:
1) Embora se defensa o diálogo entre teóricos da comunicação e de outras áreas de
conhecimento, compreende-se que o pano de fundo em questão é a própria
legitimação da comunicação com ciência. Ao reivindicar o uso de autores e aportes
próprios da comunicação para iluminar os objetos empíricos em questão, não
corremos o risco que construir uma ciência autoreferenciada, ou seja, construída
sobre si mesma? Se o que a fortalece como ciência é a centralidade de seu objeto de
estudo (midiatização) na estrutura social, não se trata ao contrário de construir novos
aportes a partir das referências existentes nas ciências sociais mais amplas e que
partem da abordagem da estrutura social? A discussão do “desentranhamento” do
objeto comunicacional em análise não se trata mais de uma discussão sobre poder e
legitimidade do campo científico do que especificamente de riqueza da prática de
pesquisa?
2) Como poderíamos entender a especificidade epistemológica da comunicação? Existe
um processo contínuo e negocial para a constituição da ciência da comunicação. Mas o
que exatamente configura sua especificidade?
3) O texto de Matos e Villaça (2011) não teria ocorrido uma adaptação generalista do
conceito de capital comunicacional citado por Matos (2009)? Entendo que o emprego
2. 2
do termo do texto está relacionado à constituição de um capital próprio das ciências
da comunicação em seu processo de acumulação, convertibilidade e reciprocidade
(sendo “capital”). Mas o tempo usado por Matos (2009) se refere ao capital
comunicacional detido pela pessoa, por uma organização ou pelas redes sociais.
Devemos entender o uso do termo por Matos e Villaça (2011) mais como “capital dos
estudos comunicacionais”? Ou eles se referem ao capital comunicacional detidos pelos
atores que, em tese,compõem uma rede em torno dos estudos comunicacionais?
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TEXTO 2
PORTO, M. P. Mídia e deliberação política: O modelo do cidadão interpretante. In: PORTO, M.
P. Televisão e Política no Brasil:A Rede Globo e as interpretações da audiência.
Questionamentos
1) Se o próprio autor critica os modelos anteriores de cidadão racional ou ignorante como
aqueles que excluem o debate sobre a existência do “contraditório”, da possibilidade de
conflito nas estruturas de poder ou mesmo das condições hegemônicas de poder, neste caso
ele também não está construindo uma afirmação que explicita uma condição para a
interpretação do cidadão comum, mas não esclarece como ela será possível num ambiente em
que o jogo de poder continua central? Neste sentido, a afirmação de Porto soa tautológica. Ele
afirma que o cidadão constrói suas interpretações a partir de determinados enquadramentos e
que, para que tais construções sejam possíveis e ofereçam uma alternativa à simples
automação política, é possível contar com múltiplos enquadramentos possíveis a seu dispor.
Sua proposta, dessa forma, está no mesmo ponto de partida de seu problema. Como sair do
embaraço de que é a mesma estrutura política vigente quem define as “molduras” possíveis
para a interpretação?
2) A simplificação ou redução de alternativas para a escolha do cidadão (em especial num
processo eleitoral), tal como propõe Beitz, responde apenas superficialmente ao problema
inicial, que é a dificuldade cognitiva e de tempo do cidadão para “digerir” uma variedade
pouco “pragmática” de enquadramentos interpretativos. Isso não seria o mesmo que defender
a possibilidade de inovação/renovação política apenas dentro de uma variedade pré-definida
e, portanto, nunca abrindo possibilidades para reformas mais profundas? Parece-me que o
autor parte de um pragmatismo extremo, além de não questionar a formação democrática em
suas bases. Se a questão cognitiva é central, como pensá-la de forma estrutural de modo a
corrigir as distorções fundamentais na capacidade educacional e na formação política de base
em sociedades desiguais? Porto chega a sugerir pontos de uma reforma no funcionamento na
mídia, como a existência de programas informativos na TV e onde se promovam debates sobre
determinados temas da política. Mas a correção de “base” ainda não é proposta e parece
eximir o Estado de seu papel democrático. A proposta de Beitz, acalentada por Porto, parece
ser de curto prazo. Ainda que se defenda a inclusão no debate de todas as “posições salientes”
(“que representam os interesses urgentes de uma parte significativa da população”), quem as
colocará a circular se elas, porventura, contrariarem um determinado status quo? Como
escapar desse determinismo? Caberia especialmente à mídia, por respeito aos deveres do
ofício, colocar em debate essas posições contrárias ao ambiente político estabelecido. Mas há
algo aqui de normativo demais e pragmático de menos.
3. 3
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TEXTO 3
KIM, J.; WYATT, R. O.; KATZ, E. Notícia, Conversação, Opinião e Participação: O papel da
Conversação na Democracia Deliberativa
Questionamentos
Faço aqui perguntas muito específicas sobre tratamento de dados quantitativos e modelos
estatísticos. A pesquisa relatada no artigo possui seus componentes qualitativos, mas a
interpretação das diferentes categorias analíticas (e, em especial, as associações possíveis
entre elas) por meio da estatística é fundamental para se compreender a relação entre
conversa e ação; conversa e consumo de mídia; conversa política e conversa pessoal (portanto,
indicando como as questões políticas racionalizadas se fazem presentes e ressignificadas no
cotidiano e no mundo da vida do cidadão). Não seria o caso de os autores terem explicado, em
nota de rodapé ou na forma de algum apêndice, como foram construídos os indicadores de
inter-relação (Cronbach alpha = 74), as variações e seus valores matriciais e como se
estabelece uma “rotação oblíqua” entre os componentes de análise? Idem sobre a construção
de escalas de coerência entre níveis individuais e coletivos.
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Uma das avaliações mais significativas é a da relação entre opinião e ação. Os autores falam
em ação opinativa. Como definir melhor esse conceito? Na pesquisa empírica, a “ação
opinativa” foi considerada uma escala e as respostas consideradas nessa escala eram
classificadas de acordo com o número de acertos dos entrevistados quando questionados
sobre suas opiniões em torno de partidarismo, padrões de vida decentes, ideologia e
assistência médica. Não ficou claro o que exatamente foi uma “falha” de resposta diante das
opções de “concordo” ou “discordo” (página 11).
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Determinadas conclusões não ficaram claras porque o caminho para se chegar a elas não ficou
explícito, especialmente nos aspectos estatísticos. Como foi possível concluir, por exemplo,
que um membro de um grupo é também referência de um grupo no quesito sobre capacidade
de argumentação? E o que seriam os prognosticadores? Em função da dificuldade em
compreender determinados conceitos e modelos de análise, minha compreensão sobre as
conclusões foi limitada.